07 março 2008

Grão-Mestre da Gran Logia de la Republica de Venezuela assassinado

Dá-se conhecimento a todas as Lojas sob a jurisdição da Gran Logia de la Republica de Venezuela que passou ao Oriente Eterno o Muito Respeitável Grão-Mestre, Querido Irmão FRANCISCO PEREIRO LIZ, da Muito Respeitável Gran Logia de la Republica de Venezuela, que será velado sexta-feira 7 de Março no Grande Salão da funerária ABADIA IMPERIAL, Avenida Bolívar Norte, frente à Reitoria da Universidade de Carabobo. Honras fúnebres no sábado, 8 de Março, às 9 horas.

Este singelo texto, logo abaixo da imagem que também encima este artigo, é a sóbria referência que podemos ler no sítio da Gran Logia de la Republica de Venezuela ao falecimento do seu Grão-Mestre.

Chris Hodapp, no seu blogue Freemasons for Dummies, louvando-se em informações obtidas através do blogue Francmasoneria Universal e de informação à imprensa da Grande Loja de Washington DC, dá mais informações: o Muito Respeitável Irmão Francisco Pereiro Liz foi assassinado no decurso de um assalto e de uma tentativa de rapto. O Muito Respeitável Grão-Mestre da Gran Logia de la Republica de Venezuela era proprietário de uma plantação de café e o homicídio ocorreu na sua propriedade, perto de Barqisimeto.

Uma morte violenta é sempre de deplorar. Curvamo-nos perante a dor dos familiares do Muito Respeitável Irmão Francisco Pereiro Liz. Manifestamos a nossa solidariedade com os Irmãos da Gran Logia de la Republica de Venezuela. Para o nosso Irmão, a meia-noite chegou inesperadamente. Seus artefactos de construtor foram precipitadamente pousados. Mas os planos que traçou na sua prancha ajudarão a guiar os trabalhos de seus Irmãos. Quando o seu nome for chamado, entre nós haverá sempre uma resposta de "Presente!". A Cadeia de União violentamente quebrada será imediatamente reconstituída, com o firme propósito de levar à prática os princípios por que se guiou. E esta é a melhor homenagem que se lhe pode prestar!

Rui Bandeira

06 março 2008

Caldeirada (poluição)

Há tempos escrevi uma série de artigos sobre Maçonaria e Ambiente. Dois conceitos que aparentemente nada têm a ver um com o outro. Procurei mostrara alguns pontos de contacto possíveis. Hoje, numa escala bem mais ligeira, proponho-me demonstrar uma ligação ainda mais difícil de conceber: FADO E MEIO AMBIENTE!

A Antena 1 apresenta, um pouco antes das 13 horas, de segunda a sexta-feira, uma rubrica que genericamente se intitula Alma lusa. Nela, é transmitido, após um breve comentário do autor da rubrica, um fado - o género musical que o autor da rubrica entende (e eu concordo!) mais bem retratar a alma da lusa gente. Há dias, foi transmitido um fado, cantado pela grande Amália Rodrigues, que foi editado originalmente em 1977 e se encontra integrado em algumas colectâneas de fados por ela cantados.

Ora vejam lá como a preocupação pela conservação do Meio Ambiente e pela acção depredatória do mesmo pelo Homem também pode ser objecto de um Fado. Da autoria de Alberto Janes (autor também do muito mais conhecido fado "Foi Deus"), apreciem então a letra deste

CALDEIRADA (POLUIÇÃO)

Em vésperas de caldeirada, o outro dia,
Já que o peixe estava todo reunido,
Teve o guraz a ideia de falar à assembleia,
No que foi muito aplaudido

Camaradas: principia a ordem do dia!
É tudo aquilo que for poluição,
Porque o homem, que é um tipo cabeçudo,
Resolveu destruir tudo, pois então!

E com tal habilidade e intensidade
Nas fulguranças do génio,
Que transforma a água pura numa espécie de mistura,
Que nem tem oxigénio

E diz ele que é o rei da criação!
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser!
Mas a minha opinião, diz o pargo capatão,
Gostava de lha dizer!

Pois se a gente até se afoga!
Grita a moga, por o homem ter estragado o ambiente!
Dar cabo da criação, esse pimpão,
Isso não é decente!

Diz do seu lugar: tá mal!, o carapau,
Porque, por estes caminhos,
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos,
Assim como “jaquinzinhos”

Diz então o camarão, a certa altura:
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação,
Você nem quer refilar?

Se quer morrer, diz a lula toda fula,
Com a mania da cerveja e dos cafézes,
Morra lá à sua vontade, que assim seja!,
Para agradar aos fregueses!

Diz nessa altura a sardinha prá taínha:
Sabe a última do dia? A pescadinha, já louca,
Meteu o rabo na boca,
O que é uma porcaria!

Peço a palavra! gritou o caranguejo,
Eu, que tenho por mania observar,
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar

Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele é monopólio.
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!

A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio.
Se um dia lhe deito o dente
Pago tudo de repente ou eu não seja crustáceo!

É um tipo irresponsável, grita o sável,
O homem que tal aquele!
Vai a proposta prá mesa: ou respeita a natureza,
Ou vamos todos a ele!

A preocupação com a conservação do meio ambiente não é de hoje. Há trinta anos já havia - imagine-se! - um fado que chamava a atenção para o tema. Quem disse que a alma lusa só acorda para os problemas tarde e a más horas?

Rui Bandeira

05 março 2008

Reintegração do Companheiro (III)


O novo Companheiro não necessita de se integrar no grupo. Essa tarefa já deverá estar assegurada e concluída. Mas deve reintegrar-se nele, à luz do seu novo estatuto, do grau a que ascendeu. Três atitudes deve ter como prioritárias: diligência, disponibilidade e independência.

Diligência para efectuar os novos trabalhos que lhe são pedidos, sem deixar de efectuar os trabalhos que aprendeu necessários enquanto Aprendiz. Diligência para conjugar o estudo do que está em cima com o do que está em baixo. Diligência para progressivamente se libertar da orientação que lhe é proporcionada e começar caminhando por seus próprios passos, seguindo seu próprio rumo, perscrutando seu próprio horizonte. Afinal de contas, um Companheiro vem de Aprendiz... e vai para Mestre!

Disponibilidade para efectuar tarefas em Loja e fora de Loja, quer rituais, quer na organização e execução de tarefas integradas nos objectivos e eventos a que o grupo se dedica. Na Loja Mestre Affonso Domingues, é comum aproveitar as oportunidades que surgem para atribuir a um ou dois Companheiros, funções rituais de menor exigência, em sessões mais calmas. Pode designar-se um Companheiro para assegurar o ofício de Guarda Interno numa sessão, ou atribuir-lhe o exercício da função de Experto em sessão em que não ocorra nenhuma Iniciação, ou ainda confiar-se-lhe um dia a tarefa de fazer circular o Saco das Propostas e o Tronco da Viúva. Tudo tarefas que os Mestres sabem serem de fácil execução... depois de se terem executado. O Companheiro de agora vai ser Mestre daqui a uns tempos. Como Mestre, vai ser designado para exercer ofícios. Deve, portanto, ser-lhe dada a possibilidade de sentir o peso dos objectos cujo uso faz parte das funções de Guarda Interno ou de Experto, de executar movimentação em Loja, de assumir, ainda que por breves momentos, responsabilidades em Loja. Não é nada do outro mundo, mas serve para desinibir, para treinar, também para incentivar. Também fora de sessão o Companheiro pode e deve mostrar a sua disponibilidade perante o grupo, colaborando nas organizações da Loja. Na Loja mestre Affonso Domingues, por rotina, quando se designa um grupo de Irmãos para organizar um qualquer evento, assegurar uma qualquer tarefa, inclui-se sempre nesse grupo, pelo menos, um Companheiro. Finalmente, disponibilidade para partilhar o que sabe e o que aprende com seus Irmãos Aprendizes, com os demais Companheiros e com os Mestres que, sendo-o, não são - nem por sombras... - omniscientes. O Companheiro trabalha no concreto, nas artes, nas ciências, em tudo o que respeita ao Homem. Muitas vezes, é um profundo conhecedor da sua área de actividade ou de estudo. O Companheiro já não é só Aprendiz, nem é ainda Mestre. Mas, estando a meio caminho, deve ter a noção de que já não se dedica apenas a receber e a estudar; também, naquilo que sabe, pode já transmitir, ajudar, dar. Enquanto Aprendiz, recebe do grupo; sendo Companheiro, continua a receber, mas também já algo pode dar.

Finalmente, pede-se ao Companheiro independência. Independência de pensamento, que deve ser crítico. Independência enquanto postura. Independência na execução das orientações recebidas. O Companheiro está numa fase de transição. Já não se limita a aprender a fazer. Já faz. Embora ainda deva executar os planos traçados pelos Mestres, a forma como procede a essa execução já deve ser dele, ao seu jeito, segundo as suas próprias capacidades e escolhas.

O grau de Companheiro é também um grau de transição. De assunção de novas responsabilidades, de utilização das capacidades adquiridas. Embora ainda sob a direcção dos Mestres, o Companheiro vai ganhando progressiva autonomia, vai alargando o seu olhar de si para o grupo e as suas necessidades e capacidades e potencialidades. E vai começando a analisar. O Companheiro está aprendendo a ser Mestre. De si próprio e em conjunção com os demais. Está em busca do objectivo de se poder legitimamente considerar um homem pleno, conhecendo todos os seus atributos e capacidades físicos, mentais, morais e espirituais.

Está, no fundo, a prosseguir normalmente o seu caminho. Aquele que todos os maçons percorrem, cada um chegando ao destino a que chegar.

Rui Bandeira

04 março 2008

Reintegração do Companheiro (II)


Por muito que se precise que o trabalho de um maçon é essencialmente individual, não podemos esquecer que o que diferencia o método maçónico das demais formas de aquisição de conhecimentos, progressão e aperfeiçoamento é que esse trabalho individual se processa integrado num grupo heterogéneo, interagindo reciprocamente cada um dos indivíduos com o grupo. A reorientação do trabalho do maçon que ascende ao grau de Companheiro deve, pois, ser auxiliada pelo grupo, pela Loja e, especificamente, pelos Mestres da Loja. Três aspectos essenciais devem ser tidos em conta.

Em primeiro lugar, importa ter presente que, para que o Companheiro possa harmoniosamente dedicar-se ao específico trabalho do seu grau há que lhe proporcionar condições para tal. Ou seja, há que prever, calendarizar e levar a cabo sessões rituais especificamente destinadas ao trabalho do segundo grau, há que propiciar o efectivo funcionamento da Oficina de Companheiros. Nessas sessões, para além da abertura e encerramento dos trabalhos da Oficina segundo o ritual de Companheiro, devem ser apresentadas e debatidas pranchas respeitantes aos temas do grau, isto é, respeitantes ao Homem, às Artes e Ciências. As possibilidades e a variedade são obviamente imensas. Permite-se e propicia-se, assim, que o trabalho e o estudo dos assuntos respeitantes ao grau sejam colectivamente assegurados e não apenas individual e solitariamente cometidos ao Companheiro.

Neste aspecto, muito há a fazer e a aperfeiçoar no funcionamento, pelo menos, da Loja em que me integro, a Loja Mestre Affonso Domingues - mas suspeito que também na generalidade das Lojas. Criou-se o hábito de trabalhar preferencialmente, quase exclusivamente, no primeiro grau, só se constituindo a Loja nos graus superiores quando imprescindível e na medida do indispensável. Acaba-se por se cair na tentação de só se trabalhar nos graus superiores para conferir graus, baseando-se o trabalho da Loja no primeiro grau, considerando-se que assim se não excluem obreiros (Aprendizes, quanto a sessões de segundo grau; Aprendizes e Companheiros, quanto aos trabalhos do 3.º grau) dos trabalhos e se reforçam os laços de solidariedade entre todos. Embora compreenda a pureza da intenção, penso que é nocivo que assim se proceda. O trabalho maçónico pressupõe evolução. Não é por acaso que se concebeu que os trabalhos maçónicos decorrem em três graus. Em cada um destes, há objectivos a atingir, conhecimentos específicos a obter, trabalho próprio a realizar. Privilegiar - ainda que com a melhor das intenções - um grau em detrimento dos restantes equivale a empobrecer desnecessariamente a riqueza do trabalho comum de uma Loja. Abrir a Loja no grau de Companheiro apenas para passar Aprendizes a Companheiros e para a apresentação da prancha que é exigida ao Companheiro para que possa ascender a Mestre - por vezes, uma prancha que, em bom rigor, não respeita ao objecto do que devem ser os estudos do Companheiro, mas afinal uma simples prancha bis de Aprendiz, apenas com a diferença de respeitar a um dos poucos símbolos privativos do grau de Companheiro - não é a melhor forma de trabalhar o grau de Companheiro.

Em segundo lugar, devem os Mestres dar o exemplo, elaborando e apresentando pranchas efectivamente do grau de Companheiro, sobre o Homem, as Artes ou as Ciências. Não quer isto dizer que o simbolismo não tenha também lugar no grau de Companheiro. Claro que tem. Mas não tem aqui a essencialidade que reveste no primeiro grau. Aprendida e apreendida a forma de trabalhar com os símbolos, o maçon deve voltar-se para o Mundo e estudar-se a si próprio e às suas realizações nos campos do Saber e da Beleza, à luz da sua própria evolução, não concentrar-se num qualquer simbólico-metafísico plano exterior à realidade. Tese-antítese-síntese, síntese como nova tese- nova antítese-nova síntese. Assim evolui em todos os campos o Homem. Se persiste e insiste apenas num único aspecto, numa única linha, num preciso ponto, por muito meritório que seja, não evolui, involui. Devem, pois, os Mestres dar o exemplo, mostrar, o tipo de trabalho que se deve fazer no grau. Para que os Companheiros melhor o compreendam e possam tentar e, muitas vezes, conseguir, fazer melhor...

Em terceiro lugar, deve a Loja ter sempre presente que cada homem é um homem, cada caso um caso, cada situação uma situação. Não há cartilhas, não há manuais. O que se coloca aos Companheiros são linhas orientadoras, mapas que são postos à sua disposição. A forma como cada Companheiro vai percorrer (ou evitar; ou saltar; ou transgredir; ou esticar; ou aperfeiçoar; ou...) essas linhas é com ele. A maneira como vai olhar e utilizar (ou ignorar; ou refazer; ou...) os mapas é também com ele. A viagem é dele. O grupo só lhe propicia os meios para que a faça. E não há viagens certas, nem destinos errados. O que vale também por dizer que, apesar de eu defender que um Companheiro deve estudar o Homem, as Artes e as Ciências, se ele preferir continuar a concentrar-se exclusivamente no simbolismo, estudando apenas e só os símbolos do grau... tenho de respeitar e aceitar isso e reconhecer o mérito dessa opção. Não será a minha, não será a que eu penso a melhor... mas não existe nenhum decreto do Grande Arquitecto que estipule que eu estou certo e o outro errado; como nada garante que o que é certo para mim não convenha ao outro e que o que a mim me parece inconveniente não seja o adequado para o meu Irmão... Em suma, indicar, não dirigir, orientar, não abafar, propiciar, não obrigar. Ou seja, executar o que é a Maçonaria: um grupo ao serviço do indivíduo e beneficiando do que este lhe traz; não o indivíduo ao serviço, subjugado e dependente do grupo. Porque, acima de tudo, um maçon é um homem livre - e de bons costumes...

Rui Bandeira

03 março 2008

Reintegração do Companheiro (I)

A Passagem a Companheiro é um anti-clímax. Depois de uma cerimónia de Iniciação que o marcou, depois de um período de Aprendizagem em que foi confrontado com uma luxuriante quantidade de símbolos, em que focou a sua atenção nos aspectos da espiritualidade, o novo Companheiro ascende a esse grau através de uma cerimónia simples e singela e inicia um período de trabalho em que depara com muitos poucos símbolos novos e lhe é pedido que foque a sua atenção em algo que, provavelmente, foi objecto dela na maior parte da sua vida: o Homem, as Ciências e as Artes.

De repente, a novidade desaparece, o que se vislumbra nesta parte do caminho do maçon é o mesmo que qualquer profano medianamente culto vê no seu dia a dia. Naturalmente que o panorama se mostra menos interessante, que é admissível e até natural o pensamento de que não se vislumbra grande diferença entre a Maçonaria e o Mundo Profano. Naturalmente que o novo Companheiro descobre em si um misto de sentimentos que lhe desagradam: desilusão, estranheza, indiferença. Para quê voltar a estudar o que já se estudou? Ou que real vantagem se tira de iniciar um estudo, autodidacta e limitado, de uma qualquer outra disciplina científica ou artística diferente daquela a que profissionalmente nos consagrámos? Não será o grau de Companheiro o mais gritante dos anacronismos da Maçonaria? Talvez porventura no século XVIII se justificasse. Então imperava o analfabetismo, muitas das ciências davam os primeiros passos, o Iluminismo era ainda recente... Mas, nos dias de hoje, que interesse e justificação tem pedir-se a homens cultos, muitos licenciados e doutorados que... estudem o Homem e as ciências e as artes? Tudo isto são interrogações legítimas, preocupações compreensíveis, hesitações evidentes. Mas por tudo isto é necessário passar, para se concluir a formação maçónica!

Em primeiro lugar, este quadro cinzento permite que se tire uma lição: a Maçonaria não é um glorioso caminho de excelsas novidades, que o maçon percorre pisando a passadeira vermelha da exaltação espiritual. Ou, pelo menos, não é só isso. A Maçonaria, como tudo na vida, tem coisas agradáveis e coisa menos agradáveis. Tem o que nos dá prazer e conforto e motivação. Mas também tem o que nos é mais penoso, menos atractivo, mais aborrecido. A Maçonaria é, no fundo, um método de aprendizagem da Vida. E a Vida é assim mesmo: tem o agradável e o menos agradável, o exaltante e o aborrecido, o saboroso e o insosso. Isto para além de que o que é saboroso para uns é insosso para outros, o que agrada a una quantos, é indiferente a tantos outros, o que exalta estes aborrece aqueles. A diversidade de opções, de vias, a integração e valorização da individualidade através do grupo implicam que todos, de quando em vez e mesmo frequentes vezes, suportem algo que lhes é menos agradável em prol dos demais. A diversidade é uma riqueza, mas também um fardo!

Em segundo lugar, há que aprender ou relembrar que o Homem é tão mais interiormente rico quanto mais diversificados forem os seus interesses. Vivemos em tempos de especialização. Em contraponto, a Maçonaria lembra-nos as vantagens (mas também os inconvenientes...), a riqueza (e o esforço...), a essencialidade (e a penosidade...) de se ser um Homem integral, harmoniosamente desenvolvido científica, cultural e espiritualmente.

Mas a aquisição destas noções, o relembrar destes princípios constitui, inicialmente, um choque. O novo Companheiro tem a sensação de que, em vez de progredir, está a regredir. E, mesmo que o não verbalize, não se pode impedir de sentir um certo desapontamento. É por isso que é essencial um trabalho de reintegração do Companheiro. Não uma simples integração no grupo, que já está feita, mas de reintegração no espírito de crescimento, de aperfeiçoamento, através das diferentes ferramentas que agora se lhe pede que utilize.

Os Mestres, e em particular o Primeiro Vigilante da Loja (o oficial que tem a seu cargo o acompanhamento da coluna dos Companheiros), devem, nesta fase, colocar-se á inteira disposição do Companheiro. Procurar esclarecer-lhe as dúvidas. Apontar-lhe o caminho. Traçar-lhe objectivos. Permitir-lhe que venha a perceber, à luz dos conhecimentos simbólicos que, enquanto Aprendiz, adquiriu, a necessidade deste período especificamente destinado ao estudo do que é terreno, do que é material, do que é humano.

É a hora de relembrar ao Companheiro todos os símbolos de dualidade com que se confrontou e esperar que ele tire as suas conclusões. É o momento de lhe relembrara a frase, que lhe soou talvez tão enigmática, de que o que está em cima é como o que está em baixo. É afinal a ocasião para que o Companheiro ganhe a noção de que, mesmo quando lida com coisas muito práticas, ainda então e assim isso tem um significado simbólico. E aí o Companheiro regressa a águas conhecidas...

É altura de realçar que novos conhecimentos, ricos cambiantes, diferentes tonalidades se surpreendem ao revisitar, à luz dos conhecimentos que adquirimos em Maçonaria e da melhoria espiritual que progressivamente buscamos alcançar, as ciências e as artes que tão bem julgamos conhecer.

E então estará aberta a via para que a desilusão desapareça, o aborrecimento esmoreça, a estranheza se dissipe. O Companheiro, devidamente apoiado, por ele mesmo compreenderá a razão de ser deste regresso às coisas terrenas e do Homem, a necessidade de o empreender, o trampolim que constitui para o avanço seguinte.

No fim, o Companheiro compreenderá algo que aprendeu na sua Passagem: que, por vezes, é necessário um desvio e um regresso ao rumo, para poder prosseguir caminho...

Rui Bandeira

29 fevereiro 2008

Quanto ganhas por hora?

Mais uma pequena história que recebi por correio electrónico. Mais uma vez, quando procurava uma imagem para ilustrar o texto, verifiquei que já foi publicada em vários blogues. Não é razão para não a publicar aqui. Não precisa de comentários. É tão certeira que até dói...!

Um dia, quando um homem chegou tarde a casa, cansado e irritado após um dia de trabalho, encontrou, esperando por si à porta, o seu filho de 5 anos.

- Papá, posso fazer-te uma pergunta?

- Claro que sim. O que é?

- Quanto ganhas numa hora?

- Isso não é da tua conta. Porque me perguntas isso?! - respondeu o homem, zangado.

- Só para saber. Por favor... diz lá... quanto ganhas numa hora? - perguntou novamente o miúdo.

- Bom... já que queres tanto saber, ganho 10 euros por hora.

- Oh! - suspirou o rapazinho, baixando a cabeça.

Passado um pouco, olhando para cima, perguntou:

- Papá, emprestas-me 5 euros?

O pai, furioso, respondeu:

- Se a razão de tu me teres perguntado isso, foi para me pedires dinheiro para brinquedos caros ou outro disparate qualquer, a resposta é não! E, de castigo, vais já para a cama. Vai pensando no menino egoísta que estás a ser. A minha vida de trabalho é dura demais para eu perder tempo com os teus caprichos!

O rapazinho, cabisbaixo, dirigiu-se silenciosamente para o seu quarto e fechou a porta. Sentado na sala, o homem ficou a meditar sobre o comportamento do filho e ainda se irritou mais. Como se atrevia ele a fazer-lhe perguntas daquelas? Como é que, ainda tão novo, já se preocupava em arranjar dinheiro?

Passada mais ou menos uma hora, já mais calmo, o homem começou a ficar com remorsos da sua reacção. Talvez o filho precisasse mesmo de comprar qualquer coisa com os 5 euros. Afinal, nem era costume o miúdo pedir-lhe dinheiro. Dirigiu-se ao quarto do filho e abriu devagarinho a porta.

- Já estas a dormir? - perguntou.

- Não, papá, ainda estou acordado. - respondeu o miúdo.

- Estive a pensar... Talvez tenha sido severo demais contigo. - disse o pai. - Tive um longo e exaustivo dia e acabei por desabafar contigo. Toma lá os 5 euros que me pediste.

O rapazinho endireitou-se imediatamente na cama, sorrindo:

- Oh, papá! Obrigado!

E levantando a almofada, pegou num frasco cheio de moedas. O pai, vendo que o rapaz afinal tinha dinheiro, começou novamente a ficar zangado.O filho começou lentamente a contar o dinheiro, até que olhou para o pai.

- Para que queres mais dinheiro se já tens aí esse? - resmungou o pai.

- Porque não tinha o suficiente. Agora já tenho! - respondeu o miúdo. - Papá, agora já tenho 10 euros! Já posso comprar uma hora do teu tempo, não posso? Por favor, vem uma hora mais cedo amanhã. Gostava tanto de jantar contigo...

Gosto muito que leia este blogue. Mas NUNCA - nunca mesmo! - gaste com ele um minuto que seja do tempo que deve dedicar aos seus filhos!

Um bom fim de semana!

Rui Bandeira

28 fevereiro 2008

Ars Macionica


A Loja de Investigação da Grande Loja Regular da Bélgica tem o nome de Ars Macionica. Reclama-se de estar sob a égide do número três: Trabalha nos três graus simbólicos, tem três reuniões por ano e comunica em três línguas, inglês, francês e neerlandês. Foi criada em 1992. A ela podem pertencer todos os Mestres Maçons da Maçonaria Regular que tenham publicado, pelo menos, um trabalho original.São admitidos a participar nos trabalhos da Loja Aprendizes e Companheiros, em função do tema em análise. Reúne no seu seio maçons de diversas nacionalidades: belgas, franceses, suíços, holandeses, ingleses, italianos, gregos.

O símbolo e medalha da Loja representa a coruja de Atena, a ave que vê à noite. Símbolo da sabedoria, evoca o espírito crítico dos filósofos gregos.

Como outras Lojas de Investigação, a Ars Macionica agrega um Círculo de Correspondentes. Mediante o pagamento anual de 25,00 euros, cada correspondente tem direito a receber um volume anual das Acta Macionica, de receber convites para todos eventos organizados pela Loja ou pelo Circulo de Correspondentes, de estar presente em todas as sessões da Loja (em função do seu grau), de ver publicados no volume correspondente das Acta Macionica, sob o seu nome, os textos das perguntas ou intervenções que formule a propósito das conferências e a ver publicadas, no número seguinte, as respostas às perguntas que tenha formulado ou a reacção do conferencista aos comentários que tenha apresentado.

As Acta Macionica são a publicação anual da Loja. Até 2007, foram publicados dezassete números. Dezassete, porque o primeiro volume foi publicado ainda em 1991, antes da criação formal da Loja.

A sua última reunião teve lugar no passado sábado, dia 23 de Fevereiro. Nesta reunião, foi proferida por Paul Rousseau a conferência intitulada A Maçonaria no Luxemburgo.

Rui Bandeira