17 outubro 2008

A ajuda

Dizem que uma imagem vale por mil palavras.

E um encadeado de imagens e de sons num filme, por quantas palavras vale?

Hoje não vos trago um texto como base de reflexão. Hoje trago-vos um filme.

A situação é a seguinte:

Uma menina de 13 anos ganhou um prémio e foi cantar o hino nacional dos Estados Unidos nu jogo da NBA, liga de basquetebol profissional daquele país. Vinte mil pessoas no pavilhão, ela afinadinha. Então o braço tremeu, ela engasga-se e esquece-se da letra...Una branca !!!


Treze anos. Sozinha, ali no meio... O público, estupefacto, ameaça uma vaia. De repente, Mo Cheeks, técnico dos Portland Trail Blazers, aparece ao seu lado e começa a cantar, incentivando-a a ela e ao público. E a menina recupera e reganha confiança e acaba de cantar o hino, com força e vigor. E o público, que esteve a ponto de vaiar, acompanhou e aplaudiu. Bonita cena! Mas só porque alguém soube intervir acertadamente na hora adequada! Só porque alguém foi solidário e agiu, em vez de ficar apenas a ver!


Note-se: só o técnico é que tomou a iniciativa de ajudar, enquanto os demais só observavam estupefactos...

Ele demonstrou o que é ser verdadeiramente líder. Mostrou como uma atitude de liderança e solidariedade, no momento exato, pode fazer a diferença para ajudar um ser humano e mudar a história do jogo da vida.

E, assim, para mim mostrou que também sabe intervir quando necessário para ajudar os seus jogadores a mudar o rumo de um jogo. Se eu fosse dirigente de um clube de basquetebol, este era o técnico que eu procuraria contratar para a minha equipa. Não basta saber de técnicas e de táticas. Saber ser líder, saber ser solidário, saber atuar na hora certa, no momento exato, são as qualidades que muitas vezes fazem a diferença.

Espero que os Portland Trail Blazers tenham ganho este jogo! Ganharam, pelo menos, mais um adepto!

E nós? Estamos no mundo para ajudar ou para vaiar? Para assistir passiva e placidamente à queda dos outros, ou para intervir e ajudar quem precisa de ajuda, no momento em que ela é necessária?

Pensem nisso enquanto veem o filme!



Rui Bandeira

16 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XII


BASE XII

DO EMPREGO DO ACENTO GRAVE

1º) Emprega-se o acento grave:

a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as);

b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).

Esta Base, simples, curta e de fácil compreensão, consagra o uso do acento grave como se vem fazendo desde há já algum tempo, em ambos os lados do Atlântico.

Uma das dificuldades de quem está a aprender a escrita do português ou tem apenas conhecimentos básicos sobre a língua é, por vezes, distinguir, na escrita, à de (terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo haver). Sendo a pronúncia de ambas as palavras idêntica, por vezes algumas pessoas hesitam quanto à forma de exprimir graficamente uma delas. Eis um método simples e rápido de desfazer a dúvida: substituir mentalmente na frase a palavra que se tem dúvida se é à ou por existe. Se a frase continuar a fazer sentido, então está-se perante a flexão verbal do verbo haver e deve escrever-se ; se a frase não fizer sentido, então está-se usando a contração da preposição com o artigo ou pronome e deve escrever-se à.

Não tem propriamente a ver com o Acordo Ortográfico, mas recordar este pequeno truque pode ajudar-nos a superar uma dúvida repentina...

Rui Bandeira

15 outubro 2008

Teísmo


Em textos anteriores, mostrei como as versões em inglês, francês e português da Wikipedia apresentavam definições aparentemente diversas e, até, opostas, do conceito de deísmo e como, afinal, vendo-se com mais atenção todas acabavam por confluir na noção de que o deísmo "pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição".
Esta noção de deísmo parece conter em si, como contraponto, uma noção de teísmo, ou seja, que este enfrenta a questão da existência de Deus através de elementos constantes nas religiões estabelecidas, tais como a Revelação divina, o dogma ou a tradição.
Proponho que não nos fiquemos por aqui e testemos a validade da afirmação utilizando o mesmo método com que atingimos a noção de deísmo.
Na versão em inglês da Wikipedia, define-se teísmo como (tradução livre minha) sendo, no significado mais abrangente, a crença em, pelo menos, uma divindade. Um significado mais restrito exige que a divindade em que se crê seja uma entidade distinta e identificável, assim excluindo do conceito o panteísmo. Outro significado igualmente mais restrito especifica que a divindade ou divindades deve ou devem constituir uma força imanente e ativa no Universo, assim excluindo alguns entendimentos de deísmo (já nos dois artigos sobre a matéria por mim refutados) . O teísmo pode ser dividido em diferentes categorias, como, por exemplo, monoteísmo e politeísmo.
Já na versão em francês da enciclopédia virtual, podemos ler que (ainda tradução livre minha) o teísmo (do grego theos, Deus) é uma crença ou doutrina que afirma a existência de de um Deus ou de deuses e a sua influência no Universo, tanto na sua criação como no seu funcionamento. Segundo o teísmo religioso, a relação do homem com Deus ocorre através de intermediários (a religião). Segundo o teísmo filosófico, Deus rege o Universo diretamente. O teísmo opõe-se ao ateísmo. Entre as formas de teísmo, pode-se referir o panteísmo, o monoteísmo e o politeísmo.
Por fim, atentemos no que vem escrito na versão em português da Wikipedia: Teísmo (do grego Theós, "Deus") é um conceito surgido, no século XVII (por R. Cudworth, 1678), que sustenta a crença em Deus, opondo-se ao ateísmo. Podemos dividir o Teísmo em Monoteísmo (crença em um só Deus), Politeísmo (crença em vários deuses) e Henoteísmo (composta de veneração de um Deus Supremo, mas não nega a existência de outros).
Como vemos, a confusão entre as diferentes versões da Wikipedia permanece. Neste caso, porém, nem a versão em português se salva, pois remete para uma definição de um autor do século XVII, que se revela - como iremos ver - viciada.
Quanto ao que afirma a versão em inglês, começo por fazer notar que a definição de um conceito é a enunciação das suas caraterísticas intrínsecas e distintivas das demais realidades. Não faz, pois, sentido considerar como definição do conceito, o significado geral e os particulares, ou um destes. Há que optar! A versão em inglês da Wikipedia limita-se a dar conta de diversas posições, sem optar em termos de mérito ou acerto. O que faz é despejar várias noções, incompatíveis entre si e, quem quiser, que raciocine, que escolha, que opte, que critique. Ou seja, não fornece propriamente uma definição do conceito, já que não pode constituir definição o que pode ou não pode incluir o panteísmo, o que pode ou não pode incluir o deísmo. As versões "restritas" destinam-se. manifestamente, a excluir algo com que os seus cultores não concordam que integre o conceito.
Para uns panteísmo não é teísmo. O que, se partirmos do princípio que teísmo se opõe a ateísmo, classifica os panteístas como ateus. É uma discussão antiga, mas não é peditório para que aqui se deva dar... Aqui e agora trata-se de verificar o que é teísmo, não de "decretar" se um panteísta é crente ou ateu. Esta singela constatação basta para demonstrar como a conceção "restrita" de teísmo que exclui do conceito o panteísmo está viciada de inversão: foi criada primacialmente para excluir, para considerar ateu o panteísta, não para procurar entender o conceito de teísmo. Não é uma definição - é um preconceito!
Mais grave ainda, em termos lógicos, parece ser a conceção restrita de teísmo que exclui do âmbito do conceito o deísmo (e já em textos anteriores vimos que a distinção teísmo /deísmo através da crença intervenção divina ativa no funcionamento do Universo está incorreta e é uma falácia). É que, se teísmo se opõe a deísmo, qual deles se opõe a ateísmo? Ou opõem-se ambos e então temos dois conceitos opostos mas três conceitos opostos entre si, numa espécie de oposição triangular: teísmo opõe-se a ateísmo; teísmo opõe-se a deísmo; deísmo opõe-se a ateísmo)?. Tanto basta para se verificar um salto lógico (já anteriormente denunciado) no critério "crença num Deus interventivo/ crença num Deus passivo" para definir teísmo e deísmo...
Os conceitos "restritos" oferecidos pela enciclopédia virtual em inglês não são, pois, satisfatórios. Mas também não satisfaz o conceito "abrangente2, que postula ser teísmo a crença em, pelo menos, uma divindade. É que esta definição, bem vistas as coisas, não define completamente. Esclarece-nos que teísmo é diferente de ateísmo, por isso que este pressupõe que este não crê na existência de divindade. Mas, declarando apenas o que declara, inclui no conceito o deísta. Com efeito, o deísta crê em, pelo menos, um Deus... De onde a definição não distingue o conceito de todos os outros. É incompleta. Algo mais há que lhe acrescentar. Sabemos que deísmo e teísmo partilham a crença no Divino. Falta saber em que se diferenciam.
A versão em português da Wikipedia navega nas mesmas águas, não distinguindo teísmo de deísmo.
A versão em francês desta enciclopédia também não ajuda muito! A primeira definição que fornece é exatamente a mesma que forneceu quanto a deísmo. Ou seja, para esta versão, teísmo e deísmo têm exatamente a mesma definição - apesar de serem conceitos diferentes... O disparate prossegue com a distinção entre "teísmo religioso" e "teísmo filosófico", sendo que, aparentemente, aquele considera que Deus intervém através de capatazes e este que Deus, se quer o trabalho feito, tem de o fazer ele próprio... Obviamente que não são distinções destas que nos esclarecem....
Qual então, a meu ver, a definição de teísmo que devemos considerar? Simplesmente a que decorre da sua contraposição (não oposição, note-se...) ao deísmo: Teísmo resulta da crença na existência de Deus através da fé, designadamente resultante da crença na Revelação em textos sagrados e ou nas profecias de portadores de mensagens tidas como oriundas da Divindade.
Neste sentido, as Religiões do Livro (judaísmo, cristianismo e islamismo) pretendem todas que os seus seguidores sejam teístas, isto é, sejam crentes nas Revelações das Escrituras e dos Profetas.
Esta noção é importante para analisarmos a relação entre deísmo e teísmo. Será esse o objeto de um próximo texto.
Rui Bandeira

14 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XI


BASE XI

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PROPAROXÍTONAS

1º) Levam acento agudo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que terminam por seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.

2º) Levam acento circunflexo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/tônica, e terminam por seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.

3º) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/ fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue.


Esta Base em nada inova relativamente ao praticado, quer em Portugal, quer no Brasil, quer nos demais países lusófonos.

Mantém o critério, que é uma das traves-mestras do Acordo Ortográfico, de prever variantes de acentuação, consoante a pronúncia de vogal seja aberta ou fechada. Em regra, havendo discrepância de pronúncias, verifica-se que em Portugal se pronuncia a vogal tónica aberta, logo, devendo ser acentuada, utiliza-se o acento agudo e que no Brasil se pronuncia a vogal fechada que, se dever ser acentuada, o é com acento circunflexo.

Palavras proparoxítonas são as palavras cuja sílaba tónica é a antepenúltima, também designadas por palavras esdrúxulas.

Esta Base é um exemplo evidente de como o texto do Acordo Ortográfico, na preocupação de ser cientificamente correto e completo, se torna de leitura árida, difícil e complicada. Com efeito, todas as previsões desta Base se podem resumir numa única frase, certamente de mais fácil entendimento do que o indubitavelmente completo, mas complexo, texto nela utilizado:

A
vogal da sílaba tónica/tônica das palavras proparoxítonas (esdrúxulas) é sempre acentuada, com acento agudo ou acento circunflexo, consoante o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua.

Bastante mais simples, não é?

Rui Bandeira

13 outubro 2008

Excalibur


Excalibur é o nome da espada do Rei Artur, na saga dos Cavaleiros da Távola Redonda. Excalibur é também o nome da Loja n.º 46 do registo da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

Há dias, fiz algo que, por temperamento, opção e condições de vida, muito raramente faço: fui visitar uma outra Loja - precisamente a Excalibur. Normalmente, o meu estilo é mais bicho-do-mato, acantonado na sua toca de que, seguro e confortável, conhece todos os cantos, recantos e esconderijos. No meu caso, e no que respeita à Maçonaria, a minha toca é a Loja Mestre Affonso Domingues. Do seu espaço, por regra só saio em bando, isto é, em grupo com outros elementos, em visitas programadas, agendadas e meticulosamente preparadas. Vamos todos ou bastantes, vai a Loja e eu nela. Não vou sozinho. É assim uma espécie de vou, mas fico... Coisas de bicho-do-mato... Mas, uma vez não são vezes, estava para ali virado e, pronto, apenas acompanhado de mim mesmo resolvi aproveitar uma noite livre e ir visitar outra Loja. E lá fui à Excalibur!

Não foi tão por acaso quanto isso e quanto dou a entender no parágrafo anterior - confesso! Há uns meses tinha sido convidado para lá ir e entendi por bem declinar o convite. Pruridos meus... Na instalação do atual Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, a Excalibur deu-nos o prazer de estar connosco e de se fazer representar pelo elemento que me tinha dirigido o declinado convite. Mal me viu, atirou à queima-roupa: "Estás-nos a dever uma visita!" E eu lá assobiei para o lado, fingindo que não era nada comigo, mas interiormente remoendo que o atirador da frase me atingira em cheio, que a mim isto de ser devedor é coisa que me deixa com um desconforto moinhento, que não mata nem dói, mas me vai paulatinamente moendo e moendo... Fraquezas... Foi assim que lá decidi tirar as minhas tamanquinhas e lá ir saldar a minha dívida!

Não é por acaso que um dos costumes maçónicos mais apreciados é precisamente o de visitar outras Lojas. Bem o sei, mas a minha bicheza-do-mato e outros condicionalismos vão-me puxando para a raridade de tais cometimentos. O que tem a inegável vantagem de me permitir apreciar superlativamente visita que, lá de muito longe em longe, faço. Afinal de contas, aprecia-se muito mais o que é raro do que o que é corriqueiro, não é? (Façam o favor de reparar na habilidade com que me auto-justifiquei da raridade das minhas visitas, assim a modos que a deixar cair que haverá quem seja um habitué de visitas, mas eu cá sou muito mais requintado, sou um visitante gourmet que faz questão de apreciar o que é raro...).

Chegados a este quinto parágrafo, quem (ainda) me está lendo já vai sendo titilado pelo pensamento de que "hoje este tipo / gajo / fulano (considerar a opção preferida) não ata nem desata e nunca mais avança: já se percebeu que é raro ele ir visitar outras Lojas. Pronto, uma frase chega, e está este ##### (introduzir insulto favorito) para aqui a engonhar para quê?".

Eu explico: a visita à Excalibur deixou-me realmente muito bem disposto e quando eu estou neste estado de boa disposição exaltada fico como vocências podem constatar, dá-me para escrever assim ligeirinho, borboleteando texto fora sem rumo definido, escrevendo apenas pelo prazer de escrever.

A visita à Excalibur foi gloriosa! Conheci gente 5 *****, vi a Loja Excalibur trabalhar umas vezes como a minha Loja, outras fazer diferente dela (esta é uma das riquezas das visitas de maçons a outras Lojas: apreciar as semelhanças e diferenças em relação à sua), estive numa reunião interessante, bem conduzida pelo Venerável Mestre e bem trabalhada pelos Oficiais em exercício, participei num convívio que só se pode adjetivar com justiça se se usar agradável no superlativo.

Sobretudo, tive o grande prazer de ver um grupo coeso, fraterno e dedicado. Não é um grupo muito grande. A Loja Excalibur não é uma Loja com uma grande dimensão. É relativamente recente, passou por uma grande crise, de que ainda está a recuperar. E fiquei muito feliz por ver,
ao vivo e a cores, que está a recuperar muito bem, que os mais antigos da Loja saíram fortalecidos da crise e hoje transpiram confiança e satisfação por o seu esforço começar a dar frutos, e que os mais novos são elementos de apreciável valor que, a seu tempo, pegarão no testemunho e saberão prosseguir a senda de crescimento e de inovação que visivelmente a Excalibur já trilha.

As Lojas são como as pessoas: não se medem aos palmos. E a Excalibur, atesto-o, certifico-o, assino por baixo, ponho lacre e selo em branco, é UMA GRAAAANDE LOJA!!!

Percebem agora porque estou contente como um cachorrinho e me deu para esparvoar em texto ligeirinho e errante. É que não há nada que me ponha melhor do que ver os meus Irmãos bem! E, sabendo como sabia que a Excalibur tinha tido que ultrapassar uma crise e superar dificuldades não negligenciáveis, vê-la pujante, esperançosa, inovadora, só podia deixar-me com esta boa disposição toda!

E, já agora, também ficaram a perceber a sorte que têm em eu ser bicho-do-mato e só muito raramente ir visitar outras Lojas. Já viram o que era se começasse a tornar-se um hábito a boa disposição dar-me para me pôr a usar o teclado em textos como este? Não havia nem ponta de paciência para me aturar! E vocês é que ainda acabavam A Partir Pedra - para ma atirarem à cabeça....

(Bom, hoje não dá; é melhor mesmo parar por aqui, antes que o nível de disparate atinja níveis intoxicantes...!)

AH! GAND'A EXCALIBUR! FIQUEI FÃ! (Até sou capaz de vos voltar a visitar... daqui a uns anos...)

(Raio do teclado! Nunca mais para! Como é que se tiram as pilhas desta coisa? Eu bem disse que a ideia de me darem com a Excalibur na cabeça ia dar mau resultado...)

Rui Bandeira

11 outubro 2008

Se eu soubesse ...



Se algum dia eu soubesse que nunca mais te veria,
Dar-te-ia um abraço mais forte e pediria ao G.'. A.'. D.'. U.'.
Para o guardar para a ressurreição.

Se eu soubesse que seria a última vez que te via
Saindo para sempre do templo, do Ágape,
Dar-te-ia um fortíssimo T.'. F.'. A.'.
E chamar-te-ia para te dar mais um.

Se eu soubesse que seria a última vez que ouvia a tua voz
Na Palavra a Bem da Ordem,
eu gravaria cada movimento e cada palavra,
Para revê-los depois todos os dias.

Se eu soubesse que seria a última vez
Que eu poderia parar mais um ou dois minutos
Para te dizer "meu querido Ir .'. como gosto de ti"
Eu diria, ao invés de deixar que tu presumisses.

Se eu soubesse que hoje seria o último dia
A compartilhar contigo,
tenho certeza de que o sentiria muito mais intensamente
em vez de deixá-lo simplesmente passar.

Sempre acreditamos que haverá o amanhã para corrigir
um descuido e para ter uma segunda chance de acertar.

Será que haverá, sempre, um outro dia
Para expormos os nossos sentimentos?

Haverá sempre uma chance para dizer
"Meu Querido Ir.'., posso fazer alguma coisa por ti"?

O amanhã não é garantido para ninguém,
Sejam para jovens ou mais velhos,
e hoje pode ser a última oportunidade
De abraçarmos aqueles que amamos.

Então, se estamos à espera do amanhã,
Por que não agirmos hoje?

Assim, se o amanhã nunca chegar,
não teremos o arrependimento
De não termos aproveitado
um momento para um sorriso,
para um abraço, uma gentileza,
porque estávamos muito ‘ocupados'
para dar a um Ir.'. o que poderia ser o seu último desejo.

Abracemos hoje aqueles IIr.'.
Que amamos, falemos mais de perto,
se peciso for até nos seus ouvidos,
dizendo-lhes o quanto nos são caros
e que sempre os amaremos.

Encontremos tempo para dizer:

"Desculpa-me"
"Perdoa-me"
"Obrigado"
"Eu perdou-te"
"Eu adoro-te"

Meu Querido Ir.'.
Como tu és importante pra mim!

"Como é bom ter-te como Ir.'. e Amigo"

Adaptado de (autor desconhecido)

10 outubro 2008

O estropiado

Quem costuma visitar este blogue já se apercebeu que, em muitas sextas-feiras, aqui publico pequenas histórias que são pretextos ou pontos de partida para alguma reflexão. São historietas que seleciono de entre as muitas coisas que recebo por correio eletrónico, normalmente de autoria desconhecida e que eu reescrevo à minha maneira. A de hoje é um pouco diferente. Porventura a primeira reação que provocará em quem a ler será de alguma perturbação. Mas convido à leitura da história e depois se verá que caminhos de reflexão ela nos abre.

Esta é a história de um soldado que, finalmente voltava para casa, depois de ter lutado na guerra. Os pais, em sua casa, receberam dele um telefonema:


- Mãe, pai, vou voltar para casa, mas antes quero pedir-lhes um favor. Tenho um amigo que eu gostaria de levar comigo.


- Claro. Nós adoraríamos conhecê-lo também! - responderam os pais.


O filho, porém, continuou:


- Há algo que precisam de saber antes. O meu amigo foi terrivelmente ferido em combate. Pisou uma mina e perdeu um braço e uma perna. O pior é que ele não tem nenhum outro sítio para onde ir.


- Credo!!! Que tragédia, filho! Talvez possamos ajudá-lo a encontrar algum sítio para viver!


- Não, mãe, eu quero que ele possa viver connosco na nossa casa!


- Filho, não vês o que nos estás a pedir? Não tens a noção da gravidade do problema? - interrompeu o pai.


A mãe, concordando com o marido, reforçou:


- Alguém com tantas dificuldades seria um fardo para nós. Temos as nossas próprias vidas e não queremos que uma situação dessas interfira no nosso modo de viver. Acho que deves voltar para casa e esquecer esse rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo!


Nesse momento, o filho desligou abruptamente o telefone e nunca mais os pais ouviram uma palavra dele.


Alguns dias depois, os pais receberam um telefonema da polícia, informando que o filho tinha morrido de uma queda de um prédio. A polícia acreditava em suicídio.

Os pais, angustiados, deslocaram-se à cidade onde o filho se encontrava e foram conduzidos à morgue para identificar o corpo. Reconheceram o seu filho e, para o seu terror e espanto, descobriram algo que desconheciam:

“O FILHO DELES TINHA APENAS UM BRAÇO E UMA PERNA!”


Este é o tipo de situação que não é fácil de analisar nem evidente tirar lição. Os pais amavam o seu filho. Não tinham qualquer ligação com o desconhecido amigo que ele mencionava. Recebê-lo-iam de bom grado... se ele fosse "normal". Mas a perspetiva de ter indefinidamente a viver com eles um estropiado não lhes era agradável. Se fosse o filho quem estivesse nessa situação, não hesitariam em acolhê-lo e prestar-lhe todo o auxílio e assistência que necessitasse e de que fossem capazes. Mas não estavam dispostos a perturbar a sua vida por causa de um estranho e da sua infelicidade. Ele haveria de resolver o problema. Ou o Estado... Ou alguém...


Podemos, em bom rigor, criticar a reação dos pais? Podemos atirar a primeira pedra? Porventura não teríamos nós idêntica reação? Não damos nós absoluta prioridade à nossa família e só na medida em que esta não seja afetada estamos dispostos a auxiliar outrem?


Por seu turno, o filho, estropiado, temendo ser um fardo insuportável para os seus pais, quis testar a reação que teriam perante a perspetiva de verem a sua vida altamente perturbada com a presença de alguém tão incapacitado e a necessidade de o auxiliar. E a confirmação da sua suspeita de que o fardo que ele iria constituir seria demasiado penoso para os seus pais levou-o ao desespero.


Agiram mal os pais? Mas não agiríamos nós também assim? Não diferenciaríamos o nosso filho de um estranho? Não estaríamos nós dispostos a fazer sacrifícios pelo nosso filho que não faríamos por um estranho?


Agiu mal o filho? Mas não agiu ele por amor a seus pais, querendo certificar-se de que não seria um insustentável sacrifício para eles lidar com um filho estropiado?


Em bom rigor, há que reconhecê-lo, quer uns, quer o outro agiram de forma natural. No entanto, o resultado foi trágico!


A lição a extrair - digo eu! - é que não basta agir de forma natural, socialmente aceite. Pessoas de bem devem elevar os padrões de exigência perante as suas próprias escolhas e ações. Porque as escolhas naturais, as que a maior parte das pessoas faria, por vezes não chegam. Se pretendemos ter um elevado sentido ético, temos de entender que a equivalente responsabilidade pelas nossas escolhas também aumenta. Não basta ser normal. Devemos procurar ser melhores do que o normal. Porque só assim podemos tornar a normalidade melhor!


Os pais agiram de uma forma que achamos normal. Mas não agiram bem. É natural que o seu amor pelo filho se sobreponha à indiferença perante um estranho. Mas... deveriam ter indiferença perante um estranho? Em especial, AQUELE putativo estranho? É claro que não podemos, ninguém pode, resolver todos os problemas de todos em todo o mundo! É claro que nos toca mais quem nos está mais próximo e nos preocupamos menos com quem desconhecemos. Mas o facto de ser manifestamente importante para o filho acolher o putativo amigo estropiado deveria alertá-los, sacudir-lhes a indiferença, predispô-los a analisar a melhor forma de ajudar quem era importante para o filho, sem prejudicar a sua família. Na história, era o filho o estropiado. Mas podia ser um amigo que tivesse assim ficado ao salvar o filho... E então haveria uma dívida de gratidão a a pagar...


O erro dos pais foi não prestar atenção ao filho, não dar importância ao que o filho sentia e pretendia, sem se questionarem sobre a razão que estaria subjacente a essa pretensão. O filho não era louco. Alguma razão deveria existir para que ele pretendesse impor um tão pesado fardo à sua família. Recusar liminarmente a possibilidade, sem sequer questionar o porquê, a motivação, foi a receita para o desastre. Os pais amavam o filho, mas não o respeitaram o suficiente para analisar COM ELE os seus motivos e o seu propósito. Se o tivessem feito, se tivessem tido o respeito suficiente pela individualidade do filho, não teriam rejeitado liminarmente a sua pretensão, mostrar-se-iam dispostos a receber, ainda que porventura numa base provisória, o putativo estropiado que tão importante era para o filho e procurariam descortinar as razões que estavam por trás do seu pedido. Se assim tivessem procedido, teriam podido VER essas razões e teriam evitado a tragédia!


Eis portanto uma importante lição que podemos tirar desta história: não basta amar os nossos filhos: temos que também os RESPEITAR. Respeitar o suficiente para não rejeitarmos liminarmente as suas escolhas, as suas pretensões, sem sequer curar de saber os motivos que subjazem a essas escolhas, a esses pedidos. Ter presente esta lição e efetivamente praticá-la pode porventura evitar uma tragédia ou simples consequências desagradáveis, em relação aos que mais amamos.


E uma segunda lição, mais genérica, será: não basta ser bom; há que ser melhor!


A Maçonaria alerta-nos constantemente para isso!


Rui Bandeira

09 outubro 2008

Ser maçon é...

...conciliar o egoísmo com o altruísmo...

Conceitos aparentemente opostos e impossíveis de harmonicamente se justaporem e operarem em simultâneo! No entanto, a natural e intuitiva conciliação entre estes dois opostos integra a essência da condição de maçon.

O maçon deve prosseguir o egoísmo de se aperfeiçoar a si mesmo, como objetivo principal. Não aperfeiçoar os outros, a Sociedade, a Loja ou seus Irmãos. Aperfeiçoar-se a si mesmo: este o verdadeiro e essencial objetivo do maçon. Nesse processo, o maçon descobre que uma ferramenta de inestimável valor é a sua interação com seus Irmãos, com eles e através deles aprendendo, intuindo, tateando, tenteando, reconhecendo e percorrendo o caminho do seu aperfeiçoamento pessoal, aqui largo e prazenteiro, ali rude e pedregoso, acolá estreitamente demarcado, mais adiante dificilmente reconhecível em suas fronteiras. E, egoística mas indispensavelmente, aproveita tudo o que pode - tudo o que deve! - do que seus Irmãos, a sua Loja, a sua Obediência, lhe proporcionam e que se revele útil para o pretendido aperfeiçoamento: uma ideia aqui, um pensamento acolá, uma lição deste, um conselho daquele, desejavelmente o exemplo de muitos, se não todos. Tudo, desde o mais brilhante artefato, ao simples resquício de uma sombra de um leve conhecimento, deve ser avaramente guardado, diligentemente aproveitado, oportunamente utilizado na construção a que cada um incessantemente se deve dedicar: a construção dele próprio, do seu caráter, do espírito livre e puro e capaz de evoluir, de pairar, de avançar para desconhecidos limites até para além do Ilimitado. E assim cada dia vai um pouco mais longe, é um pouco melhor, é, afinal, maçon!

Mas o maçon depressa aprende que, tal como os seus Irmãos são inestimável ferramenta para sua melhoria, assim também ele próprio é, por sua vez, não desprezável ferramenta para a demanda efetuada por cada um de seus Irmãos. Logo intui que, ao tirar, também põe, e é tirando e melhorando que cada vez mais põe para que outros também tirem, e por sua vez melhorem, e reponham, e lhe permitam de novo algo mais retirar, num infindável e frutuoso círculo virtuoso.

Nenhum maçon é maçon sozinho. Só se é plenamente maçon no confronto com seus Irmãos, dando e recebendo e todos assim aproveitando. O todo é, cada vez e cada vez mais, sempre superior à soma das partes. Esta inata cooperação, em que cada um gostosamente contribui para o Outro é condição indispensável para que cada um retire o seu salário da Arca da Loja - e cada vez retire mais e melhor salário.

Portanto, o maçon é altruísta como meio de prosseguir o seu egoísta objetivo de aperfeiçoamento e coloca o resultado em cada momento egoisticamente obtido ao altruísta dispor dos demais.

... viver a vida plenamente e não temer a morte...

Na demanda do Graal de cada maçon, rapidamente cada um se apercebe de que é bem mais do que mera acumulação de ossos e sangue e carne e vísceras, matéria fremente e animada, que um dia se gastará e quedará inanimada. Logo questiona a origem e a razão da existência da Vida e do Universo. E busca o seu significado. E encontra suas respostas, tendo presente e reconhecida a noção do Grande Arquiteto do Universo - do SEU Grande Arquiteto do Universo, seja o que reconhece da religião que pratica, seja o que entrevê através da sua própria Razão, em pessoal teologia, tão válida como qualquer religião instituída. E assim percebe o seu lugar na Vida e no Universo - e alcança a Paz. Paz consigo mesmo, Paz com o sentido da Vida, Paz com a perpétua evolução.

Cada maçon aprende - desejavelmente aprende, mais cedo ou mais tarde! - que a vida física, material, é apenas parte da Vida com V maiúsculo. Que o invólucro que é o nosso corpo, com suas dores e cansaços e doenças e envelhecimento e inexorável fim, é apenas isso, a vasilha que transporta e contém e protege o verdadeiramente valioso conteúdo que cada um de nós realmente TEM (que digo eu? É!), tantas vezes sem o saber, sem sequer o intuir. Conteúdo a que uns chamam alma, outros espírito, outros ainda outra coisa qualquer e que eu gosto de designar pela Centelha Divina que existe em cada um de nós, que é a razão de ser de cada um de nós e que sobrevive para além da materialidade de cada um de nós.

Ao compreender isto, o maçon entende que a vida física é parte do conceito mais abrangente da Vida (com V maiúsculo), como fator indispensável à evolução dessa Vida, por isso que existe, pois, se o não fosse, não teria razão para existir - seja-se criacionista, seja-se evolucionista, é território aprazivelmente neutro e comum a conceção de que o que não tem razão para existir, papel para desempenhar...não existe ou se, por erro ou acaso, existiu, extingue-se... Mas, sendo a vida física apenas parte da Vida (com V maiúsculo), é apenas um episódio, certamente importante, mas só um episódio. E, ao compreender isto, pode viver plenamente e em Paz esse episódio, aquilo a que chamamos a nossa vida, o tempo que nos é concedido entre o nascimento e a morte.

E, assim compreendendo, está em condições de não temer a morte física, que pode entender como mais uma Iniciação, uma Passagem, uma Elevação a um novo estádio da Vida (com V maiúsculo).

Uma obra do género designado por ficção científica, cujo título há muito esqueci e cujo autor também há muito olvidei, postulava que existia na vida da Humanidade um terrível segredo. Segredo que, algum dia, alguém descobriu e que era que, afinal, toda a Humanidade via o filme ao contrário: aquilo que temos por nascimento é afinal a morte, a degradação para o plano físico de algo mais puro e perfeito, e que aquilo que se tinha por morte é então o verdadeiro nascimento para o próximo passo da evolução da nossa Essência. Essa esquecida obra de esquecido autor será porventura mera e imaginosa caricatura. Mas não vemos nós que em toda a caricatura está, quiçá de modo deformado, o traço da realidade?

Ao entender que vale muito mais do que o seu invólucro material, o maçon aprende a viver plenamente a vida e a não temer a morte.

... viver a Iniciação em todos os dias da sua vida...

O maçon, quando iniciado, recebe lição, noções, princípios, afinal ferramentas que - muitas delas - não entendeu plenamente nessa ocasião. De algumas porventura nem mesmo se apercebeu então. Só mais tarde, revivendo a Iniciação, participando na Iniciação de outros, a pouco e pouco tudo vai entendendo e encaixando. E, fazendo-o, se bem refletir, verá que o que viveu , o que ouviu, o que sentiu, as lições que recebeu naquela ocasião são um guião de vida que deve ter sempre presente.

Se o maçon se comportar sempre de acordo com o que simbolicamente viveu na sua Iniciação, com o que ouviu, com as lições que aí recebeu, será efetivamente um Homem Livre e de Bons Costumes. Se viver de forma conforme com a lição da sua Iniciação, viverá bem, será útil a si próprio, aos outros e à sociedade. Nada mais precisa de fazer. Nada mais lhe é exigível.

No fundo, uma das coisas que é agradável na Maçonaria é a sua desarmante simplicidade: não são precisas grandes invenções, não são necessários etéreos princípios. Para se ser Digno, Justo e, tanto quanto humanamente possível, Perfeito, para aliar a Sabedoria à Força e à Beleza, para viver em Liberdade e em Fraternidade segundo os princípios da Igualdade, só é necessário proceder segundo o que aprendeu na Iniciação. E, chegada a hora, poderá pousar as suas ferramentas em Paz e com a noção do dever cumprido.

... conhecer e praticar os sinais , palavras e toques...


Não há que inventar! Está num texto que o Aprendiz deve conhecer e não se deve nudar o que está bem:

Um maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

É afinal tão simples ser maçon!

... Ser, simplesmente e verdadeiramente Ser - não Parecer!

O maçon, beneficiando da absorção, na sua personalidade, no seu caráter, na sua prática de vida, dos princípios que recolhe na Loja e na Fraternidade - afinal, dito mais simplesmente, aperfeiçoando-se - só precisa de Ser. Ser como é. Ser aquilo em que se transforma. Fazendo-o, vale a pena ser maçon, o salário está ganho, o objetivo é atingido.

No fim como no princípio, a noção-chave é a de aperfeiçoamento individual. Que se obtém pelo trabalho, pelo esforço, pela dedicação. Que se pratica. Que não se consegue parecer que se obteve!

Inútil é tentar "parecer" maçon. Tarde ou cedo - mais cedo do que mais tarde! - os que efetivamente são maçons reconhecem que quem quer "parecer" sem "ser" não é efetivamente um maçon. Quando muito, poderá ser um profano que passou por uma iniciação, mas não foi verdadeiramente iniciado. E esse pode continuar a tentar "parecer" à vontade. Nenhum verdadeiro maçon se incomodará com isso. Mas nenhum verdadeiro maçon o reconhecerá como tal, até que deixe de tentar Parecer e tente começar a Ser.

Rui Bandeira

08 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base X

BASE X

DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS


1º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam (de atrair), atraísse (id.) baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.

2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.


3º) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), -la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s,) (de atrair-lo(s)); atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s) -ia).


4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), saiinha (de saia).


5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.


Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim.


6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).


7º) Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. O verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquis) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam).


Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registe-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.).


Esta Base em nada altera a norma ortográfica antecedente em Portugal. Quanto ao Brasil, por si só também nada altera em relação ao antecedente. Os casos em que desaparece o trema (¨) resultam, não desta Base, mas do dispositivo de uma outra, que adiante será tratada.

Note-se o duplo paradigma previsto no ponto 7.º. Em Portugal, nunca dei conta da utilização de acentuação gráfica nas vogais "a" ou "i" radicais, nos casos indicados. Também não dei conta dessa utilização em textos escritos por quem utiliza a norma brasileira do antecedente. Presumo, pois, que os casos indicados relevam de regionalismos ou arcaísmos, em qualquer caso sem expressão significativa.

De notar ainda que, segundo as regras desta Base, escreve-se Luís e Luísa, porém escreve-se juiz, mas juíza e juízes, tal como se escreve raiz, mas raízes.

Descodificação de alguns termos técnicos:

Palavras oxítonas: palavras agudas, isto é, com o acento tónico na última sílaba.

Palavras paroxítonas: palavras graves, isto é, com o acento tónico na penúltima sílaba.

Clítico - elemento gramatical que mostra um comportamento intermediário entre o de um morfema (a menor unidade gramatical que se pode identificar) e uma palavra. Sintaticamente tem um comportamento mais similar ao de palavras mas fonologicamente é dependente de outras palavras adjacentes.

Forma rizotónica - em que a tónica se situa na raiz da palavra.

Rui Bandeira

07 outubro 2008

D. Pedro I e a Maçonaria

Dom Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon foi o primeiro imperador do Brasil, como D. Pedro I, tendo sido também Rei de Portugal durante um curto período.

Recebeu os títulos de Infante, Grão-prior do Crato, Príncipe da Beira, Príncipe do Reino Unido de Portugal do Brasil e Algarves, Príncipe regente do Reino do Brasil além de primeiro imperador do Brasil, como D. Pedro I, de 12 de Outubro de 1822 a 7 de Abril de 1831, e ainda 28º Rei de Portugal (título herdado de seu pai, D. João VI), durante um período de sete dias (entre 26 de Abril e 2 de Maio de 1826), como D. Pedro IV.

Ficou conhecido como o Rei-Soldado, por combater o irmão D. Miguel na Guerra Civil de 1832-34 ou o Rei-Imperador. D. Pedro I abdicou de ambas as coroas: da portuguesa para a filha D. Maria da Glória e da brasileira para o filho D. Pedro II.

D. Pedro I era o quarto filho (segundo varão) do rei D. João VI e de sua mulher, Carlota Joaquina de Bourbon, princesa de Espanha, primogénita do rei espanhol Carlos IV da Espanha.

Talvez uma faceta menos conhecida da sua vida, seja a sua ligação à Maçonaria. D. Pedro I, cujo nome simbólico era Guatimozim, foi um dos Grão Mestres da Maçonaria brasileira, tendo sido instalado em 4 de Outubro de 1822.

Do seu legado maçónico destaca-se desde logo o Hino Maçónico Brasileiro, para o qual escreveu música e letra, que a seguir se reproduz:

Da luz, que si difunde, sagrada filosofia
surgiu no mundo assombrado, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Da razão, parte sublime, sacros cultos merecia
altos heróis adoraram, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza vingai direitos, da natureza.
Da razão, suntuoso templo, um grande rei erigia,
foi então instituída, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Nobres inventos não morrem, vencem do tempo a porfia
há de os séculos afrontar, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Humanos sacros direito, que calcará a tirania
Vai ufana restaurando, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Da luz deposito augusto, recatando à hipocrisia
Guarda em si com zelo santo, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Cautelosa, esconde e nega, a profana a gente ímpia
Seus mistérios majestosos, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Do mundo o Grande Arquiteto, que o mesmo mundo alumia
Propício protege, ampara, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.

Deísmo - II


Vimos já que, na versão francesa da Wikipedia, a definição de deísmo, em aparente contradição com o que se escreve na versão inglesa, postula (tradução livre minha):

O deísmo, do latim deus, é uma crença ou doutrina que afirma a existência de um Deus e a sua influência no Universo, quer quanto à sua criação, quer quanto ao seu funcionamento.

Mas, tal como fizémos em relação à versão inglesa da enciclopédia virtual, olhemos um pouo mais fundo. Verificamos que o artigo prossegue, do seguinte modo (sempre em tradução livre minha):

Para o pensamento deísta, certas caraterísticas de Deus podem ser compreendidas pelas faculdades intelectuais do homem.

Cá está, afinal, o fio condutor, o cerne efetivamente definidor do conceito! Afinal, as versões das três línguas da enciclopédia virtual acabam por confluir no conceito de deísmo... Pena que tenham dado destaque a elementos secundários diferentes, criando a confusão onde deveria haver esclarecimento...

Mas, no anterior texto sobre este tema, deixei escrito, talvez enigmaticamente, que é possível aceitar as menções aparentemente opostas das versões em inglês e em francês ambas como não incorretas. Sabido como é que já Sócrates, o filósofo da Antiguidade grega, deixou claro que Ser e não ser não pode ser, parece impossível tarefa, mesmo para um experimentado diplomata, conciliar as duas visões. E sê-lo-ia, se nos ativéssemos à literalidade da frase da versão francesa e não buscássemos o real significado dela.

Mais adiante, a versão em francês da Wikipedia sumariza o que chama os principais pontos da doutrina deísta, mencionando que o deísmo afirma que (ainda e sempre tradução livre minha - e os comentários, obviamente, também...):

  • Tudo o que não é obra do homem foi produzido por uma fonte original e inteligente (designada por Deus) - ou, acrescento eu, por Allah, Jehovah, mil outras designações ou... simplesmente por... Grande Arquiteto do Universo...
  • Não é concebível que nada esteja na origem de tudo.
  • A essência de Deus não é material (Deus é espírito).
  • Deus tem uma ação permanente no Universo - já vejo os anglófonos a torcerem-se todos nas suas cadeiras...
  • Deus manifesta-se pelas suas obras (a natureza, a vida, o cosmos, a consciência humana...) - anglófonos: parem de se torcer e atentem bem na concretização da tal ação permanente...
  • O sentimento da ação de Deus vem do estudo da criação (contemplando-se a pintura pode compreender-se o pintor) - é favor conferir o texto Sobre o Grande Arquiteto do Universo - 2: eu, deísta, ali me confessei como tal...
  • Escutar a sua consciência é o único meio para o homem se unir a Deus (as leis de Deus estão inscritas na consciência de cada homem e não nos Livros Sagrados).
  • O respeito das regras morais ditadas pela consciência é essencial para a salvação do homem
  • A prece a Deus é livre e espontânea
  • A relação do homem com Deus é direta (através do pensamento) e sem intermediários.

Lidos os princípios ditos doutrinais do deísmo, verificamos então que a falada "ação permanente de Deus no Universo" traduz-se nas "suas obras" e que estas têm a ver com a Criação e as Leis instituídas aquando dela - a natureza, a vida, o cosmos, a consciência humana (esta, necessariamente quando a evolução, decorrente das Leis Universais instituídas, determinou que surgisse a espécie humana - eis como um Crente Deísta pode perfeitamente conciliar o seu entendimento com a teoria evolucionista...). Ou seja, a "ação permanente" a que alude a versão em francês da Wikipedia corresponde à... ausência de ação reclamada pela versão em inglês! Mais uma vez, em ambas as versões diz-se a mesma coisa com palavras diferentes e, até, aparentemente inconciliáveis. Só entendendo o que se entende por "preto" se percebe que, afinal... se está a chamar preto ao que outros chamam branco...

Fica, assim, explicada a aparente contradição. E evidenciadas as carências da Wikipedia, que não deixa, no entanto, de ser um instrumento útil, mas apenas se não aceitarmos acriticamente o que em cada uma das suas versões está escrito...

Para terminar este texto, que já vai longo, insisto: no meu entendimento, a definição que se aproxima mais da verdadeira noção de deísmo é a da versão em português da Wikipedia: O deísmo pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição.

Este o alcance do conceito. Se é com este significado, e só com ele, que o mesmo é utilizado, mesmo em Maçonaria, isso é outro problema. Mas, para com ele lidar, temos que previamente dedicar a nossa atenção ao conceito de teísmo, à relação entre deísmo e teísmo e ainda à relação de ambos estes conceitos com ateísmo. Ainda há muita pedra para partir até que se consiga obter uma pedra devidamente aparelhada para se colocar na edificação que o pensamento constrói sobre o significado do Mundo e da Vida...

Rui Bandeira

06 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base IX


BASE IX

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS
1º) As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente, moçambicano

2º) Recebem, no entanto, acento agudo:


a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em –l, -n, -r, -x e –ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lúmens); acúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices, índex (pl. índex; var. índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).


Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com a vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fêmure fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix.


b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órgão (pl. órgãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), amaveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (di. júris), oásis (sg. e pl.); álbum (di. álbuns), fórum (di. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).

Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus.


3º) Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, hoia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.


4º) É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português.

5º) Recebem acento circunflexo:


a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respetivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax(sg. e pl.), bômbix, var. bômbice (pl. bômbices).


b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever) ,fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus.

c) As formas verbais têm e vêm, 3ªs pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respetivamente / tãjãj /, / vãjãj / ou / têêj /, / vêêj / ou ainda / têjêj /, / vêjêj /; cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem, a fim de se distinguirem de tem e vem, 3ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2ªs pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretem (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).

Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem, provêem, etc.


6º) Assinalam-se com acento circunflexo:


a) Obrigatoriamente, pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), no que se distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode).


b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ªpessoa do singular do imperativo do verbo formar).

7º) Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.


8º) Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tonica fechada com a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc.


9º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.


10º) Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é,), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é,), flexão de cercar; coro (ó), substantivo, e flexão de corar; deste (ê), contracção da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.


Apesar da sua extensão e complexidade, poucas alterações em relação ao antecedente resultam desta Base.

A primeira alteração a notar é que deixam de se acentuar os ditongos ei e oi da sílaba tónica das palavras paroxítonas. Anteriormente, havia algumas palavras deste grupo que eram acentuadas segundo a norma lusitana e não o eram na norma brasileira, enquanto que outras havia que recebiam acento no Brasil, mas não eram acentuadas em Portugal. Unifica-se, assim, a norma de escrita com a regra de que os ditongos oi e ei em sílaba tónica de palavras graves nunca levam acento. Assim, o introito do feito heroico do fulano que pegou na jiboia é de todo desprovido de acentos. E os comboios, mesmo os brasileiros, também perdem os acentos, embora, desejavelmente, conservem os assentos... E, ainda no Brasil, uma ideia, ainda que luminosa, também deixa de ser iluminada por um acento... na aldeia ou na cidade.

Outra grande mudança é o desaparecimento do acento circunflexo nas formas verbais da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo que terminam em -eem (anteriormente, pelo menos em Portugal, escreviam-se com acento circunflexo no primeiro e): leem, deem, veem (verbo ver; não confundir com vêm, verbo vir).

Finalmente, deixa também de se usar acento para diferençar palavras homógrafas mas heterofónicas: para (preposição) e para (forma do verbo parar), pelo (por o) e pelo (revestimento piloso do corpo) são exemplos desta mudança, que unifica a regra de prescindir de acento para diferenciar estas pronúncias diferentes em relação a outras palavras em que assim já se procedia - ex: pregar (um prego) e pregar (fazer uma prédica)

Para além disso, na execução da política de aproximação da escrita à fonética, consagra-se a dupla grafia, com acento agudo ou circunflexo, consoante a vogal seja pronunciada aberta ou fechada e admite-se que algumas formas verbais do pretérito perfeito do indicativo se escrevam ou não com acento agudo, também em função de serem ou não pronunciadas com vogal aberta - em regra, levarão acento agudo em Portugal e não serão acentuadas no Brasil ou, pelo menos, em algumas pronúncias do português falado no Brasil.

Alguns significados de termos mais técnicos:

Palavras paroxítonas: palavras em que a sílaba tónica é a penúltima, também designadas por palavras graves.

Palavras proparoxítonas: palavras em que a sílaba tónica é a antepenúltima, também designadas por palavras esdrúxulas.

Palavras homógrafas: palavras que se escrevem da mesma maneira.

Palavras heterofónicas: palavras que se pronunciam de maneira diferente.

Proclítica: Diz-se da palavra que, anteposta a outra, fica sujeita à acentuação desta, formando ambas um só vocábulo fonético.

Rui Bandeira

04 outubro 2008

Sandes


Na sequência do excelente artigo do Rui Bandeira, lembrei-me de partilhar convosco uma história que considero muito interessante e que adaptei para o "gosto" Português. Poderíamos chamar-lhe "Sandes de restos do Jantar"

Trata-se da história de um homem que todos os dias trazia sandes de restos do jantar para o trabalho e que todos os dias reclamava sobre isso.

Ele detestava sandes de restos do jantar e regularmente dizia aos seus colegas:


- Estou farto de comer estas sandes; nem sequer o pão é ao meu gosto
, ou

- Outra vez. Estou farto destas sandes de restos do jantar... é todos os dias a mesma coisa ...

Os seus colegas tinham pena dele já que a sua mulher lhe preparava sistematicamente o mesmo tipo de sandes, até um dia, um lhe disse:

- Porque é que não pedes à tua mulher que varie as sandes que te prepara?

E o homem respondeu:

- A minha mulher? eu sou viúvo; sou eu que preparo as minhas próprias sandes...


A moral desta história reside no facto de que, frequentemente, nos queixamos das vidas que levamos e do desagradável que são. Muitas vezes, as vidas que vivemos são fruto de hábitos "enraizados", que já aceitamos como bons e que nos limitamos a viver sem questionar.

Creio que vale a pena olhar à nossa volta e tentar perceber quais são as "Sandes de restos do Jantar" que todos os dias comemos, sem termos consciência disso. Já agora, se possível, mudem para uma dieta que vos dê mais prazer ...

03 outubro 2008

Valor


Trago-vos hoje mais uma história recebida por correio eletrónico, cuja autoria desconheço, como habitualmente escrita à minha maneira. Em época de dificuldade, de temor, de confusão, de insegurança, como a que vai sendo a presente, é importante que cada um de nós renove a confiança em si próprio e nas suas capacidades. Se é certo que o ambiente, a conjuntura, nos afetam, não é menos verdade que cada um de nós também afeta o ambiente e a conjuntura. A soma de muitos pessimismos e desânimos só pode dar desastre. O resultado da adição de muitas confianças, propósitos de trabalho e fé nas respetivas capacidades, pelo contrário, mais tarde ou mais cedo redundará em progresso e superação das dificuldades.

Um conferencista famoso começou um conferência, numa sala com 200 pessoas, exibindo na mão direita uma nota de cem euros. Perguntou:

- Qual de vós quer esta nota?

Na assistência, todos ergueram a mão.


Então o conferencista disse:


- Tenciono dar esta nota a um de vós esta noite, mas, primeiro, deixem-me fazer isto...


Então, ele amarrotou totalmente a nota.

Seguidamente, perguntou outra vez:


- Quem ainda quer esta nota?


Todos os assistentes ergueram de novo a mão.
O conferencista continuou:

- E se eu fizer isto...


Deixou cair a nota no chão e começou a pisá-la e esfregá-la.
Depois, pegou na nota, agora já imunda, além de amarrotada, e perguntou:

- E agora? Quem ainda vai querer esta nota de cem euros?

Todos voltaram a erguer as mãos.
Então, o conferencista voltou-se para a plateia e explicou o seguinte:

- Não importa o que eu tenha feito ao dinheiro. Vocês continuaram a querer esta nota, porque ela não perde o valor. Esta situação também acontece connosco... Muitas vezes, em nossas vidas, somos amarrotados, pisados e ficamos sentindo-nos sem importância. Mas não importa! Jamais perderemos o nosso valor. Sujos ou limpos, amarrotados ou inteiros, magros ou gordos, altos ou baixos, nada disso importa ! Nada disso altera a importância que temos! O valor das nossas vidas não é o que aparentamos ser, mas o que fizemos e sabemos!


Não importa a crise, não importa que nos atormentemos com os baixos, esquecidos dos altos que já vivemos. O nosso valor é intrínseco. Só temos que confiar nele e fazer o melhor que formos capazes o que temos que fazer. E o valor que efetivamente temos é reconhecido por quem dele beneficiou. Cada um de nós não será famoso no mundo, mas seguramente é lembrado e recordado por todos aqueles a quem tocou.

Leitor, agora faça este teste:

Quem são as dez pessoas mais ricas do mundo? (Tirando o tio Bill e talvez mais um ou dois, não é capaz de se lembrar, pois não?)

Quem foram as cinco últimas vencedoras dos concurso Miss Universo? (Pois é... Nem do nome de uma se consegue lembrar... E, no entanto, quando viu as fotografias de cada uma delas seguramente as achou memoráveis...)

Nomeie os dez últimos vencedores de qualquer um dos Prémios Nobel, à sua escolha. (Eu facilitei... Até deixei escolher o que mais lhe conviesse... Mas nem assim lá foi, pois não?)

Nomeie os dez últimos vencedores do Óscar de melhor ator ou melhor atriz. (Mesmo os mais cinéfilos, aposto que não conseguiram...).

Pois é... Bem vistas as coisas, ninguém se lembra verdadeira e duradouramente dos melhores de ontem. Os aplausos terminam! Os troféus ficam cheios de pó! Os vencedores são esquecidos!

Agora, caro leitor, faça o seguinte:

Recorde três professores que ajudaram na sua verdadeira formação. (Fácil, não é?)

Nomeie três amigos que já o ajudaram nos momentos difíceis. (Ridiculamente simples, não é?)

Pense em algumas pessoas que o fizeram sentir alguém especial. (Também é fácil - e agradável - lembrá-lo, pois não é?)

Nomeie cinco pessoas com quem passe o seu tempo. (A dificuldade é só nomear cinco...)

As pessoas que marcam a nossa vida não são as que têm as melhores credenciais, mais dinheiro ou os melhores prémios... São aquelas que se preocupam connosco, que cuidam de nós, aquelas que, de algum modo, estão ao nosso lado. Essas, por muito simples ou modestas que sejam, têm o seu valor. E, para nós, se bem pensarmos, valem mais do que os famosos e aclamados vencedores.

Que cada um preze o seu valor. Que dê o seu melhor. Gordo, magro, alto baixo, novo, velho, o valor que cada um tem é seu e ninguém lho tira. Haverá sempre alguém que o reconhece, porque o viu, porque dele beneficiou. Cada um de nós aspira a ver reconhecido o seu valor. Pois bem, é simples: use-o o melhor que puder em benefício de tantos quantos puder. Se assim fizer, mais reconhecerão esse valor. E o próprio dele não deve duvidar!

Crise? Qual crise? Só existem as crises que nós nos convencemos que existem... Façam o favor de aproveitar o vosso valor, de contribuir para a felicidade comum e... já agora... façam o favor de ser felizes!

Rui Bandeira

02 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base VIII


BASE VIII

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS OXÍTONAS
1º) Acentuam-se com acento agudo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a, -e ou -o, seguidas ou não de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s,), dominó(s), paletó(s,), só(s).

Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em -e tónico/tônico, geralmente provenientes do francês, esta vogal, por ser articulada nas pronúncias cultas ora como aberta ora como fechada, admite tanto o acento agudo como o acento circunflexo: bebé ou bebê, bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou caratê, croché ou crochê, guiché ou guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou ponjê, puré ou purê, rapé ou rapê.

O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ró (letra do alfabeto grego) e rô. São igualmente admitidas formas como judô, a par de judo, e metrô, a par de metro.

b) As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos lo(s) ou la(s), ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada -a, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: adorá-lo(s) (de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou dá(s)-la(s) ou dá(s)-la(s)), fá-lo(s) (de faz-lo(s)), fá-lo(s)-às (de far-lo(s)-ás), habita-la(s)-iam (de habitar-la(s)-iam), tra-la(s)-á (de trar-la(s)-á).

c) As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal grafado -em (exceto as formas da terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos compostos ter e vir: retêm, sustêm, advêm; etc.) ou -ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs, harém, haréns, porém, provém, provéns, também.

d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados –éi, éu ou ói, podendo estes dois últimos ser seguidos ou não de –s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de correr), herói(s), remói (de remoer), sóis.

2º) Acentuam-se com acento circunflexo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam –e ou –o, seguidas ou não de –s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s), pôs (de pôr), robô(s).

b) As formas verbais oxítonas, quando conjugadas com os pronomes clíticos-lo(s) ou la(s), ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam –e ou –o, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas –r, -s ou –z: detê-lo(s) (de deter-lo-(s)), fazê-la(s) (de fazer-la(s)), fê-lo(s) (de fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s) (de repor-la(s)), pô-la(s) (de por-la(s) ou pôs-la(s)).

3º) Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas heterofónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução de cor; colher (ê), verbo, e colher (é), substantivo. Excetua-se a forma verbal pôr, para a distinguir da preposição por.

Esta Base, a exemplo de muitas das outras do Acordo Ortográfico, não prevê nenhuma mudança em relação à prática anterior. Também consagra explicitamente o que a prática do uso da língua portuguesa nos dois lados do Atlântico já há muito adotara: a diferentes pronúncias fonéticas devem corresponder diferentes grafias. Daí a explícita consagração da dupla grafia, constante da observação ao ponto 1.º da Base. Esta dupla grafia, quanto à acentuação, verifica-se em cerca de 1.400 palavras, correspondentes a 1,27 % do vocabulário geral da língua portuguesa. Como habitualmente, eis a descodificação de alguns termos técnicos: Palavras oxítonas - palavras cuja sílaba tónica é a última; palavras agudas. Clítico - elemento gramatical que mostra um comportamento intermediário entre o de um morfema (a menor unidade gramatical que se pode identificar) e uma palavra. Sintaticamente tem um comportamento mais similar ao de palavras mas fonologicamente é dependente de outras palavras adjacentes. - noção retirada daqui. Palavras homógrafas mas heterofónicas - palavras que se escrevem da mesma maneira, mas que se pronunciam de maneira diferente.

Sem ligação direta com esta Base.mas por evidente atualidade: foi noticiado nos meios de comunicação social que o Presidente da República Federativa do Brasil efetuou a promulgação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 no passado dia 29 de Setembro.

Rui Bandeira

01 outubro 2008

Os dez mandamentos da água



Hoje, dia 1 de Outubro, é o Dia Mundial da Água. E também o Dia Mundial da Música.

Hoje, dia 1 de Outubro, pelas 18 horas, no Museu da Água de Coimbra, sito no Parque Manuel Braga, junto ao rio Mondego e em frente ao Hotel Ibis, será inaugurada a exposição OS DEZ MANDAMENTOS DA ÁGUA, da autoria de Manuel Carmo.

Conforme se pode ver aqui, Manuel Carmo é um artista plástico e autor português. Primeiramente advogado, Assessor na Presidência do Conselho de Ministros no VII Governo Constitucional, presidente da ONG de cooperação cultural europeia Latin American Studies Institute, administrador de várias companhias multinacionais, editor de vários jornais e revistas, decidiu nos anos oitenta frequentar o Curso de Pintura do Ar.Co em Lisboa. Manuel Carmo dedica-se hoje exclusivamente à pintura, escultura e escrita.

É actualmente Docente no Curso de Pós-Gaduação em Gestão Cultural no ISCIA em Aveiro, Comissário do Museu da Água de Coimbra, Director-Geral das Edições de Arte AABA em Lisboa e Presidente da "Manuel Carmo Foundation", organização sem fins lucrativos com sede em Nova York, USA.

Foi o único pintor português convidado para apresentar um projecto na Conferência Mundial da UNESCO sobre Educação pela Arte realizada em 2006 em Lisboa, que denominou “Let's Art!”. Sanchez Bravo, presidente da Comissão espanhola da UNESCO, caracterizou a sua pintura como “uma nova forma nua e harmónico-musical de transcender a verdade”.

Já no final de 2005 esteve patente uma exposição sua no Museu da Água (Mãe d’Água das Amoreiras) intitulada “1755 – Cemitério de Esperança ou As 7 Virtudes para o Renascimento” evocativa dos 250 anos do terramoto.

Desde Janeiro de 2007 é o responsável pela direcção cultural e de conteúdos do Museu da Água de Coimbra.

A inauguração desta exposição é um bom pretexto para quem não é de Coimbra ir rever esta bela cidade do Centro de Portugal e para quem reside na "Cidade dos Doutores" apreciar a qualidade do trabalho de Manuel do Carmo e rever as belas instalações do Museu da Água de Coimbra, de que a fotografia que encima este texto é uma muito pálida amostra.

Rui Bandeira