Cerimónia de iniciação e Iniciação
Como é sabido, a admissão na Maçonartia ocorre através de uma Cerimónia de Iniciação do interessado. Através dessa Cerimónia, o interessado adquire formalmente a condição de maçom. Mas adquire em que termos? É maçom enquanto continuar a integrar uma Obediência maçónica, ou a aquisição dessa qualidade é vitalícia, isto é, perdura mesmo que a pesoa em causa abandone a Maçonaria ou dela seja expulsa ou excluída?
"Num documento da Maçonaria, assinado por Egas Moniz, comprova-se que Agostinho Lourenço terá sido membro de uma loja maçónica, em 1914. As mesmas figuras que comparecem com ele, como o médico Ramon Nonato La Féria, na ocasião de uma cerimónia maçónica, testemunhada pelo jornal O Século, em 1931, serão perseguidas pela polícia que ele dirige, meia dezena de anos depois." (in http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2016-07-17-O-anjo-negro-de-Salazar).
É, para mim, claro que a Cerimónia de Iniciação não tem artes mágicas para transformar um profano num maçom. Nem todos os que se submetem à Cerimónia de Iniciação são verdadeiramente Iniciados. A Cerimónia de Iniciação (ver, neste blogue, A Iniciação (I) e A Iniciação (II)) é, a meu ver, essencialmente um catalisador que propicia a mudança e transformação daquele que a ela se submete, no sentido de passar de um profano a um vero Iniciado. Mas essa transformação ou é feita no próprio pelo próprio, ou não há Cerimónia que lhe valha...
Asssim, e resumindo, a minha posição sobre este assunto é: um maçom verdadeiramente Iniciado é, sim, um maçom para toda a vida - e não haverá ventos nem marés nem vicissitudes nem vontades que mudem isso, porque, se foi verdadeiramente Iniciado, foi transformado e comportar-se-á em conformidade. Normalmente, não sairá, nem será excluído ou expulso. Se sair de uma Obediência, ou dela for excluído ou mesmo expulso, se foi verdadeiramente Iniciado e transformado, continuarei a considerá-lo como tal - e, se calhar, o problema será da estrutura que o afastou... Mas não basta ter passado por uma Cerimónia de Iniciação para ser verdadeiramente Iniciado. E aqueles que, embora tendo-se submetido a uma Cerimónia de Iniciação, não lograram - porque não quiseram, ou simplesmente porque não foram capazes - transformar-se a si próprios não me merecem o reconhecimento como Iniciados. Saindo, sendo excluídos ou expulsos, são simplesmente ex-maçons e, afinal, impropriamente, assim designados, porque não passaram de erros de casting...
No fundo, no fundo, ambas as posições têm a sua razão. O que importa é distinguir entre simplesmente passar por uma Cerimónia de Iniciação e ser verdadeiramente Iniciado. Aqueles serão ex-maçons, porque no fundo nunca foram maçons. Estes merecem sempre o nosso reconhecimento como tal, porque nunca desmerecerão da transformação que tiveram.
Disse. Não sei se bem, se mal. Mas disse e dito está!