O vigésimo Venerável Mestre
Rui. C. L., normalmente, já teria sido Venerável Mestre muito antes. Mas, nos idos de 90 do século passado, cometeu a ousadia de bater o pé ao então Grão-Mestre Fundador e sofreu a sua ira. Teve de se afastar durante uns tempos. Só regressou depois da cisão de 1996/1997. Teve depois um grave problema de saúde de que teve de se cuidar - e que ainda hoje o limita. Apesar da sua antiguidade, fez o normal percurso na "linha de sucessão" informal que é prática da Loja. Tudo isto motivou que o segundo mais antigo obreiro da Loja em atividade nela só no vigésimo ano da sua existência assegurasse a sua liderança.
Ao fim e ao cabo, esta liderança em ano "redondo", que a Loja decidiu assinalar com a publicação do livro R. L. Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história, acabou por ter um certo simbolismo. E foi o melhor marco para assinalar a transição geracional da Loja. O Venerável Mestre que assegurou os destinos desta no seu vigésimo ano de atividade foi um dos mais antigos obreiros. Organizou e dirigiu a celebração deste aniversário. E depois passou o malhete a um obreiro que já não viveu os tempos da implantação e da cisão o qual, por sua vez, foi rendido por obreiro já iniciado no século XXI.
Rui C. L. assinalou assim o fecho de um ciclo da Loja. Um ciclo feliz de vinte anos. Com sucessos e retrocessos, com alegrias e tristezas, mas um ciclo rico, que mereceu a pena viver e que permitiu assentar as fundações, crê-se que sólidas, em que assentará o futuro da Loja.
Rui C. L., gestor de formação, tem uma especial capacidade de motivação para objetivos. O seu mandato foi a ilustração desta capacidade. Desde o primeiro momento, a Loja andou num reboliço de ideias, de mudança, de fixação e cumprimento de objetivos.
Em termos da sua composição, Rui C. L. começou por compor a coluna de Companheiros, passando alguns Aprendizes prontos para tal. Mas a coluna de Aprendizes não ficou desguarnecida, pelo acelerado trabalho de iniciações levado a cabo. Pelo contrário, desde há alguns anos que a coluna de Aprendizes não estava tão preenchida. E a visibilidade que a Loja tem tido nos últimos anos faz com que, aguardando a sua vez, alguns desde muitos meses, vários candidatos se perfilem à porta do Templo...
Em termos de pranchas, rara foi a sessão de Loja em que uma prancha não tivesse sido apresentada e discutida. Fosse prancha de proficiência de Aprendiz ou Companheiro, fosse prancha traçada por Mestre. Os assuntos foram os mais variados, segundo os interesses e a especialização de quem as elaborou.
Em termos de relações com outras Lojas, para além de pontuais visitas de obreiros às Lojas-gémeas Fraternidade Atlântica e Hippokrates, traçou e executou, na parte final do seu mandato, um exigente plano de visitas a várias Lojas da Obediência, renovando assim os laços de fraternidade entre a Loja Mestre Affonso Domingues e as demais Lojas da GLLP/GLRP.
Como pano de fundo de tudo isto, traçou, dinamizou e dirigiu todos os trabalhos de preparação para as comemorações do vigésimo aniversário da Loja.
Em termos de relações internas, fomentou e aplicou uma simples mudança: os ágapes após as reuniões de Loja deixaram de ter lugar em estabelecimentos da zona de reunião da Loja, todos sem condições de privacidade suficientes, e passou-se a encomendar um catering e o ágape a ter lugar imediatamente após a reunião da Loja, nas próprias instalações desta. Mais barato e com todos mais à-vontade! Resultado imediato: exponencial aumento de participação de obreiros da Loja no ágape, reforço dos laços de fraternidade, melhoria das condições de integração dos novos elementos, melhoria e variedade de escolhas de forma de trabalhar (por exemplo, pranchas não rituais passaram a poder ser apresentadas e discutidas após a sessão, no decorrer ou após o ágape).
Criou as condições e iniciou uma tranquila renovação da Loja. O número de Aprendizes e Companheiros em atividade e o número de candidatos em processo de avaliação superou o número de Mestres. O resultado deste trabalho não se viu no imediato, mas será, não tenho dúvida, marcante a médio prazo. Daqui a meia dúzia de anos, estará pronta uma nova geração de Mestres maçons apta a dirigir a Loja, renovada mas fiel à sua Tradição.
A geração dos mais antigos, dos que viveram estes primeiros vinte anos, pode assistir, descansada, à evolução da Loja: esta está pujante, moderna, dinâmica, reforçada e sobretudo é, sem sombra de dúvida, uma Loja do século XXI!
Resumindo: Rui C. L. dirigiu a Loja num ano de muito dinâmica atividade. Elevou a fasquia bem alta para o seu sucessor... Mal sabíamos nós que, ao mesmo tempo, também propiciava acrescida dificuldade para esse seu sucessor... Mas disso falarei no texto que dedicarei ao vigésimo primeiro Venerável Mestre - nunca antes do próximo outono.
Rui Bandeira