15 novembro 2009

O MURO




Festejou-se no dia 10, com toda a pompa e circunstância a chamada “Queda do Muro de Berlim”.
Juntaram-se Presidentes e Primeiros Ministros, fizeram-se discursos, cantou-se vitória sobre o fim da divisão física da Alemanha.
É bom que se lembre o muro de Berlim, o que ele significou enquanto existiu, todos os que morreram por se aproximarem dele na ânsia da fuga a um regime ditatorial, policial, opressor.
É bom que se faça isso.
A memória dos homens é fraca demais e a tendência para o laxismo é constante.
Por isso é bom que se provoquem estas recordações, mesmo que com a pompa e circunstância que, se calhar, seria dispensável.
Quem viveu em Portugal antes de Abril de 1974 sabe interpretar bem o que significou, para os alemães, o derrube do muro de Berlim.

A questão é:
- e será que o muro foi mesmo abaixo ?
- completamente ?

Quem vai à Alemanha e aborda o assunto com alemães (especialmente com os que viviam na parte Ocidental) apercebe-se facilmente que ainda há "muito muro para derrubar".
Não vai ser fácil, não… e já lá vão 20 anos !

Entretanto outras preocupações nos ocorrem ao assistir a estas cerimónias, preocupações que decorrem de ver que vários dos que festejam esta vitória da liberdade estão, eles mesmos, a construir os seus próprios muros de opressão (não há volta a dar, estes muros são e serão, sempre, uma opressão sobre os povos !).

Como Maçons temos a Liberdade como base.
Claro, a Fraternidade e a Igualdade também. É dos livros. Está nas regras básicas.
Quem não aceitar estes princípios não pode ser reconhecido como Maçon.
Os problemas relacionados com a estas três grandezas da natureza humana são problemas maçónicos e, pelo menos como tal, devem constituir uma preocupação de todos nós.
Daí eu vir aqui ao assunto. E venho porque me assaltaram dúvidas relativamente à validade de algumas ações e discursos que foram anunciadas.
Soube-me a muito pouco o que se disse, a quase nada o que se fez e a zero o resultado.

Não ouvi qualquer referência aos outros “muros da vergonha” que se vão construindo por toda a parte.
O Sr. Bill Clinton esteve na cerimónia.
O que disse ele acerca dos muros construídos e em construção na fronteira USA/México, nas fronteiras Israel/Cisjordânia ou Gaza ?
E os restantes Presidentes que compareceram à fotografia que palavras (e já não vou ao ponto de perguntar por ações) tiveram para condenar os muros em Espanha, em Marrocos, na Rússia, entre as Coreias, no Iraque, na Índia, na China, na Brasil entre favelas…, …, …

E muitos, muitos outros !

E mais, e mais importantes.
Os muros invisíveis ao olhar que acabam justificando os anteriores. Quais são ?

O muro da injustiça;
O muro das desigualdades;
O muro da corrupção, dos compadrios;
O muro das vaidades, da arrogância, da desresponsabilização;
O muro do analfabetismo;
O muro da miséria moral e física que anda (?) pelas esquinas, túneis e buracos das grandes cidades;
Os muros… tantos, tantos… tantos são os muros a que nenhum daqueles dirigentes se referiu.

Brindaram a um que está em vias de ir completamente abaixo (dizem que já foi) e não falam naqueles que estão, diariamente, a ser erguidos. Porquê ?

E não há muro que não seja uma prisão !

Esta é, tem que ser, uma preocupação maçónica.

Muitos mais muros da vergonha que poderíamos nomear e que nos rodeiam diariamente, sem que façamos seja o que for para os derrubar. Pelo contrário, até os acrescentamos com “tijolo” da nossa laia.
Sob que direito humano se fazem as coisas assim ?

Meus Amigos, todos estes muros são para derrubar.

Urgentemente. E nós temos responsabilidades nisso.

Não é fácil ? Pois não ! Até é mesmo muito difícil.
Mas se fosse fácil nós não faríamos cá falta nenhuma. Outros tratariam de resolver o problema.
Se cá estamos é porque há dificuldades. E na nossa tarefa de trabalhar a pedra que finalidade mais humana (mais Livre, mais Fraterna, mais Igual) do que esta de abrir horizontes, não fechá-los ?

JPSetúbal

11 novembro 2009

O Símbolo Perdido


O Símbolo Perdido, da autoria de Dan Brown e recentemente publicado, conta uma história que se desenrola em torno da Maçonaria e dos seus símbolos existentes na capital americana.


Desde o megassucesso de O Código Da Vinci que os livros deste autor americano, até aí relativamente desconhecido, são objeto de grande curiosidade por parte do público. Estou em crer que se venderam mais exemplares de livros anteriores ao Código da Vinci (Anjos e Demónios, Fortaleza Digital, A Conspiração) depois da publicação da emblemática novela de aventuras sobre os alegados segredos escondidos na Última Ceia, de Leonardo da Vinci, do que aquando da publicação original dos respetivos volumes...

Hoje por hoje, juntar uma novela de Dan Brown e a temática da Maçonaria é êxito editorial garantido. Os exemplares do livro vendem-se como pãezinhos quentes.

A historieta decorre ao estilo do escritor, em ritmo rápido, de leitura fácil e viciante. Na minha opinião, a trama de O Símbolo Perdido tem uma qualidade superior à de O Código Da Vinci. Este, aliás, pese embora o enorme sucesso que teve, em meu entender não passa de uma cópia da estrutura do anterior Anjos e Demónios. Já O Símbolo Perdido revela uma estrutura narrativa diferente, mas igualmente atrativa, embora não isenta de inconsistências (sem revelar o enredo, para quem ainda não leu, a intervenção da alta funcionária da CIA, que se revela fundamental no desenvolvimento da história, não está logicamente justificada: não se entende como teve ela acesso ao vídeo que a alerta para a "emergência de segurança nacional", que estava guardado no computador portátil do vilão e não fora ainda por este enviado para a Internet, pois o mantinha em rigoroso sigilo até ao momento que projetava ser o adequado...). Mas, inconsistências à parte, é uma história que prende o leitor e se lê com algum agrado.

Dan Brown não é maçom - ele próprio o declarou, nas entrevistas de divulgação e lançamento deste seu livro. No entanto, ressalta do seu livro que simpatiza com os princípios maçónicos e que reconhece valor à instituição. Este seu livro é simpático para a Maçonaria, dando dela uma visão completamente diferente das distorcidas e mentecaptas teorias da conspiração que por aí campeiam.

No entanto, enquanto maçom, entendo que, em relação à Arte Real, o mais importante, neste livro, não é a trama aventurosa da história, nem sequer a visão positiva da Maçonaria que o seu autor dá. Dois outros aspetos captaram a minha atenção e considero relevantes.

O primeiro é o profundo conhecimento que o profano Dan Brown revelou da Maçonaria. Com exceção de uma pequeníssima imprecisão (aliás anotada pelo revisor da edição portuguesa), o que Dan Brown descreve, refere, explica, é basicamente... certo! O que confirma uma tese que há muito venho defendendo: pese embora toda a repetida lengalenga de que a Maçonaria é uma sociedade secreta, pesem embora as numerosas variações sobre o sempre repetido tema do segredo maçónico, tudo o que respeita à Maçonaria está publicado e ao alcance de qualquer interessado em saber, em conhecer, os profundos e excelsos segredos dos maçons. É certo que, como também normalmente refiro, tudo o que está certo encontra-se rodeado de impressionante quantidade de lixo, mentiras e irrelevâncias... É certo que a grande dificuldade está em conseguir distinguir o certo e relevante da fantasia, da invenção, da picuinhice sem interesse nenhum... Mas Dan Brown, ao escrever este livro, provou que um profano estudioso, determinado e dotado de bom senso consegue aceder ao que verdadeiramente é a Maçonaria.

O segundo aspeto que captou a minha atenção é que a trepidante história... acaba para aí umas cinquenta páginas antes do fim do livro! As sortes do vilão, da "emergência de segurança nacional", dos protagonistas, ficam todas reveladas cerca de cinquenta páginas antes do fim do livro.

Pois bem: porventura alguns não concordarão, de todo, comigo (e estarão no seu pleníssimo direito, sem qualquer ponta de vestígio de desapontamento da minha parte) mas, na minha opinião, são estas cerca de cinquenta páginas depois de a aventura acabar que valem a pena! A aventura, o suspense, o ritmo cinematográfico, ficaram para trás, a nossa curiosidade ficou satisfeita e... para quem quiser ler com olhos de ler, quem quiser refletir e não apenas olhar... é nessas cerca de cinquenta páginas que está matéria que merece reflexão. Quem o fizer, quem refletir, quem aprofundar dentro do interior de seus pensamentos e meditação, algumas passagens do que naquelas cerca de cinquenta páginas "sem" ação está, chegará porventura a conclusões inesperadas - ou não... Quiçá cada um chegue a conclusões diferentes do parceiro do lado. Mas talvez deva ser assim mesmo!

Gostei, por isso, de ler O Símbolo Perdido. Não por falar de Maçonaria. Mas por se me ter revelado não ser apenas uma história de aventuras, apta a dar uma adaptação jeitosa para o cinema. Ser também um pouco de alimento para o espírito, de elemento para reflexão. E isso, na minha cartilha, é que define um bom livro!

Rui Bandeira

09 novembro 2009

Você sabia que...

Este "Você sabia que..." vem com um atraso considerável (3 dias !).
Para os que já se habituaram à minha lenga-lenga pr'ó fim de semana terão desta vez um novo paradigma (esta está tão na moda que não resisti... "um novo paradigma"... não digam que não é bonito !) que é uma lenga-lenga prá semana.

Como de costume trata-se de um vídeo/texto enviado por um amigo do tempo dos calções para o qual peço a Vossa paciência para a adaptação à realidade portuguesa.
É da autoria de um brasileiro (escrito em brasilês...) e naturalmente com números e exemplos da realidade brasileira, mas em todo o caso muito interessante.
É a chamada de atenção para uma realidade que ninguém põe em destaque, mesmo constituindo a parametrização de toda a nossa vida próxima futura.

Políticos de todos os setores, técnicos de todas as profissões, população em geral interessada ou distraída, todos... mas todos mesmo passam ao lado das questões que aqui são afloradas.
Uns por desinteresse, outros por desconhecimento puro e simples, mas outros (e não são poucos) por comodismo preferem assobiar para o ar e ir andando como se nada se estivesse a passar no mundo. Mas passa !

Digamos que preferiria oferecer-Vos um tema mais simpático para a semana de trabalho, chuva e frio que aí vem, mas "prontes", sei que é "bué da chato", mas às vezes convém ser assim, "bué da chato".

Como dizia o Zeca... "o que faz falta é avisar a malta " !
Estou a avisar !




Hoje vão votos de boa semana, se possível com pouca chuva, pouco frio e muito trabalho produtivo.

JPSetúbal

04 novembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: conclusão


Feita a viagem pelos caminhos da Lenda do Ofício, com paragens nos vários apeadeiros que o fluir do tempo foi proporcionando, é tempo de fazer o balanço do que se aprendeu com a jornada, recolhendo esses ensinamentos para uso no prosseguimento da exploração da vereda de nossa vida.

Já em vários dos específicos comentários aos diversos trechos da Lenda chamei a atenção para uma das suas caraterísticas: o aparecimento frequente de anacronismos históricos, no entanto explicáveis por refletirem concretizações de arquétipos, personificações de factos praticados por anónimos, reflexos de evoluções coletivas.

Os anacronismos detetados constituem, evidentemente, entorses (ou quiçá mesmo valentes caneladas...) em relação à verdade histórica. É por isso que se trata da Lenda do Ofício, não da História do dito... Mas, se essas entorses existem e são visíveis, pudemos verificar que normalmente corresponderam, porém, a artifícios de narrativa condizentes com o plano de fundo da evolução histórica. Cobriu-se, várias vezes, a nudez forte da Verdade Histórica com o manto diáfano da Fantasia, embelezando, compondo, agrinaldando, imaginando o que mais seco, duro, quiçá desinteressante, ou até não perfeitamente conhecido, realmente terá ocorrido.

Enfim, a Lenda não é, seguramente História, mas reflete-a. A modos que um Romance Histórico. Todos, ao lê-lo, sabemos que não constitui a exata Verdade Histórica, mas com ela se aparenta, dela flui e com ela se relaciona. E, afinal, há horas para tudo: horas para ler e estudar a História pura e dura e horas para ler e apreciar Lendas, Narrativas e Romances, que bem sabemos não corresponderem inteiramente à verdade factual, mas que apreciamos pela acrescida graça e pelo estímulo da nossa fantasia e imaginação. Não sabemos exatamente como as coisas se passavam no lugar X, no tempo Y, com a pessoa Z, mas porventura terá sido assim, nas circunstâncias assado, com a atuação frito e os resultados cozido... Não sabemos se é exatamente correto, mas, pelo menos é mais nutritivo para a nossa Imaginação...

Outra caraterística a realçar na Lenda é a progressiva concretização e focalização que dela decorre. Adverti que, para os maçons operativos medievais, era comum utilizar-se Maçonaria como sinónimo de Geometria, pura ou aplicada em Arquitetura, por si ou concretizada em Construção.

Mas se verificarmos bem, não só o termo Maçonaria é, na Lenda, sucessivamente utilizado com esses significados, como evolui na sua utilização ao longo da mesma, das épocas mais distantes para as mais recentes e à medida que a narrativa se aproxima do lugar da sua criação, a Inglaterra.

É assim que, no início da narrativa, dedicado aos tempos antediluvianos, Maçonaria é sinónimo de Geometria, e assim continua até à narrativa de Euclides. Quando se chega à narrativa da edificação do Templo de Salomão, o termo Maçonaria começa a ser utilizado com o significado de Arquitetura e construção. E, com a entrada da narrativa pela Europa, cada vez mais o termo se refere a Construção, pura e dura e já nem sequer tanto a Arquitetura. Quando a narrativa desagua em Inglaterra, é já, claramente, este o uso do termo, detendo-se então a Lenda na descrição da criação da organização das regras da arte de construir, da organização do agrupamento profissional dos construtores "oficiais", regras e deveres que deviam cumprir.

A Lenda evoluiu da Antiguidade mais longínqua para os tempos mais recentes, com um similar movimento de evolução da utilização do termo Maçonaria do geral para o particular do ofício da construção propriamente dito.

Finalmente, ressalta de toda a narrativa o Orgulho que constituía para os construtores em pedra o estarem integrados num grupo profissional organizado, com regras, com princípios, com conhecimentos recebidos e acrescentados e aperfeiçoados desde tempos imemoriais.

A Lenda do Ofício foi a narrativa de exaltação de uma associação de profissionais e da sua atividade. Com a evolução da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, deixando as Lojas de serem locais de trabalho, ou de regulação do trabalho ou das respetivas regras, e passando a ser locais de convívio fraterno e de trabalho, já não de construção de coisas, mas de construção e aperfeiçoamento dos autores das coisas, de Homens, esse legítimo Orgulho dos maçons operativos não é esquecido.

E a Lenda do Ofício continua a ser lembrada pelos Maçons modernos, especulativos, como narrativa respeitante a um ofício que foi, mas sobretudo como símbolo da evolução humana. Na Lenda fala-se de conhecimentos para construir palácios e templos, castelos e cidades, muralhas e torres. E com ela aprendemos que também similar evolução existiu, ao longo dos tempos, na ética dos Homens, que idênticos princípios de cooperação e organização podem inspirar o trabalho de aperfeiçoamento de cada Homem, que também a construção do Templo dentro de cada um de nós se faz, embora sem pedras nem ferramentas para as aparelhar e pousar, com regras, com o cumprimento dos deveres que aprendemos e apreendemos serem imanentes aos homens justos e leais e de bons costumes.

O Ofício será porventura já de outra natureza; mas a Lenda, essa, permanece e continua a ser motivo de Orgulho para todos nós, maçons, como lembrança do que a Humanidade foi e do que cresceu, e do que evoluiu e esperança do que, melhorando cada um de nós a si próprio, a Humanidade melhorará e evoluirá.

A Cadeia de União entre os maçons é constituída pelos elos existentes em todo o globo, mas vem sendo forjada e aperfeiçoada desde tempos imemoriais - desde os tempos em que analfabetos trabalhadores construíam, por suas mãos, incríveis edifícios, que hoje nos espantam como puderam ser construídos sem os meios técnicos hoje conhecidos.

Nós, os maçons, orgulhamo-nos de descender desses construtores de antanho. De todos, desde os mais sabedores aos mais rudes e incultos.

Rui Bandeira

01 novembro 2009

A Água

Apenas os votos de bom fim de semana, sem mais.

Está tudo aí. É só ver !

JPSetúbal

28 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Athelstan


Chegamos finalmente ao epílogo da Lenda do Ofício. Esta última parte da Lenda tem um fundo histórico há muito conhecido. Registos históricos comprovam que, no tempo do rei saxão Athelstan, foram reguladas por lei as frith-gildan (free guilds em inglês moderno), ou corporações livres de artífices de diversas profissões, entre eles os construtores. Mas, sendo uma construção lendária, a base histórica entrelaça-se com alguma imprecisão, embelezamento, modificação, gerada pela transmissão oral ao longo dos tempos.

Mas, antes do mais, relembremos o último trecho da Lenda do Ofício, que alguns estudiosos maçónicos autonomizam sob a designação de Lenda de York:

Pouco tempo depois da morte de Santo Albano, houve diversas guerras no reino de Inglaterra entre diversas nações, pelo que a boa regra da Maçonaria foi destruída até ao tempo dos dias do Rei Athelstone, que foi um valoroso Rei de Inglaterra e trouxe a esta terra descanso e paz; e construiu muitas grandes obras de Abadias e Torres e muitos outros tipos de edifícios; e gostava muito dos Maçons. E ele tinha um filho chamado Edwin, que gostava dos Maçons muito mais do que o seu pai. E era um grande praticante da Geometria; e dedicou-se muito a falar e a confraternizar com Maçons e a aprender a sua ciência; e depois, pelo amor que dedicava aos Maçons e à ciência, ele foi feito Maçon e obteve do rei seu pai uma carta-patente para realizar todos os anos uma assembleia, onde lhes conviesse, no reino de Inglaterra; e para corrigirem os erros uns dos outros e os atropelos que fossem feitos dentro da ciência. E realizou ele próprio uma Assembleia em York, e estes fez maçons e deu-lhes Deveres e ensinou-lhes as regras e ordenou que esta norma seria seguida para todo o sempre, e guardou então a carta-patente para a conservar e deu ordem para que fosse renovada de rei para rei.
E quando a Assembleia estava reunida, anunciou que todos os Maçons, velhos e novos, que tivessem alguma notícia ou conhecimento dos Deveres ou das regras que foram feitos antes nesta terra, ou em qualquer outra, deveriam deles dar conhecimento. E quando assim se fez, foram encontrados alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas; e o seu propósito foi de reunir todos num único. E fez um livro deles e de como a ciência foi fundada. E ele próprio proclamou e determinou que deveria ser lido ou contado sempre que um Maçon fosse feito, para lhe dar a conhecer os seus Deveres. E desde esse dia até agora as regras dos Maçons mantiveram-se dessa forma, tanto quanto os homens as podem executar. E a partir daí diversas Assembleias tiveram lugar e ordenaram certos Deveres, segundo o melhor juízo dos Mestres e Obreiros.

Que, após o século III, época em que viveu Santo Albano, a Inglaterra foi palco de um largo e persistente período de instabilidade, guerras, invasões, sortidas e ataques, nada propício à arquitetura, atividade mais próspera em tempo de paz do que de guerra, é uma verdade histórica conhecida. Daí que, com acerto, a Lenda refira que a boa regra da maçonaria foi destruída até ao tempo do rei Athelstone.

Athelstone é uma das formas do nome do rei saxão Athelstan, o Glorioso, rei de Inglaterra entre 924 e 939. É considerado o primeiro rei inglês de facto. Estendeu os seus domínios a York e Nortúmbria, a Gales e à Cornualha. Teve várias vitórias militares, inclusivamente sobre os vikings. Não obstante, foi considerado também um hábil diplomata, preferindo, sempre que possível, as alianças à guerra, sobretudo forjadas através de casamentos de várias das suas meias-irmãs. Não se casou e não teve filhos, mas criou como seu filho Haakon, mais tarde rei da Noruega.

Foi um patrono da Arquitetura e da construção, que procurou desenvolver. Foi também um legislador. Legalizou e regulou as corporações profissionais, incluindo a dos construtores.

A referência a Athelstan na Lenda é, portanto, manifestamente tributária da verdade histórica.

Não existem registos históricos da Assembleia de York, mas a sua realização, naquele local e naquele tempo, é plausível, atenta a regulação das corporações profissionais a que este rei procedeu e o facto de efetivamente York ter sido incorporada nos seus domínios. A assembleia de York e a sua importância no estabelecimento das regras de regulação do ofício de construtor é uma forte tradição da Maçonaria Operativa, que tem certamente raiz em evento ou conjunto de eventos efetivamente ocorridos. A ocorrência de assembleia ou assembleias em York parece merecer foros de confiança. Já a época em que tal ocorreu pode ter sido a de Athelstan ou num tempo anterior.

O que nos leva à parte reconhecidamente inexata deste trecho da Lenda: o alegado filho de Athelstan, o Príncipe Edwin.

Já acima foi referido que Athelstan não teve filhos. Mackey sustenta que o Edwin referido na Lenda terá sido o rei desse nome da Nortúmbria, que teve um reinado de dezasseis anos e morreu em 632 - portanto, anterior, em cerca de 300 anos, a Athelstan. Foi o primeiro rei cristão da Nortúmbria e também considerado um patrono da arte da construção.

Mackey explica este desacerto histórico com a existência de duas variantes da Lenda, geograficamente implantadas.

Os maçons operativos do sul de Inglaterra criaram a Lenda atribuindo a Athelstan o mérito do estabelecimento da regulação da construção e, portanto, atribuiram-lhe o restabelecimento da maçonaria em Inglaterra.

A Nortúmbria fica no norte de Inglatrra. Os maçons operativos do Norte de Inglaterra teriam criado a sua própria versão da Lenda, atribuindo esse restabelecimento a Edwin da Nortúmbria - até com a "vantagem" de trezentos anos de avanço...

As duas tradições orais terão coexistido até que as voltas e reviravoltas da transmissão oral terá propiciado a fusão das duas versões, mantendo o Edwin do Norte (e atribuindo-lhe o mérito da Assembleia de York, retirado a Athelstan), mas "fazendo" de Edwin filho (historicamente inexistente) de Athelstan...

Enfim, a Realidade embelezada pela Lenda...

Fontes:

Wikipedia:

Athelstan: http://pt.wikipedia.org/wiki/Athelstane_de_Inglaterra
Edwin: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edu%C3%ADno_da_Nort%C3%BAmbria

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

25 outubro 2009

A hora mudou ! E os homens ?

Pois é, esta coisa das mudanças de hora tem uma influência danada na psique do povo, e eu sou povo sofro enormemente com estas alterações.
Por que raio se hão-de lembrar de mudar a hora para mais cedo se, pouco tempo depois a tornam a mudar para mais tarde ?
Não seria mais sensato deixar os "reloginhos" tal qual e em vez disso dar um geitinho à velocidade da terra ? (ou do Sol como preferissem...)
Parece que não é assim e esta gente prefere as soluções mais complicadas.
Hoje já tive que dar à roda de uma boa dúzia de ponteiros e vários outros ficarão para quando reparar que cheguei com uma hora de avanço à reunião.
Nessa altura ficarei admiradíssimo, procurarei uma boa razão para o atraso dos outros todos e constatarei com o ar inteligente que me caracteriza que afinal não acertei o meu relógio na altura certa.
Paciência... há coisas piores !

Bom, mas pela confusão que estas mudanças me provocam vejam bem com que atraso chego ao blog este fim de semana...

Tenho este texto comigo há muito tempo mas nunca me deu nem para o desenvolver nem para o trazer para o "grupo" dos blogueiros.
Não é novidade. Mais assim ou mais assado é um texto conhecido, mas como estamos em "fim de semana" de mudança de "paradigma" horário resolvi fazer ressaltar a capacidade de "não mudança" do Homo Sapiens Sapiens (apetece-me acrescentar Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens...)

COMO NASCE UM PARADIGMA:
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada. Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto.
Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza que a resposta seria:
-'Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui... '

E agora um videozinho para... atrasar o relógio.


Bom fim de semana e não se esqueçam. A hora mudou... há muitos, muitos anos !

JPSetúbal