Atalhos

14 novembro 2011

Instrução em Maçonaria - III


“Estou suficientemente instruído” é, estou certo disso, o que muitos pensam quando chega a altura de estarem em crer que é o momento de passar de grau ou de ocupar uma função. E quando assim pensam abrandam o estudo e a respectiva auto instrução.

É, eventualmente, mais recorrente o pensamento nos Mestres, porque acham que como já podem falar, usar da palavra para dizer coisas estão num patamar em que o conhecimento adicional é acessório e que logo deve passar para segundo o terceiro plano.

Provavelmente também terei pensado assim, nos idos de 1992 quando atingi o grau de Mestre Maçon e pensei que tinha chegado. Na verdade acabara de partir, de iniciar a grande viagem da Maçonaria, aquela que só termina no momento de passar ao Oriente Eterno.

Não percebi isso imediatamente. Demorei a perceber que nessa viagem é necessário reequacionar os fundamentos, reler o lido e voltar a ler novamente. Pensar nas origens, no que levou a que esta ou aquela forma de fazer aparecesse.

Questionar o que era feito, descartar opções, relembrar uma lição de um professor que quando lhe apresentei um método alternativo para resolver um problema, me disse: “ sim dessa maneira consegue reduzir o número de passos e tornar mais rápida a resolução, até chegar ao ponto em que tem que tomar uma decisão e verifica que não tem alternativas. Na verdade o seu método é a forma mais rápida de chegar à asneira. Mas gostei do esforço” .

Hoje em dia fico com a sensação que alguns dos meus pares, acham que lhes assiste a capacidade de modificar, “embelezar”, suprimir, substituir partes ou formas de desempenho ritual.

Acham apenas porque lhes parece, e acabam por ser como eu perante o meu professor, consegui um método que me fazia chegar mais rapidamente à asneira.

Estudar, eventualmente desconstruindo o que está à nossa frente, não quer necessariamente dizer que podemos construir novamente à nossa imagem e semelhança, deixando de fora umas peças e pondo outras em substituição ou acrescento.
Há que saber perceber as fontes e com essa percepção o reconstruir, primeiro tal qual estava, permite-nos o entendimento do porquê da concepção original.
Apenas e só esse conhecimento, resultante do nosso trabalho faz com que se aprenda o que outros antes nós fizeram e porque o fizeram.

Mais tarde poderemos eventualmente congeminar outras hipóteses, e tratar de validá-las. E se houver sucesso nesse processo, então juntar o que conseguimos criar ao conhecimento já existente é uma obrigação.

Uma boa forma de auto instrução é o conhecimento do ritual. Não o conhecimento maquinal do mesmo, sabendo-o de cor e salteado tipo recitação na escola, mas o conhecimento do que ele significa e pretende significar. O que nos diz, para quem está dirigido, como é que isso acontece.

Mas não chega! Há que vivenciar o ritual, executá-lo sentindo-o. E assim surgiu a ideia de uma nova forma de instrução transmitida.

Porque evidentemente que o conhecimento não pode ser uma coisa proprietária de alguns, apesar de haver quem assim pense e pretenda implementar a ditadura do conhecimento – só eu é que sei, não ensino a ninguém, e logo não podem passar sem mim – constituindo-se em homens providenciais.

E essa nova forma de instrução assenta no proporcionar a quem ainda não pode executar o ritual e assim vivencia-lo de forma mais plena. Assim foi criada a figura do “ Sombra” e que não é mais que pôr um aprendiz ou companheiro a mimetizar o que o Mestre de  Cerimónias  faz durante uma sessão.

A assim se conclui mais uma etapa na instrução em Maçonaria.


José Ruah

PS:  este pequeno texto sem nada de especial vai dedicado ao Rui Bandeira.

18 comentários:

  1. José:

    Um muito sentido muito obrigado!

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  2. " Porque evidentemente que o conhecimento não pode ser uma coisa proprietária de alguns, apesar de haver quem assim pense e pretenda implementar a ditadura do conhecimento – só eu é que sei, não ensino a ninguém, e logo não podem passar sem mim – constituindo-se em homens providenciais. "

    Então qual a razão do Secretismo?

    Nuno

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  3. @ Streetwarrior

    Eu se fosse a si leria o que está escrito mais uma ou duas ou mesmo três vezes, pegaria no texto punha-o no contexto e depois calava-me.

    Retirar frases do contexto para polémicas baratas, já deveria saber que comigo não pega.

    Gastou mais uma intervenção !

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  4. A figura do "sombra" fez parte da minha aprendizagem militar, sem ela teria sido mais um oficial do exército, que, quando chamado a exercer a "função" não a teria desempenhado de acordo com o esperado "NEP's". Obrigado pela lição.
    TAF.

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  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  6. @Jorge,

    Obrigado pelo seu comentário.

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  7. @Streetwarrior: Se tem filhos (e mesmo que os não tenha já viu os dos outros...) certamente já reparou que uma criança recem-nascida não alheiras com batatas fritas, bacalhau com todos ou sericaia... Pelo contrário, começa pelo leite materno, e só lenta e progressivamente vai comendo outras coisas, numa aprendizagem que demora anos até que possa comer de tudo.

    Mas o que sucede se se der uma chamuça a uma criança de 6 meses? Bom... pode não acontecer nada, ou pode acontecer tudo... O que é certo é que o pediatra não subscreve - e muito menos aconselha - semelhante experiência. Pelo contrário, há a "proibição" aos pais de darem certos alimentos às crianças antes de determinadas idades. A experiência mostra que, seguindo-se essa metodologia de progressiva habituação alimentar, se atinge bons resultados.

    Do mesmo modo sucede com os conhecimentos em maçonaria. Um certo conhecimento adquirido antes do tempo - ou antes que outro, que lhe deva ser prévio, seja adequadamente interiorizado - pode facilmente fazer "descarrilar" do caminho previsto. Esse descarrilamento pode ser inconsequente, e pode regressar-se ao trilho conhecido logo de seguida; ou pode ser permanente, pondo em causa o percurso e mesmo o destino.

    Sugiro-lhe que leia os textos do blogue sob os marcadores "segredo" e "segredo maçónico". Há 26 textos sobre estes dois temas. Se depois de os ler todos não ficar mais elucidado, diga em quê, que tentarei dar-lhe resposta.

    Abraço,
    Paulo M.

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  8. Obrigado Paulo, assim farei.


    O professor Ruah, é mal humurado e não tem paciencia para os aprendizes ou iniciados mais complicados...só serve para dar aulas aos mestres.
    Eu compreendo, atingimos uma certa maturidade e tornamo-nos rabujentos.
    Anda enervado com as pequenas coisas da vida esquecendo-se que caminha a passos largos para a morte.
    Eu não o levo a mal, não sou de rancores e esqueço facilmente estes ralhetes que ele dá, imaginando-o com cara de mau por trás daquela barba de ancião.

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  9. Caro Streetwarrior...

    O Prof. Ruah, é dos melhores professores que qualquer aprendiz ou outro qualquer pode ter no que há temática maçónica diz respeito. E só digo temática maçónica, por este é um blogue onde se escreve sobre Maçonaria.

    abraço

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  10. @Streetwarrior,

    A barba de ancião não confere o grau. Pelo conhecimento, pelo estudo e pela capacidade de comunicar tudo isto a quem tem que receber o ensinamento, tenho a felicidade de ser reconhecido e respeitado enquanto ancião.

    Porque isto não é ancião quem quer ou quem tem idade, é só quem é reconhecido como tal, independentemente da idade.

    O mesmo se aplica a alunos, não evidentemente aos alunos do ensino obrigatório, mas a alunos que estão em "cursos" de sua livre vontade como é este que é aqui ministrado em sentido lato no blogue.

    Cada professor ( e diz bem professor - acertou uma ) tem o direito de escolher os seus alunos, não limitando quem lê, mas sim dando mais ou menos tempo com cada um conforme os seus merecimentos, exactamente porque aqui nada é obrigatório.

    Na verdade eu dou tanto tempo quanto o necessário com toda e qualquer pessoa que o mereça.

    Consigo e com outros tenho que gastar o meu tempo. Mas mesmo este tempo gasto é bem empregue porque pelo menos permite que se possa fazer uma clara diferença entre os merecimentos.

    E citando um Maçon que estimo muito, "Sou um homem feliz porque todos os dias tomo um banho de alegria..." deixo-o para poder continuar o meu inexorável caminho em direcção ao Oriente Eterno, porque essa é uma certeza que tenho desde que percebi a vida.

    PS : desta vez não gastou uma intervenção.

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  11. @ Nuno Raimundo,

    Gentileza !!! obrigado.

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  12. @Streetwarrior: O José Ruah é, de facto, rabugento e, por vezes, difícil de aturar, e já me apeteceu mais do que uma vez mandá-lo calar. Doutras vezes é uma maravilha ouvir o que nos diz e receber aquilo que partilha connosco, e ficamos com pena quando, por fim, se cala.

    É um homem imperfeito, que continua - à sua maneira, pois cada um tem a sua - a fazer por aparelhar a sua pedra. Se fosse perfeito nada teria a fazer entre nós. Por tudo isto, e não obstante as suas "rugosidades", nós gostamos muito dele na mesma...

    Para além do ouriço encontra-se, muitas vezes, uma saborosa castanha. Convido-o a aprender a apreciá-la. É um gosto que se adquire com a prática, não obstante algumas picadelas ocasionais...

    Abraço,
    Paulo M.

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  13. Escrevi em comentário a um outro texto algo do qual extraio o seguinte:

    Falem bem, falem mal, mas falem !

    Pode ser ouriço ou castanha, rabugento ou simpático, ancião já moribundo ou antigo na flor da idade.

    É indiferente.

    Porque há uma certeza que tenho, é que todas as respostas que dei aos meus Irmãos que me questionaram foram sempre honestas, nem que fosse apenas um " não sei".

    E tenho ainda como certeza que sempre e quando fui solicitado para ajudar ou tirar duvidas, respondi e ajudei.



    O resto é o resto e conta tanto como quase nada.

    A esperteza (saloia ou não) a tentativa de apanhar em falso, os expedientes de vir desdizer-se e outras coisas que tais, são apenas isso esperteza bacoca, expedientes e má fé.
    E isto faz parte do resto.

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  14. Tá a ver Ruah, após uma excelente intervenção como a que fez acima, não se conteve e lá veio cravar-me mais um " Murro de luva Branca"
    E assim foi...só porque sim.
    Tá mal...tá mal.

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  15. Caro Senhor Steetwarrior,

    Não é da minha responsabilidade que não leia atempadamente o que escrevo. O Comentário neste texto é anterior a muitos outros no texto seguinte.

    O seu comentário aqui, perfeitamente excusavel, porque enferma novamente o mal que vinha abandonando, ou seja da retirada do contexto de um escrito para o usar em como arma de arremesso.

    Enferma novamente de outro mal, e que se chama egocentrismo. Tudo o que está escrito no meu comentário neste texto,

    primeiro não lhe é dirigido por se tratar de uma resposta a um outro comentador;

    segundo mesmo dirigido a terceiros nunca é mencionado V.Exa nem directa nem indirectamente;

    terceiro por estas alturas já deveria saber que nao mando recados.

    pelo que novamente tenta uma pequena provocação barata.

    E logo agora que até me tinha mandado um mail, ao qual por acaso já havia começado a responder !!!

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  16. @ Ruah.
    Penso que o Email que enviei foi muito claro.

    Egocentrismo?

    O Ruah, reponde ao @Nuno Raimundo sobre um comentário que o mesmo dirigiu á minha pessoa.
    Você, responde ao comentário, dentro do mesmo contexto.
    Por fim, finaliza assim.

    " A esperteza (saloia ou não) a tentativa de apanhar em falso, os expedientes de vir desdizer-se e outras coisas que tais, são apenas isso esperteza bacoca, expedientes e má fé "

    Que é todo o contexto no qual, os comentários foram feitos pelo Nuno dirigindo-se a mim.

    " pelo que novamente tenta uma pequena provocação barata "

    Barata não, foi de graça e não lhe pretendo cobrar um tusto por ela.
    È sua, guarde-a bem guardadinha na caixinha dos ressentimentos.
    Pois as próximas serão a cobrar, para si, acabaram-se as Grátis.

    Nuno

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  17. Perdão, do Paulo, embora o dialogo tenha começado com o Nuno Raimundo.

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  18. @Streetwarrior

    Não me resta outra solução que conceder.
    A sua colecção de gorros deve ser muito grande porque está sempre a enfia-los mesmo quando não são para si.

    Mas quanto a isso não posso fazer nada.

    Já quanto à sua segunda ameaça, a de que as provocações serão a pagar, entenda que não estou nem preocupado.

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