08 agosto 2016

"O Ramo da Acácia" (republicação)

Hoje trago-Vos um texto "antigo" de 2007 saído da mão do José Ruah que aborda um dos símbolos mais importantes da Maçonaria, a Acácia.
No texto que abaixo republico e que pode ser consultado no seu original aqui, o José dá a sua opinião sobre esta madeira e a sua simbologia na Maçonaria.

"O Ramo de Acácia"

Quem me conhece sabe que não sou dado a grandes explicações simbólicas, nem tão pouco tenho seguido a via do esoterismo.

Acredito que as coisas têm um fundamento e que esse fundamento poderá ser encontrado na História, nos Usos e Costumes, ou em Livros Sagrados.

O que fazemos com as coisas pode derivar da interpretação dada, tenha ela sido a mais correcta ou não, ou simplesmente diferente.

Hoje decidi pegar na Acácia.

A Maçonaria elegeu como um dos seus símbolos a Acácia, outros, e apenas a título de exemplo, são o Esquadro e o Compasso.

Porquê a Acácia e não o Cedro? Sabemos pela tradição e pela História que estas madeiras foram usadas no Templo de Salomão, base simbólica da Maçonaria Especulativa tal como a conhecemos actualmente.

Aliás o Cedro é muito mais mencionado como material de construção do Templo que a Acácia, mas não é utilizado na simbologia Maçónica.

E a Acácia, ou mais propriamente o Ramo de Acácia (Inglês: Sprig; Francês: Rameau) passou a ser claramente um símbolo.

As primeiras referências à Acácia aparecem no Antigo Testamento no Livro do Êxodo. Aqui Deus determina que será esta a madeira e não outra a que será utilizada para a construção da Arca a Aliança onde estão depositadas as Tábuas da Lei, bem como para a construção da mesa Para os Pães da Preposição e outros objectos de culto utilizados naquele que foi na verdade o primeiro Templo.

Não um templo de pedra como o que o rei Salomão constrói ( ou manda construir), mas um templo móvel que era erguido nos acampamentos do Povo Judeu.

A estrutura deste Templo Móvel é depois emulada por Salomão para a construção do Templo em Jerusalém, respeitando as proporções e os compartimentos. Nesse Templo foi depositada a Arca da Aliança e os demais objectos de culto.

Ora o Templo era revestido a cedro, mas os Objectos de Culto em Acácia.

O termo hebraico é Shittah e pensa-se que referencia a espécie de Acácia hoje conhecida por Nilotica ou Seyal. Sendo que na região também existem a Albida, Tortilis e Iraqensis.

Mas esta referência é à madeira de Acácia. Todavia como já disse antes o Símbolo é o Ramo de Acácia.

E as referencias ao Ramo de Acácia aparecem também relacionadas com os Hebreus, mas não com o Templo.
De entre as tribos do Povo Judeu uma originou a linhagem dos Sacerdotes. Primeiro no Templo móvel e depois no Templo de Jerusalém. Ora por uma questão religiosa estes Sacerdotes não podiam aproximar-se de cadáveres humanos e por consequência das respectivas campas.

Na altura os cemitérios não estavam tão organizados como actualmente e os defuntos eram inumados nos terrenos fora das cidades mas muitas vezes sem critérios de localização. Ora isto representava um problema para os Sacerdotes pois para cumprirem os preceitos religiosos tinham que saber onde estavam essas campas.

Como sabemos a Acácia é considerada em muitos sítios uma praga, pois precisa de poucos recursos para viver e em caso de incêndio é a primeira planta a aparecer, não deixando que as espécies autóctones voltem e assim causando desequilíbrios ambientais.

Esta característica seguramente levou a que as campas passassem a ser marcadas com um Ramo de Acácia para assim serem facilmente reconhecidas pelos Sacerdotes.

Daqui à Lenda de Hiram é um passo, pois a lenda situa no espaço e no tempo a estória da morte de Hiram , espaço e tempo que são os que acabo de referir , Jerusalém na época da construção do templo.

Na Lenda Hiram é assassinado e o seu cadáver enterrado fora da cidade para encobrir o crime. Todavia a regra mandava marcar a sepultura com um Ramo de Acácia.

Temos aqui a ligação.

Hoje o ramo de acácia continua a ser usado como símbolo, sendo que e tanto quanto consegui perceber é o Ramo da Acácia Nilotica ou Seyal, ou eventualmente o da Acácia Robinia.

Ficam aqui as imagens de cada um deles e cada um de vós que tire as conclusões.
Acacia Nilotica
Acacia Robinia
JoseSR

01 agosto 2016

Cerimónia de iniciação e Iniciação


Como é sabido, a admissão na Maçonartia ocorre através de uma Cerimónia de Iniciação do interessado. Através dessa Cerimónia, o interessado adquire formalmente a condição de maçom. Mas adquire em que termos? É maçom enquanto continuar a integrar uma Obediência maçónica, ou a aquisição dessa qualidade é vitalícia, isto é, perdura mesmo que a pesoa em causa abandone a Maçonaria ou dela seja expulsa ou excluída?

Os defensores da primeira alternativa consideram que a admissão na Maçonaria pressupõe a aceitação das regras vigentes na mesma, designadamente na Obediência em que ocorre a integração, e  que essas regras, consubstanciadas normalmente em regulamento, estatuto ou equivalente conjunto de normas, estipulam que aquele que abandone a Maçonaria ou dela seja expulso ou excluído perde a qualidade de maçom. Quem estiver abrangido por qualquer destas situações será um ex-maçom.

Os defensores da segunda alternativa contrapõem que esta é uma visão puramente administrativa da questão, írrita porque a Maçonaria não se pode nem deve reduzir a uma estrutura administrativa, antes é uma orgamização iniciática. E o princípio iniciático impõe que quem foi iniciado, iniciado está e nunca deixará de estar, independentemente da sua situação burocrática ou administrativa, da sua ligação ou falta dela a uma estrutura maçónica. Conforme pontua René Guénon, numa citação proporcionada recentemente por um Irmão sabedor:

 "... as organizações iniciáricas diferem profundamente das associações profanas, às quais elas não podem ser assemelhadas ou mesmo comparadas seja de que modo for; quem se retira ou é excluído de uma associação profana não tem mais nenhum laço com ela e volta a ser exatamente o que era antes de fazer parte dela; pelo contrário, a ligação estabelecida com caráter iniciático não depende em nada de contingências tais como uma demissão ou uma exclusão que são de ordem simplesmente "administrativa", como já dissemos, e apenas afetam as relações exteriores; e se estas últimas se situam todas na ordem profana, onde uma associação não tem nada mais a dar aos seus membros, elas são pelo contrário na ordem iniciática, um meio simplesmente acessório, e de todo desnecessário, relativamente às realidades interiores, únicas que verdadeiramente importam." 

E, mais adiante, em nota associada:

 "... exemplo mais simples e mais vulgar no que diz respeito às organizações iniciáticas: é absolutamente inexato falar de um "ex-Maçom", como se faz correntemente; um Maçom demissionário ou mesmo excluído não fazendo mais parte de qualquer Loja nem de nenhuma Obediência não fica menos Maçom por isso; queira-o ele ou não o queira, isso nada altera; e a prova é que, se ele vier depois a ser "reintegrado" não é iniciado de novo..."  (In "Aperçus sur L'Initiation", Editions Traditionnelles, pag. 113 e 114. Paris, 1977)   

Ambas as posições têm aspetos que considero corretos e pontos que não merecem a minha adesão. É para mim claro que uma Inicação não tem o mesmo restrito significado de uma adesão a qualquer associação ou coletividade, automaticamente extinta por vontade do próprio ou da entidade a que se aderiu. Mas também coloco reservas ao entendimento de que uma cerimónia de iniciação "cria" um maçom, que permanecerá maçom até ao dia de sua morte, contra ventos e marés, mesmo que não o queira e ainda que não se comporte como tal. A Iniciação não é uma simples adesão ou inscrição numa agremiação, mas também não tem, a meu ver, qualidades mágicas que transformem alguém para todo o sempre, mesmo que o não queira ou, decididamente, recuse comportar-se como é suposto fazê-lo quem se transforme.

O entendimento de René Guénon, que muitos seguem, na minha modesta opinião insere-se numa tradição e visão religiosa cristã que - quer queiramos, quer não - influencia o pensamento europeu desde há séculos e séculos. Nos seus trechos acima transcritos, onde se escreve "Iniciação" poderia , com as devidas alterações, escrever-se, por exemplo, "batismo" e tirar-se a mesma conclusão... Na tradição religiosa cristã, a integração na comunidade cristã ocorre pelo batismo e perdura até à morte - independentemente de o batizado ser, muitas vezes, um infante destituído ainda da capacidade de formar e expressar qualquer vontade sobre o assunto. E, parafraseando Guénon, também um cristão batizado que se converta a uma outra religião, se porventura se reconveter ao cristianismo não é batizado de novo - sinal de que o batismo cria um cristão para todo o sempre e independentemente de vontades e vicissitudes...

Em matéria religiosa, ainda posso entender que ao batismo se associe essa natureza transformadora indestrutível. Tenho, porém, muita dificuldade em aceitar, sem reservas, idêntica natureza transformadora indestrutível à Cerimónia de Iniciação.

Claro que uma organização iniciática difere profundamente das associações profanas. Claro que a Cerimónia de Iniciação é bem mais e bem mais profunda do que o preenchimento de uma ficha de adesão e uma decisão de aceitação de um novo "associado".

Mas considero errado dizer-se que quem se submeteu a uma Cerimónia de Iniciação maçónica fica automaticamente constituído maçom - e para toda a vida, suceda o que suceder, faça o que fizer, decida o que decidir.

Chamo à colação um exemplo histórico que penso permitirá ilustrar as minhas reservas:

"Num documento da Maçonaria, assinado por Egas Moniz, comprova-se que Agostinho Lourenço terá sido membro de uma loja maçónica, em 1914. As mesmas figuras que comparecem com ele, como o médico Ramon Nonato La Féria, na ocasião de uma cerimónia maçónica, testemunhada pelo jornal O Século, em 1931, serão perseguidas pela polícia que ele dirige, meia dezena de anos depois." (in http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2016-07-17-O-anjo-negro-de-Salazar).

O sinistro e temível Capitão Agostinho Lourenço, todo-poderoso criador e diretor da PVDE, antecessora da PIDE, foi iniciado maçom! Anos depois disso, maré política virada e influente prócere do regime de Salazar, ilegalizada que foi a Maçonaria, não teve problemas em perseguir os seus antigos Irmãos. Devemos continuar, em nome da via iniciática, a considerar este personagem como continuando a ser maçom, e não um ex-maçom, quando se dedicou, ao serviço do seu senhor político a perseguir os que outrora considerara seus Irmãos? Para mim, não restam quaisquer dúvidas: aquele personagem não passou de, inequivocamente, um infeliz erro de casting...

É, para mim, claro que a Cerimónia de Iniciação não tem artes mágicas para transformar um profano num maçom. Nem todos os que se submetem à Cerimónia de Iniciação são verdadeiramente Iniciados. A Cerimónia de Iniciação (ver, neste blogue, A Iniciação (I) e A Iniciação (II)) é, a meu ver, essencialmente um catalisador que propicia a mudança e transformação daquele que a ela se submete, no sentido de passar de um profano a um vero Iniciado. Mas essa transformação ou é feita no próprio pelo próprio, ou não há Cerimónia que lhe valha...

Asssim, e resumindo, a minha posição sobre este assunto é: um maçom verdadeiramente Iniciado é, sim, um maçom para toda a vida - e não haverá ventos nem marés nem vicissitudes nem vontades que mudem isso, porque, se foi verdadeiramente Iniciado, foi transformado e comportar-se-á em conformidade. Normalmente, não sairá, nem será excluído ou expulso. Se sair de uma Obediência, ou dela for excluído ou mesmo expulso, se foi verdadeiramente Iniciado e transformado, continuarei a considerá-lo como tal - e, se calhar, o problema será da estrutura que o afastou... Mas não basta ter passado por uma Cerimónia de Iniciação para ser verdadeiramente Iniciado. E aqueles que, embora tendo-se submetido a uma Cerimónia de Iniciação, não lograram - porque não quiseram, ou simplesmente porque não foram capazes - transformar-se a si próprios não me merecem o reconhecimento como Iniciados. Saindo, sendo excluídos ou expulsos, são simplesmente ex-maçons e, afinal, impropriamente, assim designados, porque não passaram de erros de casting...

No fundo, no fundo, ambas as posições têm a sua razão. O que importa é distinguir entre simplesmente passar por uma Cerimónia de Iniciação e ser verdadeiramente Iniciado. Aqueles serão ex-maçons, porque no fundo nunca foram maçons. Estes merecem sempre o nosso reconhecimento como tal, porque nunca desmerecerão da transformação que tiveram.

Disse. Não sei se bem, se mal. Mas disse e dito está!

Rui Bandeira

25 julho 2016

"A Irmandade Maçónica"



A forma habitual de tratamento entre maçons é por "Irmãos". Irmão porque a Maçonaria é uma fraternidade, logo traduzido literalmente "fraternidade" por "irmandade", sendo os "fraters", "irmãos" entre si.

Todavia, mesmo não sendo irmãos de sangue - que os há! - e inclusive de não fazerem parte da mesma família sanguínea ou por adopção, os maçons sentem-se como tal, como membros integrantes e plenos de uma "família universal". E daqui vem o seu espírito de corpo (de corporação, de corporativismo). 
E aproveitando este termo também, porque a Maçonaria atual tem as suas origens nas corporações medievais de pedreiros e artificies que trabalhavam na construção civil à época onde nas quais os seus membros se sentiam também como irmãos por partilharem o mesmo ofício e os seus mistérios...

Enquanto os "construtores de catedrais" trabalhavam efetivamente a pedra em si, os atuais maçons laboram a "pedra" de uma forma espiritual, ou seja, trabalham no sentido de aprimorar a sua conduta e forma de estar, tentando modificar o seu "íntimo", por forma a que consigam honrar o seu templo interno, o seu corpo, a sua "alma", tentando ao mesmo tempo e através da sua ação na sociedade, promover a evolução desta.

Este tipo de tratamento "de irmãos" feito pelos maçons, facilita o relacionamento e o seu contato entre si, porque como a Maçonaria está presente por todo o globo terrestre, esta forma de tratamento quebra "barreiras" que não têm de existir entre irmãos, membros de uma mesma "família/grémio/fraternidade".

Este sentimento fraterno que é sentido pelos membros da Maçonaria é uma espécie de cimento que os une, independentemente da sua idade, das suas origens, estratos sociais e económicos.
O facto de se considerarem como "irmãos" menospreza determinados pormenores, mesmo que profanos, que habitualmente poderiam suscitar algum tipo de divisão ou de querela entre pessoas de bem, no que toca a temas fraturantes na Sociedade, nomeadamente no que à Política e à Religião dizem respeito. 
Cada um respeita e faz por respeitar as ideias e convicções do seu semelhante, mesmo que adversas ou contrárias às suas ideias pessoais.
A própria Maçonaria Regular no seio das suas sessões proíbe a discussão de temas onde a política partidária ou o proselitismo religioso sejam por demais evidentes.

No entanto e importa ressalvar que, mesmo apesar de se considerarem Irmãos, infelizmente nem sempre as coisas decorrem às "mil maravilhas", pois se até nas "melhores famílias" existem desavenças, a Maçonaria também não é imune a tal.
Por mais que se tentem dar todos bem, por vezes o ego de alguns se sobrepõe ao sentido de fraternidade e ao espírito de corpo que abordei anteriormente, e quando isso acontece, na maioria das vezes acontece uma separação, uma divisão, que não trará nada de bom para ninguém. Porque uns rumarão a "novas paragens" com as dificuldades que se sabem existir quando se tenta recomeçar do zero, e os que ficam, acabam por ter de "limpar os cacos" e prosseguir no seu labor constante, de forma perseverante e altruísta.
Quando existem cisões na Maçonaria, elas deixam marcas por muito tempo, cabendo ao Tempo as sanar, porque aquilo que deve estar junto, nunca deveria estar disperso...
-Um Irmão será sempre um irmão, independentemente do caminho que decida seguir...-.

Concluindo, quando existe um sentimento de amor fraternal que una alguém a alguém, esta sensação modifica os seus interlocutores, amenizando a maioria dos potenciais conflitos que poderão existir, facilitando o seu relacionamento (entre iguais) e impele a um auxílio ao próximo que de outra  forma não seria, porventura, feito.
Enfim, tudo aquilo que se espera sentir e vivenciar entre irmãos "normais" é sentido e vivido entre maçons; mesmo que se tenham conhecido no próprio dia ou que já tenham uma relação de vários anos.
 - Um mano é sempre um mano ! -

18 julho 2016

Do ritual


Todas as sessões de Lojas maçónicas se processam segundo um ritual padronizado. Cada sessão de cada Loja inicia-se sempre da mesma maneira, repetindo-se sempre as mesmas palavras, efetuando-se as mesmas ações. E igualmente termina também sempre da mesma maneira, com as mesmas palavras e ações que foram ditas e executadas em todas as vezes que anteriormente a Loja se reuniu em sessão formal.

Por que razão homens adultos, alguns homens maduros ou mesmo idosos, pais de filhos, alguns avós de netos, muitos deles com importantes responsabilidades profissionais e sociais, semanal, quinzenal ou mensalmente se juntam para repetir, vezes sem conta, as mesmas palavras e executar sempre e sempre as mesmas ações?

A primeira resposta  consiste na consideração de que a prática do ritual, o facto de se iniciar as sessões sempre da mesma forma e igualmente as terminar com os mesmos procedimentos marca uma diferença, estabelece um tempo e um espaço próprios, diferentes das experiências pessoais anteriores ao início da sessão e das que sobrevirão depois do fim desta.

Com a execução do ritual de abertura, cria-se um hiato, faz-se um corte com o que se passa no exterior, com o que se vivenciou antes do início da sessão. Paralelamente, ao executar-se o ritual de encerramento, marca-se a fronteira entre o tempo e o espaço comuns aos presentes e só a eles e os tempos e lugares em que cada um, na sua vida normal, interage com a generalidade das pessoas.

Com e execução dos rituais de abertura e enceramento, os maçons criam como que uma cápsula do tempo e do espaço que é só dos elementos da Loja e dos visitantes presentes, diferente em tudo do que se passa antes, depois, em outros lugares, com outras pessoas. Cria-se um espaço e um tempo de confiança mútua, regido por regras próprias que ali e então se aplicam, destinadas a permitir que cada seja e se sinta livre para se expressar como entenda, para abrir a sua alma, para compartilhar os seus anseios e preocupações, alegrias e receios, sem temer que essa exposição pessoal seja aproveitada fora dali. O que se passa na sessão de Loja fica ali. O quer é dito, revelado, proposto, considerado ali e então queda reservado aos presentes, porque só aos presentes diz respeito.

Com a confiança estabelecida nesse tempo e espaço, criam-se as condições para a máxima cooperação entre os presentes. Cada um pode sugerir o que achar melhor, expor uma ideia e colocá-la à consideração dos demais, sabendo que a sua sugestão e a sua ideia serão analisadas segundo os seus méritos, sem preconceitos - e sobretudo sem temer que porventura uma ideia falhada, uma sugestão desajustada, sejam utilizadas ou expostas fora dali ou a estranhos aos que ali estavam.

Cria-se um tempo e um espaço de confiança e cooperação próprios para que cada um partilhe com os demais o que sabe, o que teme, o que o preocupa, o que o alegra, e receba dos demais a reação que a sua partilha proporcionar. Cada um dá ao grupo o que pode dar. Cada um recebe do grupo o que necessita de tudo o que o grupo está em condições de proporcionar.

Estabelece-se um tempo e um espaço de confiança e cooperação em que o elogio é sincero, a crítica é pura, a solidariedade é sentida, o desacordo, quando existe, é livremente expresso e livremente analisado, possibilitando a determinação dos pontos de acordo que existem nos desacordos e das vias de superação de desacordos em acordos aceitáveis para todos.

Com esse espaço e tempo de confiança e cooperação, criam-se as condições necessárias para a natural solidariedade e para a criação de sólido espírito de corpo.

Tudo isso se constrói dentro de um espaço e de um tempo delimitados pela execução dos rituais de abertura e enceramento.

Mas não é esta a única nem, porventura, a principal razão por que homens adultos, maduros e alguns idosos, pais de filhos e avós de netos, alguns assumindo grandes responsabilidades profissionais ou sociais, persistem em, uma e outra vez e ainda outra e sempre, repetir as mesmas palavras, executar as mesmas ações.

A repetição semana a semana, quinzena a quinzena, mês a mês, anos e anos a fio, permite o aperfeiçoamento. Não só da execução do ritual, mas - e sobretudo - de quem executa o ritual.

O ritual não é um mero conjunto de palavras destinado a marcar uma diferente entre o que está de fora e o que fica dentro, entre nós e os outros. O ritual contem um assinalável conjunto de lições, de lembranças, de normas, de conselhos, de princípios que nos devem guiar ao longo das nossas vidas. O ritual é a caixa das ferramentas do aperfeiçoamento de cada um. Quanto mais se repete o ritual, melhor se conhece o ritual. Quanto melhor se conhece o ritual, mais se descobre no ritual. Quanto mais se descobre no ritual, mais e melhor se evolui. É por isso que o que se aprende, o que se surpreende, o que nos toca no ritual hoje é diferente do que se aprendeu, surpreendeu, nos tocou há cinco anos. E isso há cinco anos diferente de há dez anos. E aquilo de há dez anos diferente de há vinte anos. Porque o que se aprendeu, surpreendeu e tocou há vinte anos foi o que permitiu evoluir para aprender, surpreender e ser tocado diferentemente há dez anos, diversamente há cinco anos e diferenciadamente hoje. Porque se foi evoluindo e é em virtude da evolução havida que se está em condições de notar agora o que se não lobrigava há cinco anos, se não via há dez anos e nem se suspeitava que estava lá há vinte anos.

O ritual  é uma caixa de ferramentas que pode ser preciosa para o aperfeiçoamento e a evolução de cada um. Mas atenção que não basta repetir, não chega papaguear o ritual. O ritual é para ser executado e repetido, mas também para ser lido, para ser analisado e sobretudo para ser MEDITADO. Porque evoluir segundo o método maçónico não se resume a comparecer a sessões, a executar rituais de forma acrítica, displicente ou mecânica. É necessário compreender o ritual, determinar porque se faz assim e não de outra forma, a razão e o objetivo de cada ato, de cada palavra ou expressão. Porque é dessa compreensão que nascem as condições para a mudança em nós. E a cada mudança, a cada evolução, mais se descobre, mais se compreende. 

O ritual é fonte de Luz, da Luz que todo o maçom (todo o humano?) busca. Mas não se espere que essa Luz nos apareça escancaradamente defronte de nós. Caramba, convém instalar e ligar ao fornecimento o quadro de eletricidade, instalar os cabos pela casa, colocar a lâmpada e ligar o interruptor! Afinal de contas o ritual é uma caixa de ferramentas, não é uma varinha mágica!

Rui Bandeira

11 julho 2016

Pavimento Mosaico (republicação)

Hoje venho fazer a republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira e que versa sobre o Pavimento Mosaico, uma das componentes mais importantes de um Templo Maçónico.
Para além do texto poder ser consultado no seu original farei a sua republicação nas linhas abaixo...

"Pavimento Mosaico

Em todas as Lojas maçónicas regulares está presente, em todo ou em parte do solo da sala onde ocorrem as sessões de Loja, um pavimento mosaico, constituído por um conjunto de quadrados brancos e negros, colocados alternadamente entre si. 

O símbolo remete claramente para a dualidade - mas também para a harmonia entre os opostos. Cada quadrado de uma das cores está rodeado de quadrados da outra cor. É assim frequente referir-se ao recém-iniciado que o pavimento mosaico representa a sucessão entre os dias e as noites, o bem e o mal, o sono e a vigília, o prazer e a dor, a luz e a obscuridade, a virtude e o vício, o êxito e o fracasso, etc.. Mas também a matéria e o espírito como componentes do Homem. Ou, simplesmente, recordar que, como resulta da lapidar equação de Einstein, a matéria é composta por massa, mas também por energia.

O dualismo provém de antigas tradições humanas. A civilização suméria dotava os seus templos de piso em pavimento mosaico, que só podia ser pisado pelo sacerdote no mais alto grau da hierarquia e só em dias de eventos importantes. Convencionou-se que o Santo dos Santos do Templo de Salomão teria um pavimento mosaico. 

A filosofia pitagórica postulava que o UM se transformava em DOIS refletindo-se a si próprio e separando-se, original e reflexo, sendo assim o UM o princípio criador estático e o representando o DOIS a dinâmica da Criação. A interação entre o UM e o DOIS gerou o TRÊS, a Criação. Esta resultou, assim, da interação entre o estático e o dinâmico. 

De onde resulta que a dualidade é fecunda, que é necessária a presença da dualidade para haver criação. Mas resulta ainda mais do que isso: não basta que exista dualidade, tem que haver interação entre os opostos para que a criação aconteça. Não bastam dois opostos estáticos; é necessário que esses dois opostos sejam dinâmicos e interajam entre si. Não basta, assim, a dualidade, é necessária a polaridade.

O pavimento mosaico recorda-nos assim que a vida é feita de contrastes, de forças opostas que se influenciam entre si, e que é através dessa influência mútua que ocorre a mudança, o avanço, a evolução. No fundo, a antiga asserção de que toda a evolução se processa através do confronto entre a tese a a antítese, daí resultando uma síntese, que passa a constituir uma nova tese, que se defrontará com outra antítese até se realizar uma nova síntese, que é um novo recomeço, assim e assim sucessivamente numa perpétua evolução...

Assim sendo, o que tomamos por mal, por desagradável, o que procuramos evitar, sendo-o assim, não deixa, porém, de ser necessário - pois é do confronto desse mal com o bem, do que queremos evitar com o que gostaríamos de conservar, daquilo que nos desagrada com aquilo que nos conforta, que resulta avanço, mudança, tendencialmente progresso (tendencialmente, porque nada se deve tomar como garantido: por vezes, a mudança mostra-se retrocesso...).

Nesse sentido, o bem, por si só é estático e estéril. O bem só evolui em confronto com o mal. É desse confronto entre ambos que resulta algo, é esse confronto bipolar que é fecundo. Aliás, em bom rigor, só podemos definir o bem em confronto com o mal, tal como necessitamos da sombra para bem apreender o que é a luz... Se Adão permanecesse no Paraíso, ainda hoje Adão seria Adão e nada mais do que Adão, feliz com sua nudez, mas inapelavelmente boçal. Foi o mal da expulsão do Paraíso que obrigou Adão a deixar de ser mera criatura e passar a ser homem; ou seja, a Humanidade só evolui porque sempre necessitou de se confrontar com o perigo, com a fome, com a necessidade, em suma, com o mal, e teve de superar todos os sucessivos obstáculos para atingir sucessivos patamares de bem, de satisfação, sempre confrontada com novos perigos, obrigando a novas superações. É ao superar os sucessivos obstáculos com que se depara que o Homem se supera a si mesmo.

O Pavimento Mosaico não é um espaço estático. É um caminho, com luzes e sombras, com espaços agradáveis e veredas desagradáveis, com seguranças e perigos. Ficar num quadrado branco e dele não sair não leva a lado nenhum... É necessário enfrentar a dualidade com que nos deparamos, suportar a polaridade inerente a tudo o que nos rodeia e, afinal, inerente a nós próprios e... fazer-nos à vida! Se tomarmos mais opções certas do que erradas, teremos mais sínteses brancas do que negras e desbravaremos um caminho de avanço. Se ou quando (porque é quase que inevitável que esse quando, muito ou pouco, cedo ou tarde, sempre apareça...) enveredamos por opções erradas, acabamos por cair em sombria síntese e deparar com retrocesso e não com o desejado progresso. Mas ainda assim, a solução não é ficar onde se foi parar, com receio de novo retrocesso: é prosseguir com nova síntese, efetuar nova opção, desejavelmente que se revele boa, para melhor sorte nos caber. E assim, em perpétuo movimento, em contínua progressão de inesgotáveis sínteses, o homem avança desde a sua tese inicial até à sua derradeira síntese... que, do outro lado da cortina descobrirá que não foi um fim, mas apenas um novo recomeço, uma nova tese para, noutro plano, se confrontar com fecunda antítese...  

Um simples pavimento mosaico serve de ponto de partida para a mais profunda especulação. Basta atentar e meditar e estudar e trabalhar dentro de si mesmo, juntando a intuição à razão (outra dualidade; ou melhor, polaridade, de fecunda potencialidade...). O Pavimento Mosaico, se atentarmos na sua perspetiva dinâmica, recorda sempre ao maçom  que o principal do seu trabalho não se efetua na Loja, na execução do ritual, na realização de tarefas de Oficial, na discussão de pontos de vista. O principal do seu trabalho faz-se no confronto de si consigo próprio, no uso frequente e equilibrado das duas grandes ferramentas de que dispõe  naturalmente, a sua Razão e a sua Intuição, para trilhar sozinho os seus caminhos (e descobrir que, afinal, encontra frequentemente outros nos cruzamentos a que vai chegando). Por isso, o maçom deve reservar sempre uma parte do seu dia para efetuar a mais fecunda atividade que pode efetuar: pensar, meditar, especular. Tem as ferramentas. Só precisa de as usar. Dia a dia. E quanto mais as usar e quanto mais frequentemente as usar, mais fácil é esse uso, mais gratificante é o seu trabalho. Também dentro de cada um de nós há um pavimento mosaico, disponível para o percorrermos e nele ir tão longe quanto cada um quiser e puder!

Rui Bandeira"

04 julho 2016

A identidade da Loja


Cada Loja maçónica adquire ao longo do tempo uma identidade própria, que a distingue, sem dificuldades, das restantes. Essa identidade começa a construir-se pelas circunstâncias do seu aparecimento (Loja essencialmente com obreiros oriundos de outra Loja: decisão consensual ou conflitual?; Loja de caráter genérico ou Loja criada com um objetivo específico? Loja criada a partir de um grupo coeso que se expandirá normalmente ou Loja de implantação numa zona, cujos fundadores a virão a abandonar quando estiver implantada e firme?), prossegue com a forma como se relacionam os seus elementos (relações de amizade ou cordiais ou existência de tensões que vão sendo dirimidas e aplainadas?) e com a forma como é gerida a Loja e efetuadas as escolhas que tiverem de ser tomadas (Loja habitualmente coesa ou Loja com grupos estabelecidos que se vão confrontando e sucedendo nas tomadas de decisão)?

A forma como a Loja adquire e molda a sua identidade determina a sua maior ou menor aproximação ao arquétipo modelar de uma Loja maçónica: espaço de harmonia, de tolerância, de cooperação, de mútuo auxílio e propiciatório do crescimento e aperfeiçoamento individual de todos e cada um dos seus obreiros. Não tenhamos ilusões: não há Lojas maçónicas perfeitas, tal como não há maçons perfeitos (se o fossem, não precisavam de se aperfeiçoar, logo não eram maçons...). Mas cabe a cada maçom e a cada conjunto de obreiros agrupado numa Loja permanentemente trabalhar para que a sua Loja se aproxime o mais possível do desejado arquétipo.

Vários caminhos, várias formas, vários estilos podem ser e são utilizados nessa busca. Não há fórmulas mágicas nem pretensas unicidades. Cada Loja, em função da sua circunstância, vai adquirindo a sua identidade, estabelecendo a sua forma de trabalhar, o seu estilo de se gerir, a abordagem que mais lhe convém para melhorar e tornar melhores os seus obreiros. É isso que eu designo por identidade de cada Loja. 

Essa identidade vai-se estabelecendo naturalmente, no bom, no assim-assim e no menos bom que ocorrer e gradualmente a Loja vai ganhando caraterísticas próprias, facilmente adotadas pelos seus obreiros e identificadas pelos seus visitantes. 

Questão essencial para o estabelecimento da identidade de uma Loja é a da escolha da sua liderança. A identidade da Loja Mestre Affonso Domingues assenta, quanto à escolha da sua liderança, em três vetores que lhe são essenciais:

1) Não há nela luta ou querela quanto à questão da sua liderança: ressalvada a ocorrência de (sempre possível) qualquer imponderável que o impeça, o Primeiro Vigilante de um ano é o Venerável Mestre do ano seguinte, e ponto final parágrafo! Todos os anos a eleição do Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues é uma mera formalidade, escrupulosamente cumprida nos termos regulamentares! (Quem quiser  saber ou recordar a origem deste princípio identitário da Loja, procure e leia neste blogue o texto A eleição do Terceiro Venerável Mestre).

Com este princípio identitário não se perde tempo em lutas estéreis, não se formam artificialmente grupos, não se estabelecem quezílias. Acordos e desacordos estabelecem-se e discutem-se em relação a opções a tomar, a tarefas a realizar, a projetos a desenvolver. Isso, sim, debate-se o tempo que for preciso até se nos tornar evidente qual o melhor (às vezes, qual o menos mau...) caminho a seguir. Porque não perdemos tempo em questiúnculas de (ilusório!) poder, podemos mais utilmente gastá-lo a debater o que vamos e como vamos fazer.

2) Cada Venerável Mestre é eleito para exercer um ano de mandato e depois dá lugar a outro.

O Regulamento Interno da Loja prevê a possibilidade uma (única) reeleição para um segundo mandato, por maioria qualificada. Mas esta é uma possibilidade ali colocada apenas em face da eventualidade de sobrevir um "dia de chuva" tal que nos obrigue a recorrer ao guarda-chuva de uma excecional reeleição. O exercício do ofício de Venerável Mestre por um ano e basta tem duas evidentes vantagens: todos os obreiros interessados e intervenientes na Loja exercem, a seu tempo, o ofício de Venerável Mestre; não se sacrifica demasiado ninguém, pois, como todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sabem, exercer este ofício permite ao seu titular duas alegrias: a primeira quando é instalado para exercer o ofício, a segunda quando (finalmente, ao fim de um loooongo ano...) vê instalado o seu sucessor e é aliviado da responsabilidade de dirigir a Loja.

3) O Segundo Vigilante de um ano é o Primeiro Vigilante do ano seguinte.

Este princípio identitário é crucial, pois impede que se criem cliques de direção da Loja, impedindo o Venerável Mestre recém-eleito de ser ele a escolher o seu sucessor. Com efeito, o Primeiro Vigilante é (ver princípio identitário 1) o sucessor natural do Venerável Mestre e, consequentemente, não deve ser por ele escolhido, ao contrário da esmagadora maioria dos demais Oficiais da Loja - as exceções são o Tesoureiro (eleito) e o Guarda Interno (que, salvo os inevitáveis imponderáveis é o Ex-Venerável do ano anterior). O Venerável Mestre, na Loja Mestre Affonso Domingues tem o dever de designar para Primeiro Vigilante o Segundo Vigilante do ano anterior, que foi escolhido para essa função pelo seu antecessor, com a expectativa do próprio, do Venerável Mestre que o nomeou e de toda a Loja, de ser no ano seguinte Primeiro Vigilante e , no subsequente, Venerável Mestre. Assim não proceder, para além de ser uma condenável forma de se arrogar o direito de escolher o seu sucessor, seria uma tremenda falta de respeito pelo seu antecessor, uma forma de lhe dizer meu caro, foste um palerma, fizeste uma má escolha para Segundo Vigilante, eu é que vou ser o Cavaleiro Branco que vai emendar o teu erro e escolher o homem certo para o lugar certo... O incumprimento deste princípio identitário da Loja abriria uma Caixa de Pandora de consequências imprevisíveis, correndo-se o risco de deitar a perder tudo o que a Loja foi e construiu ao longo de mais de um quarto de século: uma vez que alguém se arrogue o direito de escolher o seu sucessor (exceto quando o Segundo Vigilante, por qualquer razão, renuncie a exercer o ofício de Primeiro Vigilante - sucedeu recentemente e o problema resolveu-se aberta e consensualmente), cai pela base a confiança no princípio de que o Primeiro Vigilante de um ano é o Venerável Mestre do ano seguinte e cai-se, para o futuro, na pura e dura pugna eleitoral. A partir daí, a Loja não seria mais a mesma, teria perdido a sua identidade, deixava de ter a questão da escolha do seu líder como uma pacífica e natural sucessão de obreiros, passava a ter anualmente de resolver o problema de dirimir disputas eleitorais entre obreiros. A partir de então, a Loja poderia conservar a designação de Loja Mestre Affonso Domingues, mas não seria mais a Loja Mestre Affonso Domingues, seria uma mera caricatura dela!

A Loja Mestre Affonso Domingues é o que é porque, pura e simplesmente, nunca admitiu que no seu seio a questão da escolha da sua liderança fosse um problema ou sequer um fator de temporária desestabilização. Ao longo de mais de vinte e cinco anos, nunca tivemos uma disputa eleitoral, nunca tivemos de apanhar os cacos decorrentes de uma luta dessa natureza. Conseguimos e soubemos identificar, estabelecer e aplicar as condições necessárias e suficientes para tal, os três princípios identitários que atrás enunciei. O preço de abandonar qualquer deles seria muito elevado, seria a senda para mudar a Loja Mestre Affonso Domingues que construímos, de que gostamos e em que nos sentimos bem noutra coisa qualquer. Tão simples como isso!   

Estou há longos anos na Loja, há já um tempo significativo que vou escrevendo neste blogue, procuro deixar nele registada a Memória da Loja, conhecimento do passado que serve de lição, guia e inspiração para o futuro. Mas nada na vida é eterno nem definitivo - um dia, não sei quando, necessariamente que deixarei de escrever aqui, inevitavelmente deixarei de estar na Loja. Por isso me apeteceu hoje deixar esta mensagem, este testemunho, para ilustração presente e para memória futura.

Talvez este seja porventura o texto mais importante para a Loja Mestre Affonso Domingues que publiquei neste blogue!

Rui Bandeira

27 junho 2016

Eleição do Muito Respeitável Grão-Mestre para o triénio 2016/2018...


Foi eleito para desempenhar o cargo máximo na estrutura da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, o candidato e anterior Muito Respeitável Grão-Mestre que se encontrava em funções, o Querido e Muito Respeitável Irmão Júlio Meirinhos, dando acento assim a um processo de continuidade na Obediência; algo que o mesmo vinha desenvolvendo até então e que apartir de agora poderá dar seguimento às suas propostas para este novo mandato e continuar a executar as que já vinha desenvolvendo de forma oportuna.

Neste momento, a Grande Loja terá como meta principal consolidar a sua presença no país e na Maçonaria Regular internacional, seja através do "levantamento de colunas" de novas Lojas bem como do aumento de Templos disponíveis para o trabalho das mesmas, para além do seu labor constante na "relações públicas" com as demais Potências Maçónicas Regulares. Não esquecendo que a breve trecho se irão celebrar os 300 anos de Maçonaria (Especulativa, fundada em 1717) e que Portugal terá um papel primordial na organização destas celebrações.
Mas para já, o mote será prosseguir e concluir alguns do projetos internos que finalmente virão a "luz", ao fim de algum tempo de delineamento.

A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, estará, como sempre esteve, à Ordem e às ordens do Muito Respeitável Grão-Mestre, e faz votos para que este novo mandato seja frutuoso e de um vigor tal, que contribua também ele para auxiliar a mudar a percepção e a imagem que a sociedade tem da Maçonaria nacional.
Se pelo menos este último ponto que sugeri se alterasse um pouco, tal seria estupendo, pois e apesar de lés-a-lés virem a público notícias sobre atitudes ou comportamentos "menos maçónicos" (e nem sempre verdadeiros !) de obreiros de alguma Obediência e que geralmente são resolvidos internamente, uma coisa deveria ter a sociedade a noção, é que não se "deve condenar uma árvore por um fruto podre nos seus ramos", esse é um dos erros crassos que existem e que com a ajuda dos maçons se poderia mudar, e muito... 
Por isso, com um Muito Respeitável Grão-Mestre que entre outras coisas, elucide tanto internamente como profanamente o que é e do que (se) trata a Maçonaria, as "coisas" iriam decorrer de uma forma tão mais fácil, quase justa e perfeita...

Terminando, aos dois candidatos e suas equipas, envio o meu triplo abraço fraterno, e ao "eleito" digo que estou à Ordem. 

E agora vamos a trabalhar...

20 junho 2016

Maçonaria e intervenção na Sociedade


Da predisposição de ambas as correntes relativamente ao papel mais ou menos ativo, mais ou menos institucionalmente interventivo, da Maçonaria na Sociedade decorrem assinaláveis diferenças na intervenção política.

A Maçonaria Regular não busca ter qualquer intervenção política em termos institucionais. Porque intervenção política implica confronto de ideias, entende que é normal que nas suas fileiras existam defensores das várias ideias em confronto e não se arroga o direito de se pronunciar institucionalmente a favor de uns dos seus obreiros e contra o entendimento de outros dos seus obreiros. A Maçonaria Regular é assim politicamente neutra. Cada um dos seus obreiros defende, dentro dos limites dos Valores essenciais da Maçonaria (hoje, felizmente, consensuais no mundo desenvolvido), as posições políticas que bem entende. Para a Maçonaria Regular, é possível e normal que dois políticos se digladiem na defesa de posições políticas divergentes, sendo ambos maçons - e quiçá integrando até a mesma Loja! O objetivo da Maçonaria Regular é sempre o mesmo: aperfeiçoar os seus obreiros, desejando que estes contribuam para o aperfeiçoamento da Sociedade. Quando os seus obreiros são políticos, apenas pretende que sejam cada vez melhores políticos, que, defendendo as suas ideias, o façam com Dignidade, com Elevação, com Honestidade, com Sentido de Dever e de Serviço Público. 

A Maçonaria Liberal, na medida em que pratique uma intervenção política, defendendo uma posição política, tenderá a juntar elementos de pensamentos tendencialmente compatíveis entre si e com a corrente de pensamento prosseguida pela Obediência. Será tendencialmente mais eficaz na defesa dos Valores da Instituição. Também se "amarra" às consequências dos eventuais reveses que a posição política que ativamente prossiga venha a sofrer. Nesse sentido, convém não esquecer a identificação histórica da Maçonaria com a I República e as consequências sofridas quando esta caiu...

Entendo que é estulto pretender afirmar-se, em absoluto, a superioridade de uma corrente sobre a outra. Cada uma das correntes tem a sua orientação e a sua prática, que será certamente a melhor para quem concorda e se sente confortável com elas. Entendo que, também nesta questão, devem os maçons atender e praticar a Virtude que consideram seu apanágio, a Tolerância. Cada um deve aceitar a posição do outro, ainda que (sobretudo quando) diversa da sua. O Outro tem tanto direito às suas convicções como nós. Devemos aceitar sem rebuço ou hesitação as convicções dos demais, tal como temos o direito de exigir que as nossas convicções sejam respeitadas pelos demais.

Em matéria de intevenção da Maçonaria na Sociedade, a questão não deverá ser nunca quem está certo e quem está errado quanto à intervenção política. Cada um, cada corrente, atua segundo a sua tradição. a sua evolução histórica, a sua forma de pensar. Em matéria de intervenção da Maçonaria na Sociedade, o mais produtivo é determinar o que cada um pode contribuir para a Sociedade, em prol desta.

E muito há para fazer e é possível fazer, em diversos campos de intervenção: na educação ambiental como na educação para a saúde, na promoção da igualdade de género, como na integração dos que, a qualquer título ou por qualquer condição sejam diferentes, na cooperação com as entidades que prestam auxílio e solidariedade a quem necessita como na promoção do desenvolvimento justo, sustentado e integrador, na atenção aos mais novos como na consideração e apoio aos mais idosos, na promoção da formação como no apoio e fruição das artes. Em pequenas organizações ou ações locais levadas a cabo pelas Lojas ou em mais amplos objetivos coordenados pelas Grandes Lojas ou Grandes Orientes.

Reduzir a intervenção da Maçonaria na Sociedade à política é, no meu entender, pensar muito pequeno, muito pouco e muito limitado, Há todo um conjunto de temas e necessidades e atividades e intervenções em que os maçons podem dar o seu contributo. E porventura ajudar a alterar e melhorar a nossa Sociedade muito mais e muito mais proficuamente do que imiscuindo-se na política.

Atenção, não me interpretem mal! Tenho todo o respeito por todos aqueles que se dedicam à defesa da causa pública. Não alinho nas algazarras de denegrimento dos políticos. A Política é uma atividade nobre, que é imensamente útil à Sociedade, desde que exercida com motivações e comportamentos nobres.  Nesse sentido, tenho todo o respeito por todos os políticos que se comportam como bons maçons (sejam-no ou não). O que eu não quero é ver maçons a terem comportamentos de (certos) políticos...

Rui Bandeira

13 junho 2016

" A Trolha" (republicação)

Hoje faço a republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira que aborda uma das "ferramentas" que considero como das mais importantes a serem usadas pelo maçom: a Trolha.
Aliás, o Rui muito bem que explana na sua opinião alguma da simbólica associada a este tão importante utensílio. Opinião essa que pode ser consultada no seu original aqui e inclusive mais abaixo neste mesmo post.
Depois de o lerem ou até mesmo de o relerem, poderão então perceber porque eu a considero de tal importância...
Por isso apenas irei dizer em jeito de conclusão ao meu raciocínio e até mesmo de introdução ao texto: "Porque  não pomos de lado o nosso orgulho, vícios e paixões e não passamos nós a trolha onde a mesma é necessária?!"

  "A Trolha
A Maçonaria utiliza os artefatos e ferramentas ligados à atividade da construção como símbolos ilustrativos dos ensinamentos que procura transmitir e preservar. É o caso, por exemplo, da trolha.

A trolha, ou colher de pedreiro, é uma ferramenta do ofício da construção utilizada para separar, transportar, projetar ou colocar argamassa, massa ou cimento nas superfícies, paredes ou muros, de uma construção. Serve também para alisar a massa, argamassa ou cimento colocada, por exemplo, numa placa ou na união entre pedras ou tijolos de uma parede ou muro.

Tendo em conta estas utilidades para o ofício da construção, a Maçonaria Especulativa adapta o conceito para simbolizar virtudes ou comportamentos que devem ser adotados pelos maçons e naturais numa Loja maçónica.

Tal como a ferramenta operativa alisa as superfícies, assim também o maçom deve utilizar a trolha da concórdia, da conciliação, para alisar, regularizar, aplainar diferenças ou conflitos entre Irmãos. 

A Fraternidade não é necessariamente um oásis de paz e ausência de conflitos. Tal como os irmãos biológicos, embora mantendo entre si laços fortes de solidariedade e amor fraternal, não obstante têm frequentes desacordos, querelas, conflitos, que aprendem a regular sem pôr em causa a sua relação fraternal, também os Irmãos maçons estão sujeitos á erupção de conflitos e desacordos entre si, que devem regular preservando as suas fraternais relações.

Devem, por isso, sempre ter ao alcance de sua consciência a trolha da conciliação, da boa-vontade, do saber olhar pelo ponto de vista do outro, para alisar as diferenças, conciliar os interesses ou propósitos divergentes.

A trolha simboliza ainda a benevolência, a tolerância, a indulgência, perante as asperezas, os defeitos alheios, espalhando sobre eles a massa do perdão, do esquecimento de injúrias ou agravos, em prol da harmonia da construção. 

O maçom não se deve também esquecer nunca que, tal como se vê na necessidade de utilizar a trolha para alisar as asperezas que vê em outros, também os demais utilizam idêntico instrumento simbólico em relação às suas próprias imperfeições. A tolerância, a fraternidade, funcionam em sentido duplo. Ninguém tem o direito de reclamar para si o perdão ou a complacência em relação aos seus erros sem ele próprio ter idêntica atitude em relação aos demais.

Manejar a trolha simbólica não é fácil. Exige treino, exige habituação, exige bom-senso. Só progressivamente aquele que entra na Maçonaria se habitua a manejar esta ferramenta simbólica. Enquanto as ferramentas por excelência do Aprendiz são o maço e o cinzel, com que desbastam a sua pedra bruta, corrigindo-se das maiores asperezas e dando-se forma adequada para colocação útil no Grande Templo da Harmonia Universal, e que as ferramentas do Companheiro são essencialmente o prumo, o nível e o esquadro, com que colocam a pedra já aparelhada no sítio certo e útil, o Mestre Maçom tem como instrumentos essenciais a Prancha de Traçar, onde traça os planos da construção de si mesmo e do seu comportamento e - precisamente - a trolha, com que espalha o cimento da harmonia, que une definitivamente todos os materiais da sua construção de si. 

Rui Bandeira"

06 junho 2016

O trabalho fora de Loja: Segundo Vigilante


Ao Segundo Vigilante de uma Loja maçónica compete, além do exercício das funções rituais, a coadjuvação do Venerável Mestre na administração da Loja, em conjunto com o Primeiro Vigilante, e, sobretudo, a superintendência no trabalho e na formação dos Aprendizes.

Quanto ao seu papel na administração da Loja, se nele falhar ou executar deficientemente, tal implicará uma sobrecarga do Venerável Mestre (que terá de suprir a falta ou a deficiência no auxílio) e, sobretudo uma quebra ou uma deficiência na planificação e execução de longo prazo da atividade da Loja. Não é por acaso que, pese embora a Loja delegue a responsabilidade e o poder de decisão no Venerável Mestre, se refira que a administração do grupo recai sobre as "Luzes da Loja", ou seja, no conjunto composto pelo Venerável Mestre e os dois Vigilantes. Porque tendencial - e desejavelmente - estes três Oficiais da Loja cumprem uma linha de sucessão na direção da mesma, a boa cooperação entre esta tríade, independentemente das alterações concretas dos elementos que nela se integram, permite um desenvolvimento harmonioso, a longo prazo, do trabalho da Loja. O Segundo Vigilante tem dois anos para se preparar para o exercício do ofício de Venerável Mestre. O Venerável Mestre pode iniciar ou prosseguir projetos de longo prazo, com o conhecimento e a participação dos seus Vigilantes, sabendo que eles estarão aptos a dar continuidade aos projetos e a inserir neles, se necessário, as modificações que se mostrem aconselháveis.

Mas o principal objetivo, a principal tarefa, do Segundo Vigilante é assegurar o acolhimento, a integração e a preparação dos Aprendizes. E essa tarefa, para ser bem executada, não pode ser deixada apenas para os dias de sessão. O Segundo Vigilante tem de ter disponibilidade, interesse e organização para acompanhar individualmente cada Aprendiz.

Quando é iniciado numa Loja maçónica, o novel Aprendiz, por regra, entra num grupo em que conhece muito poucos elementos (por vezes só um ou dois), com regras estabelecidas que inicialmente desconhece e cujo conhecimento tem de adquirir em simultâneo com o seu cumprimento, e com uma ligação forte entre os seus elementos. Sente-se um estranho, um peixe recém-entrado num aquário já bem povoado... Para que a sua integração no grupo ocorra rápida, fácil e harmoniosamente, é importante o apoio do Segundo Vigilante. É este quem deve dar as primeiras indicações, os primeiros esclarecimentos, ao novo elemento, quem deve zelar pela rápida e tranquilizadora integração do novo "peixe" na segurança do "cardume" dos Aprendizes, com ele e nele tomando conhecimento dos "meandros do aquário".

Paralelamente à integração dos novos elementos, compete ao Segundo Vigilante coordenar a sua formação. Afinal de contas, Aprendiz é para aprender... Esta tarefa é complexa a vários títulos. Desde logo, porque naturalmente haverá Aprendizes em vários estádios de integração e formação, havendo que corresponder às necessidades de cada um de forma individualizada. As necessidades de integração e de auxílio na formação de um Aprendiz recém-iniciado são, naturalmente, diversas de um outro que já leva alguns meses de integração ou de um terceiro que tem já a sua primeira fase de preparação quase terminada e que ultima a elaboração e apresentação da sua prancha de proficiência ou que, apresentada esta, aguarda a oportunidade para o seu aumento de salário.

Mas também há que ter noção que coordenar a formação de um grupo de Aprendizes maçons não tem rigorosamente nada a ver com lecionar uma turma de jovens estudantes. Os Aprendizes maçons serão Aprendizes, mas são homens ativos, alguns homens maduros, em pleno auge das suas carreiras profissionais ou já na fase mais avançada dela, com famílias constituídas, responsabilidades que asseguram, filhos que educam e guiam. São Aprendizes, mas não são - longe disso! - meninos! O tempo em que aprendiam ouvindo as preleções do "sôtor" já é para eles passado, para alguns já longínquo. 

O Segundo Vigilante tem de coordenar a formação do conjunto de Aprendizes, normalmente heterogéneo, em termos de idade, de experiências de vida, de formações académicas, profissionais e culturais e em diferentes estádios de desenvolvimento na aprendizagem da Arte Real. Mas, com todas estas diferenças, são, Aprendizes e Vigilante, essencialmente IGUAIS. Não há qualquer relação de superioridade, nem intelectual, nem académica, nem de responsabilidade. A única coisa que diferencia o Vigilante dos seus Aprendizes é tão só a experiência em Maçonaria que aquele adquiriu e que tem a obrigação de ajudar a que estes adquiram.

A tarefa de coordenar a formação dos Aprendizes não é, pois, fácil. Cada Vigilante terá de a desempenhar por si, em função das suas circunstâncias, das suas disponibilidades, das suas capacidades, das caraterísticas do grupo e dos indivíduos que lhe cabe coordenar. 

Não há, assim, um modelo único de formação que se possa aconselhar. Nem sequer um único método a seguir. No entanto, pode-se sugerir um plano e um método de formação que - sempre sujeito e aberto às adaptações e alterações que cada Vigilante entender necessárias e justificadas - se entende adequado para atender às diferenças do grupo de Aprendizes e apto a captar e manter o interesse de gente por vezes já altamente formada e especializada nos respetivos campos profissionais e que, assim, não está propriamente na disposição de regredir aos seus tempos de polidores dos bancos da escola.

Sugiro que, no início das suas funções, no dealbar do ano maçónico, o Segundo Vigilante selecione até sete temas, não mais, que constituirão a base da formação de Aprendizes nesse ano. Uma hipótese (entre muitas e variadas) pode ser, por exemplo:

1) HISTÓRIA DA MAÇONARIA
2) SÍMBOLOS DO GRAU
3) VALORES MAÇÓNICOS
4) RITUAL DE INICIAÇÃO
5) O MAÇOM PERANTE O CRIADOR
6) O MAÇOM PERANTE SI PRÓPRIO
79 O MAÇOM PERANTE A SOCIEDADE

Repare-se que cada um destes temas é suficientemente amplo e aberto para ser abordado, tratado, desenvolvido, de uma miríade de diferentes maneiras. É esse o objetivo! Não se vai ensinar nada a ninguém, muito menos um pensamento único ou uma visão "correta". Como homens livres e de bons costumes que são, com a maturidade que lhes foi reconhecida como apta a integrar a Loja, os Aprendizes não precisam de ser ensinados, de receber lições. Apreciarão, pelo contrário, enquadramento e meios para que cada um aprenda o que quiser, pelo ângulo que entender, com a perspetiva que achar melhor.

A cada tema corresponderá um ciclo de trabalho de duas sessões e um desenvolvimento.

Para a primeira sessão de cada ciclo, o SEGUNDO VIGILANTE deve ter identificada e preparada (desejavelmente em ficheiros informáticos para serem disponibilizados aos Aprendizes) bibliografia sobre o tema, nos vários aspetos e abrangências dele, tão variada quanto possível - cinco a dez obras ou trabalhos.

Na primeira sessão do ciclo, o Segundo Vigilante deve introduzir o tema, designadamente chamando a atenção para os aspetos mais importantes nele, os subtemas ou questões que acha que serão importantes que os Aprendizes sobre eles debrucem a sua atenção. Deve indicar a bibliografia, de preferência chamando a atenção para diferentes formas de tratar o tema ou os diferentes aspetos abrangidos pelos trabalhos disponibilizados. Deve designar um LÍDER DE DISCUSSÃO para a sessão seguinte sobre o tema. De preferência, os líderes de discussão devem ser designados por ordem de antiguidade dos Aprendizes. O LÍDER DE DISCUSSÃO fica com o encargo de preparar e dirigir a discussão sobre o tema na sessão de trabalho subsequente, escolhendo vários aspetos do tema a tratar para colocar em debate, competindo-lhe garantir que, na sessão seguinte, haja mesmo discussão, debate sobre o tema, sem tempos mortos. Finalmente, o Segundo Vigilante designa a data da sessão de trabalho subsequente, exorta os Aprendizes a prepará-la lendo a bibliografia fornecida e o mais que entenderem e acentua que a sessão subsequente consistirá num debate de todos sobre o tema, dirigido pelo LÍDER DE DISCUSSÃO, que só será proveitoso se todos e cada um, entre as duas sessões, lerem a bibliografia, aprenderem sobre o tema e se prepararem para, exopondo o que cada um aprendeu, ajudar à aprendizagem dos demais.

Na segunda sessão. processa-se a discussão do tema, sob a direção do LÍDER DE DISCUSSÃO. Esta será tanto mais proveitosa quanto melhor o LÍDER DE DISCUSSÃO e os demais Aprendizes se tiverem preparado entre as duas sessões. Se porventura ninguém se tiver preparado convenientemente, provavelmente a sessão será muito aborrecida, constrangedora e muito pouco proveitosa... Mas, pelo menos ensinará a todos que, em Maçonaria, não se ensina, aprende-se - e que a aprendizagem é um esforço individual de cada um, posto em comum com o grupo. Na discussão da segunda sessão, o Segundo Vigilante deve intervir o menos possível - apenas quando necessário para repor a conversa no tema, quando o grupo dele se afastar (as conversas são como as cerejas...).

Finalmente, após a segunda sessão, o LÍDER DE DISCUSSÃO fica encarregado de preparar e apresentar uma prancha sobre o tema - que poderá vir a ser a sua prancha de proficiência para aumento de salário.

Repete-se, ao longo do ano, este esquema, com os vários temas. Ao fim do ano, tem-se Aprendizes preparados, não por terem ouvido umas preleções, mas por se terem debruçado sobre vários temas, por si e para si e para todos. Tem-se trabalhos elaborados - e tendencialmente de boa qualidade, porque resultantes de discussão em grupo e elaborados por quem se preparou para dirigir essa discussão. Tem-se um conjunto de obreiros que criou naturalmente espírito de grupo. O Segundo Vigilante ainda tem o bónus de, no ano seguinte, ir ter, como Primeiro Vigilante, Companheiros que foram Aprendizes bem preparados e bem habituados a preparar-se.

Finalmente, este método permite que, com toda a naturalidade e sem custo, sem demasiado esforço nem dificuldade, os novos Aprendizes que sejam iniciados ao longo do ano se integrem no trabalho da Coluna de Aprendizes, No ano seguinte, o trabalho recomeça. com os mesmos ou outros temas, ou alguns destes e temas novos, consoante o entender o  Segundo Vigilante de então.

Não tenho dúvidas que uma Loja que siga consistentemente este método de formação de Aprendizes terá, mais cedo do que mais tarde, um escol,de obreiros da melhor qualidade, prosperará e cumprirá devidamente o seu papel de fazer, cada vez mais, de homens bons homens melhores!

Rui Bandeira    

30 maio 2016

“Reflexões Eleitorais”


A GLLP/GLRP encontra-se em época eleitoral para o cargo de Muito Respeitável Grão-Mestre, cargo desempenhado hoje em dia pelo Muito Respeitável Irmão Júlio Meirinhos e que terminará estas funções em Setembro próximo, por altura do Equinócio de Outono.

Findo que está o período de “campanha” de debate de ideias e projetos de ambos os candidatos ao cargo, entrámos agora no período eleitoral.
Deste modo não farei qualquer comentário a qualquer das candidaturas proponentes mas tão somente farei algumas reflexões sobre o momento atual que se vive na Obediência na qual está filiada a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues Nº5, Loja da qual fazem parte os autores deste blogue.

Em Maçonaria não existem candidaturas “melhores” nem “piores”, existem ideias e projetos em questão. Cada uma das candidaturas terá as suas qualidades e os seus “desméritos” face à sua competidora.

Em Maçonaria não se deve importar para o seu seio as “profanices” que são habituais noutros processos eleitorais no mundo profano! 
Na Maçonaria requer-se e deseja-se um debate elevado, tolerante e fraterno de ideias e propostas a serem honradas futuramente pelos candidatos que se propuseram ao cargo, caso sejam eleitos.

Em Maçonaria ninguém – mas mesmo ninguém! – se pode esquecer que se tratam de Irmãos que se candidatam ao cargo mais difícil que existe numa Obediência. E como tal, sendo Irmãos, não são certamente “uns quaisquer”… 
Logo, tal como numa família “normal”, apesar de ser possível nem sempre se concordar em tudo, temos de nos respeitar mutuamente, uma vez que estamos ligados por algo maior, e por isso teremos sempre de suplantar qualquer divergência que possa existir na fraternidade que diariamente vivenciamos.

Durante o período de “campanha” foi possível a quem se candidatou informar, debater, demonstrar os seus projetos; Agora é tempo de serem feitas as reflexões necessárias para a tomada de uma decisão não tão fácil de ter como possa ser suposto o ser.
-É a vida e o futuro da Obediência que está em causa e nada mais! –

O nosso voto deve recair sobre a pessoa que consideremos mais apta e cujo projeto nos parece ser mais consentâneo como as possibilidades de real execução e não em mirabolantes miragens que se possam apresentar a curto prazo. 
Temos de eleger o Irmão que consideremos que desempenhará o cargo com a diligência, disponibilidade e entrega necessária que tanto labor (a gestão de uma Potência Maçónica) obriga.

Somos cerca de 2500 maçons regulares e ultrapassada que está a marca de 100 Respeitáveis Lojas pertencentes à Obediência! Por isso, gerir, guiar, orientar, elucidar “isto tudo” é uma tarefa que considero hercúlea e nada fácil para quem agora o faz e principalmente para aqueles que agora se o propõem a o fazer. 
Quem pensar o contrário está completamente enganado!

O Grão-Mestre para além de um Irmão, terá de ser um “pai”, um “tio”, um “padrinho”, enfim, terá de ser o nosso “guia”, a nossa “Luz”. 
Aquele que nos apoiará, ensinará,representará, mas acima de tudo, que saiba nos colocar no nosso lugar!

Como já disse, não é uma tarefa fácil, e por vezes é mesmo ingrata em ser feita por não se compreenderem os motivos que levam a determinadas decisões, mas temos de as respeitar, por isso se diz que estamos numa “Obediência” apesar de sermos “livre-pensadores”.

Gerir pessoas nunca será fácil, pois gerir egos e comportamentos humanos nunca será fácil de o fazer, por isso o Grão-Mestre terá sempre de ser firme no seu pulso, sapiente nas suas decisões e ter alguma beleza nas suas ações; caso contrário será apenas mais um entre muitos e tal não pode suceder, ele é sempre o “Um”, o “Ele”, aquele a quem os holofotes estarão em permanência apontados, logo a sua conduta deverá  ser imaculada e de um primor tal que não possa envergonhar nunca aqueles que ele representa e dirige.
O cargo de Grão-Mestre implica uma humildade pessoal que tem de ostracizar qualquer sentido individualista e egocêntrico que possa subsistir na sua forma de estar e pensamento. 
- O “todo”(a Obediência) será sempre o mais importante!-
O nosso Reconhecimento e Regularidade terão de ser impreterivelmente sempre, uma das bitolas que o guiarão.

E concluindo, tal como fiz questão de salientar no início do texto, não abordei qualquer proposta de candidatura e nem fiz qualquer juízo de valor sobre nenhum dos atuais proponentes, mas isso não significa que não estive atento ao que foi traçado por qualquer uma das propostas para o futuro da Grande Loja.
No fim, ambos serão escrutinados e sufragados. Um será eleito para representar os demais, o outro fará o seu caminho nas “colunas”, desenvolvendo o seu trabalho maçónico tal como os restantes irmãos.
O importante é que será eleito um Irmão, um de “nós” e isso é que conta. O resto é pura conversa…