27 novembro 2007

A Maçonaria Americana e os novos tempos

A Maçonaria nos Estados Unidos da América teve uma evolução diferente da Maçonaria Europeia. Para além das especificidades e idiossincrasias do grande País da América do Norte serem claramente diferentes da mentalidade europeia (esta conformada por uma história milenar, algo que os americanos, com paciência, também virão a ter: basta-lhes aguardar uns oitocentos anos...), a Maçonaria Americana não se desenvolveu confrontada, como sucedeu com a Maçonaria Europeia, com a existência, muito precocemente criada (no primeiro século da institucionalização da Maçonaria Especulativa), de dois ramos diferentes: a Maçonaria Regular, centrada no estilo britânico da Grande Loja Unida de Inglaterra, e a Maçonaria Liberal, oriunda das concepções que vieram a prevalecer no Grande Oriente de França e, a partir deste, para diversas Obediências Maçónicas Liberais, com significativa existência em diversos países europeus e na América do Sul.

Com efeito, não tendo vivido de perto as incidências do grande conflito ocorrido nos finais do século XVIII e primeira metade do século XIX entre a tradicional, monárquica, mas constitucional, potência marítima europeia - a Inglaterra - e a potência continental, que se tornou revolucionária, instável, oscilando entre a República, o Império e a Monarquia Constitucional - a França -, os Estados Unidos da América desenvolveram a maçonaria segundo os princípios da Regularidade, directamente herdados da sua Potência Colonizadora, sem presença importante da maçonaria de pendor Liberal.

Enquanto na Europa a Maçonaria Liberal se expandiu ao ritmo do avanço dos exércitos napoleónicos e das ideias saídas da Revolução Francesa, sob a trilogia Liberdade-Igualdade-Fraternidade e a Maçonaria Regular seguiu os caminhos mais institucionais da ligação às monarquias constitucionais, sob a trilogia Sabedoria-Força-Beleza, o espírito prático dos americanos (Nação construída desde o berço da sua Declaração de Independência sobre os pilares da Liberdade-Igualdade-Fraternidade, princípios fundamentais da sua identidade colectiva, que a sua Maçonaria não precisou de reivindicar), pouco virado para as abstracções da Sabedoria-Força-Beleza, erigiu como lema da sua Maçonaria Regular o lema Fraternidade-Auxílio-Verdade (Brotherly Love- Relief-Truth).

A Maçonaria Regular americana desenvolveu-se, assim, sem concorrência de outras orientações, privilegiando a Fraternidade entre os seus membros e a Solidariedade.

Mas as últimas décadas têm revelado problemas. Registou-se, entre os anos 60 e 80 do século passado um acentuado declínio de interesse pela Maçonaria, expresso numa significativa diminuição da entrada de novos elementos. Toda uma geração se desinteressou da Maçonaria! A partir da década de 90 do século XX, a situação começou a alterar-se, o declínio cessou. Um pequeno aumento de novas adesões é registado. A geração do século XXI redescobriu o interesse na Maçonaria! Mas isso veio pôr novos problemas. A diferença de idades entre os "velhos" e os "novos" é importante. A diferença de experiências (os "novos" não viveram a II Guerra Mundial, nem a da Coreia e têm uma vaga ideia da aventura militar no Vietname...; os "velhos" mostram-se avessos a qualquer mudança, ao que quer que altere, por pouco que seja, o que sempre fizeram) e de mentalidades (os "velhos" defendendo com unhas e dentes a concepção da Maçonaria como clube social e fraternal, dedicado à filantropia; os "novos" sedentos de estudo e análise, de obtenção de conhecimentos, de debate e aprofundamento e entendimento das lições dos rituais e dos autores maçónicos, aspirando a um trabalho mais ao jeito da Maçonaria Europeia) cavou um fosso entre estas duas gerações que nem sempre está a ser fácil de ser ultrapassado.

Os conflitos vão surgindo, as incompreensões aparecem. Para quem está de fora, é visível que as tensões se acumulam e que alguma mudança vai ter que haver, de forma a que um novo e saudável equilíbrio, minimamente confortável para ambos os lados, "velhos" e "novos", se alcance. Os mais ponderados, de uma e de outra geração, vão aconselhando calma e paciência e apontando, por um lado, que os "novos" têm muito a ganhar se atenderem à experiência dos mais antigos, ainda que isso implique retardar um pouco os passos da mudança por que anseiam (afinal de contas, os mais velhos já não conseguem andar com a vivacidade da juventude...) e, por outro, que os mais "velhos" têm de conseguir adaptar-se às mudanças e à evolução dos tempos, que o imobilismo não é solução e que o mais assisado será deixar a nova geração conduzir a Maçonaria para os carris do século XXI, ainda que isso lhes cause alguma desorientação e dificuldade na assimilação de novas referências. Os mais ponderados, em suma, assumem que nem o imobilismo nem a mudança brusca são desejáveis.

Esta evolução é, obviamente, um processo lento, doloroso, algo conflituante, por vezes. Mas tem de ocorrer. Quanto mais cada geração conseguir dialogar com a outra, procurar entender os seus anseios e receios e buscar harmonizá-los com os seus próprios receios e anseios, mais fácil a jornada se tornará, menos perigos haverá, menos derivas ocorrerão.

Para já, a Maçonaria Liberal está aproveitando a brecha e acabou de ser anunciada a criação do Grande Oriente dos Estados Unidos da América, em articulação com a "Maçonaria Moderna" (ou Liberal) de França e do resto da Europa e do Mundo ("traduzindo": do Grande Oriente de França e das Potências Maçónicas da Maçonaria Liberal agrupadas na CLIPSAS.

Não me incomoda nada. Há lugar para todos e a Maçonaria Liberal, sendo um ramo diferente da Maçonaria Regular com ela partilha o essencial dos princípios. Em democracias estabilizadas, as diferenças são mais de postura do que de fundo e resumem-se a questões que não devem fazer com que cada uma das tendências incompatibilize ou menorize a outra (aceitação ou não de ateus na Obediência, diferentes modos de intervenção na sociedade, diferentes posturas quanto às organizações mistas e femininas que se reclamam dos princípios maçónicos, e pouco mais, se é que algo mais...). Na Europa, é pacífica a implantação dos dois ramos da Maçonaria e é até existente, nalguns lados, ou encarada, noutros, a colaboração em assuntos profanos ou para o mundo profano, das Obediências de uma e de outra tendência. Cada uma das tendências procura contribuir para melhorar os seus membros e a Humanidade, à sua maneira. Talvez até se revele bom que a Maçonaria Liberal também se implante nos EUA. Talvez cada uma das tendências funcione como catalisador para o crescimento e melhoria da Maçonaria e, por conseguinte, também da outra Obediência. Mas que a Maçonaria Liberal soube aproveitar o momento para "meter uma lança... na América", lá isso é verdade! E só há que registá-lo...

Quanto à Maçonaria Regular americana, se é que de fora algum conselho é admissível, esta evolução será talvez um bom pretexto para reflectir que o imobilismo geralmente só impede mudanças harmoniosas, gerando mudanças tempestuosas e causando efeitos inesperados. Talvez esta brecha explorada pela Maçonaria Liberal na fortaleza Regular que era a Maçonaria Americana seja um exemplo disso mesmo... E, quanto aos mais "novos", talvez devam também ter em atenção que, se é necessário lavá-lo, convém não deitar fora o bebé com a água do banho... Ou, neste caso, será bom não deitar fora os "velhos" juntamente com a água corrente no desaguar da Maçonaria no século XXI...

Entendam-se! Afinal de contas, são Irmãos! Enquanto estão tão entretidos a brigar pelo tabuleiro do jogo, os "primos" já vos entraram em casa e também querem ficar com algumas das peças...

Rui Bandeira

26 novembro 2007

O Grão-Mestre Fundador

Fernando Teixeira foi o Grão-Mestre Fundador da Obediência Maçónica Regular Portuguesa, internacionalmente reconhecida, em que se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, que se denominou, inicialmente de Grande Loja Regular de Portugal e que presentemente se denomina Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal (GLLP/GLRP). O seu currículo maçónico está resumido na página dedicada aos Past Grão-Mestres do sítio da GLLP/GLRP, na forma seguinte:

Curriculum Vitae maçónico

- Grau 33 do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite.
- Membro Honorário do Grande Priorado de Helvetia.
- Cavaleiro Benfeitor Honorário da Cidade Santa, do Grande Priorado Lusitano.
- Grande Prior do Capítulo Português do Arco Real.
- Membro de Honra da Grande Loja de Washington D.C.
- Membro de Honra da Loja "Atlântida" da Grande Loja de Espanha.
- Grande Oficial Honorário do Grande Oriente de Itália.
- Membro Honorário (Venerável de Honra) da Loja "Oldest Ally" da Grande Loja Unida de Inglaterra.
- Grande Oficial Honorário da Grande Loja de Porto Rico.
- Grão Mestre Honorário "Ad Vitam" da Grande Loja da Roménia.
- Medalha de ouro da Grande Loja Nacional Francesa.

Em 1984, Fernando Teixeira sai do Grande Oriente Lusitano e funda a Grande Loja de Portugal.
Em 1989, é designado Grão Mestre do Distrito de Portugal da Grande Loja Nacional Francesa.
Em 29 de Junho de 1991, a Grande Loja Regular de Portugal é constituída e reconhecida internacionalmente como Obediência Regular em Portugal, tendo Fernando Teixeira sido nomeado o seu primeiro Grão Mestre.
Reeleito em Setembro de 1994, é substituído em Setembro de 1996, a seu pedido e por motivos de saúde, tendo sido nomeado Grão Mestre Jubilado.

Quando relembro na minha memória Fernando Teixeira, a expressão que assoma ao espírito para definir a marca que deixou em mim é a de Príncipe da Renascença. Fernando Teixeira possuía um carisma invulgar, sabia que o tinha e utilizava-o sem tibiezas. Como Grão-Mestre, governou a Grande Loja com mão de ferro envolta em luva de pelica e sorriso cúmplice. Impunha a sua vontade como um rei absoluto, mas ouvia todos os obreiros, desde os mais próximos colaboradores ao mais recente e imberbe Aprendiz com interesse, agrado e atenção. E não se coibia de elogiar uma boa ideia, um ponto de vista interessante, vindo de um obscuro obreiro e de ordenar (é o termo: Fernando Teixeira, mesmo quando pedia, ordenava...) aos seus mais íntimos colaboradores, aos que asseguravam os mais altos ofícios na Grande Loja, que executassem a boa ideia, que atentassem no ponto de vista interessante.

A imagem que guardo de Fernando Teixeira é a de um homem com uma notória superioridade intelectual, uma cultura enciclopédica, que impressionava os demais e os predispunha para seguirem as suas orientações. Daí o seu carisma. Mas também era um homem perfeitamente consciente desse seu carisma e que o utilizava, sem qualquer hesitação, para garantir que a sua vontade imperasse. Fernando Teixeira foi, sem dúvida, um homem brilhante, que era óptimo ter como amigo, mas que era temível ter como inimigo...

A Grande Loja muito deve a Fernando Teixeira, à sua enorme inteligência, à sua habilidade no trato, à sua capacidade diplomática. Tendo sido criada na esfera de influência da Grande Loja Nacional Francesa, obteve, em tempo recorde, o reconhecimento das Grandes Lojas da esfera de influência anglo-saxónicas, as Grandes Lojas americanas e a Grande Loja Unida de Inglaterra e, com ele, o reconhecimento em todo o Mundo, como a Potência Maçónica Regular em Portugal. Conseguiu, em escassos dois anos, o que outros, mais ricos, fortes e poderosos, em outras paragens levaram anos e anos a obter.

Criou a Obediência a partir quase do nada, com espartana administração dos escassos recursos disponíveis. Sabia e fez saber que a afirmação da Obediência passava também pelo seu apuro ritual. Ensinou e exigiu que se aprendesse.

Fernando Teixeira foi, sobretudo, um grande líder. Com todas as características de um líder. Com todas as virtudes de um líder. Também com os defeitos que o hábito da liderança cria. Era uma vedeta e comportava-se como tal - mas todos gostavam dele assim mesmo e todos esperavam que fosse precisamente assim que se comportasse. Era autoritário e proclamava o seu orgulho em o ser - mas todos se sentiam confiantes no seu exercício da autoridade.

Os cinco anos de exercício do ofício de Grão-Mestre por Fernando Teixeira foram muito frutuosos. Do nada, ou quase, a Obediência cresceu, implantou-se, estruturou-se, organizou-se.

Fernando Teixeira apreciava as boas coisas da vida e afirmava-o sem tibiezas. E gostava de pompa e circunstância, sobretudo nas cerimónias em que recebíamos dignitários estrangeiros. Misturava a solenidade com a humanidade e singeleza com a naturalidade só acessível aos eleitos. Recordo-me de, ainda Companheiro, o ver entrar com pomposa solenidade, usando um riquíssimo avental e o seu Colar de Grão-Mestre, numa sessão de Grande Loja. A dada altura, essa sessão de Grande Loja ficou restrita aos Mestres - o que impôs que os Aprendizes e Companheiros aguardassem no exterior o desenrolar dos trabalhos até à altura em que podiam reentrar. Mas os trabalhos eram demorados e o tempo passava... De repente, no hall do hotel onde os mais novos procuravam consolar o seu aborrecimento, a caminho do tédio, aparece Fernando Teixeira, com todos os seus paramentos. "Fiz um intervalo nos trabalhos, para vir cá fora fumar uma cigarrilha e fazer-vos um pouco de companhia, que já estão há muito tempo à espera..." E cavaqueou durante dez minutos com os Aprendizes e Companheiros, após o que reentrou para recomeçar a sessão. E claro que deixou cá fora umas dezenas de incondicionais, resgatados do tédio da espera por dez minutos de atenção do Grão-Mestre...

Foi assim Fernando Teixeira, príncipe da Renascença, homem brilhante e carismático, que gerou incomensuráveis fidelidades.

Fernando Teixeira gostava do Poder - e assumia-o. Mas a saúde começou a traí-lo e resignou-se a deixar o ofício de Grão-mestre. Mas o perfume do Poder não deixou de o atrair. Conviveu mal com a saída do ofício. Não deixou respirar o seu sucessor. Estava então, também rodeado de alguns próximos que eram mais lata brilhante do que metal precioso. Não se apercebeu que o brilho que estes mostravam mais não era do que o pálido reflexo do brilho que ele próprio emanava. Ainda o seu sucessor não tinha aquecido o lugar, desentendeu-se com ele e quis impor a sua exoneração. Acabou por integrar a cisão da Casa do Sino.

Do meu ponto de vista, errou então. Mas não é esse erro, por muito dolorosas que tenham sido as situações então vividas, que deslustra, a meus olhos e aos olhos de todos quantos com ele privaram naqueles anos gloriosos de implantação da Maçonaria Regular em Portugal, tudo o que anteriormente, com brilhantismo, ele fez em benefício desta.

Tenho - temos, todos nós nesta Casa - muito orgulho, muita honra no Grão-Mestre Fundador, Fernando Teixeira.

E muita gratidão pelo que lhe devemos. E alguma saudade.

Outros haverá que também homenageiam a sua memória. Pela minha parte, em nada isso me incomoda. Poderemos ter, porventura, outras divergências. Ainda bem que convergimos na boa recordação de Fernando Teixeira. E, lá no Oriente Eterno a que, chegada a sua hora, Fernando Teixeira passou, estas tricas dos pobres humanos nada significam...

Rui Bandeira

23 novembro 2007

O eco da vida

Mais uma pequena alegoria recebida em correio electrónico e por mim adaptada, que ilustra bem a postura que devemos ter na vida, se a queremos viver da melhor maneira.

Um pai e um filho passeavam na montanha. A certa altura, o filho magoou-se e gritou: - Aaaahhhhh!

Para seu espanto, ouviu, vinda não sabia de onde, da montanha, uma voz que respondeu: - Aaaahhhhh!

Curioso, o menino gritou: - Quem está aí?

E ouviu, vindo não sabia de onde, da montanha, a mesma voz responder: - Quem está aí?

Zangado com a resposta, o menino gritou: - Estúpido!!

E ouviu a mesma voz responder-lhe, sempre vinda não sabia de onde, da montanha: - Estúpido!!

Confuso, o menino perguntou ao pai o que se passava, que voz era aquela. O pai, sorrindo, disse-lhe: - Filho, presta atenção!

E, virando-se para a montanha, gritou: - És admirável!

Logo se ouviu uma voz respondendo de volta: - És admirável!

O pai gritou de novo: - És um campeão!!!

E ouviu-se de volta: - És um campeão!!!

O menino, admirado, continuava a não entender. Então o pai explicou-lhe: - O que ouvimos chama-se eco. É o som da nossa própria voz que, reflectido, regressa até nós.

E prosseguiu: Também a vida é assim: devolve-te tudo o que dizes ou fazes. A nossa vida é o reflexo das nossas acções. Portanto, se desejas mais amor no Mundo, cria mais amor à tua volta; se desejas felicidade, faz felizes os que te rodeiam; se desejas um sorriso na alma, dá um sorriso à alma dos que conheces. Esta relação aplica-se a todos os aspectos da vida. A vida devolve-te exactamente o que tu lhe deres. A tua vida não é uma coincidência ou uma sucessão de acasos: é um reflexo de ti próprio. Portanto, se algum dia não gostares do que recebes de volta, revê muito bem o que estás a dar!

Sejam felizes!

Rui Bandeira

22 novembro 2007

Da Loja - prefácio

Doric Room - Templo da Grande Loja de Nova York -


Há já algum tempo que ando com vontade de iniciar uma serie de textos sobre Lojas. Falar sobre aspectos relativos à gestão das mesmas, sobre o nascimento, o apogeu, o declínio, o ressurgimento e mesmo a morte das Lojas.

Não sei ainda quantos textos serão nem qual a periodicidade, nem sequer a sequência que lhes vou dar. Considerem este texto como uma introdução ao tema.

Acredito, como sempre acreditei, em Lojas fortes unidas e com uma dimensão de várias dezenas de obreiros e ao longo do tempo tenho vindo a pensar que uma Loja precisa mais do que trabalhos rituais e pranchas simbólicas.

É para mim fundamental, não só perceber porque começam as Lojas, com que objectivos e finalidades, mas também porque razão acabam, ou passam por períodos de menor vitalidade.
Uma Maçonaria forte e interventiva só é possível com Lojas a trabalharem correctamente e com projectos de união interna.

Há para mim algumas noções que não estando em livros devem ser apreendidas pelas Lojas e pelos Maçons que as compõem, e creio que começar com essas noções será uma boa forma de iniciar esta sequência de textos.

Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiro, destes nem todos chegarão a Mestre Maçon. Seguramente que apenas alguns dos Mestres chegarão a Venerável Mestre .

O Cargo de Venerável não é o fim último de uma “carreira” dentro da Loja. É um cargo ao qual se deve chegar porque se crê que naquele momento aquela pessoa pode acrescentar à Loja.

Acrescentar significa continuar um projecto existente e não fazer um projecto próprio. Apenas a Loja deverá ter um projecto para o qual contribuem todos incluindo o Venerável.

O sucesso do percurso está, de facto, ligado ao Homem em si, mas está muito mais ligado à capacidade da Loja de suprir quaisquer defeitos ou falhas e permitir o sucesso daqueles que por feitio ou personalidade são um pouco menos carismáticos, e também ter a capacidade de mitigar as acções daqueles que são muito carismáticos.

Deve ser feito o aproveitamento máximo do Capital de Experiência, mas não se deve exaurir a fonte.

Lançado que está o tema, resta começar a trabalhar nele. Todavia as perguntas e os comentários serão sempre bem vindos e ajudarão seguramente a melhorar esta sequência de textos.



José Ruah

EXPOSIÇÃO de PINTURA e DESENHO














Para quem andou por "Castelo Rodrigo" recorda-se com certeza da "Maria", para quem não andou ficará a recordar-se se fôr visitar a exposição !

Não deixem de ir até lá !

JPSetúbal

O reactor nuclear de Sacavém tem um novo coração








Dentro das pesquizas diárias sobre assuntos diversos surgiu-me esta notícia, publicada no "Público" e assinada por Teresa Firmino, que quis trazer para o blog por 2 razões:

- O nuclear foi questão já ventilada por cá;
- Tem relação directa com o tema "Meio ambiente", também muito tratado entre nós.

Então aqui Vos deixo este trabalho, que considero bem interessante.

Para José Marques, a luz mais bela do mundo vem do fundo de uma piscina. Não de uma piscina qualquer, mas daquela onde se encontra o núcleo do Reactor Português de Investigação, perto de Sacavém. Do núcleo – o coração do reactor – emana um azul luminoso, intenso, tranquilizador até.
Este Verão, o reactor recebeu um novo coração, com outro combustível, que entretanto voltou a brilhar.“Então José, o azul mudou?”, perguntava, a brincar, Parrish Staples, da agência nacional de segurança nuclear do Departamento de Energia dos EUA, depois de uma visita ao reactor há alguns dias. “Não, que eu tenha notado”, respondia-lhe, no mesmo tom, o director do Reactor de Investigação Português.
Mas o físico português não quis perder o momento, há cerca de duas semanas, em que o reactor com o novo combustível atingia a potência normal, que é de 1 megawatt, o equivalente a mil aquecedores a óleo domésticos de 1 quilowatt. Subiu para uma ponte móvel mesmo ao centro da piscina e pôs-se a fotografar o tal azul ou, como ele diz, “a luz mais bonita do mundo”.
Bem conhecida dos físicos nucleares, essa é a radiação de Cherenkov, um fenómeno descrito pelo físico russo Pavel Cherenkov, pelo qual ganhou o Nobel da Física de 1958. Durante a reacção em cadeia, os átomos de urânio são escaqueirados com neutrões: dessa cisão resultam outros elementos radioactivos, cuja posterior desintegração origina a emissão de electrões e positrões.
Ora, a luz azul é o efeito resultante do facto de essas partículas viajarem mais depressa do que a luz na água (a luz viaja a menos de 300 mil quilómetros por segundo na água, enquanto as partículas o fazem a essa velocidade).
Para chegar ao pé do reactor português e ver a inesquecível radiação de Cherenkov, é preciso ir ao Instituto Tecnológico e Nuclear. José Marques, de 42 anos, a trabalhar no reactor desde 1997, é o cicerone de uma pequena comitiva, para assinalar a conversão do reactor.
Entre os convidados, além de Parrish Staples, encontra-se James Matos, do Laboratório Nacional de Argonne, perto de Chicago; John Kelly, representante da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA); e Jean-Louis Falgoux, da Cerca, a empresa francesa que fabricou do combustível para o reactor português.José Marques encaminha-os até à porta metálica de um pavilhão, com um palmo de grossura, por cima da qual se lê, em letras cor-de-rosa, “reactor em operação”.
Transpõem essa porta, esperam numa salinha até outra porta igual se abrir e, depois de passarem por um corredor, surge-lhes a piscina do reactor. Ergue-se nove metros acima do solo, no centro, sem qualquer janela para o exterior.
No fundo da piscina, repousa o coração do reactor rodeado por 450 mil litros de água, que blindam a radiação.

O enriquecimento do urânio

Neste momento, o núcleo só tem urânio de baixo enriquecimento, tendo sido substituído o núcleo com urânio muito enriquecido. Na natureza, o urânio natural é quase só do isótopo (forma) 238, possuindo apenas 0,7 por cento de urânio-235, aquele que interessa para uma reacção em cadeia.
Por isso, tem de se enriquecer o urânio natural com o isótopo 235. Se for para um reactor de produção de electricidade, é enriquecido até cinco por cento. Se for para um reactor de investigação, como o português, o enriquecimento vai até quase 20 por cento. Quando se excede os 20 por cento, o urânio é considerado de alto enriquecimento.
Era o que sucedia com anterior núcleo do reactor português: comprado aos EUA em 1973, tinha urânio enriquecido a 93 por cento.“Pouco depois desse urânio ter sido comprado, na Administração Carter, os EUA decidiram limitar as vendas deste tipo de material, dado que poderia ser convertido para usos militares, para bombas”, explica José Marques. “A maior parte dos países têm vindo a converter os reactores para um enriquecimento inferior a 20 por cento, dado que esse tipo de material já não tem interesse para aplicações militares.”Agora chegou a vez do reactor português.
Começou a funcionar a 25 de Abril de 1961, quando se fez a primeira reacção nuclear controlada em Portugal.
Na altura, pensava-se que o país poderia vir a ter uma central nuclear de produção de energia eléctrica, uma ideia abandonada nos anos 70.
É a terceira vez que se compra combustível para o reactor, depois do que foi adquirido em 1961 (devolvido em 1999 aos EUA) e em 1973 (em uso até agora).O projecto para mudar o núcleo necessitou de três anos. “Tenho mais de 500 e-mails de José Marques”, lembra James Matos, para exemplificar o imenso trabalho.
O Departamento de Energia dos EUA deu o urânio já enriquecido e uma parte do dinheiro para pagar o fabrico do combustível à Cerca, a outra parte foi paga por Portugal (no total, custou 500 mil euros).
O laboratório de Argonne e a equipa do reactor nuclear português fizeram os estudos de segurança para a mudança do núcleo. E à AIEA coube a coordenação global do projecto, dando a ajuda que se necessitasse e avaliando os estudos de segurança feitos.
A 31 de Maio, o reactor era parado.
Em Junho, a AIEA enviava uma carta formal dizendo que apoiaria qualquer pedido de licenciamento que os responsáveis pelo reactor fizessem às entidades portuguesas competentes. Em Agosto, a Direcção Geral de Geologia e Energia concedia, assim, a licença de operação com o novo combustível. No início de Setembro, o novo núcleo começava a operar a baixa potência.“Herdei um sonho, que é manter o reactor a funcionar nas melhores condições e disponibilizá-lo à comunidade científica”, resume José Marques.
Para tal, terá urânio que chegue até 2016.

Como é o núcleo e o que vai fazer-se com ele

Se, pela luz azul, o coração do reactor nuclear português é fácil de localizar dentro da sua piscina, como é ele exactamente?
Do topo da piscina, um conjunto de tubos cilíndricos desce até ao reactor: são as barras de segurança, que, caso seja necessário parar a reacção em cadeia, entram pelo coração do reactor adentro e absorvem os neutrões que fazem falta para manter a reacção.
O sítio onde entram essas barras, visto de cima, parece uma grelha: na verdade, são 12 paralelepípedos na vertical, a que se chama os “elementos de combustível”.
Em cada um desses elementos, com 70 centímetros de altura, existem placas de alumínio e são elas que têm o urânio no miolo. Alguns desses elementos têm 18 placas de alumínio, enquanto outros, aqueles onde descem as barras de segurança, possuem uma dezena. O coração velho repousa num canto, no fundo da piscina, até os EUA o virem buscar. Se apagássemos todas as luzes, ainda veríamos uma luz azul ténue, durante anos.
Dentro da água, junto ao novo coração do reactor (o único na Península Ibérica dedicado à investigação científica), irão ser colocados os mais diversos objectos para serem irradiados. Já se irradiaram peças arqueológicas para ver a composição, rochas lunares, esterilizaram-se moscas dos citrinos ou testaram-se murganhos à procura de um tratamento selectivo do cancro.
O reactor serve também para investigação fundamental médica, por exemplo produzindo isótopos (formas de elementos) radioactivos. O estudo de materiais num ambiente de radiação é outra das suas utilizações, razão por que o reactor português faz parte de uma rede europeia de pequenos reactores: “Vão fazer-se estudos de materiais para a próxima geração de reactores de produção de electricidade”, explica José Marques, director do reactor português.
Outra das vertentes do reactor é a educação: “Tem sido uma ferramenta de ensino desde o início da sua operação em 1961. Todos os anos recebemos dezenas de alunos universitários, que aí realizam trabalhos experimentais que não poderiam fazer noutro sítio.
Recebemos também milhares de estudantes do ensino secundário, que têm assim o primeiro contacto com o ‘nuclear’”, acrescenta José Marques.

A 51ª conversão de um núcleo americano

Com o caso português, os EUA já mudaram o combustível a 51 reactores nucleares de investigação, desde 1978. Nesse ano, lançaram um programa para converter o urânio altamente enriquecido de reactores de investigação em urânio de baixo enriquecimento.
O motivo? Se for roubado urânio de um reactor de investigação enriquecido acima de 90 por cento com o isótopo 235, esse material pode ser utilizado para fazer bombas. O melhor, considerou-se, seria deixar de usar urânio muito enriquecido para fins civis. “A única maneira de convencer países que podem ser problemáticos a não usar esse material é dar o exemplo. É não haver excepções para ninguém”, explica o físico José Marques.
Em 2004, o programa americano ganhou impulso, em particular por causa dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, chamando-se Global Threat Reduction Iniciative.
Depois disso, os presidentes George W. Bush (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) acordaram um programa conjunto: “Tanto os americanos como os russos se comprometeram a fazer a limpeza do mundo. Foram eles que forneceram tecnologia nuclear, cada um na sua esfera de influência. Tomaram a responsabilidade de ir buscar o material que forneceram desde os anos 50, o que não é trivial”, diz José Marques.
Entre os 51 reactores de investigação de origem americana já convertidos, 14 estão nos EUA (aí, outros 28 aguardam conversão). “Ainda há cerca de outros 50 para ser convertidos que usam urânio de alto enriquecimento fornecido pelos EUA”, conta José Marques.
Quanto aos núcleos de origem russa, houve quatro conversões. Entre reactores americanos e russos, qual é a situação? “Há mais de 100 reactores a operar com urânio altamente enriquecido.
Há 20 toneladas de urânio altamente enriquecimento por aí, que dão para fazer centenas de armas nucleares”, refere John Kelly, representante da AIEA. “A conversão de núcleos é um programa de segurança.”


JPSetúbal

21 novembro 2007

Interlúdio

Contra o que é habitual, ontem não foi publicado qualquer texto no A Partir Pedra. Tal ocorreu por avaria nas comunicações na zona de onde me ligo à Rede, precisamente quando, com o texto já escrito, seleccionava uma imagem para o acompanhar. Aproximava-se a hora do jantar - que, em minha casa, é um momento sagrado de reunião e convívio familiar - e não me foi possível aguardar pelo retomar das comunicações. Portanto, ontem as circunstâncias impuseram que não pudesse ser cumprido o propósito de, fora dos períodos de férias, o blogue ter sempre publicado, pelo menos, um texto em cada dia útil.

Fiquei levemente aborrecido, mas sou um optimista. E um optimista consegue sempre descortinar algo de bom no que corre mal, consegue sempre antecipar algum sol no meio de uma tempestade.

A pausa forçada permite-me reequilibrar um pouco a minha produção de textos aqui no blogue. Como tive oportunidade de referir aqui, este ano maçónico esperava que a minha contribuição para o blogue se cifrasse em dois textos por semana. Isso não se tem revelado possível. O reforço que se anunciava não se concretizou. Até agora, pelo menos. Os afazeres e as falhas de inspiração dos outros autores habituais de textos no blogue também os têm impedido de publicar mais assiduamente. Como resultado, para garantir o cumprimento do desejado objectivo de pelo menos um texto em cada dia útil, tenho tido necessidade de publicar quatro e, por vezes, cinco textos por semana.

Não me queixo. A publicação de textos no blogue é um acto voluntário, quem corre por gosto não cansa e quem não pode, arreia. Mas esta necessidade de garantir um ritmo elevado de publicação não deixa de me preocupar, sobretudo pelos possíveis reflexos na qualidade dos textos. Não é possível haver ópera todos os dias... E quanto mais dias houver função, menor será a proporção da ópera no meio da música...

A qualidade dos textos aqui publicados é para mim importante. Para escrever qualquer coisa de qualquer maneira, mais vale estar quieto e tentar fazer algo de mais útil... Procuro, portanto, escrever de forma a expor ideias, pensamentos, conclusões, que sejam dotados de alguma Sabedoria, que tenham alguma Força para inspirar ou influenciar quem lê e que sejam textos com alguma Beleza de escrita.

Porém, para escrever algo com uma sofrível Sabedoria é preciso reflectir. E quanto mais frequentemente se tiver que publicar, menos tempo se tem para reflectir no que se escreve...

Para escrever algo com a Força suficiente para marcar quem lê o texto, tem de se escrever convictamente. E a necessidade de publicar todos os dias obriga, por vezes, a escrever sobre detalhes, ligeirezas ou curiosidades, sobre os quais dificilmente se consegue transmitir convicção... Não que não haja lugar a textos sobre detalhes, ligeirezas e curiosidades aqui no A Partir Pedra. Claro que há, até por uma questão de saudável variedade de temas e estilos. Mas gostaria de poder programar mais descansadamente a mescla do sério com o ligeiro, para poder tentar até o ligeiro dotar de alguma Força...

Para escrever textos com alguma Beleza, com alguma qualidade de escrita, necessito de muita transpiração... Não sou um artista das letras, não escrevo particularmente bem, tenho consciência que mais não sou do que um medíocre alinhavador de palavras, um sofrível escrevinhador, um razoável divulgador de pensamentos. Mas, embora com reduzido sucesso, procuro, tento, teimo, que o que escrevo tenha, aqui ou ali, algo que possa ser considerado como não feio de todo. Para tentar não me distanciar muito desse objectivo, mister é que releia, emende, corrija, melhore o que a minha pouco inspirada mente vai dolorosamente expelindo. Mas a necessidade de publicar a um ritmo diário permite-me menos tempo para que o faça... E, no entanto, para mim é importante ter possibilidade de reler e aprimorar os textos que vou escrevendo, antes de os publicar. Nunca cesso de me surpreender como a simples alteração de disposição, de humor, entre o momento em que escrevi um texto e aquele em que o revejo, me possibilita aprofundá-lo com novos detalhes, enriquecê-lo com novas cambiantes, adorná-lo com mais uma ou outra imagem.

Procuro, sempre que possível, escrever com alguma antecedência, ter de um a cinco textos aptos a serem publicados, de forma a poder revê-los, melhorá-los, afiná-los, antes da publicação de cada um e, até, poder jogar com a respectiva ordem de publicação. Mas ultimamente isso não tem sido possível: os meus próprios afazeres nem sempre me têm permitido escrever todos os dia úteis e a reserva de textos foi sendo utilizada.

Procuro, pelo menos, escrever de manhã e só publicar ao fim da tarde, para ainda ter um tempinho para o meu subconsciente me ajudar a providenciar por uma ou outra afinação. Mas dias há em que nem isso tem sido possível, em que tenho escrito e imediatamente publicado. Resultado: quando releio o que já está publicado, mais frequentemente do que eu gostaria deparo com detalhes que deviam ter sido melhorados. E isso aborrece-me. Porque quem me lê tem direito ao melhor do que sou capaz, não apenas ao que saiu...

Portanto, a avaria de ontem teve o resultado positivo de me permitir uma pequena folga, que, espero, me ajudará a poder melhorar um pouquinho a qualidade do que publico. Porque ontem não publiquei e o texto que estava prestes a ser publicado fica de reserva para um dia destes (após revisão e aperfeiçoamento...) e hoje pude, a propósito, exercitar a minha capacidade de escrever sobre nada, ganhei mais um dia para reflectir sobre algumas coisas que ainda não tinha decidido se iria escrever sobre elas aqui no blogue - e que entretanto já deu para me decidir pela afirmativa -, de forma a que valha a pena escrever sobre elas. Escrever sobre nada dá-me tempo para reflectir sobre a substância do que escreverei um dia destes. Hoje, escrevi sobre a espuma de algo sem importância, enquanto me preparo para escrever sobre o âmago de assuntos bem mais importantes.

O que uma avaria propicia e o que a capacidade optimista de retirar algo de positivo do que corre mal possibilita!

Rui Bandeira