11 junho 2018
A Loja Mestre Affonso Domingues tem-se assumido como divulgadora, no espaço cibernético, do que é a Maçonaria, os seus princípios e Valores. Estando consciente de que os detratores da Maçonaria, ao longo de décadas e décadas, lograram difundir em muitos setores da sociedade a imagem da Maçonaria como entidade fechada, sigilosa, sociedade secreta, a Loja Mestre Affonso Domingues entende que a melhor forma de contrariar o preconceito assim criado é, serenamente, esclarecer, divulgar, disponibilizar para todos os interessados informação sobre a Maçonaria, a Loja maçónica, o maçom. É isso que, no espaço cibernético, a Loja Mestre Affonso Doimingues vem fazendo, utilizando dois meios: o seu sitio na Internet, acessível em www.rlmad.net, e este blogue A Patir Pedra.
O sítio na Internet tem, obviamente, um cariz mais institucional. É gerido por um Mestre da Loja, com a assistência de um outro, e procura-se aí publicar informação sobre a Loja e sobre a Grande Loja e trabalhos dos obreiros da Loja, para além de material mais leve (imagens de Arte maçónica, de aventais, templos e selos maçónicos, por exemplo). Os seus conteúdos são em primeira linha destinados aos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, embora, naturalmente, estejam acessíveis ao público em geral. Neste blogue A Partir Pedra publicam textos os Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues que entendam fazê-lo.
Quer o sítio na Internet, quer o blogue A Partir Pedra são abertos a qualquer interessado em consultá-los, estão acessíveis através de motores de busca, permitem download dos seus conteúdos, enfim, estão livremente disponíveis para todos os interessados, maçons ou não maçons. Mas são, óbvia e assumidamente, espaços da Loja Mestre Affonso Domingues e dos seus Mestres Maçons, onde se publicam conteúdos da Loja e dos seus obreiros.
Agora um dos nossos, o António Jorge, decidiu ir um pouco mais longe e criar um sítio na Internet, o Freemason, acessível em www.freemason.pt, totalmente dedicado aos temas Maçons e Maçonaria, especialmente dirigido ao público em geral, isto é, de divulgação pura. Com este projeto, pretende reunir toda a informação que for possível angariar sobre o tema, mantendo o máximo de rigor, independentemente da sua origem. Projeta-se assim como um espaço complementar ao sítio da Loja e ao blogue, aqueles contendo conteúdos elaborados por obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, este Freemason agrupando e divulgando os temas Maçons e Maçonaria através de conteúdos de qualquer origem, designadamente de maçons de outras Lojas ou de não maçons que, com rigor, tenham produzidos conteúdos sobre os temas objeto do sítio.
A imagem gráfica do Freemason é, ao menos por ora, muito semelhante ao aspeto gráfico do sítio na Internet da Loja Mestre Affonso Domingues. Alguns dos conteúdos são comuns ao sítio da Loja e ou ao blogue. Mas a ideia é que, gradualmente, a percentagem de conteúdos do Freemason originária de autores que não são obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues aumente paulatinamente. Este Freemason propõe-se ser um espaço de todos (e não apenas dos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues) sobre os temas Maçons e Maçonaria. Ambiciona vir a ser uma incontornável fonte de informação, séria e credível, sobre a Maçonaria e os Maçons.
O Freemason é um espaço sobre Maçonaria e Maçons de todos para todos. Quem quiser, que procure, que pesquise, que leia, que tire as suas conclusões. Para que os preconceituosos fiquem, cada vez mais, a falar sozinhos no deserto dos seus preconceitos!
Ao António Jorge quero deixar aqui um abraço de agradecimento pela sua dedicação ao projeto de divulgação e esclarecimento sobre a Maçonaria. Ao Freemason desejo longa e útil vida. A todos vós, auguro... boas leituras, agora também no Freemason!
Rui Bandeira
28 maio 2018
A eventual promiscuidade entre Maçonaria e poderes, sejam eles políticos, ou outros...
Qualquer sociedade dos tempos modernos é sujeita, de forma clara ou não, à influência de grupos organizados, que intencionalmente ou não procuram influenciar "a trajectória" em função dos seus interesses. Se um desses grupos puder ter um nome e esse nome for uns dos tradicionalmente identificados como "de risco", então está criada uma mistura delicada, até porque será certamente visada pela comunicação social.
Assumo que sou maçon... e faço-o com a duplicidade de quem se sente orgulhoso de o ser, e de quem sente que quer dar... unicamente dar, sem estar a pedir que lhe dêem. Infelizmente, a nossa sociedade parece não conseguir visualizar uma coisa sem a outra... possivelmente é a isto que chamam a sociedade materialista, traduzida naquela "famosa" frase - ninguém dá nada a ninguém.
Toda a polémica que ocorre periodicamente, relacionando políticos com maçons ou maçons com interesses obscuros e/ou ilegais, é um claro sinal dos tempos em que vivemos - perdemos valores, perdemos a nossa capacidade crítica, engolimos tudo os que nos impingem, mas preferimos centrar-nos em identificar culpados, de preferência "culpados de estimação" - aqueles que podem sempre ser os responsáveis, até porque estão tão ocupados em fazer bem, que não têm tempo para se defender.
… e nada vende mais jornais do que uma boa “conspiração” orquestrada por uma organização de quem se sabe quase tudo, mas de quem se ignora quase tudo. A Maçonaria é uma dessas organizações: somos discretos, não fazemos alarde do que fazemos de bem, toda a gente acredita que temos uns segredos, que não temos; em resumo – é para desconfiar…
Não pretendo afirmar que todos os maçons são "impolutos". Por mais apertado que seja o nosso método de selecção, procurando identificar homens cuja prioridade seja crescerem e tornarem-se Homens, haverá sempre alguns erros de "Casting"... pessoas que usam o que for preciso para seu benefício pessoal.
Contudo, esta incapacidade de ler as pessoas na sua totalidade, identificando as suas reais intenções, não deve e não pode levar a confundir o trigo com o joio. Um maçon, que o é de verdade, procura melhorar, ajudar, dar a mão... contribuir para um homem melhor e para uma sociedade melhor.
Compete-nos assegurar que assim é, e compete-nos impedir que a Arte Real seja utilizada para projectos individuais ou colectivos que nada tenham a ver connosco e com os ideais que defendemos.
Fraternais abraços de António Jorge
Publicado no website da RLMAD em 28.05.2018
Publicado por A. Jorge às 13:17 0 comments
Marcadores: maçonaria, promiscuidade, Sociedade
18 maio 2018
Aqui ficam mais alguns quadros da autoria da Pintora Larysa Kalinichenko, também eles com temática maçónica e também eles inspirados pela "sessão de demonstração" que referi no texto anterior sobre este tema:
Artigo publicado originalmente no Website da RLMAD
António Jorge
Nova evolução – Acrílico s/tela – 60×60 (2018) |
O segredo… – Acrílico s/tela – 60×46 (2018) |
Espreitando… do outro lado – Acrílico s/tela – 55×46 (2018) |
Artigo publicado originalmente no Website da RLMAD
António Jorge
Publicado por A. Jorge às 16:22 0 comments
14 maio 2018
A Pintora Larysa Kalinichenko
Por iniciativa do Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, I:. Rui Bandeira, realizou-se em Dezembro passado uma sessão "de demonstração" que se poderia ter chamado de "Maçonaria quase a descoberto", onde os familiares e convidados dos Irmãos da Loja puderam contactar não só com o Templo, mas também com toda a simbologia aí existente e ainda com partes do cerimonial.
Tratou-se de uma sessão onde quase tudo foi mostrado, onde foi possível fazer perguntas e obter respostas e que (de acordo com opiniões recolhidas) terá cumprido o seu duplo propósito:
Este quadro foi inspirado em toda a simbologia existente dentro do Templo e tem a característica de ser um díptico horizontal em que as duas partes podem rodar e constituir quatro versões diferentes do mesmo quadro:
Com o Título "Reflexão", a visita serviu também de inspiração para o seguinte quadro:
Á pintora a quem tenho a honra de poder tratar como Cunhada, fica o meu (nosso) emocionado Muito Obrigado por estes excelentes trabalhos. Mal podemos esperar por ver os próximos.
Artigo publicado originalmente no Website da RLMAD
António Jorge
Tratou-se de uma sessão onde quase tudo foi mostrado, onde foi possível fazer perguntas e obter respostas e que (de acordo com opiniões recolhidas) terá cumprido o seu duplo propósito:
- Aproximar os Irmãos e todos os que os envolvem - famílias e amigos.
- Desdramatizar a Maçonaria e as suas práticas.
Três Livros Sagrados |
Com o Título "Reflexão", a visita serviu também de inspiração para o seguinte quadro:
Reflexão |
Artigo publicado originalmente no Website da RLMAD
António Jorge
Publicado por A. Jorge às 22:08 0 comments
Marcadores: Larysa Kalinichenko, pintura, Templo
10 maio 2018
Publicado por A. Jorge às 10:13 0 comments
Marcadores: 300 anos, glui, grande loja unida de inglaterra, maçonaria, Selos maçónicos, UGLE, united grand lodge of england
07 maio 2018
Republicação: A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia
Foi há quase dois anos (em 9 de maio de 2016) que este texto foi pela primeira vez publicado no A Partir Pedra. Como, na GLLP/GLRP, estamos de novo em período eleitoral, com o inevitável cortejo de promessas de perfeição, juras de sublimidade, compromissos de primor, acho oportuna a sua republicação aqui e agora.
Aqui vai:
Mão amiga fez-me chegar o texto do pequeno conto que seguidamente publico. Este texto terá sido encontrado num pequeno e velho cofre que ganhava pó num sótão, dentro de um sobrescrito em cujo exterior estava rabiscado: PARA LER E DAR A LER EM PERÍODOS DE ESCOLHAS.
Aqui vai:
Mão amiga fez-me chegar o texto do pequeno conto que seguidamente publico. Este texto terá sido encontrado num pequeno e velho cofre que ganhava pó num sótão, dentro de um sobrescrito em cujo exterior estava rabiscado: PARA LER E DAR A LER EM PERÍODOS DE ESCOLHAS.
Na GLLP/ GLRP, entramos em período de eleição do Grão-Mestre para o próximo biénio. É a altura de ler e dar a ler este pequeno conto!
A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia
A Harmónica Utopia era um lugar - bem, não foi nunca um lugar porque na verdade não existiu... - onde tudo acontecia de forma ideal.
Todos eram amigos, não havia infracções, os meninos e meninas eram todos excelentes alunos, não havia pobreza (nem mesmo a de espirito – bem, desta talvez houvesse...), nem fome, nem opressão, nem …
Tamanha perfeição era também timbre dos maçons da Grande Loja da Harmónica Utopia. Todos tinham já burilado as suas asperezas e imperfeições. Mais um pouco, muito pouco, e seriam todos “Grandes Arquitetos do Universo”!
Esse pouco era mesmo só o prescindir da disciplina (não fazia falta), da Justiça (porque não havia infrações que não se solucionassem com um abraço e uma conversa), da gestão (os anjos podiam fazê-lo em outsourcing), e, como tudo era ideal, não era preciso pagar quotas.
Decidiu-se passar a assim proceder.
A partir de então, na Grande Loja da Harmónica Utopia, o Grão-Mestre não precisava de poder. Também para que precisaria disso, se os Irmãos eram todos tão cumpridores? Aliás, era sabido que o Grão-Mestre, quando deixasse o cargo, passaria a usar o titulo de Antigo Grande Arquiteto...
Um dia um homem malvado, talvez o único que ainda restasse, conseguiu disseminar a ideia que a Harmónica Utopia era isso mesmo, uma Utopia - e de repente o sonho acabou.
A Grande Loja da Harmónica Utopia também não resistiu e colapsou. O cobrador do fraque apareceu à porta, parece que queria receber. O Grão-Mestre ainda tentou uma conversa e um convencimento e uma solução harmoniosa, mas não foi suficiente! Então alguém com memória lembrou-se da “estória do grande alicate”.
Parece que no passado, quando ainda não se estava no máximo da Harmónica Utopia, o cobrador da electricidade veio cobrar umas contas atrasadas e que lhe contaram que era precisa a assinatura do Grande Tesoureiro e do Grande Secretário e do Grande ….. e que se ele fizesse o favor de passar na semana seguinte já haveria cheque. O homem lá fez isso e quando chegou, uma semana depois, lá lhe foi dito que já havia a assinatura do Grande e do outro Grande mas que o Grande estava no estrangeiro e que talvez na semana seguinte. O dito cobrador terá então retorquido: “não há qualquer problema, vou ali ao carro buscar o Grande Alicate e corto já a electricidade”.
E quando o Grão-Mestre quis saber como estavam a gestão e as contas e as listas de obreiros e os procedimentos, tudo estava entregue aos anjos do outsourcing e estes não tinham responsabilidade pois só trabalhavam com o que lhes era dado - e fazia dois anos que não lhes davam documentos (embora nunca o tivessem reportado e tivessem sempre recebido o seu cheque...).
E assim acabou a Harmónica Utopia e a sua Grande Loja.
Felizmente que esta fábula não passa de um sonho. Ou será pesadelo?
Como não gosto de me enfeitar com penas de pavão, garanto que este texto não é de minha autoria. Aliás, nem sequer tenho qualquer jeito para a ficção. Mas subscrevo-o na íntegra.
Prezo muito a Harmonia - mas não pode haver harmonia sem disciplina, sob pena de ocorrer rapidamente a degradação numa anárquica aparência de organização, em que os mais "fortes", ou os mais "espertos", ou os mais "próximos" mandam e põem e dispõem e os restantes... harmonizam!
Prezo muito a Tolerância. Mas Tolerância não implica não haver Justiça e não serem sancionadas as condutas que violem as obrigações assumidas e as normas vigentes. Até por uma questão de Igualdade entre todos: se uns quantos podem infringir diretamente as normas e - em nome de uma alegada "Harmonia" e de uma enviesada "Tolerância" - não verem punidas as suas condutas, por que razão os demais haveriam de cumprir as normas? Nesse caso, cada um faria o que entendesse, quando entendesse, pela forma que entendesse, segundo o seu livre alvedrio e ao arrepio das normas e das decisões de quem foi eleito para as tomar e alegremente se caminharia rumo à Grande Loja da Harmónica e Tolerante... Anarquia.
Invocar como argumentos eleitorais a prevalência da Harmonia sobre a Disciplina e da Tolerância sobre a Justiça não tem sentido. Afinal, uma Grande Loja é uma Obediência Maçónica - não uma Desobediência...
Cada um pensa por si e decide por si. Mas eu, quando vejo certas posições, lembro-me sempre de um excerto de uma velha canção de Lena d´Água (letra e música de Luís Pedro Fonseca):
Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira
P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Disse!
Rui Bandeira
Publicado por Rui Bandeira às 12:00 0 comments
Marcadores: Eleições, Harmonia, Justiça, tolerância
16 abril 2018
INQUIRIÇÃO, DESAFIO DE LIBERDADE
A Maçonaria é, por definição, um conjunto de homens “livres
e de bons costumes”, que se consideram como tal e se reconhecem como tal,
perseguindo os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
São conceitos que serviram uma revolução em 1789 em França,
mas que são tão antigos quanto o próprio homem. Nem sempre cumpridos...
raramente cumpridos… mas existentes !
A condição de Maçon diz que somos “livres e de bons
costumes”, ou que nos reconhecemos conjuntamente como Homens “livres e de bons
costumes”. Deixo os “bons costumes” de lado, por agora, e foco-me em “ser
livre”, e pode-se ser livre dentro das grades de uma prisão e sentir-se
acorrentado no cimo de uma montanha com o horizonte por limite.
O “infinito” é um conceito teórico que os matemáticos
arranjaram para trabalharem com o Universo que, sendo material, não tem “folha
de cálculo” ou “plano de contas” que o suporte. Sem princípio nem fim.
E é por aqui que entendo a liberdade dos Maçons.
Ser livre é a capacidade de olhar e ver o Universo de uma só
olhada, é abarcar a globalidade universal de uma só vez, é construir a folha de
cálculo onde cabe o Universo. Isso é ser livre !
O Universo não é vermelho ou verde, não é claro ou escuro,
não é aqui ou ali.
O Universo é o vermelho e o verde, é o claro e o escuro, é o
aqui e o ali.
Ser livre é poder ver numa visão única o vermelho e o verde,
o fogo e a água, Israel e a Palestina.
Ser livre é poder olhar e sentir todas as cores, todas as
“sem fronteiras”, o Sol e a Lua.
É isso que é ser livre e é isso que deve ser um Maçon. Somos
Maçons porque somos livres… porque nos reconhecemos uns aos outros como Homens
livres. E por isso, e se não houver mais razões, só por isso, temos de ter…
somos obrigados a ter no mesmo olhar todas as cores, todas as fronteiras (todas
as sem fronteiras prefiro eu). Porque o Universo não tem fronteiras, não tem
princípio nem fim, não tem muros nem limites. Tal qual a Maçonaria !
A Liberdade é um desafio. E pode não ser simples. Sejamos
livres. Sejamos livres sempre. Aqui e lá fora. Em Loja e no Mundo. Sejamos
livres quando em Loja cumprimos os rituais. Sejamos livres quando na nossa
profissão damos duro. Sejamos livres quando vivemos a nossa vida, sós, ou
acompanhados. Sejamos livres quando executamos as nossas tarefas, os nossos
encargos, mesmo que pouco agradáveis.
E sejamos livres, completamente livres, quando incumbidos da
tarefa de apreciar um candidato a Maçon. A Inquirição, é assim que se chama, só
tem que saber se “Aquele” é também um Homem livre, ou se é capaz de o vir a
ser. Só isso interessa. Se usa mais o vermelho ou o verde… se fala mais árabe
ou hebraico… se vota mais azul ou laranja… mas o que é que isso interessa se
ele for capaz de com um olhar apenas abarcar o vermelho e o verde, o azul e o
laranja, Israel e a Palestina, o Arco-Iris inteiro, o Universo todo ?
Para que queremos nós saber se é coxo ou marreco se de facto
for um Homem Livre ?
Se os candidatos são
coxos ou marrecos, altos ou magros, pretos ou brancos… isso interessa para quê
? e a quem ?
Há uns anos, na R:.L:.M:.Affonso Domingues, discorremos
sobre o tema e acabamos concluindo que a Inquirição serve para perceber se “Aquele”
com quem estamos a conversar pode ser convidado, de bom grado, para nossa casa.
É essa a conclusão que há a tirar e é a conclusão que o Maçon inquiridor tem a
passar, em relatório, aos Irmãos na Loja. Porque o que estamos a fazer numa
Inquirição é exatamente isso, e apenas isso, tentar saber se aquele profano
pode ser bem vindo a nossa casa.
Tudo o resto é acessório e muito pouco interessante.
Aos meus Irmãos peço que sejam Livres, de Liberdade plena,
capazes de abarcar o Universo todo com um só olhar.
No Universo não há parcelas, nem partidos, nem clubes, nem
fronteiras.
Sejam livres ou então… libertem-se.
E se na Inquirição concluírem que não convidam o Candidato
para vossa casa só porque é marreco… meus irmãos peçam o atestado de quite porque
estão no sítio errado.
Não são nem livres, nem de bons costumes.
JPSetúbal
Publicado por J.Paiva Setúbal às 12:12 0 comments
Marcadores: Inquirição, liberdade
29 março 2018
Sobre a impermanência
SOBRE A IMPERMANÊNCIA
O presente texto não está redigido segundo o acordo ortográfico da Língua
Portuguesa de 1 990/2 009.
A IMPERMANÊNCIA
Alinhando e desalinhando estes
parágrafos, maldizendo, (apenas um pouco), a minha incontida verborreia que me
fez falar em impermanência numa sessão onde, e muito bem, foi apresentada a
prancha “A Existência Humana”, um ensaio no qual Drucker (19NOV1909 a *11NOV2005) faz uma análise do pensamento de Kierkegaard (05MAI1813 a *11NOV1855), com os olhos
postos nas mudanças de pensamento, principalmente o político e social, que
ocorriam no fim da 1.ª metade do século XX.
Segundo Kierkegaard, o homem terá que renunciar a si mesmo
para superar as limitações que a realidade lhe impõe, e assim poder aceder ao
transcendente, aceder a Deus e à verdadeira individualidade; neste sentido,
realçou “o existir concreto do homem” (o existencialismo) que anseia pela
transcendência, focando em consequência disso, os sentimentos de angústia e
desespero inerentes a tal condição.
Ora, em minha modesta opinião, na vida onde tudo é transitório, tanto os
pensamentos quanto os amores e as coisas, que vão, vêm, ficam e passam, nada é
assim tão importante, a não ser a experiência da vida que passa (e apenas
enquanto passa), pelo que não me apetece mesmo nada ter algo que me obrigue a
viver em desespero e angústia para poder vir a ter a ilusão de “possuir” ou
“conquistar” o que quer que seja. O que vier, virá; mas virá sem sofrimento
consentido; assim sabendo e aceitando ser o traço característico da existência
terrestre a impermanência, decidi iniciar esta prancha por “a Morte”,
indubitavelmente a carta mais forte, ou mesmo o trunfo (e o triunfo) maior, do
tema que aqui se pretende tratar.
Para nós, que de certa forma nos
alinhamos e nos preparamos para a viagem rumo ao G\O\E\, não há dúvida que encararemos a nossa morte física
como a prova provada (desculpem o pleonasmo) da impermanência pois não iremos/voltaremos
mais “viver” nos moldes actuais (ou iremos?).
Octávio Paz (31MAR1914 a 19ABR1988) escritor poeta e ensaísta mexicano,
Nobel da literatura em 1990, dizia que “a morte não nos assusta
(aos mexicanos) porque a vida já nos curou dos medos”;
enquanto que Giuseppe Belli (07SET1791 a 21DEZ1863), poeta italiano famoso pelos seus sonetos em romanesco (o dialecto de
Roma) nos conta que “A morte está escondida nos relógios” (La golaccia).
A palavra morte quase não
é pronunciada em Nova Iorque, em Paris ou Londres, e infelizmente começa a não
ser pronunciada também em Lisboa, porque queima os lábios; contudo ainda vai
havendo quem a respeite, a acaricie, a celebre e até brinque com ela e não só
no México onde é, segundo Octávio Paz, “um dos seus brinquedos
favoritos e o seu mais constante amor”.
Lembro aqui o filme “Meet Joe Black”, um
filme rodado em 1998 e quase todo em Nova Iorque, cidade onde como acima
referimos se evita pronunciar a palavra morte, produzido por Martin
Brest tendo como actores, entre outros Brad Pitt e Anthony Hopkins, um filme que, ao que
eu saiba, pela primeira vez nos põe em contacto personificado com a Morte, com
humor e com alguma naturalidade, o que não é habitual nos filmes ou narrativas
que nos habituámos a ver provenientes dos EUA, onde a angústia e a perda são
pulsões permanentes.
Neste filme ocorre uma festa de
aniversário que, apesar de ser a última e o aniversariante o saber, foi um
festejo alegre e coroado com fogo-de-artifício!
O nosso portuguesíssimo “Pão por Deus”
que ultimamente vai sendo desvirtuado e substituído pelo “dia das Bruxas” ou “Halloween”, era o
dia em que antigamente se oferecia pão, bolos, vinho e outros alimentos aos
mortos, celebrado em cada ano no primeiro dia de Novembro, na véspera do dia
consagrado a todos os mortos, e era de reminiscências bem antigas, que aqui me
escuso de referir ou tão cedo não sairíamos daqui; era, como vinha dizendo, um
ritual de “comer
a morte” ritual esse que pode representar a continuidade da vida, como se do
ventre da morte pudéssemos ver nascer ou até renascermos na própria vida; era o
Morrer para Renascer; era o ensinamento que diariamente o Sol propiciava (e
propicia se o quisermos/pudermos ver/entender) nascendo incansavelmente e a
cada dia no Oriente, de onde vem a Luz, para inexoravelmente se extinguir
moribundo, no útero devorador do mundo, o Ocidente.
Estará então o homem condenado à morte e
à vida, ambas repetitivas e eternas? A ser assim a morte e vida serão dois
aspectos de uma mesma realidade? Eclodirá a vida da morte qual planta que brota
da semente que se decompõe no seio da terra?
A ser assim, a morte será um bem
colectivo que dá continuidade à criação e que funciona como regresso à essência
do universo.
Será o verdadeiro objectivo da vida
chegar “purificado” “com mais luz” ou “aperfeiçoado” à “morte”?
Assim sendo, a “vida” outra coisa não será
senão uma caminhada com vista à santificação da nossa existência; viver para
morrer, tendo que sofrer para viver eternamente como preconizava Kierkegaard?
Ou será que a vida se nos apresenta como
um verdadeiro desafio, e uma grande oportunidade para percorrer o caminho que
nos leva à porta da imortalidade? Nascer para morrer e então renascer para
viver o caminho; no fundo um caminho iniciático.
Não é só a morte, porém, que atesta,
talvez consagre, a impermanência. A impermanência é desde logo, a vida ou, se
preferirmos, o percurso “desta” vida com todos os seus mitos e dúvidas.
Lemos em Fernando Pessoa: (13JUN1888 – 30NOV1935) in
Mensagem - II - Os
Castelos - Primeiro/Ulisses
O mytho
é nada que é tudo.
O mesmo
Sol que abre os céus
É um
mytho brilhante e mudo –
O corpo
morto de Deus,
Vivo e
desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por
não ser existindo.
Sem
existir nos bastou.
Por não
ter vindo foi vindo
E nos
criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar
na realidade,
E a
fecundá-la decorre.
Em
baixo, a vida, metade
De
nada, morre.
E ainda: in Livro do Desassossego
Tudo quanto vive, vive porque
muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente
torna-se outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
Foi “este” Fernando Pessoa que muito nos
chamou a atenção, tanto para as coisas que nos rodeiam, como para a nossa “pessoa”,
os nossos rostos e as nossas máscaras, da nossa permanente transformação, e do
nosso perpétuo movimento, e que, na pele de Bernardo Soares, nos ensinou a
aceitar, sem mais questões, a impermanência: gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para
gozá-la, e não interrogo mais nem procuro.
A impermanência porém, com frequência,
assusta-nos … todavia não somos nós, bem por dentro da nossa vivência, a
personificação acabada dessa impermanência?
Afinal a vida é uma prática mortal, um
livro de desassossego que se abre ao fascínio dos humanos!
Poderia aqui deixar páginas de citações
sobre a impermanência; fiquemos apenas por estas:
i) O progresso
é impossível sem mudança.
Aqueles
que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.
George Bernard Shaw (26JUL1856
a 02NOV1950)
ii) Nada é permanente, excepto a mudança.
Heráclito de Éfeso (540AC a 475AC**)
iii) Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.
Maquiavel (03MAI1469 a 21JUN1527)
iv) Tudo é mudança; tudo cede o seu lugar e desaparece.
Eurípedes (481AC a 407AC)
v) Muda-se o ser, muda-se a
confiança;
Todo o
mundo é composto de mudança
Tomando
sempre novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
Diferentes
em tudo da esperança;
Do mal
ficam as mágoas na lembrança,
E do
bem, se algum houve, as saudades.
Luís de Camões (+- 1524 a 10JUN1580)
Conto-vos agora uma história na primeira
pessoa, e vai ser na primeira pessoa do singular; eu sei que poderia utilizar a
primeira pessoa do plural e dar-lhe um ar mais majestático, mas, de todo, não
me parece que seja necessário:
Certo dia, aí pelos meus trinta e poucos,
numa conversa de café, ou melhor numa conversa de club, pois o facto que aqui
relato ocorreu na sala de convívio do C.R.M. (Club Recreativo Mortuense), quando
em cavaqueira com um grupo de jovens com quem “brincava” aos teatros
(pretendíamos levar à cena “A Promessa” de Bernardo Santareno), uma das
raparigas do grupo tratou-me por senhor.
Nesse momento não percebi lá muito bem o
que se estava a passar, fiquei um pouco sem jeito e com a capacidade de
raciocínio afectada, pelo que, com um pedido de desculpa, antecipei o meu
regresso a casa.
Já mais refeito e no aconchego relativo do
meu lar, olhei-me ao espelho e apercebi-me que esta barriguinha, que hoje envergo,
despontava, bem como umas aberturas no cabelo, por sobre as têmporas, aquilo
que ao tempo se chamava, e, embora isso já não me preocupe, acho que ainda se chama,
de “entradas”!
Dei então conta que havia uma grande
distância entre a idade com que me sentia e a minha verdadeira idade biológica;
percebi que tinha parado na idade em que os ideais surgem e nos sentimos vivos
em qualquer circunstância. Até tinha ido à guerra e voltado, tinha sido
atropelado e sobrevivido!
O que eu tinha mesmo, era percorrido cerca
de uma década e meia sem que tivesse dado por ela.
Era impossível que essa mudança drástica
se tivesse dado naquele exacto momento em que dela eu me apercebi!
É claro que, fisicamente, a cada momento
que tinha passado na minha vida, algumas células foram morrendo e outras nascendo,
o meu cabelo tinha iniciado uma viagem sem retorno, a minha fisionomia tinha mudado,
e o espelho lá de casa não tinha servido para nada, pois não me avisou! É
igualmente claro que paralelamente a cada um desses momentos, a perspectiva que
eu tinha das coisas, do mundo e de mim mesmo, com certeza que essa perspectiva foi
igualmente mudando, só que o fez de forma tão sorrateira que, para mim, se
tornou imperceptível, mas, de repente, e porque uma jovem me tratou por senhor,
toda a percepção do mundo me caiu cima!
Aquela história do “eu sou assim”, “sempre
fui assim” “serei sempre assim” firmemente convicto da minha permanência foi-me
muito mal contada até ao dia em que caí na realidade porque algo tão simples
como a palavra “senhor” finalmente me tocou/afectou.
Por esse tempo percebi e, claro aceitei,
que até eu um dia teria um fim; fim que já conhecia e aceitara, mas para os
outros … Na sequência, um sentimento de desilusão, ou talvez insatisfação instalou-se
no meu íntimo, tal como no dia em que, ainda criança, desvendei o truque do
ilusionista… já nada era o que aparentava ser…!
Nós, enquanto seres sencientes, por
muito que nos custe admitir, não passamos de manifestações transitórias
totalmente interdependentes de tudo o que nos rodeia.
Somos o somatório, não desagregável,
neste ponto da vida em que nos encontramos, de matéria e consciência, ou corpo
e espírito, se preferirmos.
Vivemos num meio muito escrutinado e de grandes
expectativas, e, deixamo-nos levar pela ilusão de que são as certezas que nos farão
felizes e quando a vida nos mostra que nada é controlável e que a permanência
não existe, sofremos e somos os únicos responsáveis por esse sofrimento, e provavelmente
apenas quando com clareza nos apercebermos que há uma grande harmonia nos
caminhos naturais da vida, estaremos prontos para aceitar a impermanência.
O budismo tem da impermanência um
conceito muito simples: “Nada é permanente, a não
ser a própria impermanência das coisas”.
Continuadamente e em todo o tempo, as
nossas vidas, interna e externa, se movimentam e por mais que julguemos que
podemos controlar todas as coisas, ou pelo menos algumas, não o conseguimos;
estamos apenas a escolher um guia errado, a ilusão; e a ilusão é perigosa, pois
cria expectativas e necessidades que não existem.
Na descrição freudiana, o ser humano é
um animal que nasce prematuramente, em condição de dependência absoluta, que desde
cedo busca o amparo e a protecção necessários à sua sobrevivência, e é instado
a responder a solicitações e injunções dos meios físico, biológico e cultural.
O “eu” da psicanálise é fragmentado e governado
por forças que ele próprio não domina; é uma montagem mais ou menos
bem-sucedida que leva o sujeito a agir no mundo, a buscar satisfações e a lidar
de alguma maneira com o desamparo, a angústia e o desejo.
Esse “eu”, para usar uma expressão do
filósofo Daniel Dennett, (28MAR1942 - 75 anos), é “um centro de gravidade que
não tem substância pois tudo nele deriva dos efeitos produzidos pelas
interacções:
i) com
os outros aspectos significativos de sua história;
ii) com
o ambiente natural e simbólico que o circunda; e
iii) com
as expectativas e desejos projectados sobre ele, mesmo antes que tivesse
nascido, no desejo inconsciente dos pais”.
Afinal, o que é, ou quem é o “eu”? A não
resposta parece ser a única resposta.
O rio da vida flui continuamente, mas
para o “eu” da psicanálise, cuja existência depende de congelar esse fluxo de
mudança, tal fluência é aterrorizante, pois não a conseguirá nunca tornar permanente,
e isso, de certo modo, encaminha-o na direcção da impermanência. O que quer que
pareça ser permanente na nossa vida é, na realidade, bastante temporário. Vem e
vai incerto e inserto na roda da fortuna.
Carl Orff (10JUL1895 a 29MAR1982) - "Cantiones profanæ cantoribus et choris cantandæ" …a roda da fortuna, girando eternamente, trazendo alternadamente a boa e a má sorte… é mais uma parábola da vida humana exposta à constante mudança.
De tudo o antes exposto resulta ser a
impermanência um fenómeno, ou se quisermos, um conceito (gostemos ou não, tudo
o que nos rodeia na cultura humana está conceptualizado e vemo-nos obrigados a
usar os conceitos para podermos, com êxito, nos relacionar com os outros), um
conceito que convém ser trabalhado se nos queremos aproximar do conhecimento e
aceitação de nós mesmos, dos outros e deste mundo que nos contém e nos rodeia.
Claro que tudo tem um início e um fim;
no planeta terra já viveram dinossauros… porém esta evidência de princípio e
fim tornou-se tão translúcida que quase deixámos de a ver, o que, erradamente,
nos pode levar a crer que certas coisas são eternas, sejam elas as casas que
habitamos, as cidades que povoamos, as estradas que percorremos ou um sem fim
de objectos que usamos. Acaba por ser esse mesmo conceito que erradamente
aplicamos à nossa própria existência, mesmo sabendo que num dado momento, muito
embora ainda desconhecido, abandonaremos este plano em que nos encontramos, continuando
porém a comportarmo-nos como se fossemos, nesta configuração, por cá ficar eternamente.
Passamos e gastamos muito do nosso tempo
no nosso plano actual, a fazer a manutenção constante das coisas, sempre em
luta contra o caos (a entropia), e ainda assim, a entropia (o caos) acaba sempre
por nos ganhar a batalha, pois todas as coisas, tarde ou cedo, acabam
destruídas ou gastas e atiradas para o respectivo caixote do lixo, seja ele
qual seja.
E isto ocorre e acontece com tudo, as
relações incluídas (e nem sequer me vou referir às amorosas); o que era
maravilhoso e quase eterno ao princípio, torna-se frágil, estranho,
desnecessário, incómodo e todo o rol de tantos quantos adjectivos quisermos
acrescer!
Por muito que queiramos e nos esforcemos
por perpetuar certas coisas todas elas são finitas, incluindo as que só nos
deixam no nosso fim. A impermanência acaba por se nos impor e a ilusão de criar
uma eternidade “a la carte” daquilo que queremos prolongar
traz consigo o apego, essa amarra que se converte numa pena que teremos que
carregar, e tudo fará para manter em nós essa sensação de permanência, o que, duma
forma ou doutra, mais cedo ou mais tarde nos irá conduzir ao sofrimento.
E assim nós existimos, mas existimos
apenas porque a existência global, essa sim, permanece, mas permanece na sua
impermanência e indiferente à nossa existência individual, e persiste em ser
movimento contínuo, estar acima do bem e do mal, em não ter forma estática, em
ser indefinível, inapreensível, cambiante, caprichosa e, para nós, “ilógica”; essa
existência é e contém o vento, as árvores, a terra, as nuvens, as ondas, o
conflito, o movimento, equilíbrio e o rio sob a ponte (recordo aqui Heráclito - ninguém vai duas vezes ao mesmo rio, pois nem o rio é o mesmo rio,
nem o homem é o mesmo homem).
É importante, para não dizer necessário,
cultivar o desapego como regulador universal do estado de alma; será essa a
chave que nos permitirá crescer e passar a outro nível de funcionamento onde a impermanência seja permanente (Heráclito).
Nascemos sós e nus; conforme a nossa
vida se desenrolar, passaremos por todas as situações possíveis: necessitar,
possuir, perder, sofrer, chorar, tentar… etc., mas depois morreremos, e, tal
como nascemos, morreremos sós, e aí não fará a menor diferença se fomos ricos
ou pobres, conhecidos ou desconhecidos; com mais ou menos pomposo enterro, maior
ou menor acompanhamento, a morte será sempre o grande e último nivelador da
nossa passagem por este estado.
A Siddhartha Gautama (+- 563AC a +- 483AC**), o primeiro Buda (o Iluminado)
atribuem a seguinte frase: “Há uma única lei do
universo que não muda, e essa lei é que tudo muda”.
Por vezes, provavelmente muitas, temos/teremos
alguma dificuldade em perceber a realidade, pois nosso ego possui vários, para
não dizer muitos, momentos de permanência através do seu apego a sentimentos, a
momentos e a pessoas; é uma defesa interna mas é igualmente uma ilusão, e esta
é a maior e mais perigosa ilusão que podemos manter na vida, pois sempre que
tentarmos controlar as coisas, tarde ou cedo, vamos perceber que as coisas não
são controláveis, e daí provém a frustração, o que é bom, pois é essa
frustração que nos leva à desconstrução e ao consequente fim do sofrimento.
Para sermos por inteiro e vivenciar tudo
o que há para viver, teremos que colocar as ilusões de lado e olhar para a vida
real tal como ela é, com toda a sua beleza e toda a sua impermanência.
Nós não precisamos de ser culpados das coisas!
Nós não precisamos de arranjar culpados
para as coisas!
Concluindo:
Impermanência é um conceito segundo o qual tudo
está em constante movimento; nada é estável, fixo ou imutável; nada, incluindo
aquilo a que temos por hábito chamar de fim.
Ao que a lagarta chama o
fim do mundo o mestre chama borboleta -
Richard Bach (23JUN1936 – 81 anos).
Sendo ou estando tudo em impermanência
quem é ou onde está o “eu”, que no fundo é o “nós”, porque “não passamos de manifestações transitórias totalmente interdependentes
de tudo o que nos rodeia”?
Quem é e onde está então, e neste
momento, o “eu/nós” que redigiu estas linhas?
Disse V\M\
ARS
M\M\
* Apenas
por curiosidade; Drucker e Kierkegaard faleceram ambos a 11 de
Novembro.
** Pode ser mera coincidência mas não deixa de ser
interessante: Siddhartha Gautama é contemporâneo de Heráclito. Numa época em
que, ao que eu saiba a globalização não ocorria ainda, nem mesmo aquela temporã
dos Descobrimentos Portugueses, época em que não havia aviões como os de hoje
que levam meio-dia a fazer esse trajecto, como é que dois indivíduos a 5.700
quilómetros de distância e desconhecendo a existência um do outro (ou não?)
proclamam o mesmo?
Publicado por Rui Bandeira às 17:52 2 comments
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