20 novembro 2017

O TEMPLO MAÇÓNICO E A REGULARIDADE

A\G\D\G\A\D\U\

i) Preliminar
ii) Conceito de Templo
iii) Conceito de Templo Maçónico
iv) Desenho do Templo Maçónico
v) Organização do trabalho no Templo
vi) Significado esotérico do Templo Maçónico
vii) Epílogo


i) Preliminar
Aspectos gerais do Templo Maçónico, de acordo com a prática do R\E\A\A\ no Gr\ de A\

ii) Conceito de Templo
Templo segundo o Dicionário da Lingua Portuguesa é um edifício destinado ao culto de uma religião; um monumento em honra de uma divindade, ou um qualquer lugar sagrado ou venerável. O dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz-nos ainda que é o lugar onde a maçonaria celebra as suas sessões e que também assim pode ser chamada a Ordem dos Templários.
Templo – segundo a wikipedia, vem do latim templum, "local sagrado" e é uma estrutura arquitectónica dedicada a um serviço religioso ou a um culto. O termo no sentido figurado é o reflexo do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da Presença Real. É o resumo do macrocosmo e também a imagem do microcosmo: 'um corpo humano é um templo'.
As tradições religiosas, entre outros, dão-lhe nomes diversos, como:

Mesquita, no caso do Islão;
Sinagoga, no caso do Judaísmo;
Templo de fogo, no caso do Zoroastrismo;
Pagode, no caso do Budismo;
Mandir, no caso do Hinduísmo;
Pathi, no caso do Ayyavazhi;
Centro Espírita, no caso do Espiritismo.

Pode ainda ser considerado Templo o lugar onde se presta culto a uma Arte ou a uma Ciência.
iii) Conceito de Templo Maçónico
Do ponto de vista esotérico e partindo dos conceitos anteriormente referidos, poderemos concluir que: Templo Maçónico é o lugar no qual os maçons prestam culto ao G\A\D\U\ e sob os seus auspícios realizam o seu Trabalho Espiritual.
Estas definições que conceptualmente se apresentam simples, de facto complicam-se pelas mais variadas razões, sejam elas de índole política, religiosa ou outra.
É por isso que algumas estruturas, ditas maçónicas, ou para/pseudo maçónicas, substituem o termo Templo por Loja ou Oficina, sendo que essas designações existem, mas são outra coisa, tendo o significado conceptual destas palavras sido indevidamente equiparado a Templo, encontrando-se na para/pseudo-maçonaria definições como: “a Loja/Oficina é local no qual os francomaçons celebram as suas assembleias ou reuniões”; e assim suprimem-lhe toda e qualquer conotação espiritual, procurando desse modo ocultar toda a natureza “religiosa” que, mesmo não sendo nem tendo uma religião, tem caracterizado a maçonaria ocidental desde as suas origens, abrindo-se assim as ditas maçonarias a um trabalho dito “maçónico laico” que não é de todo compatível com o esoterismo iniciático que está na essência da Arte Real.
Parece-me pois claro que o trabalho maçónico autêntico exige que o mesmo se cumpra num Templo Maçónico e como tal terá que ocorrer A\G\D\G\A\D\U\ para que o seu ritual assim celebrado permita que os membros que o executam tenham um Despertar Espiritual e alcancem níveis espirituais inimagináveis para os profanos e lamentavelmente, também para alguns iniciados que, por não terem interiorizado correctamente a sua iniciação, se deixaram levar em correntes de todo incompatíveis com a essência da actividade maçónica.
Ter um Despertar Espiritual mais não é do que perceber que há muito mais na vida do que aquilo que nos foi induzido a acreditar; é algo mais interior e mais profundo, com um significado à espera de ser descoberto.
É um conjunto de muitas pequenas coisas e muitas coincidências que não são mais que o início desse despertar, o início da percepção de que somos atemporais, não físicos; eternos.
Quando começamos a não nos preocupar com coisas como a reputação social, a popularidade, e a aprovação, quando descobrimos que a nossa identidade vem de algo mais profundo do que isso; quando iniciamos um relacionamento com o Universo, sendo que o Templo é o Universo, e quando nele nos aceitamos integrar, normalmente deixamos também de ter medo, até o medo da morte vai diminuindo conforme a nossa parte atemporal ao Universo se vai ligando, aí e então vamo-nos aperceber que apenas caminhamos, e que caminhamos pelo caminho certo, rumo ao G\O\E\.
Quando o Despertar se inicia abandonamos muitas das preocupações profanas ficamos mais interessados na busca do Conhecimento, na busca da Sabedoria e por isso aceitamos e abraçamos como experiências enriquecedoras todas as ocorrências da nossa passagem por esta “vida”.
iv) Desenho do Templo Maçónico
A compreensão da forma como os nossos Templos foram desenhados requer ter em conta que a maçonaria especulativa tal como foi pensada no século XVIII, aquando do seu surgimento proveio de uma concepção do mundo e do homem que tinha por base, fundamentalmente, a Arte Construtiva intrinsecamente ligada às restantes disciplinas que compõem o Hermetismo: a Alquimia, a Teurgia, a Magia Natural e a Astrologia; sem nos esquecermos também das várias correntes de pensamento procedentes das Religiões dos Mistérios, do Pitagorismo, do Neoplatonismo e das Gnoses, Judaica e Cristã, bem como da herança da Antiga Sabedoria Egípcia.
É claro que, três séculos volvidos, os avanços científicos fizeram com que nos afastássemos do que era fábula e superstição; mas para lá da evolução ocorrida a maçonaria tem sido rigorosa em conservar os conhecimentos perenes, intrínsecos da própria natureza do ser humano e do cosmos que o contém.
No respeito por essas verdades eternas o bom senso tem prevalecido e os símbolos primitivos do Templo Maçónico continuam a ser imprescindíveis para executar o trabalho espiritual que é a essência maçónica.
Na simbologia maçónica o Templo representa ainda o Templo do Rei Salomão, aquele erigido em honra e por ordem de Yahvé , seu Deus.
Este Templo foi edificado em Jerusalém e segundo referências escritas nos Livros Sagrados contava com três espaços perfeitamente bem delimitados:
- O Pórtico [’ülâm] que delimitava o profano do sagrado;
- O Sancta [o “lugar” Santo = hékâl ou hekhal, que deriva do Sumério: É GAL = Casa Grande] que continha a nave central do Templo;
- O Sancta Santorum [o “lugar” Santo dos Santos] que na sua parte mais recôndita, o Debir (דְּבִיר), abrigava a Arca da Aliança.
O Templo Maçónico obedece igualmente a esse mesmo plano, sendo o que a seguir se indica o seu traçado:
- O Pórtico, que vai desde a parede ocidental, onde se encontra a porta de entrada no recinto, até uma linha imaginária, que se projecta desde a parede Norte até à parede Sul, traçada à altura das Colunas, a B\ e a outra a Sul dela, linha essa que delimita a zona a partir da qual, estando o espaço sacralizado, os profanos não passam; apenas adentram essa linha os iniciados e o neófifo no dia da sua iniciação.
- O Sancta que se estende desde a linha onde termina pórtico até à blaustrada do Or\ e é o espaço onde todos os iniciados se arrumam por Oficinas. É neste espaço que o nosso Templo tem o seu apogeu, bem no centro da L\, o local onde é possível o contacto com a Divindade, o local que é atravessado pelo eixo do mundo, o único caminho que permite o trânsito entre o mundo superior e o mundo inferior.
- O Sancta Sanctorum que vai desde a balaustrada até à parede Oriental. O Sancta Sanctorum da maçonaria é um local que pode ser alcançado por todo e qualquer maçon que tenha progredido em conhecimento e auto-controlo; que tenha acrescido Luz, da que brilha desde o Or\, à sua luz estando assim preparado para a etapa final do grande drama do desenvolvimento do Espírito: a busca da Palavra Perdida.
Um Templo, com as dimensões rigorosas, deverá ter a forma de um paralelipípedo que por sua vez é composto por dois cubos perfeitos, representando o cubo do Oc\ a Matéria e o cubo do Or\ o Espírito.
É mesmo no início do cubo no Oc\ que estão as Colunas, a B\ e a outra a Sul dela, e no fim do cubo no Or\ que se econtra o Trono de Salomão, a Cadeira do V\M\.
Forma-se ainda um terceiro cubo que é composto pelas duas metades dos cubos do Oc\ e do Or\; este terceiro cubo representa o homem que é composto por Matéria e por Espírito. É no centro deste terceiro cubo, que é o ponto onde os dois primeiros confluem, que se coloca o Quadro da L\, simbolizando o ponto de chegada da nossa viagem, o nosso encontro com o G\A\D\U\.
A figura geométrica do cubo corresponde em aritimética ao número quatro. Na simbologia dos números o 4 tem várias conotações e ligações das quais destacamos apenas:
            Os 4 pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste;
            As 4 estações do Ano; Primavera, Verão; Outono e Inverno;
            Os 4 elementos da Natureza: Terra, Ar, Água e Fogo
            As 4 Fases da Lua: Nova, Crescente, Cheia e Minguante.
Este terceiro cubo encerra a mais complexa e mais rica das simbologias; o seu pavimento é de ladrilhos pretos e brancos alternados, um mosaico também chamado de piso axadrezado, que reflete a cosmovisão dualista da maçonaria, recordando a harmonia que deve reinar nas LL\ quaisquer que sejam as condições ou convicções dos seus obreiros.
Essa dualidade albi-negra contém ainda uma alegoria extra L\; aquela que recorda a todos os II\ as características do universo profano, onde têm que percorrer a maior parte das suas vidas sem que perca de vista os atributos que caracterizam um maçon.
Um Templo Maçónico é atravessado pelo Trópico de Câncer (Solstício de Verão), uma linha imaginária que vai da Coluna B\ à Lua; é também atravessada pela linha do Equador Celeste (Equinócios do Outono e da Primavera) que vai do Oc\ a Or\; e é ainda atravessada pelo Trópico de Capricórnio (Solstício de Inverno), a linha imaginária que vai da Coluna a Sul da Coluna B ao Sol.

Ao deslocarmo-nos de uma para a outra Coluna, simbólicamente representamos os movimentos da terra (Rotação e Translacção) estando assim a deslocarmo-nos de um solstício ao outro, de um equinócio ao outro, percorrendo passo a passo as diferentes etapas e provas que provocam a evolução do Espírito na sua aventura transcendente da sua passagem por este mundo, ou se preferirmos, por este estadio da sua vivência múltipla.
 Nos estremos Sudeste, Nororeste e Sudoeste do pavimento de ladrihos estão as três colunetas, a saber: a da Sabedoria (Jónica), a da Força (Dórica) e a da Beleza (Coríntia); são elas que suportam as três Luzes, que para lá de terem literalmente iluminado os trabalhos nos Templos primitivos, tinham e têm também a sua simbologia: a Jónica, associada ao V\ M\ orienta-nos no caminho da vida; a Dórica, associada ao 1.º Vig\ anima-nos e sustenta-nos em todas as dificuldades; e finalmente a Corintia, associada ao 2.º Vig\ adorna todas as nossas acções, o nosso caráter e o nosso espírito.
Na parte superior dum Templo Maçónico está presa uma corda com 81 nós que representa todos os maçons espalhados pela superfície do globo terrestre e a união que entre eles deve reinar. Este símbolo representa ainda a solidariedade maçónica, que jamais deve ser quebrada.
Ao tecto dum Templo Maçónico cabe ainda destacar as características da Abóbada Celeste.

v) Organização do trabalho no Templo
Tanto o traçado do templo quanto a organização dos trabalhos em L\ seguem sempre a orientação dada pelos quatro pontos cardeais:
Oriente: é o lugar onde nasce o Sol, e alegóricamente é o ponto donde surge a Luz; daí o Oriente ser considerado a fonte da Sabedoria, o lugar para onde caminhamos em busca do Conhecimento, e por isso mesmo ali tem assento o V\M\.
Ocidente: é o lugar do pôr-do-Sol; é por aí que se adentra a L\ e simboliza a passagem das Trevas à Luz, sendo por isso que é aí, no sector oposto ao V\M\, que tem assento o 1.º V\.
Norte: é o primeiro sector da L\, aquele a que é mais fácil aceder, é o sector chamado de Coluna do Norte, e é o lugar onde tomam assento os II\ AA\ que ficam nesse lugar porque acabaram de saír das trevas da ignorância e as suas débeis pupilas não poderiam olhar de frente a Luz. A Coluna do Norte vai desde a Coluna B\ à balaustrada do Or\.
Sul: é o meio-dia, é o lugar onde tem assento o 2.º V\, sendo o sector chamado de Coluna do Sul e é neste lugar que têm assento os II\ CC\; ficam nesse lugar porque já conseguem, embora ainda com algumas limitações, suportar a Luz que ali chega com intensidade superior àquela que chega à Coluna do Norte. A Coluna do Sul vai desde a Coluna a Sul da Coluna B à balaustrada do Or\.
Tanto os II\ AA\ quanto os CC\ devem começar por tomar assento nos lugares mais a Oc\ nas respectivas colunas de acordo com a sua antiguidade na Oficina, pois só se devem aproximar do Or\ na medida em que os seus olhos para tal estejam preparados, e para tal tenham adquirido capacitação.
vi) Significado esotérico do Templo Maçónico
Do ponto de vista esotérico, analizado na sua totalidade, o Templo Maçónico simboliza:
1 - O Universo.
O templo enquanto representação da Emanação ou da Criação representa o Universo, daí as suas dimensões  serem de Norte a Sul e do Zénite ao Nadir; sendo assim, por conseguinte no Universo, que o neófito é iniciado e é ali que, já como maçon, trabalha e busca o seu crescimento pessoal A\G\D\G\A\D\U\.
2 - A Humanidade.
O Templo é também uma alegoria da “Humanidade Ideal” à qual os maçons aspiram, humanidade ideal que cada um de nós, com o aperfeiçoamento do seu interior e o seu exemplo, ajuda a edificar uma Humanidade onde a Paz reine sobre a terra, o Amor reine entre os homens, e a Alegria permaneça nos corações.
3 -  O Corpo Humano
O Corpo Humano também simboliza o Templo porque é o receptáculo, o santuário que a Divindade utiliza como um dos meios para se manifestar no universo físico; simboliza, mais específicamente, o Universo Humano onde reside o Ser Superior, a Essência Infinita, o Espírito do G\A\D\U\.
4 - A Interioridade Humana
O Templo Maçónico é também a imagem do Espírito e da Consciência do Homem, sendo nesse contexto que o maçon se esforça por desbastar a pedra bruta que evoca a obra que cada maçon vai construindo dentro de si, desde a purificação (katharsis) na sua iniciação, passando pela Iluminação (theoria), com vista ao aprimoramento dos seus trabalhos até alcançar a Divinização do Ser (Theosis ou Santificação).
Sobre a interioridade já Pitágoras, ou a sua escola pitagórica, refere: a grandeza do homem está no conseguir eleger-se como um ser capaz de identificar a sua interioridade com a ordem inscrita no Cosmos; por sua vez Agostinho de Hipona recomenda: “Noli foras ire, in teipsum redi: in interiore homine veritas” (Não vás fora, entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade).

E, claro, não podemos esquecer o nosso VITRIOL, que para lá de ser a arcaica designação de um sulfato é o anagrama de "Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem", literalmente: Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta, e que simbólicamente quer dizer: Visita o Teu Interior, Purificando-te, Encontrás o Teu Eu Oculto, ou, a essência do Teu Espírito humano.

5 - O Corpo e a Interioridade Humana
Analisando o conjunto carnalidade/interioridade contido no esoterismo do Templo Maçónico, surge-nos “O Homem”, o homem que guarda no seu corpo o Espírito Superior pelo qual passará a ser conduzido, logo que consiga eliminar os vícios que o impedem de seguir as Suas indicações e executar o trabalho que lhe possibilite regenerar a natureza perdida e retornar à natureza original da sua criação.
vii) Epílogo
Como bem sabemos e vemos, o Templo tem muito mais decoração e simbologias como Esquadro, Compasso, Pedras, Sol, Lua, etc., mas quero-me ficar por aqui que já é o bastante para ser trabalhado.
Foi por, na sessão realizada no 13.º dia do sexto mês de 6 016, em que por boa sorte estive presente, me ter parecido que haveria uma “corrente” tendente à indiscriminação, uma “corrente” de que “era tudo a mesma coisa”, que me ocorreu traçar esta prancha, e traço-a porque não; … porque não é tudo a mesma coisa, … ou andaríamos todos nessa falsa socialização dos ecrans, que mistura o real com o virtual, como essa moda “pós-pokemons” onde as pessoas, se socializam, fazem-no virtualmente e sempre como um átomo isolado; já não sei se se trata realidade aumentada, de virtualidade diminuída, ou do seu contrário; sei que hoje tudo evolui muito rapidamente e não se conseguindo, com segurança, prever o futuro sendo esse difícil planear, e as pessoas sem planos para o futuro tendem a tornar-se individualistas destruindo-se assim as sociedades.
O Templo ele mesmo, é um construtor de sociedades e de socialização e contém em a chave que permite ao iniciado compreender o objectivo do verdadeiro trabalho da verdadeira Arte Real.
Não é possível passar ao lado da riquíssima simbologia que existe neste elemento pedagógico que é o Templo, nem da generosidade da maçonaria que tudo coloca ao alcance daqueles que estão a dar os primeiros passos nas suas Oficinas.
É esta conduta de Amor, profundamente atípica no mundo profano, que pretende evitar que aqueles que iniciam o caminho maçónico errem no rumo que devem tomar, porque sabemos que um I\ que se extravie na escuridão da noite profana muito dificilmente reencontrará o caminho de volta que lhe permita reorientar a sua marcha, e isto é algo que já ocorreu com vários II\.
As simbologias do Templo traçam, claramente, uma linha divisória que separa a Maçonaria Regular da pseudo-maçonaria, ou o que quer que lhe chamem, divisória essa que nos permite compreender que a Maçonaria trabalha com e A\G\D\G\A\D\U\ que é, na realidade, quem preside ao trabalho dos Obreiros em L\, enquanto que a pseudo se vê limitada à parte física da condição humana.
A Maçonaria Regular desenvolve-se nas imprescindíveis dimensões Física e Espiritual, enquanto a pseudo fica agarrada à carnalidade do ser humano e apenas trabalha no plano do natural.
A verdadeira Maçonaria é uma carta de navegação encriptada que o G\A\D\U\ permite que a decifrem todos os que amam e têm a coragem de iniciar a viagem até ao centro de si mesmos, com todos os perigos que isso representa, mostrando-lhes assim o Caminho de regresso a Casa.
Está em cada um de nós tomar a decisão de seguir tal caminho ou outro, no pleno exercício do livre arbítrio que nos foi concedido.
Disse.
Traçada em Luanda aos 26 dias do sexto mês de 6 016

ARS    MM\

06 novembro 2017

Maçonaria e Solidariedade


É recorrente. Sempre que ocorre algum evento que cause vítimas, destruição de bens ou deixe pessoas em dificuldades e que tal evento cause comoção pública, há quem - admito que bem-intencionadamente - sugira, proponha, exija que a Grande Loja lance uma campanha pública de recolha de fundos e solidariedade. Essa não é, contudo, a melhor das ideias - e vou procurar explicar porquê.

As instituições maçónicas e os maçons devem - isso é inquestionável! - proporcionar a sua aolidariedade e prestar ajuda a quem passa momentos de aflição. Mas duvido muito que deva fazê-lo lançando campanhas públicas nesse sentido. Se uma instituição maçónica está em condições de auxiliar, deve auxiliar, seja disponibilizando meios financeiros (do respetivo Tronco da Viúva ou do seu orçamento geral), seja disponibilizando trabalho, tempo e energias dos elementos que a integram. Mas deve fazê-lo discretamente!

Deve fazê-lo discretamente, não por hábito ou mania da discrição, mas porque deve auxiliar por solidariedade, por fraternidade com o semelhante - e também não por relações públicas!

Quando há que auxiliar, quando há que organizar meios de providenciar ajuda, quando há que recolher fundos e encaminhá-los para onde façam falta, a Grande Loja (ou qualquer outra instituição maçónica) pode, deve e faz muito bem que assim proceda, mobilizar os seus obreiros para que se organizem e deem algum do seu tempo e do seu esforço para ajudar e para que destinem meios financeiros de que disponham, e que não lhes façam falta para sustentar os seus e cumprir os seus compromissos, em prol de quem está em aflição e necessita de auxílio.

Mas uma coisa é a instituição maçónica mobilizar internamente os seus elementos - e tentar ser eficaz e aumentar os meios destinados ao auxílio a prestar. Outra coisa, completamente diferente é lançar apelos públicos - aí há que distinguir quando o apelo público faz ou não sentido. O Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues, quando organiza campanhas de doação de sangue, para além da mobilização dos seus elementos, procura mobilizar obreiros de outras Lojas e - designadamente através deste blogue - motivar toda e qualquer pessoa, maçom ou não maçom, a dar sangue. Isso faz sentido - porque a necessidade de sangue disponível é permanente e a sensibilização de todos a todo o tempo justifica-se. 

Quando, há alguns anos, a Associação Mestre Affonso Domingues lançou a campanha pública de recolha de óculos para envio para Moçambique, isso fez sentido. Porque organizou forma de todos os óculos recolhidos serem medidos na graduação das suas lentes por profissionais aptos para tal, porque arranjou forma de, sem custos, enviar os óculos recolhidos para Moçambique, porque tinha contactos locais que garantiam que os óculos recolhidos e enviados eram dados a quem deles efetivamente necessitava, gratuitamente e sem condições de qualquer espécie, porque garantiu que todos os que participaram nessa ação o fizeram exclusivamente por solidariedade, pelo propósito de ajudar e sem que ninguém obtivesse qualquer vantagem patrimonial ou de outra índole com isso. Então fez sentido, já que se montara toda uma estrutura para enviar óculos para quem deles necessitava em Moçambique, procurar que, em vez de entre nós, nossas famílias, amigos e colegas de trabalho recolhermos umas dezenas de pares de óculos, divulgar a iniciativa e conseguir, como se conseguiu, recolher, medir, enviar e dar umas centenas, mais de meio milhar, de pares de óculos. Aí, o apelo público fez sentido para rentabilizar a iniciativa e procurar obter, como se conseguiu, um maioer número de óculos a enviar. 

Mas quando - como ocorreu recentemente em Portugal com dois episódios de incêndios florestais catastróficos, que causaram perdas de vidas, imensa destruição e deixaram nuita gente a necessitar de auxílio (alguns ficando apenas com a roupa que tinham no corpo) - existe comoção pública e a solidariedade de toda uma sociedade brota espontaneamente, quando instituições vocacionadas especificamente para tal abrem e publicitam contas solidárias e apelam a que o público nelas deposite a sua ajuda monetária, que falta faz que "a Maçonaria" lance uma campanha à parte, abra uma conta, peça auxílios? Porventura vai-se conseguir angariar mais meios de auxílio que não se angariariam através do vasto movimento de ajuda que se gerou? Claro que não! Nesta situação, a intromissão (é o termo!) da Maçonaria não redundaria em nenhum benefício significativo em prol de quem sofre, antes não passaria de um abstruso meio de auto-promoção, de "aparecer". Ora a Maçonaria não se destina a "aparecer". Pelo contrário, centenas de anos de existência ensinaram-nos que o Bem está muitas vezes nas pequenas coisas, nos auxílios discretos, nas ajudas fora dos holofotes.

Solidariedade, beneficência não são publicidade nem relações públicas! O maçom cumpre o seu dever de beneficência porque interioriza que essa é uma postura que moralmente deve ter. Quando dá, só ele tem que saber que deu. Por vezes nem quem recebe precisa de saber quem deu... Ajudar é motivo de satisfação pelo cumprimento da nossa obrigação de sermos bons e procurarmos ser melhores. Não é, não pode ser, NUNCA, motivo de vaidade, de exibição, de publicidade, de relações públicas!

Por isso , meus prezados Irmãos, sempre que - infelizmente - ocorrer catástrofe que cause comoção pública, insto a que nenhum de vós perca tempo nem energias a clamar por que a Grande Loja publicamente lance campanhas ou faça apelos ou comunique a sua solidariedade. Nessa ocasião, haverá muito quem lance campanhas de apoio, de solidariedade, de ajuda, de recolha de fundos. Não será então necessário que façamos mais do mesmo.Isso seria apenas e afinal tão só aparecer. A nós basta-nos e deve bastar-nos - e muito é! - tão somente Ser!

Rui Bandeira

23 outubro 2017

Comunicação do Grão-Mestre por ocasião do equinócio de outono


O ABANDONO DO INTERIOR, O ABANDONO DE PORTUGAL

Queridos II. em todos os vossos graus e qualidades, a todos saúdo, sede bem-vindos à casa dos valores, à casa dos irmãos, à nossa casa.

Celebramos hoje em Grande Loja o Equinócio de Outono. O fenómeno astronómico ligado ao equinócio, define o instante em que o Sol, na sua órbita aparente, cruza o equador celeste, garantindo nesta data, igual duração entre os dias e as noites. Através desta sugestão igualitária cósmica, reavivo os princípios que norteiam a nossa Augusta Ordem: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. A partir deles extrapolo deveres para o maçon como o dever de solidariedade, o dever da promoção da igualdade de oportunidades, o dever da compaixão fraternal para com o semelhante, o dever de respeito pela dignidade humana, o dever em defender a democracia plena.

E faço esta introdução, porque queria hoje falar-vos do problema maior de Portugal, ao qual nós todos temos obrigação de prestar socorro:

O ABANDONO DO INTERIOR, O ABANDONO DE PORTUGAL,

problema que tem matado e vai continuar a matar.

O fenómeno dantesco dos fogos deste Verão, que assolaram e exauriram o país, que espalharam terror e morte, deve servir de rastilho para que expluda em Portugal uma “bomba nuclear de mudanças radicais”.

Neste fantástico rectângulo português, as assimetrias territoriais de longitude são cada vez mais colossais e gritantes: ao longo do Atlântico afunda-se uma espécie de restinga litoral que soma à volta de 10% do território, 90% da população, que concentra as actividades económicas, a riqueza e os maiores rendimentos, o desenvolvimento, demografia jovem e vigorosa, a qualidade de vida e as acessibilidades.

Nas costas deste litoral que nunca aparecem ao espelho, temos 90% do território que arde todos os anos: 10% da população, todas as desgraças e calamidades, das quais os fogos de Verão, são apenas um povoador de consequência.

E cito o artigo do “Financial Times” que afirma com clarividência: “os incêndios, que devastam Portugal, reflectem décadas de negligência e afastamento do poder político em relação às regiões do interior”.

E eu sei bem do que falo, porque durante muitos anos, fui autarca nas profundezas do interior dos interiores, por isso vos parafraseio Marcelo Rebelo de Sousa, que numa passagem pelo nordeste transmontano, ao improvisar uma aula de geografia para localizar Trás-os-Montes enfatiza: "O nosso país, está dividido entre a Área Metropolitana de Lisboa e o resto. Depois, entre as outras áreas metropolitanas e o resto. Depois, entre todo o litoral e o resto. Depois, há dentro do interior o interior intermédio e o interior profundo. Dentro do interior profundo há o interior mais profundo. E é no interior mais profundo do interior profundo que encontramos Trás-os-Montes", e eu próprio acrescentaria que Miranda do Douro fica mesmo no confim das profundezas de Trás-os-Montes. E é este um problema que deixamos arrastar desde muito longe. Exceptuando Dom Sancho I o Povoador, segundo rei de Portugal, que no último quartel do século XII promoveu e apadrinhou o povoamento dos territórios do país, tal como a fundação da cidade da Guarda, e a atribuição de várias cartas de foral nas Beiras e em Trás-os-Montes, povoando assim áreas remotas do reino, com imigrantes da Flandres e da Borgonha. E a Lei das Sesmarias promulgada na segunda metade do século XIV por Dom Fernando I, que pretendia fixar os trabalhadores rurais às terras e assim diminuir o despovoamento. Além deste dois, talvez não veja outros estadistas que mereçam relevo à altura nesta causa da democracia territorial Portuguesa. No século XIX, eventualmente Dom Pedro IV, mas o interior que escolheu foi o Império do Brasil.

Depois da lei das Sesmarias, as sucessivas estratégias territoriais passaram sempre por extorquir recursos e população ao interior: foram essas gentes que encheram as naus e as galeras dos descobrimentos, que foram levadas para povoar as ilhas até então desertas, as feitorias na Índia, as colónias africanas, o Brasil.

Foram eles os incentivados a imigrar para a Argentina, para a Venezuela, ou América do Norte.

Foram eles que ajudaram vários países europeus a levantarem-se depois da Primeira e Segunda Grandes Guerras, tal como a França, a Alemanha, a Inglaterra, a Bélgica, a Suíça ou a Espanha. Foi a eles que deslocalizamos para que enchessem Lisboa e o Porto.

Recentemente são os escassos jovens licenciados provenientes das regiões do interior os primeiros a engrossar as fileiras da imigração mestrada e doutorada: eu tenho lá uma filha querida!

Muitos dirão que esta é tarefa hercúlea, titânica: impossível!

Eu respondo com o exemplo recente das Alemanhas, que em 1990 tomaram a decisão de se reunificar.

Estamos a falar de coisas diferentes, claro que estamos, mas a verdade é que precisamos agora de uma grande mobilização nacional para esta urgência. Durante os anos de democracia, Portugal já conseguiu responder à resolução de grandes causas nacionais, como o foram a liberdade, a democracia, a descolonização, a Europa e o desenvolvimento. Precisamos agora reunificar o país.

A Unidade de Missão para a Valorização do Interior, aposta do actual Governo, foi o último redundante fracasso absoluto, e agora as contabilidades eleitoralistas, ou as palavras e os afectos já não bastam.

Este vosso servo Grão-Mestre não manda, mas tem com ele O PODER DA PALAVRA. E já vos tinha contado, quanto tudo era apenas trevas e breu, Deus fez luz e criou o universo apenas com palavras: DIZENDO-O. E é apenas através de palavras justas, que hoje vos queria aqui convocar a todos, a fim que sejais apóstolos e cimento forte neste tão nobre desígnio, porque a cada dia o mundo tem que ser melhor e Portugal tem de sê-lo de sobremaneira. E cito o grande poeta do interior, Miguel Torga «O difícil para cada português não é sê-lo; é compreender-se. Nunca soubemos olhar-nos a frio no espelho da vida. A paixão tolda-nos a vista… mas não somos um povo morto, nem sequer esgotado.»

Há cerca de um mês em Vilar Formoso, o Presidente da República, defendeu que a fronteira de Portugal com Espanha, fosse toda ela declarada Património da Humanidade pela UNESCO. Trata-se da mais antiga fronteira da Europa, uma fronteira onde muitas guerras se travaram, mas sobretudo uma fronteira onde os vizinhos dos dois lados nunca deixaram de relacionar-se cordialmente, mas sobretudo entreajudar-se em tempos de desgraça, porque os governos dos dois lados já os tinham abandonado: essa é uma verdadeira mensagem universal para toda a Humanidade, e talvez seja por aí que devamos começar.

E para bom entendedor, meia palavra deve bastar, por isso nada mais acrescento, pois esta era a mensagem simples que hoje vos queria comunicar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal dos valores maçónicos, a liberdade em Portugal, na Europa, no mundo, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquitecto do Universo.

Júlio Meirinhos
Grão-Mestre

13 outubro 2017

A CÉLULA

Era uma vez uma CÉLULA… era uma vez uma célula pequenininha… muito pequenininha… tão pequenininha que mal se via, mesmo ao microscópio. E para complicar a vida ao observador… ou bisbilhoteiro que é o que os observadores são, esta célula nunca estava quieta. Além de pequenininha… era uma célula viva, posta assim a funcionar pela Mãe. A Mãe Natureza… naturalmente, pois claro. E a Mãe Natureza ao pô-la na vida deixou-a com regras. Todas as células vivas têm regras ! Para poderem conviver umas com as outras.. e esta também tinha regras, naturalmente.

As regras das células são todas mais ou menos iguais, embora as células sejam diferentes umas das outras. As células são diferentes umas das outras, mas as regras são iguais. E a regra base manda que a célula se mantenha viva. Todas as células têm essa regra base. A regra base, como já disse, comum a todas as células implica que têm de se alimentar para continuar a viver. Desta forma a nossa célula, a inicial, a que começou esta história, naturalmente, começou a alimentar-se como lhe tinham dito para fazer. E começou a alimentar-se… e alimentou-se… almocinho para aqui, jantarinho para acolá… deu às tantas porque os números da roupa começavam a apertar. É que a nossa célula (bom, as outras células também, claro !) não andam nuas… longe disso, têm um vestidinho de membrana que lhes aconchega as partes. E começou a sentir que a sua membrana começava a ficar apertada. Ela alimentava-se normalmente, almocinho aqui, jantarinho acolá, e ia engordando. Como tudo tem um limite a nossa célula acabou por ter um problema grave para resolver, que era, naturalmente, a adaptação da sua membrana ao aumento de volume. E a única solução que encontrou foi… sabem qual foi ?... dividir-se em duas. Dividiu-se em duas… de tal maneira que ficaram duas, com metade do tamanho da primeira. E assim voltou a nossa célula a caber, sem dificuldade, na sua membranazinha. E as regras que estavam definidas para aquela célula inicial, foram copiadas inteirinhas para a 2ª célula, saída da divisão que se fizera, naturalmente ! Agora ambas tinham que se alimentar para continuarem vivas… e assim aconteceu… almocinho aqui, jantarinho acolá, e naturalmente, as coisas voltaram a acontecer como previsto. Engordaram, cresceram, tiveram dificuldades com as membranas respetivas e, naturalmente, voltaram a encontrar como solução a sua divisão, cada uma delas em mais 2 células, que continuavam com as mesmas regras… e por aí fora… E, vitória, vitória, acabou a história.
 

Ora bem, MQII:. vem esta história a propósito do nosso último ano e de algumas coisas que tenho ouvido e que não gosto de ouvir.

O último ano desta nossa RLMAD foi tudo menos… fácil. Foi o ano em que vimos sair vários Irmãos, cada um com a sua razão para o fazer. O que aconteceu é que, naturalmente, eles não conheciam a história da célula. Então, e por esse desconhecimento, levantou-se alguma poeira… A verdade porém, é que o ano também foi “muito ventoso” e isso não ajudou nada. É verdade, é !

E entrámos em novo Veneralato com a RLMAD… mais ligeira, talvez mais leve… Talvez cabendo melhor na sua membrana… Melhor ? Pior ? Não sei, e nem sequer faz sentido a dúvida. Entrámos em novo Veneralato com a MAD de sempre. A grande MAD a que nos orgulhamos de pertencer, com as dissonâncias e as concordâncias de sempre, com menos obreiros ? Claro que sim ! Mas qual é o espanto ? Não tem sido assim desde sempre ? Desde sempre a MAD cresceu, desenvolveu-se com o crescimento das suas oficinas, aumentou os seus quadros, até que às tantas é chegada a altura de ver partir alguns dos que “nasceram e cresceram no seu seio”. É a lei da Natureza. As células, todas as células, nascem, alimentam-se, aumentam mais ou menos o seu tamanho e entram, naturalmente, em processo de auto-divisão, originando novas células, que por sua vez se irão alimentar, crescer e subdividir, multiplicando-se, criando novos seres, novos corpos, e isso é a “Mãe Natureza” no seu funcionamento. É a regra dos seres vivos e significa exatamente isso mesmo. A MAD é um ser vivo. Ponto. Três notas finais:

1º -Não gosto de ouvir aquela dos que “só fazem falta os que cá estão”. Meus Irmãos, todos fazemos falta ! Não há Irmãos a menos, mas muito menos há Irmãos a mais. E se julgamos que há, comecemos a seleção por nós próprios, e se concluirmos que estamos a mais, pois saiamos ! Se a conclusão for outra, é nossa obrigação não julgar a legitimidade dos restantes.

2º -Não gosto de ouvir “Somos poucos, mas bons…”. A Célula, as Células que de nós saíram são formadas por maus ? Mas se é assim fomos nós (os bons) que formámos os maus ?

Liberdade, Igualdade, Fraternidade. São a base e não incluem julgamentos destes.
3º -Também percebi que se temeu, e parece-me mesmo que ouvi anunciar a possível não continuidade da MAD. Não acredito que realmente tenha ouvido tal coisa. Naturalmente foi engano meu. A dificuldade de ouvido enganou-me. Meus Irmãos, isto é osso velho, duro de roer, e para esses boatos, se acontecessem o que, naturalmente, não acredito, só vos quero recordar o que a lenda de Herculano pôs na boca do nosso Patrono, “a abóbada não caiu, a abóbada não cairá” !
(apresentado em 11/10/2017)
JPSetúbal

09 outubro 2017

Um Clone para Deus - o caos sobre a ordem


Kennio Ismail é um maçom brasileiro, professor universitário e pesquisador académico, que regularemente escreve sobre temas maçónicos. Mantém o blogue NO ESQUADRO, um dos que regularmente visito, lendo com agrado as lúcidas opiniões e exposições ali expressas.  Mestre Instalado da Loja Flor de Lótus, n.º 38, filiada na Grande Loja Maçónica do Distrito Federal, publicou já vários livros sobre a Maçonaria: Desmistificando a Maçonaria (2012), O Líder Maçom (2014), Debatendo Tabus Maçónicos (2016), Ahiman Rezon - A Constituição dos Antigos, tradução comentada sua da 3.ª edição do original de Laurence Dermott (2016) e História da Maçonaria Brasileira para Adultos (2017).

Kennio Ismail lançou-se agora numa nova, e diferente aventura: a ficção! Acaba de ser publicado pela Chiado Editora, na sua coleção Viagens na Ficção, o livro UM CLONE PARA DEUS - o caos sobre a ordem, interessante novela escrita em escorreita prosa, que prende o leitor de princípio ao fim.

Para não estragar a leitura, indico apenas aqui a breve sinopse constante da contracapa do livro:

A notícia do roubo do Sudário de Turim para fins de clonagem chama a atenção de todo o mundo, em especial da Maçonaria, acusada publicamente de ser responsável pelo crime. O facto desencadeia manifestações em vários países, com a formação de grupos a favor e contra a clonagem de Jesus.

Uma equipa maçónica formada por um professor brasileiro, um lobista americano, um hacker filipino e um mochileiro italiano é criada com a missão de descobrir os verdadeiros responsáveis e entregá-los às autoridades policiais, limpando assim o nome da Maçonaria.

A partir daí, eles iniciam uma busca frenética, uma corrida contra o tempo, com passagens por Kansas City, Turim, Edimburgo, Paris e Lisboa, e envolvendo invaões, sequestros, lutas e perseguições.

Um fim inesperado, que pode mudar o mundo ocidental como o conhecemos, ocorre numa favela do Rio de Janeiro.

Espero que este aperitivo lhe tenha aberto o apetite para a leitura desta primeira ficção de Kennio Ismail. O livro, de 212 páginas, pode ser adquirido, pelo preço de € 12,00, nas livrarias e através do sítio na Internet da Chiado Editora, designadamente utilizando o endereço https://www.chiadoeditora.com/livraria/um-clone-para-deus. Foi assim que o adquiri e, em três dias, sem mais custos ou incómodos, o recebi no meu domicílio.

A única nota negativa que atribuoo é à editora, que necessita urgentemente de melhorar a revisão dos textos que publica, de forma a que não suceda o que se deteta neste livro: um assinalável número de ausência de espaços, juntando-se palavras que foram escritas separadamente... Não impede a leitura e a compreensão do texto, mas.. é aborrecido!

Apesar disso, recomendo que também adquira o seu exemplar e mergulhe na sua leitura. Não se vai, certamente, arrepender!

Rui Bandeira

02 outubro 2017

Um maçon nunca está sozinho


Quando o meu avô morreu, a meio da sua nona década de vida, comentou-me uma das minhas tias: "O avô morreu três vezes. A primeira foi quando a avó morreu. A segunda foi quando se apercebeu de que era o último dos da geração dele que ainda estava vivo. E a terceira foi agora." E continuou: "Sabes, há um par de anos foi ao funeral de um dos amigos de infância, e quando olhou em volta, viu-se sozinho. Aqueles com quem ele cresceu, os que fizeram a escola ao mesmo tempo... já tinham ido todos. A partir daí, limitou-se a ficar à espera." Confesso que senti um arrepio ao imaginar como seria sertir-me assim.

Anos volvidos, estou bastante mais seguro de que tal não me acontecerá. Não porque tencione morrer cedo - nunca se sabe, mas não tenho grande pressa... - mas porque os meus amigos não estão todos na mesma faixa geracional; é certo que tenho uns quantos amigos chegados que são de idade próxima da minha, mas a gama de idades dos que me são próximos é bastante alargada. E tenho, mesmo, alguns amigos que nasceram uma, duas, três ou mesmo quatro décadas antes de mim.

São homens a quem trato por tu, amigos próximos com quem partilho uma piada parva, membros da minha tribo perante quem baixo a guarda. A um ou outro chego a cumprimentar, sem pensar, com um abraço e um beijo na face - tal como sempre fiz e faço ao meu pai ou ao meu irmão de sangue. Alguns nada têm que ver com a maçonaria, mas mais de metade são meus irmãos maçons.

Diz-se que, em maçonaria, "se faz amigos de infância aos quarenta anos". Só posso falar por mim - e confirmar que senti isso mesmo. O que nunca imaginei foi que, aos quarenta anos, fizesse "amigos de infância" de sessenta, e de mais. De facto, das primeiras coisas que notei no dia da minha iniciação foi a variada gama de idades: havia um ou outro que ainda não tinha feito trinta anos, mas a maior parte estava entre os trintas e os quarentas - idade em que é mais frequente ingressar-se a Ordem - mas havia também uma boa quota de cabelo grisalho e branco. Hoje não dou por nada; somos todos irmãos, e todos nos tratamos da mesma forma: por tu, e com um respeito fraternal.

Entre gerações partilha-se histórias na primeira pessoa. Os mais antigos recordam tempos idos, explicam decisões passadas, mostram os erros cometidos permitindo que não tenhamos nós que os repetir. Os mais novos, por seu lado, instilam novo fôlego em assuntos batidos, vestem ideias vetustas com novas roupagens, e por ser novo para eles o que para os demais é já conhecido, mostram-no, por vezes, como se o fora pela primeira vez. A cumplicidade vai-se construindo, ano após ano. E os laços apertam-se, mesmo sem darmos por eles.

Imagino que também alguns dos mais maduros sintam que, aos setenta ou aos oitenta, fizeram amigos de infância que por mero acaso têm metade da idade deles. Especialmente a estes, e principalmente quando sabemos que precisam, fazemos por, mais do que estar apenas disponíveis, estar mesmo presentes - e não os deixar sozinhos; isto se, evidentemente, assim o desejarem, que a liberdade de cada um é princípio absoluto entre nós. Ao contrário do que sucedeu com o meu avô, espero que a nenhum deles demos razão para sentir que o último dos seus acabou de partir e os deixou para trás. E é por isto que sei que, quando estiver no seu lugar, só ficarei sozinho se assim o desejar.

Paulo M.

25 setembro 2017

O ofício de Venerável Mestre


Em regra anualmente, as Lojas maçónicas elegem um dos Mestres do seu Quadro para assumir a função de Venerável Mestre. 

O Venerável Mestre tem a incumbência de dirigir administrativamente a Loja, com o auxílio, designadamente, do Secretário, do Tesoureiro, do Arquivista e do Orador (este com a expressa função de dirimir e/ou tentar fazer com que se ultrapassem eventuais litígios e de instruir qualquer procedimento disciplinar que porventura se mostre necessário). Deve também providenciar pela adequada instrução e formação dos Aprendizes e Companheiros da Loja, a daqueles sob a direção do Segundo Vigilante, a destes mediante a coordenação do Primeiro Vigilante. Deve ainda assegurar a adequada e correta execução do ritual praticado pela Loja, contando, para isso, com o especial contributo do Mestre de Cerimónias, do Experto e do Guarda Interno. Deve mais garantir que, quando se justifique, a solidariedade da Loja perante qualquer dos seus obreiros seja efetiva e atempadamente praticada e que o dever social da Loja de auxílio, na medida das suas possibilidades, a quem disso necessita, ou a instituições que o assegurem, não seja descurado, contando, para isso, com a indispensável colaboração do Hospitaleiro. Deve igualmente zelar pelo bom ambiente, paz, tranquilidade e concentração da Loja enquanto em sessão, em muito sendo, para tal, auxiliado nisso pelas oportunas intervenções da Coluna da Harmonia e pelas acertadas escolhas e seleções de trechos musicais efetuadas pelo Mestre da Harmonia, também designado por Organista. Deve, em acréscimo, assegurar as iniciativas especiais ou extraordinárias da Loja, podendo, para isso, contar com o auxílio de um Oficial encarregado de preparar cada uma dessas iniciativas, o Porta-Estandarte. Deve, finalmente, coordenar toda a atividade da Loja, e do seu Quadro de Oficiais, dirigir as sessões da Loja e representá-la na Grande Loja.

Para tudo isso, que não é pouco (e a dimensão do parágrafo anterior ilustra-o bem...), conta com o auxílio, o conselho e a experiência, recente, do Ex-Venerável e, principalmente, com a colaboração e o empenho de todos os obreiros da Loja. O sucesso de um Veneralato depende, claro, da capacidade de organização, gestão e coordenação do Venerável Mestre, mas essencial e inevitavelmente da resposta, da dedicação, do compromisso de cada um dos obreiros da Loja e do conjunto dela. Pode uma Loja suprir razoavelmente uma eventual menor qualidade de desempenho de um Venerável; mas o melhor, mais qualificado, mais empenhado, mais imaginativo, mais bem preparado, mais bem organizado Venerável do mundo nada conseguirá fazer de jeito sem o contributo, o respaldo, o empenhamento de toda a Loja.

A função de Venerável Mestre é complexa e exigente. Ele tem de, qual maestro, dirigir e coordenar toda uma equipa e motivar toda uma Oficina, para que seja possível ter um gratificante ano de trabalho. Mas há um aspeto dessa função em que o coletivo pouco releva: quando há que decidir! Decidir é responsabilidade exclusiva e solitária do Venerável Mestre. Para o bem e para o mal, é para isso também que os seus pares lhe confiaram o ofício. Na hora da decisão, não há democracia, não há maiorias. O Venerável Mestre tem o encargo de, sempre que for necessário decidir, tomar a melhor decisão possível, em face dos elementos de que dispõe. E a melhor decisão possível pode muito bem não ser a que teve a preferência expressa de uma conjuntural maioria. Por exemplo, não poucas vezes - arrisco dizê-lo - a melhor decisão possível é um misto da preferência da maioria com algo dos contributos de uma ou mais minorias...

Preparar, coordenar, decidir, motivar, fazer, propiciar que seja feito e tentar errar o menos possível: essas a tarefa e a função cometidas ao Venerável Mestre. É por isso que costumo dizer que ser Venerável Mestre equivale a ter duas alegrias: uma, de satisfação pela confiança em si depositada, quando é eleito para o ofício; a outra, de alívio, quando passa o malhete ao seu sucessor!

A responsabilidade do ofício de Venerável Mestre é evidentemente grande. Por isso mesmo, deve ser exercida por um período não muito longo (um ano é, para mim, o período ideal) e, sobretudo, deve a Loja estar organizada de forma a possibilitar que seja exercida, sucessivamente, pelo maior número possível de Mestres do seu Quadro. Porque a responsabilidade é grande, mas não é exclusiva de "iluminados". Porque o essencial princípio da Igualdade implica que todos os Mestres têm potencialmente capacidade para exercer tal ofício. Porque, sendo a responsabilidade grande, há muitas formas de a cumprir e cada Venerável Mestre inevitavelmente que a assegurará à sua maneira e deixando a sua pessoal marca. E, ao longo do tempo, a assunção da mesma grande responsabilidade com a diversidade resultante das diferentes caraterísticas pessoais dos sucessivos Veneráveis é uma rica lição para todos os obreiros da Loja.

O exercício do ofício de Venerável Mestre, pela sua complexidade e exigência, é fator de evolução, de crescimento, de melhoria, de quem o exerce. Por isso também deve o ofício ser exercido pela maior quantidade de obreiros possível. Afinal de contas, o principal objetivo da Maçonaria é o aperfeiçoamento dos seus obreiros... 

Rui Bandeira

19 setembro 2017

Porque só um crente pode ingressar na Maçonaria Regular



Um dos requisitos para se ingressar a Maçonaria Regular é a "crença no Grande Arquiteto do Universo". Ora, quem não esteja inteirado do significado de tal expressão nunca poderá, de boa fé, responder afirmativamente. A pergunta que daí inevitavelmente decorre é: "Mas quem é o Grande Arquiteto do Universo?" E daqui costuma advir uma longa explicação, mais ou menos complicada, e mais ou menos extensa, referindo a tolerância religiosa, a história da maçonaria e os valores de harmonia e paz que à maçonaria são caros. Vou tentar outra abordagem.

Em muitos países - e o nosso não é, infelizmente, exceção - perde-se o nome quando se é investido de um cargo; passa-se de "João", "Bruno" ou "António" a "Senhor Professor", "Senhor Diretor" ou "Senhor Ministro". Não que se perca o nome; este fica é reservado àqueles que nos são mais próximos. Os restantes tratam-nos pelo nome do cargo.

É comum, em muitas organizações, ter que se pedir autorização a um superior hierárquico para, por exemplo, se mudar um dia de férias. Isso pode, mesmo, constar de regulamento interno, que dirá algo como "A alteração de férias carece de aprovação pelo respetivo diretor". Não diz o nome do diretor, nem o nome do funcionário; nem sequer refere o departamento. Mas toda a gente saberá o que deve fazer, e o que esse artigo do regulamento significa.

Situação semelhante se passa, num contexto maçónico, com as divindades em que cada um de nós crê. Entre maçons, é consensual que a expressão "Grande Arquiteto do Universo", frequentemente reduzido à sigla "GADU",  simboliza o Ser Supremo em que cada um acredita; por outras palavras, para os cristãos GADU é Deus; para os muculmanos, Allah; e por aí fora. Não é, de modo algum, o nome de um qualquer hipotético (e inexistente...) deus maçónico; não é o nome de um Deus, mas o "posto", o "cargo" que ele ocupa. Longe de se permitir que cada um manifeste a sua crença num ser que designa de forma diferente, usa-se uma expressão que a todos serve, ao mesmo tempo que salienta as semelhanças e esbate as diferenças.

Os rituais maçónicos referem, em certos momentos, o Grande Arquiteto do Universo; os maçons dedicam os trabalhos que fazem e apresentam em Loja "À Glória do Grande Arquiteto do Universo"; ouve-se, frequentemente, invocações como "Que o Grande Arquiteto do Universo ilumine o nosso caminho" ou "Receba-o o Grande Arquiteto do Universo no Oriente Eterno." Estas expressões têm claras implicações por parte de quem as profere, mas não vinculam forçosamente quem as ouve. Por outro lado, são uma clara referência às características que quem as profere atribui à Divindade em Quem acredita.

Cada um sabe qual é o nome do "seu" GADU - como cada funcionário conhece o nome do seu diretor. Não precisa de estar sempre a dizer aos outros quem ele é. Quem não seja crente rapidamente se sentirá um corpo estranho - que é, acima de tudo, o que se pretende evitar com este requisito.

Monoteístas, deístas, teístas, panteístas, e mais uma infinidade de outros -istas, são todos bem vindos desde que, esclarecidos, com verdade, e com convicção, se afirmem crentes no Grande Arquiteto do Universo. Dito isto, se alguma vez tiverem que responder a esta pergunta, cada um de vós saberá, no seu íntimo, se é ou não crente no Grande Arquiteto do Universo, sem necessidade de mais explicações - e ninguém vos pedirá que elaborem mais do que isso mesmo.

Paulo M.

11 setembro 2017

O Vigésimo Sexto Venerável Mestre


No ano maçónico de 2014/2015, a Loja Mestre Affonso Domingues teve como seu Venerável Mestre o Irmão Luís N. C..

Luís N. C. é um gentleman, de uma polidez a toda a prova. mantendo sempre uma calma olímpica e uma impertubável serenidade que, no entanto, não prejudicam uma segura determinação no cumprimento das tarefas que se propõe realizar. Tomou conta do leme da Loja após um período anómalo na sua gestão, pois, no ano anterior, a Loja tivera um Venerável que, muito pouco tempo após a sua instalação, teve que se ausentar, um largo período de substituição assegurada interinamente e, por fim, um novo Venerável para um mandato reduzido. Havia que procurar retomar a normaliddade e foi isso que Luís N. C. providenciou.

A Loja retomou as suas rotinas. Foi dada atenção à regularização da situação administrativa e financeira. Retomaram-se as tarefas de formação dos mais recentes elementos da Loja. Tudo isso Luís N. C. assegurou e assegurou bem. Aparentemente, a Loja retomava a sua normal evolução. E a todos, então, isso pareceu.

Visto agora, à distância de algum tempo - e conhecendo a evolução futura... -, porém, algo subtilmente estava em mudança. Como sempre acontece, as pequenas alterações passam despercebidas e vão-se acumulando e interagindo até que chega o momento em que uma mudança se manifesta.  Visto agora, à distância de algum tempo, acumulavam-se desde os tempos dos Vigésimo Quarto e Vigésimo Quinto Veneráveis Mestres os indícios e sinais de mudança a caminho e prosseguiu, ainda impercetivelmente, tal processo no decurso do mandato de Luís N. C..

Da geração dos primeiros tempos da Loja restavam já apenas uns quantos elementos. A Loja era agora essencialmente constituída por uma nova geração, que não vivera os tempos da implantação da Loja e, sobretudo, não passara pelo ordálio da cisão de 1996/1997. Todo um conjunto de formas de trabalhar, de equilíbrios, de cuidados eram agora praticados e vividos por quem não vivera os tempos e não passara pelos acontecimentos que forjaram essas formas, esses equilíbrios, esses cuidados. E seguramente não é o mesmo ter vivido situações e, por saber de experiência feito, ter a noção da razão de ser de certas escolhas, de determinadas práticas, ou apenas ouvir a informação do facto ou da ocorrência que subjaz a uma escolha ou à implantação de uma prática. Acresce ainda que os tempos passam, as memórias são falíveis e certamente haverá opções tomadas há mais de vinte ou vinte e cinco anos que agora nem sequer se sabe muito bem porquê... Para além de os tempos mudarem e as coisas evoluirem...

Por esta altura, era assim evidente que se aproximava um tempo em que seria necessário rever opções, refrescar práticas. A Tradição da Loja preza-se e é mantida, mas não pode deixar de se atender à evolução e é sempre preciso ajuizar serenamente se e quando há que mudar algo e como.

Mas o que parece óbvio em teoria é mais complicado na prática das coisas. É fácil dizer-se que devemos estar atento à necessidade de mudanças, de atualizações. Mais difícil - muito mais! - é decidir que concretas mudanças e atualizações são convenientes e como e em que sentido devem ocorrer...

Após o ano atípico anterior, claramente que a Loja precisava de um retomar da rotina que simultaneamente constituísse um tempo de pausa para clarificação de ideias em relação à efetiva necessidade de mudanças de práticas e ou de objetivos, e quais. Isso garantiu-o, e bem, Luís N. C..

O diagnóstico que então se fazia era que a Loja estava adaptada às rotinas e aos entendimentos dos mais antigos, da Velha Guarda, práticas e rotinas essas com que os mais novos - os mais recentes na Loja - não se identificavam totalmente. Havia uma transição de gerações a fazer, necessariamente com algumas mudanças. Nesse sentido, era necessário que os elementos da Velha Guarda se fossem paulatinamente afastando da primeira linha das decisões, dando lugar aos mais novos. A transição ir-se-ia então naturalmente fazendo e as mudanças aconselháveis surgiriam também tranquilamente.

Este era o estado da arte da Loja Mestre Affonso Domingues no ano em que Luís N. C. a dirigiu Fê-lo bem., fê-lo a contento e deixou ao seu sucessor a Loja pronta para continuar a sua natural evolução.

Rui Bandeira