22 janeiro 2018

A prece e a Maçonaria


 O texto Oração para qualquer crente de qualquer crença recebeu, num grupo fechado de uma rede social, o seguinte comentário:

 Esta "oração" pode ser lida (interpretada) por qualquer crente de qualquer religião, mas no seus redutos afins. Em maçonaria não! A maçonaria não é uma religião. Nos seus templos não devem (não podem) existir orações do tipo religioso. Ainda que em ritos com tendência religiosa este género de orações possam existir, isso será apenas uma particularidade (corpos rituais). Quando a maçonaria enveredar por esse caminho estará acabada (para o país ou obediência que tome esse caminho). Fernando Pessoa não era maçon, embora não fosse leigo.

Respeito em absoluto esta opinião, que exprime, de forma correta, um ponto de vista diverso do meu. Concordo, aliás, com a afirmação de que a maçonaria não é uma religião, bem como com a informação de que Fernando Pessoa não era maçom. Mas, pontuadas estas concordâncias, mister é acentuar também onde, como e porquê existem divergências de entendimento.

Desde logo, não é factualmente correto afirmar-se que, nos templos da Maçonaria "não devem (não podem) existir orações do tipo religioso". E não é factualmente correto porque nos vários rituais de diversos ritos - mesmo os que não podem ser considerados como sendo "com tendência religiosa" - estão expressamente presentes e são regular e normalmente proferidas "orações do tipo religioso". Mencionando apenas os ritos em que pessoalmente já participei, para não correr o risco de cometer alguma imprecisão, assim sucede no Rito Escocês Antigo e Aceite, em várias passagens, incluindo no Ritual de Iniciação, no Rito Adonhiramita e no Ritual de Grande Loja, este designadamente com as intervenções do Grande Capelão, na abertura e no encerramento dos trabalhos. 

As orações previstas nos rituais mencionados são - não me parece que, de boa-fé se possa afirmar o contrário - "do tipo religioso", o que basta para demonstrar o desacerto do argumento defendido no comentário. 

Diferente será se se afirmar que não deve, não pode, ter lugar na Maçonaria Azul (a Maçonaria clássica ou básca, dos três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre - já que, como acertadamente se pontua no comentário, em alguns dos Altos Graus de alguns ritos pode ser diferente) a oração, ou prece, especificamente de alguma religião em particular. Nesse caso, a minha concordância estará presente. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...

Na minha opinião, nem sequer faz sentido falar-se em Maçonaria Regular sem se ter presente o diálogo com, a invocação do Criador. A Maçonaria Regular agrupa crentes, crentes no Criador, qualquer que seja a conceção que Dele cada um tenha, crentes de que a morte não é um fim, antes uma Passagem. Assim sendo, faz todo o sentido que, em seu ambiente e em seus templos haja lugar a preces "de tipo religioso", desde que não relativas a uma qualquer religião em particular. O espaço da Maçonaria é um espaço de crentes, não um espaço de recusa de diálogo com o Criador...

Ou dito de outro modo: a Maçonaria é um espaço onde cada um se aperfeiçoa, procurando a sua superação, com vista a ser digno do seu Criador.

Não concordo que a Maçonaria seja apenas, e nada mais, um espaço de autoaperfeiçoamento. Também não perfilho a conceção que entende que a Maçonaria tem na sua essência um esoterismo que a tudo o resto apaga. A minha posição é intermédia: a Maçonaria é um espaço de autoaperfeiçoamento, como indispensável instrumento para que o que é verdadeiramente essencial no Homem, o átomo vital que cada um recebeu do Criador, possa alcançar a evolução para o plano seguinte, para cujo acesso este plano de existência nos é suposto preparar. Se alguém quiser isto designar por autoaperfeiçoamento com um objetivo de esoterismo, não me oporei...    

Mas uma coisa é certa: nada disto implica que se proscreva a prece na Maçonaria - desde que essa prece possa ser dita por todos os crentes, independentemente da sua crença!
 
Rui Bandeira      

15 janeiro 2018

Oração para qualquer crente de qualquer crença


A Maçonaria sempre foi, é e sempre será (ou não se seria) um espaço de Tolerância.  Desde logo religiosa. Qualquer crente de qualquer crença tem nela lugar, em estrita igualdaďe com os demais crentes de quaisquer outras crenças. 

Algo que quem está de fora tem dificuldade em entender é como se processa então o relacionamento entre crentes das mais diversas crenças em matéria de espiritualidade, atentas as naturais diferenças que inevitavelmente haverá. O conceito de Grande Arquiteto do Universo como designação comum para o deus que cada um venera não chega para esclarecer a dúvida. Mesmo utilizando uma designação comum para o conceito divino de cada um, como conseguem os maçons coletivamente e em conjunto dirigir-se ao que inevitavelmente é diversamente concebido entre eles e por cada um deles?

Mais uma vez, a resposta está no estabelecimento do máximo denominador comum entre eles, utilizando invocações para todos aceitáveis. Mas afirmar isto é fácil. Demonstrá-lo para quem está de fora é mais difícil...

Proponho-me aqui ilustrar como isso é possível,  transcrevendo uma oração que nem sequer faz parte de qualquer ritual maçónico e, que eu saiba, não é maçonicamente utilizada, mas que ilustra, a meu ver, na perfeição como é possível invocar, orar, dialogar, com o deus de cada um, independentemente das diferentes crenças individuais.

Aproveito para, de caminho, elevar o nível do blogue e ilustrar também a diferença entre o que arrazoa um mero escrevinhador como eu e o que cria um verdadeiro escritor! Ora aprecie o leitor a superlativa beleza desta oração (no final revelarei quem a escreveu):

Senhor, que és o céu e a terra, e que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está é o teu templo. Dá-me vida para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faz com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. Sê digno de ti em mim.

Bendito seja o teu nome de Céu e de Terra, e de Corpo e Alma, e de Vida e Morte! Louve-te a minha boca e as minhas mãos te louvem!

Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da Terra tua carne. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.

Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia, para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.

Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu.

Senhor, livra-me de mim. Unge-me da tua divina (*).

Que o meu pomar dê frutos saborosos a Ti e a minha vinha dê vinho.

Quando me movo, és tu que te moves; quando falo, és tu que me és falando. Quando dou um passo, avanças tu. Se paro, estacas de mim.

(*) Deixado em branco pelo autor. Este humilde escrevinhador propõe que a palavra que o autor deixou por escrever seja Luz.


Leitor, releia e deixe a beleza deste texto impregnar a sua sensibilidade! E verifique como esta oração pode ser dita por um cristão,  um judeu, um muçulmano ou um crente de qualquer outra crença!

Este texto foi escrito em 1912 por um génio de seu nome Fernando Pessoa.

Está publicado no livro Prosa íntima e de autoconhecimento, edição de Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2017.  

Rui Bandeira

01 janeiro 2018

Comunicação do Grão-Mestre por ocasião do solstício de inverno


Queridos II. em todos os vossos graus e qualidades, a todos saúdo: sede bem-vindos à casa dos valores, à casa dos Irmãos, à nossa casa.

Celebramos hoje em Grande Loja o solstício de Inverno. A palavra solstício vem do latim "sol" e “sistere” – do que não se move. Este fenómeno astronómico, é o momento em que o Sol, durante o seu movimento aparente na esfera celeste, nos traz o registo do dia mais curto e da noite mais longa do ano. Nesse instante, o grande astro rei, ameaça abandonar-nos, arremessa-nos com a frieza da noite eterna, mas trata-se apenas de um prelúdio de generosidade, porque no instante seguinte nos presenteia com a esperança, e as noites começarão a encurtar e os dias começarão a crescer, e a grande vitória da luz sobre a escuridão concretizará a renovação da aliança de vida que o Sol tem para com toda a criação terrestre.

E é desta forma que o Sol nos ensina que nada é eternos meus Irmãos, que tudo é relativo, que tudo é permanente mudança e renovação, que tudo é metamorfose: porque à escuridão das noites longas, sucederá a luzência dos dias felizes, e ao solstício de Inverno, sucederá o solstício de Verão, e que os equinócios hão-de acontecer de permeio, e se morarmos felizes em cada um desses momentos, a nossa vida será uma verdadeira bem-aventurança.

E da ancestral loucura Babilónica de chegar aos céus, nasceu a riqueza das línguas, e por entre os meandros da dissonância do desentendimento dos homens, a velha civilização egípcia criou os hieróglifos e os sumérios o alfabeto, para que os clássicos gregos puderam escrever uma incipiente democracia primordial, ou talvez, quem sabe, para que Camões e Pessoa extravasassem a poesia.

Os romanos geraram cidades abastecidas por água que os magnificentes aquedutos traziam de longe. E pelo tempo em que quis nascer Portugal, os grandes mestres medievais, inventaram catedrais de uma formosura quase perfeita, mas a beleza da nova dimensão da perspectiva renascentista sobrepôs-se-lhe.

E foi então que nós portugueses, de sextante em punho, oferecemos a descoberta dos vários continentes a toda a humanidade.

E durante tão longa caminhada, travaram-se muitas guerras, muito sangue e destruição se arramou à superfície da terra, e a cada vez, das cinzas da dor absoluta, tudo voltou a reflorescer.

E a maçonaria especulativa há já trezentos anos que aprofunda a bondade do polimento da conduta humana, praticando a liberdade, a igualdade e a fraternidade, erguendo todos os dias novos pináculos à nossa catedral interior.

E eu, e os mais velhos que eu, ainda pensamos que a noite fascista nos tolheria os passos e os sentidos, mas erguemo-nos e revigoramos de forças, e ainda fomos capazes de responder à resolução de grandes causas nacionais, como o foram a liberdade, a democracia, a descolonização, a Europa e o desenvolvimento.

E um de entre os nossos foi prémio Nobel da literatura, e outro Presidente da Comissão Europeia, e outro Secretário-geral da ONU. Ganhamos o campeonato europeu de futebol e o melhor futebolista do mundo é nosso, com a proeza renovada por cinco edições. E o festival da eurovisão ganhou-o Salvador Sobral para todos nós, obrigando o seu tão frágil coração a amar por dois! E nós possuídos pela desventura do nosso fado património da humanidade, tínhamos a alma lusa acorrentada, quase condenados a pensar que tudo isto era apenas para os outros, e que, portanto, nos estaria eternamente vedado! E nos augúrios deste mês natalício, já conseguimos mais facilmente acreditar que o Presidente do Eurogrupo podia ser um economista nado nos Algarves.

E o Natal é isto, meus Irmãos: termos a capacidade de acreditar que todos os dias pode nascer a bondade, a alegria, a transcendência de nós mesmos. E muitos natais ainda podemos fazer acontecer: se amarmos, se trabalharmos, se estudarmos, se investigarmos, se formos justos, se praticarmos o bem, se praticarmos a virtude, se formos mansos, se todos os dias a liberdade for o único norte que oriente a construção das nossas novas pontes, que seja apenas ela a dirigir os nossos novos passos, livres.

“Não se pode amar sozinho, e todos os dias voltaremos a aprender”, explicando ao mundo que fomos os primeiros a abolir a pena de morte, apostando no lado manso da humanidade: porque “bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.”

Jesus Cristo, além do elogio da humildade, nesta Bem-Aventurança, ensina-nos que a terra não será propriedade nem dos valentes, nem dos arrogantes, nem daqueles que apenas querem guerrear. Ninguém estará por cima, ninguém estará por baixo, ninguém será usurpador, porque esses, apenas os destroços herdarão. De que nos adianta os grandes domínios, se eles forem construídos sobre a destruição e a desventura? Jesus poderia arrogar-se o maior dos anjos. Poderia humilhar opositores e delatores, mas a sua vitória significou apenas abrir caminhos, semear paz e harmonia. Fazer coisas extraordinárias, também implica a condição de mansidão, porque assim conquistaremos mais corações que todos os grandes valentes como Nero, Alexandre, Hitler ou Stalin. Os mansos não sentem necessidade de provar coisa alguma, nem mesmo que são mansos.

E neste solstício de Inverno, o Sol quer ainda ensinar-nos que há sempre mais que os dois clássicos lados: o da noite e o do dia. Porque a alvorada, o crepúsculo, a vespertina madrugada, o calmo entardecer ou o cálido zénite, fazem parte das belezas e sensações que Deus nos quis oferecer, apenas para que experienciássemos cada um de todos os pontos inscritos sobre a perfeita circunferência, toda e cada uma das nuances da felicidade.

E neste tempo solsticial e natalício, havemos de cultivar a bondade e a compaixão, e limparemos o caminho que nos traz as harmonias, a paz, a justiça, a liberdade, para que possa ser tempo de Natal todos os dias, todos os anos, por todos os séculos dos séculos.

Boas festas, um feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde para todos os meus Irmãos e família.

E era esta a mensagem simples que neste solstício vos queria declarar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal da Maçonaria, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquitecto do Universo.

Júlio Meirinhos
Grão Mestre

22 dezembro 2017

Solstício de Inverno



Ontem foi o solstício de Inverno. É o dia mais curto do ano, e a noite mais longa. Até aqui os dias foram progressivamente encurtando, cada um com menos luz do que o seu predecessor. A partir de hoje, porém, cada dia será, progressivamente, um pouco mais luminoso que a sua véspera - até ao solstício de Verão, dia mais longo do ano, e noite mais curta. Chegados aí, os dias passarão a ser progressivamente mais curtos, até que, de novo, chegue o solstício de Inverno.

Este ciclo solar - a repetição das estações - não passou despercebido aos nossos antepassados, e o passar das eras carregou-o de simbolismo. O Homem, divinizando as forças da natureza - e o Sol em particular - interpretava como podia esta alternância entre luz e escuridão, entre abundância e escassez, entre vida e morte.

As antigas feiticeiras - ervanárias, na verdade - atribuiam nomes fantásticos, como asas de morcego ou dentes de dragão, às ervas que usavam nas suas poções. Com essas identidades eram urdidas elaboradas histórias que mais não eram do que mnemónicas das receitas dos medicamentos da época.

De modo semelhante, a maçonaria inspirou-se em muita da mitologia existente na época, socorrendo-se dos símbolos para se referir a princípios, normas ou sentimentos, embrulhando-os em histórias mais ou menos elaboradas que servem de mnemónica da lição moral que se pretende transmitir.

O racionalismo iluminista chega-nos, assim, travestido numa aparência de fantástico e sobrenatural, numa linguagem arcaica e rebuscada que compete a cada um desvelar ao seu modo. Ao contar histórias abertas a interpretações, a maçonaria transmite os princípios sem violar a liberdade de cada um, e exige algum esforço individual na busca da Luz. As oportunidades e matizes de interpretação são inúmeros; cabe a cada um decidir o que quer fazer do que é colocado à sua disposição, e de como o incorporar - ou não - na sua vida.

Paulo M.

12 dezembro 2017

Segurança informática

Resultado de imagem para cybercrime

Uma vez deixei o carro mal travado num parque de estacionamento, e ele foi bater noutros dois. Não houve danos pessoais, tanto mais que ninguém estava presente. A seguradora pagou os danos que o meu carro causou nos outros e os danos do meu carro saíram-me do bolso. Tirando as fotos e o gozo dos colegas, a história ficou por ali. Não é este, no entanto, o típico acidente automóvel. O normal é o condutor, ou um peão, fazerem alguma coisa de errado –pode ser uma manobra desastrada, ou mera distração que leve a uma omissão – e em consequência disso haver um acidente, frequentemente com danos pessoais.

Quando os acidentes ocorrem na estrada já todos sabemos o que há a fazer. Afinal de contas, por um lado, as regras do código da estrada já têm muitos anos – de facto, é de 3 de Outubro de 1901 a publicação do Regulamento sobre Circulação de Automóveis, e de 1928 o primeiro Código da Estrada. Por outro, não podemos conduzir um automóvel sem aprender primeiro como se faz, e passar um par de exames que o atestem. Por tudo isto, dar hoje um toque com o carro não é propriamente notícia – a sociedade já teve cerca de um século para se ir habituando ao fenómeno dos automóveis nas estradas e transmitir essa experiência através das gerações.

Apesar de a Internet existir desde os anos 70 – há quase 50 anos - só há pouco mais de 20 começou a ser usada em contexto doméstico. Até então, o seu uso estava reservado aos governos, instituições militares, universidades e algumas grandes empresas, normalmente ligadas à tecnologia. Foi na última década que o uso da Internet explodiu, sendo hoje raro o computador – e não esqueçamos que os smartphones não são outra coisa – que não esteja ligado à autoestrada digital.
Ao contrário dos automóveis, que só podem, pelo menos em teoria, ser conduzidos por quem conheça o Código da Estrada e seja portador de Carta de Condução, qualquer pessoa pode comprar um computador ou um telemóvel e, sem mais cerimónias, ligar-se à Internet. É, aliás, o que faz a esmagadora maioria das pessoas. Para facilitar este fenómeno, os fabricantes de computadores tornam-nos, a cada ano, mais fáceis de utilizar. Já o mesmo não se pode dizer dos telefones… mas enfim.

Os primeiros condutores de automóveis eram entusiastas da mecânica, tal como os primeiros utilizadores da internet eram entusiastas da tecnologia. Hoje os carros avisam quando precisam de manutenção, e largamo-los na oficina para o efeito, arrancando pouco depois num automóvel de substituição. De resto, metemos combustível, líquido no limpa-para-brisas, e está feita a nossa parte. Compramos computadores, usamo-los durante um tempo, depois ficam lentos e esquisitos, pedimos ao filho do vizinho para os reinstalar, o que começamos a fazer com alguma regularidade, e ao fim de um tempo compramos outro. Com os telemóveis é igual: carregamo-los à noite, reiniciamo-los de vez em quando se ficam lentos, e ao fim de um a dois anos trocamo-los por um modelo novo e deixamos o antigo a apanhar pó numa gaveta. A maioria das pessoas não sabe nada da tecnologia que constitui a Internet, nem dos cuidados a ter, nem há ainda uma cultura na nossa sociedade quanto aos riscos e comportamentos a evitar.

Entretanto, temos uma conta no Facebook, outra no Gmail, mais umas quantas de outras redes sociais, vemos notícias, trocamos links com outros, visitamos sites… A certa altura damos por nós em sites com publicidade agressiva, e mesmo obscena, janelinhas a abrir umas depois das outras, o botão de voltar atrás que não funciona… Depois aparece outra janelinha a dizer: “Tem vírus! Descarregue aqui um antivírus grátis!”. E nós, atarantados, lá fechamos o Chrome, ou o Internet Explorer… para logo depois nos aparecer no email uma mensagem: “O acesso à sua conta na CGD está bloqueado. Visite este site e introduza os seus dados pessoais para o desbloquear”… Pouca sorte, logo eu que só tenho conta no Montepio… mas está aqui outra mensagem… uma promoção… “Olha, posso ganhar uma Nespresso, ou 400 euros em cartão no LIDL… deixa lá ver o que é…” e carregamos… e, sem que alguma vez venhamos a aperceber-nos, o nosso computador passou a ser usado por uma rede internacional de ciber-criminosos. E a promoção? Ah… a rena do Pai Natal depois traz.

Há essencialmente duas coisas que as redes de crime organizado procuram obter dos cidadãos mais desavisados através dos computadores: os dados pessoais, e o acesso aos próprios computadores. Os dados pessoais servem para nos imputar despesas, revertendo os proveitos para os criminosos. Eles podem ficar, num exemplo muito simples, alojados num hotel, e ficar o pagamento da estadia por nossa conta. Também podem tentar obter os nossos dados de acesso ao homebanking para transferir as nossas poupanças para uma offshore… Mais prosaicamente, podem limitar-se a vender os nossos dados pessoais para efeitos de marketing – e lá passamos a receber uma montanha de emails com publicidade.

Já o acesso aos nossos computadores é mais apetecível, pois é mais útil aos criminosos, mas só pode obter-se de uma de duas maneiras: ou através de um defeito no sistema – do mesmo modo que uma janela que não feche pode ser usada por um ladrão para nos entrar em casa – ou porque voluntariamente os deixamos entrar – como alguém que nos toque à campainha a pedir para usar o nosso telefone para ligar para o 112 por ter havido um acidente na rua, e nós, cheios de boa vontade, abrimos a porta...

Tal como muitas doenças podem ser evitadas através de vacinação e/ou prevenção, não se tendo comportamentos de risco, também aqui a estratégia é semelhante. Vacinar-nos corresponde à atualização permanente dos sistemas – o que é fácil com os computadores mas pouco comum nos smartphones por responsabilidade dos fabricantes. Já os comportamentos de risco de que nos devemos abster são, na verdade, a maior brecha, e o mais bem sucedido vetor de ataque. Os criminosos só querem uma coisa: que instalemos um pequeno software no nosso dispositivo. Para isso contarão todas as histórias da carochinha: que é um anti-vírus, que é para pôr o smartphone mais rápido, que é para ver filmes de graça… oferecem sempre qualquer coisa. Só temos que instalar o tal programa – que até pode ser um joguinho, que até funciona... mas não é só um joguinho. Não é por acaso que se chama “cavalos de Tróia”, ou trojan a esses programas, que parecem ser uma coisa inocente mas são só um dispositivo de penetração da nossa segurança perimétrica.

Uma vez instalados, podem com facilidade intercetar todas as teclas em que carregamos, e assim ficar a saber as nossas passwords em todos os sites que visitamos, assim como o conteúdo de todos os textos que escrevemos. Pode ser, depois, que o nosso PC comece a ficar muito lento, pois está a fazer operações matemáticas que servem para gerar dinheiro digital. Um programa malicioso pode também codificar todos os nossos ficheiros – as fotos, os trabalhos, tudo! – e depois pedir um resgate em troca da chave de descodificação. Sem a chave correta, os nossos dados estão perdidos para sempre. É certo que tudo isto é grandemente inconveniente para nós, mas estamos longe de ser as únicas vítimas da nossa falta de cuidado: é que a maioria desses programas maliciosos logo trata de se tentar espalhar por mais dispositivos.

É assim que todos os nossos amigos com quem trocamos emails vão receber uma mensagem, aparentemente enviada por nós, convidando-os a instalar, também eles, o programa. A mensagem pode ser variada, desde um genérico “olha lá para isto” a um específico “Vamos contribuir para a UNICEF este Natal. Se quiseres entrar, acrescenta o teu nome e o montante na lista em anexo e manda-ma de volta”. E depois a lista é, afinal, um cavalo de Tróia. Já começámos a fazer estragos junto dos que nos estão mais próximos.

Pouco depois, o nosso computador – ou smartphone – liga-se a um site na China, ou na Rússia, na América Latina ou na cidade ao lado da nossa… e recebe uma lista de instruções. Pode ser uma lista de endereços de emails, e logo uns milhares de emails com publicidade, ou maliciosos, serão enviados a outros tantos alvos. Pode ser uma lista de sites a que o dispositivo vai aceder, uma vez após outra, durante o dia todo. Um oceano é feito de uma multidão de gotas de água. Ninguém se afoga numa uma gota de água; agora, num milhão de gotas de água… É assim que um site pode ficar inacessível por ter dezenas ou centenas de milhares de dispositivos a aceder-lhes repetidamente. E para que serve isso? Uma vez mais, para que os criminosos possam pedir um resgate ao dono do site: “Paguem, e nós paramos.”

Como se vê, as nossas ações não nos afetam só a nós – tal como podemos transmitir certas doenças aos que nos rodeiam se não formos cuidadosos. Uma vez afetados, só com software especializado poderemos remover o bicharoco. De novo, o filho do vizinho saberá o que usar. Podemos zelar pela segurança dos nossos dispositivos ligados à Internet através de três medidas:

– A primeira consiste em mantermos o dispositivo atualizado. Todos os sistemas modernos podem atualizar-se de forma automática, sejam MacOS, Linux ou Windows. Convém é ver se para as versões que temos instaladas ainda se produzem correções. Quando assim é, é normal haver várias atualizações por mês. Já os smartphones atualizam-se menos frequentemente – alguns nunca. A única coisa que podemos fazer, na maioria dos casos em que assim é, é comprar um mais recente. Curioso…

– A segunda medida é não executar programas – nenhuns! – sem primeiro averiguar, através de uma busca do Google, por exemplo, se o programa em causa é malicioso. Se o estamos a fazer a pedido de alguém que conheçamos, convém confirmar a autenticidade do pedido…

– A última medida – a mais difícil – passa por interiorizar que não há ofertas grátis. Toda a gente nos tenta oferecer qualquer coisa, e é difícil dizer que não. Para isso, temos que nos voltar a recordar do que nos ensinaram em crianças: que não devemos abrir a porta a estranhos. Neste caso, a nossa porta é o nosso dispositivo, abri-la é instalar coisas, e os estranhos são o mundo inteiro…

A Internet foi democratizada há 20 anos. Entretanto, os avanços tecnológicos têm sido tremendos. Enquanto a indústria não resolve as fragilidades deste ecossistema em constante e acelerada mudança, temos que, cada um e para benefício de todos, zelar por defender os nossos dispositivos da sua principal vulnerabilidade: nós mesmos.

Paulo M.

01 dezembro 2017

Homo homini lupus

wolves fighting baring teeth in wild


A organização social das alcateias tem vindo a ser extensivamente estudada desde os anos 60 do século passado por L. David Mech, que começou pela observação do comportamento de várias alcateias que se haviam constituído em cativeiro a partir de indivíduos dispersos - reproduzindo o entendimento que se tinha, de que estes se reuniriam para, juntos, fazerem frente aos desafios trazidos pelo Inverno. 

A hipótese inicial a que as observações levaram este cientista foi a de que os lobos se organizariam em torno de um "macho alfa", mais forte, que exigia acesso preferencial à comida e às fêmeas, por exemplo, mas também a locais de abrigo ou certos papéis nas atividades do grupo. Esta hipótese do "macho alfa" explicava o comportamento verificado, de constantes lutas entre machos no sentido da dominância de uns indivíduos sobre os demais.

Mais de trinta anos depois, Mech apercebeu-se de um erro que derrubava impiedosamente as suas conclusões: o que tomara por alcateias típicas não passava de agregados disfuncionais de indivíduos não relacionados entre si, o que raramente se encontrava na natureza. As verdadeiras alcateias eram constituídas por um casal reprodutor e pelos filhos mais novos - das ninhadas dos dois ou três anos anteriores. Nestes grupos não havia lutas pelo poder, e reinava a paz e a harmonia. Após confirmação do erro, Mech rejeitou oficialmente as suas conclusões anteriores.


Uma loja maçónica é uma alcateia de indivíduos dispersos, reunidos para fazer frente aos desafios que a vida levanta. Como em qualquer grupo, especialmente quando exclusivamente constituído por machos, a tendência natural é de confrontação e de medição de forças. É precisamente o domínio de si mesmo, no sentido de não deixar prevalecer os aspetos mais vis da natureza humana, que se procura incentivar.

Não é fruto do acaso o facto de os maçons se tratarem uns aos outros por "meu irmão". O estabelecimento deste "laço familiar" voluntário transforma a nossa visão do outro, trazendo-o de uma esfera em que é um estranho, um outsider, um potencial inimigo, para outra em que é "um dos nossos".

Não é arbitrária a imposição de que, no momento próprio de cada sessão, cada um possa intervir apenas uma vez sobre determinado assunto; esta limitação impede, na prática, a discussão do tema, sem impedir a exposição da posição de cada um.

Por fim, não é fortuita a rotação dos papéis que cada um vai desempenhando ao longo dos anos, e a recordação constante de que o papel que se desempenha é, acima de tudo, um serviço que se presta,  e nunca um exercício de poder absoluto.


O aforismo segundo o qual "o homem é o lobo do homem" - homo homini lupus - remete-nos para as atrocidades de que o Homem é capaz - e tem demonstrado sê-lo ao longo da História. O potencial destruidor de um homem que se sinta acossado é virtualmente ilimitado.

O propósito último da maçonaria consiste, precisamente, em incentivar-nos a contrariar esta faceta da nossa natureza. O estabelecimento de laços de "fraternidade voluntária" é instrumental nesse sentido. De facto, mesmo correndo o risco de abuso, tratar aqueles que nos rodeiam como se fossem elementos do nosso núcleo familiar é um dos mais eficazes caminhos para a paz desta grande alcateia na qual todos fomos lançados.

Paulo M.

20 novembro 2017

O TEMPLO MAÇÓNICO E A REGULARIDADE

A\G\D\G\A\D\U\

i) Preliminar
ii) Conceito de Templo
iii) Conceito de Templo Maçónico
iv) Desenho do Templo Maçónico
v) Organização do trabalho no Templo
vi) Significado esotérico do Templo Maçónico
vii) Epílogo


i) Preliminar
Aspectos gerais do Templo Maçónico, de acordo com a prática do R\E\A\A\ no Gr\ de A\

ii) Conceito de Templo
Templo segundo o Dicionário da Lingua Portuguesa é um edifício destinado ao culto de uma religião; um monumento em honra de uma divindade, ou um qualquer lugar sagrado ou venerável. O dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz-nos ainda que é o lugar onde a maçonaria celebra as suas sessões e que também assim pode ser chamada a Ordem dos Templários.
Templo – segundo a wikipedia, vem do latim templum, "local sagrado" e é uma estrutura arquitectónica dedicada a um serviço religioso ou a um culto. O termo no sentido figurado é o reflexo do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da Presença Real. É o resumo do macrocosmo e também a imagem do microcosmo: 'um corpo humano é um templo'.
As tradições religiosas, entre outros, dão-lhe nomes diversos, como:

Mesquita, no caso do Islão;
Sinagoga, no caso do Judaísmo;
Templo de fogo, no caso do Zoroastrismo;
Pagode, no caso do Budismo;
Mandir, no caso do Hinduísmo;
Pathi, no caso do Ayyavazhi;
Centro Espírita, no caso do Espiritismo.

Pode ainda ser considerado Templo o lugar onde se presta culto a uma Arte ou a uma Ciência.
iii) Conceito de Templo Maçónico
Do ponto de vista esotérico e partindo dos conceitos anteriormente referidos, poderemos concluir que: Templo Maçónico é o lugar no qual os maçons prestam culto ao G\A\D\U\ e sob os seus auspícios realizam o seu Trabalho Espiritual.
Estas definições que conceptualmente se apresentam simples, de facto complicam-se pelas mais variadas razões, sejam elas de índole política, religiosa ou outra.
É por isso que algumas estruturas, ditas maçónicas, ou para/pseudo maçónicas, substituem o termo Templo por Loja ou Oficina, sendo que essas designações existem, mas são outra coisa, tendo o significado conceptual destas palavras sido indevidamente equiparado a Templo, encontrando-se na para/pseudo-maçonaria definições como: “a Loja/Oficina é local no qual os francomaçons celebram as suas assembleias ou reuniões”; e assim suprimem-lhe toda e qualquer conotação espiritual, procurando desse modo ocultar toda a natureza “religiosa” que, mesmo não sendo nem tendo uma religião, tem caracterizado a maçonaria ocidental desde as suas origens, abrindo-se assim as ditas maçonarias a um trabalho dito “maçónico laico” que não é de todo compatível com o esoterismo iniciático que está na essência da Arte Real.
Parece-me pois claro que o trabalho maçónico autêntico exige que o mesmo se cumpra num Templo Maçónico e como tal terá que ocorrer A\G\D\G\A\D\U\ para que o seu ritual assim celebrado permita que os membros que o executam tenham um Despertar Espiritual e alcancem níveis espirituais inimagináveis para os profanos e lamentavelmente, também para alguns iniciados que, por não terem interiorizado correctamente a sua iniciação, se deixaram levar em correntes de todo incompatíveis com a essência da actividade maçónica.
Ter um Despertar Espiritual mais não é do que perceber que há muito mais na vida do que aquilo que nos foi induzido a acreditar; é algo mais interior e mais profundo, com um significado à espera de ser descoberto.
É um conjunto de muitas pequenas coisas e muitas coincidências que não são mais que o início desse despertar, o início da percepção de que somos atemporais, não físicos; eternos.
Quando começamos a não nos preocupar com coisas como a reputação social, a popularidade, e a aprovação, quando descobrimos que a nossa identidade vem de algo mais profundo do que isso; quando iniciamos um relacionamento com o Universo, sendo que o Templo é o Universo, e quando nele nos aceitamos integrar, normalmente deixamos também de ter medo, até o medo da morte vai diminuindo conforme a nossa parte atemporal ao Universo se vai ligando, aí e então vamo-nos aperceber que apenas caminhamos, e que caminhamos pelo caminho certo, rumo ao G\O\E\.
Quando o Despertar se inicia abandonamos muitas das preocupações profanas ficamos mais interessados na busca do Conhecimento, na busca da Sabedoria e por isso aceitamos e abraçamos como experiências enriquecedoras todas as ocorrências da nossa passagem por esta “vida”.
iv) Desenho do Templo Maçónico
A compreensão da forma como os nossos Templos foram desenhados requer ter em conta que a maçonaria especulativa tal como foi pensada no século XVIII, aquando do seu surgimento proveio de uma concepção do mundo e do homem que tinha por base, fundamentalmente, a Arte Construtiva intrinsecamente ligada às restantes disciplinas que compõem o Hermetismo: a Alquimia, a Teurgia, a Magia Natural e a Astrologia; sem nos esquecermos também das várias correntes de pensamento procedentes das Religiões dos Mistérios, do Pitagorismo, do Neoplatonismo e das Gnoses, Judaica e Cristã, bem como da herança da Antiga Sabedoria Egípcia.
É claro que, três séculos volvidos, os avanços científicos fizeram com que nos afastássemos do que era fábula e superstição; mas para lá da evolução ocorrida a maçonaria tem sido rigorosa em conservar os conhecimentos perenes, intrínsecos da própria natureza do ser humano e do cosmos que o contém.
No respeito por essas verdades eternas o bom senso tem prevalecido e os símbolos primitivos do Templo Maçónico continuam a ser imprescindíveis para executar o trabalho espiritual que é a essência maçónica.
Na simbologia maçónica o Templo representa ainda o Templo do Rei Salomão, aquele erigido em honra e por ordem de Yahvé , seu Deus.
Este Templo foi edificado em Jerusalém e segundo referências escritas nos Livros Sagrados contava com três espaços perfeitamente bem delimitados:
- O Pórtico [’ülâm] que delimitava o profano do sagrado;
- O Sancta [o “lugar” Santo = hékâl ou hekhal, que deriva do Sumério: É GAL = Casa Grande] que continha a nave central do Templo;
- O Sancta Santorum [o “lugar” Santo dos Santos] que na sua parte mais recôndita, o Debir (דְּבִיר), abrigava a Arca da Aliança.
O Templo Maçónico obedece igualmente a esse mesmo plano, sendo o que a seguir se indica o seu traçado:
- O Pórtico, que vai desde a parede ocidental, onde se encontra a porta de entrada no recinto, até uma linha imaginária, que se projecta desde a parede Norte até à parede Sul, traçada à altura das Colunas, a B\ e a outra a Sul dela, linha essa que delimita a zona a partir da qual, estando o espaço sacralizado, os profanos não passam; apenas adentram essa linha os iniciados e o neófifo no dia da sua iniciação.
- O Sancta que se estende desde a linha onde termina pórtico até à blaustrada do Or\ e é o espaço onde todos os iniciados se arrumam por Oficinas. É neste espaço que o nosso Templo tem o seu apogeu, bem no centro da L\, o local onde é possível o contacto com a Divindade, o local que é atravessado pelo eixo do mundo, o único caminho que permite o trânsito entre o mundo superior e o mundo inferior.
- O Sancta Sanctorum que vai desde a balaustrada até à parede Oriental. O Sancta Sanctorum da maçonaria é um local que pode ser alcançado por todo e qualquer maçon que tenha progredido em conhecimento e auto-controlo; que tenha acrescido Luz, da que brilha desde o Or\, à sua luz estando assim preparado para a etapa final do grande drama do desenvolvimento do Espírito: a busca da Palavra Perdida.
Um Templo, com as dimensões rigorosas, deverá ter a forma de um paralelipípedo que por sua vez é composto por dois cubos perfeitos, representando o cubo do Oc\ a Matéria e o cubo do Or\ o Espírito.
É mesmo no início do cubo no Oc\ que estão as Colunas, a B\ e a outra a Sul dela, e no fim do cubo no Or\ que se econtra o Trono de Salomão, a Cadeira do V\M\.
Forma-se ainda um terceiro cubo que é composto pelas duas metades dos cubos do Oc\ e do Or\; este terceiro cubo representa o homem que é composto por Matéria e por Espírito. É no centro deste terceiro cubo, que é o ponto onde os dois primeiros confluem, que se coloca o Quadro da L\, simbolizando o ponto de chegada da nossa viagem, o nosso encontro com o G\A\D\U\.
A figura geométrica do cubo corresponde em aritimética ao número quatro. Na simbologia dos números o 4 tem várias conotações e ligações das quais destacamos apenas:
            Os 4 pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste;
            As 4 estações do Ano; Primavera, Verão; Outono e Inverno;
            Os 4 elementos da Natureza: Terra, Ar, Água e Fogo
            As 4 Fases da Lua: Nova, Crescente, Cheia e Minguante.
Este terceiro cubo encerra a mais complexa e mais rica das simbologias; o seu pavimento é de ladrilhos pretos e brancos alternados, um mosaico também chamado de piso axadrezado, que reflete a cosmovisão dualista da maçonaria, recordando a harmonia que deve reinar nas LL\ quaisquer que sejam as condições ou convicções dos seus obreiros.
Essa dualidade albi-negra contém ainda uma alegoria extra L\; aquela que recorda a todos os II\ as características do universo profano, onde têm que percorrer a maior parte das suas vidas sem que perca de vista os atributos que caracterizam um maçon.
Um Templo Maçónico é atravessado pelo Trópico de Câncer (Solstício de Verão), uma linha imaginária que vai da Coluna B\ à Lua; é também atravessada pela linha do Equador Celeste (Equinócios do Outono e da Primavera) que vai do Oc\ a Or\; e é ainda atravessada pelo Trópico de Capricórnio (Solstício de Inverno), a linha imaginária que vai da Coluna a Sul da Coluna B ao Sol.

Ao deslocarmo-nos de uma para a outra Coluna, simbólicamente representamos os movimentos da terra (Rotação e Translacção) estando assim a deslocarmo-nos de um solstício ao outro, de um equinócio ao outro, percorrendo passo a passo as diferentes etapas e provas que provocam a evolução do Espírito na sua aventura transcendente da sua passagem por este mundo, ou se preferirmos, por este estadio da sua vivência múltipla.
 Nos estremos Sudeste, Nororeste e Sudoeste do pavimento de ladrihos estão as três colunetas, a saber: a da Sabedoria (Jónica), a da Força (Dórica) e a da Beleza (Coríntia); são elas que suportam as três Luzes, que para lá de terem literalmente iluminado os trabalhos nos Templos primitivos, tinham e têm também a sua simbologia: a Jónica, associada ao V\ M\ orienta-nos no caminho da vida; a Dórica, associada ao 1.º Vig\ anima-nos e sustenta-nos em todas as dificuldades; e finalmente a Corintia, associada ao 2.º Vig\ adorna todas as nossas acções, o nosso caráter e o nosso espírito.
Na parte superior dum Templo Maçónico está presa uma corda com 81 nós que representa todos os maçons espalhados pela superfície do globo terrestre e a união que entre eles deve reinar. Este símbolo representa ainda a solidariedade maçónica, que jamais deve ser quebrada.
Ao tecto dum Templo Maçónico cabe ainda destacar as características da Abóbada Celeste.

v) Organização do trabalho no Templo
Tanto o traçado do templo quanto a organização dos trabalhos em L\ seguem sempre a orientação dada pelos quatro pontos cardeais:
Oriente: é o lugar onde nasce o Sol, e alegóricamente é o ponto donde surge a Luz; daí o Oriente ser considerado a fonte da Sabedoria, o lugar para onde caminhamos em busca do Conhecimento, e por isso mesmo ali tem assento o V\M\.
Ocidente: é o lugar do pôr-do-Sol; é por aí que se adentra a L\ e simboliza a passagem das Trevas à Luz, sendo por isso que é aí, no sector oposto ao V\M\, que tem assento o 1.º V\.
Norte: é o primeiro sector da L\, aquele a que é mais fácil aceder, é o sector chamado de Coluna do Norte, e é o lugar onde tomam assento os II\ AA\ que ficam nesse lugar porque acabaram de saír das trevas da ignorância e as suas débeis pupilas não poderiam olhar de frente a Luz. A Coluna do Norte vai desde a Coluna B\ à balaustrada do Or\.
Sul: é o meio-dia, é o lugar onde tem assento o 2.º V\, sendo o sector chamado de Coluna do Sul e é neste lugar que têm assento os II\ CC\; ficam nesse lugar porque já conseguem, embora ainda com algumas limitações, suportar a Luz que ali chega com intensidade superior àquela que chega à Coluna do Norte. A Coluna do Sul vai desde a Coluna a Sul da Coluna B à balaustrada do Or\.
Tanto os II\ AA\ quanto os CC\ devem começar por tomar assento nos lugares mais a Oc\ nas respectivas colunas de acordo com a sua antiguidade na Oficina, pois só se devem aproximar do Or\ na medida em que os seus olhos para tal estejam preparados, e para tal tenham adquirido capacitação.
vi) Significado esotérico do Templo Maçónico
Do ponto de vista esotérico, analizado na sua totalidade, o Templo Maçónico simboliza:
1 - O Universo.
O templo enquanto representação da Emanação ou da Criação representa o Universo, daí as suas dimensões  serem de Norte a Sul e do Zénite ao Nadir; sendo assim, por conseguinte no Universo, que o neófito é iniciado e é ali que, já como maçon, trabalha e busca o seu crescimento pessoal A\G\D\G\A\D\U\.
2 - A Humanidade.
O Templo é também uma alegoria da “Humanidade Ideal” à qual os maçons aspiram, humanidade ideal que cada um de nós, com o aperfeiçoamento do seu interior e o seu exemplo, ajuda a edificar uma Humanidade onde a Paz reine sobre a terra, o Amor reine entre os homens, e a Alegria permaneça nos corações.
3 -  O Corpo Humano
O Corpo Humano também simboliza o Templo porque é o receptáculo, o santuário que a Divindade utiliza como um dos meios para se manifestar no universo físico; simboliza, mais específicamente, o Universo Humano onde reside o Ser Superior, a Essência Infinita, o Espírito do G\A\D\U\.
4 - A Interioridade Humana
O Templo Maçónico é também a imagem do Espírito e da Consciência do Homem, sendo nesse contexto que o maçon se esforça por desbastar a pedra bruta que evoca a obra que cada maçon vai construindo dentro de si, desde a purificação (katharsis) na sua iniciação, passando pela Iluminação (theoria), com vista ao aprimoramento dos seus trabalhos até alcançar a Divinização do Ser (Theosis ou Santificação).
Sobre a interioridade já Pitágoras, ou a sua escola pitagórica, refere: a grandeza do homem está no conseguir eleger-se como um ser capaz de identificar a sua interioridade com a ordem inscrita no Cosmos; por sua vez Agostinho de Hipona recomenda: “Noli foras ire, in teipsum redi: in interiore homine veritas” (Não vás fora, entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade).

E, claro, não podemos esquecer o nosso VITRIOL, que para lá de ser a arcaica designação de um sulfato é o anagrama de "Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem", literalmente: Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta, e que simbólicamente quer dizer: Visita o Teu Interior, Purificando-te, Encontrás o Teu Eu Oculto, ou, a essência do Teu Espírito humano.

5 - O Corpo e a Interioridade Humana
Analisando o conjunto carnalidade/interioridade contido no esoterismo do Templo Maçónico, surge-nos “O Homem”, o homem que guarda no seu corpo o Espírito Superior pelo qual passará a ser conduzido, logo que consiga eliminar os vícios que o impedem de seguir as Suas indicações e executar o trabalho que lhe possibilite regenerar a natureza perdida e retornar à natureza original da sua criação.
vii) Epílogo
Como bem sabemos e vemos, o Templo tem muito mais decoração e simbologias como Esquadro, Compasso, Pedras, Sol, Lua, etc., mas quero-me ficar por aqui que já é o bastante para ser trabalhado.
Foi por, na sessão realizada no 13.º dia do sexto mês de 6 016, em que por boa sorte estive presente, me ter parecido que haveria uma “corrente” tendente à indiscriminação, uma “corrente” de que “era tudo a mesma coisa”, que me ocorreu traçar esta prancha, e traço-a porque não; … porque não é tudo a mesma coisa, … ou andaríamos todos nessa falsa socialização dos ecrans, que mistura o real com o virtual, como essa moda “pós-pokemons” onde as pessoas, se socializam, fazem-no virtualmente e sempre como um átomo isolado; já não sei se se trata realidade aumentada, de virtualidade diminuída, ou do seu contrário; sei que hoje tudo evolui muito rapidamente e não se conseguindo, com segurança, prever o futuro sendo esse difícil planear, e as pessoas sem planos para o futuro tendem a tornar-se individualistas destruindo-se assim as sociedades.
O Templo ele mesmo, é um construtor de sociedades e de socialização e contém em a chave que permite ao iniciado compreender o objectivo do verdadeiro trabalho da verdadeira Arte Real.
Não é possível passar ao lado da riquíssima simbologia que existe neste elemento pedagógico que é o Templo, nem da generosidade da maçonaria que tudo coloca ao alcance daqueles que estão a dar os primeiros passos nas suas Oficinas.
É esta conduta de Amor, profundamente atípica no mundo profano, que pretende evitar que aqueles que iniciam o caminho maçónico errem no rumo que devem tomar, porque sabemos que um I\ que se extravie na escuridão da noite profana muito dificilmente reencontrará o caminho de volta que lhe permita reorientar a sua marcha, e isto é algo que já ocorreu com vários II\.
As simbologias do Templo traçam, claramente, uma linha divisória que separa a Maçonaria Regular da pseudo-maçonaria, ou o que quer que lhe chamem, divisória essa que nos permite compreender que a Maçonaria trabalha com e A\G\D\G\A\D\U\ que é, na realidade, quem preside ao trabalho dos Obreiros em L\, enquanto que a pseudo se vê limitada à parte física da condição humana.
A Maçonaria Regular desenvolve-se nas imprescindíveis dimensões Física e Espiritual, enquanto a pseudo fica agarrada à carnalidade do ser humano e apenas trabalha no plano do natural.
A verdadeira Maçonaria é uma carta de navegação encriptada que o G\A\D\U\ permite que a decifrem todos os que amam e têm a coragem de iniciar a viagem até ao centro de si mesmos, com todos os perigos que isso representa, mostrando-lhes assim o Caminho de regresso a Casa.
Está em cada um de nós tomar a decisão de seguir tal caminho ou outro, no pleno exercício do livre arbítrio que nos foi concedido.
Disse.
Traçada em Luanda aos 26 dias do sexto mês de 6 016

ARS    MM\