13 julho 2007

As ilustrações maçónicas de Steve McKim

Sempre procurei ilustrar cada texto que publico aqui no blogue com uma imagem. Às vezes, demoro mais tempo a procurar e seleccionar a imagem do que a escrever o texto...

Penso que será incontroverso que ultimamente tenho publicado imagens de uma alta qualidade. Todo o mérito deve ser dado ao senhor que criou também a bem disposta imagem que ilustra este texto, a qual, com evidente ironia, intitulou de Secret: o Irmão Steve McKim.

Steve McKim tem uma criatividade fantástica e criou dezenas de ilustrações maçónicas, tendo algumas delas publicadas no sítio Steve McKim's Masonic Graphics .


Várias composições de esquadro e compasso (que comecei a aproveitar para ilustrar a série de textos dedicada aos vários Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues), ilistrações dedicadas a várias lojas, ilustrações reunindo os temas da Maçonaria e do mar, ilustrações de templos, alegóricas, enfim, todo um acervo de ilustrações de alta qualidade estética e gráfica são passíveis de ser apreciadas no sítio de Steve McKim.

Todas as imagens estão protegidas legalmente por direitos de autor. Podem ser livremente fruídas por quem quer que aceda ao sítio, mas não podem ser utilizadas sem prévia e expressa autorização do seu criador. Porém, McKim declara que autorizará sempre o seu uso para fins de promoção da Maçonaria, não prescindindo, no entanto, de prévio pedido de autorização, em ordem a poder manter o controlo sobre a utilização das imagens por si criadas. No caso do A Partir Pedra, a autorização foi concedida escassos minutos após o envio da mensagem de correio electrónico solicitando-a. Mais simples e rápido era impossível!

Steve McKim tem outras imagens em outros sítios, aliás acessíveis através de atalhos incluídos no sítio a que agora me refiro. Porém, este tem a vantagem de ter as imagens menos pesadas e mais directamente acessíveis a visualização. Nos outros sítios - dele ou em conjunto com outros ilustradores, que se agrupam num colectivo a que chamam Masonic Web Warriors -, as imagens são também de alta qualidade e disponibilizadas em JPEG e GIF, mas o carregamento de cada uma é um pouco mais demorado.

A beleza das imagens e o seu significado bem merecem que se dedique alguns minutos à sua apreciação. Recomendo vivamente a visita a este sítio. Mas quem não quiser seguir o conselho possivelmente acabará por, tendo paciência, não perder nada: suspeito que não vou resistir a publicá-las todas aqui no A Partir Pedra...

Rui Bandeira

12 julho 2007

O sexto Venerável Mestre

O sexto Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues foi Victor E. C.. Exerceu funções entre Setembro de 1995 e Setembro de 1996.

Se o Venerável Mestre anterior, Manuel A. G., era um homem corpulento, Victor E. C. não o era menos. Se aquele era um homem bonacheirão, este elevava essa característica ao superlativo absoluto. Se um era um grande amigo de Fernando Teixeira, o outro não o era menos. Se um era aficionado pela tauromaquia, ao outro esta corria-lhe nas veias. Se um era monárquico, o outro monárquico era. Vistas à distância do tempo as características pessoais de um e de outro, efectivamente ressaltam as semelhanças, as similaridades de interesses, as cumplicidades de gostos, o paralelismo de percursos, que ambos partilhavam.

Porém, pese embora estas semelhanças, Victor E. C. não era e não foi um clone de Manuel A. C., longe disso. Desde logo, enquanto este irradiava serenidade, aquele transbordava simpatia. Mais uma vez, a Loja era dirigida por quem privilegiava a afectividade e a camaradagem. Era quase como se um invisível sistema de pesos e contrapesos actuasse sobre os destinos da Loja, pontuados pelo rigor, mas também pela afectividade, umas vezes com um pouco mais de prevalência daquele, outras com uma nota mais acentuada desta.

Victor E. C. era, à época, um bon vivant, bom garfo e bom copo. Hoje, não será já tanto assim, que a idade já pesa e os cuidados com a saúde já o obrigam a cuidar do acerto de como come e a uma especial moderação no que a líquidos tange. Além disso, era e continua a ser um excelente conversador, um grande organizador de convívios, viagens, visitas e eventos.

Com ele, a Loja desdobrou-se em actividade, em colaboração com a Grande Loja, em visitas, em organizações. Ainda hoje as mulheress dos obreiros dessa altura dizem que "no tempo do Victor é que vocês sabiam organizar coisas...".

Victor E. C. manteve a Loja no rumo que a mesma levava. O número de obreiros continuava a aumentar. Os Aprendizes e Companheiros continuavam a ser bem formados e a só serem passados a Mestres após terem permanecido nos seus graus o tempo que se entende como necessário e após terem evoluído como devido. A tudo isto acresceu o apreço de Victor E. C. pela vertente do convívio social e a sua capacidade de organização nesse aspecto.

Esta característica não fora, porém, consensual. Antes da sua eleição, um obreiro então com alguma influência na Loja, defendeu, em conversas com outros obreiros, que alguém com esse gosto pelo convívio social, que ele considerava fútil, não tinha as melhores condições para dirigir a Loja e defendeu que a Manuel A. G. sucedesse, não o seu 1.º Vigilante, Victor E. C., mas sim o seu 2.º Vigilante, José Ruah. Essa tese não mereceu vencimento. Praticamente todos os demais entenderam que não só Victor E. C. tinha todas as condições para dirigir a Loja, mas também merecia ser eleito para essa função, pelo esforço e dedicação que há vários anos dedicara à Loja e à Grande Loja, em leal colaboração e esforçado apoio a quem dirigia uma e outra. Além do mais, todos ainda tinham fresca na memória a forma como fora resolvida a transição do segundo para o terceiro Venerável Mestre e as vantagens que existiam em não haver lutas pelo poder na Loja, seguindo-se uma natural e aceite ordem de transmissão de funções.

Em boa hora se tomou tal decisão! Tivesse-se então abandonado o critério que era seguido e cedido à pretensão de ultrapassar Victor E. C. por José Ruah e amargamente pagaríamos o preço no ano seguinte!

É que, se na Loja tudo corria bem, no conjunto da Grande Loja não era bem assim: um poderoso grupo estendia a sua influência, ganhava posições, preparava o assalto ao quimérico poder. As nuvens acastelavam-se no horizonte. A tempestade veio a rebentar no ano seguinte. E se José Ruah tivesse sido Venerável Mestre em vez de Victor E. C., não beneficiaria a Loja da sua firmeza ao leme quando a colossal borrasca nos atormentou! Mas essa é matéria para outro texto...

No ano maçónico de 1995-1996, apesar destas nuvens negras no horizonte, a Loja manteve o seu curso pujante e beneficiou de um excelente ano sob a direcção agradável e convivial de Victor E. C.. Todos juntos! Mal sabíamos nós que esse era o último ano em que o caminho era comum para todos!

Victor E. C., pelos profundos laços de amizade com Fernando Teixeira, quando a crise sobreveio, não podia, desde logo por razões afectivas, deixar de o seguir. Mas teve um comportamento exemplar na execução do que veio a ser por todos decidido. A ele muito se deve que a Loja Mestre Affonso Domingues seja uma e una. A ele e outros se deve a recuperação dos nosssos bens. Nunca, nem nos tempos mais dolorosos e profundos de separação, o Victor E. C. deixou que a sua Amizade por todos, os que optaram por um lado e os que escolheram outro caminho, fosse perturbada. Acompanhou Fernando Teixeira e isso só lhe ficou bem. Quando Fernando Teixeira passou ao Oriente Eterno, ficou liberto das obrigações que a sua profunda amizade por ele lhe impusera. Entretanto, passou por crises pessoais, profissionais e de saúde que limitaram a sua acção. Mas sempre continuou em estreita ligação connosco. E, um dia destes, espero, e espero não me enganar, estará de novo no lugar que é seu, na Loja Mestre Affonso Domingues, num confortável retomar de cumplicidades.

Rui Bandeira

11 julho 2007

Sete maneiras de arruinar uma Loja

Exposto no vestiário do Templo da Respeitável Loja Rigor, n.º 57, encontra-se um quadro com o texto que a seguir aqui transcrevo. Um dos fundadores da respeitável Loja Rigor, n.º 57, esclareceu que o texto exposto é uma tradução, feita pelos membros da Loja, de um texto existente no Museu da Maçonaria, em Salamanca.

O texto vale por si e não necessita de comentários. Apenas uma chamada de atenção: devidamente adaptado, vale para qualquer organização social tanto quanto para uma loja maçónica.

SETE MANEIRAS DE ARRUINAR UMA LOJA

1. Não assistir às sessões.

2. No caso de assistir, aparecer tarde.

3. Se participas nas reuniões, procura todos os defeitos possíveis nos trabalhos.

4. Nunca aceites cargos, uma vez que é mais fácil criticar que trabalhar.

5. Se não te nomearem para uma comissão, zanga-te; e, se te nomearem, não desempenhes a missão.

6. Se o Venerável Mestre te pede uma opinião acerca de um assunto importante, responde que nada tens a dizer, mas logo depois diz como se deveriam fazer as coisas.

7. Trabalhar o menos possível e, quando algum membro se disponibilizar para fazer um trabalho importante, dizer que a Loja está manipulada por uma camarilha.

Rui Bandeira

10 julho 2007

Organista, Mestre da Musica ou da Coluna da Harmonia


Tenho vindo nas últimas sessões da minha Loja a desempenhar um cargo que me tem dado um prazer muito grande. O de Organista ou Mestre da Coluna da Harmonia.

A Musica numa sessão de loja é de grande importância, pois completa o ritual dando-lhe um sustentáculo que permite elevar a espiritualidade e a disposição dos presentes e consequentemente da sessão em si.

Engana-se o leitor se pensar que por música numa sessão de Loja é chegar ali e debitar umas músicas, de preferência do Mozart e se forem muito conhecidas melhor.

A Loja Mestre Affonso Domingues sempre primou por ter Organistas de qualidade, e não falo de mim que ainda não me considero Organista nem terei a qualidade dos titulares, e consequentemente sempre teve música de grande nível nas suas sessões. Bastará para tal dizer que foram sempre músicos e melómanos os Organistas, foram e são porque o actual titular do Cargo (já o é desde 1996) é musico tendo na sua juventude gravado Discos e tocado em grandes salas por esse mundo fora.

O nosso Irmão Organista, tem ao longo destes anos vindo a criar para cada sessão um CD com a sequência de músicas com que nos enche a sala e nos delícia. Um Acervo fantástico o que tem vindo a ser produzido, por ele, com o fim único de embelezar e transmitir solenidade às sessões de Loja.

Ora por motivos pessoais e familiares, que queremos ver resolvidos tão brevemente quanto possível, a sua assiduidade tem sido prejudicada este ano, e por isso tenho assegurado a sua substituição.

A primeira vez foi um pouco de improviso, e como fui avisado 30 minutos antes e já ia a caminho usei os CDs que tinha no carro e com um pouco de Mozart aqui, Respighi ali, mais Mozart por acolá, lá me safei.

O bichinho ficou e dei comigo a preparar no meu computador portátil uma playlist com músicas para sessão de Loja. Este exercício, era essencialmente isso um exercício, não tinha na altura nenhum fim específico pois não sabia quando teria que fazer nova substituição. Era por assim dizer um trabalho para meu divertimento pessoal.

Continuei normalmente a aumentar o directório do meu portátil com música, não porque a quisesse por em Loja, mas porque gosto de trabalhar com música. Todavia cada vez que uma peça, um andamento, uma faixa me parecia adequada marcava-a inserindo na lista de música para sessão.

E um dia lá tive que ir fazer uma substituição. Saí de casa com o portátil, um par de colunas de computador, e uma extensão eléctrica. A coisa correu bem e a partir dai passei a assegurar a música sempre que necessário.

Decidi também que sempre que possível fugiria dos autores tradicionais (Mozart, Beethoven, Bach, etc.) e utilizaria outros tipos de musica. Nesta senda já usei músicas interpretadas em ritmo reggae, de grupos como os Queen, Norah Jones, Evanescence, ou ainda música de guitarra portuguesa composta e interpretada por esse Génio que foi Carlos Paredes.

Tenho também aproveitado para testar algumas músicas da minha cultura Judaica, sempre instrumentais e em interpretações para violino, ou de conjuntos de musica Klezmer (Musica Judaica da Europa Central).

Rapidamente percebi que cada sessão é muito diferente da anterior e que, as musicas que resultaram em cheio numa podem não servir para a seguinte. E Aqui surge a necessidade absoluta de improvisar, de escolher uma alternativa que não foi pensada e que tem que substituir o alinhamento pensado com base na ordem de trabalhos previamente distribuída.

Há que conseguir gerir os imprevistos, como sejam um visitante que chega e que se anuncia já com os trabalhos a decorrer. Ou uma decisão de modificação de sequencia dos trabalhos, ou uma alteração de ultima hora ou mesmo como há uns dias atrás a tentativa de reforçar uma alocução (não conhecida) de um Irmão com uma musica apropriada.

A música no meu ponto de vista deve preencher todos os vazios. Deve ser adaptada a cada momento, Grandiosa na abertura dos trabalhos, Alegre no fecho, motivante quando se procede à recolha de fundos para beneficência, espiritual na Cadeia de União, e por aí a fora.

Pode parecer uma sobrevalorização, mas não é. O Mestre da Coluna da Harmonia tem uma importância enorme na qualidade dos trabalhos. Não pode imaginar o leitor (excepto Irmãos que me leiam) a diferença entre um bom acompanhamento musical (não na qualidade das peças musicais usadas mas na cobertura da sessão) e um mau acompanhamento, já para não falar que uma sessão sem música é uma “sessão coxa”.

Já desempenhei muitos cargos em Loja, já fui Venerável (e sobre isso falarei um dia), e sempre os desempenhei com zelo, correcção e gozo pessoal, mas nenhum me deu tanto prazer como o de organista, ainda que só o seja em substituição.

Espero que um dia possa vir a ser o Organista Titular da Loja Mestre Affonso Domingues, e mesmo esperando que esse dia seja só daqui a muitos anos porque o actual Organista é excepcional, sei que nessa altura vou avançar mais um degrau.

José Ruah
P.S. Louis Armstrong foi Maçon e Musico ( evidentemente)

Outra visita a RIGOR… (em fraternidade)

Como já foi elaborado antes neste A-Partir-Pedra o “sete” (o carácter numérico 7) é especial para a maçonaria e o Sábado passado permitiu uma conjugação especial de “setes”, na data (dia, mês e ano) e na cerimónia das sete maravilhas (as internas e as externas).

Não foi premeditado, mas a coincidência com a visita que alguns obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues fizeram à Loja Rigor (a Leste de Bragança) foi, de facto, uma “coincidência feliz”.

Outra coincidência, bem feliz, foi a visita do Grão-Mestre da GLLP/GLRP, que nos acompanhou nos trabalhos e nos tempos de “recreio”, incluindo o magnífico passeio de barco pelo Douro internacional que nos foi proporcionado pelos nossos irmãos “rigorosos”.
Segundo Eles, pudemos visitar o “parque natural mais belo do mundo”, o que seria um exagero enorme se… aquele não fosse o “parque natural mais belo do mundo”.
Como é, fica provado mais uma vez o “rigor” dos nossos Irmãos !

Em pleno Douro saltou à vista o timoneiro da nau, que não só comandou… como aproveitou para explicar detalhes dos trabalhos a executar pelos obreiros que O acompanhavam.





Neste encontro ficou agendado (ainda sem data, mas para breve) a visita dos nossos Irmãos a Lisboa (e à nossa Respeitável Loja), a fim de darmos continuidade ao processo de geminação que ali teve o seu ponto de partida.
Será trabalho para os próximos Veneráveis das 2 Lojas, atendendo a que o actual Veneralato está a terminar, compromisso assumido por todos, e como se diz “em língua oficial portuguesa”… Yá stou a oubir ls nuossos antigos a dezir, cun çprézio: 'me cago ne ls homes que nun ténen palabra.' Mais palabras para quei?
Realmente estamos obrigados, agora por mais esta razão, a trabalhar para que “ls nuossos antigos” não venham a ter razão para “cun çprézio”, fazerem que prometeram !!!


JPSetúbal

09 julho 2007

Uma visita a RIGOR

Uma delegação de sete obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues efectuou no fim de semana último uma visita à Respeitável Loja Rigor, n.º 57 da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP, ao Oriente de Bragança.

Nesta visita, a delegação da Loja Mestre Affonso Domingues teve a honra de acompanhar o Muito Respeitável Grão- Mestre, Mário Martin Guia. O nosso companheiro neste blogue José Ruah deslocou-se na dupla condição de obreiro da Loja e de Grande Inspector para o Rito Escocês Antigo e Aceite.

Deslocámo-nos na companhia das respectivas famílias, pelo que, enquanto decorreu a reunião da Respeitável Loja Rigor, n.º 57, a esposa de um dos nossos anfitriões acompanhou as nossas mulheres e filhos numa visita ao castelo e a alguns museus de Bragança.

Na reunião, tivemos, designadamente, o grato prazer de testemunhar a iniciação do vigésimo quarto obreiro da Loja Rigor, a qual se destaca pela elevada assiduidade dos seus obreiros, além de ter ficado decidida a geminação entre as duas Lojas. Tal decisão foi assinalada pela assinatura num diploma a ela alusivo, efectuada pelos Veneráveis Mestres Domingos A., da Respeitável Loja Rigor, n.º 57, e Paulo FR, da Loja Mestre Affonso Domingues.

Se nada sobrevier em contrário, está prevista para o próximo ano maçónico a retribuição da visita, ocasião em que, ultimada e acordada a redacção do respectivo Convénio de Geminação, se prevê a realização, em Lisboa, da formal cerimónia de geminação entre as duas Lojas, através do Ritual de Geminação que, a propósito da geminação ocorrida entre a Loja Mestre Affonso Domingues e a Respeitável Loja Fraternidade Atlântica, n.º 1267 da Province de Bineau da Grande Loge Nationale Française, no ano maçónico transacto, foi elaborado por obreiros da nossa Loja e mereceu a aprovação do Grão-Mestre então em funções.

A Loja Rigor, n.º 57, possui magníficas instalações próprias, graças ao esforço e ao trabalho dos seus obreiros, e, após a sessão, nelas teve lugar um agradável ágape, reunindo os obreiros de ambas as lojas e respectivas famílias.

A hospitalidade fraterna dos nossos Irmãos da Loja Rigor, n.º 57, foi insuperável e tornou-nos devedores do nosso reconhecimento e desejo de, não superá-la (porque o insuperável é insusceptível de superação, por definição), mas de dela nos aproximarmos tanto quanto possível.

Rui Bandeira

06 julho 2007

URGÊNCIAS 2007

Estreou ontem, dia 6 de Julho, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, o espectáculo teatral URGÊNCIAS 2007, um conjunto de peças curtas, escritas por autores portugueses contemporâneos, a partir do mote "o que é que tens de urgente para me dizer?".

Esta terceira edição do conceito, sempre com textos novos, mostra uma assinalável evolução qualitativa, com uma inteligente encenação de Tiago Rodrigues e um oportuno aproveitamento dos meios técnicos que o Teatro Maria Matos disponibiliza. A utilização de imagens em vídeo como parte integrante do cenário, a apurada utilização da iluminação (concebida, bem como o cenário, por Thomas Walgrave) e do som (com dois DJ's em palco, ALX e Riot) na construção da atmosfera pretendida par cada texto, valorizam harmonicamente os textos, as interpretações e a encenação.

A primeira peça curta intitula-se Domingo e nela Tónan Quito e Cláudia Gaiolas eficazmente preparam o ambiente para a soberba interpretação de um quase-monólogo (apenas pontuados por esparsas e curtas falas da personagem interpretada por Tónan Quito) por Fernando Luís, em grande forma. O público é paulatinamente conduzido até ao entendimento da situação, de forma quase hipnótica, pelo lento movimento, sempre acompanhado pelo incansável discurso da personagem interpretada por Fernando Luís. Um texto de qualidade da autoria de José Maria Vieira Mendes, muito bem interpretado e correctamente encenado.

A peça seguinte, Duas Estrelas, da autoria de Rui Cardoso Martins, mostra-nos uma possível reacção de um vencedor de um chorudo prémio do Euromilhões. Uma competente encenação, servida por mais uma óptima interpretação de Fernando Luís, bem acompanhado por Margarida Cardeal, Cláudia Gaiolas (delirante a sua burlesca interpretação de uma irritante e interesseira administradora de condomínio, que faz muitos dos assistentes recordarem-se do respectivo condomínio...) e Tónan Quito.

O terceiro texto, Amar-te longe daqui onde pudesse chamar pelo teu nome sem ter de virar para trás, de Mickael de Oliveira, foi o que menos apreciei. Contudo, foi bem defendido por uma boa encenação e a competente interpretação de Margarida Cardeal, Joaquim Horta e da jovem Rita Brütt, esta uma agradável surpresa na valorização da sua personagem.

O quarto texto, Fora de serviço, de Inês Meneses, foi o que mais apreciei. Difícil de interpretar, por ser constituído essencialmente por um diálogo entre dois monólogos, foi objecto de sóbria encenação e valorizado pelas excelentes interpretações de Margarida Cardeal e Joaquim Horta.

A peça curta Pum, o tiro era a que mais curiosidade me despertava, por ser escrita por um valor já seguro da dramaturgia contemporânea, José Luís Peixoto. O texto, no entanto, não correspondeu às minhas expectativas. Porém, a simples historieta apresentada foi, surpreendentemente servida por uma fantástica encenação que, optando pelo registo da farsa, em minha opinião fez de um texto vulgar um muito bom espectáculo de teatro, com o registo escolhido a valorizar o texto de uma forma que se duvidaria possível. É claro que este registo de farsa (com uma surpreendente e de alto risco alteração de cenário) só teve um merecido êxito graças às fantásticas interpretações de (mais uma vez) Fernando Luís e de Cláudia Gaiolas (esta definitivamente com uma eficácia na farsa e no burlesco que impressiona), bem acompanhados por Margarida Cardeal, Rita Brütt, Joaquim Horta e Tónan Quito.

Tónan Quito que, na minha opinião, teve a sua grande interpretação da noite, mostrando-nos a sua grande qualidade, no último e ambivalente texto, A dispersão ou simulacro de urgência, de Joaquim Horta, mais uma vez servido por uma agradável encenação, que muito valorizou, não só a qualidade do trabalho do protagonista, mas as mais-valias trazidas pelos DJ's, pelo vídeo e uma competente iluminação. Rita Brütt, Fernando Luís e Cláudia Gaiolas acompanharam e serviram bem o merecido solo superlativamente interpretado por Tónan Quito.

Estas URGÊNCIAS 2007, produção Mundo Perfeito, Produções Fictícias e Teatro Maria Matos, está em cena até 29 de Julho, de quartas a sábados às 21,30 h e aos domingos às 17 horas e é um espectáculo que vivamente recomendo, pois auguro que nele assistimos às sementes do teatro português de qualidade das próximas décadas, quer a nível de actores, quer a nível de autores, quer de encenação.

Rui Bandeira