No seu texto Breve análise do Blogue, JoséSR sugeriu aos visitantes do mesmo que, no espaço para comentários, indicassem assuntos que gostassem de ver aqui tratados. Escriba não se fez rogado e escreveu: Gostaria de por aqui ver abordada e participada pelos internautas, a questão da regularidade. É com enorme tristeza e pesar que constato o que no nosso país se passa neste dominio. Instado a esclarecer a razão da tristeza, acrescentou: o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proibam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.
A prioridade no desenvolvimento cabia ao JoséSR, já que o assunto fora suscitado em comentário a um texto seu. Porém, o JoséSR não terá tido ainda disponibilidade para o fazer. Como não é conveniente deixar passar mais tempo sem desenvolver o assunto proposto, sob pena de o Escriba ficar defraudado na sua expectativa, avanço já eu.
Uma advertência, porém, não quero deixar de formular, talvez desnecessariamente: todas as opiniões que neste blogue deixo consignadas vinculam-me apenas a mim, maçon livre de uma Loja livre, e a mais ninguém, pois sou porta-voz apenas de mim mesmo.
Escriba levantou, não uma, mas três questões diferentes: a Regularidade, o Reconhecimento e o Relacionamento das e entre as Obediências Maçónicas. Interligar-se-ão, influenciar-se-ão, sem dúvida. Mas são questões diferentes e assim devem ser tratadas. Hoje, tratarei apenas da primeira.
Denomina-se de Maçonaria Regular a Maçonaria que segue os princípios da Maçonaria Inglesa, especificamente da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE). Tais princípios estão definidos nos doze Landmarks já neste blogue apresentados e comentados. Deles se retira estarmos perante uma Maçonaria deísta (é elemento essencial a crença num Ente Criador), independente de e aceitando todas as religiões, com o objectivo do aperfeiçoamento moral e espiritual dos seus membros através do método maçónico e da interacção individual com o grupo em que se está inserido e só mediatamente influenciando a Sociedade, através do exemplo dos maçons, isto é, sem intervenção política directa e organizada. Em Portugal, esta tendência está corporizada na Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal (GLLP / GLRP). Outras organizações de menor expressão, originadas de cisões desta Obediência se reclamam do mesmo ideário.
À falta de melhor designação, designa-se por Maçonaria Liberal (evito aqui o adjectivo de Irregular, que pode ser interpretado como tendo uma carga negativa) a tendência que prossegue o ideário desenvolvido pelo Grand Orient de France desde a época da Revolução Francesa, assente sobretudo na trilogia de princípios Liberdade-Igualdade-Fraternidade, na promoção da Democracia e das Ideias Democráticas. Esta tendência não considera essencial a crença num Criador, admitindo agnósticos e ateus. Busca o aperfeiçoamento da Sociedade através da acção dos seus membros, que devem, para tal, aperfeiçoar-se moralmente. Não rejeita, antes favorece, a intervenção política. Em Portugal, esta opção é a seguida pelo Grande Oriente Lusitano (GOL).
Estas duas correntes são realidades e organizações diferentes e com diferentes propósitos. É certo que em muito os respectivos caminhos são comuns (o método de evolução, o tipo de organização, as raízes simbólicas, a proactividade pelo aperfeiçoamento). Mas também de forma não despicienda tais caminhos divergem: enquanto uma baseia todo o seu ideário na crença num Criador, como base e enquadramento para o aperfeiçoamento dos seus membros, objectivo essencial buscado (sendo tudo o resto, incluindo a evolução da Sociedade uma consequência mediata), a outra prescinde dessa crença (mas não a hostiliza, aceitando sem problema crentes e, tal como a Maçonaria Regular, integrando a tolerância perante as várias opções religiosas no seu ideário) e prossegue o aperfeiçoamento dos seus membros como meio para atingir o objectivo essencial, a transformação da Sociedade, a sua evolução e aperfeiçoamento, de acordo com a matriz democrática.
Ambas as tendências são igualmente respeitáveis. Têm - repito - muito em comum, quer na forma, quer na substância. Têm, no entanto, princípios essenciais diferentes e objectivos diversos. São, pois, realidades diversas, embora em muito semelhantes. Percorrem e partilham o mesmo caminho, ao longo de grande parte da jornada. Mas querem chegar a pontos diferentes. Ambas são romeiras. Só varia o destino de romagem.
No meu ponto de vista, não é melhor nem pior uma do que outra. São, simplesmente, diferentes. Ambos os caminhos são louváveis. Um convirá mais a uns; o outro a outros.
Não há, assim, uma mera questão administrativa a dividir Irmãos. Reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra.
Eu insiro-me na Maçonaria Regular, prossigo e aceito os seus princípios. É este o meu caminho, o que se adequa a mim. à minha mentalidade, à minha maneira de ser, de pensar, de reagir. Outros inserem-se noutra tendência maçónica. O seu caminho é igualmente meritório e, porventura, para a mentalidade, a maneira de ser, de pensar e de reagir de quem o trilha, será mais profícuo.
Se os maçons, de qualquer tendência, souberem assumir a sua própria individualidade e as dos demais, se aplicarem a si próprios e aos demais maçons, qualquer que seja a sua tendência, os princípios que professam, ser maçon Regular ou Liberal não será nunca um factor de divisão, antes e tão só o que é: um adjectivo caracterizador da forma que escolheu para procurar ser melhor e ajudar a Sociedade a ser melhor.
Rui Bandeira
Simpatico da tua parte.
ResponderEliminarDe facto o tempo tem sido escasso, mas o texto estava basicamente escrito e em fase de revisão.
Se nao te tivesses apressado, hoje ao fim do dia eu teria conseguido coloca-lo.
mas sendo assim....
Coloca-o na mesma!
ResponderEliminarA minha visão é a minha visão. A tua é a tua.
Agradecia a publicação do mesmo, pois na minha condição de profano, muito me apraz o estudo e a forma com a propria Maçonaria se organiza; logo é sempre interessante saber e ver qual a posição e opinião dos vários Maçons. Bem Haja!!
ResponderEliminarObs: O vosso Blog é bastante interessante, pois trata das questões maçónicas de uma forma, que qualquer Não Iniciado pode "tentar" compreender melhor do que se trata a "Arte Real".
Vamos lá a colocar textos e a comentar os mesmos, esta questão, que me é muito cara, precisa de ser dirimida.
ResponderEliminar..."Outras organizações de menor expressão, originadas de cisões desta Obediência se reclamam do mesmo ideário".
ResponderEliminarNão, meu Ir.: - não é assim, por muito que to tenham dito.
A GLLP, (que não pode, legalmente, usar a designação GLRP), é que é uma cisão da Grande Loja Regular de Portugal, tal como o são a GLNP e a GLTP.
Esta é que é a verdade. Juridicamente suportada. O uso da sigla GLRP, por vocês mantido, pode e tem permitido manter reconhecimentos internacionais por parte de algumas Obediências mais distraídas. Mas queiramos ou não é uma usurpação de nome e como tal uma fraude, para não dizer um crime.
Desse facto estão todas a ser informadas, e com novos elementos- nomeadamente o que N de Carvalho fez no caso Moderna, a ver se finalmente pomos um pouco de normalidade (e regularidade) na Maçonaria Regular.
É que vocês tiveram uma sucessão irregular, quando o dito Nandim, impossibilitado de passar o malhete por ser arguido em vários processos judiciais, foi por vocês - e bem - afastado do cargo de GM. Para a sucessão, tiveram de chamar alguém de Londres.
Por muito menos, nós seríamos enxovalhados...
@ memorias:
ResponderEliminar1. Meu Irmão: vejo que te integras na GLRP da Casa do Sino. Defendes a tua dama com galhardia. Admiro-te por isso. Permite que não concorde. Permite que concordemos em discordar, mantendo-nos serenos e respeitadores das mútuas posições.
Na altura da cisão, já eu era obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues e sei bem o que se passou. Houve os que ocuparam a Casa do Sino e declararam destituir o Grão-Mestre eleito e empossado e os que, gostando ou não desse Grão-Mestre, tendo ou não votado nele, entenderam que essa não era a forma legítima de proceder. Uns seguiram um caminho; outros seguiram outro. Quanto ao que chamas "usurpação de nome", esclareço a minha posição no texto que publico no blogue em 9/5/2007.
Quanto ao "afastamento" de LNC do cargo de Grão-Mestre, estás mal informado: LNC terminou normalmente o seu mandato e foi normalmente eleito e empossado o seu sucessor. O facto de na sua posse (como na dos dois Grão-Mestres que sucederam ao sucessor de LNC) ter estado presente, ao mais alto nível, representação da UGLE, isso só prova que a UGLE reconhece a inteira Regularidade da GLLP/GLRP.
És sempre bem-vindo a comentar neste blogue. São bem-vindas as tuas informações sobre a tua GLRP e as suas posições. Peço-te apenas que não estragues a valia das tuas opiniões conspurcando-as com (desnecessária)agressividade para com a Obediência em que escolhi estar inserido. Isso não valoriza, antes desvaloriza, a tua posição!