Atalhos

18 setembro 2007

Entre o Nono e o Décimo Veneravel

Sabia, mais ou menos, o que o Rui iria escrever sobre esta época da Loja. Tive tempo para pensar sobre se escreveria ou nao sobre este periodo.

Só hoje decidi. Ao ler o post do Rui A Ultrapassagem . Comecei por escrever na zona de comentários mas decidi passar para aqui.
Ao contrario do que se possa pensar , e na minha opinião estes foram os anos mais dificieis da Affonso Domingues.
O perigo vinha de dentro e como todos sabemos as guerras internas sao muito mais violentas que as externas.
Diz o povo
" Eu contra o meu Irmão, eu e o meu Irmão contra o nosso primo, Eu o meu irmao e o nosso primo contra o vizinho, eu,meu irmao, nosso primo e o vizinho contra o vizinho da rua de baixo, etc."
Anos antes a guerra nao era nossa, era imposta, nestes anos a desavença era interna.
Por isso aqui vai.
Creio que deve aqui ser dito que Luís D.P. era adepto de uma via esotérica que privilegiava a permanência pelo máximo período de tempo possível em cada lugar.

Começou por recusar ser 1º Vigilante quando convidado pelo Vítor. Recusou ser 1º Vigilante quando convidado por mim, escolhendo em ambas as alturas ser 2º Vigilante.

Não teve a possibilidade de repetir a dose em 1º Vigilante por força das circunstancias ( bem até que foi duas vezes pois o Jean P.G teve mandato e meio com duas eleições.)

Tentou ser Venerável dois anos consecutivos, mas aí a coisa foi mais difícil.

A Generalidade da Loja não foi nisso, e sobretudo ele Luís sabia bem que eu não iria nisso. Foi público e muito notório que fui um dos maiores críticos ao tipo de gestão do Luís, e as nossas discordâncias eram constantes e audíveis.

Reconheço que o meu mau feitio imperou, quem me conhece sabe que gosto das coisas feitas à minha maneira, mas que não sou Ditatorial (excepto em caso de força maior).

Esses anos da Loja vivi-os com algum distanciamento pois tinha acabado de mudar de emprego tendo na altura assumido funções num hospital, e tinha mudado de casa mas por força das obras fui obrigado a viver em Colares durante um ano, pelo que me sobrou muito pouco tempo para a Loja.

Não guardo grande saudade do Veneralato do Luís, e não fiquei admirado com a manipulação feita. Esse era o estilo. Sempre com um discurso de decisão democrática, sempre com uma decisão autocrática e muitas vezes não orientada ao que seriam os melhores interesses da Loja.

Por isso especulo aqui o seguinte:

Luís sabia que se tentasse ser reeleito teria uma oposição feroz, e que provavelmente não o seria uma vez que a reeleição obriga a um resultado de pelo menos 2/3 dos votos favoráveis.. Ficando numa situação insustentável.

Terá pensado que seria estrategicamente melhor afastar-se e não promover aquele "que ele pensava ser o seu Delfim" , criando assim um hiato de 1 ano antes de poder tentar retomar o poder.

Luís sabia que Rui Bandeira me conteria, porque somos amigos e porque eu nunca iria tornar difícil o Veneralato do Rui.

Comigo fora das contas ele tinha um ano de descanso e poderia preparar o futuro.

Só que feriu o "seu Delfim" e não contou, nem poderia contar, com as eleições para Grão Mestre que ocorreram durante o mandato do João D.P. .

Não contou com mais algumas coisas. Tomou-se “amores” por Ruy F. e por Gustavo P. , e sem querer ser muito mau, creio que incumbiu o primeiro de travar uma guerrilha comigo. A coisa correu mal.

Luís esqueceu-se de uma coisa fundamental, eu tinha sido o Venerável da Guerra e travar uma “guerrinha” com Ruy F. foi fácil, tendo acabado Ruy por sair da Loja

Gustavo P. acabou mal, praticamente expulso da Loja, e mais tarde expulso da Maçonaria.

E no que respeita à eleição para Grão Mestre, Luís encontrou-se frente a frente com João D.P., Luís era um dos 3 subscritores de uma candidatura e João um dos subscritores da candidatura oponente.

Eu era o “juiz”. Por assim dizer. Desempenhava funções de Grande Orador da Grande Loja e era o responsável pelo escrutínio.

Temos então que a estratégia de Luís fracassou.

Ao provocar a ultrapassagem perdeu aquele que ele achava ser o seu Delfim.

Ao mandar outros batalhar comigo, perdeu os seus aliados.

Acertou na premissa que Rui Bandeira me conteria. Mas o Veneralato só durou um ano e no ano seguinte, estando eu nas colunas e ele como guarda interno ficámos empatados na prioridade do uso da palavra e eu não me tinha esquecido.

Não podia prever a evolução da Grande Loja e com isso teve que defrontar João .D.P. , se é certo que ganhou a eleição o candidato de Luís e que com isso ele ficou como Grande Orador, também é certo que passado pouco tempo o Grão Mestre o destitui sem apelo nem agravo por incumprimento de funções. Ou seja aquele que poderia ter sido o seu trunfo ele também não o aproveitou.

Falhou também a sua tentativa de ser o único responsável pela instrução dos aprendizes. Essa função estava acometida aos Vigilantes e estes desempenharam-na.


Era uma estratégia que teoricamente ( leia-se esotericamente) estava bem montada, mas que esbarrou numa série de problemas reais e em tipos com mau feitio, que tendo dado tudo o que tinham para conter as agressões externas não iam nunca dar de barato a destruição interna.


Terminando a especulação, que como qualquer especulação apenas reflecte o que eu penso, retomo a realidade

Hoje Luís não aparece nas sessões há uns 4 anos. Soube que está tentar regularizar a sua situação de quotas para poder sair com alguma dignidade.

Como pessoa Luís estava sempre pronto a ajudar. Como Venerável Mestre foi na minha opinião um desastre.

Ainda hoje a Loja não tem um membro que seja da linha esotérica como o eram Luís e Ruy F.

Não sei porquê, ou se calhar até sei.
José Ruah

10 comentários:

  1. Caro José Ruah:

    Essa "linha esotérica" de que fala, em que consiste exactamente? Tenho ideia de ter visto referências a uma linha muito debruçada sobre a simbologia e sobre os ritos, mas fiquei com a ideia de que seria mais própria da maçonaria liberal, ou pelo menos mais comum nesta, do que na regular. Engano-me?

    Um abraço,

    Simple Aureole

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  2. O José Ruah é bom é tudo! Quando quer ser mau, é mesmo...péssimo!
    Eu prefiro continuar a não acreditar na "teoria da conspiração2 e que o episódio da ultrapassagem se deveu, simplesmente, a uma humana zanga...
    Nunca me preocupei com a linha esotérica do Luís. Há muito que aprendi que o caminho é a Loja que o faz, não o que quem quer que seja lhe queira unilateralmente impor.
    Mas compreendo a especulação do José Ruah.
    Só não concordo com ele numa coisa - e já lho disse: sempre achei que ele exagerou no mau feitio com o Ruy F. e, para mim, é uma pena que, por causa do alimentar de um conflito escusado e injustamente desproporcionado (o Ruy F., nem em termos de experiência, nem em termos de feitio tinha hipóteses de competir de igual para igual com o José Ruah...), o Ruy F. tenha acabado por se afastar.
    Continuo a manter, embora irregularmente, contactos com o Ruy F. e ainda não perdi a esperança no seu retorno. At´r porque também em relação ao Ruy F. aplico, como não podia deixar de o fazer, o princípio de "uma vez um dos nossos, um dos nossos para sempre"..
    E se porventura ese regresso suceder, estou certo, meu caro José Ruah, que não será preciso estar a conter-te...! Por três razões: 1. Porque és meu amigo e não me vais dar esse trabalhão, logo a mim, que sou adepto do decanso...; 2. Porque o Ruy F. também tem algo a enriquecer-nos com o seu esoterismo (aprender não é concordar); 3. Porque, no fundo, no fundo (lá bem no fundo) eu sei que não és mau tipo e, embora adores uma boa "guerra", sabes que "águas passadas não movem moinhos" e não vais reavivar "guerrinhas" antigas que agora e no futuro são já sem sentido.

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  3. BoaS...

    Parece a mim que neste "caso", a "fraternidade" e a "tolerância" que caractriza a Maçonaria pouco ou nada teve efeito.
    A ver pela disputa da "cadeira de Salomão" e as ditas "guerras" entre irmãos...

    Para um profano com eu, fiquei com uma ideia pouco "menos positiva" devido a este caso.
    Mas como em tudo na vida, a Maçonaria é feita por Homens, nem sempre "justos, regulares e perfeitos".


    abr...prof....

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  4. @ Simple

    Preciso de algum tempo para lhe responder pois penso que num post seria melhor que num comentario, mas este mes de Setembro entre instalaçoes de novos Veneraveis e uma serie de afazeres pessoais tenho tido pouco tempo.

    @Profano

    está enganado. Neste caso se nao tivesse existido tolerancia e fraternidade é que a coisa tinha estoirado e muito.

    O seu comentaria asssenta numa premissa errada que é:

    O Nivel de tolerancia e de fraternidade tem que estar sempre no nivel máximo.

    De facto nesse conceito entendo a sua questao, todavia Tolerancia e Fraternidade nao sao mensuraveis em termos absolutos, como podera confirmar se for ler os Posts sobre tolerancia.

    @Rui Bandeira

    Esta especulaçao, assente no que entendi das coisas na altura, é na minha opiniao consentanea com a forma de agir do Luis, que como sabemos transportava para a vida corrente a sua profissao , no exercicio da qual ele manipulava pessoas.

    O seu passado tambem o fazia ser assim, e ainda hoje continua enigmatico e autoritario.

    Quanto ao Ruy F. para alem de ele se ter rpestado a fazer o trabalho de terceiros, como bem sabes que fez, ele tinha uma questão pessaol comigo relacionada com um evento ocorrido uns tempos antes, e teve a incapacidade de separar aspectos conjunturais de aspectos estruturais, tendo a uma determinada altura invadido de forma pouco correcta o meu espaço pessoal,familiar e religioso.

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  5. @ o profano:

    o José Ruah já disse da justiça dele em relação ao seu comentário. Permita-me que também meta a minha colherada.

    Quem relata factos passados dá importância àquilo de que se recorda, segundo o seu próprio temperamento. Quem ler os textos do José Ruah e os meus, percepciona claramente as nossas diferenças de temperamento: mais assertivo e directo o Ruah, mais reflexivo e indirecto eu. Isso reflecte-se na forma como escrevemos o que lembramos de eventos que ambos vivemos. Desde logo na muito maior capacidade do Ruah de recordar detalhes, em contraponto à minha tendência para detectar linhas de actuação e relações de causa - consequência.

    Muito do que o Ruah especulou neste texto são, para mim, detalhes sem importância; é o "guerreiro" a pensar alto, o estratega a adivinhar estratégias. Eu penso que muitas das acções que as pessoas executam resultam de fortuitas decisões momentâneas, de impulsos, de escolhas feitas (por vezes sem os elementos informativos todos). Tenho para mim que há muito menos "estratégias" do que o Ruah descortina ou especula. É talvez por isso que nos damos tão bem: ele explora, imagina, busca, investiga muito mais fundo do que eu; eu refreio-lhe os entusiasmos e mantenho-lhe a paranóia controlada...

    Resumindo: o facto é que ocorreu a ultrapassagem; porque é que o Luís P. assim agiu? Cada um especula como entender: a minha especulação é muito mais prosaica do que a do Ruah. É só1

    Mas não se fique com ideias erradas: o ano do Luís P. foi tranquilo, o meu ano tranquilo foi, o do João D. P. idem, aspas. Isso não invalida uma realidade: uma Loja é um microcosmos humano; embora com estritas regras de comportamento e interacção, está lá a mesma complexidade que em qualquer outra sociedade humana. No melhor e no pior. Procuramos nós que mais do melhor e menos do pior, mas o grau de sucesso é como a temperatura: varia...
    Afinal de contas, se a maçonaria é um método e um espaço de aperfeiçoamento, é porque os seus elementos são imperfeitos...

    @ José Ruah.

    Na época tu tiveste razão de queixa do Ruy F.; ele também teve razões de queixa tuas, que tu não és nem queres ser santo. O passado não se apaga. Analisa-se para que se não cometa no futuro os mesmos erros.
    O Ruy F. tem virtudes e defeitos; o José Ruah tem virtudes e defeitos; no passado chocaram e deu faísca; um e outro procuram sublimar suas virtudes e polir seus defeitos. Se (e é um grande se...) ambos se voltarem a encontrar na mesma Loja, só têm que fazer um com o outro o que exigimos ao recém-iniciado quando pela primeira vez o integramos na Cadeia de União.
    E recomeçar de novo, com o contador a zeros...

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  6. @Rui BAndeira

    Nunca levantei, nem levantarei objecçoes ao retorno do Ruy F.

    Todavia ha dois planos a ter conta:

    Perdoar/ Ser Perdoado

    e Esquecer.

    Quanto ao primeiro plano é evidente que nao se levantará qualquer problema.

    Quanto ao segundo, fui dotado de memoria e quanto a isso não há nada a fazer.

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  7. @José Ruah:

    Estamos então de acordo! Quanto ao primeiro plano, não há problema. Quanto ao "esquecer", não te preocupes: é uma questão de tempo; o alzheimer acabará por resolver também este asunto...

    @ Todos os leitores:

    Vêem como, com boa vontade, com calma e um pouco de jeito tudo se resolve? Este já está! Agora só tenho de tratar do outro...

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  8. @José Ruah

    Cá espero então pela resposta - sem pressas, que tenho tempo!


    @Rui Bandeira

    "eu refreio-lhe os entusiasmos e mantenho-lhe a paranóia controlada"
    "Este já está! Agora só tenho de tratar do outro..."


    De facto, só uma amizade mútua e sincera - que transpira por entre o que escrevem - se presta a uma "manipulação" tão descarada!

    Quanto ao resto, o relato destas "tricas" só humaniza e revela o que é tido por opaco, e demonstra o que o Rui Bandeira acabou por referir: só precisa de melhorar quem ainda não chegou lá.

    Continuem a escrever, que continuamos a ler - e a gostar!

    Um abraço,

    Simple Aureole

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  9. BoAs...

    Agradeço a Ambos a explanação dada sobre o assunto.

    A minha opinião é fruto da minha ignorância sobre o que se passa no interior de uma Loja e como a mesma é gerida.
    Apenas isso.

    Mas agradeço a "abertura" que vão tendo em mostrar e abrir ( mesmo que aos poucos) o outro lado da cortina.
    O que nos ajuda a todos ver mais além o que é o espirito maçonico e a propria Maçonaria.


    abr...prof...

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  10. @ todos

    uma pequena inconfidencia.

    No dia 14 de Dezembro de 1991, em local a coberto da indiscrição dos profanos e perante uma assembleia muito vasta compareceram entre outros, Rui Bandeira e José Ruah.

    O primeiro na sua qualidade de aprendiz maçon, iniciado na Alemanha buscando a sua filiaçao na GLRP e engrossando os quadros da RL Mestre Affonso Domingues.

    O Segundo na sua qualidade profano, para ser submetido às provas de iniciação na GLRP, em cerimonia feita pela RL Mestre Affonso Domingues e com destino a esta Loja assim o pensava.

    A Secretaria mandou-me para Loja Europa onde estava o meu proponente ( que tinha pedido que eu fosse para a Affonso Domingues)por erro.

    Quando percebi que nao estava nos quadros da Mestre Affonso Domingues, o que foi logo na sessão seguinte quando o meu nome nao foi chamado, liguei para a Secretaria e solicitei com insistencia a correcçao do erro.

    A Empatia entre mim e o Rui foi imediata.

    Nunca saimos da Mestre Affonso Domingues, fomos oficiais do outro nos respectivos Veneralatos, sempre pugnamos pelos mesmos principios, embora de forma diferente.

    Fora da maçonaria interagimos de multiplas maneiras nestes quase 16 anos.

    De facto a nossa relaçao criada na Loja e cimentada cá fora é forte e recomenda-se.

    Só por isso podemos escrever estas coisas e estar em desacordo sem nos chatearmos.

    Quanto ao Alzheimer, sempre é melhor que o Parkinson, pois bebo as cervejas e esqueço-me de pagar, já com Parkinson, não só entornaria a cerveja, como ainda tinha que pagar as do alzheimer.

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