10 março 2010

Intolerância

Airton da Fonseca, maçom e editor do Novo Blog do Ferra Mula, escreveu, em comentário ao texto "Ansiedade":


Muito se escreve sobre a Tolerância. Gostaria muito que o Ir.'. fizesse uma peça de arquitetura sobre a Intolerância. É sabido que a Tolerância é uma virtude que deve ser praticada pelos IIr.'., mas me parece que do ponto de vista global, a intolerância é o mal do século que se findou e continua mais evidente em nossos dias.

Correspondendo ao pedido, o tema de hoje é, então, a Intolerância.

À primeira vista, intolerância é o oposto de tolerância, virtude que, como muito bem acentua Airton da Fonseca, deve ser praticada pelos maçons. Bastaria então definir esta para, por oposição, nos depararmos com aquela.

Este caminho é tentador. Recordo-me de uma frase que bastas vezes ouvi a Fernando Teixeira, Grão-Mestre Fundador: "O limite da Tolerância é a estupidez". Portanto, se a estupidez está fora da tolerância, aí temos: a Intolerância não será, então, mais do que uma estupidez!

O que apetece declarar ser uma grande verdade!

Mas, por muito tentador que seja proclamar isto, uma mais atenta meditação permite-nos apreender que, em bom rigor, o oposto da Tolerância não é a Intolerância, é o Preconceito.

O tolerante renega, rejeita o preconceito. O preconceituoso, esse, não está disponível para tolerar a diferença, o que considera erro ou o que vê como inferior.

Há mais de três anos, aqui no blogue, o José Ruah e eu mantivemos uma não totalmente desinteressante polémica sobre o conceito de Tolerância. Quem não a leu, ou dela não se recorda, poderá através do marcador "Tolerância", localizar os doze textos em que essa troca de opiniões se desenvolveu, publicados entre 16 de novembro de 2006 e 16 de janeiro de 2007.

O ponto de partida da controvérsia foi o entendimento do José Ruah de que a tolerância pressupõe uma posição de superioridade (moral, social, pessoal, conceptual, o que se quiser) do tolerante em relação ao tolerado, ao que eu contrapus o meu entendimento da igualdade essencial de planos entre ambos, no verdadeiro conceito de Tolerância.

Recordo aqui esta troca de opiniões, porque precisamente entendo que é o Preconceituoso que se pretende colocar numa posição de superioridade, não o Tolerante que nela se coloca.

Curiosamente, não me parece que essa seja, necessariamente (pode sê-la, mas não o é necessariamente) a posição do Intolerante. Este, em relação ao objeto da sua Intolerância, não se arroga necessariamente da condição de superioridade. Pode muito bem atribuir ao objeto da sua postura uma posição no mesmo plano da sua - ou pode mesmo reconhecer-lhe a prevalência - e precisamente por isso contra o objeto da sua Intolerância lutar.

Porque a Intolerância não é, nunca, conceptualmente, passiva. É sempre proativa, tendencialmente agressora, ou, pelo menos, agressivamente opositora.

A Intolerância não é, pois, a mera antinomia, oposição, à Tolerância. É bem mais do que isso, é um estado de espírito tendencialmente militante, diverso, suscetível de assumir múltiplas formas ou manifestações.

A Tolerância é sempre uma postura de ordem moral. A Intolerância não é necessariamente uma postura de que a Moral está arredada. Não se admire o leitor: não me enganei e quis mesmo escrever o que acabei de escrever! Esclarecerei porquê.

É que, ao contrário do que me parece que entende o Airton, não considero a Intolerância necessariamente um mal. Volte a leitor a não se admirar. Novamente quis escrever o que acabei de escrever. E repito: a Tolerância é sempre uma virtude, um bem; a Intolerância - ao contrário do Preconceito - nem sempre é um mal. Explico então, antes que o leitor conclua definitivamente que ensandeci de vez.

Considero-me uma pessoa tolerante. Esforço-me por sê-lo e por praticar esta virtude. Procuro banir o Preconceito da minha postura. Mas entendo - e julgo que todos também assim o entenderão - que há na Vida e no Mundo coisas e posturas e situações que não podem, não devem, ser toleradas. Em relação às quais não só podemos como devemos ser absoluta, completa e inamovivelmente INTOLERANTES.

Sou completamente INTOLERANTE em relação à pedofilia, à violação, à violência gratuita, ao abuso de poder, à opressão, aos maus-tratos dos mais fracos. Só para dar alguns exemplos e exemplos por todos pacificamente aceites.

Em termos morais, a Intolerância é, em si mesma, neutra. Não é necessariamente um mal ou um bem. Depende do seu objeto. Admito que muitas das intolerâncias com que nos deparamos são um mal. Mas são-no em função do seu objeto. A Intolerância religiosa, ou de cariz racial, ou derivada de preconceito social são obviamente más. Era certamente nisso que o Airton pensava quando escreveu o que acima se transcreveu. Mas são más EM FUNÇÃO DO SEU OBJETO, não porque intrinsecamente a intolerância seja necessariamente sempre má. Creio já ter acima elucidado convenientemente que há intolerâncias que, atento o caráter particularmente desprezível dos seus objetos, não são más - pelo contrário, são socialmente úteis e devem ser cultivadas por quem procura ser uma pessoa de bons costumes.

Portanto, e em conclusão: o oposto da Tolerância não é a Intolerância - é o Preconceito. Em termos morais, a Tolerância é boa, o Preconceito é mau, a Intolerância é neutra, sendo boa ou má consoante o objeto sobre que se manifeste.

Surpreendido?

Rui Bandeira

03 março 2010

Portugal e Áustria - ligações históricas entre os dois países, especialmente do ponto de vista maçónico

Como referi no texto publicado na semana passada, hoje procedo à publicação da prancha apresentada pelo Irmão E. C., da Loja Hippokrates, na reunião daquela Loja em que uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues efetuou uma visita àquela Loja.

Sabemos que alguns dos leitores deste blogue não dominam o inglês e preferem sempre que publiquemos aqui apenas textos em português. Mas, por vezes, justificam-se exceções - e este é um desses casos. Trata-se de um trabalho feito por um Irmão estrangeiro propositadamente para ser apresentado para o dia em que estava programada a visita à sua Loja de Irmãos portugueses da Loja Mestre Affonso Domingues. Ficámos, é óbvio, muito sensibilizados. E uma forma de manifestar o nosso agrado é publicar aqui o trabalho apresentado.


Portugal and Austria – historical links between the two countries especially in regard of Freemasonry

Portugal and Austria can be regarded as two countries in Europe which obviously differ in many aspects and in this way of course contribute to the rich diversity within the European Union. Drawing our attention to what we do have in common we can say that – nowadays – both countries are of rather similar dimensions concerning size and population: whereas within more than 92000km² of the parliamentary republic on the Iberian Peninsula more than ten million people are living, the federal republic in Central Europe is somewhat smaller, being inhabited by more than eight million inhabitants at nearly 84000km² of surface size.
Nevertheless our subject is of historical interest – which means we have to look backwards in history to examine commonness.

Alliances between Portugal and Austria

In spite of the fact that – as to the geographic distance – our two countries are far apart from each other, several situations occurred in the past at which Portugal and Austria had to deal with each other in some ways; at first it seems worthwhile to consider matrimonial alliances between the ruling houses of the Kingdom Portugal and the Austrian Empire. Such marriages were very common in Europe with its multitude of monarchies because they offered political advantages, even though the territories of the participating countries were at remote distance of each other. The Habsburg Family whose empire was in the centre of the continent was eager to build alliances with many European monarchies through marriages; in this way a dense network of familiar and political relationships developed in the whole of Europe – which means the confusion was perfect …
The probably first union of such characteristics between Portugal and Austria was concluded in the 15th century: it was the wedding of the Austrian Emperor Friedrich V (III) (1415 – 1493) with Infanta Leonor of Portugal (1436 – 1467); she then became the mother of one of the most important Austrian Emperors, Maximilian I, called “The last Knight”.
During the 16th century at least five alliances were concluded between the House of Habsburg and Portuguese Nobility; therefore it is not so easy to see through the complexities which were created in this way: these marriages mainly concern the so called “Spanish Line” of the Habsburg Family whose establisher Emperor Karl V (I) (1500 – 1558) married his first cousin, Infanta Isabella of Portugal (1503 – 1539) and who were a very happy married couple; their son Phillip II (1527 – 1598) became husband of Princess Infanta Maria Manuela of Portugal (1527 – 1545) and named as Phillip I was later the King of Portugal. Karl’s sister Infanta Eleonore of Castile (1498 – 1558) became the third wife of the Portuguese King Dom Manuel I (1469 – 1521); he was the father of Eleonore’s sister in law, the mentioned Isabella, while Eleonore at the same time was the niece of Dom Manuel’s first and second wives. Another child of Karl, Archduchess Johanna of Austria (1535 – 1573), was married to a Portuguese member of high nobility as well: Prince João Manuel of Portugal (1537 – 1554), her first cousin. A second sister of Karl, Archduchess Katharina of Austria (1507 – 1578), became the wife of King Dom João III of Portugal (1502 – 1557). At this point the confusion for the listener is too big to imagine all the relations; only an illustration could help.
The next important matrimony between Portugal and Austria was during the 18th century, when Archduchess Maria Anna of Austria (1683 – 1754) married her cousin King Dom João V of Portugal (1689 – 1750).
In the early 19th century, Archduchess Maria Leopoldine (1797 – 1826) became the wife of Dom Pedro I (1798 – 1834) who was the Emperor of Brazil and also King of Portugal for a bit more than two months. The Portuguese royal family had been living in Brazil in exile for ten years, as a result of the Napoleonic Wars. And a few generations later, the third wife of Archduke Karl Ludwig of Austria (1833 – 1896) was Portuguese as well, the Infanta Maria Theresa of Portugal (1855 – 1944) who died here in Vienna during the Second World War.


Sebastião José de Carvalho e Melo

Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras and Marquês de Pombal – the name under which he is known – was born on the 13th of May 1699 in Lisbon as son of Manuel de Carvalho e Ataíde and Teresa Luísa de Mendonça e Melo. After his studies at the famous University of Coimbra which – having been founded 1290 – is one of the oldest universities in the world, he was sent to London in 1738 as Portuguese Ambassador and after seven years went to Vienna having been entrusted by King Dom João V with the same function. It was here that Sebastião José de Carvalho e Melo got married to Leonore Ernestina Gräfin von Daun, the daughter of the Austrian Field Marshall Leopold Josef Graf von Daun in December 1745; the wedding had been made possible after the intervention of the Portuguese Queen, Maria Ana de Áustria. King Dom João V called him back to Lisbon; his son and successor Dom José I appreciated him so much that he was appointed Minister of Foreign Affaires and later even Prime Minister.
The 1st of November 1755 for sure was the most tremendous day ever for Lisbon and probably one of the most significant days in the life of Sebastião José de Carvalho e Melo: having survived luckily he immediately organized help for the people who had survived as well as the burying of the victims. Thanks to his efforts there were no epidemics in the city which in the course of the earthquake had suffered fires and a tsunami. To rebuild of a main part of the city new technologies for construction of earthquake-proof buildings were invented and tried for the first time. Dom José I – not being interested in political matters – gave him plenty of freedom for his official functions so that under this aspect Sebastião José de Carvalho e Melo can be regarded as the actual ruler of Portugal in the middle of the 18th century; the so-called Pombaline Reforms represent the enlightenment in Portugal and affected not only Lisbon’s renewal and modernization, but also the position of the Church in Portugal, especially the problems which had been caused by the Jesuits who continued to preach that the earthquake had been God’s punishment for the previous reforms. Furthermore he abolished slavery in Portugal and India, though not in Brazil, where the position of the native population was defined; he reorganized the Portuguese Army and Navy, and even regulated production and trade of Port Wine by law.
For his merits Sebastião José de Carvalho e Melo received the title of Conde de Oeiras in 1759 and was made Marquês de Pombal in 1770 though the high Portuguese Nobility refused to accept the noble titles of Marquês de Pombal; shortly after the King’s death in 1777 the succeeding sovereign withdrew all power from the Marquis who died on the 8th of May 1782 peacefully in Pombal.


Gomes Freire de Andrade

Gomes Freire de Andrade was born in Vienna on the 27th of January 1757 as son of António Ambrósio Freire de Andrade e Castro, Ambassador of Portugal to the Austrian Court and Elisabeth Countess von Schaffgotsch who was descendant from an old and distinguished family of Bohemia.
His father – who had been a great supplier of Marquês de Pombal in the arduous campaign against the Jesuits in Portugal – sent Gomes Freire de Andrade at the age of with 24 years to his actual home country, to Portugal; it is said that Gomes Freire de Andrade already by then had achieved the rank of commander in the Order of Knights of Christ – which means that he had joined the Order in Vienna. His military career began in 1782 and developed very well, taking him around quite a lot. As he received permission to serve in the army of Tsarina Catherine II in the war against Turkey he left for Russia where he gained greatest sympathy at court, especially with the Empress herself. Having been very successful in battles he was awarded in 1790 by Catherine and was promoted to the rank of a colonel which was confirmed in the Portuguese army – even though he was absent in Portugal. By the time rumours of sympathy and enthusiasm of the Tsarina towards Gomes Freire de Andrade came up, apparently confirmed by the dissensions between him and Prince Potemkin who had been her favourite. Back to Portugal his life in battle continued when in 1793 he fought with his regiment in Catalonia with the Spanish armed forces against the French Army which constantly received reinforcements and finally won in the following year. The so-called “Légion Portugaise” was integrated to the French Army under its General Junot in 1808, had garrison in Grenoble and even participated in the Russian campaign. But the task Gomes Freire de Andrade was given by Napoleon in 1813 was just to be the Governor of Dresden in this period.
After the defeat of Napoleon, Freire de Andrade again returned to Portugal in 1815, where he was made a Lieutenant-General and – became the Grand Master of Freemasonry in Portugal a year later.
As there were suspicions that Gomes Freire de Andrade had been a leader in a conspiracy against the King Dom João VI he was betrayed – according to the facts by three Portuguese masons – and arrested. It was Gomes Freire’s position as grand master of the Portuguese Freemasonry and his correspondence with masons in other countries which gave him the appearance of being an arch-conspirator. Many of the conspirators had been masons and their secret meetings seem to have been partly disguised by carrying out Masonic rituals. A day before his execution a British officer who was a freemason offered to him the opportunity to escape which he refused and so his execution took place on the 18th of October 1817 in the fortress Julião da Barra in Oeiras for the crime of treason along with eleven other people. His body was burned and the ashes were thrown into the Tejo River. This brutal act, for which the commander of the British Army in Portugal, Lord Beresford, was responsible, led to loud protests and intensified anti-British tendencies in Portugal, having the Porto Revolution and the fall of Beresford in 1820 as a consequence. Under this aspect Gomes Freire de Andrade could be regarded as the first great martyr of Portugal.

Prancha do Irmão E.·. C.·. da Loja Hippokrates, aqui publicada por

Rui Bandeira

24 fevereiro 2010

Visita à Loja Hippokrates


Uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues, na qual se incluíram o JPSetúbal e eu próprio, efetuou, na passada semana, uma visita à Loja Hippokrates, da Grande Loja da Áustria, que reúne ao Oriente de Viena.

A Loja Hippokrates foi fundada em 1993. Como o seu nome indica, o seu grupo fundador tinha uma grande prevalência de médicos. Hoje, está diluída essa prevalência. Uma parte dos seus membros são médicos, mas a Loja tem, presentemente, maçons exercendo as mais variadas profissões, ostentando a diversidade que, em Maçonaria, é uma riqueza.

A Loja Mestre Affonso Domingues e a Loja Hippokrates geminaram-se em maio do ano passado e um dos pontos do convénio de geminação respeita precisamente à promoção de visitas mútuas entre os obreiros das duas Lojas.

A Loja Hippokrates trabalha o Rito de Schröder, um rito praticado essencialmente nos países de língua alemã, de que reconheci elementos dos ritos de York e Escocês Antigo e Aceite, mas que, essencialmente, é um rito muito prático, simplificado e de rápida execução. A eficiência germânica...

A Loja Hippokrates reúne semanalmente, às segundas-feiras. As suas reuniões são rápidas - cerca de uma hora de duração - e são seguidas de um ágape, servido numa sala reservada para o efeito no edifício-sede da Grande Loja da Áustria. Por regra, em todas as reuniões é apresentada uma prancha, que é seguidamente discutida no ágape.

Em face da nossa visita, os nossos anfitriões tiveram a cortesia de efetuar algumas alterações no seu procedimento habitual. Apenas a abertura e o encerramento dos trabalhos rituais decorreram em alemão. Todo o resto da reunião decorreu em inglês, de forma a facilitar a comunicação entre anfitriões e visitantes. Também no ágape a língua preferencial de comunicação foi o inglês.

O debate, no ágape, acabou por não incidir sobre a prancha apresentada pelo Irmão E. C., austríaco casado com uma portuguesa, dedicada ao tema das relações históricas entre a Áustria e Portugal. A curiosidade dos nossos Irmãos austríacos sobre a Maçonaria Regular em Portugal e a forma como trabalha sobrepôs-se e o debate no ágape acabou por revestir a forma de respostas dos visitantes a perguntas dos Irmãos austríacos, satisfazendo o legítimo interesse destes em conhecer melhor a forma como se trabalha por cá.

Foi uma agradável visita, em que fomos recebidos de forma inexcedível pelos nossos Irmãos da Loja Hippokrates.

Na próxima semana, publicarei aqui a prancha lida na ocasião pelo Irmão E. C..

Uma última nota, a propósito da interrogação deixada pelo JPSetúbal no seu último texto aqui no blogue: o "M" que, em terras de língua germânica, em tempos se colocava entre o esquadro e o compasso era a inicial de "Maurerei", ou seja, Maçonaria. Nestas coisas, os alemães, cultores da filosofia e com uma língua especialmente adequada para a especulação filosófica, não facilitam, nem suscitam dúvidas ou confusões... Assim, onde os anglo-saxónicos punham o "G" de Geometria (que, nos tempos da maçonaria operativa, era um termo sinónimo de Maçonaria, como tive oportunidade de referir nos comentários à Lenda do Ofício), os germanos foram diretamente ao assunto e colocaram o "M" e não se fala mais nisso... Nos dias de hoje, nos países de língua germânica, deixou de, por regra, se incluir qualquer letra no símbolo maçónico por excelência: ou simplesmente se representa o esquadro e o compasso, como se pode verificar no sítio na Internet da Grande Loja Unida da Alemanha, ou se coloca entre ambas as peças um fio de prumo, como se pode ver no símbolo do sítio da Grande Loja da Áustria.

Rui Bandeira

20 fevereiro 2010

“M” ?


Como anunciei no final do meu último post, naquela altura fui mesmo fazer a mala para uma visita aos nossos Irmãos vienenses.
Fomos e viemos (o Rui também, mas não só), com boas viagens embora cansativas (mais chatas que cansativas) por não serem voos diretos.
A temperatura máxima de 0 (ZERO, MÁXIMA...) graus que encontramos e o pouco tempo disponível não foram de molde a incentivar grandes devaneios turísticos pelo que nos tivemos de concentrar em meia dúzia de pontos centrais da Viena, e sendo assim uma visita compreensivelmente inevitável seria sempre a casa de Mozart.
Deixarei a história da visita à nossa Loja Irmã Hipokrates para o Rui, se ele entender que deve trazer para aqui detalhes dessa visita.
Eu limitar-me-ei a trazer duas imagens, históricas para a Maçonaria universal (os objetos representados, não as imagens !) que mostram paramentos que pertenceram a Mozart.
Chamou-nos particularmente a atenção o facto de haver um “M” no local onde sempre temos visto um “G”.
Se virem com atenção, no colar da 1ª foto consegue ver-se claramento o "M" no espaço entre o Compasso e o Esquadro e, que saibamos, Geometria não se escreve com "M".
Nem em "vianês"...
A razão, que tentàmos descobrir, acabou não ficando clara deixando a ideia que seria possivelmente uma demonstração de algum narcisismo mozartiano.

Este “M” é tipicamente um caso a tentar perceber a seguir.
Bom, não é um vídeo esta semana, mas são imagens que possivelmente nem todos conhecem e o que me interessa é a divulgação do que é interessante.
Bom fim de semana.
JPSetúbal






17 fevereiro 2010

Ansiedade


Um nosso leitor "brasileiro, nascido no Estado de São Paulo" contactou-me pedindo que escrevesse algo sobre o tema da ansiedade.

Não é propriamente um tema diretamente relacionado com a Maçonaria e só marginalmente poderá ser associado a ela - abaixo procurarei mostrar como.. Mas o pedido foi formulado de forma tão simpática e tão eloquentemente fundamentado, que não posso deixar de a ele corresponder.

Vejamos então o que a um maçom se oferece escrever sobre a ansiedade...

A ansiedade não é um defeito - é um estado de espírito que a todos pode acometer - e seguramente que a todos já acometeu. Em bom rigor, tal como o medo é uma arma que a natureza nos confere em prol da nossa preservação e segurança, a ansiedade é uma munição posta à nossa disposição para aguçar o nosso espírito, prepararmo-nos para o que aguardamos que venha aí. Em si mesma, a ansiedade não é boa, nem má - é um facto da vida.

Porém, a ansiedade excessiva ou injustificada, essa sim, é um problema que devemos aprender a ultrapassar e a dominar.

Muitas vezes confunde-se ansiedade com impaciência. São semelhantes - mas diferentes. A impaciência desespera da espera. A ansiedade não decorre propriamente da espera, mas do desejo - ou temor - do que se aguarda que aí venha. Passa por cima da espera para se fixar diretamente no que se aguarda esteja para além dela.

Salvo quando patológica ou injustificada, a ansiedade é natural e boa: prepara-nos para o que aí vem. Sabendo-se que algo de novo (agradável, desagradável, ou simplesmente desconhecido) vai surgir, a ansiedade ajuda-nos a prepararmo-nos. Antevemos o momento feliz ou temido. Imaginamos e antecipamos como podemos reagir.

Muitas vezes também a ansiedade se enlaça e se confunde com o temor do desconhecido. Não se sabe se o que aí vem é bom ou mau, se nos fará felizes ou infelizes, se melhorará as nossas condições ou nos dificultará a vida. Mas uma e outro, ainda que possam coexistir, são diferentes: a ansiedade prepara-nos, alerta-nos; o temor do desconhecido apenas nos paralisa...

Na vida, temos muitas vezes que fazer opções sem que tenhamos todos os dados disponíveis. Temos que assumir riscos. Que, por muito calculados que sejam, continuam a ser riscos... Ainda que as probabilidades de uma opção ter um resultado favorável sejam de 99 %, isso não é propriamente um grande conforto para aquele que acaba por se deparar com a ocorrência do 1 % restante...

Aquele que experiencia alguma ansiedade pelo resultado da sua opção, se for só isso e se for na medida certa, utiliza esse seu estado para se preparar para aproveitar o que de bom ocorra ou para minimizar o que de indesejado suceda. Aquele que se queda pelo temor, pela indecisão, pela paralisia, enquanto não vê o resultado da sua opção, nada está a influenciar no seu destino: limita-se a suportar o que a sorte ou as circunstâncias lhe vierem a colocar no seu caminho.

Também por vezes erradamente se designa por ansiedade o estado em que a pessoa se encontra quando tem de escolher entre duas opções, dois caminhos, duas ações. Isso não é ansiedade - é indecisão. E a indecisão ultrapassa-se... decidindo! Decidindo o melhor possível, em face dos elementos disponíveis. E, uma vez lançados os dados (alea jacta est, frase célebre atribuída a Júlio César), então, sim, pode-se ficar ansioso e porventura será bom que se fique ansioso: a opção foi feita, cumpre-nos prepararmo-nos o melhor possível para a consequência - boa ou má - que resultar da nossa escolha.

Em Maçonaria, aprendemos a gerir e a não confundir a positiva, desde que equilibrada, ansiedade, com a impaciência nem com a indecisão, nem com o temor do desconhecido. E o maçom aprende a fazê-lo... mesmo antes de o ser: o candidato à iniciação tem de aguardar algum tempo, por vezes bastante, outras vezes muito, algumas outras muitíssimo, até saber a decisão sobre a sua candidatura.

Tomada a decisão de pedir a iniciação, já não é a indecisão que o assalta. Não deve ser a impaciência a aguilhoar o seu espírito: não ganha nada com isso, não depende dele... Também não se justifica qualquer temor, embora desconheça o que aí vem - é-lhe garantido que nada do que aí vier porá em causa a sua segurança ou dignidade ou convicções. No entanto, durante todo o tempo de espera, a ansiedade está lá - e é bom que esteja: alerta-o para melhor viver o que virá a viver, desperta-o para melhor aprender o que virá a aprender, prepara-o para melhor fruir o que virá a fruir.

Na Maçonaria, como na vida, a ansiedade não é para ser evitada, nem lamentada: é para ser dominada e aproveitada!

Rui Bandeira

13 fevereiro 2010

Dançar, dançar, dançar...

A vontade de exercer uma atividade, qualquer que seja, se for realmente forte é meio caminho andado para obtenção de exito no exercício dessa mesma atividade.
Nunca tive a mais ténue habilidade para a dança, arte que considero destinada a raros privilegiados da condição humana, mas não perco a visão de uma boa dança sempre que possível.
Sempre me intrigou a capacidade de, através de movimentos do corpo, se ser capaz de contar uma história, ainda que simples.
E algumas não são simples.
É uma maneira superior de transmitir os sentimentos, só acessível realmente, a eleitos.
Este é um pequeníssimo e modestíssimo introito ao videozinho de hoje.
A força interior, o querer, o gostar muito (mas mesmo muito) são capazes de fazer milagres e aqui vai um belo exemplo disso mesmo.



Pronto, tenho que ir fechar a mala para a visita que faremos este fim de semana prolongado aos nossos Irmãos Vienenses (Respeitável Loja Hipokrates)

Bom fim de semana para todos.

JPSetúbal

10 fevereiro 2010

Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198

A Augusta e Respeitável Loja Simbólica Duque de Caxias IX, n.º 2198, ao Oriente de Belém do Pará, filiada no Grande Oriente do Estado do Pará, integrado no Grande Oriente do Brasil, e que trabalha o Rito de York, iniciou, em 23 de julho de 2009, o seu blogue.

Proclamava o seu primeiro texto, à guisa de declaração de princípios:

O nosso blog inicia em fase experimental, de aprendizagem total, na qual esperamos contar com a participação e colaboração efetiva dos valorosos Irmãos do quadro de Obreiros da Loja, bem como, de todos os ilustres Irmãos iniciados na Sublime Ordem, através do e-mail: duque2198@gmail.com.
Assumimos a iniciativa e o desafio de criá-lo com o objetivo de disponibilizar um espaço destinado a divulgação das atividades realizadas em nossa Oficina e para proporcionar a socialização de assuntos voltados ao estudo e a pesquisa da infinita Sabedoria Maçônica, por meio da apresentação de postagens, além da discussão fraterna e do bom debate sobre assuntos relevantes da Maçonaria Universal, sempre com o compromisso de fortalecermos as Colunas e lutarmos pelo engrandecimento da Nação Brasileira, respeitando a legislação Maçônica vigente.


Desde então, mais de ano e meio decorrido, podem os Irmãos daquela ARLS estar tranquilos: o seu blogue atinge em pleno os objetivos pretendidos - e com distinção!

Mais de trezentos textos, informativos, divulgadores, de discussão, de análise, de aprofundamento, ilustram o sucesso do projeto.

Particularmente interessante e informativo é o conjunto de sete textos "Perguntas e respostas da Maçonaria. Esclarecedor - para maçons e para profanos!

Mas não só! Se se consultar, nos marcadores, a entrada "Artigos", somos direcionados para - na data em que escrevo - 28 textos muito interessantes e merecedores de reflexão.

Agrupados sob o título de "Minuto Maçônico", encontramos - para já - 67 textos curtos esclarecendo ou definindo vários conceitos ou termos maçónicos. Só para referir os últimos, ali se fica a saber um pouco mais sobre a régua, o compasso, o cinzel, o que é "a coberto" ou "estar a coberto".

No Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198, parte-se pedra com qualidade e apresenta-se uma bela pedra polida.

Nós, aqui no nosso A Partir Pedra, aprendemos com os nossos Irmãos desta Loja e deste blogue e - procuramos não ser egoístas... - aqui divulgamos, assinalamos e recomendamos mais um blogue maçónico, que merece estar incluído na lista dos favoritos de quem se interessa por esta temática.

Rui Bandeira