08 junho 2009

Hoje não Há...

... POST - o de hoje apareceu no Sábado.

06 junho 2009

Rui Bandeira

É extremamente grato sentir o carinho e interesse com que os visitantes do Blog reagiram aos posts que o Rui Bandeira colocou nos últimos dias. Creio que podem ser interpretados como um reconhecimento pelo excelente trabalho que ele desenvolveu enquanto participante regular neste espaço.

Dadas as suas novas funções, a sua participação fica desde logo condicionada, já que a opinião que possa emitir, pode ser confundida com a opinião institucional inerente ao cargo que desempenha, o que implica redobrados cuidados.

Creio contudo que a sua participação continua a ser uma mais valia para este Blog, dado o seu profundo conhecimento das temáticas maçónicas e a abordagem didáctica com que as costuma expor. Compete-nos portanto a todos (a nós restantes participantes e aos visitantes) incentivar a sua participação, mais que não seja, como “visitante”.

O Rui envolveu-se intensamente no projecto de reestruturação do Website da GLLP/GLRP e já são visíveis os efeitos do seu trabalho – o Website começa a ter uma dinâmica totalmente diferente o que se reflecte por exemplo no número de visitantes diários. Claramente, começa a valer a pena visitar regularmente este espaço, já que passou a ter uma sucessão de conteúdos muito interessante.

Apoiemos o Rui nesta nova iniciativa. Como?

  • Divulgando o website da GLLP/GLRP,
  • Enviando-lhe sugestões e/ou propostas (nem todas podem ser adoptadas, dado o carácter institucional do Website),
  • Visitando o Website,
  • Deixando-lhe mensagens reconhecendo o excelente trabalho que está a fazer.
Resta-me desejar que um dia, quando as novas funções terminarem, o Rui volte a este espaço, já que é claramente uma peça fundamental do “puzzle”.

05 junho 2009

As novas tecnologias !

O que é que o nosso pombo correio eletrónico me trouxe esta semana para eu postar na 6ªfeira ?
Bom, trouxe-me e eu transporto para divertimento geral, uma bela lição sobre as dificuldades com as "novas tecnologias"... em época de tecnologias velhas.
Como dizia há algum tempo (realmente há muito tempo já) um amigo meu:
- Que sucesso teriam tido os fósforos se tivessem sido inventados depois dos isqueiros...

Neste pequeno vídeo temos também as dificuldades com a introdução das "novas tecnologias" (?) com um pequeníssimo "pormaior". É que a atitude aqui caricaturada não é uma raridade. Pior, é o dia a dia do desenvolvimento e da inovação.
Nada, mas nada mesmo, que seja diferente, tem aceitação pacífica. A imagem dos "Velhos do Restelo" de Camões é tão real e permanente que poderia servir de logotipo a qualquer universidade ou campo de investigação.
Em tempos de dificuldade generalizada (globalizada, é como se diz, não é ?), em que milhões de novos desempregados se juntam aos muitos milhares de famintos que já existiam pelo mundo, nos "Darfur's" que se espalham por África, Ásia, América... e Europa (claro !), temos sempre, teremos sempre, os espíritos que trabalham para a inovação da mesquinhez e para o agravamento do que está, por falta de iniciativa, por teimosia estúpida, por egoísmo patético e sem sentido.

Talvez eu esteja hoje um tanto azedo, mas acontece.
Começo a não ter paciência para aturar a estupidez. Até a minha !

Como numa expressão popular (creio que inventada e divulgada pelo Artur Agostinho) aqui vai o meu desejo para todos:
- Bom fim de semana. "Sorte, saúde e dinheiro para gastos..." Divirtam-se, se puderem.


JPSetúbal

04 junho 2009

Ano 3 - balanço


Afastado do blogue desde que assumi a responsabilidade do sítio na Internet da GLLP/GLRP, fui “intimado” pelo José Ruah a escrever o texto que assinala o terceiro aniversário deste espaço. Faço-o com gosto, aproveitando a oportunidade de escrever o primeiro texto do quarto ano deste blogue.

Procedo, como fiz nos textos com que assinalei os dois primeiros anos do blogue, a um pequeno balanço deste terceiro ano, desde o dia 4 de Junho de 2008 a 3 de Junho de 2009.

365 dias passados, publicámos 283 textos, mais 4,8 % do que no ano anterior. Desses, 154 (54 %; o ano anterior tinham sido 63 %) foram publicados por Rui Bandeira, 53 (19 %; o ano anterior tinham sido 17 %) por José Ruah, 49 (17 %, contra 20 % do ano anterior) por JPSetúbal, 17 (6 %, no seu primeiro ano – e em acumulação com a responsabilidade pelo sítio da Loja Mestre Affonso Domingues, além de ter montado o sítio da GLLP/GLRP, estar a montar o sítio do Arco Real e ter ainda outros projetos na área da Internet em carteira, em preparação ou execução...), por A. Jorge, 5 (2 %, também no seu primeiro ano e vindos da Polónia...) por Jean-Pierre Grassi e os restantes 5 (2 %), distribuídos por três autores convidados (Frederick L. Milliken, 2 textos, Nick Johnson e Michael A. Halleran, 1 texto cada) e por um outro obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues, J. F., que publicou um texto.

O mês em que Rui Bandeira publicou mais textos foi o de outubro de 2008 (22) e aqueles em que menos publicou foram agosto de 2008 e abril e maio de 2009 (0). Quanto a José Ruah, teve o seu pico de produção em Agosto de 2007 (14 textos) e esteve falho de inspiração em outubro de 2008 e janeiro de 2009 (nenhum texto em cada um desses meses). JPSetúbal teve a pena mais ocupada em abril de 2009 (9 textos) e deu-lhe mais descanso em junho de 2008 (nenhum texto). A. Jorge contribuiu mais em setembro de 2008 (5 textos) e não escreveu no blogue, desde que o começou a fazer, em agosto, nos meses de novembro, dezembro, janeiro e março. Finalmente, Jean-Pierre Grassi iniciou colaboração regular de forma fulgurante, com quatro textos em abril, e em maio publicou um texto.

O mês em que foram publicados mais textos foi o de setembro de 2008 (31); aquele em que menos textos foram publicados foi agosto (19).

164 dos textos publicados receberam comentários (58 % do total - mais do que os 55 % do ano anterior). O texto que mais comentários mereceu foi o de 25 de março intitulado "Liberdade – um ponto de vista de um profano" (24 comentários).

Até ao final do dia de ontem, recebemos 157.335 visitas, pelo que, descontando as 79.519 visitas recebidas nos dois primeiros anos, registámos neste terceiro ano de publicação do blogue, o interessante número de 77.816 visitas - um aumento de 47,5 % em relação ao ano anterior! -, com o pico no mês de março (8.298). Acresce que temos presentemente 159 inscritos para receberem mensagens de correio eletrónico com os textos publicados no blogue.

No terceiro ano do blogue, 75 % das visitas chegaram do Brasil. De Portugal registámos 20 % do total. 3 % das visitas foram oriundas dos Estados Unidos. Os restantes 2 % distribuíram-se pelos restantes países de onde recebemos visitas. O top -25 completa-se, por ordem descendente do número destas, com Itália, França, Suíça, Polónia, Japão, México, Grã-Bretanha, Bélgica, Grécia, Alemanha, Canadá, Moçambique, Argentina, Holanda, Uruguai, Colômbia, Austrália, Chile, Luxemburgo, Dinamarca, Espanha e Noruega.

Os três textos directamente mais vezes acedidos neste ano foram O sítio das tatuagens maçónicas , Cinco motivos para NÃO SER maçon e O mundo de Cláudia .

Os três marcadores mais consultados foram maçonaria, Acácia e aprendiz.

As três palavras-chave que mais visitantes trouxeram ao blogue foram "partir pedra", "como entrar na maçonaria" e "gomes freire de andrade".

Estes dados continuam a ser muito agradáveis. A todos os que nos lêem o nosso Bem Hajam. A equipa responsável pelo A Partir Pedra procurará, no quarto ano do blogue, continuar a merecer o vosso interesse.

Rui Bandeira

03 junho 2009

Da Loja - Capitulo II


Aproveitando uma questão posta por um dos leitores habituais deste espaço, relativa à numeração das Lojas, aproveito para mais um post sobre as Lojas.

Confesso aos leitores que não pesquisei sobre o que acontece na generalidade das Grandes Lojas, e por isso aqui vos deixo com o que penso ser o critério mais lógico.

Por deformação profissional, acredito que numa base de dados uma vez criado um número de ordem, este ficará indefinidamente associado à informação original, e se por acaso foi criado por erro (repetição de nome - vulgar por exemplo na saúde mas não vulgar em Maçonaria) então deverá ser queimado.

A cada Loja é atribuído um número, que conjuntamente com o nome distintivo escolhido e com o Oriente de reunião completam a identificação da mesma.

Os números são sequenciais e crescentes e acompanham a Loja do início ao fim.

Quero com isto dizer que não faz, para mim, qualquer sentido o aproveitamento do número de uma Loja que tenha abatido colunas no sentido de o atribuir a outra.

Uma Loja é um projecto de actuação. Que sentido faria a reatribuição do mesmo numero a uma Loja diferente com um projecto diferente.

Uma Grande Loja constrói a sua história, e esta é feita também de insucessos. Insucessos como sejam o desaparecimento de Lojas.

Do ponto de vista histórico há que manter uma certa coerência e logo a necessidade de manter inalterável o registo da existência em determinado momento de uma determinada Loja.

Do ponto de vista prático, quando vemos o número da Loja podemos perceber se ela é recente ou não pelo “tamanho” do mesmo. Ora se fizermos reaproveitamentos isto deixa de ser possível.

Indo um pouco mais fundo, creio que uma vez que a uma Loja abata colunas, elas não devem mais ser reerguidas pois o projecto não é seguramente o mesmo, os actores são outros, etc.

Por tudo isto é minha convicção que os números de ordem das Lojas não deverão nunca ser reutilizados.
José Ruah

02 junho 2009

Da Regularidade

No sitio( como o Rui Bandeira gosta de Dizer) da GLLP publicou o Grande Correio Mor a sua nota do mês de Junho.
Dado o tema que aborda e tendo em conta também os textos trazidos aqui a semana passada penso que faz todo o sentido publicar aqui, também, esta nota.


"
Não é maçon quem quer. Não é por alguém se proclamar maçon regular que efetivamente o é. Não é por uma organização se arrogar de integrar a Maçonaria que na realidade nela se integra. Não é por uma organização se pretender ou anunciar ser regular que realmente o é.

Um maçon deve ser reconhecido como tal por seus Irmãos - os demais maçons. Um maçon é maçon regular se assim for reconhecido pelos maçons regulares. Uma Obediência, uma Grande Loja ou um Grande Oriente, é regular se como tal for reconhecida pelas Potências regulares da Maçonaria.

O ato que identifica, aceita, proclama, uma Grande Loja ou um Grande Oriente como regular é o Reconhecimento.

Alguns - geralmente aqueles que não são reconhecidos como regulares ou que se integram em organizações que não são reconhecidas como Obediências Maçónicas Regulares - por vezes clamam que o reconhecimento é um mal, uma inutilidade, uma burocracia, uma forma de algumas Potências se arrogarem poder que não têm ou não deviam ter, porque - bradam esses - ser maçon é ou deveria ser um estado de espírito, uma postura ética, e tal seria do foro íntimo de cada um. e como cada um é livre de se associar a quem quiser, como quiser, quando quiser, todas as organizações que se reclamam de maçónicas deveriam como tal ser aceites.

Convém este raciocínio a quem não é reconhecido maçon regular ou às organizações que não são aceites como regulares...

Mas a Regularidade não é uma palavra nem um conceito oco. A Maçonaria regular é uma organização iniciática que segue princípios estritos - e que devem ser escrupulosamente seguidos. Ninguém é obrigado a ser maçon regular. Mas quem o quiser ser tem de seguir e praticar os Princípios da Regularidade - e fazê-lo de forma inequívoca, de forma a que os demais maçons regulares... reconheçam que assim é!

A Maçonaria Regular é o modelo original, instituído desde tempos imemoriais e organizado na sua forma moderna desde o início do século XVIII. É o produto genuíno. Aquele por que as imitações aspiram a ser tomadas. As imitações por vezes arrogam-se de serem o produto genuíno ou, pelo menos, de serem como o produto genuíno. Mas não o são! Daí que as Grandes Lojas e Grandes Orientes efetivamente seguindo escrupulosamente os princípios da Maçonaria Regular tenham que garantir que só quem cumpra essas regras seja aceite no honroso grupo daqueles que são reconhecidos pelos seus pares como regulares.

Ser maçon regular é difícil. Ser reconhecido como maçon regular implica o contínuo e incansável cumprimento das regras da regularidade, sempre, em todos os momentos e circunstâncias. E sujeitar-se ao escrutínio dos seus pares quanto a esse contínuo e efetivo cumprimento.

Daí que não seja regular quem se afirma como tal, mas apenas quem é reconhecido como tal pelos maçons e pelas Obediências regulares. Daí a necessidade de regras, de princípios de reconhecimento. Daí a imprescindibilidade do Reconhecimento - por muito que isso desagrade a quem não é reconhecido como maçon regular!

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é a única Obediência maçónica portuguesa reconhecida como regular pela Maçonaria Regular Universal. Pelas sete partidas do Mundo, por quase duzentos Grandes Orientes e Grandes Lojas. E integra-se de pleno direito e de corpo inteiro nesse restrito e honroso grupo das Potências Regulares. E ela própria reconhece como regulares perto de duzentas Obediências Regulares sedeadas nas sete partidas do Mundo.

Na parte do sítio dedicada ao Reconhecimento divulgam-se os princípios universalmente seguidos para que uma Potência Maçónica seja reconhecida pelas demais como Regular e a lista das Grandes Lojas e dos Grandes Orientes que reconhecem a GLLP/GLRP e são por esta reconhecidos como Regulares.

Rui Bandeira - Grande Correio Mor - sitio da GLLP www.gllp.pt "


Editado por
José Ruah

01 junho 2009

+ Lusofonia ...

Já confessei aqui (e noutros locais...) que sou um apanhadinho por África.
Pela África continental tanto como pela insular.


Hoje dei de caras com um artigo escrito por pessoal amigo e fixe de Cabo Verde, e embora não tenha qualquer relação direta com Maçonaria não deixa de ter o maior interesse para nós (na minha modestíssima opinião) na medida em que tudo o que significa relacionamento com "portugueses de outras nacionalidades", o seu bem-estar e a convivência fraternal que é mantida tem o maior significado para nós.
Ao fim e ao cabo falamos de uma outra "Irmandade", provavelmente não tão vasta, mas certamente com laços universais também.

E Cabo Verde faz bem a transição entre a África profunda e a Europa. Nas suas cidades espalhadas pelas ilhas Cabo-Verdeanas encontramos a África mais tipicamente africana para logo depois, é só saltar de ilha, entrarmos em cidade que só não está na Europa porque o Atlântico se meteu de permeio.

Mas o nacionalismo sentido dos Cabo-Verdianos não interfere, em nada, com o amor por Portugal e pelos portugueses. Pelo menos no que se refere aqueles que eu conheço.
Transporto então para aqui um artigo publicado no "Expresso das Ilhas" de Cabo Verde referente a um encontro que aconteceu no Porto.

A «constituição da diáspora», a «cidadania democrática», o associativismo emigrante, o semipresidencialismo fraco e a participação política dos não residentes: a propósito de uma agradável estada na Invicta

1. Voltamos a um tema que, há cerca de mês e meio, mereceu a nossa atenção neste mesmo espaço: o da participação na vida do país de origem das nossas comunidades emigradas ou, de uma forma geral, dos nacionais não residentes. Fazemo-lo depois de uma experiência muito gratificante num encontro com cabo-verdianos na cidade do Porto, a convite de uma muito empreendedora Associação cabo-verdiana do Norte de Portugal, dirigida por Martinho Ramos.
Desde logo, surpreenderam-nos a capacidade organizativa e de mobilização da Associação – com o apoio de outros grupos, como o Clube dos Estudantes Africanos - , a par de impressionantes vitalidade e vontade de participar nos assuntos que dizem respeito ao país de origem. O que favorece uma forte ligação a Cabo Verde, aos seus problemas de desenvolvimento, à actividade das instituições e responsáveis políticos, às minudências do viver crioulo nas ilhas, sem esquecer – o que é deveras expressão inequívoca de uma alma cabo-verdiana imensa, de uma comum mátria quiçá congenitamente (ou quase) avessa a amarras territoriais – uma funda e, portanto, indelével marca cultural autónoma.

2. Para além de ilustres convidados da comunidade académica do Porto e de autoridades municipais e consulares (estas, em representação dos países africanos de língua portuguesa), uma plateia constituída por cerca de duas centenas de estudantes, dirigentes associativos, académicos e quadros superiores originários de Cabo Verde pôde dialogar connosco sobre a temática que nos foi sugerido abordar, qual seja a do quadro constitucional das comunidades no exterior, em particular no que toca à participação política em Cabo Verde.

3. Quadro constitucional – o nosso -, diga-se, bem mais tributário, na regulação que faz, de um país de diásporas, do que muitos outros países de emigração ( por exemplo, Portugal), atravessado por uma concepção abrangente e alargada de cidadania, que parece até normativizar o que IOLANDA ÉVORA chamou a criação de «metáforas nacionais», através da constituição de uma cultura nacional sem fronteiras e de uma identidade cultural como sinónimo de identidade nacional [«… Na formação de um Estado-nação para além das fronteiras territoriais, procura-se o reforço do prolongamento dos elos entre o «eu» do emigrante e a nação num espaço mais alargado do que aquele fornecido pelos limites insulares; torna-se necessário garantir o duplo reconhecimento entre emigrantes/imigrantes e o Estado cabo-verdiano…»].
Assim se explica que, por exemplo, se tenha constitucionalizado a participação dos não residentes nas eleições legislativas e presidenciais; que os cidadãos cabo-verdianos havidos também como cidadãos de outros Estados não percam, por esse facto, a capacidade eleitoral activa [ como diz um reputado jurista luso, OLIVEIRA ASCENSÃO, o Estado de origem não é prejudicado pelo facto de os seus nacionais exercerem direitos políticos no Estado de destino. Pelo contrário, a duplicação de direitos é a projecção natural da dupla integração em que os emigrantes se encontram»].
Poderia, assim, dizer-se, seguramente com alguma propriedade, que uma tal evolução (da cidadania, do seu teor ou exigência) corresponde de alguma forma à evolução da visão do Direito, do Estado e da Constituição que vai, no nosso caso, do nacionalismo revolucionário à irrupção da democracia e no que se lhe segue. De uma cidadania, ao fim e ao cabo, acantonada numa dimensão jurídico-formal e consubstanciada numa ideia de pertença a um estado soberano e pela via do substrato político-ideológico daquele, a uma determinada perspectiva de identidade, melhor, leitura de «identidade» nacional (uma nação soberana com um destino ligado à África) a uma dimensão cidadã que acentua a componente individualista-liberal de matriz setecentista e, sobremaneira, a de participação. Diríamos, uma noção de cidadania que afina pelo diapasão do cosmopolitismo, que, designadamente, permite a compatibilização do ser cabo-verdiano com a titularidade de múltiplas nacionalidades.

4. Falou-se (e discutiu-se) sobre a dimensão da participação dos não residentes nas eleições nacionais em Cabo Verde, das dificuldades e dos condicionalismos a uma mais forte participação, verificando-se – se compararmos as eleições e 2001 e as de 2006, seja nas legislativas, seja nas presidenciais – um crescimento de recenseados e de votantes, em números absolutos, mas igualmente um aumento da abstenção
[1]. Falou-se (e discutiu-se) sobre a revisão constitucional em curso, particularmente no que se refere à diáspora, salientando-se a possibilidade de remoção (o que mereceu o nosso acordo, aliás, vindo já de alguns anos e manifestado em escritos diversos) ou não da regra constitucional vigente que limita apenas[2] – numa fórmula discutível do ponto de vista do princípio da igualdade do voto – o impacto do voto dos emigrantes, desde que ultrapassem um quinto dos votos apurados no território nacional (art.º112.º, n.º 2).

5. Abordou-se, de forma particular, a participação nas eleições presidenciais, salientando-se o facto de nenhuma outra eleição justificar tanto a participação de todos os cidadãos, tendo sobremaneira em consideração o sistema de governo vigente (o famigerado semipresidencialismo fraco, que, por sinal, vimos advogando, de forma notória e convicta, inclusivamente em escritos de cariz académico, para quem esteja atento e não tenha a memória enfraquecida ou dominada por fantasmas, desde os primeiros momentos da Constituinte, em 1992), os poderes presidenciais e as funções essenciais de representação, de unidade e de influência política e moral que cabem ao Chefe de Estado, pois fica irremediavelmente mitigado o argumento segundo o qual se corria o «risco» de os não residentes decidirem a sorte do país e não sofrerem as consequências das opções de política adoptadas («não parece justo que sejam pessoas nessas condições – que directamente não sofrerão as consequências da escolha – a determiná-la, impondo-a aos cidadãos residentes no país, esses, sim, directamente afectados por ela» - diz-se).

5. Falou-se (e discutiu-se), enfim, sobre uma hipotética (futura) participação em eleições municipais, na integração social e cultural nos países de residência, a dimensão, a natureza e a suficiência (ou não) das instituições existentes – ao nível do Estado e da administração pública cabo-verdiana, incluindo das que estão sediadas nos estados de acolhimento – e até das vantagens da participação política nos países de acolhimento. Falou-se e discutiu-se com interesse vivo, com paixão muitas vezes, amiúde na base de pressupostos indemonstrados ou falsos, mas, diga-se também, com elevação e respeito pela diferença (não é assim, Silas Leite e Iolando?).

6. Concluiu-se que, se somos realmente diáspora, temos de ser uma diáspora de cidadãos.
Rematámos que (nosso entendimento) o quadro de participação política deve apenas estar condicionado pela regra da incompatibilidade com a ausência do território nacional. Mas a exigência de realização de uma diáspora de cidadãos, a imposição (constitucionalizada) de uma noção de cidadania que não tem como critério as fronteiras físicas do Estado mas que ainda se mantém e alarga aos que mantêm até outra nacionalidade (a do estado de residência) – o «re-significar o ser cabo–verdiano» (IOLANDA ÉVORA) - implica que seja excepção o limite à participação e, não, a regra. Tudo deve ser, pois, feito, para que se reduzam as dificuldades de realização dos princípios fundamentais de um processo eleitoral genuíno, transparente e justo, de forma a garantir, nomeadamente, a seriedade do voto.

7. Bem, houve depois o porto de honra, o convívio generalizado, as perguntas menos discretas, as respostas diplomáticas por vezes, as confidências e as queixas, as mantenhas e a sessão das batucadeiras-estudantes a criar um ambiente de comunhão e de festa, a desaguar no jantar e sarau musical em Gondomar, na demonstração da capacidade de intervenção e de diplomacia dos nosso anfitriões, o Martin, o Keita, o Marco, o Garcia, a Betânia, a Edna, o Mariano, o Caló, a Filomena Paiva e tantos outros que agora recordo com amizade e a quem dedico esta crónica singela e prazenteira.

PS: Meu caro Ludgero, essa cuidada e singelíssima arrumação que fez da direita e da esquerda, francamente… achei piada. Mas fica para depois, que a redacção já não espera mais.jcafa@yahoo.com/jcfonseca@cvtelecom.cv

[1] Nas legislativas de 22 de Janeiro de 2006, num horizonte de 51.602 eleitores (muito longe da realidade demográfica da nossa emigração - 15,97% do total de eleitores), só exerceram o seu direito de voto 11.270 eleitores, o que equivale a uma taxa de abstenção de 78,16%, superior à de 14 de Janeiro de 2001 que era de 73,01% (No total de 28.004 eleitores só votaram 7558). Nas Presidenciais de 12 de Fevereiro de 2006, num total de 51.534 eleitores, votaram 11.344, correspondendo a 77,99% de abstenção, quando em 2001 ela tinha sido de 67,3% (No total de 28.004 eleitores votaram 9157).
[2] Ela não condiciona a participação dos emigrantes nas eleições presidenciais, como o faz, por exemplo, a Constituição portuguesa segundo a qual: «a lei regula… devendo ter em conta a existência de laços de efectiva ligação à comunidade nacional». A ideia de «comunidade nacional», como é formulada na CRP, não é a histórica e culturalmente ligada à existência da diáspora cabo-verdiana; a CRCV parece sufragar não uma noção territorial mas cultural de comunidade nacional.

Agradeço ao "Djibla", Amigão, cidadão cabo-verdiano, ex-campião nacional (português) de ténis de mesa, que me recebeu como um príncipe quando o visitei, as notícias que me vai mandando de S.Vicente.

Aquela "Baía das Gatas"... aquela "Baía das Gatas" é um pedaço único de mundo !!!

Mas não está só, não... Parece contradição mas não é, há por lá mais... pedaços únicos de mundo. Eu vi !

JPSetúbal