09 agosto 2025

Maçonaria não vota, não apoia e não opina

Esse é um post para não-maçons.

Nos últimos tempos, tenho acompanhado com alguma preocupação a forma como a Maçonaria tem sido retratada na mídia, e confesso que isso me incomoda profundamente. Ao ver manchetes como as que se acumulam no print que guardei (e que certamente vocês também já viram por aí ) fico com a nítida sensação de que há uma tentativa insistente de encaixar a Maçonaria numa caixa que simplesmente não lhe pertence.

"Maçonaria apoia candidato X", "Maçonaria volta em força com ligações ao Governo", "Líder maçônico agita campanha eleitoral". Parecem trechos de um roteiro de ficção, onde uma entidade monolítica e quase sobrenatural manipula os cordéis do poder. Mas a realidade, meus caros, está muito longe disso.

É preciso deixar bem claro, e com letras garrafais se preciso for: A Maçonaria não vota, não apoia e não opina.

A Maçonaria é uma instituição de caráter iniciático e filosófico, que reúne indivíduos livres e de bons costumes, unidos por ideais de fraternidade, aperfeiçoamento moral e busca pela verdade. E a palavra-chave aqui é indivíduos. Cada membro da Maçonaria é, antes de tudo, uma pessoa com suas próprias convicções, suas próprias opiniões políticas, suas próprias escolhas religiosas e suas próprias preferências em todos os aspectos da vida.

Dizer que a Maçonaria tem uma posição unificada sobre qualquer assunto, seja ele político, social ou econômico, é tão absurdo quanto afirmar que todos os membros de um clube de leitura torcem para o mesmo time de futebol ou que todos os frequentadores de uma academia de ginástica votam no mesmo partido. Não faz sentido, não é mesmo?

Dentro das Lojas, o debate sobre política partidária ou temas que gerem discórdia é explicitamente desencorajado. Nosso foco é o aprimoramento individual, a discussão de princípios éticos e morais, a prática da caridade e a construção de uma sociedade melhor, sim, mas através do exemplo e da influência individual de cada um de nós.

Não temos um “Papa” da Maçonaria, um líder supremo global que dita as regras ou as posições de todos os maçons no mundo. A Maçonaria é descentralizada, composta por Grandes Lojas independentes em cada país ou jurisdição, cada uma com sua própria autonomia. A ideia de um comando centralizado que emite diretivas sobre quem deve ser apoiado ou o que deve ser pensado é uma fantasia.

Quando um maçom se destaca na política, na vida pública ou em qualquer outra área, isso se deve ao seu próprio mérito, às suas próprias convicções e ao seu próprio trabalho. Se ele é maçom, isso é uma característica pessoal dele, assim como pode ser músico, médico ou pai de família. Não é a Maçonaria, como instituição, que o está impulsionando ou opinando através dele. Ele é um cidadão exercendo seus direitos e deveres, com suas próprias visões.

A Maçonaria não é um partido político disfarçado, nem um lobby de interesses ocultos. É um espaço de encontro para homens que buscam o autoconhecimento e a prática da virtude, e que, uma vez fora dos templos, atuam no mundo de acordo com suas próprias consciências e princípios.

Portanto, da próxima vez que você ler uma manchete que tenta pintar a Maçonaria como uma unidade pensante, peço que reflita sobre o que acabo de dizer. Lembre-se que por trás do véu do mistério, há apenas homens independentes, cada um com sua voz e seu voto, mas unidos por uma senda de aprimoramento pessoal. E essa distinção é fundamental para compreender a verdadeira natureza da nossa Ordem.

Fábio Serrano, MM




02 agosto 2025

Temos Tempo ou apenas Pressa?

Há dias em que sinto que o tempo já não é meu, desde que o teletrabalho se instalou como o "novo normal", no pós confinamento pandémico, o que era suposto trazer liberdade trouxe, afinal, uma aceleração quase silenciosa. Já não há separação entre o que é trabalho e o que é pausa, e mesmo quando há, é invadida por notificações, prazos, chamadas e a estranha urgência de responder a tudo.



Se me perguntarem quando foi a última vez que parei mesmo, sem telemóvel, sem tarefas, sem estímulos, talvez tenha de recuar até à última sessão de Loja e a todas as ultimas sessões. Isso, por si só, já diz muito.

Na vida profana, tudo parece correr, nas estradas, nos corredores dos supermercados, nos gabinetes e nas escolas., até os reformados. Aqueles que deveriam ter tempo para o “dolce far niente” ou descansar à sombra do chaparro, parecem sempre com algo urgente para fazer. 

O tempo tornou-se um luxo e a lentidão, um pecado.
Quem abranda é ultrapassado. Quem pára, fica para trás.

E, no entanto, o tempo continua a ser o mesmo. Não é o mundo que gira mais depressa, somos nós que deixámos de o escutar. O tempo não se mede apenas em minutos, mas em presença, talvez seja por isso que vivemos com tanta pressa, para não estarmos realmente onde estamos, para não sentir o peso de cada instante. 

A pressa não é apenas um vício, é uma forma de ausência, uma fuga bem disfarçada.

Em Loja, tudo muda, o tempo não acelera ou abranda, assume um ritmo próprio, cadenciado, harmonioso, quase litúrgico. O ritual não está feito à medida da pressa, mas da harmonia. Há pausas e há compassos. Há silêncio e nesse silêncio, não há vazio,  há sim construção.

Dizem que os antigos sabiam viver devagar. Os monges, os operários, os mestres de ofício, sabiam que ouvir o tempo era ouvir-se a si mesmos. Hoje já não o fazemos, corremos. Mas corremos para onde?

Gostava de mudar isso, de ter a capacidade para conseguir parar dez minutos por dia, só para refletir, para me ouvir. Não para produzir, não para responder a ninguém, apenas para reencontrar o compasso interior que o mundo me rouba.

Talvez um dia volte a conseguir, talvez seja esse o verdadeiro trabalho de uma vida, recuperar o tempo.

João B. M∴M