21 fevereiro 2008

Museu virtual Aristides de Sousa Mendes

Meus Caros, este é apenas um adicional ao post do Rui de dia 15 p.p.

A Figura exemplar de Aristides de Sousa Mendes começa a aparecer, para conhecimento dos portugueses e orgulho de Portugal.
Infelizmente continuam a acontecer eventos da maior relevância nacional que passam..., pura e simplesmente passam !
Talvez se perceba porque de facto A.S.Mendes apenas salvou milhares de vidas, e se estudarmos bem a Sua existência constataremos que não foi jogador de futebol, nem bancário vigarista, nem nada dessas coisas importantes.

A casa de A.S.Mendes, em Cabanas de Viriato, está na ruína.

Ali, ele e Sua Mulher Angelina receberam e alimentaram grande parte dos exilados cujas vidas haviam sido salvas pelos vistos consulares passados por ASM à revelia das ordens de Salazar.
Desta vez o Presidente Cavaco Silva tem razão, há outras prioridades à frente do campeonato do mundo de futebol.
A exposição (virtual) está dividida em três corredores: da Guerra, da Fuga e da Liberdade.
Nestes corredores são apresentados documentos/filmes pertencentes a arquivos tais como a Shoah Fundation, o Museu do Holocausto e Cinemateca Portuguesa.
O primeiro corredor dá conta dos factos históricos que antecedem a II Guerra Mundial bem como o seu início.
O segundo corredor narra a fuga de milhares de refugiados, alguns dos quais vêem o seu caminho cruzar-se com Aristides Sousa Mendes.
No último são apresentadas imagens da chegada de refugiados a Portugal, da sua estada e da sua partida rumo a novos destinos.
Em cada corredor há a hipótese de percorrer o filme em capítulos (link ao fundo, do lado esquerdo).
Noutra parte do museu, a base conhecimento, é possível consultar centenas de documentos, fotografias e alguns testemunhos orais de refugiados, na maioria salvos por Sousa Mendes.
O site, para além de muito informativo, está construído duma forma brilhante e parece-me que é fruto duma iniciativa pessoal (Margarida Dantas) depois apoiada pelo Ministério da Cultura.
Não custa nada percorrer este excelente museu, pois é só carregar em http://mvasm.sapo.pt/


J.P.Setúbal

20 fevereiro 2008

Colóquio Mozart e a Matemática



Sábado, dia 23 de Fevereiro, 15h30

Será que já na sua primeira composição, aos 5 anos, Mozart se socorreu da Matemática para escrever música? Qual a relação entre uma peça de Mozart e um vitral? E será que o número 3 tem um significado especial na Flauta Mágica? No próximo Sábado, dia 23 de Fevereiro, às 15h30, assista no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva a mais um colóquio sobre A Matemática das Coisas e descubra a relação entre Mozart e a Matemática. A entrada é gratuita. Carlota Simões, docente do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, irá mostrar a presença da Matemática na obra do criador das Bodas de Fígaro e um grupo de alunos da Escola de Música do Conservatório Nacional tocará alguns trechos da Flauta Mágica. E para provar que na obra de Mozart tudo é possível, duas alunas de violino do Conservatório de Música de Coimbra vão tocar a mesma peça de forma bem diferente: uma lendo a partitura de cima para baixo, outra lendo a mesma pauta de pernas para o ar. Até Maio, venha descobrir, através de palestras conjuntas de matemáticos e profissionais de outras áreas, de que forma a Matemática se revela em coisas tão distintas como os jogos de azar, as histórias para crianças, ou o bem e o mal. O ciclo de colóquios A Matemática das Coisas é uma iniciativa conjunta do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva e da Sociedade Portuguesa de Matemática. Programa completo em http://www.pavconhecimento.pt/ e http://www.spm.pt/

Transcrevo esta notícia recebida do Pavilhão do Conhecimento porque a considero verdadeiramente interessante.

Por mim, lá estarei, salvo "acidente de percurso" inesperado.

JPSetúbal

19 fevereiro 2008

O salário do maçon

A Maçonaria Operativa, como estrutura de regulação do acesso e prática da actividade profissional de construtor em pedra, regulava igualmente as formas de pagamento e os montantes dos salários dos seus associados.

Também na Maçonaria Especulativa os maçons recebem o seu salário. Simplesmente, como tudo na Maçonaria Especulativa, o salário que o obreiro recebe é simbólico.

O obreiro trabalha em Loja. Em quê? No seu aperfeiçoamento, na busca dos conhecimentos, das lições, dos exemplos, das práticas que dele farão uma pessoa melhor. Nesse trabalho tem de identificar e interpretar símbolos, atribuindo-lhes o seu significado pessoal, similar ou não ao que os seus Irmãos, ou alguns dos seus Irmãos, ou um particular Irmão, lhes atribuem. O trabalho do obreiro em Loja insere-se e une-se ao trabalho que os demais obreiros efectuam, constituindo o conjunto um acervo de estudos, actividades, interpretações, princípios desenvolvidos, que tem mais virtualidades como um todo do que a mera soma dos contributos individuais.

Virtualidades para quem? Para os próprios obreiros. O trabalho maçónico é eminentemente individual, mas colectivamente efectuado. O seu resultado, inserido no conjunto dos esforços e nele amalgamado, está à disposição para apropriação de todos e de cada um. A forma como cada um beneficia é com cada qual. O mesmo obreiro, em cada momento, pode retirar do trabalho que ele e seus Irmãos efectuam lições ou consequências diferentes. Hoje poderá ser uma lição moral, amanhã uma simples lição de vida ou regra de conduta, depois uma ferramenta para uso no seu dia a dia profissional ou de relação social, por vezes apenas (e tanto é...) uma simples sensação de Paz, de Segurança, de Conforto, a mera (mas por tantos tão dificilmente obtida) noção do seu lugar na vida e do significado da sua existência.

Perante a sua Loja, o maçon apresenta para o trabalho a Pedra Bruta que é ele próprio, o seu Carácter, a sua Personalidade, as suas Características, as suas Virtudes, os seus Defeitos, as suas Capacidades, as suas Insuficiências, as suas Potencialidades e o que falta para as transformar em Realidades. Junto de seus Irmãos, trabalha essa Pedra Bruta. Retira-lhe as asperezas. Melhora a sua forma. Determina o local onde deve ser colocada. Dá-lhe cor e atavio. A pouco e pouco, essa Pedra Bruta será cada vez menos Bruta, ganhará forma mais delineada e adequada, tornar-se-á mais útil para a função que está destinada a exercer. A pouco e pouco, tornar-se-á uma Pedra Aparelhada, já com alguma utilidade e capacidade para se inserir no grande Templo da Criação, Parede da Humanidade. Mas ainda será, não já áspera, mas rugosa, não já suja, mas baça.

Será ainda necessário alisá-la e poli-la, de forma a que, a seu tempo, a Pedra Bruta que é o maçon possa vir a ser a muito mais útil e bela Pedra Polida. Mas, ainda então, de pouca utilidade e valia será se não for inserida no local adequado, pela forma asada, para exercer a função destinada. Há que conhecer ou definir os Planos, efectuar e ler o Desenho que nos guie para colocarmos a nossa Pedra, que foi Bruta e que procurámos tão Polida quanto o lográmos que fosse, no lugar correcto, em que será útil e contribuirá para a sustentação, imponência e beleza do Templo em cuja construção se insere.

Cada maçon, à medida que vai trabalhando, vai aprendendo a trabalhar, à medida que melhora, vai aprendendo a melhorar, a medida que aprende, vai aprendendo a aprender. E cada vez mais vê melhor trabalho, mais melhoria, mais larga aprendizagem. À medida que evolui vai aumentando o benefício que retira do trabalho que efectua. Não patrimonial, mas pessoal, intrínseco.

Esse benefício é o salário do maçon, a justa remuneração do seu esforço. Não tem valor de mercado, nem cotação de troca, porque vale muito mais do que uma mercadoria ou um serviço. Tem o valor supremo da Pessoa Humana, que cresce, que se educa, que evolui, que se aprofunda, que se realiza, que se enobrece, que se dignifica. Esse valor vale mais que todo o ouro do Mundo, que todas as riquezas e mordomias de que usufruem os afortunados do planeta. Porque nada vale mais do que um Homem digno, de espinha direita, cabeça lúcida, espírito forte. Aos outros, por mais ricos que sejam, conquistou-os o mundo. Este conquista o mundo, ainda que seja pobre e sem poder. O seu mundo. O que interessa.

O salário do maçon é o que ele retira do bolo comum que resulta do seu trabalho, do seu esforço e dos seus Irmãos. Em conjunto e com o fermento da Fraternidade, esse bolo cresce muito mais do que se lhe pôs, ao ponto de todos poderem retirar mais um pouco do que cada um lá pôs e ainda sobra bolo.

Esse salário não se conta, não se mede, não se pesa, não se avalia. Só o próprio o sente e dele beneficia. Não tem valor facial algum. Tem todo o valor moral e espiritual.

E, porque à medida que o maçon trabalha, aprende, cresce, melhora, de cada vez vai conseguindo retirar um pouco mais, de cada vez vai conseguindo aumentar um pouco seu salário. Imperceptivelmente. Até que um dia os seus Irmãos dão por ela e... oficializam-lhe o aumento de salário! Chamam os maçons aumento de salário à passagem de grau. Mais não é do que o reconhecimento dos progressos feitos.

Rui Bandeira

18 fevereiro 2008

Decidir em Loja


O processo de tomada de decisão em Loja não tem necessariamente os mesmos trâmites e parâmetros da vida de relação em sociedade.

Claro que, quando a decisão a tomar se prende com uma eleição, as regras são as mesmas de uma sociedade democrática: um homem, um voto, voto secreto e é eleito quem tem mais votos. Mas, por exemplo, a admissão de um novo membro, também objecto de uma votação por voto secreto, não está sujeita à regra da maioria, antes de uma tendencial unanimidade. E digo tendencial, porque, em algumas Lojas, a existência de um ou dois votos contrários deve ser justificada, para se atribuir validade impeditiva da admissão do elemento sob escrutínio.

Mas a grande maioria das decisões não se toma por voto secreto, antes na sequência de debates abertos, em que cada um manifesta livremente a sua opinião. Procura-se, se possível, atingir um consenso. Mas, se não for possível, não é propriamente uma decisão por maioria que indica o caminho a tomar. Isto causará porventura perplexidade, nos dias de hoje, habituados como estamos a que a maioria decida e ponto final.

No entanto, o facto de uma maioria se inclinar para uma determinada opção não quer dizer necessariamente que essa posição é a correcta. Nada nos assegura que não ocorre simplesmente uma situação em que se formou uma maioria de errados! Uma coisa é a maioria, a legitimidade conferida pela maioria, outra é o acerto. Na sociedade, confiamos, em regra, que a maioria erre menos vezes que a minoria. Mas, ao menos, quando o erro acontece, aceitamos as consequências desse erro, procurando consolar-nos com o pensamento de que, se se errou, ao menos foi a maioria que errou. Esquecemo-nos, ou fazemos por esquecer, que a tomada de decisão por maioria é vulnerável à demagogia, à ignorância, ao facilitismo.

Não querem estas palavras dizer que a Maçonaria recusa ou não defende os princípios democráticos. O passado da Maçonaria é bem demonstrativo de que esta preserva e luta por eles. Simplesmente, como um dia disse Winston Churchill, "a Democracia é o pior de todos os sistemas... excepto todos os outros!!!". A Democracia não é perfeita mas, para uma sociedade ou grandes grupos, não há melhor sistema de decisão.

A Maçonaria, porém, funciona normalmente em grupos de dimensão reduzida ou média, em que todos os elementos se conhecem uns aos outros. Consegue assim manter uma dimensão personalizada de contactos entre os seus membros, que permite combinar as regras democráticas com regras tradicionais, que eu me atrevo a classificar de regras de bom-senso. É através desta amálgama que se procura chegar às melhores decisões possíveis, sem deixar de ter consciência de que é completamente impossível excluir de todo a possibilidade de erro.

Para melhor se compreender como funciona o processo decisório em Maçonaria, deve ter-se presente que a Maçonaria Especulativa tem as suas raízes na Maçonaria Operativa dos construtores em pedra e respectivas Lojas de regulação do exercício da profissão e que a Maçonaria procura preservar, tanto quanto possível, a tradição que cada um recebeu dos seus antecessores.

Na Maçonaria Operativa, a Loja não era um espaço democrático. A Loja era dirigida pelo Mestre, que dirigia o trabalho, admitia e dirigia a aprendizagem dos Aprendizes e supervisionava o trabalho dos oficiais construtores (Companheiros). Em Loja, executava-se o que o Mestre dizia. Ponto final.

Este elemento de autoridade benigna, obviamente temperado pelas regras da democracia, permanece importante no processo de decisão em Loja.

Como se articulam então estes dois elementos aparentemente contraditórios? Conferindo-se legitimidade democrática a quem dirige a Loja!

Temos então que o processo de decisão em Loja resulta de se conferir poder autocrático a quem se elege democraticamente para tal, por um período determinado.

Traduzindo: o Venerável Mestre é democraticamente eleito, por voto secreto, para cumprir um mandato de duração determinada; durante esse período, a Loja e todos os seus elementos delegam o direito de decidir sobre quaisquer assuntos que respeitem à Loja no Venerável Mestre em funções.

Daqui resulta que o objectivo de um debate em Loja não é vencer a discussão ou arregimentar maioria. O objectivo que cada um prossegue num debate em Loja é contribuir com a sua informação, com a sua análise, com a sua opinião, para fornecer o máximo de elementos relevantes possível para permitir ao Venerável Mestre tomar a melhor decisão possível, decisão esta que é assumida como a decisão da Loja.

Assim, cada debate consiste em uma intervenção, no máximo duas, por cada Mestre que deseje intervir sobre o assunto. Cada um deve procurar dar a sua opinião tão fundamentadamente quanto possível. No final, um oficial da Loja, o Orador, extrai as conclusões do debate, isto é, resume as posições expostas, os argumentos apresentados, podendo ou não opinar sobre se existiu consenso ou sobre a decisão que aconselha seja tomada. Finalmente, o Venerável Mestre decide e a sua decisão vincula a Loja.

Nenhum maçon é obrigado a executar a decisão, mas nenhum maçon a pode violar. Isto é, pode omitir o seu cumprimento (primado da liberdade individual), mas não pode ir CONTRA o decidido.

Com este método de decisão, procura-se limitar o erro com apelo ao bom-senso, sem esquecer a democracia.

Esta está presente na escolha democrática daquele a quem é delegado o poder de decidir. Aquele decorre de o Venerável Mestre ouvir antes de decidir, ser aconselhado sobre a decisão a tomar antes de o fazer e, finalmente, saber que, se pode exigir que ninguém a desrespeite, só a valia e o acerto desta lhe garantem a execução dela (porque voluntária).

De tudo isto resulta, obviamente, por um lado que a margem de decisão do Venerável Mestre é mais reduzida do que aparenta. Não vale a pena o Venerável Mestre decidir branco se a generalidade dos obreiros opinou preto: ninguém executará o que não concorda. Havendo divisão de opiniões, ou é possível retirar das posições expostas o denominador comum exequível e então deverá ser esse o caminho por que se opta (pois é aquele que mais elementos executarão, senão total, ao menos parcialmente), ou não é, e então o Venerável Mestre optará segundo o seu prudente arbítrio. E considera-se que é a melhor forma, porque não há vencedores nem vencidos. Há a decisão tomada, o melhor possível, por alguém a quem se confiou a missão de tomar decisões, sempre que necessário. E, por essa legitimidade, será executada, porventura até por aqueles que dela discordem...

Não será um método de decisão perfeito. Mas seguramente procura evitar o erro e promover a harmonia e não nos temos dado mal com ele...

Rui Bandeira

15 fevereiro 2008

Homenagem a Aristides Sousa Mendes

A Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes, n.º 32 da GLLP/GLRP, levou a cabo ontem, dia 14 de Fevereiro, uma sessão comemorativa do seu 11.º aniversário e de homenagem ao seu patrono, o Cônsul que, desobedecendo a Salazar, emitiu vistos válidos para entrada em Portugal a cerca de 30.000 refugiados, muitos deles judeus, que fugiam do avanço das tropas de Hitler e do colaboracionismo do regime de Vichy.

A sessão realizou-se numa sala de um hotel de Lisboa, para o efeito preparada e decorada segundo os trâmites do Rito de York, o rito praticado pela Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes. Os trabalhos foram ritualmente abertos e posteriormente suspensos, sendo então franqueada a entrada na sala aos convidados, familiares e amigos de Aristides Sousa Mendes, familiares dos obreiros da Loja e maçons visitantes, representante da Fundação Aristides Sousa Mendes, da Comunidade Israelita de Lisboa e da Embaixada de Israel em Lisboa e senhoras da Ordem da Rosa (organização de senhoras esposas e companheiras de maçons, associada aos Altos Graus do Rito de York).

A homenagem a Aristides Sousa Mendes consistiu na apresentação pública de dois trabalhos sobre a vida e obra do homenageado, na entrega à Fundação Aristides Sousa Mendes, na pessoa do seu representante, do diploma de persona grata concedido pelo Muito Respeitável Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal e na imposição, na pessoa do neto do homenageado, Major Álvaro Sousa Mendes, do Grande Colar da Ordem General Gomes Freire de Andrade, condecoração maçónica concedida, a título póstumo, a Aristides Sousa Mendes, em reconhecimento da sua conduta de alto significado moral e humanitário, pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP.

Discursaram, relembrando Aristides Sousa Mendes e sua mulher, Angelina, a sua histórica decisão e o alto preço que por ela pagou - o afastamento e o ostracismo imposto por Salazar - e manifestando a sua alegria e reconhecimento pela homenagem prestada, o representante da Fundação Aristides Sousa Mendes, que igualmente divulgou os princípios e objectivos da Fundação, e um neto do homenageado.

Ainda no âmbito das comemorações do aniversário da Respeitável Loja anfitriã, procedeu-se à realização da Cerimónia da Lembrança, sentida forma de recordar e homenagear os maçons da GLLP/GLRP que já passaram ao Oriente Eterno.

Depois de concluídas as cerimónias e homenagens, todos os ilustres convidados abandonaram a sala, após o que os trabalhos da Loja retomaram força e vigor e se procedeu ao seu ritual encerramento.

Os obreiros e ilustres convidados presentes juntaram-se seguidamente num agradável e animado ágape, no decorrer do qual houve lugar à recitação de poemas por dois profissionais do espectáculo, que, graciosa e simpaticamente, se disponibilizaram para o efeito, e a dois momentos musicais, um a cargo de um grupo de que faz parte um filho de um obreiro da Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes, que executou, com agrado geral, duas composições musicais, a última das quais de homenagem a Aristides Sousa Mendes, e o outro a cargo de dois obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, Acácio R. (executante de guitarra clássica) e Alexis B. (balalaica e violino), que executaram diversas obras musicais, com as conhecidas mestria e alta qualidade, já familiares aos obreiros da nossa Loja, mas que muito impressionaram os convidados.

Estiveram presentes na sessão e no ágape, além dos obreiros da Respeitável Loja anfitriã, o Muito Respeitável Grão-Mestre, acompanhado de luzida e numerosa comitiva de Grandes Oficiais, e obreiros visitantes de diversas Lojas da Obediência. A Loja Mestre Affonso Domingues fez-se representar por uma delegação composta pelo seu Venerável Mestre, JPSetúbal, três Mestres, todos Ex-Veneráveis, Rui Bandeira, Miguel R. e Paulo FR, um Companheiro, João M., e um Aprendiz, Alberto G.. Estiveram ainda presentes mais dois obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, mas na sua qualidade de Grandes Oficiais da GLLP/GLRP, integrando a comitiva do Muito Respeitável Grão-Mestre, no caso o Vice-Grão-Mestre José M. e o Grande Organista Alexis B.. Apenas ao ágape juntou-se o Acácio R..

Tendo-se verificado que um dos objectivos prosseguidos pela Fundação Aristides Sousa Mendes é a dinamização de doações de sangue, ficou logo projectada a futura colaboração da Loja Mestre Affonso Domingues, através do seu Grupo de Dadores de Sangue, e da Fundação em futuras acções de dinamização de doações de sangue. Para o efeito, ficou aprazada para muito breve uma reunião entre o Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues e responsáveis da Fundação.

Que maneira melhor tínhamos nós de homenagear Aristides Sousa Mendes?

Rui Bandeira

14 fevereiro 2008

Discutir e conversar


A frase final do comentário de JPM/David que ontem reproduzi produziu-me alguma perplexidade. Relembro-a:

Que tal uma secção do tipo "Discutindo com o profano" (discutindo, não conversando).

A perplexidade adveio-me da dicotomia discutir-conversar e da preferência pela discussão sobre a conversa.

Normalmente (e sem grandes preocupações de precisão linguística) atribui-se ao verbo discutir um de dois significados: manifestar acaloradamente divergências de opinião; ou analisar em conjunto um assunto ou tema.

Por outro lado, o significado usual de conversar remete para uma troca descontraída de opiniões, num registo mais intimista e prazenteiro; mas também se pode utilizar o conversar como uma forma de confronto ("temos de conversar sobre o que fizeste ontem"; "recebi um telefonema sobre a tropelia que fizeste na escola e logo vamos ter uma conversa sobre isso...").

Mas, genericamente, tenho a noção de que preferencialmente se utiliza o verbo discutir para o confronto acalorado e o verbo conversar para o diálogo descontraído. Daí que tivesse estranhado a preferência por discutir relativamente a conversar...

Depois lembrei-me que, quando li o comentário de JPM/David, fiquei com a impressão que o seu autor usava o português do Brasil. É certo que, consultando o perfil de JPM/David, verifiquei que o mesmo está em Portugal. Mas isso não impede que seja oriundo do Brasil ou que esteja mais familiarizado com o português do Brasil...

Admiti portanto a hipótese de o significado preciso de discutir e de conversar ter diferentes conotações em ambos os lados do Atlântico. Não conheço suficientemente as subtilezas do português tal como é utilizado no Brasil, mas porventura ali discutir seja preferencialmente utilizado no dignificado de análise conjunta de um assunto ou um tema e conversar tenha mais ali a conotação agressiva, que só secundariamente é utilizada neste lado do Atlântico.

Ou talvez, pura e simplesmente, JPM/David quisesse enfatizar que pretende analisar com profundidade os assuntos (discutir) em vez de os abordar pela rama (conversar)...

Pela minha parte, em relação a todos os assuntos, gosto de os abordar tão seriamente quanto possível, tão aprofundadamente quanto consiga e sempre de forma pacífica, coloquial e descontraída. Ou seja, gosto de discutir os assuntos conversando, em ambos os casos utilizando as palavras nos seus significados mais benignos...

E porque trago eu aqui esta questão? Para frisar os cuidados que devemos sempre ter, quer nos mais descontraídos diálogos, quer nos mais tensos confrontos, em procurar determinar se o nosso interlocutor utiliza as palavras com o mesmo significado que nós o fazemos, sob pena de se criarem mal-entendidos que, de forma mais ou menos grave, inquinarão a troca de opiniões. Quantas e quantas vezes tenho eu assistido a acesas disputas verbais em que ambos os contendores estão afinal a dizer a mesma coisa, apenas de forma diferente...

Em qualquer troca de opiniões, devemos ter sempre um especial cuidado em determinar se o que o outro disse é efectivamente aquilo que, à primeira vista, nos pareceu que disse, ou se uma melhor e mais lúcida análise não nos fará perceber que afinal o que o outro queria dizer é bem mais cordato e bem mais concordante com a nossa própria opinião do que a aparência nos fazia crer.

Tenho para mim que o esforço persistente de, em qualquer diálogo, procurar realçar os pontos de entendimento e tentar descortinar a real existência e os reais fundamentos das discordâncias permite uma muito mais acurada consciência do que o nosso interlocutor realmente pensa e limita muitos focos de tensão. Muitas e muitas vezes é o deficiente entendimento do que é dito que nos arrasta para estéreis conflitos, em que se deixa de discutir assuntos para se passar a discutir com alguém, em que se deixa de conversar e se passa a disputar uma acalorada conversa com outrem...

No caso concreto, certamente que JPM/David não pretende discutir comigo, mas discutir assuntos ou temas comigo. E seguramente que não é seu objectivo,nem ter uma conversa agressiva comigo, nem simplesmente conversar futilmente. Mas obviamente que não desdenhará ter uma conversa descontraída e agradável, através da qual possamos confrontar opiniões e aprofundar temas, cada um se enriquecendo com os contributos do outro...

A falar nos entendemos. Mas, se não tivermos cuidado, também é a falar que nos desentendemos...

Rui Bandeira

13 fevereiro 2008

Discutindo com o profano


Em comentário ao texto A Prancha de Aprendiz, JPM/David escreveu:

Incrível como você consegue tanto escrever em trabalhos e pranchas, sem nunca nos revelar no que é que consiste no sentido prático a realização desse material. Nem uma mínima vez.

Não leve a mal estas palavras mas isto sendo um blog publico, se bem que de preferência para iniciados, esperava obter mais "luz" por assim dizer sobre o trabalho que se efectua enquanto maçon.

Confesso que isto é um nevoeiro total para mim, até porque o estado das coisas é propositadamente deixado oculto, claro.

Só um ignorante de primeira classe é que se pode indignar com o carácter discreto da maçonaria.

Mas para um profano como eu que tenta conceptualizar ou pelos menos reconhecer materialmente um mínimo o papel desempenhado pela maçonaria, e que ouve constantemente falar em ritos, iniciações, graus, trabalhos e progresso social ou intelectual com as suas prováveis influencias, vindo de gente como vocês maçons, é difícil, muito difícil, não concluir que maçonaria pode ser tudo e nada ao mesmo tempo.

Espero não me tornar em ridículo ou ter ofendido o senhor mas cada vez mais sinto uma curiosidade não pelo lado místico da maçonaria mas sim pelo lado puramente Pragmático da vossa ordem (desculpem o termo possivelmente errado).

PS: Que tal uma secção do tipo "Discutindo com o profano" (discutindo, não conversando).

Prometi-lhe uma resposta em cinco textos. Com este e mais outro, acabam por ser seis, dos quais já publiquei anteriormente quatro: Os meus Irmãos reconhecem-me como tal, O que se faz em Loja, Como se faz em Loja e Porque se vai à Loja.

Com o primeiro, penso ter esclarecido a dúvida de JPM/David sobre o que é uma prancha maçónica. Aquele texto foi uma prancha apresentada por mim em Loja. Com a exemplificação, certamente a dúvida ficou esclarecida.

Com os outros três, procurei esclarecer sobre o trabalho que se efectua enquanto maçon, o quê, como e porquê, ou seja, e utilizando a expressão de JPM/David, o lado "pragmático" da Maçonaria.

Neste texto, proponho-me responder directamente ao comentário de JPM/David, designadamente sobre o seu lamento, melhor dizendo, a sua constatação, de que um profano, apesar do (muito) que neste blogue se divulga, explica, mostra, acerca da Maçonaria, permanece dentro de um "nevoeiro" (expressão de JPM/David) em relação ao que realmente fazem os maçons, considerando mesmo que "o estado das coisas é propositadamente deixado oculto".

Já várias vezes deixei bem explícito que aquilo que a Maçonaria reserva exclusivamente para os seus membros é muito pouco, muito menos do que por aí se pensa: a identidade dos maçons que não divulgaram publicamente a sua condição, as formas de reconhecimento, as cerimónias de iniciação, passagem e elevação (e, a outro nível, as cerimónias de concessão dos Altos Graus) e o teor concreto de uma determinada reunião. E, se pensarmos bem, esta (pouca) matéria reservada justifica-se que assim seja.

A reserva de identidade de maços que não divulgaram publicamente essa condição justifica-se em face dos preconceitos que ainda impendem sobre a Maçonaria.

As formas de reconhecimento, por razões evidentes. Se fossem divulgadas eram inúteis como meio de verificação se um determinado elemento, que pessoalmente nos é desconhecido, é ou não maçon. São, no fundo, a forma, arcaica mas que o tempo provou ser eficaz, de "bilhete de identidade" do maçon. Claro que, tal como os bilhetes de identidade são falsificáveis, também há profanos que conhecem algumas das formas de identificação dos maçons. Tal como uma boa falsificação de um bilhete de identidade pode enganar alguns durante algum tempo, também o profano que conheça algumas das formas de identificação dos maçons se pode fazer passar por maçon, enganando alguns durante algum tempo. Mas, mais tarde ou mais cedo, a falsidade da sua condição acabará por ser revelada, seja porque muito dificilmente conhece todas as formas de reconhecimento que deve utilizar em todas as ocasiões e em diversas circunstâncias, seja sobretudo porque, tendo obtido ilegitimamente algumas formas de reconhecimento, com toda a probabilidade também obteve - e usará... - formas de reconhecimento que são erradas, realmente inexistentes, que nada significam e que permitem verificar que quem as usa não sabe o que está a usar... Este método funciona um pouco como o método que as empresas que elaboram e publicam mapas utilizam para defender os seus direitos de autor e poderem provar a apropriação abusiva do seu trabalho por outros: no meio dos mapas, colocam propositadamente meia dúzia de insignificantes, quase imperceptíveis e irrelevantes erros. Se alguém copiar esses mapas, copiará também esses erros e... está apanhado!

A razão da reserva sobre as cerimónias prende-se com a eficácia dos efeitos que se pretende tenham sobre aqueles que por essas cerimónias passam. Já tive oportunidade de desenvolver este assunto no texto A Iniciação (I).

Quanto o teor concreto das reuniões, a razão da sua reserva é puramente pragmática e equivalente às razões porque as empresas não divulgam o teor concreto das reuniões dos seus quadros, as associações não publicam o teor concreto das reuniões dos seus corpos directivos, os partidos políticos reservam para os seus militantes as suas reuniões deliberativas e de preparação e acerto de estratégias, a Cúria Roma não divulga o teor concreto das reuniões entre o Papa e os Cardeais e todos nós reservamos para a intimidade da nossa casa e não divulgamos a terceiros muito do que falamos entre a nossa família. Em todos os casos, não por razões condenáveis, mas porque corresponde à reserva da vida privada de pessoas e instituições. Se é assim em relação à generalidade das pessoas e instituições, não há razão para assim também não ser em relação à Maçonaria...

Fora deste limitado quadro, tudo é divulgável, publicável, explicável. E nós, aqui no blogue A Partir Pedra, consideramos que é bom, é saudável, é vantajoso para a Maçonaria e para a sociedade, que, fora do apontado e limitado quadro, se divulgue, publique e explique a Maçonaria, seus princípios, suas formas, seus objectivos, seus anseios, seus projectos, suas realizações, grandes ou pequenas, importantes ou modestas.

Como se explica, então, que como JPM/David referiu, persista o "nevoeiro" atrapalhando a visão do profano?

A resposta é simples, se JPM/Davis e restantes profanos que nos lêem e sentem a mesma frustração puserem a si próprios a seguinte pergunta: Como se descreve a um cego de nascença a cor verde?

Há coisas que só são plenamente compreendidas por quem as vive! Não é por acaso que é frequente, quando descrevemos a alguém algo que reputamos de extraordinário, de incomum, de anormal, utilizarmos a expressão Isto só visto!...

Por mais que se procure ser esclarecedor, a complexidade e a riqueza da vivência maçónica é tal que só pode ser plenamente apreendida por quem... a vive! E nem valeria a pena, sequer, por exemplo, descrever pormenorizadamente todos os gestos, actos, palavras, de, por exemplo, uma Cerimónia de Iniciação, qual guião. Seria um texto loooongo, maçador e que apenas serviria para retirar alguma surpresa e inviabilizar algum do significado da cerimónia, sem com isso permitir a apreensão da atmosfera, do ambiente, das emoções, dos efeitos que essa cerimónia, bem executada, provoca naquele que por ela passa.

No entanto, procurei, no texto A Iniciação (II) enquadrar conceptualmente esta cerimónia e assim dar a quem está de fora a possibilidade de ter alguma noção do que se faz e porque se faz. Fi-lo o melhor que pude e soube. Mas nunca conseguiria, por tal ser inexequível, transmitir para quem não passou por essa cerimónia, o acervo de emoções, sensações, sentimentos, que ela provoca e se destina a provocar. Porque... só visto!, ou melhor, só vivido, porque não é possível descrever uma cor a quem nunca viu e não tem pontos de referência que lhe permitam apreender o conceito de cor, muito menos a sua aplicação a uma cor determinada.

Isto faz com que muitos dos textos que aqui publico acabem por ter uma característica curiosa: são textos com dois níveis de entendimento. Um por quem está de fora, o outro por quem está dentro. Não imaginam a quantidade de vezes que um Irmão meu me comentou: tu, no texto tal, divulgaste tudo, ficou tudo dito... E, normalmente eu peço ao Irmão que faz esse comentário para reler o texto que apontou, não à luz do que sabe, do que viveu, do que apreendeu, mas como se ainda fosse o profano que um dia foi e verifique se com esse texto consegue chegar ao que sabe, viveu e apreendeu. E invariavelmente a resposta é que, afinal, quem não estiver por dentro do assunto, não consegue ter do texto o mesmo entendimento que aquele que o conhece.

Mas isto não é propositado. É simplesmente um facto da vida!

Para terminar, fique JPM/David descansado: não foi ridículo, não ofendeu - foi oportuno e deu pretexto para uma série de textos que espero tenham sido esclarecedores, tanto quanto possível.

E não é precisa uma secção Discutindo com o profano. Todo este blogue se destina a essa interactividade. Por isso todos os comentários são apreciados e procuramos responder. Às vezes também em comentário. Às vezes em textos suscitados por comentários havidos.

Rui Bandeira