Hoje é dia
de Portugal, não apenas a geografia ou a
língua, mas a ideia. A ideia de uma Nação moldada ao longo de séculos, onde o
engenho venceu a geografia e o sonho navegou antes da ciência.
Vivemos
tempos em que se tenta reescrever o passado com as tintas voláteis do presente.
Julgam-se descobrimentos como se fossem crimes, alianças como se fossem
submissões, batalhas como se fossem vergonhas. Há quem peça que nos ajoelhemos
perante o tempo, como se a História fosse um tribunal e não uma herança.
Portugal
não se deve ajoelhar, conhecemos o peso da pedra que carregamos.
Somos
Aljubarrota, onde um povo defendeu o seu futuro com braços e foices.
Somos os mares por dobrar, os cabos por nomear, as constelações por medir com
astrolábios.
Somos a ousadia de lançar velas ao desconhecido e a coragem de não voltar
atrás.
Somos o início da globalização, ligando novos mundos e continentes, línguas, saberes, mercadorias e mitos. O mundo tornou-se redondo quando nós o começámos a percorrer.
E também Somos, os que antes de muitos outros, disseram “basta”, abolimos a escravatura muito antes de isso ser moda, e a pena de morte antes que o século XX a tornasse um escândalo. Porque ser pioneiro não é só descobrir terras, é também abrir consciências.
Somos
Camões, Eça, Queiroz.
Somos também a Passarola de Bartolomeu de Gusmão, que se atreveu a imaginar o
impossível,
Somos o joelho do Eusébio, o pé direito do Éder e o “Simmmm” do Cristiano.
E somos, apesar de tudo, os que continuam aqui neste cantinho à beira mar
plantado, onde a terra acaba e o mar começa.
Há quem
queira que Portugal peça desculpa, talvez um pedido formal com assinatura
reconhecida, ou uma tabela de indemnizações com juros acumulados desde 1500.
Mas não se pede desculpa por ter existido. Estudam-se os erros. Corrigem-se as
consequências. Aprende-se. E segue-se em frente, com memória.
Porque só
um povo com memória constrói com sentido.
Talvez os Portugueses
de 2225 nos olhem com espanto, com censura, talvez com pena. Mas será sempre
fácil criticar o templo. O difícil é ter sido o pedreiro.
Portugal é,
há muito, uma obra inacabada, mas viva. Feita de pedra sobre pedra, de gerações
que lavraram o seu tempo com o que tinham e sabiam.
Herdámos
pedras lavradas por outros, cabe-nos, com lucidez e esforço, preparar as que
virão.
E não, não
devemos nada a quem nos quer apagar.
João B. M∴M∴
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