09 janeiro 2017

Comunicação do Grão-Mestre da GLLP/GLRP por ocasião do solstício de inverno


Enlaço todos os irmãos num enorme abraço em cadeia fraterna. Dizer-vos mais uma e outra vez obrigado: pela vossa comparência e por todos os momentos de fraternidade feliz que me ofereceis. Desassistido da mão amiga e fraterna dos demais irmãos obreiros sou infeliz e não consigo efectuar, sozinho, grandes desígnios e empreendimentos. 

Tal como ouvi na minha iniciação «No entanto, reflicta que nem os adultos isolados e plenamente desenvolvidos podem efectuar sozinhos qualquer grande empreendimento. Pôde fazer sem dificuldade a sua viagem com o passo firme de um homem maduro mas foi-lhe certamente bem útil a companhia de um homem experiente que se comportou como um Irmão»

Cumprido que está um primeiro mandato como Grão-Mestre, dizer-vos que unidos já fizemos muito: somos mais reconhecidos, somos mais respeitados, crescemos, fortalecemo-nos, temos melhores infra-estruturas, comunicamos melhor. Neste segundo mandato que agora iniciei, quero adensar a nossa caminhada interior, estar mais perto dos irmãos, quero fortalecer todos os Ritos com maior rigor ritual e administrativo. 

Nesse sentido os Grandes Inspectores estão a preparar programas de maior proximidade com as Lojas para que possam aconselhar mais e melhor e assim podermos ter Rito a Rito uma maior proficiência ritual, de acordo com as melhores práticas, e ainda práticas administrativas uniformes e comuns a todas as Lojas, quero continuar o desenvolvimento sólido e sustentável da nossa Grande Loja, quero estar plenamente confiante na nossa caminhada para um futuro melhor. 

Quero privilegiar a comunicação com os Irmãos e nesse sentido está a ser desenvolvido um trabalho complexo para transformar por completo o nosso sítio internet, criando-lhe mais valências e com aspecto mais atractivo. 

Em breve novas formas de comunicação com todos os Irmãos serão postas em prática. 

O prestígio da nossa Grande Loja, em termos internacionais, está em crescimento e somos cada vez mais reconhecidos pelas nossas ideias e pela forma que temos de ver o Mundo. 

Neste ano que se inicia, anuncio-vos que a nossa Grande Loja vai organizar a reunião da VI Zona da CMI, e também a Reunião dos Grandes Secretários Europeus. São eventos que nos vão colocar à prova, mas que trarão até nós mais de 50 potências maçónicas.

E por tudo isto vos agradeço mais uma vez. 

Mais uma vez me reporto à minha iniciação e a uma frase que nela ouvi. 

«Mas este trabalho é penoso e exige muitos sacrifícios, os quais terá que praticar se quiser ficar junto de nós. É necessário que tome, desde já, a firme resolução de se entregar a este trabalho, se persistir no desejo que manifestou de ser recebido Maçon»

O trabalho a fazer é muito, exige muito de todos nós e peço-vos que se entreguem ao trabalho nas vossas Lojas e que vos faça persistir no desejo de sermos Homens Melhores. 

E estamos à porta de mais um solstício, meus irmãos, as estações sucedem-se, o natal deve acontecer e o tempo das colheitas deve cumprir-se: Na mie tierra, i an todo Pertual, ye tiempo d'azeituonas i d’azeite i todo isso ten que ber cun maçonarie!

Tal a maçonaria, a oliveira é árvore milenar produtora de fluido sagrado. Prenhe do seu azeite, a oliveira é sina do perdão divino, é rasto de paz. A Terra Prometida era país de oliveiras onde o azeite iluminava os templos. Quando, dentro da Arca, Noé já não aguentava a consumição dos animais que afiançariam a continuidade das especes, o sinal da vida anunciou-se através de um raminho de oliveira, que a pomba, já sem fel, trouxe pendurado no bico.

Num hino à vida, os deuses e heróis que cantam a Odisseia, cobriam o corpo de azeite perfumado. No Jardim das Oliveiras, só essas árvores milenares velaram a agonia de Cristo. Nos templos, sabe-se lá desde quando, da lamparina de azeite nascia a chama que assinalava o sítio más sagrado. Com o cristianismo o azeite torna-se a base dos óleos que materializam os sacramentos.

Depois de mil tormentos, antes em candeia, mezinha ou molho dourado, e agora feito dieta mediterrânica, o sol que aqueceu a seiva que circula no xisto fundo do chão português, como que por magia, transforma-se todos os anos em colheitas de azeite, fluido sagrado que roubou a cor ao ouro, mas é um ouro que escorre e se deixa gostar, que é fonte de vida e não mero adorno rígido e intemporal.

Com aquele sossego consciente que deixe cair a última gota, com a paciência que nos ensinaram os sinais do tempo e como tudo o que participa do halo dos deuses, incumbe-nos mais que nunca a obrigação de ser como a oliveira, ser como o azeite, aquele que vem sempre ao de cimo: seremos verdadeiros sacerdotes embaixadores da alma boa dos homens, dos verdadeiros valores maçónicos, da paz, da justiça, da liberdade.

Tal como o camponês precisa passar a vida a podar as suas oliveiras: arejando-as, afeiçoando-as, retirando-lhe os ramos maus, rejuvenescendo-as eternamente, também os maçons precisam passar a vida a podar os comportamentos dos homens, para que prevaleçam e proliferem apenas os bons, para que se encaminhem apenas para a harmonia, para a paz, para a justiça, para a liberdade, para que possa ser tempo de Natal todos os dias, todos os anos, por todos os séculos dos séculos.

Boas festas, um feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde para todos os irmãos e família.

E era esta a mensagem simples que neste solstício vos queria declarar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal da Maçonaria, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquitecto do Universo.

Julio Meirinhos
Grão-Mestre

Nota: O Muito Respeitável Grão-Mestre da GLLP/GLRP, Irmão Júlio Meirinhos, escreve segundo as normas de ortografia pré-Acordo Ortográfico de 1990. 

Também escreve e fala fluentemente naquela que é a outra língua oficial da República Portuguesa, o mirandês, que orgulhosamente  por vezes também inclui nos seus escritos. Foi, aliás, proponente da Lei que consagrou o mirandês como língua oficial da República Portuguesa.

A publicação desta comunicação neste blogue é efetuada com sua autorização.

Rui Bandeira

02 janeiro 2017

Pedra Bruta...


Esta minha primeira publicação de 2017/6017 é uma republicação de um texto de minha autoria e que foi publicado previamente, à cerca de 6 anos noutro local e que agora considero que deve ser acedido também pelos habituais leitores deste espaço.

O texto tem como tema central a "Pedra Bruta", cuja simbólica é muito importante para os Maçons, mas principalmente para o Aprendiz Maçom. 
Num primeiro plano,  porque este é o Grau de acesso na Maçonaria e depois porque, e também, ser esta "pedra" a primeira "coisa" com que Aprendiz terá contato na sua vida maçónica...

Espero que com esta pequena introdução ao tema, tenha despertado ou aguçado a curiosidade para o texto em si... 
Aqui fica:

" Pedra Bruta"

A Pedra Bruta à primeira vista, é apenas um pedaço de pedra tosca e imperfeita, um bocado de rocha com arestas vincadas e ásperas, sem forma definida. Tal se assemelha ao Aprendiz Maçom quando entra em Loja pela primeira vez. 
-Ele próprio é essa pedra grosseira-. 
Ela representa o seu estado e o longo caminho que ele tem ainda a percorrer…

O trabalho do Aprendiz consiste no desbastar dessa pedra bruta; no seu aprimoramento pessoal e moral.

O Aprendiz com o auxílio do malho e do cinzel, com sua vontade própria e o desejo de melhorar, deve desbastar essa pedra bruta (ele) e dar-lhe forma, torna-la perfeita, com as suas faces bem polidas e transformar essa pedra, numa pedra cúbica.
E essa transformação, passa por numa fase primária, burilar as pontas, as arestas que a pedra tem. Tentar ele próprio, vencer os seus medos e receios, “acalmar” as suas ansiedades, adquirir a concentração e disciplina necessárias à tarefa a que se propõe. 

Só dominando os seus pensamentos poderá ele então dominar as suas atitudes. Pensando com a clareza e discernimento necessário para que nada diga ou nada faça que não tenha a certeza de o fazer.  E só depois desse “pequeno/grande trabalho”, no qual, também expôs o interior da pedra à vista de todos, o seu Interior (Alma), é que poderá então tornar a pedra mais harmoniosa, alisando e polindo a sua face, através da sua persistência em se tornar melhor pessoa, sendo mais solidário, mais tolerante e mais fraterno com o seu próximo.

Só assim, a pedra começará a ganhar a forma desejada, e se poderá concluir então, se o trabalho efetuado, se encontra no caminho certo.

E só pesando os prós e os contras, o antes e o depois, se conseguirá analisar o que se tem conquistado com este labutar. Que será sempre mais do que o que se perdeu ou gastou em tempo e energia para se poder dedicar a essa árdua tarefa.

Certamente durante esse processo aumentou o seu conhecimento sobre várias matérias, mas acima de tudo, melhorou o seu auto-conhecimento (o mais importante deste processo). Como proporcionalmente, se perderam vícios e comodismos que nada trazem de melhor à sua vida, e que só o “atrasam” na percepção do mundo em que vive.

E é nesse mundo profano, em que o Aprendiz vive, que deve ele usar os seus conhecimentos e a experiência adquirida no polir a sua pedra, que ele deverá exercer a sua influência. Sendo um exemplo de boa conduta para os demais, sempre cumpridor dos deveres e regras tal como qualquer outro cidadão seja obrigado a cumprir e a respeitar. Nunca estando acima da Lei, mas ao seu nível.

E apesar do trabalho de se desbastar a pedra bruta, ser um trabalho e caminho (evolução) pessoal, ele não se faz solitariamente. Existe sempre alguém pronto para o ajudar nesse percurso, nunca o facilitando, mas servindo apenas de apoio e guia. E esse acompanhamento, esse “guia”, ele pode encontrar na sua Respeitável Loja, refletido nos seus Irmãos.
E na sua Respeitável Loja, através da partilha mútua de conhecimentos e experiências em Loja com os seus Irmãos, fazendo uso do seu tempo disponível (às vezes sacrificando inclusive a sua família), se envolvendo mais nas atividades da Loja, estudando o catecismo, tomando atenção ao que lhe dizem e cumprindo de forma laboriosa o ritual, que o aprendizado do Aprendiz se faz (o próprio desbastar a pedra bruta, é um processo de aprendizagem e ensino). E ele aprende porque usufrui da informação e experiências que os seus Irmãos lhe podem oferecer, mas também deve ele ensinar os seu Irmãos, partilhando o que sabe e auxiliá-los no que eles mais precisem.
Porque um dos seus próprios deveres, é também auxiliar os seus Irmão no desbastar das suas pedras… Pois também ele os “transforma”, com a sua forma de estar, exemplo de conduta e conhecimento.

Somente partilhando o que se tem, é que se pode obter mais, nunca num sentido material, mas antes, num sentido espiritual. 
Só doando parte dele próprio, poderá conquistar mais Conhecimento, ser Respeitado e ter a Amizade dos seus Irmãos.

Às vezes pensa-se que partir pedra e polir a mesma, é um trabalho fácil.
Mas desengane-se quem assim pensa. Se fosse assim tão fácil, eu não seria Maçom!