O MURO
Juntaram-se Presidentes e Primeiros Ministros, fizeram-se discursos, cantou-se vitória sobre o fim da divisão física da Alemanha.
É bom que se lembre o muro de Berlim, o que ele significou enquanto existiu, todos os que morreram por se aproximarem dele na ânsia da fuga a um regime ditatorial, policial, opressor.
É bom que se faça isso.
A memória dos homens é fraca demais e a tendência para o laxismo é constante.
Por isso é bom que se provoquem estas recordações, mesmo que com a pompa e circunstância que, se calhar, seria dispensável.
Quem viveu em Portugal antes de Abril de 1974 sabe interpretar bem o que significou, para os alemães, o derrube do muro de Berlim.
A questão é:
- e será que o muro foi mesmo abaixo ?
- completamente ?
Quem vai à Alemanha e aborda o assunto com alemães (especialmente com os que viviam na parte Ocidental) apercebe-se facilmente que ainda há "muito muro para derrubar".
Não vai ser fácil, não… e já lá vão 20 anos !
Entretanto outras preocupações nos ocorrem ao assistir a estas cerimónias, preocupações que decorrem de ver que vários dos que festejam esta vitória da liberdade estão, eles mesmos, a construir os seus próprios muros de opressão (não há volta a dar, estes muros são e serão, sempre, uma opressão sobre os povos !).
Como Maçons temos a Liberdade como base.
Claro, a Fraternidade e a Igualdade também. É dos livros. Está nas regras básicas.
Quem não aceitar estes princípios não pode ser reconhecido como Maçon.
Os problemas relacionados com a estas três grandezas da natureza humana são problemas maçónicos e, pelo menos como tal, devem constituir uma preocupação de todos nós.
Daí eu vir aqui ao assunto. E venho porque me assaltaram dúvidas relativamente à validade de algumas ações e discursos que foram anunciadas.
Soube-me a muito pouco o que se disse, a quase nada o que se fez e a zero o resultado.
Não ouvi qualquer referência aos outros “muros da vergonha” que se vão construindo por toda a parte.
O Sr. Bill Clinton esteve na cerimónia.
O que disse ele acerca dos muros construídos e em construção na fronteira USA/México, nas fronteiras Israel/Cisjordânia ou Gaza ?
E os restantes Presidentes que compareceram à fotografia que palavras (e já não vou ao ponto de perguntar por ações) tiveram para condenar os muros em Espanha, em Marrocos, na Rússia, entre as Coreias, no Iraque, na Índia, na China, na Brasil entre favelas…, …, …
E muitos, muitos outros !
E mais, e mais importantes.
Os muros invisíveis ao olhar que acabam justificando os anteriores. Quais são ?
O muro da injustiça;
O muro das desigualdades;
O muro da corrupção, dos compadrios;
O muro das vaidades, da arrogância, da desresponsabilização;
O muro do analfabetismo;
O muro da miséria moral e física que anda (?) pelas esquinas, túneis e buracos das grandes cidades;
Os muros… tantos, tantos… tantos são os muros a que nenhum daqueles dirigentes se referiu.
Brindaram a um que está em vias de ir completamente abaixo (dizem que já foi) e não falam naqueles que estão, diariamente, a ser erguidos. Porquê ?
E não há muro que não seja uma prisão !
Esta é, tem que ser, uma preocupação maçónica.
Muitos mais muros da vergonha que poderíamos nomear e que nos rodeiam diariamente, sem que façamos seja o que for para os derrubar. Pelo contrário, até os acrescentamos com “tijolo” da nossa laia.
Sob que direito humano se fazem as coisas assim ?
Meus Amigos, todos estes muros são para derrubar.
Urgentemente. E nós temos responsabilidades nisso.
Não é fácil ? Pois não ! Até é mesmo muito difícil.
Mas se fosse fácil nós não faríamos cá falta nenhuma. Outros tratariam de resolver o problema.
Se cá estamos é porque há dificuldades. E na nossa tarefa de trabalhar a pedra que finalidade mais humana (mais Livre, mais Fraterna, mais Igual) do que esta de abrir horizontes, não fechá-los ?
JPSetúbal