20 abril 2007

Carlo Collodi, o maçon que criou Pinóquio

Carlo Collodi não era o seu verdadeiro nome, antes um pseudónimo usado por Carlo Lorenzini. Mas foi por Carlo Collodi que ficou mundialmente conhecido.

Nasceu em Florença em 24/11/1826 e aí passou ao Oriente Eterno em 26/10/1890. Foi jornalista, escritor e combatente voluntário na Guerra de Independência de Itália, entre 1848 e 1860.

Publicou as obras "Gli amici di casa" e "Un romanzo in vapore. Da Firenze a Livorno. Guida storico-umoristica", por volta de 1856. O seu primeiro livro infantil foi publicado em 1876 e intitulou-se "Raconti delle fate". Em 1877 escreveu "Giannettino" e no ano seguinte " Minuzzolo". Em 1881, inicia a publicação de um periódico virado para o público infantil, o "Giornale per i bambini". Foi nesse peródico que originalmente foi publicada, em curtos capítulos, a "Storia di un burattino" (História de um Boneco), o primeiro título do que veio a ser o livro mundialmente conhecido por "Aventuras de Pinóquio", a sua obra-prima. Em 1887, publica ainda "Storie allegre".

A condição de maçon de Carlo Collodi, apesar de não estar confirmada por nenhum documento oficial, é indisputadamente reconhecida. Aldo Molla, profano que, em Itália, é geralmente reconhecido como o historiador ofical da Maçonaria, manifesta essa certeza. Vários elementos biográficos de Carlo Collodi parecem confirmá-la: a criação em 1848 de um jornal chamado "Il Lampione", que, como ele dizia, devia "iluminar todos aqueles que vagueavam nas trevas"; a participação na Guerra da Independência integrado nos voluntários toscanos, em 1848, e a sua, também voluntária, integração no exército piemontês em 1859; a sua extrema proximidade ao reconhecido maçon Mazzini, de quem se declarava "discípulo apaixonado".

Os princípios caros à Maçonaria expressos na trilogia Liberdade - Igualdade - Fraternidade estão expressos nas "Aventuras de Pinóquio": a Liberdade, porque Pinóquio é um ser livre e que ama a Liberdade; a Igualdade, porque a única aspiração de Pinóquio é ser igual aos outros e porque nenhuma personagem é superior às demais, nem em importância, nem em nível social; a Fraternidade, porque este é o sentimento principal que faz agir as personagens nas diferentes situações.

Os elementos para elaborar este texto foram recolhidos aqui e ali.

Rui Bandeira

19 abril 2007

Diálogo (II)

- Explica-me cá uma coisa! Eu conheço um maçon...

- Pelo menos...

- Já percebi a insinuação... Isso vê-se depois, agora deixa-me continuar. Eu conheço um maçon e pude pedir-lhe para entrar na Maçonaria. Mas como faria se não conhecesse? Mesmo considerando-me de bons costumes e querendo aperfeiçoar-me, seguindo o método maçónico, como tu dizes, não tinha hipótese, não tinha a quem pedir...

- Dizes tu, que às vezes dizes sem pensar e não pensas no que dizes...

- Estás sempre a deitar abaixo... Com amigos destes não preciso de inimigos...

- Claro que, mesmo sem conhecer um maçon, um verdadeiro interessado na Maçonaria tem a quem pedir. Então nos dias de hoje! A Maçonaria tem existência legal e sede. Pode enviar uma carta. Mais simples ainda, pode enviar um fax ou uma mensagem de correio electrónico.No sítio da GLLP / GLRP existe uma página de contactos disponíveis para todos. Os sítios das Lojas também costumam disponibilizar pelo menos um endereço de correio electrónico, como sucede, por exemplo, no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues. E até mesmo quase todos aqueles tipos que escrevem umas coisas no blogue A Partir Pedra têm também nos seus perfis um endereço de correio electrónico. Queres mais hipóteses de contacto ainda?

-Queres tu então dizer que basta um fulano mandar uma mensagem de correio electrónico e já está, por aqui me sirvo? E estive eu mais de um ano à espera que tu me convidasses... e depois disseste que não havia convite para ninguém, eu que pedisse se quisesse...

- Calma aí, que eu não disse que era assim tão simples...

- Eu logo vi, tu usas sempre a técnica do vendedor, primeiro parece tudo fácil, as complicações vêm depois...

- Tu é que complicas, assim sempre a interromper... Obviamente que alguém que não seja conhecido de nenhum maçon e que contacte declarando o seu desejo de ser admitido maçon, no mínimo tem de ter a Virtude da Paciência. Eu não disse que era rápido... Fácil, barato e que dá milhões só o Euroditos... É evidente que, nessas circunstâncias, é preciso averiguar primeiro de quem se trata, se se trata de uma pessoa digna ou de um qualquer oportunista, quais os seus princípios, se os seus propósitos são sérios, etc.. Só após nos certificarmos disso se poderá avançar.

- E como é que se certificam
?

- Normalmente, são designados alguns elementos que, muito discretamente, procuram saber quem é e como é realmente a pessoa e, utilizando a expressão que já várias vezes usámos nas nossas conversas, se é realmente um homem livre e de bons costumes. Só adquirindo-se essa certeza para além de qualquer dúvida é que se contacta o interessado, apresentando-se-lhe um rosto, alguém a quem, se continuar interessado, possa então pedir a sua adesão. Este processo, no fundo, de conhecimento mínimo da pessoa pode levar muito tempo. E só para chegar ao ponto em que tu agora estás... Se tu te queixas que estiveste mais de um ano à espera, imagina no caso deste suposto interessado. Mas tudo o que tem interesse na vida custa a ser obtido...

- Já entendi! Quem não conhecer um maçon, pode-se oferecer, mas vocês primeiro armam-se em detectives e só se ficarem satisfeitos é que contactam a pessoa.

- Nem mais!

- Estou mesmo a ver, uns fulanos a fazerem perguntas na vizinhança, e tal... E se o fulano tiver o azar de ter a alcunha de Pinóquio, está feito: nem sabe porque nunca foi contactado...

- Pois aí é que te enganas! Eu interessar-me-ia por conhecer mais profundamente essa pessoa!

- Porquê? Agora interessas-te por mentirosos?

- Nada disso, meu caro! Pensa um pouco. Nunca reparaste que a história infantil do Pinóquio não é mais do que uma alegoria do que deve fazer o maçon?

- Essa agora! Dizes então que o maçon deve mentir até lhe crescer o nariz?

- Nada disso. Em primeiro lugar, é ao contrário: o nariz crescia-lhe porque mentia; em segundo lugar, isso é apenas o elemento burlesco para chamar a atenção das crianças para a história. O cerne da história é outro. Trata de um boneco de pau que, com o auxílio de uma fada e de um grilo (que personifica a sua consciência), luta contra os seus defeitos, de forma a tornar-se digno de se tornar um rapaz de carne e osso. Certo?

- Certo.

- O boneco de pau é o maçon que luta para dominar seus vícios e suas paixões (o gato e o raposo). Nessa luta tem o auxílio do grilo (os seus Irmãos) e da fada (a Maçonaria). Com trabalho, com esforço, com avanços e recuos, aprende como os seus defeitos (mentir) e os prazeres materiais (faltar à escola, ir divertir-se para o Parque de Diversões) afinal amarram e limitam o Homem (transformam-no em burro...) e que só a noção do cumprimento dos seus deveres (o trabalho maçónico) permitirá que esteja em condições (o aperfeiçoamento) de vir a ser um verdadeiro menino de carne e osso (ver a Luz).

- Livra, que tu até nas histórias infantis vês Maçonaria...

Rui Bandeira

18 abril 2007

Recordando...


Meus Queridos Irmãos,
Meus Queridos “Blogers”,
Meus Queridos visitantes, habituais ou não:

Não resisto a pôr neste nosso espaço o texto que, no Expresso de 6/Abril p.p., lembrava que existiu um Homem que, enquanto por cá andou, deu pelo nome de Mário Viegas.
No dia 1 de Abril fez 11 anos que o seu corpo nos deixou, mas a lembrança da sua existência e o som da sua voz e entoação únicas ficaram connosco.

No Teatro, na Poesia, no Dizer, no sarcasmo com que mordeu a pobreza de espírito e o falso pudor da sociedade mandante, Mário Viegas foi um exemplo de verticalidade a seguir.
Humaníssimo, solidário o mais possível com os carentes, deixou em todos que conheceram o seu trabalho uma saudade que nunca mais acaba.
Nunca estive com ele e portanto não o conheci pessoalmente, mas tenho muita pena que tal nunca tenha acontecido.

Este “post” tem também esta intenção, a de homenagear alguém que admirei e que lamento profundamente ter deixado tão cedo a companhia dos vivos.
Mário Viegas faz falta a Portugal.
Ele foi, certamente, um dos que leram Kipling (V. post de JoséSR em 14 de Abril)

Ora aqui está mais um que não apareceu nos Grandes de Portugal.

De Mário Viegas:


10 Mandamentos para 1 espectador de Teatro

1 - NÃO CHEGARÁS ATRASADO, incomodando a concentração daqueles que estão a representar e dos outros (que chegaram religiosamente a horas) que estão a assistir ao Santo Sacrifício do Teatro.

2 – NÃO FALARÁS BAIXINHO com o ou a acompanhante, incomodando com a tua inclinação de cabeça o Espectador de trás, e distraindo os actores celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro.

3 – NÃO ADORMECERÁS NEM RESSONARÁS, dando marradas para a frente ou para trás, ou pondo a mão nos olhos para os outros pensarem que estás muito concentrado no Santo Sacrifício do Teatro.

4 – NÃO TOSSIRÁS NEM TE ASSOARÁS com grande ruído, escolhendo as melhores pausas dos celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro.

5 – NÃO TE ABANARÁS constantemente com o programa, distraindo os que estão, religiosamente ao teu lado, e irritando os que estão no palco a celebrar o Santo Sacrifício do Teatro.

6 – NÃO COMERÁS rebuçados, pipocas, caramelos, chocolates, pastilhas, comprimidos, tirando-os muito devagarinho, fazendo com o papel e as pratinhas o mais diabólico, satânico e herético ruído numa sala de espectáculos em que se celebra o Santo Sacrifício do Teatro.

7 – NÃO LEVARÁS relógios com pipis electrónicos, telemóveis e sacos de plástico que andarás constantemente a pôr, ora entre as pernas, ora ao colo, perturbando os que celebram o Santo Sacrifício do Teatro.

8 – NÃO LERÁS OU FOLHEARÁS o programa durante a celebração do Santo Sacrifício do Teatro pata tentar saber qual é o nome de determinado actor, ou para tentar perceber a sequência do Santo Sacrifício do Teatro.

9 – NÃO PEDIRÁS borlas ou insistirás em descontos a que não tens direito para assistir à celebração do Santo Sacrifício do Teatro.

10 – NÃO OLHARÁS “com umas grandes ventas” para o vizinho do lado, que achou religiosamente Graça ao que tu não achaste, ou que, piamente cheio de Fé, se levantou logo para aplaudir enquanto tu bates palmas por frete e já a pensar ir a correr para tirar a porcaria do teu carrinho, ou a porcaria do teu sobretudo do bengaleiro, mais cedo do que os outros.

ASSIM SUBIRÁS PURO AOS CÉUS OU ASSIM PODERÁS IR A 13 DE MAIO À COVA DA IRIA OU ASSIM PODERÁS IR E COMUNGAR NO CASAMENTO REAL de Sua Magestade Sereníssima Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança, Chefe da Sereníssima Casa de Bragança, Duque de Bragança, de Guimarães e de Barcelos, Marquês de Vila Viçosa, Conde de Arraiolos, de Ourém, de Barcelos, de Faria, de Neiva e de Guimarães, e de Sua Augusta Noiva Isabel Inês de Castro Corvello de Herédia.

IDE E ESPALHAI A BOA NOVA !!

Abraão Viegas

JPSetúbal

17 abril 2007

Diálogo (I)

- Essa coisa dos motivos para não ser maçon e do motivo para o ser é muito bonita, mas quem está de fora da Maçonaria fica sem saber, se quiser entrar, como o fazer...

- Se é isso que queres saber, é simples: começa por ir ao sítio da Loja Mestre Affonso Domingues e tens logo ali a primeira informação de que necessitas.

(...)

- Já fui, mas a tal informação deve estar muito escondida, que a não encontrei...

- Meu caro, julgo já te ter dito que nós, maçons, estamos habituados a utilizar símbolos, a descortinar através deles; todas as mensagens estão lá, mas tens de as saber ver... A atenção e a concentração são importantes...

- Tudo bem, estás sempre a dizer isso, mas se não ajudas um profano a ver, como queres que ele veja? Ao menos, diz-me para onde olhar!

- Que tal exactamente ao centro, à frente dos teus olhos? Repara na mensagem que aparece:

Bate e ela se abrirá, Procura e acharás, Pede e receberás
Conhece-te a ti próprio e ama o próximo como a ti mesmo

- Essa? Bem, mas já é mania de ser enigmático! Mas afinal bato aonde? Se me respondes com outro enigma ainda mudo a pergunta para bato em quem e suspeito que fico logo a saber a resposta...

-
Calma, que a violência gratuita desqualifica-te como homem de bons costumes...

- Se é gratuita, ainda está para se ver, mas sabes bem que brincava. Mas a sério... Afinal, bato aonde? Procuro onde? Peço a quem?

-Hoje andas com o teu neurónio desligado! Bate à porta da Maçonaria! Procura o significado dela e quem te possa auxiliar a ir mais além! Pede a quem te possa dar o que desejas!

- OK! Em primeiro lugar, o meu neurónio não está desligado, tu é que mo pediste emprestado e ainda não mo devolveste, ó génio! Queres então dizer na tua, que, se quero ser maçon, tenho que te pedir, é isso? Só para te sentires importante... Mania da superioridade, é o que é!

-
Não, não é! Falando a sério. Quem quiser ser maçon, tem de, em primeiro lugar, saber porque o quer ser. Se for um dos tais cinco motivos para não ser, o melhor é tirar o cavalinho da chuva e não perder, nem o tempo dele, nem o nosso. Mas, se for pelo motivo por que o deve querer, o desejo de se aperfeiçoar, e se for um homem de bons costumes (convém não o esquecer...), então, para poder vir a ser maçon, o primeiro passo que deve dar é... pedir para o ser! Obviamente que a quem possa dar andamento a esse pedido, ou seja, a um maçon. Eu ou outro qualquer.

- Mas eu julgava que os maçons é que convidavam quem achassem que podia juntar-se a eles...

-
Quem porventura fizer isso, faz mal! A Maçonaria dá-se sempre mal quando cede à tentação do proselitismo! Repara: a Maçonaria não é um clube social, é um meio e um método de crescimento, de aperfeiçoamento pessoal; só faz sentido ser maçon se se quiser sê-lo. Então, fazer convites não é a melhor forma de proceder. O que se deve fazer é estar atento e disponível para encaminhar quem queira ser maçon, não procurar "arregimentar" amigos ou conhecidos para algo que eles não sabem bem o que é, nem nunca tinham pensado bem se lhes interessava. Portanto, quem quiser ser maçon, pelo motivo certo e tendo as condições para tal, o primeiro passo que tem a dar é manifestar esse desejo a um maçon. O resto da caminhada vem depois, mas toda a viagem começa sempre por aí, pelo primeiro passo.

- Então e quando um maçon encontra alguém que crê que seria um bom maçon, aquilo que vocês costumam chamar um "maçon sem avental", não o convida?

- Na minha opinião, nem assim! O que um maçon deve fazer nessas circunstâncias é dar-se a conhecer como maçon e, se vir que existe interesse, esclarecer que os profanos bem intencionados, de bons costumes E QUE QUEIRAM SER MAÇONS, se o quiserem pelo bom motivo, são sempre bem-vindos. Para bom entendedor, meia palavra basta e isto já é bem mais do que meia palavra, já mostrou o caminho e que ele estava aberto. Se houver efectivo interesse da parte da pessoa, cabe-lhe a ela dar o primeiro passo.

- Já podias ter dito! Ando eu há mais de um ano a ver se me convidas e só agora é que me dizes isso! És cá um bom amigo da onça!

-
Tu é que andas distraído! Porque é que achas que eu te disse que sou maçon e tenho conversado contigo sobre Maçonaria? Mas ou és tu que queres e pedes, ou nada feito! Portanto, já sabes:

Bate e ela se abrirá, Procura e acharás, Pede e receberás
Conhece-te a ti próprio e ama o próximo como a ti mesmo


Rui Bandeira

16 abril 2007

O maçon Rudyard Kipling

Nasceu em Bombaim, Índia, em 30 de Dezembro de 1865, mas foi educado em Inglaterra. Regressou à Índia, a Lahore, em 1880. Aos 17 anos, era sub-editor do Jornal "The Civil e Military Gazette". Casou com uma americana, Caroline Starr Balestier, em 1892. Foi o primeiro escritor britânico a receber o Prémio Nobel da Literatura, em 1907.

Foi iniciado na Loja Hope and Perseverence (Esperança e Perseverança), n.º 782, em Lahore, em 5 de Abril de 1886, beneficiando de uma dispense especial emitida pelo Grão-Mestre Distrital, por ter apenas 20 anos de idade e não ter, consequentemente, atingido a maioridade legal, então fixada nos 21 anos. Passou a Companheiro a 3 de Maio seguinte e foi elevado a Mestre a 6 de Dezembro, ainda antes de completar os 21 anos de idade.

Foi, por um curto período de tempo, Secretário da Loja. Em 1887, passou a integrar os Altos Graus (Arco Real).

Deixou Lahore e passou a residir em Allahabad em 17 de Abril de 1888, tendo-se, em consequência, transferido para a Loja Independence and Philanthropy (Independência e Filantropia), desta cidade. Demitiu-se da mesma em 1895, residindo já, então, nos Estados Unidos. Porém, já desde 1989 que cessara a sua actividade maçónica.

Apesar de a sua actividade maçónica ter durado menos de quatro anos, os seus escritos comungam abundantemente dos ideais maçónicos. Para além do conhecidíssimo If (cuja adaptação em português o JoséSR publicou no texto anterior), podemos dar conta disso em The Mother Lodge, My new-cut Ashlar, The Palace, A Pilgrim's Way e The Widow at Windsor.

Foi amigo de Baden-Powell, tendo-o influenciado quanto aos princípios que este veio a instituir no Movimento Escotista. Serão também devidas a essa influência as ecvidentes similaridades entre os ideários escotista e maçónico.

Passou ao Oriente Eterno em 18 de Janeiro de 1936.

Elementos para este texto retirados daqui e das ligações nele existentes.

Rui Bandeira

14 abril 2007

Rudyard Kipling na Esquadra da Policia

Pois também achei estranho "cruzar-me" com o Irmao Kipling numa esquadra de policia em Lisboa.

Ontem desloquei-me a uma esquadra de Lisboa para participar o assalto do qual fora vitima a minha irmã, mais propriamente o carro dela.

Depois de me identificar e cumprir todas as formalidades e do Sub-chefe diligentemente ir escrevendo no seu computador todas as coisas que lhe ia dizendo, olhei para a parede e vi afixado um poema. Nao liguei de inicio pois pensei que era daquelas "baboseiras" que se penduram em locais como este.

Mas o texto ficou a ressoar e olhei outra vez e li com atenção o seguinte poema que transcrevo.

SE...


Se puderes guardar o sangue frio diante
de quem fora de si te acusar, e, no instante
em que duvidem de teu ânimo e firmeza,
tu puderes ter fé na própria fortaleza,
sem desprezar contudo a desconfiança alheia...

Se tu puderes não odiar a quem te odeia,
nem pagar com a calunia a quem te calunia,
sem que tires daí motivos de ufania,
sonhar, sem permitir que o sonho te domine,
pensar, sem que em pensar tua ambição se confine,
e esperar sempre e sempre, infatigavelmente...

Se com o mesmo sereno olhar indiferente
puderes encarar a Derrota e a Vitória,
como embustes que são da fortuna ilusória,
e estóico suportar que intrigas e mentiras
deturpem a palavra honesta que profiras...

Se puderes, ao ver em pedaços destruída
pela sorte maldosa, a obra de tua vida,
tomar de novo, a ferramenta desgastada
e sem queixumes vãos, recomeçar do nada...

e tendo loucamente arriscado e perdido
tudo quanto era teu, num só lance atrevido,
se puderes voltar à faina ingrata e dura,
sem aludir jamais à sinistra aventura...

Se tu puderes coração, músculos, nervos
reduzir da vontade à condição de servos,
que, embora exausto, lhe obedeçam ao comando...

Se, andando a par dos reis e com os grandes lidando,
puderes conservar a naturalidade,
e no meio da turba a personalidade,
impávido afrontar adulações, engodos,
opressões, merecer a confiança de todos,
sem que possa contar, todavia, contigo
incondicionalmente o teu melhor amigo...

Se de cada minuto os sessenta segundos
tu puderes tornar com teu suor fecundos...

a Terra será tua, e os bens que se não somem,
e, o que é melhor, meu filho, então serás um Homem!


Rudyard Kipling
Tradução de Alcantara Machado


Fiquei surpreso e sem saber exactamente o que pensar. Estou em crer que quem o pôs na parede se ateve ao significado literal do poema, não entendendo que nele vêm as condições básicas para um Maçon progredir e ser melhor pessoa e ser melhor Homem.

Ganhei o dia.

JoseSR

13 abril 2007

As marcas da ira

Era uma vez um garoto que tinha um temperamento muito explosivo.

Um dia, o seu pai deu-lhe um martelo, um saco cheio de pregos e uma tábua de madeira e disse-lhe que, a partir daí, ele deveria martelar um prego na tábua de cada vez que perdesse a paciência com alguém.

No primeiro dia, o garoto colocou 37 pregos na tábua. Ao fim do dia, compreendeu que, se continuasse sem dominar o seu temperamento irado, brevemente esgotaria os pregos e o espaço na tábua.

Nos dias seguintes, à medida que ia aprendendo a controlar a sua raiva, o número de pregos martelados por dia ia progressivamente diminuindo.

O garoto ia descobrindo que lhe dava menos trabalho controlar a sua raiva do que estar a pregar pregos na tábua.

Finalmente, chegou o dia em que o garoto não perdeu a paciência nenhuma vez.

Contente, o garoto foi contar ao seu pai o sucesso que, com esforço, alcançara e como se sentia melhor em já não estar constantemente a explodir com os outros.

O pai, sorrindo, disse-lhe então que devia retirar todos os pregos que tinha cravado na tábua e mostrar-lha.

Quando o garoto executou a tarefa ordenada, o pai disse-lhe:

- Meu filho, estás de parabéns por teres dominado a tua propensão para a ira, mas ainda não é tudo. Olha agora para a tábua e repara nos buracos que os pregos que tu lhe cravaste nela deixaram. Ela nunca mais voltará a ser como era.

Portanto, lembra-te: sempre que disseres algo estando com raiva, as tuas palavras deixarão marcas em quem ouvir o que disseres, tal como as marcas dos pregos que cravaste ficaram na tábua.

Ainda que depois peças mil vezes desculpa, a cicatriz continuará.

Uma agressão verbal é tão danosa - às vezes, mais! - como uma agressão física.

Lembrem-se desta lição. Não me façam zangar!!!

Rui Bandeira