28 setembro 2018

Assembleia de Grande Loja da GLLP/GLRP no Equinócio de outono: última intervenção como Grão-Mestre do agora Antigo Grão-Mestre Júlio Meirinhos


Queridos Irmãos em todos os vossos graus e qualidades, a todos saúdo: sede bem-vindos à casa dos valores, à casa dos irmãos, à nossa casa.

Hoje celebramos em Grande Loja o quarto e último equinócio de Outono do meu tempo de Grão Mestre. E tal como tenho vindo a instruir, trata-se de uma data em que a inclinação da terra e a incidência dos raios da luz do sol afiançam idêntica duração dos dias e das noites que, traduzindo para linguagem maçónica, significa que tudo está justo e perfeito.

Aqui, perante esta nossa magna assembleia, apresentar antes de tudo as mais calorosas felicitações, não àquele que me vai substituir, mas sim àquele que me vai suceder, e que, de forma tão esclarecedora, foi em quem a imensa maioria dos irmãos desta nossa Augusta Ordem depositamos grande confiança, o irmão Armindo Azevedo.

E, neste momento solene de passagem do gládio testemunhal, alguns irmãos seriam tentados a sugerir: as boas contas fazem sempre os bons irmãos, por isso o mais importante seria fazer-vos aqui a apresentação do rol das promessas concetizadas, assim como o cômputo de outras profanas contabilidades. Mas, tal como proclama o poeta, também eu aqui proclamos: não! Não vou por aí!.

Existe um provérbio mirandês que diz: "solo mius feitos me lhoubaran"! Por isso, fazer tal avaliação não deve ser o meu papel. Essas profanas contabilidades, a ser feitas, sê-lo-ão por outros que não sofram das miopias do umbigo, que não sejam juízes em causa própria. 

Mas posso confessar-vos que, aqui, hoje, convosco, estou sereno, de alma cheia, feliz por haver levado a bom porto desígnios fundadores que sempre quis concretizar:

- Os afetos e o amor pelos irmãos, a plena liberdade, a proximidade e presença para com todas as lojas, para com todos os irmãos, do primeiro ao último dia, fica a sensação de haver tratado a todos os irmãos como iguais, onde, por uma qualquer razão oculta, uns não fossem mais iguais que outros;

-  O rigor administrativo, o rigor na aplicação da nossa justiça, a coerência em cada ação;

- A concretização da plena transferência de conhecimento, a elaboração de Rituais rigorosos, a produção do grande e completo "Livro Verde";

- Conseguir plena satisfação no crescimento do número de lojas, plena satisfação no crescimento do número de obreiros;

- Ter impulsionado as obras que era preciso impulsionar;

- Ter conseguido o pleno reconhecimento e visibilidade internacional.

Por isso, deixo aqui um grande tríplice abraço, em jeito de muito obrigado, a todos os irmãos: Aprendizes, Companheiros e Mestres, a todos os Veneráveis Mestres, a todos os Respeitáveis e Muito Respeitáveis Grandes Oficiais e colaboradores mais diretos.

Este caminho, que durou quatro anos, foi um caminho que percorremos todos juntos, em que eu fui apenas aquele que primeiro sentia o afago das ténues brisas matinais.

E não quero com isto dizer que fui perfeito, longe de mim tal desígnio. Há um grande poeta mirandês, de quem já vos falei em diferentes ocasiões, Amadeu Ferreira, que sabiamente nos esclarece com o seu poema, ao afirmar:

"olha para os teus defeitos como um desafio, um sinal de vida, linha de onde tens de partir em corrida para os conseguir ultrapassar, porque perfeitas são as estátuas, alguns mortos e os deuses, e em nenhum deles a vida floresce".

Eu quero que a vida nos continue a florescer a todos, por isso digo ao querido Irmão Armindo Azevedo que é um sortudo felizardo, porque ainda há muita maçonaria para ele percorrer, muita brisa para sentir na face. Se tudo já tivesse sido concluído por mim, para ti o caminho seria de um terrível tédio, por isso, Armindo, deixando coisas por fazer, apenas quis ser teu amigo.

E, por vezes, nós até nos queremos arrogar muito competentes, quando apresentamos créditos curriculares bombásticos, muito sérios e muito pomposos, mas, nestes quatro anos em que exerci o humilde cargo de Grão Mestre, aprendi que o essencial do nosso currículo é sempre o que não se escreve, porque fica agarrado às pequenas coisas que fazemos no dia a dia, mesmo as mais pequeninas.

São elas que nos revelam e definem, mas não somos capazes de as reproduzir ou descrever: os sorrisos, as ajudas, as causas, o amor, as condutas, atitudes, a cidadania que nos exige de corpo e alma inteiros, sempre e em cada lugar, a defesa plena da liberdade! O que se segue não passa de intervalos, nem sempre muito relevantes, entre estas pequenas coisas que realmente contam para construir felicidade, vidas e sociedades.

Albert Camus escreveu, sobre a passagem dos anos:

"Envelhecer é o único meio de viver muito tempo. Envelhecer é passar da paixão para a compaixão. Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo. O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio... Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas. Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são. A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruia quando se era menino. Nada passa mais depressa que os anos. Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz, mas é preciso que haja sempre um menino em todos os homens. Os anos é bom vivê-los, mas não tê-los."

Eu procurei viver estes quatro anos ao pleno serviço da nossa Augusta Ordem com a maior intensidade que me foi possível. Espero ter conseguido.

Por isso, meus irmãos, o que quer que façamos só é grande quando, de um ponto de vista nosso, alguém possa dele dizer: não lhe serviu para nada. Apenas aquilo que consegue ascender para lá do umbigo, da barriga, da economia imediata e do utilitarismo é também o que consegue chegar ao patamar mais alto da alma humana.

E nada mais me apraz dizer-vos. Agora resta-me proceder como Catão, velho general romano que, depois de ter sido chamado pelo senado a fazer a guerra pelo seu país, deixou a sua lavoura e respondeu ao chamamento. Foi, conduziu as tropas e ganhou a guerra aos Volcos e aos Equos. Mas no regresso não se atardou a receber honrarias, voltou para a sua lavoura, apertou de novo a rabiça do arado, deu uma palavra mansa à sua junta de bois e continuou de novo a lavrar a terra.

Sou eterno aprendiz, é a minha sina, por isso, aqui me tendes à Ordem do Muito Respeitável Grão Mestre Armindo Azevedo, à Ordem dos meus Irmãos.

E era esta a mensagem simples que neste equinócio queria partilhar convosco, através da força dos afetos, da palavra e dos valores, e, deles imbuídos, continuaremos o nosso caminho, unidos e fortes, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal da Maçonaria, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Júlio Meirinhos
Gráo Mestre

29 julho 2018


Projeto de unidade

Teremos em Setembro um novo “VM” tal como teremos um novo “GM”. Posso pensar que é a Maçonaria Regular a renovar-se e será bom que seja. É mesmo muito bom que seja. Não vou adiantar nada agora sobre uma coleção de “arestas” que tenho sentido (se calhar por desajuste da minha sensibilidade) mas que tenho sentido nestes últimos tempos do meu reconhecimento maçónico.
E para o caso de, desta vez, ter razão, resolvi alinhar um desafio interno (RLMAD)… mas que rapidamente e salutarmente se poderá expandir.

I -
Nenhuma organização justifica a sua existência sem objetivos, ou pelo menos, sem um objetivo. Tenho tentado ao longo dos anos, bem acompanhado diga-se, para que a RLMAD defina ano a ano um objetivo para o ano do Veneralato, objetivo que receba a adesão do interesse dos Irmãos, que os ligue mais, que os aproxime, que faça deste conjunto uma família de facto… tanto quanto possível. Mesmo sendo uma utopia alguma coisa fica sempre de bom nessa aproximação. E falo-vos do que já experimentei. Durante anos a  MAD manteve projetos de trabalho que anualmente se renovavam e que fizeram da MAD aquilo que quase deixou de ser há 4 ou 5 anos. Houve um belo ensaio há 3 anos (lembram-se dos óculos para Moçambique ?) que se finou aí. Não sei porque não teve continuidade… mas não teve.
Nada impede que regressemos agora, com sangue novo, ativo e imaginativo, a essa condição.
Vou ler 3 extratos condensados de um livro do Valter Hugo Mãe (“A Máquina de Fazer Espanhois”):
 
 
a laura morreu, pegaram em mim e puseram-me no lar com dois sacos de roupa e um album de fotografias. depois, nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir apenas para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher. depois, ainda nessa mesma tarde, trouxeram uma imagem da nossa senhora de fátima e disseram que, com o tempo, eu haveria de ganhar um credo religioso, aprenderia a rezar e salvaria assim a minha alma. e um médico respondeu, a verdade é que ficam mais calmos. achei que era esperado de mim um desespero motor. digo motor para dizer de acção. algo como partir coisas, revirar os moveis, agredir fisicamente os funcionários, os enfermeiros que me poderiam prender. o quarto pequeno é todo ele uma cela, a janela não abre e, se o vidro se partir, as grades de ferro antigas seguram as pessoas do lado de dentro do edifício. pus-me a olhar para o chão, com ar de entregue. estou entregue, pensei. aos meus pés os dois sacos de roupa e uma enfermeira dizendo coisas simples. convencida de que a idade mental de um idoso é, de facto, igual à de uma criança. o choque de se ser assim tratado é tremendo.
no sétimo dia, o doutor bernardo pediu-me que passasse pelo seu consultório e perguntou-me como me sentia. disse-lhe que estava bem, que o lar correspondia a um grau de qualidade admirável e que eu estava bem. ele informou-me de que a elisa, o meu genro e os meus dois netos viriam visitar-me e quis saber se isso não me seria difícil. achei muito estranho que mo perguntasse, esperaria que nos primeiros tempos de uma experiência assim toda a proximidade de família com o idoso seria benéfica. contudo, encontrava-me ali com a obrigação de lhe dizer que sim ou que não, e pensei o suficiente para trazer ao cima o pior de mim. disse que não. que não estaria disposto a receber a minha família porque precisava de tempo para esquecer a perda da laura e a necessidade de deixar a minha casa, não queria sentir que tudo prosseguia sem mim. ainda não. o doutor bernardo percebeu as tremuras nas minhas mãos, um nervosismo que se começava a descontrolar e respondeu, claro, senhor silva, não se preocupe. é compreensível. está a libertar-se de muita coisa e precisa de tempo, é perfeitamente normal. eu estava a libertar-me de tudo. tinha dois sacos de roupa e uma nossa senhora de fátima miserável e mais nada. estava livre de tudo, como é óbvio. (*)
 
Diz-se, diz a chamada comunicação social, alegadamente reproduzindo conversas, estatísticas, estudos alegadamente oficiais… que Portugal tem a sua população envelhecida. Que há cada vez mais “velhos” e cada vez menos “novos”, seja qual for a definição de velho e de novo.
Eu aproveito estas vésperas de férias para vos deixar este sublinhado.
 
“Os Velhos” deste país ! Haverá alguma coisa a fazer ? Os Maçons podem fazer alguma coisa ?
Não é a Maçonaria, são os Maçons ! Podem fazer alguma coisa ?
II –
Aquilo que aqui sublinho relativamente aos “Velhos” é um 1º ponto de sublinhado.
Quanto às crianças deste país ?  Bébés e crianças com 2, 3, … 7, 8, … anos. Poder-se-á fazer alguma coisa ?
O que acontece a estas crianças ? Ficam onde ? Com quem ? Em que condições ?

Será que os Maçons podem fazer alguma coisa ? Não é a Maçonaria, são os Maçons ! Podem fazer alguma coisa ?
 
III –
Os homens e as mulheres desempregados, mas que querem trabalhar.
Os que dormem no chão de Sta. Apolónia, aqui tão perto… ou no adro de igrejas, ou debaixo das colunas do Terreiro do Paço, ou pura e simplesmente sentados num banco de jardim (um saltinho ali aos “Anjos” a vê-los)…

Será que os Maçons podem fazer alguma coisa ?
Não é a Maçonaria, são os Maçons ! Podem fazer alguma coisa ?

Se  calhar não vale a pena inventar a roda. Mas há muitas organizações no terreno que apenas procuram ajuda para poderem fazer o seu trabalho de apoio, quiçá de reabilitação de muita gente, de muitas situações que existem e não deviam existir. Se a Humanidade é alguma coisa nobre no reino animal, então tentemos que os Homens não existam como bichos.
Há tanto para fazer por esse mundo… e até aqui bem ao pé da porta…
Salvar a Humanidade é trabalho do GADU.
Salvar a esperança a um Homem é trabalho nosso.

 (*) – O texto está transcrito em formato de obediência exata (pelo menos foi essa a intenção) do original de Valter Hugo Mãe.
 Lisboa, 25/julho/6018
J.Paiva Setúbal
(M:.M:.)






05 julho 2018

Jerônimo Borges (1942-2018) - In memoriam


Não o conheci pessoalmente. Nunca falei com ele de viva voz. Trocámos algumas mensagens de correio eletrónico e acompanhávamos mutuamente os respetivos trabalhos publicados em relação à Maçonaria. Tanto bastou para que nutrisse por ele um grande respeito e consideração. Partiu ontem para o Oriente Eterno. É mais um insubstituível que teremos de aprender a substituir!

Jerônimo Borges, brasileiro de Santa Catarina, não perdia uma oportunidade de gabar a sua Florianópolis. Foi juiz e foi maçom. Quando se aposentou da magistratura, entendeu por bem passar a aproveitar o tempo que passara a ter disponível para criar e manter, durante anos, o que será, durante muito tempo, um marco da imprensa maçónica em língua portuguesa, o informativo maçónico JB News. Durante anos, diariamente caía nas caixas de correio eletrónico de todos os que se tinham inscrito para receber, o número dessa jornada do JB News. Dia após dia. De inverno e de verão. Em época de trabalho e em período de férias. Em dias de trabalho e em dias de descanso. O JB News, durante anos, era algo que todos os seus subscritores tinham por certo.

Nas colunas do JB News se publicou, em língua portuguesa, muito do que de bom se produziu relativamente à Arte Real. Foi através do JB News que alguns maçons europeus tomaram conhecimento do muito que, com qualidade, se estudava e escrevia sobre Maçonaria no Brasil. Foi através do JB News que muitos Irmãos brasileiros conheceram algo do que sobre Maçonaria se produz em Portugal.

Como editor do JB News, Jerônimo Borges foi um exemplo de qualidade e persistência. Notável como, durante anos a fio assegurou, sozinho com o seu teclado e o seu computador, a edição e difusão diária do informativo. Mesmo em férias, não folgava: estivesse onde estivesse, só precisava de uma ligação à Internet para enviar o exemplar do dia... Quando viajava, providenciava pelo envio antes de partir ou depois de chegar. Quando, apesar de tudo, não conseguia a diária publicação, no dia seguinte enviava dois números, um do dia em atraso e outro do próprio dia. 

O JB News foi claramente uma paixão, um projeto concebido e executado com gosto. Há uns anos, anunciou que ia deixar de publicar o JB News. Nada que me admirasse. Editar e enviar o informativo, dia após dia dia, ano após ano, só podia esgotar o mais pintado... E a família deveria formular crescentes protestos... E a idade certamente começaria a pesar... E a saúde a dar sinais de fraquejar... Mas o anúncio causou um clamor tal, um tão grande coro de pedidos de reconsideração, que voltou atrás. A paixão continuou ainda a vencer a razão. Por mais algum tempo, não muito, que a realidade impõe-se sempre ao desejo. Um ou dois anos depois, teve de reconhecer que era tempo de parar. Ainda terá tido a ilusão de que o seu JB News poderia ser continuado por outros, em frequência diária ou semanal. Debalde: Jerônimo Borges só havia um... E desfrutar do JB News ers fácil. Editá-lo e distribuí-lo era mais difícil...

Tive a honra de ser convidado por Jerônimo Borges para ser um dos "cronistas residentes" do JB News, na fase final deste. Uma breve troca de mensagens bastou. Combinámos até quando lhe deveria enviar os textos e tudo ficou acertado, Semanalmente, enviava o meu texto. Dois dias depois, no dia acertado lá estava ele publicado. Assim foi até que o Irmão Jerônimo teve de pôr um ponto final no JB News.

Esta publicação ficará como um repositório de muito do que de bom se publicou sobre Maçonaria em língua portuguesa. Alguns - muitos - contribuíram com os seus textos. Um, o Irmão Jerônimo Borges, concebeu, executou e manteve todo o projeto!

Com a cessação da publicação do JB News, parecia que o Irmão Jerônimo se retirara destas lides. Pura ilusão! Poucas semanas volvidas, apareceu, sob sua edição, o ACML News, informativo da Academia Catarinense Maçônica de Letras, que integrava. Sem periodicidade fixa, com um conteúdo mais específico, foi, nitidamente, o alimentar do bichinho do Irmão Jerônimo e a oportunidade de mantermos algum contacto com ele. Há algum, não muito, tempo, dei conta que passara já um anormalmente longo período sem receber o ACML News. Pelos vistos, agora sei porquê...

Jerônimo Borges integrou a Loja Alferes Tiradentes, n.º 20 da Grande Loja de Santa Catarina. Foi também, pelo menos, membro correspondente da Loja Francisco Xavier Ferreira de Pesquisas Maçônicas, a Chico da Botica. Foi, sobretudo, um eminente maçom e um excelente ser humano!

Nesta hora em que se consumou a saída deste plano de existência do Irmão Jerônimo Borges, deste lado europeu do Atlântico deixo-lhe a minha homenagem de admirador da sua obra. À sua família, dedico uma palavra de conforto. A todos os maçons, formulo uma exortação de que tenham bem presente o seu exemplo!

Rui Bandeira

04 julho 2018

Os sete brindes rituais

Após o final das sessões rituais em Loja, segue-se habitualmente o ágape, no qual se bebe vinho, e com ele se fazem brindes, sendo que o vinho na Maçonaria tem um valor simbólico, que varia em função de cada rito ou ritual.

Tradicionalmente, os maçons designam os copos usados nestes brindes como “canhões” e há exemplos históricos de peças de vidro ou cristal criadas especificamente para este fim, que são autênticas obras de arte.

 “Canhões” usados pelos Maçons

Os brindes maçónicos são sempre feitos com vinho tinto, (pólvora negra) e de pé. Os copos (canhões) são levados à boca de forma pausada. Com excepção dos dois últimos brindes, a resposta ao brinde é dada pelos maçons presentes, de pé, empunhando os seus canhões e proferindo, antes de beberem um pouco: “Fogo“. No brinde às senhoras e no 7º brinde, as expressões utilizadas são respectivamente “ás Senhoras” e “A todos os maçons”.

Qualquer das sessões de Loja ou de Grande Loja, é realizada em espaços privativos ou reservados. Os ágapes maçónicos decorrem em locais recatados e discretos, utilizando terminologia ritual, embora também possam efectuar-se em restaurantes públicos.

O momento em que é feito cada brinde é estabelecido por quem dirige o ágape e é dirigido pelo Mestre de Cerimónias, se estiver designado. Quem dirige o ágape convida irmãos para efectuarem cada um dos brindes, que são iniciados por “Meus II:., convido-vos a carregar os canhões e a levantarem-se para o “..º” brinde. Por ordem do V:. M:. (se for ele a presidir), meus II:. juntem-se a mim para brindar…“:
  1. A Sua Excelência o Presidente da República,  (o nome de quem, no momento, exerce a função).
  2. A todos os Soberanos e Chefes de Estado que protegem a Maçonaria (isto é, de todos os países em que é legal e lícita a prática da Maçonaria, pois a única protecção que a Maçonaria reclama dos poderes públicos é a da Lei).
  3. Ao Muito Respeitável Grão-Mestre.
  4. Aos Grandes Oficiais.
  5. Ao Venerável Mestre.
  6. Às Senhoras.
  7. A todos os maçons.
NOTA: Quando não estiverem presentes Grandes Oficiais em funções, mas participarem visitantes no ágape, o quarto brinde é dedicado ao Venerável Mestre da Loja e o quinto aos visitantes. Quando nem Grande Oficiais em funções nem visitantes participem no ágape, o quarto brinde é dedicado ao Venerável Mestre e o quinto aos Oficiais da Loja.

O sétimo brinde é por vezes denominado de brinde das 11 horas, que evidencia pela posição dos ponteiros, o aspecto de um compasso prestes a fechar-se, o que ocorre à meia-noite pela sobreposição dos ponteiros.

Neste brinde, o Grão-Mestre (ou Venerável Mestre) permanece sentado, e o maçon mais jovem (ou o aprendiz mais recente) coloca-se de pé imediatamente por detrás, coloca a sua mão esquerda no ombro direito daquele, ergue a sua taça e profere a saudação: “A todos os Maçons espalhados pelo Globo, na Terra, no Mar ou no Ar, desejamos uma rápido restabelecimento para os seus sofrimentos e um pronto regresso a suas casas, se esse for o seu desejo”.

Todos os maçons presentes, de pé, erguem então os seus “canhões” com vinho, e respondem em uníssono: “A todos os maçons”.

Em algumas ocasiões, quem preside ao banquete maçónico pode retribuir este brinde. Levanta-se, e de frente para o aprendiz, estando este com a taça erguida, toca-a com a sua, e declara: “meu irmão, eu não sou mais do que tu”; de seguida tocam-se outra vez as taças, e declara: “meu irmão , tu não és menos do que eu”; depois, pela terceira vez, tocam-se as taças, e declara: “meu irmão, tu e eu somos iguais, bebamos juntos”. De seguida, entrelaçam os braços e bebem simultaneamente.

Os maçons presentes saúdam este final com uma salva de palmas.

Compilado de diversas origens, incluindo este Blog.
António Jorge

28 junho 2018

As perseguições à Maçonaria


Ao longo dos últimos 300 anos a maçonaria passou por perseguições de toda a ordem. Políticas, religiosas, culturais e étnicas. Assim, resolvi apresentar uma breve reflexão sobre a perseguição á maçonaria antes da II Guerra Mundial, e durante a mesma, sumarizando os tempos difíceis pela qual a maçonaria passou nos meados do século XX.

O rol de perseguições á nossa augusta ordem foi enorme e de toda a espécie. Durante as primeiras décadas do século XX essa perseguição atingiu uma particular violência um pouco por toda a Europa.
Começando no primeiro regime Fascista da Europa, na Hungria em 1919 com Bella Kun, e prosseguindo com o regime Fascista de Mussolini em 1923, esses tempos difíceis na maçonaria propagaram-se também a Portugal e a Espanha.

Por exemplo, mesmo aqui ao lado durante, e após, o termo da Guerra Civil Espanhola, o Generalíssimo Franco promulgou em 1940 a Lei de Repressão contra a Maçonaria e o Comunismo. Aliás, Franco atribuía frequentemente todos os males que padecia Espanha ao complot Judaico Maçónico, como se pode testemunhar ainda no seu último discurso feito em Madrid em 10 de Janeiro de 1975.



Das muitas perseguições que a maçonaria sofreu no último século, posso destacar a perseguição sobre o jugo nazi e as coincidências temporais pela qual a maçonaria foi também perseguida em Portugal.
Quando Hitler chegou ao poder em 1933, a sua política estava bem definida, pois já no seu livro "Minha Luta", Hitler dizia que “a maçonaria sucumbiu aos judeus e converteu-se num excelente instrumento para combater pelos seus interesses […]”.

No entanto os esforços para eliminar a maçonaria não eram a sua primeira prioridade. Mas, e após o estabelecimento e fortalecimento das bases do regime nacional-socialista, a perseguição chegou às portas das lojas. Primeiramente, as lojas que defendiam a tolerância, a igualdade, e que de algum modo estavam ligadas aos sociais-democratas ou liberais, foram sujeitas a perseguições e eram pressionadas para abater colunas "voluntariamente".

Nessa primeira fase, durante o ano de 1933 aquelas lojas mais conservadoras, e que estavam dispostas a acomodar-se ao regime, ainda puderam funcionar durante mais algum tempo.

No entanto, os nacionais socialistas desde bem cedo pretenderam excluir de cargos públicos todos aqueles mações que se recusavam a renunciar á maçonaria.

A situação mudaria radicalmente no início de 1934 quando Roland Freisler (Juiz Nazi e Ministro da Justiça do Terceiro Reich) criou o "Volksgerichtshof" (Tribunal do Povo), que não era nem mais nem menos que um tribunal político pelo qual os nacionais socialistas tentavam controlar a população através de penas desproporcionadas e brutais.

Roland Freisler decidiu em Janeiro de 1934 que os maçons que não deixassem as suas lojas até 30 de janeiro desse ano, não se poderiam filiar no Partido Nacional Socialista. Ainda no mesmo mês, Hermann Goering na altura ministro do Interior da Prússia emitiu um decreto ordenando que as lojas se dissolvessem "voluntariamente", e exigindo que essas acções "voluntárias" lhe fossem submetidas para a sua aprovação.

Além disso, as lojas foram atacadas em toda a Alemanha por unidades locais da S.A., que destruíram os templos, e seus recheios. Isto tudo somado á crescente pressão, sobre os funcionários públicos suspeitos de pertencerem á maçonaria (Magistrados, Professores, Militares), levou a que fosse desferido um duro golpe na nossa Ordem.

Ainda em Maio de 1934, o Ministério da Defesa Alemão proibiu a maçonaria, a todo o seu pessoal militar, e civil. Os funcionários estavam proibidos de aderir ou pertencer a qualquer loja maçónica. Nesse Outono de 1934, depois de Himmler e Reinhard Heydrich tomarem as rédeas da Gestapo, a polícia Alemã fechou muitas lojas e confiscou os seus bens.

Entretanto em 28 de Outubro de 1934, o Ministro do Interior do Reich, Wilhelm Frick, emitiu um decreto em que considera as lojas como "hostis ao Estado". Ao serem declaradas hostis ao Estado as lojas  sujeitavam-se a ficar com os seus bens apreendidos.

Só por curiosidade, em Portugal o então deputado José Cabral, Director-Geral dos Serviços Prisionais, apresenta, em 19 de Janeiro de 1935, na Assembleia Nacional, o projecto de lei n.º 2, visando a extinção das associações secretas. O projecto adoptava uma definição de associação secreta que tinha em vista atingir a maçonaria. Enfim coincidências...

Finalmente, em 17 de Agosto de 1935, citando a autoridade de "O Decreto do Fogo do Reichstag (Reichstagsbrandverordnung)*”, Frick ordenou que todas as Lojas restantes fossem dissolvidas e seus bens confiscados.

Também em Portugal em 27 de Março de 1935 a Câmara Corporativa emite um parecer favorável à aprovação do projecto de lei, nº 2 num extenso parecer subscrito por Domingos Fezas Vital, Afonso de Melo, e Gustavo Cordeiro Ramos. A 21 de Janeiro de 1937 foi emitida uma portaria (baseada na lei nº 1901), que dissolve o Grémio Lusitano (Associação profana que suporta o Grande Oriente), e a lei nº 1950 que entrega todos os bens do Grémio Lusitano á Legião Portuguesa.

Ainda em 1935 Reinhard Heydrich Chefe da Polícia de Segurança e do S.D.** dizia que os Maçons, os Judeus, e o Clero, eram os "inimigos mais implacáveis da raça alemã". Afirmava convictamente que era necessário erradicar de todos os Alemães a "influência indirecta do espírito judaico", pois para ele essa influência, "era um resíduo infeccioso Judeu, Liberal e Maçónico, que contaminava acima de tudo o mundo académico e intelectual".

Heydrich criou uma secção especial do Serviço de Segurança SS, Secção II /111, para enfrentar e exterminar especificamente a Maçonaria. O S.D. estava muito interessado neste tema, pois acreditava, que a maçonaria exercia um poder político real, e que controlava a opinião pública através da Imprensa, o que significava que a maçonaria, estaria em condições de fomentar a subversão e a revolução.

Mais tarde a RSHA*** uma mistura de S.D. e de Policia de Segurança formada em 1939 assumiu a secção dedicada á investigação da maçonaria.

No entanto a seguir aos anos tempestuosos de 1934, a 1936 e com a Alemanha a preparar-se para a guerra nota-se em 1937 e 1938, um alívio sobre a maçonaria.

Hitler amnistia alguns membros que renunciaram á maçonaria em Abril de 1938, e foram decididas algumas reintegrações nos serviços do Estado caso a caso. Após a II Guerra Mundial começar em 1939, muitos ex-maçons que tinham sido obrigados a aposentarem-se regressaram ao serviço público, sendo levantada a proibição de ex-maçons servirem na Wehrmacht (Forças Armadas Alemães), inclusivamente como oficiais. No entanto o Partido Nacional Socialista continuou a proibir os ex-maçons a aderirem às suas fileiras embora tenham havido algumas excepções depois de 1938.

Após conquistarem a Europa em 1940, e nos países aonde estabeleceram um regime de ocupação, os Alemães dissolveram as organizações maçónicas e confiscaram os seus bens e documentos.

Assim, alguns dos parceiros Alemães do Eixo decretaram medidas policiais e de segregação desfavoráveis aos maçons. Um exemplo claro desta política é o decreto proferido em agosto de 1940, pelo regime Francês de Vichy. Esse decreto afirmava que os maçons eram inimigos do estado e permitiam a vigilância policial a todo e qualquer maçon. Isso levou a que as autoridades Francesas do Regime de Vichy criassem um arquivo onde estavam identificados todos os membros do Grande Oriente da França, uma das principais organizações Maçónicas francesas;



Quanto ao modo de actuar dos Alemães nas zonas ocupadas, era o seguinte:

Depois de fecharem uma Obediência apreendiam a lista de membros, bibliotecas, mobiliário e outros artefactos culturais. Os itens apreendidos eram enviados para a agência alemã apropriada, principalmente o S.D. e mais tarde, o RSHA.



Também, como parte de sua campanha de propaganda contra a maçonaria, os nazistas e outras organizações de direita locais, montaram exposições antimaçónicas em toda a Europa ocupada. Assim, um pouco por toda a Europa a Alemanha, montou várias exposições, como a de Paris em outubro de 1940, e a de Bruxelas em fevereiro de 1941. Exibindo rituais maçónicos e artefactos culturais roubados de lojas, essas exposições visavam ridicularizar e dirigir o ódio contra os maçons e aumentar os temores de uma Conspiração Judaico-Maçónica.

Além disso a propaganda Alemã durante e guerra, sempre acusou os judeus e os maçons de terem provocado a Segunda Guerra Mundial e serem responsáveis pelas políticas do presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt, que foi identificado como maçon.

Em 1942, Alfred Rosenberg**** foi autorizado por um decreto de Hitler a realizar uma "guerra intelectual" contra os judeus e os maçons. Assim, Hitler concedeu uma autorização a Rosenberg, de livre acesso a todos os arquivos e bibliotecas maçónicas, de modo a ter informação e conhecimentos suficientes para continuar "a luta intelectual e metódica", que era necessária para vencer a guerra.
Aquando do fim da Segunda Guerra Mundial, foram capturados aos Alemães enormes quantidades de arquivos e bibliografia maçónica que tinham sido apreendidas pelas autoridades Alemãs. Esse material foi capturado pelos aliados e enviado quer para Moscovo (importante arquivo capturado na Silésia), quer para Washington e Londres.

Desde o fim da Guerra Fria, muitas colecções relacionadas com a maçonaria foram restituídas aos países de origem, enquanto outras continuam a ser mantidas em armazéns no estrangeiro.

Honestamente é difícil determinar quantos Irmãos morreram durante o regime nacional-socialista apenas por serem maçons, mas uma estimativa conservadora aponta que os números de maçons Alemães que foram executados ou morreram em campos de concentração foram cerca de 80 000. Já, em todos os países ocupados estima-se que tenham morrido há volta de 200 000 maçons.

Por incrível que pareça a II Guerra Mundial além de derrotar o nacional-socialismo veio dar um novo sopro de vida á maçonaria principalmente nos Estados Unidos como explica William J. Jones de Villa Grove, (quinquagésimo terceiro Grão-Mestre do Estado de Illinois, 2000-2003).  Segundo ele, "Após o final da guerra muitos dos homens que combateram além-mar juntaram-se á maçonaria. Eu penso que os veteranos experimentaram uma grande comunhão de objectivos e princípios com os seus camaradas quando estavam no serviço além-mar. Na Guerra eles estavam juntos, com outros homens, e sentiam um parentesco próximo, uma verdadeira irmandade. Quando chegaram aos Estados Unidos, não encontraram esse mesmo sentimento de irmandade que sentiam quando estavam além-mar, e reflectindo chegaram á conclusão que gostariam de se juntar a uma fraternidade, a uma organização masculina, para que pudessem ter uma comunhão semelhante ao que tinham tido quando estavam em serviço além-mar."

O exemplo disso é o do Estado de Illinois. Entre 1940 e 1950 a maçonaria ganhou 55751 novos Irmãos. É caso para dizer que o nacional-socialismo e o fascismo perderam em todos os sentidos para a maçonaria.



JBO
M:. M:. da R:. L:. Mestre Affonso Domingues em Fevereiro 2016

FONTES:

NOTAS:

  • * Ordem do Império Presidente para a Proteção de Pessoas e EstadoCom base no artigo 48, parágrafo 2, da Constituição do Reich, prescreve-se o seguinte para a defesa contra os actos de violência comunistas que prejudicam o estado: com base em actos de violência comunistas que acabam com o estado: § 1º. Os artigos 114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich alemão serão suspensos até novo aviso. É, portanto, restrições à liberdade pessoal, ao direito à liberdade de expressão, incluindo liberdade de imprensa, direitos de associação e reunião, intervenções no segredo postal, postal, telegráfico e telefónico, ordens de busca e apreensão de casas e restrições de propriedade, mesmo fora dela de outra maneira permitida por lei. § 1. Os artigos 114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich são suspensos até novo aviso. [Habeas corpus], liberdade de opinião, incluindo a liberdade de imprensa, a liberdade de organizar e reunir, a privacidade das comunicações posta, telegráficas e telefónicas. Os mandados para pesquisas domiciliares, ordens de confisco e restrições de propriedade são, portanto, permitidos além dos limites legais prescritos de outra forma.
  • **Sicherheitsdienst (alemão: [zɪçɐhaɪtsˌdiːnst], Serviço de Segurança), o título completo Sicherheitsdienst des Reichsführers-SS (Serviço de Segurança do Reichsführer-SS), ou SD, foi a agência de inteligência das SS e o Partido Nazista na Alemanha nazista. A organização foi a primeira organização de inteligência nazista a ser estabelecida e foi considerada uma organização irmã com a Gestapo, que a SS se infiltrava muito depois de 1934. Entre 1933 e 1939, o SD foi administrado como um escritório SS independente, após o qual foi transferido para a autoridade do Reich Main Security Office (Reichssicherheitshauptamt; RSHA), como um dos seus sete departamentos / escritórios. O Seu primeiro diretor, Reinhard Heydrich, destinado ao SD a trazer cada indivíduo dentro do alcance do Terceiro Reich sob "supervisão contínua".
  • *** O Reichssicherheitshauptamt, (em português Gabinete Central de Segurança do Reich) abreviado como RSHA, era o órgão do Partido Nazista que controlava as polícias, segurança alemãs e administração das mesmas no período de 1939, quando foi criada, até 1945.
  • **** Alfred Rosenberg (Reval, 12 de janeiro de 1893 — Nuremberg, 16 de Outubro de 1946) foi um político e escritor alemão, sendo o principal teórico do nacional-socialismo, sintetizado na obra O Mito do Século XX (Der Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts, 1930). Conselheiro de Adolf Hitler, chegando a ser ministro encarregado dos territórios da Europa Oriental, em 1941, onde deportou e exterminou centenas de milhares de pessoas, principalmente judeus. O Tribunal de Nuremberg (ou Nuremberga) condenou-o à morte por enforcamento, pelos crimes de guerra.

21 junho 2018

Carta "A' Mocidade"

O Governo da chamada Segunda República, que funcionou entre 9 de Julho de 1926 e 18 de Abril de 1928, foi dirigido por António Óscar de Fragoso Carmona, no período que muitos designam por Ditadura Militar.

Este período da nossa história que integra a Segunda República Portuguesa, iniciou-se com o golpe militar de 28 de Maio de 1926 e a entrada em vigor da Constituição portuguesa de 1933, que institucionalizou o Estado Novo.

Em Julho de 1927, foi emitida uma carta de título "A' Mocidade" que claramente condena a Maçonaria, apelando até "Ás armas contra a Maçonaria" e recordando o artigo 283 do Código Penal como fundamento para esta "luta". Esta carta foi aparentemente dirigida ao mundo académico, dado que todos os signatários são membros das diversas academias.

O General António Óscar de Fragoso Carmona, terá sido maçon, iniciado no triângulo Nº 1, de Chaves, entre 1894 e 1906, não tendo ultrapassado o grau de aprendiz. Abandonou a maçonaria, tendo, em 1935, assinado a lei que a ilegalizou em Portugal. (conforme MARQUES, A. H. de Oliveira. Dicionário de Maçonaria Portuguesa. Lisboa: Editorial Delta, 1986, vol I, col. 272-273).

Reprodução da carta...



António Jorge



20 junho 2018

A Batalha de Ayacucho


A libertação da América espanhola teve o seu epílogo com a batalha de Ayacucho no dia 9 de Dezembro de 1824, e teve actos de fraternidade e generosidade que nunca serão esquecidos pelos maçons e que claramente os definem. Deveriam também constituir um exemplo para todos.

Na noite anterior à batalha, as Lojas que funcionavam em ambos os exércitos foram chamadas separadamente para uma reunião visando encontrar uma solução que evitasse o derramamento de sangue, mas essa solução não foi possível de ser encontrada.

Foi feita em seguida uma reunião em conjunto, mas também com o mesmo resultado negativo.

No dia seguinte um maçon espanhol solicitou permissão para que familiares e maçons que militavam em diferentes exércitos fossem autorizados a abraçar-se pela última vez.

Uma centena de soldados sul-americanos e espanhóis avançaram para se cumprimentar; no lado esquerdo ficaram os maçons, que após se abraçarem por três vezes, participaram de uma fraternal reunião que durou quase uma hora e foi emocionante.

Encontraram-se, entre outros, os irmãos Rodil, Espartero, Vergara, Virrey José de la Serna, Venerável Mestre General Canterac, Past Master Marechal Jerónimo Valdez, General Monet, Antonio Tur e General Ballesteros, no lado espanhol, e os irmãos José Faustino Sanchéz Carrión, General Antonio José de Sucre, General José Maria Córdova, Tenente Coronel Vicente Tur (espanhol, mas pertencente ao exército patriota e irmão de Antonio Tur) e o General Antonio Valero de Bernabé, no lado sul-americano.

Ficou o exemplo da fraternidade maçónica, que não reconhece nem raças nem nacionalidades, ainda que nas circunstâncias mais dramáticas. Terminou a batalha com a vitória do exército Sul-americano e quando o chefe espanhol, o maçon La Serna, ferido seis vezes, entregou sua espada ao General maçon, Sucre, este não a aceitou, solicitando que continuasse nas mãos do bravo militar.

As atenções que os prisioneiros e, especialmente os feridos, receberam, foi outra amostra de fraternidade extrema, como igualmente a Acta de Capitulação, em que a generosidade do vencedor ultrapassou os pedidos do vencido.