30 novembro 2011

A Maçonaria NÃO É uma sociedade secreta (V)



Já vimos que foi a alta hierarquia da Igreja Católica quem lançou e divulgou e repetiu que a Maçonaria era uma sociedade secreta. Hoje, o epíteto é glosado em vários tons pela comunidade dos teóricos da conspiração, pelos fundamentalistas religiosos de vários quadrantes e pelos ditadores de serviço em várias latitudes.

Os mais primários decretam que a Maçonaria é uma sociedade secreta... porque é, porque "toda a gente" o diz. A esses não importa que se lhes mostre que, em cada país, cada Obediência maçónica se estrutura e organiza no respeito da Lei do Estado, em regra organizando-se como associação sem fim lucrativo, constituída nos termos e pela forma legal e cumprindo as determinações legais quanto ao seu funcionamento, escolha e publicidade dos seus corpos gerentes, facultando, nos termos que a Lei determina as informações que a Lei determina, executando os comandos das leis fiscais, etc.. A esses nada importa.

A Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Associação constituiu-se por escritura publicada no Diário da República - III série, n.º 18, página 1378 (6), em 22/1/1997, com declaração de retificação publicada no Diário da República - III série, n.º 67, página 4989, em 20/3/1997? E depois? É sociedade secreta!

Tem o número de identificação fiscal 503 770 434? É número de sociedade secreta!

Tem sede e instalações sociais na rua João Saraiva, n.º 34, em Lisboa? Secretíssima!

Pode-se telefonar para lá através do número 218470903? É número confidencial, de certeza!

E pode-se comunicar por fax pelo número 218470905? Deve ser para esconder as comunicações...

E tem o endereço de correio eletrónico gs@gllp.pt? De certeza que só recebe mensagens cifradas...

E tem um sítio na Internet, acessível em www.gllp.pt? É só para enganar o pessoal: aquilo é mais secreto que os serviços secretos!

O seu Grão-Mestre é o advogado e gestor José Francisco Moreno e a sua fotografia e currículo até estão publicadas no tal sítio da Internet? Tudo falso! Tudo inventado! Aquilo é secreto!!

Aquilo é secreto porque eles não divulgam quem são os maçons! E não venham falar de que também não se sabe quem são os sócios das sociedades anónimas! Isso não são sociedades secretas. São só anónimas. Não precisamos de saber quem são os donos. Sabemos para que servem: para ganhar dinheiro a vender-nos caro o que não precisamos e caríssimo aquilo de que não podemos prescindir. As sociedades anónimas e as off-shores e essas coisas não têm nada de secreto. Mas esses maçons, esses sim, são perigosamente secretos!

Vejam lá que eles não divulgam o que fazem nas suas reuniões!!! Ainda se aquilo fossem Conselhos de Administração de Bancos ou de empresas, ainda se percebia, o segredo é a alma do negócio, mas que negócio é esse de aperfeiçoamento pessoal de que os maçons falam? Isso só pode ser fumo para nos enganar! O negócio deles é secreto, senão diziam a toda a gente (e nós, pobres teóricos da conspiração, não ardíamos em curiosidade insatisfeita...).

Aquilo é super-hiper-secreto! Fecham-se numa sala, não deixam entrar ninguém de fora e não dizem nada do que se passa lá dentro! E juram guardar segredo sobre o que lá se passa!

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Não, meus caros, o parágrafo anterior não é do teórico da conspiração . Fui eu que deixei voar o meu pensamento e os meus dedos o teclaram. Estava a pensar nos Conclaves de Cardeais que designam o novo Papa, sempre que a Cadeira de S. Pedro fica vaga...

Os cardeais fecham-se, muito cerimoniosamente, na Capela Sistina. Ninguém de fora lá pode entrar. É-lhes absolutamente interdito comentar ou divulgar, a quem quer que seja, o que debatem, como debatem, quem disse o quê, quem propôs quem, por juramento solene.

Mas isso não tem nada de secreto! Secreto, secreto, secreto mesmo só as reuniões dos maçons! Afinal dos conclaves ainda vai saindo fumo, ora negro, ora branco, pela chaminé. Os malandros dos maçons pelos vistos nem no Inverno usam lareira!!!

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Sabem que mais? Às vezes, rendo-me à razão do José Ruah! Tanto preconceito, tanta cegueira voluntária, por mais paciência que se tenha, acabam por cansar!

Não vale a pena argumentar mais com quem não quer ou não pode argumentar lógica e racionalmente.

Já neste blogue escrevi centenas de textos sobre o que fazemos, como o fazemos, a razão do que fazemos. Muito pouco guardamos para nós e, mesmo isso, dizemos o que é e porque o guardamos (quem estiver interessado, que leia o texto O segredo maçónico em http://www.rlmad.net/rlmad-main/mmenu-pranchas/715-segredo-maconico.html . Mais esclarecimento, só se nos despirmos e expusermos publicamente a nossa nudez! Parece que todos têm direito a alguma privacidade - exceto os maçons; à privacidade desses chama-se, incansavelmente, secretismo!

Por isso, por tudo o que está à vista, proclamo, alto e bom som: A Maçonaria NÃO É uma sociedade secreta!

Todos aqueles que desejarem continuar a insistir na tecla do secretismo, que se recusarem a pensar pela própria cabeça e se resignarem a seguir os teóricos da conspiração, os fundamentalistas religiosos e os ditadores de serviço, que apreciem muito a companhia!

Rui Bandeira

28 novembro 2011

Instrução em Maçonaria - V


E ao fim de uns anos larguei a música.

Não que tenha deixado de a ouvir (porque tocar … isso não é para mim) mas porque este ano deixei o cargo de Organista.

O Venerável pediu e o meu dever era aceitar o seu pedido e fui consequentemente fazer outras coisas.

Foram uns anos, mais de 3. Foi mais que isso, foi um percurso, um estudo e uma evolução. Tive a necessidade de entender sob um outro prisma o que se passava em Loja.

A leitura dos rituais não foi suficiente, as ordens de trabalhos insuficientes e muitas vezes incompletas ou tardias, as alterações de ultima hora comunicadas, e as não comunicadas.

O esquecimento que esta ou aquela cerimónia tinha também mais esta deslocação ou este momento de silencio.

Os momentos de silêncio e sua análise. Podiam ou não ser preenchidos por música? e sendo como ?

A aprendizagem de cada momento de cada sessão, a respectiva interiorização e visualização em pensamento e em memória “RAM equivalente” considerando ou pelo menos tentando considerar todos os movimentos e estimando quanto tempo duraria.

O ambiente particular de cada sessão e as diferenças de uma para outra, os diferentes ritmos dos Veneráveis, tudo isto era de primordial importância para a escolha da musica.

E ao chegar à escolha da música conclui que estava formatado. Tinha passado anos a ouvir esquemas musicais parecidos quer na RL Mestre Affonso Domingues, quer nas múltiplas Lojas que visitava. Havia um standard criado. Esta uniformização era tão mais forte que havia peças musicais que estavam elas próprias enraizadas e já faziam parte da mobília.

Na minha memória uma ou outra sessão na qual o anterior organista o Irmão Alexis tinha dado umas sacudidelas ao sistema.

E quando comecei embora não formatado, não saí muito fora do que era a regra. Todavia pouco a pouco comecei a trilhar um percurso, assente numa máxima:
“Tudo ou quase tudo pode ser tocado numa sessão de Loja”

E pensando assim fui estudando cada vez mais os rituais, conhecendo cada vez mais profundamente as cerimónias. Desse conhecimento resultaram várias coisas, mas para o caso aqui em apreço importa o tipo de percurso que se abriu à minha frente e que me levou do Barroco à música contemporânea fosse ela clássica ou rock, bandas sonoras de filmes. Abandonei assim os clássicos, o tradicional Mozart e os convencionais Beethoven, J.S. Bach e outros.

De repente Dire Straits, Scorpions, Eagles, Enya, Carlos Paredes e outros passaram a aparecer nos alinhamentos de cada sessão.

Ao fim de um tempo o paradigma de música numa sessão maçónica mudou, e mudou não porque simplesmente se abandonassem as peças musicais mais tradicionais, mas porque estava demonstrado que era possível ir em múltiplas direcções e não só numa apenas.

Também me dediquei um pouco à instrução, mas não tanto ensinando como fazer mas mostrando como se podia fazer diferente sem retirar qualquer brilho ou solenidade a uma sessão.

Um Mestre Maçon ao trabalhar no seu aperfeiçoamento, ao continuar a sua auto instrução e mostrando aos seus Irmãos independentemente do respectivo grau ou qualidade, que há sólidas formas de fazer coisas diferentes sem quebrar o prescrito no regulamento ou nas leis maçónicas, está a instruir.

E por aqui ficamos esta semana.

José Ruah

PS: deixo-vos aqui com 2 versões na mesma musica. Qualquer das versões foi usada por mim em ocasiões e momentos diferentes de sessões:


23 novembro 2011

A Maçonaria NÃO É uma sociedade secreta (IV)


Leão XIII retomou a sua cruzada contra a Maçonaria na sua encíclica de 8 de dezembro de 1892 Custodi de quella fede (texto integral em inglês aqui).

A unificação da Itália completara-se em 1870, com a anexação de Roma ao Estado italiano, apesar da forte oposição do Papa (só em 1929, com o Tratado de Latrão, a situação ficou resolvida, com a mútua aceitação da presente configuração política de uma República italiana e de um Estado papal, o Vaticano, no interior da cidade de Roma). Leão XIII, italiano, de seu nome civil Gioacchino Vincenzo Pecci, escreve esta encíclica do ponto de vista do clérigo italiano que vê a sua terra politicamente organizada de uma forma diferente da que ele gostaria. Efetivamente, a Maçonaria teve um grande e ativo papel na unificação italiana. Garibaldi e Cavour, os dois grandes artífices da mesma, foram maçons. Este enquadramento histórico permite entender melhor a grande animosidade de Leão XIII em relação á Maçonaria.

Nesta sua encíclica, Leão XIII começa por invocar a Humanum Genum, anunciando que neste novo texto se dedicará à explanação dos "deploráveis efeitos" da ação maçónica em Itália: a substituição do pensamento cristão pelo "naturalismo", da Fé pela Razão, da moral católica pela "moral independente", do progresso espiritual pelo progresso material, das leis dos Evangelhos pelas leis civis, que apelida de "código revolucionário", da escola, ciência e arte cristãs pelo "ateísmo e vil realismo". Poderão justificar-se, do seu ponto de vista, os restantes aspetos, mas, quanto à alegada substituição pelos maçons do progresso espiritual pelo progresso material, dificilmente poderia estar mais errado...

Para Leão XIII, a unificação italiana levada a cabo pelos maçons fez-se contra a Igreja Católica e as suas instituições. No fundo, afinal, Leão XIII protestava contra o fim do Poder Temporal do Papa, que obviamente lamentava. Para ele, a substituição do Poder Temporal da Igreja pelo poder civil em Itália só causava degradação, miséria, conflitos. Mais uma vez, vê-se como esta posição é datada e afetada pelos sucessos políticos e sociais da época.

Foi este o último grande pronunciamento da alta hierarquia da Igreja Católica durante muito tempo. O século XX trouxe à Humanidade evoluções e conflitos que colocaram a disputa da alta hierarquia da Igreja católica contra os maçons em segundo plano: a Grande Guerra de 1914-1918, os loucos anos 20, a Grande Depressão, a ascensão do nazismo e do fascismo, a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, a ascensão do Poder comunista e o levantamento da Cortina de Ferro, tudo isso reduzia o antigo conflito à sua real insignificância.

Após trepidantes sessenta anos, o Mundo mudou, a relação das pessoas com as suas fés também e João XXIII reconheceu-o. Teve a imensa lucidez e a arrojada força de convocar o Concílio Vaticano II, que veio a consagrar importantes ajustamentos e atualizações na relação da Igreja e seus oficiantes com a imensa massa de crentes, trazendo efetivamente a Igreja para a Modernidade. A evolução foi prosseguindo e, já no pontificado de João Paulo II, em 1983, foi publicado o novo Código Canónico que, em relação à Maçonaria, deixou de diretamente a fulminar com o labéu da excomunhão automática e o ferrete da impiedade. Com efeito, o cânone 1374, aquele que sobre o assunto diretamente se debruçava, passou a ter como texto:

“Aquele que se afilia a uma Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”.

Deixou de estar em causa a maçonaria, as "sociedades secretas", etc., mas apenas quem porventura se una a ou dirija "associação que conspira contra a Igreja". Como a Maçonaria Regular não conspira contra a Igreja Católica, antes a reconhece e aceita e com ela coopera, nos mesmos termos em que o faz com as outras Igrejas e religiões, considera-se excluída da previsão do cânone.

Porém, a dialética entre conservadorismo e modernidade no interior da alta hierarquia da Igreja Católica impôs que uma satisfação fosse dada aos mais conservadores. No mesmo dia em que foi publicado o novo Código do Direito Canónico, foi publicada uma Declaração Sobre a Maçonaria pela Congregação para a Doutrina da Fé (designação atual da estrutura eclesiástica que, em tempos passados, se designou por Santa Inquisição...), do seguinte teor:

Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da maçonaria pelo facto que no novo Código de Direito Canónico ela não vem expressamente mencionada como no Código anterior.
Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redaccional seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.
Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçónicas com um juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de Fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, p. 240-241).
O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a Audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaração, decidida na reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação.
Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de Novembro de 1983.
Joseph Card. RATZINGER
Prefeito
+ Fr. Jérôme Hamer, O.P.
Secretário

Aparentemente tudo afinal continua como dantes.

Mas uma análise mais fina permite detetar subtil diferença. Não há já encíclica papal a condenar a Maçonaria. A legislação canónica mudou para um texto que não condena a Maçonaria, advindo agora essa condenação, não do texto da lei, não de texto do Papa, mas apenas de um texto de um oficial da Cúria Romana, embora se declarando que com a aprovação do Papa. Mas não é a mesma coisa: é diferente se o Papa pessoalmente condena ou se se limita a aprovar que um subalterno o faça...

Em termos comparativos, esta situação é como se uma determinada conduta deixasse de ser diretamente prevista como crime pelo Código Penal, mas fosse publicada uma declaração do Chefe da Polícia, invocando a aprovação do governante, de que afinal continua essa conduta a constituir crime... Por mais voltas que se dê, o Chefe da Polícia é só isso, aplica as leis, não as faz. Tem direito a ter a sua interpretação delas, pode até invocar que o governante o autorizou a publicar a sua opinião e que a aprova mas... a lei é o que é, não o que ele deseja e entende. E se o Chefe da Polícia prende alguém que teve a conduta em causa, o Tribunal que irá decidir se ela afinal é crime ou não aplica a Lei em vigor, não a Declaração do Chefe da Polícia...

Dir-se-á, por outro lado, que o Cardeal Ratzinger, que emitiu a Declaração em 1983, é atualmente o Papa Bento XVI. Assim é. Mas o Papa Bento XVI, pelo menos até ao momento que que escrevo, não emitiu qualquer encíclica condenatória da Maçonaria, nem revogou nem alterou o Código do Direito Canónico....

Seja como seja, o relacionamento entre a alta hierarquia da Igreja Católica ainda tem muito por onde evoluir e certamente muito evoluirá. Ambas as instituições são duradouras e têm vocação de permanecer importantes para a Humanidade por muito tempo no futuro. Atrás de tempo muito tempo ainda há para vir.

Mas algo é certo: foi a alta hierarquia da Igreja Católica quem lançou a ideia de que a Maçonaria seria uma sociedade secreta; há muito, há mais de um século, que abandonou esse conceito e a sua contradição com a maçonaria existe ou não, permanece ou não, nos termos em que exista ou permaneça, não em face do primitivamente alegado secretismo, mas tendo em conta diferenças de ideias e contrastes de posturas (diferenças e contrastes que são legítimos e, porventura, naturais em instituições que são e é natural que sejam diferentes).

Feita esta resenha histórica e mostrado que mesmo quem lançou o labéu do secretismo já não o continua a afirmar, estamos então em condições de elencar e comentar os argumentos usados em prol do tal pretenso secretismo. Mas já não neste texto, que vai longo...

Rui Bandeira

21 novembro 2011

Instrução em Maçonaria - IV



Fico curioso! Eu aqui a falar de uma coisa, essencialmente de métodos que podem até ser transversais a outras áreas do conhecimento e os comentadores (por acaso sempre os mesmos) a comentarem ao lado.

Imaginemos por um instante que eu escrevia aqui sobre temas de culinária, aliás exemplo usado por um dos comentadores para explicar a outro qualquer comentador coisa que este ultimo teimava em não perceber, e os comentadores sempre questionando sobre carburadores e cilindros e outros assuntos de mecânica automóvel.

E que lendo e relendo o que escrevia, via com clareza que lá estavam métodos de cocção, formas de arranjar alimentos, maneiras de fazer molhos, apreciações objectivas sobre as quantidades dos ingredientes, da farinha, do sal, do azeite e do vinho.

Pequenos truques para as especiarias aromatizarem e para os óleos não se queimarem, enfim lendo e relendo e voltando a verificar que o escrito era mesmo sobre o tema anunciado e depois quando chegam os comentários só mencionam o entupimento dos injectores, as cambotas, e os cilindros deficientemente encamisados.

Dá que pensar! E sobretudo obriga a reflectir e a questionar. Será que escrevi mesmo sobre o tema anunciado, e se não escrevi? A bem dos simpáticos comentadores peço a terceiros, isentos, que me digam sobre o que escrevi e eles confirmam que de facto  escrevi sobre o tema que me tinha proposto.

Fico então a saber que sei escrever, ler, que também consigo ir soletrando e que não estou enganado.

Sou então assomado por uma pena, pena de pena que não pena de pena porque esta ultima por grande pena que fosse mesmo que me assomasse não me assomaria, sendo que a primeira por pequena que seja quando me assoma, assoma-me em profundidade.

Mas dizia eu que me assoma uma pena por ver que ainda há algumas pessoas que embora pensem que sabem ler, apenas conseguem juntar letras e dizer palavras. E dizem essas palavras convencidos que estão contribuindo com qualquer ideia.

Uma coisa seria se o que relato acontecesse fugazmente ou mesmo por ignorância, mas outra coisa é quando o meu convencimento é contrário, e na verdade uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, e não devemos confundir as coisas sob pena de as coisas se nos sobreporem, passando elas a serem as coisas das nossas circunstâncias, quando na verdade quando as coisas são bem separadinhas e arrumadinhas tudo fica clarinho e transparente.

Ora a recorrência da insistência em “bugalhar” quando o expectável seria “alhar”, é em si reveladora de perversidade
Acontece que se fosse a ignorância acima mencionada seria possível combate-la e por isso o trabalho neste espaço. Já a perversidade…

E porque a ignorância é possível combater se publicam neste espaço, artigos com conteúdos de qualidade e com profundidade, e felizmente por análise de retorno de informação é seguro saber que a grande maioria dos leitores vai aprendendo e logo o propósito de transmissão de conhecimento é cumprido.

Já quanto aos que não pretendem aprender, e que estão no seu direito, também não lhes assiste o direito de sequer tentar fazer com que se perca tempo com outros assuntos laterais.

Desengane-se quem pensar que este texto que aqui acaba não se enquadra na Instrução em Maçonaria.

E por esta semana ficamos por aqui.


José Ruah

18 novembro 2011

Duas certezas

Li recentemente, “ O Livro da Ignorância geral”, escrito por John Lloyd e John Mitchinson, onde encontrei a seguinte passagem, “ Nunca se definiu com êxito o que é que confere interesse às coisas – ou se percebeu por que motivo aquilo que não sabemos é muito mais interessante do que aquilo que sabemos”…e considerei este pequeno excerto mais que oportuno para esta altura, pois, devido a algumas publicações recentes em órgãos de comunicação social escritos, intituladas de “grandes investigações” se cria, como é habitual, um espetro negro sobre a Maçonaria.

Naturalmente, o que é divulgado sobre a nossa Ordem, deixa-nos sempre apreensivos e, julgo falar por todos ou por uma larga maioria, há sempre uma certeza patente, antes sequer de lermos os artigos, na sua grande maioria, o que é publicado, não corresponde à verdade.

Não falo, claro está de entrevistas aos membros que são publicamente assumidos na sua qualidade de maçom, pois esses, proferem declarações e essas ficam, para sempre, agregadas a quem as profere, mas esses são indivíduos com certezas e não precisam sequer de ponderar nas respostas, sabem o que dizer e conhecem a real intenção das perguntas, portanto, quanto a esses estamos perfeitamente descansados. E, não falo também da Maçonaria dos séculos passados, pois essa também está escrita e perfeitamente identificada, mas ainda assim, também aí, nem sempre bate a “bota com a perdigota”.

Enquanto maçom, não assumido publicamente, pois até utilizo para assinar os meus textos aqui no blogue um pseudónimo, embora o mesmo seja verdadeiro, as palavras agora vindas a público, causam-me alguma insatisfação, mais que não seja porque as mesmas não são inteiramente verdadeiras. Infelizmente é em posição de segredo que tenho de manter a minha condição, um dia, mais tarde, a assumirei. Assim o espero.

Reconheço algumas verdades nas agora publicadas, mas ainda assim, nem essas são totalmente verdadeiras, claro que a Maçonaria não é secreta, claro que não temos poder algum no Estado, obviamente que não somos ricos e famosos e na sociedade a influência que temos é tanta como parca. Agora, é reconhecido por todos, que muitos maçons ocupam lugares de destaque nos mais variados quadrantes e aí sim, a nossa ação é considerada poderosa, pois os nossos princípios são utilizados em todo e qualquer lugar, quer seja com os nossos amigos e em família, quer seja profissional e ocasionalmente, e todos o fazemos, os que admitem a condição e os que a não admitem. Permitam-me escrever aqui, não é defeito é feitio.

Somos sim, livres e de bons costumes, informados e atentos ao que se passa em todo o nosso redor, em todas as relações do nosso dia a dia, dedicamos tempo a algo a que os não iniciados não dedicam, ou seja, ao nosso interior e, no final, queremos tão pouco, tão só queremos crescer enquanto homens e é aqui que está o nosso segredo, a nossa evolução e o estar atento ao que se passa dá-nos o poder do conhecimento. Quem não reconhece que, desde sempre, conhecimento é poder?

Como iniciados, temos, entre muitas, também duas certezas, a primeira que tudo o que é escrito sobre nós é não mais do a vã tentativa de nos incomodar, destabilizar e até quem sabe tentar, no limite a nossa extinção, a segunda é tão simples quanto isto, a nossa cadeia de união é forte o suficiente para analisar tudo isto e estamos sempre prontos para qualquer eventualidade.

Mais uma vez, aplica-se o princípio, “é sempre mais fácil falar do que não conhecemos…”

Daniel Martins

16 novembro 2011

A Maçonaria NÃO É uma sociedade secreta (III)


Leão XIII
A Encíclica Humanum Genus, de Leão XIII (texto integral em português aqui) elenca as críticas da alta hierarquia da Igreja Católica à Maçonaria.

A primeira, não destituída de fundamento, na época, atento o acentuado anticlericalismo que a Maçonaria Liberal e então revolucionária manifestava, era a de que o propósito da Maçonaria era a destruição da Igreja:

Nesta época, entretanto, os partisans (guerrilheiros) do mal parecem estar se reunindo, e estar combatendo com veemência unida, liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente organizada e difundida chamada os Maçons. Não mais fazendo qualquer segredo de seus propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus. Eles estão planeando a destruição da santa Igreja publicamente e abertamente, e isso com o propósito estabelecido de despojar completamente as nações da Cristandade, se isso fosse possível, das bênçãos obtidas para nós através de Jesus Cristo nosso Salvador.

A segunda era a do perigo, que entendia nalguns casos já concretizado, do domínio dos Estados pela Maçonaria:

Em consequência, a seita dos Maçons cresceu com uma velocidade inconcebível no curso de um século e meio, até que se tornou capaz, através de fraude ou audácia, de obter tal acesso em cada nível do Estado de modo a parecer quase a sua força governante. Este veloz e formidável avanço trouxe sobre a Igreja, sobre o poder dos príncipes, sobre o bem estar público, precisamente aquele grave dano que Nossos predecessores tinham previsto muito antes. Tal condição foi atingida que de agora de diante haverá grave razão para temer, não realmente pela Igreja - porque sua fundação é firme demais para ser derrubada pelos esforços dos homens - mas por aqueles Estados em que prevalece o poder, ou da seita da qual estamos falando ou de outras seitas não diferentes que curvam-se a ela como discípulas e subordinadas.

A terceira era que considerava a Maçonaria como criadora ou veiculadora das "doutrinas dos socialistas e comunistas", da legalização do divórcio e dos sistemas de governo democráticos e republicanos:

Nós já por muitas vezes, conforme as ocasiões surgiram, atacamos alguns pontos principais dos ensinamentos que demonstraram de uma maneira especial a perversa influência das opiniões Maçónicas. Assim, em nossa carta encíclica, Quod Apostolici Muneris, Nós Nos esforçamos por refutar as monstruosas doutrinas dos socialistas e comunistas; depois, em outra começando com "Arcanum", Nós penosamente defendemos e explicamos a verdadeira e genuína idéia da vida doméstica, da qual o matrimónio é o ponto de partida e a origem; e novamente, naquela que começa com "Diuturnum"[11], Nós descrevemos a ideia de governo político conforme os princípios da sabedoria Cristã, que é maravilhosa em harmonia, por um lado, com a ordem natural das coisas, e, por outro lado, com o bem-estar tanto dos príncipes soberanos quanto das nações. É agora Nossa intenção, seguindo o exemplo de Nossos predecessores, tratar diretamente a própria sociedade maçónica, todo o seu ensinamento, seus objetivos, e a sua maneira de pensar e agir, de modo a trazer mais e mais à luz seu poder para o mal, e fazer o que Nós pudermos para deter o contágio desta peste fatal.

A quarta crítica é curiosa: por um lado, reconhece que os maçons se reúnem à "luz do dia e à vista do povo, e publicam seus próprios jornais"; por outro, continua a verberar o que considera serem caraterísticas de sociedade secreta, que entende ser da "natureza e hábitos" da Maçonaria:

Agora, estes não mais mostram um desejo de permanecer escondidos; pois eles realizam seus encontros à luz do dia e à vista do povo, e publicam seus próprios jornais; e contudo, quando completamente compreendidos, descobre-se que eles ainda retêm a natureza e os hábitos de sociedades secretas. Há muitas coisas como mistérios que é regra fixa esconder com extremo cuidado, não somente de estranhos, mas de muitos e muitos membros, também; tais como seus desígnios secretos e últimos, os nomes de seus maiores líderes, e certos segredos e encontros privados, assim como suas decisões, e os caminhos e meios de executá-las.

No entanto, logo de seguida percebe-se que o famoso secretismo da Maçonaria não é afinal, tão secreto assim, pois - com acerto, note-se bem! - logo se descreve em que consistem afinal os "mistérios que é regra fixa esconder com extremo cuidado":

Os candidatos são geralmente ordenados a prometer - e mais, com um especial juramento, a jurar - que eles não irão nunca, a nenhuma pessoa, em qualquer tempo ou de qualquer modo, dar a conhecer os membros, as senhas, ou os assuntos discutidos.

A quinta crítica constitui, no meu entender, a verdadeira contradição entre a Maçonaria e a conceção do mundo e da religião da alta hierarquia da Igreja Católica, a influência do pensamento iluminista e racionalista na Maçonaria e a sua não exclusão da conceção deísta, que, em execução do princípio da tolerância, é admitida na Maçonaria, tal como o é a conceção teísta, esta a única admitida pelas religiões baseadas na Revelação Divina, e a recusa maçónica do conhecimento escolástico, em favor da ciência experimental:

Agora, a doutrina fundamental dos naturalistas, que eles tornam suficientemente conhecida em seu próprio nome, é que a natureza humana e a razão humana deveria em todas as coisas ser senhora e guia. Eles ligam muito pouco para os deveres para com Deus, ou os pervertem por opiniões erróneas e vagas. Pois eles negam que qualquer coisa tenha sido ensinada por Deus; eles não permitem qualquer dogma de religião ou verdade que não possa ser entendida pela inteligência humana, nem qualquer mestre que deva ser acreditado por causa de sua autoridade. E desde que é o dever especial e exclusivo da Igreja Católica estabelecer completamente em palavras as verdades divinamente recebidas, ensinar, além de outros auxílios divinos à salvação, a autoridade de seu ofício, e defender a mesma com perfeita pureza, é contra a Igreja que o ódio e o ataque dos inimigos é principalmente dirigido.

Mas, para Leão XIII, a insidiosa seita maçónica propala ainda mais perigosas ideias:

Por um longo e perseverante labor, eles esforçam-se para alcançar este resultado - especificamente, que o ofício de ensinar e a autoridade da Igreja tornem-se sem valor no Estado civil; e por esta mesma razão eles declaram ao povo e argumentam que a Igreja e o Estado devem ser completamente desunidos. Por este meio eles rejeitam das leis e da nação a saudável influência da religião Católica; e eles consequentemente imaginam que os Estados devem ser constituídos sem qualquer consideração pelas leis e preceitos da Igreja.

Traduzindo: os maçons pregam a separação entre o Estado e a Igreja! A dura batalha que a Igreja Católica então travava era contra a perda do seu Poder Temporal, a favor da manutenção dos Estados Confessionais, com religião de Estado, com todas as consequências a isso inerentes. Batalha essa que, pouco mais de um século volvido, sabemos que foi perdida. Hoje, a laicidade dos Estados é a regra, a Liberdade Religiosa, entendida como a liberdade de cada um ter ou não ter religião e de todas as confissões religiosas poderem livremente exercer o seu múnus é regra consensual, pelo menos nos países democráticos ocidentais. Hoje, até a Igreja Católica aceita este princípio. Há pouco mais de um século, maçons e hierarquia eclesiástica católica estavam em campos opostos neste aspeto - e verificou-se que eram os maçons que estavam no lado certo! Hoje, cabe a todos, maçons incluídos, expressarem a sua satisfação por a hierarquia eclesiástica católica se ter entretanto e finalmente juntado aos demais nesse lado certo!

Seja como seja, no final do século XIX, a doutrina da Igreja era outra, a luta entre a "sociedade antiga" e a modernidade estava no auge. Como facilmente se verifica através da leitura da longa encíclica, Leão XIII considera que os maçons são os porta-vozes daquilo a que chama "os naturalistas", das conceções iluministas, racionalistas, experimentalistas, em contraponto ao que então a Igreja Católica representava e defendia: a escola escolástica, a superior validade da Verdade Revelada em relação às descobertas da Ciência, o direito divino de governar concedido a alguns, em contraponto à essencial igualdade de todos os cidadãos, defendida pelos cultores da Modernidade, a defesa do Estado Confessional Católico contra o Estado laico e a Liberdade Religiosa.

A condenação de Leão XIII da Maçonaria não é já feita em nome da sua pretensa condição de "sociedade secreta" (reduzida a breve e praticamente irrelevante referência), mas sim em função da constatação da existência de consideráveis diferenças de pensamento em relação a várias questões de organização social, de conceção da Sociedade, de valoração e consideração dos direitos e liberdades individuais, entre dois campos: o dos que Leão XIII chama de "naturalistas", onde inclui os maçons, e o das conceções vindas dos fundos dos séculos, que a Igreja Vaticanista continuava então a defender.

Discordo - não tanto, ou não principalmente, como maçom, mas, afinal, como homem deste século XXI - das conceções expressas na encíclica Humanum Genus. Mas, afirmada essa discordância, impõe-se o reconhecimento de que se trata de um documento notável. Datado, é certo. Expressando ideias políticas e sociais que considero erradas e que felizmente a evolução social reduziu à sua atual insignificância. Afirmando conceções religiosas que são diversas das minhas e que creio até diferentes de muitas das seguidas pelos atuais crentes católicos, mas que só me cabe respeitar e nunca julgar. Traduzindo, genericamente, a expressão de um pensamento ultrapassado pela evolução da sociedade, tem porém o notável mérito de deslocar a discussão do pretexto ("sociedade secreta") para a verdadeira questão: as diferenças de pensamento, de ideias e ideais, de conceções sociais. E isso merece-me todo o respeito!

Que a maior parte das conceções de Leão XIII (pondo-se de parte as especificamente atinentes às questões religiosas, que não discuto e não entram nesta discussão) se tenham revelado, pouco mais de um século depois, erradas, ultrapassadas, vencidas e varridas pela Modernidade, em prol precisamente das conceções que rejeitava e condenava, dos por ele chamados "naturalistas" e, nestes, dos maçons - é apenas um bónus! Gera alguma satisfação, mas também impõe a consideração de que aquelas ideias, daquele Papa, daquele tempo, não são já as ideias da Igreja Católica atual, que também evoluiu.

E, tal como os maçons de hoje têm todo o direito de se recusar a serem julgados e avaliados pelos eventuais erros dos seus antecessores, de igual modo não devemos julgar a Igreja e o clero de hoje pelo de tempos passados. Sobretudo, porque proclamamos bem alto que Leão XIII estava completamente equivocado, absolutamente enganado, numa coisa: já no seu tempo, e assim continua hoje, a Maçonaria e os maçons não são inimigos da Igreja Católica ou de qualquer outra Igreja, da religião católica ou de qualquer outra religião. A Maçonaria e os maçons consideram todas as Igrejas, todas as religiões, igualmente respeitáveis e todas respeitam, independentemente da crença individual específica de cada um deles.

Afinal, pouco mais de um século passado sobre Leão XIII, é tempo de que se entenda que a Maçonaria e a Igreja Católica, a religião católica, não são inimigos, nem sequer adversários. Pelo contrário, sendo instituições diferentes, têm inimigos comuns: o obscurantismo, a desigualdade, a tirania, o fundamentalismo.

E não há nada de secreto nisto!

Rui Bandeira

14 novembro 2011

Instrução em Maçonaria - III


“Estou suficientemente instruído” é, estou certo disso, o que muitos pensam quando chega a altura de estarem em crer que é o momento de passar de grau ou de ocupar uma função. E quando assim pensam abrandam o estudo e a respectiva auto instrução.

É, eventualmente, mais recorrente o pensamento nos Mestres, porque acham que como já podem falar, usar da palavra para dizer coisas estão num patamar em que o conhecimento adicional é acessório e que logo deve passar para segundo o terceiro plano.

Provavelmente também terei pensado assim, nos idos de 1992 quando atingi o grau de Mestre Maçon e pensei que tinha chegado. Na verdade acabara de partir, de iniciar a grande viagem da Maçonaria, aquela que só termina no momento de passar ao Oriente Eterno.

Não percebi isso imediatamente. Demorei a perceber que nessa viagem é necessário reequacionar os fundamentos, reler o lido e voltar a ler novamente. Pensar nas origens, no que levou a que esta ou aquela forma de fazer aparecesse.

Questionar o que era feito, descartar opções, relembrar uma lição de um professor que quando lhe apresentei um método alternativo para resolver um problema, me disse: “ sim dessa maneira consegue reduzir o número de passos e tornar mais rápida a resolução, até chegar ao ponto em que tem que tomar uma decisão e verifica que não tem alternativas. Na verdade o seu método é a forma mais rápida de chegar à asneira. Mas gostei do esforço” .

Hoje em dia fico com a sensação que alguns dos meus pares, acham que lhes assiste a capacidade de modificar, “embelezar”, suprimir, substituir partes ou formas de desempenho ritual.

Acham apenas porque lhes parece, e acabam por ser como eu perante o meu professor, consegui um método que me fazia chegar mais rapidamente à asneira.

Estudar, eventualmente desconstruindo o que está à nossa frente, não quer necessariamente dizer que podemos construir novamente à nossa imagem e semelhança, deixando de fora umas peças e pondo outras em substituição ou acrescento.
Há que saber perceber as fontes e com essa percepção o reconstruir, primeiro tal qual estava, permite-nos o entendimento do porquê da concepção original.
Apenas e só esse conhecimento, resultante do nosso trabalho faz com que se aprenda o que outros antes nós fizeram e porque o fizeram.

Mais tarde poderemos eventualmente congeminar outras hipóteses, e tratar de validá-las. E se houver sucesso nesse processo, então juntar o que conseguimos criar ao conhecimento já existente é uma obrigação.

Uma boa forma de auto instrução é o conhecimento do ritual. Não o conhecimento maquinal do mesmo, sabendo-o de cor e salteado tipo recitação na escola, mas o conhecimento do que ele significa e pretende significar. O que nos diz, para quem está dirigido, como é que isso acontece.

Mas não chega! Há que vivenciar o ritual, executá-lo sentindo-o. E assim surgiu a ideia de uma nova forma de instrução transmitida.

Porque evidentemente que o conhecimento não pode ser uma coisa proprietária de alguns, apesar de haver quem assim pense e pretenda implementar a ditadura do conhecimento – só eu é que sei, não ensino a ninguém, e logo não podem passar sem mim – constituindo-se em homens providenciais.

E essa nova forma de instrução assenta no proporcionar a quem ainda não pode executar o ritual e assim vivencia-lo de forma mais plena. Assim foi criada a figura do “ Sombra” e que não é mais que pôr um aprendiz ou companheiro a mimetizar o que o Mestre de  Cerimónias  faz durante uma sessão.

A assim se conclui mais uma etapa na instrução em Maçonaria.


José Ruah

PS:  este pequeno texto sem nada de especial vai dedicado ao Rui Bandeira.