Estás no Ritual ou apenas numa sala?
Há quem diga que o ritual é um formalismo, uma peça decorada, um guião repetido. Talvez, visto de fora, seja mesmo isso. Mas o erro começa precisamente aí, o ritual não é para ser visto., ele é para ser vivido.
Cada palavra tem o seu peso, cada gesto tem o seu tempo, cada pausa tem o seu silêncio e é nessa cadência, que não é nossa mas que nos é facultada por séculos de trabalho, que se esconde a força do ritual. Não é uma invenção moderna, é uma herança e como tal, deve ser recebida com reverência e transmitida com fidelidade.
Seguir o ritual à letra pode parecer, a quem ainda não compreendeu, uma rigidez sem sentido. Eu, sem dúvida, que lhe vejo um sentido. Um sentido em acender a vela com a mão certa, em bater o malhete no tempo exacto, em dar o passo no momento justo, com o pé certo, na direcção certa.
Seguindo o gestos, afina-se a atenção e onde há atenção, há presença. Onde há presença, pode sempre haver transformação.
O ritual não é inicio ou fim, é parte do caminho, e parte essencial. É a ordem que se opõe ao caos, é o compasso que dá medida ao tempo e ao homem, é o prumo que nos obriga a alinhar corpo, mente e espírito, mesmo quando cá fora andamos tortos.
É raro o dia que não ouço certas palavras do ritual a ecoarem na minha vida profana. Há frases que, ditas em Loja, pareciam apenas belas, e no entanto, fora dela, mostram-se verdadeiras, servem para recordar que a Maçonaria não se faz só no templo e em dia de sessão, faz-se todos os dias.
Quando chegamos a casa ou quando chegamos ao trabalho, quantas vezes deixamos os metais à porta?
A nossa vida, o nosso carácter, o nosso lar constrói-se com sabedoria, força e beleza?
Estas palavras surgem-me às vezes no trânsito, numa reunião, ou no silêncio antes de adormecer, não por serem místicas, mas porque são verdade, ao menos a minha Verdade.
Não importa se és Aprendiz, Companheiro ou Mestre já com vinte anos de Loja. A pergunta é a mesma:
Estás no ritual ou estás apenas numa sala?
O ritual não é uma encenação, é um espelho. Se entrares com o ego cheio e os ouvidos vazios, ouvirás apenas palavras, mas se entrares com humildade, talvez escutes sentido. E, quem sabe, um dia, te escutes a ti próprio.
Resumindo: o Ritual é para ser seguido à risca. não porque sejamos fanáticos pela forma, mas porque a forma é o molde da transformação. Só quem repete o gesto com intenção começa a entender o símbolo. E só quem respeita o símbolo pode um dia perceber o seu segredo.
A Loja é o espaço, o ritual é o ritmo, nós somos os instrumentos desta bela orquestra.
A escolha é tua: finges que entras, ou trabalhas para merecer estar? E já sabes, se vens por bem, não te acanhes, bate á porta que serás muito bem vindo.
João B. M∴M∴
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