15 novembro 2009

O MURO




Festejou-se no dia 10, com toda a pompa e circunstância a chamada “Queda do Muro de Berlim”.
Juntaram-se Presidentes e Primeiros Ministros, fizeram-se discursos, cantou-se vitória sobre o fim da divisão física da Alemanha.
É bom que se lembre o muro de Berlim, o que ele significou enquanto existiu, todos os que morreram por se aproximarem dele na ânsia da fuga a um regime ditatorial, policial, opressor.
É bom que se faça isso.
A memória dos homens é fraca demais e a tendência para o laxismo é constante.
Por isso é bom que se provoquem estas recordações, mesmo que com a pompa e circunstância que, se calhar, seria dispensável.
Quem viveu em Portugal antes de Abril de 1974 sabe interpretar bem o que significou, para os alemães, o derrube do muro de Berlim.

A questão é:
- e será que o muro foi mesmo abaixo ?
- completamente ?

Quem vai à Alemanha e aborda o assunto com alemães (especialmente com os que viviam na parte Ocidental) apercebe-se facilmente que ainda há "muito muro para derrubar".
Não vai ser fácil, não… e já lá vão 20 anos !

Entretanto outras preocupações nos ocorrem ao assistir a estas cerimónias, preocupações que decorrem de ver que vários dos que festejam esta vitória da liberdade estão, eles mesmos, a construir os seus próprios muros de opressão (não há volta a dar, estes muros são e serão, sempre, uma opressão sobre os povos !).

Como Maçons temos a Liberdade como base.
Claro, a Fraternidade e a Igualdade também. É dos livros. Está nas regras básicas.
Quem não aceitar estes princípios não pode ser reconhecido como Maçon.
Os problemas relacionados com a estas três grandezas da natureza humana são problemas maçónicos e, pelo menos como tal, devem constituir uma preocupação de todos nós.
Daí eu vir aqui ao assunto. E venho porque me assaltaram dúvidas relativamente à validade de algumas ações e discursos que foram anunciadas.
Soube-me a muito pouco o que se disse, a quase nada o que se fez e a zero o resultado.

Não ouvi qualquer referência aos outros “muros da vergonha” que se vão construindo por toda a parte.
O Sr. Bill Clinton esteve na cerimónia.
O que disse ele acerca dos muros construídos e em construção na fronteira USA/México, nas fronteiras Israel/Cisjordânia ou Gaza ?
E os restantes Presidentes que compareceram à fotografia que palavras (e já não vou ao ponto de perguntar por ações) tiveram para condenar os muros em Espanha, em Marrocos, na Rússia, entre as Coreias, no Iraque, na Índia, na China, na Brasil entre favelas…, …, …

E muitos, muitos outros !

E mais, e mais importantes.
Os muros invisíveis ao olhar que acabam justificando os anteriores. Quais são ?

O muro da injustiça;
O muro das desigualdades;
O muro da corrupção, dos compadrios;
O muro das vaidades, da arrogância, da desresponsabilização;
O muro do analfabetismo;
O muro da miséria moral e física que anda (?) pelas esquinas, túneis e buracos das grandes cidades;
Os muros… tantos, tantos… tantos são os muros a que nenhum daqueles dirigentes se referiu.

Brindaram a um que está em vias de ir completamente abaixo (dizem que já foi) e não falam naqueles que estão, diariamente, a ser erguidos. Porquê ?

E não há muro que não seja uma prisão !

Esta é, tem que ser, uma preocupação maçónica.

Muitos mais muros da vergonha que poderíamos nomear e que nos rodeiam diariamente, sem que façamos seja o que for para os derrubar. Pelo contrário, até os acrescentamos com “tijolo” da nossa laia.
Sob que direito humano se fazem as coisas assim ?

Meus Amigos, todos estes muros são para derrubar.

Urgentemente. E nós temos responsabilidades nisso.

Não é fácil ? Pois não ! Até é mesmo muito difícil.
Mas se fosse fácil nós não faríamos cá falta nenhuma. Outros tratariam de resolver o problema.
Se cá estamos é porque há dificuldades. E na nossa tarefa de trabalhar a pedra que finalidade mais humana (mais Livre, mais Fraterna, mais Igual) do que esta de abrir horizontes, não fechá-los ?

JPSetúbal

11 novembro 2009

O Símbolo Perdido


O Símbolo Perdido, da autoria de Dan Brown e recentemente publicado, conta uma história que se desenrola em torno da Maçonaria e dos seus símbolos existentes na capital americana.


Desde o megassucesso de O Código Da Vinci que os livros deste autor americano, até aí relativamente desconhecido, são objeto de grande curiosidade por parte do público. Estou em crer que se venderam mais exemplares de livros anteriores ao Código da Vinci (Anjos e Demónios, Fortaleza Digital, A Conspiração) depois da publicação da emblemática novela de aventuras sobre os alegados segredos escondidos na Última Ceia, de Leonardo da Vinci, do que aquando da publicação original dos respetivos volumes...

Hoje por hoje, juntar uma novela de Dan Brown e a temática da Maçonaria é êxito editorial garantido. Os exemplares do livro vendem-se como pãezinhos quentes.

A historieta decorre ao estilo do escritor, em ritmo rápido, de leitura fácil e viciante. Na minha opinião, a trama de O Símbolo Perdido tem uma qualidade superior à de O Código Da Vinci. Este, aliás, pese embora o enorme sucesso que teve, em meu entender não passa de uma cópia da estrutura do anterior Anjos e Demónios. Já O Símbolo Perdido revela uma estrutura narrativa diferente, mas igualmente atrativa, embora não isenta de inconsistências (sem revelar o enredo, para quem ainda não leu, a intervenção da alta funcionária da CIA, que se revela fundamental no desenvolvimento da história, não está logicamente justificada: não se entende como teve ela acesso ao vídeo que a alerta para a "emergência de segurança nacional", que estava guardado no computador portátil do vilão e não fora ainda por este enviado para a Internet, pois o mantinha em rigoroso sigilo até ao momento que projetava ser o adequado...). Mas, inconsistências à parte, é uma história que prende o leitor e se lê com algum agrado.

Dan Brown não é maçom - ele próprio o declarou, nas entrevistas de divulgação e lançamento deste seu livro. No entanto, ressalta do seu livro que simpatiza com os princípios maçónicos e que reconhece valor à instituição. Este seu livro é simpático para a Maçonaria, dando dela uma visão completamente diferente das distorcidas e mentecaptas teorias da conspiração que por aí campeiam.

No entanto, enquanto maçom, entendo que, em relação à Arte Real, o mais importante, neste livro, não é a trama aventurosa da história, nem sequer a visão positiva da Maçonaria que o seu autor dá. Dois outros aspetos captaram a minha atenção e considero relevantes.

O primeiro é o profundo conhecimento que o profano Dan Brown revelou da Maçonaria. Com exceção de uma pequeníssima imprecisão (aliás anotada pelo revisor da edição portuguesa), o que Dan Brown descreve, refere, explica, é basicamente... certo! O que confirma uma tese que há muito venho defendendo: pese embora toda a repetida lengalenga de que a Maçonaria é uma sociedade secreta, pesem embora as numerosas variações sobre o sempre repetido tema do segredo maçónico, tudo o que respeita à Maçonaria está publicado e ao alcance de qualquer interessado em saber, em conhecer, os profundos e excelsos segredos dos maçons. É certo que, como também normalmente refiro, tudo o que está certo encontra-se rodeado de impressionante quantidade de lixo, mentiras e irrelevâncias... É certo que a grande dificuldade está em conseguir distinguir o certo e relevante da fantasia, da invenção, da picuinhice sem interesse nenhum... Mas Dan Brown, ao escrever este livro, provou que um profano estudioso, determinado e dotado de bom senso consegue aceder ao que verdadeiramente é a Maçonaria.

O segundo aspeto que captou a minha atenção é que a trepidante história... acaba para aí umas cinquenta páginas antes do fim do livro! As sortes do vilão, da "emergência de segurança nacional", dos protagonistas, ficam todas reveladas cerca de cinquenta páginas antes do fim do livro.

Pois bem: porventura alguns não concordarão, de todo, comigo (e estarão no seu pleníssimo direito, sem qualquer ponta de vestígio de desapontamento da minha parte) mas, na minha opinião, são estas cerca de cinquenta páginas depois de a aventura acabar que valem a pena! A aventura, o suspense, o ritmo cinematográfico, ficaram para trás, a nossa curiosidade ficou satisfeita e... para quem quiser ler com olhos de ler, quem quiser refletir e não apenas olhar... é nessas cerca de cinquenta páginas que está matéria que merece reflexão. Quem o fizer, quem refletir, quem aprofundar dentro do interior de seus pensamentos e meditação, algumas passagens do que naquelas cerca de cinquenta páginas "sem" ação está, chegará porventura a conclusões inesperadas - ou não... Quiçá cada um chegue a conclusões diferentes do parceiro do lado. Mas talvez deva ser assim mesmo!

Gostei, por isso, de ler O Símbolo Perdido. Não por falar de Maçonaria. Mas por se me ter revelado não ser apenas uma história de aventuras, apta a dar uma adaptação jeitosa para o cinema. Ser também um pouco de alimento para o espírito, de elemento para reflexão. E isso, na minha cartilha, é que define um bom livro!

Rui Bandeira

09 novembro 2009

Você sabia que...

Este "Você sabia que..." vem com um atraso considerável (3 dias !).
Para os que já se habituaram à minha lenga-lenga pr'ó fim de semana terão desta vez um novo paradigma (esta está tão na moda que não resisti... "um novo paradigma"... não digam que não é bonito !) que é uma lenga-lenga prá semana.

Como de costume trata-se de um vídeo/texto enviado por um amigo do tempo dos calções para o qual peço a Vossa paciência para a adaptação à realidade portuguesa.
É da autoria de um brasileiro (escrito em brasilês...) e naturalmente com números e exemplos da realidade brasileira, mas em todo o caso muito interessante.
É a chamada de atenção para uma realidade que ninguém põe em destaque, mesmo constituindo a parametrização de toda a nossa vida próxima futura.

Políticos de todos os setores, técnicos de todas as profissões, população em geral interessada ou distraída, todos... mas todos mesmo passam ao lado das questões que aqui são afloradas.
Uns por desinteresse, outros por desconhecimento puro e simples, mas outros (e não são poucos) por comodismo preferem assobiar para o ar e ir andando como se nada se estivesse a passar no mundo. Mas passa !

Digamos que preferiria oferecer-Vos um tema mais simpático para a semana de trabalho, chuva e frio que aí vem, mas "prontes", sei que é "bué da chato", mas às vezes convém ser assim, "bué da chato".

Como dizia o Zeca... "o que faz falta é avisar a malta " !
Estou a avisar !




Hoje vão votos de boa semana, se possível com pouca chuva, pouco frio e muito trabalho produtivo.

JPSetúbal

04 novembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: conclusão


Feita a viagem pelos caminhos da Lenda do Ofício, com paragens nos vários apeadeiros que o fluir do tempo foi proporcionando, é tempo de fazer o balanço do que se aprendeu com a jornada, recolhendo esses ensinamentos para uso no prosseguimento da exploração da vereda de nossa vida.

Já em vários dos específicos comentários aos diversos trechos da Lenda chamei a atenção para uma das suas caraterísticas: o aparecimento frequente de anacronismos históricos, no entanto explicáveis por refletirem concretizações de arquétipos, personificações de factos praticados por anónimos, reflexos de evoluções coletivas.

Os anacronismos detetados constituem, evidentemente, entorses (ou quiçá mesmo valentes caneladas...) em relação à verdade histórica. É por isso que se trata da Lenda do Ofício, não da História do dito... Mas, se essas entorses existem e são visíveis, pudemos verificar que normalmente corresponderam, porém, a artifícios de narrativa condizentes com o plano de fundo da evolução histórica. Cobriu-se, várias vezes, a nudez forte da Verdade Histórica com o manto diáfano da Fantasia, embelezando, compondo, agrinaldando, imaginando o que mais seco, duro, quiçá desinteressante, ou até não perfeitamente conhecido, realmente terá ocorrido.

Enfim, a Lenda não é, seguramente História, mas reflete-a. A modos que um Romance Histórico. Todos, ao lê-lo, sabemos que não constitui a exata Verdade Histórica, mas com ela se aparenta, dela flui e com ela se relaciona. E, afinal, há horas para tudo: horas para ler e estudar a História pura e dura e horas para ler e apreciar Lendas, Narrativas e Romances, que bem sabemos não corresponderem inteiramente à verdade factual, mas que apreciamos pela acrescida graça e pelo estímulo da nossa fantasia e imaginação. Não sabemos exatamente como as coisas se passavam no lugar X, no tempo Y, com a pessoa Z, mas porventura terá sido assim, nas circunstâncias assado, com a atuação frito e os resultados cozido... Não sabemos se é exatamente correto, mas, pelo menos é mais nutritivo para a nossa Imaginação...

Outra caraterística a realçar na Lenda é a progressiva concretização e focalização que dela decorre. Adverti que, para os maçons operativos medievais, era comum utilizar-se Maçonaria como sinónimo de Geometria, pura ou aplicada em Arquitetura, por si ou concretizada em Construção.

Mas se verificarmos bem, não só o termo Maçonaria é, na Lenda, sucessivamente utilizado com esses significados, como evolui na sua utilização ao longo da mesma, das épocas mais distantes para as mais recentes e à medida que a narrativa se aproxima do lugar da sua criação, a Inglaterra.

É assim que, no início da narrativa, dedicado aos tempos antediluvianos, Maçonaria é sinónimo de Geometria, e assim continua até à narrativa de Euclides. Quando se chega à narrativa da edificação do Templo de Salomão, o termo Maçonaria começa a ser utilizado com o significado de Arquitetura e construção. E, com a entrada da narrativa pela Europa, cada vez mais o termo se refere a Construção, pura e dura e já nem sequer tanto a Arquitetura. Quando a narrativa desagua em Inglaterra, é já, claramente, este o uso do termo, detendo-se então a Lenda na descrição da criação da organização das regras da arte de construir, da organização do agrupamento profissional dos construtores "oficiais", regras e deveres que deviam cumprir.

A Lenda evoluiu da Antiguidade mais longínqua para os tempos mais recentes, com um similar movimento de evolução da utilização do termo Maçonaria do geral para o particular do ofício da construção propriamente dito.

Finalmente, ressalta de toda a narrativa o Orgulho que constituía para os construtores em pedra o estarem integrados num grupo profissional organizado, com regras, com princípios, com conhecimentos recebidos e acrescentados e aperfeiçoados desde tempos imemoriais.

A Lenda do Ofício foi a narrativa de exaltação de uma associação de profissionais e da sua atividade. Com a evolução da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, deixando as Lojas de serem locais de trabalho, ou de regulação do trabalho ou das respetivas regras, e passando a ser locais de convívio fraterno e de trabalho, já não de construção de coisas, mas de construção e aperfeiçoamento dos autores das coisas, de Homens, esse legítimo Orgulho dos maçons operativos não é esquecido.

E a Lenda do Ofício continua a ser lembrada pelos Maçons modernos, especulativos, como narrativa respeitante a um ofício que foi, mas sobretudo como símbolo da evolução humana. Na Lenda fala-se de conhecimentos para construir palácios e templos, castelos e cidades, muralhas e torres. E com ela aprendemos que também similar evolução existiu, ao longo dos tempos, na ética dos Homens, que idênticos princípios de cooperação e organização podem inspirar o trabalho de aperfeiçoamento de cada Homem, que também a construção do Templo dentro de cada um de nós se faz, embora sem pedras nem ferramentas para as aparelhar e pousar, com regras, com o cumprimento dos deveres que aprendemos e apreendemos serem imanentes aos homens justos e leais e de bons costumes.

O Ofício será porventura já de outra natureza; mas a Lenda, essa, permanece e continua a ser motivo de Orgulho para todos nós, maçons, como lembrança do que a Humanidade foi e do que cresceu, e do que evoluiu e esperança do que, melhorando cada um de nós a si próprio, a Humanidade melhorará e evoluirá.

A Cadeia de União entre os maçons é constituída pelos elos existentes em todo o globo, mas vem sendo forjada e aperfeiçoada desde tempos imemoriais - desde os tempos em que analfabetos trabalhadores construíam, por suas mãos, incríveis edifícios, que hoje nos espantam como puderam ser construídos sem os meios técnicos hoje conhecidos.

Nós, os maçons, orgulhamo-nos de descender desses construtores de antanho. De todos, desde os mais sabedores aos mais rudes e incultos.

Rui Bandeira

01 novembro 2009

A Água

Apenas os votos de bom fim de semana, sem mais.

Está tudo aí. É só ver !

JPSetúbal

28 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Athelstan


Chegamos finalmente ao epílogo da Lenda do Ofício. Esta última parte da Lenda tem um fundo histórico há muito conhecido. Registos históricos comprovam que, no tempo do rei saxão Athelstan, foram reguladas por lei as frith-gildan (free guilds em inglês moderno), ou corporações livres de artífices de diversas profissões, entre eles os construtores. Mas, sendo uma construção lendária, a base histórica entrelaça-se com alguma imprecisão, embelezamento, modificação, gerada pela transmissão oral ao longo dos tempos.

Mas, antes do mais, relembremos o último trecho da Lenda do Ofício, que alguns estudiosos maçónicos autonomizam sob a designação de Lenda de York:

Pouco tempo depois da morte de Santo Albano, houve diversas guerras no reino de Inglaterra entre diversas nações, pelo que a boa regra da Maçonaria foi destruída até ao tempo dos dias do Rei Athelstone, que foi um valoroso Rei de Inglaterra e trouxe a esta terra descanso e paz; e construiu muitas grandes obras de Abadias e Torres e muitos outros tipos de edifícios; e gostava muito dos Maçons. E ele tinha um filho chamado Edwin, que gostava dos Maçons muito mais do que o seu pai. E era um grande praticante da Geometria; e dedicou-se muito a falar e a confraternizar com Maçons e a aprender a sua ciência; e depois, pelo amor que dedicava aos Maçons e à ciência, ele foi feito Maçon e obteve do rei seu pai uma carta-patente para realizar todos os anos uma assembleia, onde lhes conviesse, no reino de Inglaterra; e para corrigirem os erros uns dos outros e os atropelos que fossem feitos dentro da ciência. E realizou ele próprio uma Assembleia em York, e estes fez maçons e deu-lhes Deveres e ensinou-lhes as regras e ordenou que esta norma seria seguida para todo o sempre, e guardou então a carta-patente para a conservar e deu ordem para que fosse renovada de rei para rei.
E quando a Assembleia estava reunida, anunciou que todos os Maçons, velhos e novos, que tivessem alguma notícia ou conhecimento dos Deveres ou das regras que foram feitos antes nesta terra, ou em qualquer outra, deveriam deles dar conhecimento. E quando assim se fez, foram encontrados alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas; e o seu propósito foi de reunir todos num único. E fez um livro deles e de como a ciência foi fundada. E ele próprio proclamou e determinou que deveria ser lido ou contado sempre que um Maçon fosse feito, para lhe dar a conhecer os seus Deveres. E desde esse dia até agora as regras dos Maçons mantiveram-se dessa forma, tanto quanto os homens as podem executar. E a partir daí diversas Assembleias tiveram lugar e ordenaram certos Deveres, segundo o melhor juízo dos Mestres e Obreiros.

Que, após o século III, época em que viveu Santo Albano, a Inglaterra foi palco de um largo e persistente período de instabilidade, guerras, invasões, sortidas e ataques, nada propício à arquitetura, atividade mais próspera em tempo de paz do que de guerra, é uma verdade histórica conhecida. Daí que, com acerto, a Lenda refira que a boa regra da maçonaria foi destruída até ao tempo do rei Athelstone.

Athelstone é uma das formas do nome do rei saxão Athelstan, o Glorioso, rei de Inglaterra entre 924 e 939. É considerado o primeiro rei inglês de facto. Estendeu os seus domínios a York e Nortúmbria, a Gales e à Cornualha. Teve várias vitórias militares, inclusivamente sobre os vikings. Não obstante, foi considerado também um hábil diplomata, preferindo, sempre que possível, as alianças à guerra, sobretudo forjadas através de casamentos de várias das suas meias-irmãs. Não se casou e não teve filhos, mas criou como seu filho Haakon, mais tarde rei da Noruega.

Foi um patrono da Arquitetura e da construção, que procurou desenvolver. Foi também um legislador. Legalizou e regulou as corporações profissionais, incluindo a dos construtores.

A referência a Athelstan na Lenda é, portanto, manifestamente tributária da verdade histórica.

Não existem registos históricos da Assembleia de York, mas a sua realização, naquele local e naquele tempo, é plausível, atenta a regulação das corporações profissionais a que este rei procedeu e o facto de efetivamente York ter sido incorporada nos seus domínios. A assembleia de York e a sua importância no estabelecimento das regras de regulação do ofício de construtor é uma forte tradição da Maçonaria Operativa, que tem certamente raiz em evento ou conjunto de eventos efetivamente ocorridos. A ocorrência de assembleia ou assembleias em York parece merecer foros de confiança. Já a época em que tal ocorreu pode ter sido a de Athelstan ou num tempo anterior.

O que nos leva à parte reconhecidamente inexata deste trecho da Lenda: o alegado filho de Athelstan, o Príncipe Edwin.

Já acima foi referido que Athelstan não teve filhos. Mackey sustenta que o Edwin referido na Lenda terá sido o rei desse nome da Nortúmbria, que teve um reinado de dezasseis anos e morreu em 632 - portanto, anterior, em cerca de 300 anos, a Athelstan. Foi o primeiro rei cristão da Nortúmbria e também considerado um patrono da arte da construção.

Mackey explica este desacerto histórico com a existência de duas variantes da Lenda, geograficamente implantadas.

Os maçons operativos do sul de Inglaterra criaram a Lenda atribuindo a Athelstan o mérito do estabelecimento da regulação da construção e, portanto, atribuiram-lhe o restabelecimento da maçonaria em Inglaterra.

A Nortúmbria fica no norte de Inglatrra. Os maçons operativos do Norte de Inglaterra teriam criado a sua própria versão da Lenda, atribuindo esse restabelecimento a Edwin da Nortúmbria - até com a "vantagem" de trezentos anos de avanço...

As duas tradições orais terão coexistido até que as voltas e reviravoltas da transmissão oral terá propiciado a fusão das duas versões, mantendo o Edwin do Norte (e atribuindo-lhe o mérito da Assembleia de York, retirado a Athelstan), mas "fazendo" de Edwin filho (historicamente inexistente) de Athelstan...

Enfim, a Realidade embelezada pela Lenda...

Fontes:

Wikipedia:

Athelstan: http://pt.wikipedia.org/wiki/Athelstane_de_Inglaterra
Edwin: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edu%C3%ADno_da_Nort%C3%BAmbria

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

25 outubro 2009

A hora mudou ! E os homens ?

Pois é, esta coisa das mudanças de hora tem uma influência danada na psique do povo, e eu sou povo sofro enormemente com estas alterações.
Por que raio se hão-de lembrar de mudar a hora para mais cedo se, pouco tempo depois a tornam a mudar para mais tarde ?
Não seria mais sensato deixar os "reloginhos" tal qual e em vez disso dar um geitinho à velocidade da terra ? (ou do Sol como preferissem...)
Parece que não é assim e esta gente prefere as soluções mais complicadas.
Hoje já tive que dar à roda de uma boa dúzia de ponteiros e vários outros ficarão para quando reparar que cheguei com uma hora de avanço à reunião.
Nessa altura ficarei admiradíssimo, procurarei uma boa razão para o atraso dos outros todos e constatarei com o ar inteligente que me caracteriza que afinal não acertei o meu relógio na altura certa.
Paciência... há coisas piores !

Bom, mas pela confusão que estas mudanças me provocam vejam bem com que atraso chego ao blog este fim de semana...

Tenho este texto comigo há muito tempo mas nunca me deu nem para o desenvolver nem para o trazer para o "grupo" dos blogueiros.
Não é novidade. Mais assim ou mais assado é um texto conhecido, mas como estamos em "fim de semana" de mudança de "paradigma" horário resolvi fazer ressaltar a capacidade de "não mudança" do Homo Sapiens Sapiens (apetece-me acrescentar Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens...)

COMO NASCE UM PARADIGMA:
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada. Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto.
Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza que a resposta seria:
-'Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui... '

E agora um videozinho para... atrasar o relógio.


Bom fim de semana e não se esqueçam. A hora mudou... há muitos, muitos anos !

JPSetúbal

21 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Santo Albano

Santo Albano

No texto anterior, analisou-se a chegada da Maçonaria=Geometria=Arquitetura=Arte da Construção em pedra à Europa, segundo a Lenda do Ofício.

A partir do texto que hoje se destaca, a Lenda centra-se em Inglaterra, país onde foi criada.

A Inglaterra em todo este tempo manteve-se alheia, quanto a qualquer assunto de Maçonaria, até ao tempo de Santo Albano. E nos dias deste o rei de Inglaterra, que era pagão, edificou as muralhas da cidade que agora se chama Saint Alban. E Santo Albano era um valoroso cavaleiro e nobre da corte do Rei e tinha a direção dos assuntos do reino e também da edificação das muralhas da cidade; e gostava dos Maçons e acarinhava-os muito. E fixou o seu salário bem, de acordo com os padrões do reino; pois deu-lhes dois xelins e seis dinheiros por semana e três dinheiros para as suas refeições. E antes desse tempo, por toda esta terra, um Maçon recebia apenas um dinheiro por dia e a sua refeição, até que Santo Albano emendou isso e deu-lhes uma carta-patente do Rei e do seu Conselho para reunirem em conselho geral e deu-lhe o nome de Assembleia; e, a partir daí, ele próprio ajudou a fazer Maçons e deu-lhes Deveres, tal como ouvirão mais tarde.

À primeira vista, depara-se-nos mais um dos frequentes anacronismos da Lenda, na medida em que, após falar de Carlos Martel, que viveu entre 688 e 741, refere Santo Albano, que viveu no século III. Mas aqui o anacronismo pode ser apenas aparente, por duas razões. A primeira, por esse anacronismo ter existido, sim, mas em relação a Carlos Martel, declarado, na Lenda contemporâneo de um dos que participaram na edificação do Templo de Salomão, Maymus Grecus, portanto "puxado" para uma época muito anterior à da sua real existência; a segunda, porque a Lenda, nesta passagem, não afirma que a Maçonaria foi introduzida em território inglês via França e, portanto, não declara a sequencialidade das duas passagens - pode muito bem interpretar-se que a Lenda relatou a introdução da Arte Real em França como episódio demonstrativo de que a sua aparição em Inglaterra não se tratou de um facto isolado, mas, de alguma forma, apenas como episódio marginal, sendo entendível e admissível a sua colocação entre o fim da Antiguidade e o ponto de interesse fulcral da Lenda, a Maçonaria em Inglaterra. Aliás, como referirei um pouco mais adiante, a passagem da Lenda ora em análise deve levar-nos a considerar um outro tipo de influência para a introdução da Arte de Construir em Inglaterra. Portanto, na dúvida, use-se aqui o princípio basilar do Direito Penal e... "absolva-se" a Lenda da suspeita do "crime" de anacronismo, nesta passagem.

Santo Albano foi o primeiro mártir cristão britânico. Segundo Mackey, nasceu, assim reza a tradição, no século III em Hertfordshire, Inglaterra, perto da cidade de Verulanium. Então, o território inglês fora conquistado pelas legiões de Roma e estava integrado no Império Romano. Albano foi para Roma, onde serviu sete anos como soldado sob o comando do Imperador Diocleciano. Regressou a Verulanium pouco antes de ter sido desencadeada uma perseguição de cristãos. Ter-se-á apresentado às autoridades como cristão e foi preso, torturado e morto. Quatro séculos depois do seu martírio, foi erigido um mosteiro em Holmeshurst, a colina onde foi enterrado e, pouco tempo depois, na vizinhança deste mosteiro nasceu e cresceu a cidade de St. Albans, substituindo a antiga Verulanium romana.

A Lenda embeleza a vida e importância do primeiro mártir e santo britânico, de óbvia importância numa sociedade medieval em que ainda predominava o catolicismo (Henrique VIII só mais tarde viveria e iniciaria o cisma que originou a Igreja de Inglaterra). Declara-o nobre cavaleiro da corte do rei pagão de Inglaterra (seria Carausius, que se revoltou contra o Imperador Maximiliano e usurpou a soberania de Inglaterra) e teria sido sob sua direção que foram edificadas as muralhas de Verulanium, futura St. Albans - pelos vistos, havendo boas razões para tal edificação, em função da revolta de Carausius e da expectável reação imperial...

A introdução da Arte de Construir em Inglaterra é assim relacionada com a construção de equipamento militar de defesa. Os maçons - os construtores - foram, diz a Lenda, protegidos por Santo Albano e viram aumentado o seu salário, aumentada a sua importância social e estabelecida a forma de autorregulação da sua profissão.

Esta passagem da Lenda, a exemplo de outras passagens e de outros personagens e épocas e lugares, personifica em Santo Albano uma realidade histórica verificada: que a Arquitetura foi introduzida em Inglaterra pelos artífices romanos que, como era usual então, seguiam as suas legiões nos territórios por estas conquistados e ocupados. Esses artífices não só construíam nos territórios ocupados campos fortificados e fortificações como, uma vez restabelecida a paz - a Pax Romana - se dedicavam a edificar templos e edifícios privados. Ruínas e inscrições latinas ainda hoje encontradas por toda a Inglaterra testemunham esse labor dos artífices romanos e sustentam a ideia de que a Arquitetura, sinónimo na Lenda de Maçonaria, foi introduzida em Inglaterra no período da colonização romana.

Fontes:

Wikipedia:
Santo Albano: http://en.wikipedia.org/wiki/St_Alban
St. Albans: http://pt.wikipedia.org/wiki/St_Albans

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

17 outubro 2009

Direitos... adquiridos ?

Nas deambulações via Net, cruzadas com mensagens que Amigos me vão fazendo entrar na caixa do correio, vou apanhando de quando em vez com notícias referentes a acontecimentos que "já passaram", a maior parte das vezes com muita pena minha por não ter dado por eles mais cedo.

Se esse conhecimento estivesse comigo a tempo e horas poderia segui-los com maior atenção.

Assim estou pendurado no "acaso" de uma descoberta durante a navegação ou no "acaso" de um alerta chegado por mensagem amiga.

Este foi o caso.

Trago-vos uma peça já posta em blog (outro, com motivações e objetivos diferentes do nosso "A-Partir-Pedra") que fiquei a conhecer agora.

Para fim de semana parece-me interessante.

Dá que pensar e como estamos em período fresquinho pós-eleitoral, com as equipas políticas em reconstrução, pode bem ser que alguém dessas novas equipas dê por este texto e faça alguma coisa com o seu conteúdo.

Como de costume limito-me a ser o copista de serviço (apenas !).


No Sábado 19/09/2009 realizou-se no Porto uma conferência de homenagem à Professora Leonor Vasconcelos Ferreira.
Abrindo a conferência, a Profª Manuela Silva apresentou um texto notável que, pela sua extensão, não vou transcrever na íntegra.

O conceito de pobreza como violação de direitos humanos

O conceito de pobreza mais frequente nos estudos académicos ou nos relatórios institucionais continua a ser o de pobreza monetária, que consiste em considerar como pobres os indivíduos ou agregados familiares cujo rendimento ou despesa é inferior a um certo limiar.
Por outro lado, não basta dispor de certo rendimento monetário para deixar de ser pobre.

O reconhecimento desta realidade tem levado a adoptar um conceito de pobreza assente no grau efectivo de privação, em que a privação do rendimento é apenas um elemento de um indicador compósito que contemple os diferentes défices de satisfação relativamente a um conjunto de necessidades essenciais correspondentes ao estilo de vida corrente.

Deve-se a Peter Townsend, recentemente falecido, a ideia original do conceito de privação expresso nestes termos: são pobres os indivíduos, famílias e grupos de população que não dispõem de recursos suficientes para obterem os tipos de alimentação, participarem nas actividades e terem as condições de vida e conforto que são comuns, ou pelo menos largamente encorajadas e aprovadas, na sociedade a que pertencem. (Townsend, 1979)
Por outro lado, não pode considerar-se indiferente o facto de as pessoas poderem - ou não - satisfazer as suas necessidades pelos seus próprios meios.

Dispor de um subsídio de assistência social ou ter uma remuneração devida pelo seu trabalho ou por reforma, mesmo que de valores equivalentes, não é o mesmo.

A dependência em relação à assistência social configura, só por si, uma situação de pobreza.

Para dar conta de mais esta perplexidade, é particularmente relevante o contributo dado por Amartya Sen que recorre ao conceito de capacitação (entitlement) para definir a pobreza. Segundo este prestigiado economista indiano, prémio Nobel da economia, não são as características dos bens em si mesmos e a respectiva privação que definem a situação de pobreza, mas sim a ausência de capacidades próprias para levar uma vida segundo os padrões correntes na sociedade. (Sen,1983)

Este conceito tem o mérito de, além de acomodar melhor a complexidade do fenómeno da pobreza nas suas várias dimensões, veicular também a ideia de que a pobreza não se combate apenas com medidas compensatórias da escassez de rendimento monetário, ou seja por meio do recurso à subsidiação, mas sim através do reforço da dotação de recursos ao dispor das pessoas e famílias em situação de pobreza, afim de que alcancem capacidades para, por si próprias, assegurarem uma vida digna.

Daí a ênfase posta no combate à pobreza através das políticas educacionais e de qualificação profissional, promoção da saúde, inserção no sistema produtivo e no mercado de trabalho, remuneração por serviços prestados à família e à comunidade, etc...
Todos estes conceitos, que, até agora, têm servido de base aos estudos sobre a pobreza, partilham um mesmo ângulo de visão que é o de considerar a pobreza como um infortúnio de alguns dos membros da sociedade a que esta, por razões de solidariedade, deve prestar auxílio, através de políticas públicas generosas e eficientes e de organizações privadas de solidariedade social.

Está, porém, em curso um novo conceito de pobreza que poderá alterar profundamente este paradigma.
Com efeito, desde o início do Milénio, tem vindo a impor-se a ideia de que a pobreza involuntária constitui uma violação de direitos humanos fundamentais e como tal deve ser colocada na agenda política, nomeadamente da responsabilidade dos governos nacionais e das instâncias internacionais, a par de outras matérias como a segurança ou a paz.

De algum modo, já foi esta a ideia que esteve subjacente ao Pacto dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, assinado em 2001 pela generalidade dos Estados que integram a ONU.

Podemos perguntar-nos:
- Que valor acrescenta este enfoque ao conhecimento da pobreza e, sobretudo, às estratégias para sua erradicação ?

... Em primeiro lugar, este conceito traz para primeiro plano o valor da dignidade de toda a pessoa humana, fundamento dos direitos humanos universalmente reconhecidos, e afirma que a pobreza involuntária ofende esta dignidade e põe em causa o valor da vida humana.

... Em segundo lugar, porque a existência de um amplo consenso universal em torno deste princípio abre caminho a que os governos e as organizações internacionais se comprometam com a definição de estratégias de eliminação da pobreza e encontrem os adequados suportes institucionais para fazer valer estes direitos e sancionar o respectivo incumprimento.

Apesar de reunir um amplo consenso político, não tem sido fácil, porém, implementar esta ideia e encontrar os instrumentos adequados para a transpor para a agenda política e a prática dos governos.
Aproveito para lembrar que, em Portugal, por força de uma petição promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, apresentada à Assembleia da República em Outubro 2007, aquele Órgão de soberania veio a aprovar uma Resolução (n.º 31/2008) na qual se dispõe o seguinte:

- declara-se solenemente que a pobreza conduz à violação dos direitos humanos;
- recomenda-se ao Governo a definição de um limiar de pobreza em função do nível de
rendimento nacional e das condições de vida padrão na nossa sociedade;
- determina-se a avaliação regular das políticas públicas de erradicação da pobreza;
- afirma-se que o limiar de pobreza estabelecido sirva de referência obrigatória à definição e à
avaliação das políticas públicas de erradicação da pobreza.

Como se deduz do teor desta Resolução da Assembleia da República de Julho 2008, há uma intencionalidade por parte deste Órgão de soberania de dar passos neste caminho inovador de introduzir na agenda política da governação do País o conceito de pobreza como violação de direitos humanos.

(Publicada por Jorge Bateira em 23.9.09 No blogue "ladroesdebicicletas" )

Muito bem, aqui fica então para leitura atenta e meditação domingueira.
Um abraço. Bom fim de semana.


JPSetúbal

14 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Carlos Martel

Estátua de Carlos Martel no Palácio de Versailles

Finalmente, a Lenda do Ofício chega à introdução do mesmo na Europa. Relembremos esta parte do texto:

Homens da Fraternidade curiosos viajaram por diversos países, uns para aprenderem mais da arte de construir e aparelhar, outros para ensinar aqueles que tinham poucos conhecimentos. E assim sucedeu que houve um curioso Maçon, chamado Maymus Grecus, que esteve na construção do Templo de Salomão e que veio para França e aí ensinou a ciência da Maçonaria aos homens de França. E houve um, da linhagem real de França, chamado Carlos Martel; e ele era um homem que gostava muito desta ciência e aproximou-se deste Maymus Grecus, acima referido, e aprendeu com ele a ciência e obteve através dele os Deveres e as Regras; e mais tarde, pela graça de Deus, foi escolhido para ser Rei de França. E quando ele estava nessa função, contratou Maçons e ajudou a fazer Maçons de homens que não eram nada; e pô-los a trabalhar e deu-lhes os Deveres e as Regras e bom salário, tal como tinha aprendido de outros Maçons; e confirmou-lhes uma determinação de se reunirem anualmente; e acarinhou-os muito; e assim chegou esta ciência a França.

Esta passagem confirma-nos uma já anteriormente verificada característica da Lenda: o anacronismo. Neste caso, particularmente evidente por indicar a convivência de um trabalhador que teria participado na construção do Templo de Salomão, Maymus Grecus, com Carlos Martel, coisa notável, se tivermos presente que o Templo de Salomão foi construído no século XI antes de Cristo e Carlos Martel viveu entre 688 e 741 depois de Cristo. Só dezassete séculos de diferença...

Mas, como já anteriormente tivemos oportunidade de ver, o anacronismo reincidente na Lenda funciona como elemento de ligação dos personagens da estória. No caso, avultam nesta passagem dois elementos: a crença na introdução na Europa da ciência da Geometria e da arte da construção em pedra aplicando os princípios descobertos por essa ciência através de França e a admiração que, manifestamente, existia por Carlos Martel na Idade Média.

Ao primeiro destes elementos não são, seguramente, alheios os factos de ter sido em território francês que existiu grande atividade de construção de catedrais em tempos medievais e de, manifestamente, ter existido uma categoria de trabalhadores que muito beneficiou e se desenvolveu com essa construção, que ciosamente guardaria para os seus elementos os segredos da arte de construir. Basta notar a importância que tinha, para a construção de uma catedral com dezenas de metros de comprimento, a correta e exata determinação dos ângulos retos entre a sua fachada e as paredes laterais: um ínfimo erro na determinação dese ângulo e resultaria uma catedral com as paredes laterais alargando-se ou estreitando-se, formando um grotesco paralelogramo, tanto mais visível quanto maior fosse a extensão das paredes laterais...

Não se pode asseverar que a introdução da Arte Real na Europa se fez via França. Mas num ponto a Lenda indiscutivelmente acerta com a realidade histórica: a História da Arquitetura mostra-nos que, na Alta idade Média, circulavam pela Europa grupos de construtores, buscando emprego na construção de edifícios religiosos, palácios, torres, praças-fortes, etc..

Personagem aparentemente misterioso é o mencionado Maymus Grecus. Nenhuma referência histórica existe a este nome. Mas não se afigura particularmente difícil estimar a origem deste nome, se estivermos atentos a que, numa passagem posterior da Lenda se refere que o Princípe Edwin publicou ua proclamação no sentido de que que qualquer maçon que tivesse em seu poder quaisquer textos contendo Deveres ou práticas da Arte Real deveria apresentá-los e que, em resposta, reuniram-se textos, "alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas".

Se alguma referência existia a um arquiteto grego num texto em alemão, seria algo como "ein Maurer Namens Grecus)" (um maçon=construtor de nome grego). Se tal texto fosse em francês conteria provavelmente a expressão "un maçon nommé Grecus" (um maçon chamado Grecus). É fácil entender que, na transcrição para inglês e com a corruptela propiciada pelo voar do tempo, qualquer destas referências conduzisse a que se designasse tal putativo arquiteto grego de Namus Grecus (versão do nome em vários antigos manuscritos maçónicos contendo versões da Lenda do Ofício) ou Maymus Grecus (versão do manuscrito Downland, que utilizei para traduzir e neste blogue publicar a dita Lenda).

É, pois, razoável inferir-se que, mais do que um nome, Maymus Grecus constitui a referência a um qualquer arquiteto ou artista grego, que tenha estado em Jerusalém e ou tenha aprendido os princípios da arquitetura bizantina e tenha viajado para França, no tempo de Carlos Martel. Esta inferência é confirmada pelo facto histórico de que, no século VIII (época em que viveu e reinou Carlos Martel), houve um afluxo de arquitetos e artífices gregos à Europa do Sul e Europa Ocidental, em consequência de perseguições infligidas pelos imperadores bizantinos.

O anacronismo denunciado resolve-se assim se considerarmos que a referência na Lenda é feita a um dos arquitetos gregos que, tendo contactado e aprendido os princípios da arquitetura bizantina, que na época eram aplicados em todo o Médio Oriente, chegou e trabalhou em França, aí aplicando e difundindo esses princípios. E assim se congraça a Lenda com a História...

Uma referência final a Carlos Martel. Embora usualmente referido como um importante rei merovíngio de França, não terá propriamente alguma vez usado esse título, antes os de prefeito do palácio e duque dos francos. Prefeito do palácio era o título utilizado pelo funcionário merovíngio que representava o rei franco no palácio. No século VII, na Austrásia, um dos reinos francos, os prefeitos do palácio passaram a deter de facto o poder político, em nome do rei, que se limitava a um papel cerimonial, tendo-se o cargo de prefeito tornado hereditário. O pai de Carlos Martel, Pepino de Herstal, foi prefeito do palácio da Austrásia. Após derrotar um exército da Nêustria (região que hoje corresponde ao Norte de França, onde está situada Paris) e da Borgonha, foi o primeiro prefeito a estender a sua autoridade sobre todo o domínio franco e assumiu o título de Duque (dux, chefe) dos Francos. Carlos Martel herdou os títulos e manteve e reforçou a sua autoridade sobre todos os reinos dos Francos (Austrásia, Nêustria e Borgonha).

Um ano antes da sua morte, dividiu os seus territórios por dois dos seus filhos adultos: a Carlomano (não confundir com Carlos Magno) entregou a Austrásia e a Alamânia (com a Baviera como vassala); a Pepino o Breve a Nêustria e a Borgonha (com a Aquitânia como vassala). Carlos Martel tinha deixado o trono de rei dos Francos vago desde a morte de Teodorico IV em 737. Os dois irmãos seus sucessores decidiram instalar rei dos Francos (teórico senhor de ambos os prefeitos, mas na realidade mero detentor de poder nominal, sem qualquer poder real, totalmente assumido pelos prefeitos) Childerico III, que veio a ser o último rei merovíngio. Em 747, Carlomano, um homem profundamente religioso, retirou-se para um mosteiro, renunciando ao cargo de prefeito da Austrásia, assumido também por Pepino o Breve. Este então entendeu que era tempo de fazer coincidir o título com o poder de facto e depôs o rei. Foi ele próprio coroado rei dos Francos em Soissons e inaugurou a dinastia carolíngia.

Fontes:

Wikipedia:
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o
Carlos Martel: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Martel
Prefeito do palácio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Prefeito_do_pal%C3%A1cio
Duque dos Francos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Duque_dos_francos
Carlomano: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlomano,_filho_de_Carlos_Martel
Pepino o Breve: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pepino_o_Breve

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

10 outubro 2009

Quem tudo quer...

É muito antiga a expressão "Quem tudo quer, tudo perde".
Nasci e cresci ouvindo esta expressão e acontece que o tempo da vida tem-se encarregado de me mostrar que de facto é assim na grande maioria dos casos.
Como sempre alguns escapam... mas na grande maioria (na grande maioria, mesmo !) das situações que conheço o resultado é mesmo o do título que escolhi.

A ponderação das possibilidades, o senso das oportunidades, o saber-se onde e quando parar são princípios básicos de equilíbrio que nem todos conseguem desenvolver.
Depois há o velho Peter, com o seu Princípio a marcar o ponto de viragem para a asneira.

Em mais um período reflexivo/eleitoral (?) escolhi um exemplo... exemplar ! para vos entreter.
E se calhar relacionado com alguns dos personagens principais deste fim de semana.



Bom fim de semana... e até pode ser que Portugal vá ao Mundial da África do Sul...

JPSetúbal

07 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: O Templo de Salomão


Do Egito, a Lenda salta para a Judeia e para a construção do Templo de Salomão. Recorde-se o texto da Lenda do Ofício, nesta parte:

Muito depois deste tempo, quando os filhos de Israel chegaram à Terra Prometida, que agora é chamada entre nós de Jerusalém, o rei David iniciou a construção do Templo que é chamado entre nós de Templo de Jerusalém. E o rei David apreciava os maçons e tratava-os bem e dava-lhes bom salário. E deu-lhes os Deveres pela forma que tinha aprendido no Egito, dada por Euclides, e outros deveres de conduta de que ouvirão falar mais tarde. E depois da morte do rei David, Salomão, que era filho de David, concluiu o Templo que o seu pai começara; e mandou vir maçons de diversos países e várias terras; e juntou-os, de forma a ter 40.000 trabalhadores em pedra e chamou-lhes maçons. E escolheu de entre eles 3.000 que determinou fossem Mestres e responsáveis pelo trabalho. E, para além disso, havia um rei de outra região que os homens chamavam Hiram, que era amigo de Salomão e que lhe deu madeira para a sua construção. E ele tinha um filho chamado Aynam (hoje designado por Hiram Abif) e ele era Mestre de Geometria e foi o Mestre Chefe de todos os maçons e foi o Mestre de todos os aparelhamentos e gravações das pedras e de toda a espécie de Maçonaria que dizia respeito ao Templo; e isto é testemunhado pela Bíblia, no Livro dos Reis, capítulo terceiro. E Salomão confirmou, quer os Deveres, quer as disposições que o seu pai tinha dado aos maçons. E assim foi a valiosa ciência da Maçonaria confirmada na terra de Jerusalém e em muitos outros países.

Em primeiro lugar, importa relembrar o anacronismo, já anteriormente denunciado, de na Lenda se datar a construção do Templo de Salomão de muitos anos depois do tempo de Euclides, quando é a inversa que é historicamente verdadeira.

Mas, excetuado este anacronismo, esta passagem da Lenda reproduz, com razoável exatidão, o texto bíblico constante do primeiro Livro dos Reis. Segundo este texto, o Templo de Salomão foi construído ao longo de sete anos (1 Reis 6:37, 38). Em troca de trigo, cevada, azeite e vinho, Hiram, rei de Tiro, forneceu madeira do Líbano e operários especializados em madeira e em pedra. Ao organizar o trabalho, Salomão convocou 30.000 homens de Israel, enviando-os ao Líbano em equipas de 10.000 em cada mês. Convocou 70.000 dos habitantes do país que não eram israelitas, para trabalharem como carregadores, e 80.000 como cortadores (1 Reis 5:15; 9:20, 21; 2 Crónicas 2:2). Como responsáveis pelo serviço, Salomão nomeou 550 homens e, ao que parece, 3.300 como ajudantes. (1 Reis 5:16; 9:22, 23). O templo tinha uma planta muito similar à tenda ou tabernáculo que anteriormente servia de centro da adoração ao Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos, sendo estes, no Templo, maiores do que as do tabernáculo. O Santo tinha 40 côvados (17,8 m) de comprimento, 20 côvados (8,9 m) de largura e 30 côvados (13,4 m) de altura. (1 Reis 6:2) O Santo dos Santos era um cubo de 20 côvados de lado. (1 Reis 6:20; 2 Crónicas 3:8). Os materiais aplicados foram essencialmente a pedra e a madeira. Os pisos foram revestidos a madeira de junípero ou cipreste ( conforme as traduções da Bíblia) e as paredes interiores eram de cedro entalhado com gravuras de querubins, palmeiras e flores. As paredes e o teto eram inteiramente revestidos de ouro. (1 Reis 6:15, 18, 21, 22, 29).

Para a época, era indubitavelmente um Templo imponente, embora não particularmente grande nas suas dimensões. Aliás, a sua edificação não foi especialmente demorada - apenas sete anos.

Escusado é relembrar que, na época da criação da Lenda, o texto bíblico era aceite e considerado como fonte histórica.

Mais uma vez se assume o conceito de Maçonaria como Geometria, em particular Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura. A referência na Lenda ao Templo de Salomão assume particular importância, em virtude de, pela primeira vez, se aludir expressa e especificamente à construção de um edifício de culto religioso, em ligação com a forma de organização dos construtores. A Maçonaria Operativa da Idade Média desenvolveu-se, não totalmente, mas significativamente, mediante a construção de catedrais, por essa Europa fora, pelos pedreiros livres, isto é, os profissionais da construção em pedra (canteiros, mas também escultores, cinzeladores, mestres projetistas, etc..) livres de amarras feudais, com autorização para trabalharem onde muito bem entendessem.

Neste sentido, compreende-se que os maçons operativos tenham dado lugar de destaque ao episódio da construção do Templo de Salomão, na sua Lenda do Ofício. Afinal de contas, aí remonta o primeiro registo, comummente conhecido na sua época, de construção de um edifício de culto...

Embora este episódio tenha um lugar de destaque na Lenda, sendo o último episódio dedicado à Antiguidade, dele se prosseguindo para a introdução da Maçonaria=Geometria=Arquitetura na Europa, desconhece-se ainda hoje, mesmo entre os investigadores maçónicos, a relevância que este episódio da construção do Templo de Salomão efetivamente teve, em termos simbólicos, para a Maçonaria Operativa - se é que alguma de especial teve. Sabe-se apenas que no mais antigo manuscrito maçónico conhecido, o Manuscrito Halliwell, nenhuma referência lhe é feita. Só cerca de um século depois, no Manuscrito Cooke, deparamos com a primeira, e desenvolvida, referência ao Templo de Salomão e à sua inclusão na Lenda do Ofício - situação que se repete nos manuscritos posteriores.

Na Maçonaria Especulativa, desenvolvida e sistematizada a partir dos finais do século XVII, início do século XVIII, o episódio da edificação do Templo de Salomão e a interação de vários personagens nela envolvidos tem um papel simbólico central. Mas esta importância não decorreu necessariamente de desenvolvimento de igual tendência já prosseguida pela Maçonaria Operativa.

Fontes:

Wikipedia:
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

03 outubro 2009

Homenagem aos nossos Irmãos brasileiros

O Brasil (através da cidade do Rio de Janeiro) ganhou a realização dos Jogos Olímpicos 2016.

Por mim fiquei feliz com a decisão principalmente porque teremos uns Jogos Olímpicos falados em português e porque sendo o reconhecimento da capacidade organizativa daqueles nossos Irmãos é, por outro lado, uma ajuda ao desenvolvimento brasileiro.

Além de ser um excelente pretexto para um Carnaval extra, coisa que brasileiro que se preze não perdôa.

Pois é com o sentido de uma homenagem aos nossos Irmãos da outra banda do Atlântico que hoje dedico este espaço.

Vejam só "que coisa mais linda... lá por Ipanema"... e depois uma grande recordação dos "bons velhos tempos" !






Grande abraço a todos, bom fim de semana prolongado e... não deixem roubar a bandeira da Praça do Município... t'á bem ?

JPSetúbal

30 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Euclides

Euclides

Chegados ao Egito, a Lenda do Ofício apresenta uma história tão desenvolvida e pormenorizada que bem merece uma autonomização como a Lenda de Euclides. Relembremo-la, tendo em consideração que imediatamente antes da passagem ora transcrita, se introduziu Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais:

E no seu tempo, sucedeu que o senhor e os nobres do reino tinham tido muitos filhos, alguns das suas mulheres, outros de outras senhoras do reino; porque aquela terra é uma terra quente e propícia a gerar. E eles não tinham encontrado modos de vida satisfatórios para os seus filhos, de que muito gostavam, e então o rei do país convocou um grande Conselho e Parlamento para decidir como poderiam encontrar um modo de vida honesto para os nobres seus filhos, e não conseguiram encontrar boa maneira. E então anunciaram por todo o reino que se houvesse algum homem que os informasse, então deveria comparecer perante eles e seria recompensado pelo seu trabalho, de forma a deixá-lo satisfeito.
Depois que este pregão foi feito, veio então o valoroso Euclides e disse para o rei e todos os seus nobres: "Se me entregarem os vossos filhos para que eu os governe e lhes ensine uma das sete ciências, de forma que eles possam viver honestamente como nobres, deverão dar-me a mim e a eles uma carta-patente, de que eu tenho o poder de lhes determinar o modo como essa ciência deve ser regulada." E o rei e o seu Conselho concederam-lhe isso e selaram a sua carta-patente. Então o valoroso Doutor levou consigo os filhos dos nobres e ensinou-lhes a ciência da aplicação da Geometria ao trabalho de construção em pedra de igrejas, templos, castelos e palácios; e deu-lhes Deveres da seguinte forma.
O primeiro era que deviam ser verdadeiros para o Rei e para o Senhor de quem dependiam. E que deveriam gostar de estar juntos, ser verdadeiros uns com os outros. E que deviam chamar-se uns aos outros Companheiro ou Irmão, não por servo, ou escravo, ou outros nomes tolos. E que deveriam merecer o salário pago pelo Senhor ou pelo Mestre que servissem. E que deveriam designar o mais sábio deles para Mestre do trabalho e não deixar que essa designação fosse afetada por linhagem, riqueza ou favor, pois então o senhor seria mal servido e eles desonrados. E também que deveriam tratar o responsável pelo trabalho por Mestre, durante o tempo em que trabalhassem com ele. E muitos mais deveres de conduta que seria longo contar. E a todos estes Deveres fez jurar um grande juramento que naquele tempo se usava; e determinou que deveriam receber salários razoáveis, com os quais pudessem viver honestamente. E também que deveriam reunir-se anualmente, para discutir como poderiam trabalhar melhor e melhor servir o seu senhor, para ganho dele e deles próprios; e para corrigirem no seu próprio seio aquele que tivesse errado contra a ciência. E assim ali foi implantada a ciência; e o valoroso senhor Euclides deu-lhe o nome de Geometria. E agora é chamada em toda esta terra por Maçonaria.

Euclides viveu entre 360 e 295 antes de Cristo. Terá sido educado em Atenas e frequentado a academia de Platão. Foi convidado por Ptolomeu para integrar o quadro de professores da recém-fundada Academia de Alexandria, a segunda maior cidade egípcia, tornou-se o mais importante autor de matemática da Antiguidade greco-romana e talvez de todos os tempos, com seu monumental Stoichia (Os elementos), uma obra em treze volumes, sendo cinco sobre geometria plana, três sobre números, um sobre a teoria das proporções, um sobre incomensuráveis e os três últimos sobre geometria no espaço. Escrita em grego, a obra cobria toda a aritmética, a álgebra e a geometria conhecidas até então no mundo grego e sistematizava todo o conhecimento geométrico dos antigos. Intercalava os teoremas já conhecidos então com a demonstração de muitos outros, que completavam lacunas e davam coerência e encadeamento lógico ao sistema por ele criado. Após sua primeira edição foi copiado e recopiado inúmeras vezes e, traduzido para o árabe, tornou-se um influente texto científico. Depois da queda do Império Romano, os seus livros foram recuperados para a sociedade europeia pelos estudiosos muçulmanos da Península Ibérica. Escreveu ainda sobre a ótica da visão e sobre astrologia, astronomia, música e mecânica, além de outros livros sobre matemática.

Como se vê desta resenha, a Lenda do Ofício de novo se apropria de um personagem histórico comprovadamente existente, mas coloca-o em tempo e circunstâncias diferentes dos que efetivamente foram os seus. Embora residindo e ensinando no Egito, na academia de Alexandria, Euclides não foi propriamente um mestre da cultura egípcia, antes um produto da cultura helenística.

Também a sua introdução como personagem da Lenda sofre de um duplo anacronismo: por um lado, coloca-o como contemporâneo de Abraão, que o antecedeu em dois milénios; por outro, coloca-o em tempo anterior à edificação do Templo de Salomão, quando viveu em tempo bem posterior, cerca de seiscentos e cinquenta anos depois de tal edificação, e até cerca de dois séculos depois da destruição do dito Templo por Nabucodonosor, em 586 a. C..

Este enxerto da obviamente fantasiosa Lenda de Euclides na Lenda do Ofício ter-se-á devido essencialmente a dois fatores: por um lado, a óbvia importância enquanto Mestre de Geometria de Euclides, bem conhecida na Idade Média, época de criação da Lenda; por outro, o reconhecimento da existência de algumas semelhanças entre o método de ensino existente entre os maçons operativos e o método esotérico de ensino seguido pelos sacerdotes do Antigo Egito.

Assim, mais do que um relato factual historicamente consistente, devemos interpretar esta passagem da Lenda do Ofício como o repositório amalgamado de crenças realmente tidas pelos maçons operativos da Idade Média:

- Que a Geometria é a base da Maçonaria;

- Que Euclides foi o maior dos Mestres de Geometria;

- Que os sacerdotes do Antigo Egito utilizavam um método esotérico de transmissão de conhecimentos similar ao método utilizado pelos maçons operativos.

Neste aspeto, a Lenda simboliza o bem conhecido facto de que, no Antigo Egito, existia uma íntima conexão entre a ciência da Geometria e o sistema religioso daquela sociedade, que esse sistema religioso incluía também a transmissão de instrução científica, de forma secreta e apenas após uma iniciação.

Esta analogia entre o sistema religiosa do Antigo Egito e a maçonaria operativa da Idade Média, mais do que esta enviesada referência na Lenda do Ofício, acabou por, já na fase da Maçonaria especulativa, dar origem a ritos de inspiração egípcia e teorias - a meu ver, fantásticas e inconsequentes - que colocam a origem da Maçonaria nos Antigos Mistérios Egípcios.

Como se vê, os rudes e menos incultos do que se poderia pensar trabalhadores da construção em pedra medievais não eram tão diferentes assim dos seus cultos e conhecedores de história e filosofia sucessores dos séculos XVIII, XIX e XX...

Fontes:

Wikipedia:
Euclides: http://pt.wikipedia.org/wiki/Euclides
Alexandria: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

26 setembro 2009

Uma prenda em período de reflexão

Em fim de semana de reflexão resolvi pôr o correio em dia, passando por todas as mensagens, e são muitas, que o dia a dia me vai obrigando a deixar... para o momento seguinte.
E nesta tarefa salta-me uma historinha preciosa, qual coelho da cartola.

Oferta do meu querido PR (não é "Presidente da República" !) a quem agradeço e que me serve aqui para vos servir um bombom em fim de semana especial.


O carro de um vendedor que viajava pelo interior avariou e conversando com um fazendeiro local eles descobrem que são Irmãos.'.
O vendedor está preocupado porque tem um compromisso importante numa cidade próxima.

- "Não se preocupe, diz o fazendeiro, você pode usar o meu carro. Vou chamar um mecânico amigo e pedir-lhe que conserte o carro enquanto vai ao seu compromisso."

E lá foi o vendedor. Umas duas horas mais tarde ele voltou, mas infelizmente o carro precisava de uma peça que só chegará no dia seguinte.

- "Sem problemas, diz o fazendeiro, use o meu telefone e reprograme o seu primeiro compromisso de amanhã, fique hoje connosco e providenciaremos para que o carro esteja pronto logo cedo!"

A esposa do fazendeiro preparou um jantar maravilhoso e puderam tomar um malte puro no meio de uma conversa agradável.
O vendedor dormiu profundamente e quando acordou lá estava o seu carro, consertado e pronto para seguir.
Após um excelente café da manhã o vendedor agradeceu a ambos a hospitalidade.

Quando seguiam para o carro, o vendedor voltou-se e perguntou:

- "Meu irmão, muito obrigado, mas preciso perguntar-lhe, você ajudou-me porque sou Maçom?"

- "Não, foi a resposta, Eu ajudei-o porque EU sou maçom."


Aqui fica. Talvez esclareça algumas das mentes "cheias de nevoeiro" que andam por aqui.

JPSetúbal/PR

Quem tudo quer...

Queridos Acompanhantes deste espaço num "fim de semana de introspeção política", mesmo falhando a 6ªfeira não deixo passar o voto de um bom fim de semana para todos com um "boneco " que pode servir, também ele, para nos passar a mensagem do "Tio Patinhas", ou simplificando para português corrente "quem tudo quer... tudo perde".

Cada vez mais é preciso poupar, mas como sempre tudo o que é exagerado é... exagero, pois claro !

Divirtam-se e arranjem um cofre grande, sem buracos...



E amanhã votem ! É o vosso dever.

JPSetúbal

23 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Abraão

O Sacrifício de Abraão
Capela Palatina do Palazzo dei Normanni, em Palermo

Depois de ter referido o estabelecimento da Maçonaria na Caldeia, a Lenda do Ofício efetua uma rápida transição para a sua introdução no Egito. Fá-lo através da invocação de um personagem que a Bíblia efetivamente regista ter estado no Egito, Abraão, mas, como se verá, com a exteriorização de mais um evidente anacronismo. Recorde-se o texto desta passagem da Lenda do Ofício:

Mais tarde, quando Abraão e Sara, sua mulher, foram para o Egito, ali ele ensinou as sete ciências aos egípcios; e teve um valioso discípulo, chamado Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais.

A Bíblia refere Abraão, designadamente no Génesis, como pertencendo à nona geração de Sem, filho de Noé, e ser originário de Ur, cidade do Sul da Mesopotâmia. Relativamente à sua estada no Egito, a Bíblia refere que, tendo ocrrido uma seca e fome em Canaã, onde Abraão se havia estabelecido, este levantou o seu acampamento e rumou ao Egito. Aí, temendo ser morto, em virtude da grande beleza de sua esposa, Sara, combinou com esta que ela se dissesse sua irmã, e não sua cônjuge. O Faraó apaixonou-se pela beleza de Sara e levou-a para o seu palácio. Porém, Deus castigou o Faraó e este, bem mais prudente do que viria a ser o seu sucessor, no tempo de Moisés, mandou chamar Abraão e devolveu-lhe Sara, ordenando que ambos deixassem o país, com todos os seus bens.

Abraão não é referenciado na Bíblia pela sua sabedoria, antes pela sua piedade, crença, obediência a Deus. Exenplo maior disso é o episódio do Sacrifício de Abraão (melhor seria dizer sacrifício de Isaac...), ilustrado pela pintura que acompanha este texto.

Os autores da Lenda foram beber essa reputação de sapiência em Josephus e nas suas Antiguidades. Ali, Josephus escreveu que Abraão foi considerado pelos egípcios um homem muito sábio e que, para além de ter reformado os seus costumes, lhes ensinou aritmética e astronomia.

Esta passagem da Lenda é interessante precisamente por ilustrar diretamente duas das fontes de que os autores medievais da mesma se socorreram, em relação à Antiguidade: A Bíblia e as Antiguidades de Josephus. Outras fontes dos autores da Lenda, em relação à Antiguidade, terão sido também as Etimologias, de Santo Isidoro e o Polychonichon, de Ranulph Higden. Aliás, provavelmente, quer as Antiguidades , quer as Etimologias, terão sido conhecidas em segunda mão, através precisamente das transcrições delas feitas no Polychonichon.

A passagem hoje analisada contem um evidente anacronismo, a alegada contemporaneidade de Abraão e Euclides. Este, na realidade, viveu dois mil anos depois de Abraão!

O anacronismo só se resolve se considerarmos que a relação de Mestre-discípulo invocada pela Lenda não foi uma relação física e contemporânea, mas antes uma relação de influência. Isto é, Euclides, que não foi contemporâneo de Abraão, inspirou-se, recolheu, os ensinamentos deste e desenvolveu, a partir daí, os seus grandes conhecimentos na Ciência da Geometria.

Por este processo, a Lenda transfere, assim, a sua atenção da Caldeia para o Egito e, partindo do personagem bíblico de Abraão, associa-lhe o grande geómetra que foi Euclides e passa seguidamente a narrar a introdução lendária da Geometria, sinónimo de Maçonaria, no Egito.

Mas essa é já matéria para o próximo texto.

Fontes:

Wikipedia:
Abraão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Abra%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

18 setembro 2009

Os velhos são tramados !

Este fim de semana é especialmente dedicado aos queridos leitores velhotes, seja de idade seja da cabeça.

Corre aí à boca cheia que "a tradição já não é o que era".
Pois não ! Confirmo !!!
A tradição brindava os velhos com uma peúguitas de lã e uns chinelos, uma cadeirinha, tabaquito e, algumas vezes uma bagaceirazinha para "a sossega"...
Aos 60 anos era assim... para aqueles para quem era assim, porque para muitos nem peugas, nem pantufas, nem cadeirita, nem nada.


Na verdade não é que na maioria dos casos não continue a ser assim. Continua, mas vão surgindo exceções, cada vez em maior número, cada vez mais... radicais.
Os Velhos perderam o tino e o respeito aos anos que passaram.


Vocês que aos 40 já estão velhos e caducos, todos podres (só não cheiram mal porque o Lux vai disfarçando as coisas...) não se podem mexer porque os "rinzes" não deixam ou porque as "cruzes que têm ali na ilharga" não deixam que se mexam, andam de esguelha, chutam para canto e sei lá mais do que são capazes... ou incapazes !!!

Pois bem, ponham os olhos nestes exemplos e tratem-se... da cabeça, porque o Vosso mal, seus caducos, é a carola.

Agora vou -me sentar um bocadinho. É que o "costrol" dá-me cabo dos nervos !

E "prontes"... bom fim de semana, e "bué" d'alegria !!!!

JPSetúbal

16 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Nimrod

Nimrod

Depois da Torre de Babel, mas continando por terras entre o Tigre e o Eufrates, prossegue a Lenda do Ofício:

E o rei da Babilónia, que se chamava Nimrod, era ele próprio um maçon; e amava bem a ciência, e isto é dito pelos mestres em História. E quando a cidade de Nínive e outras cidades do Oriente foram construídas, Nimrod, o rei da Babilónia, enviou para lá três mil maçons a pedido do rei de Nínive, seu primo. E, quando os enviou, deu-lhes um Dever do modo seguinte: Que deveriam ser verdadeiros uns com os outros e que deviam gostar de estar uns com os outros e que deviam servir lealmente o seu senhor em troca do seu salário (...). E outros deveres de conduta lhes deu. E esta foi a primeira vez que aos Maçons foram impostos Deveres da sua ciência.

Nimrod é referido na Bíblia (Génesis, 10:8 e 1 Crónicas, 1:10) como o primeiro poderoso na Terra. É identificado como filho de Cush, neto de Cam, bisneto de Noé. O seu reino incluia as cidades de Babel, Arac, Acad e Calene, na Babilónia. Dominou também a Assíria e aí construu Nínive, Reobote-Ir, Calá e Resem.

O historiador da Antiguidade Josephus não o descreve de forma agradável. Declara-o um tirano e imputa-lhe a decisão da construção da Torre de Babel, como um desafio a Javeh, pois seria tão alta que nenhum novo Dilúvio a poderia inundar. O plano correu-lhe mal...

Seja como seja, o desafiador e rebelde Nimrod (escritos rabínicos defendem que o nome Nimrod deriva do verbo hebraico ma-rádh, que significa "rebelar"; Nimrod seria então aquele que se rebelou contra o Deus de Noé... e sobreviveu, mesmo derrotado no seu projeto) criou o primeiro império referenciado na Bíblia, unificando sob o seu domínio as terras da Babilónia e da Assíria.

A Lenda não lhe assaca, porém, faceta de conquistador. Pelo contrário, declara-o cooperante com o seu primo, rei de Nínive, na Assíria, enviando-lhe três mil trabalhadores (maçons) para o auxiiarem na construção desta e de outras cidades. Afasta-se a Lenda da fonte bíblica de que é tão manifestamente tributária? Nem por isso. A Bíblia não apoda Nimrod de conquistador, apenas refere que ele estendeu o seu domínio à Assíria e aí construiu Nínive e as outras cidades. Se aquele territóri foi conquistado ou povoado, é matéria omissa. Se o rei de Nínive era seu vassalo ou aliado, também nada nos esclarece.

Curiosamente, a Lenda acaba por ser mais esclarecedora - mantendo-se na esteira do que se registou na Bíblia.

A denominação de Assíria deriva de Assur. E quem foi Assur? Foi filho de Sem. E Sem foi filho de Noé, irmão de Cam. Assur e Nimrod foram então primos (Assur foi primo direito de Cush, pai de Nimrod e, logo, segundo primo deste).

Eis como o relato da Lenda confere com o ensinamento bíblico!

Que Nimrod terá sido um grande construtor (de várias cidades), confirma-o a Bíblia e o historiador da Antiguidade. Claro que não foi pessoalmente um trabalhador da construção. Foi quem ordenou, financiou, organizou, a construção das cidades. A referência da Lenda de que foi ele próprio um maçon não quer dizer que tivesse sido um construtor ou arquiteto, antes que foi o patrono, o patrão das construções. Teremos oportunidade de ver que mais vezes a Lenda atribui ao patrono de construções a designação de maçon. No fundo, maçon aceite, como, séculos mais tarde, veio a realmente suceder, originando a transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa...

Mas a Lenda vai bem mais longe. Nimrod não foi apenas quem decidiu construir, não foi apenas um maçon aceite. Foi efetivamente o primeiro Grão-Mestre! É que a Lenda expressamente refere que foi por ele que aos maçons foram pela primeira vez impostos Deveres da sua ciência. Ora, quem tem o Poder de impor deveres aos maçons é unicamente o Grão-Mestre...

A Lenda prossegue na sua senda de encarar - como era usual na época medieval da sua criação - a Bíblia como fonte histórica. E também realça algo que só a Ciência Histórica moderna veio a apurar: que a Ciência, enquanto tal, nasceu na Caldeia - a região que venho designando por Babilónia.

Continua a confirmar-se que a Lenda é lenda - mas tem mais pontos de contacto com a História do que se pensaria...

Fontes:

Wikipédia:
The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

15 setembro 2009

Lançamento do livro "The Lost Symbol"


Hoje, 15 de Setembro de 2009, é a data do lançamento do novo livro de Dan Brown intitulado "The Lost Symbol".

Não sendo um livro maçónico, é um livro que envolve a Maçonaria, ou mais expecificamente o Rito Escocês Antigo e Aceite, na sua história ficcionada. Se houver perante este livro, uma reacção semelhante à que houve perante o Código de Da Vinci, então teremos mais uma situação em que a realidade e a ficção se confundirão.

Será de esperar também um aumentar do interesse pela Ordem Maçónica, tal como ocorreu em situações anteriores:

  • Após o lançamento do Código de Da Vinci, uma Loja Americana (Wasatch Lodge) promoveu um Dia Aberto, sem que tenha feito qualquer esforço para o divulgar - apareceram 600 pessoas.
  • A Capela de Rosslyn, na Escócia, costumava ter cerca de 30.000 visitantes por ano. Nos meses que se seguiram à publicação do Código de Da Vinci, chegou a ter 3.000 visitantes por dia.
Face a esta situação, a Maçonaria Americana começou já a preparar-se para lidar com toda a curiosidade que se irá gerar, tendo até sido disponibilizado um Website (http://www.freemasonlostsymbol.com) para o efeito.