07 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: O Templo de Salomão


Do Egito, a Lenda salta para a Judeia e para a construção do Templo de Salomão. Recorde-se o texto da Lenda do Ofício, nesta parte:

Muito depois deste tempo, quando os filhos de Israel chegaram à Terra Prometida, que agora é chamada entre nós de Jerusalém, o rei David iniciou a construção do Templo que é chamado entre nós de Templo de Jerusalém. E o rei David apreciava os maçons e tratava-os bem e dava-lhes bom salário. E deu-lhes os Deveres pela forma que tinha aprendido no Egito, dada por Euclides, e outros deveres de conduta de que ouvirão falar mais tarde. E depois da morte do rei David, Salomão, que era filho de David, concluiu o Templo que o seu pai começara; e mandou vir maçons de diversos países e várias terras; e juntou-os, de forma a ter 40.000 trabalhadores em pedra e chamou-lhes maçons. E escolheu de entre eles 3.000 que determinou fossem Mestres e responsáveis pelo trabalho. E, para além disso, havia um rei de outra região que os homens chamavam Hiram, que era amigo de Salomão e que lhe deu madeira para a sua construção. E ele tinha um filho chamado Aynam (hoje designado por Hiram Abif) e ele era Mestre de Geometria e foi o Mestre Chefe de todos os maçons e foi o Mestre de todos os aparelhamentos e gravações das pedras e de toda a espécie de Maçonaria que dizia respeito ao Templo; e isto é testemunhado pela Bíblia, no Livro dos Reis, capítulo terceiro. E Salomão confirmou, quer os Deveres, quer as disposições que o seu pai tinha dado aos maçons. E assim foi a valiosa ciência da Maçonaria confirmada na terra de Jerusalém e em muitos outros países.

Em primeiro lugar, importa relembrar o anacronismo, já anteriormente denunciado, de na Lenda se datar a construção do Templo de Salomão de muitos anos depois do tempo de Euclides, quando é a inversa que é historicamente verdadeira.

Mas, excetuado este anacronismo, esta passagem da Lenda reproduz, com razoável exatidão, o texto bíblico constante do primeiro Livro dos Reis. Segundo este texto, o Templo de Salomão foi construído ao longo de sete anos (1 Reis 6:37, 38). Em troca de trigo, cevada, azeite e vinho, Hiram, rei de Tiro, forneceu madeira do Líbano e operários especializados em madeira e em pedra. Ao organizar o trabalho, Salomão convocou 30.000 homens de Israel, enviando-os ao Líbano em equipas de 10.000 em cada mês. Convocou 70.000 dos habitantes do país que não eram israelitas, para trabalharem como carregadores, e 80.000 como cortadores (1 Reis 5:15; 9:20, 21; 2 Crónicas 2:2). Como responsáveis pelo serviço, Salomão nomeou 550 homens e, ao que parece, 3.300 como ajudantes. (1 Reis 5:16; 9:22, 23). O templo tinha uma planta muito similar à tenda ou tabernáculo que anteriormente servia de centro da adoração ao Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos, sendo estes, no Templo, maiores do que as do tabernáculo. O Santo tinha 40 côvados (17,8 m) de comprimento, 20 côvados (8,9 m) de largura e 30 côvados (13,4 m) de altura. (1 Reis 6:2) O Santo dos Santos era um cubo de 20 côvados de lado. (1 Reis 6:20; 2 Crónicas 3:8). Os materiais aplicados foram essencialmente a pedra e a madeira. Os pisos foram revestidos a madeira de junípero ou cipreste ( conforme as traduções da Bíblia) e as paredes interiores eram de cedro entalhado com gravuras de querubins, palmeiras e flores. As paredes e o teto eram inteiramente revestidos de ouro. (1 Reis 6:15, 18, 21, 22, 29).

Para a época, era indubitavelmente um Templo imponente, embora não particularmente grande nas suas dimensões. Aliás, a sua edificação não foi especialmente demorada - apenas sete anos.

Escusado é relembrar que, na época da criação da Lenda, o texto bíblico era aceite e considerado como fonte histórica.

Mais uma vez se assume o conceito de Maçonaria como Geometria, em particular Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura. A referência na Lenda ao Templo de Salomão assume particular importância, em virtude de, pela primeira vez, se aludir expressa e especificamente à construção de um edifício de culto religioso, em ligação com a forma de organização dos construtores. A Maçonaria Operativa da Idade Média desenvolveu-se, não totalmente, mas significativamente, mediante a construção de catedrais, por essa Europa fora, pelos pedreiros livres, isto é, os profissionais da construção em pedra (canteiros, mas também escultores, cinzeladores, mestres projetistas, etc..) livres de amarras feudais, com autorização para trabalharem onde muito bem entendessem.

Neste sentido, compreende-se que os maçons operativos tenham dado lugar de destaque ao episódio da construção do Templo de Salomão, na sua Lenda do Ofício. Afinal de contas, aí remonta o primeiro registo, comummente conhecido na sua época, de construção de um edifício de culto...

Embora este episódio tenha um lugar de destaque na Lenda, sendo o último episódio dedicado à Antiguidade, dele se prosseguindo para a introdução da Maçonaria=Geometria=Arquitetura na Europa, desconhece-se ainda hoje, mesmo entre os investigadores maçónicos, a relevância que este episódio da construção do Templo de Salomão efetivamente teve, em termos simbólicos, para a Maçonaria Operativa - se é que alguma de especial teve. Sabe-se apenas que no mais antigo manuscrito maçónico conhecido, o Manuscrito Halliwell, nenhuma referência lhe é feita. Só cerca de um século depois, no Manuscrito Cooke, deparamos com a primeira, e desenvolvida, referência ao Templo de Salomão e à sua inclusão na Lenda do Ofício - situação que se repete nos manuscritos posteriores.

Na Maçonaria Especulativa, desenvolvida e sistematizada a partir dos finais do século XVII, início do século XVIII, o episódio da edificação do Templo de Salomão e a interação de vários personagens nela envolvidos tem um papel simbólico central. Mas esta importância não decorreu necessariamente de desenvolvimento de igual tendência já prosseguida pela Maçonaria Operativa.

Fontes:

Wikipedia:
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

03 outubro 2009

Homenagem aos nossos Irmãos brasileiros

O Brasil (através da cidade do Rio de Janeiro) ganhou a realização dos Jogos Olímpicos 2016.

Por mim fiquei feliz com a decisão principalmente porque teremos uns Jogos Olímpicos falados em português e porque sendo o reconhecimento da capacidade organizativa daqueles nossos Irmãos é, por outro lado, uma ajuda ao desenvolvimento brasileiro.

Além de ser um excelente pretexto para um Carnaval extra, coisa que brasileiro que se preze não perdôa.

Pois é com o sentido de uma homenagem aos nossos Irmãos da outra banda do Atlântico que hoje dedico este espaço.

Vejam só "que coisa mais linda... lá por Ipanema"... e depois uma grande recordação dos "bons velhos tempos" !






Grande abraço a todos, bom fim de semana prolongado e... não deixem roubar a bandeira da Praça do Município... t'á bem ?

JPSetúbal

30 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Euclides

Euclides

Chegados ao Egito, a Lenda do Ofício apresenta uma história tão desenvolvida e pormenorizada que bem merece uma autonomização como a Lenda de Euclides. Relembremo-la, tendo em consideração que imediatamente antes da passagem ora transcrita, se introduziu Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais:

E no seu tempo, sucedeu que o senhor e os nobres do reino tinham tido muitos filhos, alguns das suas mulheres, outros de outras senhoras do reino; porque aquela terra é uma terra quente e propícia a gerar. E eles não tinham encontrado modos de vida satisfatórios para os seus filhos, de que muito gostavam, e então o rei do país convocou um grande Conselho e Parlamento para decidir como poderiam encontrar um modo de vida honesto para os nobres seus filhos, e não conseguiram encontrar boa maneira. E então anunciaram por todo o reino que se houvesse algum homem que os informasse, então deveria comparecer perante eles e seria recompensado pelo seu trabalho, de forma a deixá-lo satisfeito.
Depois que este pregão foi feito, veio então o valoroso Euclides e disse para o rei e todos os seus nobres: "Se me entregarem os vossos filhos para que eu os governe e lhes ensine uma das sete ciências, de forma que eles possam viver honestamente como nobres, deverão dar-me a mim e a eles uma carta-patente, de que eu tenho o poder de lhes determinar o modo como essa ciência deve ser regulada." E o rei e o seu Conselho concederam-lhe isso e selaram a sua carta-patente. Então o valoroso Doutor levou consigo os filhos dos nobres e ensinou-lhes a ciência da aplicação da Geometria ao trabalho de construção em pedra de igrejas, templos, castelos e palácios; e deu-lhes Deveres da seguinte forma.
O primeiro era que deviam ser verdadeiros para o Rei e para o Senhor de quem dependiam. E que deveriam gostar de estar juntos, ser verdadeiros uns com os outros. E que deviam chamar-se uns aos outros Companheiro ou Irmão, não por servo, ou escravo, ou outros nomes tolos. E que deveriam merecer o salário pago pelo Senhor ou pelo Mestre que servissem. E que deveriam designar o mais sábio deles para Mestre do trabalho e não deixar que essa designação fosse afetada por linhagem, riqueza ou favor, pois então o senhor seria mal servido e eles desonrados. E também que deveriam tratar o responsável pelo trabalho por Mestre, durante o tempo em que trabalhassem com ele. E muitos mais deveres de conduta que seria longo contar. E a todos estes Deveres fez jurar um grande juramento que naquele tempo se usava; e determinou que deveriam receber salários razoáveis, com os quais pudessem viver honestamente. E também que deveriam reunir-se anualmente, para discutir como poderiam trabalhar melhor e melhor servir o seu senhor, para ganho dele e deles próprios; e para corrigirem no seu próprio seio aquele que tivesse errado contra a ciência. E assim ali foi implantada a ciência; e o valoroso senhor Euclides deu-lhe o nome de Geometria. E agora é chamada em toda esta terra por Maçonaria.

Euclides viveu entre 360 e 295 antes de Cristo. Terá sido educado em Atenas e frequentado a academia de Platão. Foi convidado por Ptolomeu para integrar o quadro de professores da recém-fundada Academia de Alexandria, a segunda maior cidade egípcia, tornou-se o mais importante autor de matemática da Antiguidade greco-romana e talvez de todos os tempos, com seu monumental Stoichia (Os elementos), uma obra em treze volumes, sendo cinco sobre geometria plana, três sobre números, um sobre a teoria das proporções, um sobre incomensuráveis e os três últimos sobre geometria no espaço. Escrita em grego, a obra cobria toda a aritmética, a álgebra e a geometria conhecidas até então no mundo grego e sistematizava todo o conhecimento geométrico dos antigos. Intercalava os teoremas já conhecidos então com a demonstração de muitos outros, que completavam lacunas e davam coerência e encadeamento lógico ao sistema por ele criado. Após sua primeira edição foi copiado e recopiado inúmeras vezes e, traduzido para o árabe, tornou-se um influente texto científico. Depois da queda do Império Romano, os seus livros foram recuperados para a sociedade europeia pelos estudiosos muçulmanos da Península Ibérica. Escreveu ainda sobre a ótica da visão e sobre astrologia, astronomia, música e mecânica, além de outros livros sobre matemática.

Como se vê desta resenha, a Lenda do Ofício de novo se apropria de um personagem histórico comprovadamente existente, mas coloca-o em tempo e circunstâncias diferentes dos que efetivamente foram os seus. Embora residindo e ensinando no Egito, na academia de Alexandria, Euclides não foi propriamente um mestre da cultura egípcia, antes um produto da cultura helenística.

Também a sua introdução como personagem da Lenda sofre de um duplo anacronismo: por um lado, coloca-o como contemporâneo de Abraão, que o antecedeu em dois milénios; por outro, coloca-o em tempo anterior à edificação do Templo de Salomão, quando viveu em tempo bem posterior, cerca de seiscentos e cinquenta anos depois de tal edificação, e até cerca de dois séculos depois da destruição do dito Templo por Nabucodonosor, em 586 a. C..

Este enxerto da obviamente fantasiosa Lenda de Euclides na Lenda do Ofício ter-se-á devido essencialmente a dois fatores: por um lado, a óbvia importância enquanto Mestre de Geometria de Euclides, bem conhecida na Idade Média, época de criação da Lenda; por outro, o reconhecimento da existência de algumas semelhanças entre o método de ensino existente entre os maçons operativos e o método esotérico de ensino seguido pelos sacerdotes do Antigo Egito.

Assim, mais do que um relato factual historicamente consistente, devemos interpretar esta passagem da Lenda do Ofício como o repositório amalgamado de crenças realmente tidas pelos maçons operativos da Idade Média:

- Que a Geometria é a base da Maçonaria;

- Que Euclides foi o maior dos Mestres de Geometria;

- Que os sacerdotes do Antigo Egito utilizavam um método esotérico de transmissão de conhecimentos similar ao método utilizado pelos maçons operativos.

Neste aspeto, a Lenda simboliza o bem conhecido facto de que, no Antigo Egito, existia uma íntima conexão entre a ciência da Geometria e o sistema religioso daquela sociedade, que esse sistema religioso incluía também a transmissão de instrução científica, de forma secreta e apenas após uma iniciação.

Esta analogia entre o sistema religiosa do Antigo Egito e a maçonaria operativa da Idade Média, mais do que esta enviesada referência na Lenda do Ofício, acabou por, já na fase da Maçonaria especulativa, dar origem a ritos de inspiração egípcia e teorias - a meu ver, fantásticas e inconsequentes - que colocam a origem da Maçonaria nos Antigos Mistérios Egípcios.

Como se vê, os rudes e menos incultos do que se poderia pensar trabalhadores da construção em pedra medievais não eram tão diferentes assim dos seus cultos e conhecedores de história e filosofia sucessores dos séculos XVIII, XIX e XX...

Fontes:

Wikipedia:
Euclides: http://pt.wikipedia.org/wiki/Euclides
Alexandria: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

26 setembro 2009

Uma prenda em período de reflexão

Em fim de semana de reflexão resolvi pôr o correio em dia, passando por todas as mensagens, e são muitas, que o dia a dia me vai obrigando a deixar... para o momento seguinte.
E nesta tarefa salta-me uma historinha preciosa, qual coelho da cartola.

Oferta do meu querido PR (não é "Presidente da República" !) a quem agradeço e que me serve aqui para vos servir um bombom em fim de semana especial.


O carro de um vendedor que viajava pelo interior avariou e conversando com um fazendeiro local eles descobrem que são Irmãos.'.
O vendedor está preocupado porque tem um compromisso importante numa cidade próxima.

- "Não se preocupe, diz o fazendeiro, você pode usar o meu carro. Vou chamar um mecânico amigo e pedir-lhe que conserte o carro enquanto vai ao seu compromisso."

E lá foi o vendedor. Umas duas horas mais tarde ele voltou, mas infelizmente o carro precisava de uma peça que só chegará no dia seguinte.

- "Sem problemas, diz o fazendeiro, use o meu telefone e reprograme o seu primeiro compromisso de amanhã, fique hoje connosco e providenciaremos para que o carro esteja pronto logo cedo!"

A esposa do fazendeiro preparou um jantar maravilhoso e puderam tomar um malte puro no meio de uma conversa agradável.
O vendedor dormiu profundamente e quando acordou lá estava o seu carro, consertado e pronto para seguir.
Após um excelente café da manhã o vendedor agradeceu a ambos a hospitalidade.

Quando seguiam para o carro, o vendedor voltou-se e perguntou:

- "Meu irmão, muito obrigado, mas preciso perguntar-lhe, você ajudou-me porque sou Maçom?"

- "Não, foi a resposta, Eu ajudei-o porque EU sou maçom."


Aqui fica. Talvez esclareça algumas das mentes "cheias de nevoeiro" que andam por aqui.

JPSetúbal/PR

Quem tudo quer...

Queridos Acompanhantes deste espaço num "fim de semana de introspeção política", mesmo falhando a 6ªfeira não deixo passar o voto de um bom fim de semana para todos com um "boneco " que pode servir, também ele, para nos passar a mensagem do "Tio Patinhas", ou simplificando para português corrente "quem tudo quer... tudo perde".

Cada vez mais é preciso poupar, mas como sempre tudo o que é exagerado é... exagero, pois claro !

Divirtam-se e arranjem um cofre grande, sem buracos...



E amanhã votem ! É o vosso dever.

JPSetúbal

23 setembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Abraão

O Sacrifício de Abraão
Capela Palatina do Palazzo dei Normanni, em Palermo

Depois de ter referido o estabelecimento da Maçonaria na Caldeia, a Lenda do Ofício efetua uma rápida transição para a sua introdução no Egito. Fá-lo através da invocação de um personagem que a Bíblia efetivamente regista ter estado no Egito, Abraão, mas, como se verá, com a exteriorização de mais um evidente anacronismo. Recorde-se o texto desta passagem da Lenda do Ofício:

Mais tarde, quando Abraão e Sara, sua mulher, foram para o Egito, ali ele ensinou as sete ciências aos egípcios; e teve um valioso discípulo, chamado Euclides, que aprendeu bem e foi Mestre das sete ciências liberais.

A Bíblia refere Abraão, designadamente no Génesis, como pertencendo à nona geração de Sem, filho de Noé, e ser originário de Ur, cidade do Sul da Mesopotâmia. Relativamente à sua estada no Egito, a Bíblia refere que, tendo ocrrido uma seca e fome em Canaã, onde Abraão se havia estabelecido, este levantou o seu acampamento e rumou ao Egito. Aí, temendo ser morto, em virtude da grande beleza de sua esposa, Sara, combinou com esta que ela se dissesse sua irmã, e não sua cônjuge. O Faraó apaixonou-se pela beleza de Sara e levou-a para o seu palácio. Porém, Deus castigou o Faraó e este, bem mais prudente do que viria a ser o seu sucessor, no tempo de Moisés, mandou chamar Abraão e devolveu-lhe Sara, ordenando que ambos deixassem o país, com todos os seus bens.

Abraão não é referenciado na Bíblia pela sua sabedoria, antes pela sua piedade, crença, obediência a Deus. Exenplo maior disso é o episódio do Sacrifício de Abraão (melhor seria dizer sacrifício de Isaac...), ilustrado pela pintura que acompanha este texto.

Os autores da Lenda foram beber essa reputação de sapiência em Josephus e nas suas Antiguidades. Ali, Josephus escreveu que Abraão foi considerado pelos egípcios um homem muito sábio e que, para além de ter reformado os seus costumes, lhes ensinou aritmética e astronomia.

Esta passagem da Lenda é interessante precisamente por ilustrar diretamente duas das fontes de que os autores medievais da mesma se socorreram, em relação à Antiguidade: A Bíblia e as Antiguidades de Josephus. Outras fontes dos autores da Lenda, em relação à Antiguidade, terão sido também as Etimologias, de Santo Isidoro e o Polychonichon, de Ranulph Higden. Aliás, provavelmente, quer as Antiguidades , quer as Etimologias, terão sido conhecidas em segunda mão, através precisamente das transcrições delas feitas no Polychonichon.

A passagem hoje analisada contem um evidente anacronismo, a alegada contemporaneidade de Abraão e Euclides. Este, na realidade, viveu dois mil anos depois de Abraão!

O anacronismo só se resolve se considerarmos que a relação de Mestre-discípulo invocada pela Lenda não foi uma relação física e contemporânea, mas antes uma relação de influência. Isto é, Euclides, que não foi contemporâneo de Abraão, inspirou-se, recolheu, os ensinamentos deste e desenvolveu, a partir daí, os seus grandes conhecimentos na Ciência da Geometria.

Por este processo, a Lenda transfere, assim, a sua atenção da Caldeia para o Egito e, partindo do personagem bíblico de Abraão, associa-lhe o grande geómetra que foi Euclides e passa seguidamente a narrar a introdução lendária da Geometria, sinónimo de Maçonaria, no Egito.

Mas essa é já matéria para o próximo texto.

Fontes:

Wikipedia:
Abraão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Abra%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

18 setembro 2009

Os velhos são tramados !

Este fim de semana é especialmente dedicado aos queridos leitores velhotes, seja de idade seja da cabeça.

Corre aí à boca cheia que "a tradição já não é o que era".
Pois não ! Confirmo !!!
A tradição brindava os velhos com uma peúguitas de lã e uns chinelos, uma cadeirinha, tabaquito e, algumas vezes uma bagaceirazinha para "a sossega"...
Aos 60 anos era assim... para aqueles para quem era assim, porque para muitos nem peugas, nem pantufas, nem cadeirita, nem nada.


Na verdade não é que na maioria dos casos não continue a ser assim. Continua, mas vão surgindo exceções, cada vez em maior número, cada vez mais... radicais.
Os Velhos perderam o tino e o respeito aos anos que passaram.


Vocês que aos 40 já estão velhos e caducos, todos podres (só não cheiram mal porque o Lux vai disfarçando as coisas...) não se podem mexer porque os "rinzes" não deixam ou porque as "cruzes que têm ali na ilharga" não deixam que se mexam, andam de esguelha, chutam para canto e sei lá mais do que são capazes... ou incapazes !!!

Pois bem, ponham os olhos nestes exemplos e tratem-se... da cabeça, porque o Vosso mal, seus caducos, é a carola.

Agora vou -me sentar um bocadinho. É que o "costrol" dá-me cabo dos nervos !

E "prontes"... bom fim de semana, e "bué" d'alegria !!!!

JPSetúbal