19 julho 2007

Outra notícia oriunda do Brasil

Foi publicada já em 8 de Junho último no jornal electrónico brasileiro Mato Grosso mais, mas penso que vale a pena reproduzi-la aqui. É mais uma demonstração de como a Maçonaria pode ser útil à Sociedade no meio em que se insere.

Maçonaria e UFMT preparam agentes rurais

Setenta jovens das comunidades rural e ribeirinha de Santo Antônio de Leverger iniciam neste sábado, 09/06, às 09h, no campus da Fazenda Experimental da UFMT, o curso de Agente Rural. A promoção é das Lojas Maçônicas Acácia de Várzea Grande nº 33 e Acácia de Rio Abaixo nº 35 e os agentes rurais serão capacitados pelo Instituto Creatio e UFMT, em parceria com a Prefeitura de Santo Antônio de Leverger, município onde está a Fazenda, e do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).

Durante quatro meses profissionais e maçons identificaram a vocação econômica durante reuniões com as famílias daquela região. Um exemplo é a comunidades Vale Abençoado, na serra de São Vicente, a 90 quilômetros de Cuiabá. Os moradores, que antes usavam a agricultura como subsistência, agora vão formar uma cooperativa para o escoamento da produção, que vai desde derivados de mandioca, até artesanatos de babaçu.

Os agentes rurais devem estar cursando o ensino médio. Eles vão ser responsáveis pelo acompanhamento dos projetos zootécnicos (produção de frangos caipira, gado leiteiro, ovinos e caprinos, piscicultura e suínos) e fitotécnicos (mandioca, cana de açúcar, banana, maracujá e polpa de frutas), preparando para o mercado regional a futura produção. É o caso do extrativismo da castanha do coco do babaçu, onde as famílias vão produzir desde a farinha, até artesanatos da casca do produto.

"A idéia é provocar a comunidade, despertando e potencializando os seus saberes e fazeres locais", afirma o engenheiro agrônomo e coordenador do núcleo de agricultura familiar do Creatio, professor Medson Janer da Silva, que também é consultor do MDA.

Para o presidente da Loja Acácia de Várzea Grande nº 33, José Barbosa Batista, o projeto que a Maçonaria está desenvolvendo, aproxima a entidade dos trabalhos sociais, que é um dos princípios da ordem maçônica.

Como se vê, não é necessário preparar grandes projectos. Basta estar atento e verificar onde e como se pode fazer a diferença e ajudar! Um pequeno impulso, uma pequena colaboração de duas lojas maçónicas com agentes públicos chega para fazer uma grande diferença na vida de setenta pessoas que obtêm formação e ainda terá reflexos positivos na vida de uma comunidade.

Rui Bandeira

18 julho 2007

Ambiente e Maçonaria


Em posts anteriores todos os 3 habituais ocupantes deste espaço se referiram à deslocação que fizemos a Bragança, a “casa” dos nossos Irmãos da Respeitável Loja Rigor.
Retorno ao assunto porque uma das surpresas que nos foram proporcionadas por aqueles nossos Irmãos foi um passeio pelo Douro internacional, com Portugal de um lado e Espanha do outro, dividindo (ou unindo ?) 2 partes de uma área ecológica, protegida como Parque Nacional, um lado de Portugal e o outro lado de Espanha.
Tivemos a possibilidade de ser acompanhados por um antigo director daquele parque que com toda a paciência e saber, foi explicando, em complemento das explicações da guia oficial, os segredos do local, mostrando as aves, várias por cuja continuidade de existência se luta pois estão em vias de extinção, assim como espécies florestais raras que por estas paragens sobrevivem em condições de grande precaridade, enfiadas nas rochas que bordejam o Douro em alturas que atingem os 300 metros.
Uma preocupação claramente dominante por aqui, é a que respeita o ambiente e a sua manutenção, trabalhando muita gente para que as condições de vida natural se não percam de forma a permitir a manutenção das espécies animais naturais na zona.

Trago aqui esta conversa porque nestes dias me chegou às “mãos” um vídeo cuja oportunidade, dureza e verdade são (têm de ser !) um murro no estômago de todos os “distraídos” do universo.
É a intervenção de uma jovem, muito jovem (Severn Suzuki), que durante a ECO92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, pôs bem claro a situação do ambiente universal e as responsabilidades que todos (TODOS…) temos na situação pré-trágica que vivemos neste momento.

Trata-se de uma questão que tem a ver com a humanidade e com a felicidade dos humanos e como tal, é uma questão que preocupa todos os Maçons.

Não deixem de ouvir, com atenção, este vídeo. Cliquem no “start” para carregar e arrancar.






JPSetúbal

Notícia no Brasil

Lido no jornal na Rede brasileiro Jornal Pequeno, de S. Luís, Estado do Maranhão:

O jornal SPTV da Rede Globo mostrou uma reportagem sobre o Hospital dos Olhos de Sorocaba. Esse hospital é da maçonaria, sem fins lucrativos. É conveniado com o SUS, e tem capacidade para realizar cerca de trezentos transplantes de córneas por mês, há um estoque de córneas suficiente para a realização dos mesmos. Esse hospital está realizando somente cerca de cento e vinte transplantes por mês, devido a falta de pacientes. As córneas não utilizadas são jogadas fora por passarem do tempo de validade! Peço a todos que tenham conhecimento de alguém que esteja na fila do transplante aguardando um doador, para que entre em contato com o hospital. Tel. (15) 3212-7009 - de 2ª a 6ª feira.

A Maçonaria pode fazer a diferença!

Rui Bandeira

17 julho 2007

21 de Julho

É assim! Às vezes não resisto a deixar solto o meu mau feitio! O JPSetúbal intitula um texto de 14 de Julho? O meu mau feitio manda-me intitular um de uma semana depois: 21 de Julho!

O JPSetúbal recorda orgulhosamente 14 de Julho como a data de aniversário de seu pai? O meu mau feitio faz-me anunciar que recordo 21 de Julho como a data de aniversário de meu pai, também já no Oriente Eterno!

O JPSetúbal exulta pela coincidência de ter sido eleito Venerável Mestre no dia 14 de Julho? Pois o meu mau feitio faz-me exultar também, porque o próximo 21 DE JULHO É DIA DE SANGUE!!!

Isso mesmo, meus caros: no próximo Sábado, dia 21 de Julho, entre as 9 e as 13 horas façam o favor de ir estender os bracinhos e permitir que as belas enfermeiras (para as nossas caras amigas os garbosos enfermeiros...) do Instituto Português do Sangue vos aliviem de uma unidadezita do líquido da Vida, o suficiente para encher um saquito como o da imagem! A recolha de dádivas ocorrerá nas instalações do IPS sitas no interior do Parque da Saúde, também conhecido como Hospital Júlio de Matos, à Avenida do Brasil, em Lisboa. E não se esqueçam de referir que a dádiva de sangue é concedida por um elemento do Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues! Ficam automaticamente beneficiários do crédito de sangue do Grupo (já temos um depositozito jeitoso...).

Quem não residir ou estiver em Lisboa, não faz mal: vai ao posto de recolha de sangue da sua localidade (hospital, centro de saúde, etc.) e estende o bracinho, que eles lá também aceitam... E pode na mesma referir que a dádiva é para ser contabilizada no Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues. Para quem for de Bragança, pode ingressar informalmente neste Grupo de dadores ou criar, rápida e não menos informalmente o Grupo de Dadores de Sangue Rigor (esta indirecta muito directa vai direitinha para os nossos queridos Irmãos da Respeitável Loja Rigor; geminação oblige e os Irmãos gémeos são conhecidos por terem a tendência de fazer as mesmas coisas, onde quer que se encontrem, portanto, a 21 de Julho próximo, rigorosamente... dá-se sangue!).

Alô, meus caros irmãos brasileiros e do resto do Mundo: aproveitem o balanço e vão também dar sangue, que os Institutos de Sangue dos respectivos países também precisam das vossas dádivas. O meu mau feitio agora faz-me megalómano: com insistência, ainda havemos de fazer que os dias em que a Loja Mestre Affonso Domingues marca dádivas de sangue fiquem universalmente conhecidos como os dias dos Maçons esticam o braço...!!!

Atenção, muita atenção, àqueles que se querem juntar a nós! É uma boa oportunidade de se juntarem a uma iniciativa, não é? E uma boa maneira de travarem conhecimento com quem não conhecem, certo? E uma bela anotação para o currículo que vai ser analisado, pois então! As indirectas não chegam? Então, vou ser mais explícito: Candidatos! Toca a ir estender o bracinho dia 21!!! Este meu mau feitio volta e meia dá-me estes ataques estilo ditador...

Pessoal não maçon, mas que faz o favor de nos ler: sigam os bons exemplos que nós, maçons, procuramos dar (sempre é melhor do que ir atrás dos nossos maus exemplos...) e façam também o favor de sacudir um pouco do natural comodismo, de deitar para trás das costas o um dia destes também vou dar sangue e aproveitem também a manhã do próximo dia 21 de Julho para ir dar sangue! Convosco, o meu mau feitio esconde-se e só vos digo: eu e todos os que beneficiarão do sangue recolhido (potencialmente, todos nós...) agradecemos do fundo do coração. Bem hajam!

E quem não for dar sangue... vai ficar com a consciência pesada, pronto! As coisas que este meu mau feitio hoje me faz escrever até a mim me espantam...

Agora a sério: todos os que puderem dar sangue, façam o favor de efectuar a dádiva no próximo dia 21 de Julho. É preciso, é útil, não custa nada e faz-nos bem fazer bem!

Rui Bandeira

16 julho 2007

14 de Julho

Reunião maçónica - 1750

Está fora de dúvidas que a primeira palavra tem de ser o agradecimento a quem, sem me conhecer, penso eu, se prestou a vir felicitar os eleitos da nossa Loja, sendo que eu sou um deles.
Obrigado pois ao nosso sempre atento Profano.

Os meus Irmãos da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues quiseram que seja eu a tomar a responsabilidade pela condução dos trabalhos da Loja no próximo ano maçónico, que começará em Setembro.

Esta escolha ocorreu em data particularmente significativa para mim.
Quem acompanha este blog desde há 1 ano, pelo menos, recordar-se-á (ou poderá agora ir consultar) do que eu aqui escrevi em 14 de Julho de 2006.
Nessa altura resolvi que era a hora de pôr em público a figura de alguém que foi sempre preterido no seu País, mau grado o reconhecimento das entidades oficiais americanas que, mesmo como simples marinheiro, Lhe reconheceram o mérito do salvamento de centenas de cidadãos americanos, náufragos de navios americanos torpedeados por submarinos alemães no mar dos Açores em 1943/4.

Seria esta a data do Seu aniversário, o que transforma este acto de eleição para próximo V:.M:. da nossa Respeitável Loja uma prenda singularíssima, se não para Ele directamente, pelo menos através do filho que cá deixou.

Por outro lado este facto ocorre também em coincidência com a data da comemoração da Revolução Francesa, na qual os maçons se envolveram “forte e feio”, e a partir da qual se estabeleceram os conceitos que entendemos básicos para o relacionamento entre os homens e para o desenvolvimento da Humanidade.
Igualdade, Liberdade, Fraternidade são a base moral da Maçonaria.
Foram o lema no assalto à Bastilha e temos a certeza de que se os homens os tomassem como seu objectivo, teríamos o mundo com menos fome, menos guerra, menos tristeza.

Há momentos na vida que compensam muitos outros de amargura e desilusão.
Ainda há bem pouco tempo perdemos outro grande Homem do mundo.
Grande por razões diferentes mas grande também, e aqui deixei o meu “até à vista” num desses momentos em que a amargura nos toca por dentro, que nos dá para ficar absortos pensando na (in)utilidade das arrelias e enganos pelos quais passamos constantemente.

A alegria que os meus Queridos Irmãos me quiseram proporcionar neste 14 de Julho, as palavras fraternas de apoio que ouvi, compensam bem esses outros momentos de frustração com que a vida nos vai presenteando de vez em quando.
Meus Irmão, o que tenho recebido de Vós é incomparavelmente mais do que tenho merecido.

Apenas OBRIGADO.



JPSetúbal

14 julho 2007

A Continuidade - Vem ai o 18.º

Hoje a Loja Mestre Affonso Domingues, elegeu o seu proximo Veneravel Mestre e o proximo Tesoureiro.

Numa votaçao sem qualquer sobressalto, foi assegurada a continuidade da Liderança da Loja.

Para Tesoureiro foi eleito o Irmão Nuno. S. L., e espera-o um cargo dificil e ingrato, mas que ele conseguirá cumpri-lo nao temos qualquer duvida.

Para Veneravel, e será o 18.º Veneravel da Loja, foi eleito o Irmao JPSetubal, habitual colaborador deste Blog.

A tomada de posse ocorrerá em Setembro e nessa altura disso daremos conhecimento aqui.

Ao Nuno e ao JPSetubal , felicitaçoes.

Jose Ruah

13 julho 2007

Elisa Lucinda ensina a dizer Fernando Pessoa


ELISA em PESSOA WORKSHOP DE POESIA FALADA

Fundadora da Escola Lucinda de Poesia Viva que funciona há nove anos no Brasil, a actriz e poetiza Elisa Lucinda irá dirigir, juntamente com a actriz e professora Geovana Pires, o workshop Elisa em Pessoa.
Com base na obra de Fernando Pessoa, Elisa Lucinda , através da sua nova linguagem cênica e visão poética, ensinará a dizer os versos de Pessoa como quem conversa.
Destinado a pessoas de todas as áreas, idades e formação, o seu método é simples, natural e revolucionário.
Libertar as poesias das chatices declamatórias que afasta o público dos saraus, aqui e em toda a parte do mundo, é o seu objectivo

José Saramago ao ver, no Brasil, um recital da Escola Lucinda falando Fernando Pessoa, disse:

“O que a Elisa Lucinda faz com a poesia é colocar as palavras de pé. Estou impressionado. Meu coração está a cantar. Estou impressionado com o trabalho dessa artista. Jamais vi Fernando Pessoa ser dito com tanta compreensão e tanta grandeza. Se depender de Elisa Lucinda, as relações culturais entre Brasil e Portugal, vão muito bem..."

Se gosta de Fernando Pessoa, de poesia e não sabia o que fazer para viver mais perto dela, os seus problemas acabaram!


(a poeta e actriz Elisa Lucinda interpreta actualmente uma personagem conhecida do público português na novela Páginas da Vida – a Drª Selma)

de 19 a 22 de Julho
Horário: das 17h30 às 21h30
Duração: 16 horas . Preço: 185 euros + 15 euros inscrição

Local: ESPAÇOINSTÁVEL

Data limite de Inscrição - 17 de Julho - inscrições limitadas

para mais informações contactar
218861875 / 917145939 ou x-usc:mailto:teatroinstavel@sapo.pt
ESPAÇOINSTÁVEL
Calçada de Santana, 168, r/c, Lisboa
www.newopenart.com/teatroinstavel
UM NOVO ESPAÇO CULTURAL PARA LISBOA
(a 5 minutos a pé do Rossio, Martim Moniz, ou dos Restauradores; metro: Restauradores, Rossio e Socorro; elevador do Lavra; estacionamento (pago): Campo dos Mártires da Pátria)
(Texto comunicado via e-mail por F.Laires)

JPSetúbal

As ilustrações maçónicas de Steve McKim

Sempre procurei ilustrar cada texto que publico aqui no blogue com uma imagem. Às vezes, demoro mais tempo a procurar e seleccionar a imagem do que a escrever o texto...

Penso que será incontroverso que ultimamente tenho publicado imagens de uma alta qualidade. Todo o mérito deve ser dado ao senhor que criou também a bem disposta imagem que ilustra este texto, a qual, com evidente ironia, intitulou de Secret: o Irmão Steve McKim.

Steve McKim tem uma criatividade fantástica e criou dezenas de ilustrações maçónicas, tendo algumas delas publicadas no sítio Steve McKim's Masonic Graphics .


Várias composições de esquadro e compasso (que comecei a aproveitar para ilustrar a série de textos dedicada aos vários Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues), ilistrações dedicadas a várias lojas, ilustrações reunindo os temas da Maçonaria e do mar, ilustrações de templos, alegóricas, enfim, todo um acervo de ilustrações de alta qualidade estética e gráfica são passíveis de ser apreciadas no sítio de Steve McKim.

Todas as imagens estão protegidas legalmente por direitos de autor. Podem ser livremente fruídas por quem quer que aceda ao sítio, mas não podem ser utilizadas sem prévia e expressa autorização do seu criador. Porém, McKim declara que autorizará sempre o seu uso para fins de promoção da Maçonaria, não prescindindo, no entanto, de prévio pedido de autorização, em ordem a poder manter o controlo sobre a utilização das imagens por si criadas. No caso do A Partir Pedra, a autorização foi concedida escassos minutos após o envio da mensagem de correio electrónico solicitando-a. Mais simples e rápido era impossível!

Steve McKim tem outras imagens em outros sítios, aliás acessíveis através de atalhos incluídos no sítio a que agora me refiro. Porém, este tem a vantagem de ter as imagens menos pesadas e mais directamente acessíveis a visualização. Nos outros sítios - dele ou em conjunto com outros ilustradores, que se agrupam num colectivo a que chamam Masonic Web Warriors -, as imagens são também de alta qualidade e disponibilizadas em JPEG e GIF, mas o carregamento de cada uma é um pouco mais demorado.

A beleza das imagens e o seu significado bem merecem que se dedique alguns minutos à sua apreciação. Recomendo vivamente a visita a este sítio. Mas quem não quiser seguir o conselho possivelmente acabará por, tendo paciência, não perder nada: suspeito que não vou resistir a publicá-las todas aqui no A Partir Pedra...

Rui Bandeira

12 julho 2007

O sexto Venerável Mestre

O sexto Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues foi Victor E. C.. Exerceu funções entre Setembro de 1995 e Setembro de 1996.

Se o Venerável Mestre anterior, Manuel A. G., era um homem corpulento, Victor E. C. não o era menos. Se aquele era um homem bonacheirão, este elevava essa característica ao superlativo absoluto. Se um era um grande amigo de Fernando Teixeira, o outro não o era menos. Se um era aficionado pela tauromaquia, ao outro esta corria-lhe nas veias. Se um era monárquico, o outro monárquico era. Vistas à distância do tempo as características pessoais de um e de outro, efectivamente ressaltam as semelhanças, as similaridades de interesses, as cumplicidades de gostos, o paralelismo de percursos, que ambos partilhavam.

Porém, pese embora estas semelhanças, Victor E. C. não era e não foi um clone de Manuel A. C., longe disso. Desde logo, enquanto este irradiava serenidade, aquele transbordava simpatia. Mais uma vez, a Loja era dirigida por quem privilegiava a afectividade e a camaradagem. Era quase como se um invisível sistema de pesos e contrapesos actuasse sobre os destinos da Loja, pontuados pelo rigor, mas também pela afectividade, umas vezes com um pouco mais de prevalência daquele, outras com uma nota mais acentuada desta.

Victor E. C. era, à época, um bon vivant, bom garfo e bom copo. Hoje, não será já tanto assim, que a idade já pesa e os cuidados com a saúde já o obrigam a cuidar do acerto de como come e a uma especial moderação no que a líquidos tange. Além disso, era e continua a ser um excelente conversador, um grande organizador de convívios, viagens, visitas e eventos.

Com ele, a Loja desdobrou-se em actividade, em colaboração com a Grande Loja, em visitas, em organizações. Ainda hoje as mulheress dos obreiros dessa altura dizem que "no tempo do Victor é que vocês sabiam organizar coisas...".

Victor E. C. manteve a Loja no rumo que a mesma levava. O número de obreiros continuava a aumentar. Os Aprendizes e Companheiros continuavam a ser bem formados e a só serem passados a Mestres após terem permanecido nos seus graus o tempo que se entende como necessário e após terem evoluído como devido. A tudo isto acresceu o apreço de Victor E. C. pela vertente do convívio social e a sua capacidade de organização nesse aspecto.

Esta característica não fora, porém, consensual. Antes da sua eleição, um obreiro então com alguma influência na Loja, defendeu, em conversas com outros obreiros, que alguém com esse gosto pelo convívio social, que ele considerava fútil, não tinha as melhores condições para dirigir a Loja e defendeu que a Manuel A. G. sucedesse, não o seu 1.º Vigilante, Victor E. C., mas sim o seu 2.º Vigilante, José Ruah. Essa tese não mereceu vencimento. Praticamente todos os demais entenderam que não só Victor E. C. tinha todas as condições para dirigir a Loja, mas também merecia ser eleito para essa função, pelo esforço e dedicação que há vários anos dedicara à Loja e à Grande Loja, em leal colaboração e esforçado apoio a quem dirigia uma e outra. Além do mais, todos ainda tinham fresca na memória a forma como fora resolvida a transição do segundo para o terceiro Venerável Mestre e as vantagens que existiam em não haver lutas pelo poder na Loja, seguindo-se uma natural e aceite ordem de transmissão de funções.

Em boa hora se tomou tal decisão! Tivesse-se então abandonado o critério que era seguido e cedido à pretensão de ultrapassar Victor E. C. por José Ruah e amargamente pagaríamos o preço no ano seguinte!

É que, se na Loja tudo corria bem, no conjunto da Grande Loja não era bem assim: um poderoso grupo estendia a sua influência, ganhava posições, preparava o assalto ao quimérico poder. As nuvens acastelavam-se no horizonte. A tempestade veio a rebentar no ano seguinte. E se José Ruah tivesse sido Venerável Mestre em vez de Victor E. C., não beneficiaria a Loja da sua firmeza ao leme quando a colossal borrasca nos atormentou! Mas essa é matéria para outro texto...

No ano maçónico de 1995-1996, apesar destas nuvens negras no horizonte, a Loja manteve o seu curso pujante e beneficiou de um excelente ano sob a direcção agradável e convivial de Victor E. C.. Todos juntos! Mal sabíamos nós que esse era o último ano em que o caminho era comum para todos!

Victor E. C., pelos profundos laços de amizade com Fernando Teixeira, quando a crise sobreveio, não podia, desde logo por razões afectivas, deixar de o seguir. Mas teve um comportamento exemplar na execução do que veio a ser por todos decidido. A ele muito se deve que a Loja Mestre Affonso Domingues seja uma e una. A ele e outros se deve a recuperação dos nosssos bens. Nunca, nem nos tempos mais dolorosos e profundos de separação, o Victor E. C. deixou que a sua Amizade por todos, os que optaram por um lado e os que escolheram outro caminho, fosse perturbada. Acompanhou Fernando Teixeira e isso só lhe ficou bem. Quando Fernando Teixeira passou ao Oriente Eterno, ficou liberto das obrigações que a sua profunda amizade por ele lhe impusera. Entretanto, passou por crises pessoais, profissionais e de saúde que limitaram a sua acção. Mas sempre continuou em estreita ligação connosco. E, um dia destes, espero, e espero não me enganar, estará de novo no lugar que é seu, na Loja Mestre Affonso Domingues, num confortável retomar de cumplicidades.

Rui Bandeira

11 julho 2007

Sete maneiras de arruinar uma Loja

Exposto no vestiário do Templo da Respeitável Loja Rigor, n.º 57, encontra-se um quadro com o texto que a seguir aqui transcrevo. Um dos fundadores da respeitável Loja Rigor, n.º 57, esclareceu que o texto exposto é uma tradução, feita pelos membros da Loja, de um texto existente no Museu da Maçonaria, em Salamanca.

O texto vale por si e não necessita de comentários. Apenas uma chamada de atenção: devidamente adaptado, vale para qualquer organização social tanto quanto para uma loja maçónica.

SETE MANEIRAS DE ARRUINAR UMA LOJA

1. Não assistir às sessões.

2. No caso de assistir, aparecer tarde.

3. Se participas nas reuniões, procura todos os defeitos possíveis nos trabalhos.

4. Nunca aceites cargos, uma vez que é mais fácil criticar que trabalhar.

5. Se não te nomearem para uma comissão, zanga-te; e, se te nomearem, não desempenhes a missão.

6. Se o Venerável Mestre te pede uma opinião acerca de um assunto importante, responde que nada tens a dizer, mas logo depois diz como se deveriam fazer as coisas.

7. Trabalhar o menos possível e, quando algum membro se disponibilizar para fazer um trabalho importante, dizer que a Loja está manipulada por uma camarilha.

Rui Bandeira

10 julho 2007

Organista, Mestre da Musica ou da Coluna da Harmonia


Tenho vindo nas últimas sessões da minha Loja a desempenhar um cargo que me tem dado um prazer muito grande. O de Organista ou Mestre da Coluna da Harmonia.

A Musica numa sessão de loja é de grande importância, pois completa o ritual dando-lhe um sustentáculo que permite elevar a espiritualidade e a disposição dos presentes e consequentemente da sessão em si.

Engana-se o leitor se pensar que por música numa sessão de Loja é chegar ali e debitar umas músicas, de preferência do Mozart e se forem muito conhecidas melhor.

A Loja Mestre Affonso Domingues sempre primou por ter Organistas de qualidade, e não falo de mim que ainda não me considero Organista nem terei a qualidade dos titulares, e consequentemente sempre teve música de grande nível nas suas sessões. Bastará para tal dizer que foram sempre músicos e melómanos os Organistas, foram e são porque o actual titular do Cargo (já o é desde 1996) é musico tendo na sua juventude gravado Discos e tocado em grandes salas por esse mundo fora.

O nosso Irmão Organista, tem ao longo destes anos vindo a criar para cada sessão um CD com a sequência de músicas com que nos enche a sala e nos delícia. Um Acervo fantástico o que tem vindo a ser produzido, por ele, com o fim único de embelezar e transmitir solenidade às sessões de Loja.

Ora por motivos pessoais e familiares, que queremos ver resolvidos tão brevemente quanto possível, a sua assiduidade tem sido prejudicada este ano, e por isso tenho assegurado a sua substituição.

A primeira vez foi um pouco de improviso, e como fui avisado 30 minutos antes e já ia a caminho usei os CDs que tinha no carro e com um pouco de Mozart aqui, Respighi ali, mais Mozart por acolá, lá me safei.

O bichinho ficou e dei comigo a preparar no meu computador portátil uma playlist com músicas para sessão de Loja. Este exercício, era essencialmente isso um exercício, não tinha na altura nenhum fim específico pois não sabia quando teria que fazer nova substituição. Era por assim dizer um trabalho para meu divertimento pessoal.

Continuei normalmente a aumentar o directório do meu portátil com música, não porque a quisesse por em Loja, mas porque gosto de trabalhar com música. Todavia cada vez que uma peça, um andamento, uma faixa me parecia adequada marcava-a inserindo na lista de música para sessão.

E um dia lá tive que ir fazer uma substituição. Saí de casa com o portátil, um par de colunas de computador, e uma extensão eléctrica. A coisa correu bem e a partir dai passei a assegurar a música sempre que necessário.

Decidi também que sempre que possível fugiria dos autores tradicionais (Mozart, Beethoven, Bach, etc.) e utilizaria outros tipos de musica. Nesta senda já usei músicas interpretadas em ritmo reggae, de grupos como os Queen, Norah Jones, Evanescence, ou ainda música de guitarra portuguesa composta e interpretada por esse Génio que foi Carlos Paredes.

Tenho também aproveitado para testar algumas músicas da minha cultura Judaica, sempre instrumentais e em interpretações para violino, ou de conjuntos de musica Klezmer (Musica Judaica da Europa Central).

Rapidamente percebi que cada sessão é muito diferente da anterior e que, as musicas que resultaram em cheio numa podem não servir para a seguinte. E Aqui surge a necessidade absoluta de improvisar, de escolher uma alternativa que não foi pensada e que tem que substituir o alinhamento pensado com base na ordem de trabalhos previamente distribuída.

Há que conseguir gerir os imprevistos, como sejam um visitante que chega e que se anuncia já com os trabalhos a decorrer. Ou uma decisão de modificação de sequencia dos trabalhos, ou uma alteração de ultima hora ou mesmo como há uns dias atrás a tentativa de reforçar uma alocução (não conhecida) de um Irmão com uma musica apropriada.

A música no meu ponto de vista deve preencher todos os vazios. Deve ser adaptada a cada momento, Grandiosa na abertura dos trabalhos, Alegre no fecho, motivante quando se procede à recolha de fundos para beneficência, espiritual na Cadeia de União, e por aí a fora.

Pode parecer uma sobrevalorização, mas não é. O Mestre da Coluna da Harmonia tem uma importância enorme na qualidade dos trabalhos. Não pode imaginar o leitor (excepto Irmãos que me leiam) a diferença entre um bom acompanhamento musical (não na qualidade das peças musicais usadas mas na cobertura da sessão) e um mau acompanhamento, já para não falar que uma sessão sem música é uma “sessão coxa”.

Já desempenhei muitos cargos em Loja, já fui Venerável (e sobre isso falarei um dia), e sempre os desempenhei com zelo, correcção e gozo pessoal, mas nenhum me deu tanto prazer como o de organista, ainda que só o seja em substituição.

Espero que um dia possa vir a ser o Organista Titular da Loja Mestre Affonso Domingues, e mesmo esperando que esse dia seja só daqui a muitos anos porque o actual Organista é excepcional, sei que nessa altura vou avançar mais um degrau.

José Ruah
P.S. Louis Armstrong foi Maçon e Musico ( evidentemente)

Outra visita a RIGOR… (em fraternidade)

Como já foi elaborado antes neste A-Partir-Pedra o “sete” (o carácter numérico 7) é especial para a maçonaria e o Sábado passado permitiu uma conjugação especial de “setes”, na data (dia, mês e ano) e na cerimónia das sete maravilhas (as internas e as externas).

Não foi premeditado, mas a coincidência com a visita que alguns obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues fizeram à Loja Rigor (a Leste de Bragança) foi, de facto, uma “coincidência feliz”.

Outra coincidência, bem feliz, foi a visita do Grão-Mestre da GLLP/GLRP, que nos acompanhou nos trabalhos e nos tempos de “recreio”, incluindo o magnífico passeio de barco pelo Douro internacional que nos foi proporcionado pelos nossos irmãos “rigorosos”.
Segundo Eles, pudemos visitar o “parque natural mais belo do mundo”, o que seria um exagero enorme se… aquele não fosse o “parque natural mais belo do mundo”.
Como é, fica provado mais uma vez o “rigor” dos nossos Irmãos !

Em pleno Douro saltou à vista o timoneiro da nau, que não só comandou… como aproveitou para explicar detalhes dos trabalhos a executar pelos obreiros que O acompanhavam.





Neste encontro ficou agendado (ainda sem data, mas para breve) a visita dos nossos Irmãos a Lisboa (e à nossa Respeitável Loja), a fim de darmos continuidade ao processo de geminação que ali teve o seu ponto de partida.
Será trabalho para os próximos Veneráveis das 2 Lojas, atendendo a que o actual Veneralato está a terminar, compromisso assumido por todos, e como se diz “em língua oficial portuguesa”… Yá stou a oubir ls nuossos antigos a dezir, cun çprézio: 'me cago ne ls homes que nun ténen palabra.' Mais palabras para quei?
Realmente estamos obrigados, agora por mais esta razão, a trabalhar para que “ls nuossos antigos” não venham a ter razão para “cun çprézio”, fazerem que prometeram !!!


JPSetúbal

09 julho 2007

Uma visita a RIGOR

Uma delegação de sete obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues efectuou no fim de semana último uma visita à Respeitável Loja Rigor, n.º 57 da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP, ao Oriente de Bragança.

Nesta visita, a delegação da Loja Mestre Affonso Domingues teve a honra de acompanhar o Muito Respeitável Grão- Mestre, Mário Martin Guia. O nosso companheiro neste blogue José Ruah deslocou-se na dupla condição de obreiro da Loja e de Grande Inspector para o Rito Escocês Antigo e Aceite.

Deslocámo-nos na companhia das respectivas famílias, pelo que, enquanto decorreu a reunião da Respeitável Loja Rigor, n.º 57, a esposa de um dos nossos anfitriões acompanhou as nossas mulheres e filhos numa visita ao castelo e a alguns museus de Bragança.

Na reunião, tivemos, designadamente, o grato prazer de testemunhar a iniciação do vigésimo quarto obreiro da Loja Rigor, a qual se destaca pela elevada assiduidade dos seus obreiros, além de ter ficado decidida a geminação entre as duas Lojas. Tal decisão foi assinalada pela assinatura num diploma a ela alusivo, efectuada pelos Veneráveis Mestres Domingos A., da Respeitável Loja Rigor, n.º 57, e Paulo FR, da Loja Mestre Affonso Domingues.

Se nada sobrevier em contrário, está prevista para o próximo ano maçónico a retribuição da visita, ocasião em que, ultimada e acordada a redacção do respectivo Convénio de Geminação, se prevê a realização, em Lisboa, da formal cerimónia de geminação entre as duas Lojas, através do Ritual de Geminação que, a propósito da geminação ocorrida entre a Loja Mestre Affonso Domingues e a Respeitável Loja Fraternidade Atlântica, n.º 1267 da Province de Bineau da Grande Loge Nationale Française, no ano maçónico transacto, foi elaborado por obreiros da nossa Loja e mereceu a aprovação do Grão-Mestre então em funções.

A Loja Rigor, n.º 57, possui magníficas instalações próprias, graças ao esforço e ao trabalho dos seus obreiros, e, após a sessão, nelas teve lugar um agradável ágape, reunindo os obreiros de ambas as lojas e respectivas famílias.

A hospitalidade fraterna dos nossos Irmãos da Loja Rigor, n.º 57, foi insuperável e tornou-nos devedores do nosso reconhecimento e desejo de, não superá-la (porque o insuperável é insusceptível de superação, por definição), mas de dela nos aproximarmos tanto quanto possível.

Rui Bandeira

06 julho 2007

URGÊNCIAS 2007

Estreou ontem, dia 6 de Julho, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, o espectáculo teatral URGÊNCIAS 2007, um conjunto de peças curtas, escritas por autores portugueses contemporâneos, a partir do mote "o que é que tens de urgente para me dizer?".

Esta terceira edição do conceito, sempre com textos novos, mostra uma assinalável evolução qualitativa, com uma inteligente encenação de Tiago Rodrigues e um oportuno aproveitamento dos meios técnicos que o Teatro Maria Matos disponibiliza. A utilização de imagens em vídeo como parte integrante do cenário, a apurada utilização da iluminação (concebida, bem como o cenário, por Thomas Walgrave) e do som (com dois DJ's em palco, ALX e Riot) na construção da atmosfera pretendida par cada texto, valorizam harmonicamente os textos, as interpretações e a encenação.

A primeira peça curta intitula-se Domingo e nela Tónan Quito e Cláudia Gaiolas eficazmente preparam o ambiente para a soberba interpretação de um quase-monólogo (apenas pontuados por esparsas e curtas falas da personagem interpretada por Tónan Quito) por Fernando Luís, em grande forma. O público é paulatinamente conduzido até ao entendimento da situação, de forma quase hipnótica, pelo lento movimento, sempre acompanhado pelo incansável discurso da personagem interpretada por Fernando Luís. Um texto de qualidade da autoria de José Maria Vieira Mendes, muito bem interpretado e correctamente encenado.

A peça seguinte, Duas Estrelas, da autoria de Rui Cardoso Martins, mostra-nos uma possível reacção de um vencedor de um chorudo prémio do Euromilhões. Uma competente encenação, servida por mais uma óptima interpretação de Fernando Luís, bem acompanhado por Margarida Cardeal, Cláudia Gaiolas (delirante a sua burlesca interpretação de uma irritante e interesseira administradora de condomínio, que faz muitos dos assistentes recordarem-se do respectivo condomínio...) e Tónan Quito.

O terceiro texto, Amar-te longe daqui onde pudesse chamar pelo teu nome sem ter de virar para trás, de Mickael de Oliveira, foi o que menos apreciei. Contudo, foi bem defendido por uma boa encenação e a competente interpretação de Margarida Cardeal, Joaquim Horta e da jovem Rita Brütt, esta uma agradável surpresa na valorização da sua personagem.

O quarto texto, Fora de serviço, de Inês Meneses, foi o que mais apreciei. Difícil de interpretar, por ser constituído essencialmente por um diálogo entre dois monólogos, foi objecto de sóbria encenação e valorizado pelas excelentes interpretações de Margarida Cardeal e Joaquim Horta.

A peça curta Pum, o tiro era a que mais curiosidade me despertava, por ser escrita por um valor já seguro da dramaturgia contemporânea, José Luís Peixoto. O texto, no entanto, não correspondeu às minhas expectativas. Porém, a simples historieta apresentada foi, surpreendentemente servida por uma fantástica encenação que, optando pelo registo da farsa, em minha opinião fez de um texto vulgar um muito bom espectáculo de teatro, com o registo escolhido a valorizar o texto de uma forma que se duvidaria possível. É claro que este registo de farsa (com uma surpreendente e de alto risco alteração de cenário) só teve um merecido êxito graças às fantásticas interpretações de (mais uma vez) Fernando Luís e de Cláudia Gaiolas (esta definitivamente com uma eficácia na farsa e no burlesco que impressiona), bem acompanhados por Margarida Cardeal, Rita Brütt, Joaquim Horta e Tónan Quito.

Tónan Quito que, na minha opinião, teve a sua grande interpretação da noite, mostrando-nos a sua grande qualidade, no último e ambivalente texto, A dispersão ou simulacro de urgência, de Joaquim Horta, mais uma vez servido por uma agradável encenação, que muito valorizou, não só a qualidade do trabalho do protagonista, mas as mais-valias trazidas pelos DJ's, pelo vídeo e uma competente iluminação. Rita Brütt, Fernando Luís e Cláudia Gaiolas acompanharam e serviram bem o merecido solo superlativamente interpretado por Tónan Quito.

Estas URGÊNCIAS 2007, produção Mundo Perfeito, Produções Fictícias e Teatro Maria Matos, está em cena até 29 de Julho, de quartas a sábados às 21,30 h e aos domingos às 17 horas e é um espectáculo que vivamente recomendo, pois auguro que nele assistimos às sementes do teatro português de qualidade das próximas décadas, quer a nível de actores, quer a nível de autores, quer de encenação.

Rui Bandeira

05 julho 2007

Uma História da maçonaria Britânica (1967- actualidade)

A década de 1960 inaugurou um período de declínio em relação aos anteriores altos níveis de admissão de membros. O completo colapso das associações de amizade e auxílio mútuo após a Segunda Guerra Mundial parece poder constituir um gelado aviso sobre o que pode ser o futuro da Maçonaria.

No entanto, existem algumas objecções a essa tese de que o declínio de admissões na Maçonaria desde a década de 1960 seja parte do mesmo processo que conduziu ao estiolamento das associações mutualistas, desde logo porque estas colapsaram porque constrangimentos legislativos as reduziram a pouco mais do que sociedades de seguros mútuos, minando os aspectos fraternais da sua organização. Quando a implantação do Estado-Providência supriu a sua função, essas associações tinham muito pouco mais a oferecer.

A razão do declínio de admissões na Maçonaria Britânica deve buscar-se antes na secularização da sociedade a partir dos anos 60, em contraponto à profunda religiosidade que caracterizou a época anterior. É essa emergência de uma sociedade secularizada que está na raiz das actuais incertezas que assolam a Maçonaria Britânica. A Maçonaria na Grã-Bretanha tornou-se, de 1870 em diante, tão firmemente ligada a uma expressão de uma cultura de religiosidade na Grã-Bretanha, que não podia de deixar de sofrer um abalo até às suas raízes com o súbito declínio dessa cultura. Neste contexto, as maiores ameaças no presente período da História da Maçonaria serão, não tanto os ataques de escritores anti-maçónicos, mas os estudos do relacionamento entre a Maçonaria e a Religião levados a cabo pelas Igrejas anglicana e metodista, os quais concluíram que a filiação na Maçonaria era incompatível com a qualidade de membro destas Igrejas.

No entanto, a Maçonaria permanece francamente saudável, ao contrário das associações de amizade e auxílio mútuo. Para além do mais, a História da Maçonaria Britânica demonstra a sua durabilidade, que não desaparecerá facilmente.

(Com a publicação deste texto, conclui-se a divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

04 julho 2007

O quinto Venerável Mestre

O quinto Venerável Mestre, que exerceu funções de Setembro de 1994 a Setembro de 1995, foi Manuel A. G..

Manuel A. G., um homem corpulento e bonacheirão, era amigo pessoal do Grão-Mestre Fernando Teixeira, com quem partilhava o gosto, os conhecimentos e a paixão pela tauromaquia.

Sob a sua liderança, a Loja manteve-se sempre muito próxima do Grão-Mestre, o qual, por sua vez, nomeou vários dos obreiros da Loja para o exercício de funções de Grande Oficial, isto é, funções na Grande Loja. Por um lado, isso era agradável, porque correspondia à manutenção da confiança do Grão-Mestre fundador na Loja e nos seus obreiros. Por outro lado, isso era penalizador para a Loja, que não raras vezes se via privada da presença e do contributo de vários e influentes obreiros, ocupados no exercício dos deveres dos seus ofícios na Grande Loja. Por outro lado, tinha começado a implantação dos Altos Graus na Maçonaria Regular portuguesa, com os Altos Graus dos Rito Escocês Rectificado e do Rito Escocês Antigo e Aceite à cabeça, e muitos dos obreiros da Loja acumulavam com a frequência de sessões de Altos Graus e o exercício de ofícios nos Altos Graus, por vezes com simultaneidade de reuniões entre estes e a Loja Azul (a Loja trabalhando nos três graus basilares da Maçonaria, Aprendiz, Companheiro e Mestre).

Por força destas circunstâncias, a Loja continuou a trabalhar com Quadros de Oficiais muito variáveis. Existia o Quadro de Oficiais efectivo, digamos assim. Mas raramente a Loja trabalhou com a presença de todos os oficiais efectivos. Para cada ofício existia o titular efectivo da função e, informal e naturalmente, perfilavam-se um ou mais suplentes que asseguravam o exercício da função na falta do titular. Assim a Loja se habituou a colmatar as faltas de seus membros, impedidos em outras actividades maçónicas. Assim se reforçou a característica da Loja de todos os seus membros estarem aptos a exercer bem mais do que um ofício em Loja e de conseguir trabalhar com segurança e qualidade independentemente da composição efectiva do quadro de oficiais em cada momento. O que, em termos de prática ritual, trouxe a mais-valia da garantia de uma qualidade média do trabalho, independentemente de quem esteja presente e de como estejam distribuídos os obreiros pelos ofícios, mais-valia que, felizmente, se foi mantendo ao longo do tempo.

Manuel A. G. apreciava que os trabalhos decorressem de forma imponente e serena. Com ele, cada sessão de Loja era um exercício de execução tão perfeita quanto possível do ritual, entendendo-se como parte desse esforço a execução, em toda a pompa e circunstância, de cada gesto, de cada passo, de cada fala. Com Manuel A. G., a Loja habituou-se de novo a executar o ritual, não apenas bem, mas com brilho. Cada pormenor era corrigido, cada detalhe era aperfeiçoado.

Assim, em termos de execução do ritual, a Loja retomou a qualidade que se habituou a considerar sua, com as vantagens do aumento do número de obreiros capazes de a manter e da capacidade de execução de múltiplos ofícios por cada obreiro. A preocupação e o gosto de Manuel A. G. pela boa execução do ritual criou em todos o hábito e a necessidade da qualidade. Isso continua a Loja a dever a Manuel A.G..

No seu sereno e calmo mandato, apenas uma pequena nuvem se apresentava no horizonte: retomada e aperfeiçoada a qualidade de execução do ritual, os mais dinâmicos interrogavam-se sobre o que fazer com a Loja. Tínhamos um grupo que aprendera a ser coeso, que nutria o gosto pela qualidade do trabalho ritual, que paulatinamente aprendia Maçonaria. O que fazer com ele? Apenas executar com qualidade o ritual já sabia a pouco. Mas fazer o quê? Utilizar o potencial da Loja em quê?

Uma coisa se tinha como certa. Fosse o que fosse, não seria por voluntarismo que se encontraria. Utilizar de forma útil o potencial da Loja e dos seus obreiros só fazia sentido e só seria efectiva e persistentemente possível se fosse consensual. Esta busca de conteúdo, de valia, de contribuição prática da Loja em algo que consensualmente se tivesse como possível e que se entendesse valer a pena foi tema recorrente nas conversas entre os seus obreiros, naquela época. Muitos projectos foram falados, muitos foram reconhecidos de megalómanos ou não reuniram o consenso. A pouco e pouco, foi-se entendendo que a solução não era a busca de grandes coisas, de projectos de encher o olho e a alma. Como sempre, foi nos princípios da Maçonaria Regular que fomos buscar as bases para a resposta aos nossos anseios. No caso, que a Maçonaria Regular não se destina a intervir, ela própria, enquanto tal, na Sociedade, mas cada obreiro, por virtude do seu aperfeiçoamento pessoal deve ele próprio contribuir, na medida do que possa, para a melhoria da Sociedade. A resposta não estava, pois, em ambiciosos projectos, em grandes organizações, em eventos de estalo. A resposta estava em nós mesmos e no que nós pudéssemos dar e fazer.

Foi assim que nasceu o primeiro projecto colectivo da Loja Mestre Affonso Domingues. Um projecto modesto, mas à medida das possibilidades dos seus obreiros. Um projecto discreto, mas que ajudava a suprir uma necessidade social. Um projecto através do qual cada um, na medida em que podia fazê-lo, dava o que de mais precioso uma pessoa pode dar: um pouco de si próprio.

Assim começou o que pomposamente gostamos de chamar Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues, um grupo sem sede, sem direcção, sem contas nem património, sem organização, um pouco como a a casa da canção infantil ("era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, nem tinha nada..."). Mas se nada disso teve, nem tem, teve, tem e desejamos que continue a ter o que verdadeiramente importa: a disponibilidade para ajudar, para obter e efectuar doações de sangue, para contribuir para que ninguém fique sem o necessário tratamento ou recuperação da sua saúde por falta desta essencial seiva da vida. Quem pode dar sangue, dá; quem não pode, ajuda de outra forma qualquer, na organização da acção, na sua divulgação, na simples companhia aos que dão. Sendo a Loja constituída por algumas dezenas de obreiros e com uma não negligenciável quota de elementos cuja idade ou condições de saúde não lhes permitem que dêem sangue, não esperamos que, de cada vez, se recolha uma grande quantidade de sangue. Mas, ao longo dos anos, a quantidade de sangue recolhida já é significativa. e, a pouco e pouco, vamos conseguindo o auxílio de terceiros, que amigos, conhecidos e mesmo desconhecidos também ajudem e também dêem sangue. E lá vamos ajudando...

Manuel A.G. contribuiu também para este projecto. Como os demais Veneráveis Mestres da Loja deixou também nela a sua marca. E nós não o esquecemos.

Como amigo pessoal de Fernando Teixeira que era, naturalmente que, na altura da cisão, o acompanhou. Mas continua a ser um amigo e, pelo menos no nosso convívio anual de Dezembro, procuramos, com todo o gosto, tê-lo connosco e ficamos especialmente satisfeitos quando os seus afazeres lhe permitem estar connosco. Também a ele se aplica a nossa máxima de que uma vez um dos nossos, sempre um de nós.

Rui Bandeira

03 julho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1874-1967)

Depois de um período conturbado, emergiu um consenso a partir da década de setenta do século XIX, aliás tal como em toda a sociedade britânica. Este consenso no final da época vitoriana reflectiu-se no facto de, quando o Príncipe de Gales se tornou Grão-Mestre, em 1874, o anteriormente inflamado Conde de Carnarvon transformou-se no seu pacato e diligente Pro Grão-Mestre, enquanto que o antigo rebelde dos anos 50 Canon George Portal se afadigava a trazer a Ordem e a Harmonia às muitas institutições maçónicas que tinham proliferado desde 1856.

A Maçonaria do final da época vitoriana estava instalada na sua posição na Sociedade. As incidências dos debates em várias sessões de Grande Loja eram abertamente relatadas no The Times. Em vilas e cidades de todo o País, as Lojas Maçónicas locais eram partes indispensáveis dos desfiles cívicos, tal como os orgnizados por ocasião dos Jubileus de Ouro e de Diamante da Rainha Vitória. A Maçonaria era suportada por uma fornmidável infraestrutura comercial, visivelmente expressa na firma de George Kenning, que fabricava as caras jóias e paramentos, que permitiam à classe média do final da época vitoriana uma ostentação através da Maçonaria. Kenning também publicou um dos semanários disponíveis nos escaparates das estações ferroviárias, no qual se debatiam temas da actualidade maçónica e se publicavam notícias acerca de personalidades e eventos maçónicos. Este período também constituiu a emergência da Maçonaria como uma das mais abastadas e mais bem organizadas organizações filantrópicas do país.

Algumas notas devem, porém, ser enfatizadas neste quadro de prosperidade, estabilidade e crescimento. Desde logo, a Maçonaria não estava sozinha neste ambiente social. Fazia parte do que foi descrito como o "fraternalismo competitivo". Por outro lado, o crescimento de várias formas mais racionais de lazer e recreação a partir da década de 1860 fora, em parte, a reacção a uma crise de identidade por parte dos habitantes das grandes cidades industriais. Como poderiam eles mantero seu antigo sentido de comunidade e, no caso da classe média, afirmar a sua liderança cívica? Uma resposta foi escolher entre a esplendorosa variedade de novas actividades sociais. Um cavalheiro de sociedade podia viver uma vida cheia de uma variedade de organizações filantrópicas, empresas comerciais e publicações. Um maçon empenhado podia, similarmente, preencher a sua vida com várias reuniões maçónicas, levar o The Freemason para a sua leitura semanal, utilizar a Biblioteca Maçónica e envher a sua casa de uma variedade de objectos maçónicos. A Maçonaria era apenas uma das formas pelas quais a classe média do final da época vitoriana podia afirmar a sua respeitabilidade e prestígio social e manter um paroquial sentido de comunidade.

Um exemplo deste uso da Maçonaria como forma de expressão de identidade no final da época vitoriana foi a emergência de Lojas destinadas a profissões específicas. A criação de lojas maçónicas deu a classes profissionais emergentes, relutantes em frequentar bares e tabernas, um meio através do qual podiam conviver depois do trabalho, numa atmosfera neutral. Assim, membros do Serviço de Educação de Londres peticionaram a criação de uma loja maçónica própria, onde poderiam confraternizar após as reuniões profissionais. Lojas similares foram criadas por vários outros grupos profissionais. São particularmente dignas de nota as lojas criadas por membros das profissões do sector público, tais como polícias e professores. A posição social destes grupos profissionais era, frequentemente, ambígua: a Maçonaria proporcionava a cada um deles a possibilidade de se reclamar pertencer à classe média.

Como parte deste desejo de respeitabilidade, a religiosidade tornou-se cada vez mais importante. Com a adopção de cânticos religiosos populares, a importância do ofício de Capelão (um dos ofícios de Loja do Rito de Emulação, cuja função é a de pronunciar orações em momentos determinados do ritual) e a aparência pseudo-eclesial de muitos dos novos Templos Maçónicos, a frequência das reuniões de loja parecia quase como comparecer a um serviço religioso.

A atmosfera eclesiástica da Maçonaria Britânica afastou-a crescentemente da Maçonaria em todo o resto do Mundo, muito especialmente do Grande Oriente de França, o qual se tornou, a partir da década de 1870, crescentemente ateu e secularista e se ia transformando no guardião da chama da Terceira República. Estas tensões agudizaram-se com a decisão do Grande Oriente de França de dispensar como requisito de admissão dos seus membros a crença num Ser Supremo, o que resultou na cessação de relações com os membros desse Grande Oriente pelas Grandes Lojas Britânicas.

As duas principais orientações do Mundo Maçónico, que divergiram entre si na década de 1870, ainda hoje se vêem uma à outra através do equivalente maçónico do Muro de Berlim. A culpa por esta cisão não pode ser inteiramente atribuída aos franceses. É justo fazer notar que, enquanto a Maçonaria Francesa se moveu numa direcção, a Maçonaria Britânica adoptou um tom cada vez mais religioso.

É por esta razão que Andrew Prescott tende a olhar o consenso do final da época vitoriana em torno da Maçonaria como persistindo até à dácada de 1960, talvez com as celebrações do 275.º aniversário da Grande Loja Inglesa, em 1967, marcando o seu último fôlego. Tal como em recente trabalho de Callum Brown se defendeu que, no período final da época vitoriana, se verificou um aprofundamento do sentimento religioso popular, que é considerado como tendo persistido até às mudanças culturais da década de 1960, parece que se pode detectar a mesmoa evolução na Maçonaria. Apesar da sua proclamação de que não exige a crença numa particular religião, desde, pelo menos, a década de 1870 que a Maçonaria Britânica se tormou uma muito efectiva expressão do mais alargado consenso moral, cultural e político em que se alicerçou o Império Britânico. Apesar daqueles que eram não conformistas, fossem anglicanos, judeus ou hindus, havia um forte entendimento do que constituia o comportamento apropriado para um leal súbdito britânico, o qual se alicerçava numa espécie de religiosidade instintiva e discurso moral, que caracterizaram a sociedade britânica até à década de 1960.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

02 julho 2007

Exposição IN DEFINITION

No muito especial espaço da Mãe d'Água das Amoreiras, integrado no Museu da Água, vai ser inaugurada na terça-feira, dia 3 de Julho, pelas 19 horas, a exposição IN DEFINITION, de Manuel do Carmo.

O pintor Manuel do Carmo nasceu em 1958 em Lisboa. Estudou arte e pintura no Ar.Co. O seu estilo, absolutamente contemporâneo, não se inscreve em nenhuma escola.

O seu estilo de realismo fantástico está patente na sua arquitectura imaginária, que nos desvenda a história da Humanidade, seus valores e espiritualismo - algo também muito caro aos maçons.

Nos últimos vinte anos, Manuel do Carmo criou inúmeros trabalhos expostos em colecções privadas e públicas e em alguns museus nacionais e internacionais, encontrando-se ainda representado em diversas galerias e em esculturas de arte urbana de Lisboa.

Sobre ele disse a crítica de arte em New York Nancy di Benedetto: A maior homenagem que se lhe deve fazer é a de que o seu trabalho não se insere em escolas ou movimentos predeterminados, a sua obra artística desafia uma categorização e rompe novos territórios na Arte do século XXI.

A exposição IN DEFINITION encontra-se integrada na no programa da Presidência de Portugal da União Europeia. Será seguida por uma outra, do mesmo autor, THE CORRIDOR OF LIFE IN WATER, fazendo ambas parte do projecto IN DEFINITION, sobre a relação entre o ser humano e a água, buscando na inversão a força evolutiva dessa relação. Uma exposição sucede à outra, completando-se mutuamente e dando conceito global e unificado ao projecto.

A 3 de Julho, o público poderá ver a Mãe d'Água como raramente foi vista: a Mãe d'Água das Amoreiras inverte-se, pois, esvaziando o depósito de 5.500 m3 de água, possibilita-se a visita ao seu interior (possibilidade muito raramente disponibilizada ao público), numa simbólica viagem ao que existe preambular à Criação, debaixo do elemento Água - um Hino à Água.

No centro do reservatório, uma enorme esfera simboliza a semente inicial, da qual tudo nasceu.

No dia 12 de Julho, será apresentada a segunda exposição, a segunda parte do projecto. A Mãe d'Água das Amoreiras regressa ao seu posicionamento normal: água em baixo, no reservatório de novo cheio.

Tudo o que estava em baixo vai agora para cima: o terraço da Mãe d'Água enche-se com as fotografias gigantes até então ocultas na Arca de Água e, neste momento, projectadas para o Céu.

Deste modo se completa a alusão hermética, tornando a exposição visível do Céu, para fruição dos passageiros dos aviões que sobrevoam Lisboa!

Esta segunda parte do projecto permanecerá em exposição até 8 de Setembro.

Uma inauguração a não faltar, duas exposições a não perder, quer pelo valor intrínseco da arte de Manuel Carmo, quer pela simbologia que delas se extrai. Quem está em Lisboa, deve ir. Quem não está, pode aproveitar e viajar para Lisboa, de avião, entre 12 de Julho e 8 de Setembro e apreciar duplamente o trabalho de Manuel do Carmo: do ar, através da janela do avião, à chegada a Lisboa e depois no local!

(Este texto foi elaborado com base em elementos informativos fornecidos pela Directora do Museu da Água)

Rui Bandeira

29 junho 2007

Novas funcionalidades no blogue

A partir de agora o blogue A Partir Pedra disponibiliza duas novas funcionalidades para quem tem interesse nos textos que aqui se publicam.

Uma delas já podia ser utilizada por quem usa as aplicações de navegação na Rede Internet Explorer 7 e Mozilla Firefox 2.0: as actualizações via RSS. Mas talvez alguns dos que já tinham essa possibilidade não a utilizassem, por desconhecimento da sua existência na sua aplicação de navegação na Rede.

Para esses e também para aqueles que usam outras aplicações de navegação sem essa funcionalidade, colocámos um atalho, logo abaixo do Arquivo do Blogue, com um pequeno ícone similar à imagem que ilustra este texto e sob o título ÚLTIMOS TEXTOS VIA RSS. Quem quiser beneficiar da funcionalidade, basta clicar no ícone e abrir-se-á uma página onde, ao alto, está o nome do blogue e, à direita, vários ícones. Basta clicar no ícone que prefira e, após confirmação da subscrição do serviço (inteiramente gratuito, é claro!), passará a dispor, na barra de tarefas do serviço que escolheu, da funcionalidade RSS, que lhe permitirá verificar quais os últimos textos publicados no A Partir Pedra. Quem utilizar o Yahoo poderá clicar no ícone respectivo; quem preferir utilizar o Google, idem; quem preferir utilizar a barra de tarefas da sua aplicação de navegação, desde que esta suporte o serviço, deverá utilizar o pequeno ícone laranja com o texto "View feed XML".

Quem quiser receber na sua caixa de correio electrónico os novos textos que forem publicados, pode, ou utilizar o ícone do sobrescrito em fundo azul na página que se abre quando se clica no ícone ÚLTIMOS TEXTOS VIA RSS ou - mais fácil ainda! - clicar no atalho que se encontra criado logo abaixo do ícone de acesso ao RSS, sob o título NOVOS TEXTOS VIA CORREIO ELECTRÓNICO. O atalho em si é, para que ninguém tenha dúvidas, constituído pelo texto Receba os textos do A PARTIR PEDRA por correio electrónico. Clicando nesse atalho, abrir-se-á uma janela intitulada REQUERIMENTO DE CADASTRO DE EMAIL, onde deverá preencher, na caixa disponibilizada para o efeito, o seu endereço de correio electrónico. Após preencher, na caixa inferior esquerda as letras de controlo que visiona, clica na caixa COMPLETAR SOLICITAÇÃO DE CADASTRO e... está quase. Seguidamente, abra o seu leitor de correio electrónico. Se não estiver já lá uma mensagem com o assunto "Active a sua subscrição por correio electrónico para: A Partir Pedra", clique em enviar-receber para que esta seja recebida. Uma vez aberta esta, basta clicar no atalho constante da mensagem (ou copiar o mesmo e inseri-lo na barra de endereços da sua aplicação de navegação na Rede) e, uma vez acedida a página de destino, está completado o processo: desde que tenha sido publicado um novo texto no A Partir Pedra, diariamente receberá uma mensagem de correio electrónico com o mesmo. Por agora, o serviço está configurado para enviar a mensagem entre as 17 e as 19 horas, hora de Portugal Continental. Eventualmente, se se vier a concluir ser mais adequado ou conforme com os interesses dos subscritores do serviço, pode ser alterado o intervalo horário de envio de mensagens.

Uma outra alteração foi feita no modelo do blogue, mas esta é mais uma brincadeira do que outra coisa: quem for ao fundo do blogue, deparará com um ícone, o qual declara (em inglês) que este blogue foi classificado para todas as audiências e todas as idades. O ícone é verdadeiro e esta é a classificação que foi efectivamente atribuída ao blogue. Mas, aqui para nós, não podia deixar de assim ser: feita a verificação dos textos do blogue, a aplicação atribuiu essa classificação em face da ausência de palavras indicativas de pornografia ou violência. É certo que este blogue efectivamente não divulga pornografia nem violência, mas, manda a verdade que se reconheça que, mesmo que o fizesse, a classificação seria a mesma: é que o sítio de atribuição de classificações busca palavras desses temas... em inglês! No nosso caso, a única palavra que detectou (o que não foi impeditivo da classificação PARA TODOS) foi... "breast" (do atalho para o Breast Cancer Site)!

Rui Bandeira

28 junho 2007

O quarto Venerável Mestre

O Venerável Mestre no período entre Setembro de 1993 e Setembro de 1994 foi Ilídio P. C..

Foi o homem certo na altura certa. A Loja aprendera a trabalhar em condições mais difíceis do que aquelas em que se formara. A Loja aproveitara para perceber as vantagens de fazer rodar os Mestres - particularmente os mais recentes - nos vários ofícios rituais. É verdade que tal ocorrera por necessidade, devido à diminuição de assiduidade nas reuniões havidas às quartas-feiras. Mas ultrapassara a dificuldade e ainda obtivera um ganho com a forma como a ultrapassara. Mas a Loja necessitava de obter uma maior empatia com o seu líder. E Ilídio P. C. era o homem ideal para isso.

Ilídio P. C. teve a seu favor, desde logo, o factor emocional. A Loja aprendera a trabalhar sob uma liderança menos carismática, mas recordava com alguma saudade a ligação emocional e carismática que tivera com José M. M.. E, na verdade, com Ilídio P. C. teve o mais próximo disso que era possível, até num plano simbólico: Ilídio P. C. e José M.M. tinham sido cunhados (um deles, já não me recordo qual, tinha sido casado com a irmã do outro), a sua ligação pessoal mútua era grande (sobrevivera ao fim do casamento que os tornara cunhados) e Ilídio P. C. era também um emotivo, tal como José M. M.. Eram, obviamente diferentes - José M. M. motivava o grupo pela garra, pela combatividade, pelo carisma; Ilídio P. C. arregimentava afectos mansamente, ouvindo todos pacientemente e, num fio de voz, anunciando a decisão que todos instantaneamente sentiam que tinham contribuído para ser tomada e que reconheciam como a melhor, em face das circunstâncias analisadas. Era um carisma sossegado, mas não deixava de ser carisma.

Tinha uma actividade profissional intensa e competitiva e costumava dizer que a Loja era o seu porto de abrigo, o seu local de descontracção, onde podia estar à vontade e com as defesas em baixo, sem preocupações de ser traído (a palavra que utilizava era mais vernácula...), nem apunhalado pelas costas. Dizia-o, parte por ser verdade, mas também parte como meio de incutir na Loja a coesão entre os seus membros. A sua mensagem era: não importa a luta que travemos na vida profana, a forma como aí tenhamos de estar atentos; aqui é um espaço de camaradagem, de confiança, de amizade. Não é preciso gostar de todos, ser amigo de todos; mas não se trai nenhum e por nenhum se é traído. Aqui cada um pode e deve ser ele próprio, mostrar as suas fraquezas e colaborar com as suas forças; ninguém se aproveita das fraquezas de qualquer dos demais, ninguém abusa das forças dos seus irmãos.

E, dando-se a si como exemplo, agindo em consonância com o que dizia, calmamente fez com que todos o seguissem, e a Loja voltou a levantar voo, com as capacidades que tinha, enriquecida com a coesão que passou a fazer parte das suas características genéticas.

Ilídio P. C., que beneficiou também do paulatino regresso de muitos dos que, esgotados, tinham passado por um "ano sabático" de recuperação, no fim do seu mandato transmitiu ao seu sucessor uma Loja mais forte, mais coesa, mais madura, que entendera que a liderança também se exercia de uma forma calma e, com isso, crescera mais um pouco.

Ilídio P. C., aquando da cisão de 1996, sofreu como poucos o desgosto da separação e a forçada e inesperada quebra da coesão por que tanto se esforçara. Coerente, afastou-se. Mas, algum tempo depois, o apelo da Maçonaria foi mais forte. Uma vez maçon, sempre maçon. Acabou por se integrar numa Loja do GOL e aí certamente que o seu estilo brando e calmo exerce tanta influência como exerceu em nós.

Continuamos a revê-lo e a com ele conviver, sempre que possível, seja numa qualquer organização a que ele nos dá o gosto da sua presença, seja no jantar anual do Solstício de Inverno que a Loja organiza. E é sempre com grande alegria que o revemos e com ele convivemos e, sempre, algo de novo aprendemos. Porque o Ilídio P. C. não foi apenas um dos nossos. O Ilídio P. C. contribuiu, e muito, para a nossa identidade e características, mostrando-nos o imenso valor da coesão. Esteja onde estiver, esteja com quem estiver, é e será sempre um dos nossos!

Rui Bandeira

27 junho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1856-1874)

O descontentamento com a administração da Maçonaria por Lord Zetland culminou em 1855 com a secessão de um grupo de maçons canadianos para formarem a sua própria Grande Loja. Isto foi seguido pouco depois pela formação da Grande Loja dos Maçons Mark Master.

Estes eventos fizeram parte de uma breve, mas profunda, crise política e social precipitada pele Guerra da Crimeia. Os ataques a Lord Zetland foram encabeçados por um jornal maçónico chamado Masonic Observer, escrito por um grupo de jovens e radicais maçons, entre os quais Canon George Portal e o Conde de Carnavon. Este defendia um maior papel para as províncias na organização maçónica. Estas reivindicações ligavam-se com as reformas da organização provincial, tais como a introdução dos Anuários Provinciais, reuniões provinciais mais frequentes e um papel mais activo para os Grão-Mestres Provinciais. Tudo isto pode ser visto como a exigência de um maior acesso à autoridade política e social por parte dos líderes sociais das novas cidades industriais. Isto foi impressivamente expresso em Birmingham, onde um certo número de ricos proprietários de fábricas e membros da elite social providenciaram pela criação de uma loja com o nome de Loja do Progresso, que iria reunir no Templo Maçónico, evitar o álcool e os ágapes e apoiar as virtudes da caridade, temperança e respeitabilidade. Idênticas iniciativas podem ser encontradas em muitas outras cidades industriais. Para referir de novo o exemplo de Bradford, a Loja da Esperança foi dominada por um grupo de ricos empresários, que entusiasticamente debatiam a melhor forma de atingir a Virtude Maçónica.

É nesta altura que a Maçonaria se torna uma avassaladora instituição da classe média. Convém notar que este parece ser um fenómeno intrinsecamente inglês. Na Escócia e na Irlanda, a presença significativa de elementos das classes trabalhadoras na maçonaria permanece até aos dias de hoje. Em Inglaterra, a importância da Maçonaria para a coesão das elites sociais nas cidades de província expressou-se na construção de Templos Maçónicos como parte integrante dos novos centros das cidades - em cidades como Manchester e Sheffield, localizados mesmo ao lado dos novos edifícios das Câmaras Municipais e outros edifícios públicos . Um dos muitos pontos de investigação futura acerca deste período fulcral da História da Maçonaria é verificar que efeito tiveram estas mudanças no papel da Maçonaria no Império Britânico.

Algumas das pressões junto da maçonaria Imperial eram diferentes e distintas - por exemplo, os Distritos indianos eram relutantes quanto à aceitação de não-cristãos nas lojas maçónicas e só vieram a admiti-los após determinações explícitas nesse sentido por parte de Londres. A relutância dos maçons coloniais da Índia em partilhar as suas lojas com os indianos propiciou um particular entusiasmo pelos trabalhosos de George Oliver e pelo desenvolvimento dos Altos Graus Crísticos - os indianos podiam integrar-se nas Lojas, mas só cristãos teriam acesso completo às glórias da Maçonaria, proclamava-se nos púlpitos das igrejas em Bombaim e por toda a Índia.


(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

26 junho 2007

Aniversário da Grande Loja

Decorreu este fim de semana a Sessão de Grande Loja do Solsticio de Verão. Esta sessão é coincidente com o Aniversário da Grande Loja, que este ano festejou o seu 16º.

Optou o M.R.Grao Mestre por dar maior enfase a questões de trabalho que a questões ludicas, indiciando assim o caminho que pretende ver percorrido.

Aproveitou a oportunidade para lançar a nova edição do ritual de aprendiz do R.E.A.A. que foi revisto, corrigido e melhorado. Ficou a informaçao que brevemente os demais ritos praticados terão também os seus rituais revistos e editados.

Seguiu-se jantar branco em ambiente muito agradavel.

Evidentemente que a organização de toda esta logistica teve o cunho das nossas queridas amigas Milu e Sandra, o que agradecemos.

Jose Ruah

Uma História da Maçonaria Britânica (1834-1856)

A crescente clivagem social entre a maçonaria e outras formas de organização fraternal foi impressivamente expressa em 1834, quando elementos de uma organização fraternal foram presos e julgados ao abrigo da Lei das Sociedades Proibidas, um evento que foi aproveitado por oficiais da Grande Loja para lembrar às lojas maçónicas que a excepção que isentava a Maçonaria dessa Lei continuava em vigor. No entanto, as mudanças sociais começavam a colocar grandes desafios à Grande Loja.

Para o Duque de Sussex, a capacidade da Maçonaria de reformar a sociedade expressava-se melhor na sua capacidade de transcendência dos conceitos cristãos. Para outros, como Robert Crucefix, a Maçonaria precisava de aumentar a sua acção social. Crucefix elaborou um projecto de criação de um lar para os maçons idosos e pobres, a que Sussex se opôs.

A publicação da Nova Lei dos Pobres em 1834 deu um novo impulso ao projecto de Crucefix: havia agora a possibilidade de os maçons poderem obter instalações para o Lar. Crucefix lançou a Freemasons Quarterly Review para ajudar a promover o seu projecto do asilo maçónico. A Freemasosn Quarterly Review rapidamente se tornou um veículo de divulgação de um novo tipo de Maçonaria, que se pode considerar ligado a um maior movimento de busca de reformas ocorrido naquela época. Crucefix defendia uma Maçonaria mais Evangélica e mais comprometida com as reformas sociais. Acima de tudo, defendia que a Maçonaria devia ser mais explicitamente cristã. Quanto a este aspecto, o maior aliado de Crucefix foi o George Oliver, um clérigo, que desenvolveu uma teologia cristã da Maçonaria, que exerceu enorme influência até ao final do século XIX. Crucefix concebia a Beneficência Maçónica em ligação a uma mais ampla promoção da auto-ajuda e segurança. Para Crucefix, a maçonaria destinava-se à respeitável classe média. A Freemasons Quarterly Review publicava angustiantes relatos acerca de maçons pobres, geralmente membros de lojas na Irlanda ou na Escócia, que se pensava usarem as lojas maçónicas como meio para tentarem obter trabalho - o tipo de prática censurável a que Crucefix pretendia por cobro.

O êxito de Crucefix na implantação da sua reforma da Maçonaria de classe média foi relativo - enquanto que a sua influência no ressurgimento de lojas dirigidas pelos seus seguidores era entusiasticamente exaltado nas páginas da Freemasons Quarterly Review, em cidades industriais como Bradford ou Sheffield o seu impacto foi mais limitado. Não vale a pena detalhar a titânica disputa entre Crucefix e o Duque de Sussex. Mas interessa mencionar que as alegações de que os debates em Grande Loja eram truncadamente publicados na Freemasons Quarterly Review levaram ao pormenorizado registo dos debates nas actas da Grande Loja...

O ponto importante a frisar é que a evidente clivagem que ocorreu em vida de Crucefix continuou após a sua morte em 1850, tendo o Grão-Mestre Lord Zetland sido sujeito a ferozes ataques à sua displicente administração da Obediência nas páginas do Freemasosn Magazine, publicação sucessora da Freemasons Quarterly Review. Crucefix traçou linhas divisórias no interior da Maçonaria cuja influência ainda hoje se faz sentir.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

25 junho 2007

Mestre de Cerimónias

No texto sobre o mandato do terceiro Venerável Mestre, fiz, a dado passo, referência ao ofício de Mestre de Cerimónias. Tendo sempre presente que este blogue se destina a ser lido por maçons e por não maçons, este é um bom pretexto para descrever mais um dos ofícios da Loja, após já ter feito referência aos de Venerável Mestre e de Vigilantes.

O ofício de Mestre de Cerimónias existe no Rito Escocês Antigo e Aceite (aquele que é praticado na Loja Mestre Affonso Domingues) e bem pode ser exercido por um mudo. Com efeito, não me recordo de existir uma única fala especificamente do Mestre de Cerimónias em qualquer das cerimónias rituais deste rito. Toda a actividade deste Oficial se faz pelo movimento e pelos gestos. No entanto, este ofício é um dos mais importantes do mencionado rito!

O Mestre de Cerimónias é o oficial de Loja que executa, dirige e conduz todas as movimentações em Loja. Sempre que um qualquer dos elementos da Loja deve circular nela, fá-lo acompanhado pelo Mestre de Cerimónias (melhor dizendo: seguindo-o). Sempre que a posição ou o estado de um dos objectos com significado ritual deve ser corrigida, quem efectua essa acção é o Mestre de Cerimónias. Cumprindo instrução nesse sentido do Venerável Mestre ou por decisão própria.

O Mestre de Cerimónias é o responsável por toda a circulação no espaço da Loja e, consequentemente, pela sua fluidez e correcção. É ele quem indica por onde se deve ir, para se fazer o quê.

O ofício de Mestre de Cerimónias é fundamental na execução do ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite, porque é ele quem marca os ritmos e, assim, quem agiliza ou soleniza cada cerimónia.

Ao contrário do que sucede, por exemplo, no Rito de York, o ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite não é executado de cor: os oficiais que o executam têm o apoio do texto relativo à cerimónia respectiva. Porém, o Mestre de Cerimónias, porque não tem falas, exerce o seu ofício sem o apoio do ritual escrito, o que o obriga ao profundo conhecimento do ritual de todas as cerimónias. Só bem conhecendo o ritual, pode ele estar preparado para executar uma determinada acção no exacto momento em que é adequado fazê-lo, por saber que, quando determinada frase é dita por alguém, se seguirá determinada acção que ele deve executar.

A experiência e o conhecimento do ritual do Mestre de Cerimónias pode fazer de uma qualquer cerimónia ritual um acto corriqueiro ou uma exaltante execução. O Mestre de Cerimónias tem que saber, que intuir, quando deve ser solene e pausado e quando deve acelerar o seu movimento - por vezes, em função da existência ou não de atraso na execução dos trabalhos...

O Mestre de Cerimónias só aprende o seu ofício de uma maneira: executando-o e corrigindo os erros e hesitações que lhe detectarem ou que ele próprio detectar. O Mestre de Cerimónias faz a função, mas também se faz na função.

O símbolo da função do Mestre de Cerimónias - símbolo que ele transporta sempre consigo! - é o bastão (ver figura), espécie de bordão ou vara de caminheiro com que ele marca o início dos seus passos e as suas mudanças de direcção e que é também utilizado, em conjunto com a espada de outro oficial, para executar uma abóbada cerimonial, designadamente sobre os mais importantes símbolos em Loja em momentos-chave da abertura e do encerramento dos trabalhos. Pode ser substituído por uma versão em tamanho reduzido, de cerca de cerca de meio metro, que, nesse caso, transportará sobre o antebraço, o que sucede normalmente em cerimónias a que se pretende conferir maior "pompa e circunstância".

Rui Bandeira