21 julho 2008

Deixar os metais à porta do Templo


Aos maçons é dito que devem deixar os metais à porta do Templo.

Esta frase não deve ser, obviamente tomada no seu sentido literal. Não faz, evidentemente, sentido impor que um obreiro se despoje de tudo o que é metálico para aceder ao Templo. Até porque a Maçonaria de hoje é herdeira especulativa das organizações de construtores em pedra, que utilizavam e utilizam ferramentas metálicas para trabalhar a pedra. Assentemos, pois, que esta frase não se aplica literalmente - excepto numa circunstância, que aqui não quero referir.

Os maçons costumam designar os meios monetários como "metais". Quererá então a mencionada frase dizer que os maçons devem entrar no seu local de reunião sem transportarem consigo dinheiro? Está mais próximo, mas ainda não é assim! Nomeadamente na Maçonaria Europeia, pelo contrário, os maçons devem ter o cuidado de levar consigo para o interior do local onde vai decorrer a sua reunião algum dinheiro, já que, a determinada altura, circulará o Tronco da Viúva, no qual cada obreiro deverá depositar algum dinheiro, segundo as suas possibilidades, destinado a Beneficência. Incidentalmente: se necessitar, quando coloca a mão no Tronco da Viúva (que, normalmente, é um saco), o obreiro pode, em vez de colocar, RETIRAR dinheiro, assim aliviando sua dificuldade, sem que, sequer, os demais tomem conhecimento de sua situação. Mas é também certo que o dinheiro, sendo, na presente organização social, um meio indispensável, é considerado como um mal necessário. Muitas acções censuráveis ocorrem pela cupidez do dinheiro. O dinheiro é, assim, considerado como algo necessário, mas impuro. Em Loja, os maçons usam luvas brancas, que não devem conspurcar com a manipulação de dinheiro. Portanto, quando depositam o seu óbolo no Tronco da Viúva, os maçons fazem-no descalçando a luva da mão que irá manipular o dinheiro. Impuro, mas necessário, o dinheiro entra no espaço da Loja.

A que metais se refere então a frase? Significa ela que os maçons não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar. O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

As preocupações do dia a dia ficam à porta do Templo. As zangas, desavenças, maus humores, rivalidades, ficam à porta do Templo.

Esta frase destina-se a marcar bem a diferença entre o espaço profano e o espaço maçónico. Neste, valoriza-se a cooperação, o trabalho, a ajuda, o progresso, a Razão, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, a Sabedoria, a Força, a Beleza, o estudo, a iluminação mútua. Tudo o resto, tudo o que prejudique o trabalho de mútuo aperfeiçoamento dos maçons, são metais, que devem ficar à porta do Templo.

Rui Bandeira

18 julho 2008

Como consertar o Mundo

Hoje é sexta-feira e, como vai sendo hábito, dia de alegoria no blogue.

Os tempos vão difíceis, as crises sucedem-se, parece que o Mundo está cada vez pior e não se vê solução à vista. O discurso pessimista instala-se. Isso é o pior que pode acontecer! As dificuldades superam-se com força e determinação e, para as ter, é necessário crer que é possível tal superação. Diz o Povo que Depois da tempestade vem a bonança, mensagem de esperança que devemos ter sempre presente nas ocasiões difíceis. É por isso que escolhi para hoje este texto, de autoria que desconheço, que recebi por correio electrónico e que nos ensina

Como consertar o Mundo

Um cientista, muito preocupado com os problemas do mundo, passava dias em seu laboratório, tentando encontrar meios de melhorá-los. Certo dia, seu filho de 7 anos invadiu o seu santuário, decidido a ajudá-lo.

O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente deparou-se com o mapa do mundo.


Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo: - Você gosta de quebra-cabeça? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está ele todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Mas faça tudo sozinho!


Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa. Passados alguns minutos, ouviu o filho chamando-o calmamente. A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade conseguir recompor um mapa que jamais havia visto.

Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?

– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?


- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel do jornal para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem.
Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era... Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo!!!


Às vezes, nada como o olhar de uma criança para descobrir a simples solução, que está frente aos nossos olhos mas que, quantas vezes, não vemos, enredados nas complicações que a envolvem e nos desorientam! É bem verdade! Para consertar o Mundo, basta consertar o Homem!

É isto que a Maçonaria procura fazer e que os maçons tentam, paulatinamente, conseguir. Consertar o Homem, unidade por unidade, um a um! O processo é lento, mas seguro. E, à medida que se for avançando, será mais rápido, pois, como a mancha de azeite, espalhar-se-á. Basta ter a força, a determinação, a persistência de prosseguir. Um dia o Mundo há-de ficar consertado!

Rui Bandeira

17 julho 2008

Novas da Inês

Durante o mês de Maio, levou-se a cabo neste blogue uma campanha de angariação d fundos para auxílio no pagamento das muitas despesas que o tratamento da muito grave doença de que a Inês foi acometida.

Finda essa campanha, informei aqui no blogue o resultado obtido e anunciei que o montante recolhido iria ser entregue à família da Inês, conjuntamente com o que fosse obtido através dos donativos expressamente destinados a esse fim feitos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. Como esta Loja reúne duas vezes por mês e fora entretanto decidido que seria reservado o período correspondente à realização de três reuniões da Loja para a recepção dos donativos dos obreiros, a campanha interna de angariação de fundos prolongou-se por Junho adentro.

Agora, recolhidos todos os donativos, estou em condições de anunciar aqui que hoje se efectuou a transferência dos montantes resultantes dos donativos dos leitores do A Partir Pedra e dos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues para a conta bancária indicada pelos pais da Inês.

Aos bons corações que efectuaram donativos e que deram conhecimento de tal facto via correio electrónico, tive já a oportunidade de enviar mensagens pessoais, informando da entrega efectuada. Porém, sei que outros depósitos foram efectuados, na conta indicada para receber donativos na sequência do apelo feito neste blogue, por benfeitores que decidiram permanecer anónimos. A esses não posso, obviamente, agradecer directa e pessoalmente o seu acto de solidariedade e confirmar o bom destino dado aos seus donativos. Faço-o por esta via. Bem-hajam!

Em nome da Inês e dos seus pais, um sentido agradecimento a todos!

A Inês vai brevemente voltar a deslocar-se a Cuba, na prossecução do seu tratamento. Embora algumas sequelas sejam inevitáveis, confiamos e desejamos que o bom êxito dos tratamentos melhore a sua qualidade de vida.

Rui Bandeira

16 julho 2008

Simbolismo: da Loja à Vida

A Loja maçónica é constituída por um conjunto de obreiros que, em diversos estádios da sua evolução individual, buscam aperfeiçoar-se e contribuir para o aperfeiçoamento dos demais, com o auxílio de símbolos e alegorias, que representam lições morais, comportamentais e espirituais.

A Loja maçónica reúne-se num espaço fechado, de acesso restrito aos obreiros da Loja e respectivos visitantes, necessariamente também maçons, organizado de forma específica e decorado por símbolos.

Tudo em Maçonaria gira à volta de símbolos. Símbolo é aquilo que representa algo. Um algarismo é um símbolo que representa uma determinada quantidade. O método maçónico de evolução individual recorre à exposição e apresentação de símbolos, da mais variada natureza e composição, destinados a serem estudados e compreendidos no seu significado. Cada maçon estuda cada símbolo, medita sobre ele, busca compreender o que significa, intenta alcançar a lição que disponibiliza. Porque o conhecimento de cada lição é individual e arduamente obtido por cada um, e não simplesmente exposto a ouvintes quiçá desatentos, esse conhecimento, essa lição, adquirem maior valia para quem os obteve. É da natureza humana valorizar mais o que mais esforço lhe custou a obter do que aquilo, porventura intrinsecamente mais dispendioso, que sem esforço lhe é proporcionado. E ainda bem que assim é!

A Maçonaria, como sistema e método de transmissão de conhecimentos de natureza moral e espiritual, como meio de crescimento, de evolução, de aperfeiçoamento, dos seus membros, não utiliza o método escolar e escolástico da exposição de conhecimentos, para serem absorvidos por alunos, mais interessados ou desatentos. A Maçonaria propõe um método de disponibilização de meios, de ferramentas, que propiciem e aliciem à descoberta dos ensinamentos que os seus membros se propõem obter. Exige dos seus obreiros um maior esforço. Uns, incapazes de seguir jornada muito prolongada, ficam-se por lições básicas. Outros, mais interessados ou mais perseverantes, vão mais além. Uns e outros, porém, o que aprendem, aprendem a sério, interiorizam-no. Não se limitaram a ouvir discursos e belas palavras. Eles próprios investigaram, meditaram, sopesaram, erraram e emendaram os seus erros, experimentaram caminhos que a lado nenhum foram dar, voltaram atrás e desbravaram caminho para a algo chegarem. O que obtiveram, muito ou pouco, não o esquecem jamais. E valorizam-no. E praticam-no.

A Loja, enquanto conjunto de obreiros, simboliza também a Sociedade, uma Sociedade de homens interessados no bem-estar comum e global, preocupados com Justiça e a Igualdade. Mas uma Sociedade em que, tal como vemos todos os dias nas nossas actividades comuns, campeiam as divergências de pontos de vista, existem concordâncias e discordâncias, aspectos e posições e declarações que nos agradam e que nos desagradam. Uma Loja maçónica é constituída por homens bons que procuram tornar-se melhores - não por homens perfeitos.

Uma Loja maçónica é uma pequena sociedade de homens, com interesses comuns, mas também com divergências, baseada na igualdade, mas reflectindo a natural diferença de evolução de cada um. Porque pequena, os seus elementos rapidamente se conhecem bem. Não vale a pena procurar convencer através de artifícios, de truques de linguagem, de cosméticas de comportamentos. O grupo é pequeno, coeso, atento, e facilmente detecta qualquer artifício. Pura e simplesmente, a muito breve prazo cada um se apercebe que a sua influência dentro do grupo resulta apenas da sua autenticidade, da sua valia intrínseca, da sua capacidade de oferecer soluções substantivamente apropriadas, da valia dos seus argumentos - não de imagem que cultive, de penas de pavão com que se enfeite, de aparências bacocas e de apreciações sobre os autores de ideias, em detrimento da análise destas.

Neste sentido, as lições comportamentais, os ensinamentos sobre a forma de agir, de falar, de defender as suas opiniões e de refutar, respeitando-as, as opiniões de que discordamos, que cada maçon naturalmente recebe e aprende em Loja, são preciosas para o seu dia-a-dia, fora de Loja. O maçon, praticando no seu dia-a-dia o que aprende em Loja, ganha em autenticidade, em capacidade, em poder de argumentação lógica e racional. E é, portanto, melhor. Destacar-se-á, naturalmente.

O espaço em que a Loja se reúne, por sua vez, simboliza o Universo. Por isso dizemos que a Loja, enquanto espaço, vai de Este a Oeste, de Norte a Sul e do Zénite ao Nadir. Todos os símbolos que encontramos em Loja se encontram na Natureza. O significado que cada um conseguir reconhecer em cada símbolo com que depara em Loja é-lhe naturalmente útil na Vida. O que se aprende no espaço da Loja aplica-se, com vantagem, onde quer que nos encontremos.

O trabalho do maçon é, pois, realizado em Loja, mas projecta-se muito para além dela, para a Vida, para a Sociedade, para o Universo. O que se aprende em Loja pratica-se fora dela.

Rui Bandeira

15 julho 2008

Malhetes


O malhete é um dos símbolos do poder numa Loja Maçónica. Pela percussão do malhete, o Venerável Mestre convoca toda a Loja para estar atenta e o acompanhar na execução ritual que vai levar a cabo. Pode ser um simples anúncio, uma acção de mero significado e interesse administrativo ou um acto de relevo especificamente ritual. Não importa. Com o percutir do malhete, o Venerável Mestre convoca as vontades de todos os elementos da Loja ou, se for o caso, daqueles a que especificamente se dirige, para o acompanharem ou auxiliarem.

Vontade - é esta a palavra-chave!

O Poder em maçonaria é - afinal como na vida, ao contrário do que os seus cultores parecem crer - ilusório e limitado. O Venerável Mestre tem o poder que os obreiros lhe concedem. Tem o poder que resulta da consonância da sua vontade com a da Loja. Porque em Maçonaria tudo é voluntário e, portanto, ninguém é obrigado a fazer o que não quer ou a executar decisão com que não concorde. O Poder do dirigente da Loja resulta, assim, da conjugação de vontades da Loja, dos seus obreiros e daquele que foi encarregado de dirigir o grupo.

Portanto, o malhete, um dos símbolos do Poder em Loja, executa o acto de exercício real desse Poder: congregar as vontades. Tão só - e muito é!

Mas um outro malhete existe em Loja: o malhete destinado a percutir o cinzel, no acto de aparelhar a pedra, lhe dar forma, eliminar suas arestas e asperezas.

Também este malhete simboliza a Vontade e, por inerência, o Poder.

A Vontade do maçon em se aperfeiçoar, em trabalhar o seu carácter, em dele eliminar as arestas de seus defeitos, as asperezas de suas insuficiências. E, ao fazê-lo o Poder de o maçon se aperfeiçoar, melhorar o seu carácter, elevar-se da simples condição de homem bom à de homem melhor.

O malhete que está junto ao cinzel, repousando ambos ao pé da pedra bruta que devem trabalhar, para dela fazer a Pedra Polida que resultará de longo, persistente e paciente trabalho, quantas vezes durando toda uma vida é, pela força que transmite ao cinzel, através da qual este trabalha a pedra, o meio de transformação da forma da mesma. Daí o simbolizar o Poder para mudar, a Vontade aplicada a si próprio para se aperfeiçoar. Cada um tem e deve usar o seu malhete individual, para com ele percutir seu cinzel e melhorar e aparelhar a pedra que é ele próprio.

Dois malhetes diferentes, afinal o mesmo significado.

Rui Bandeira

14 julho 2008

A Continuidade - Vem aí o 19º Venerável

Este Sábado dia 12 a Loja Mestre Affonso Domingues, elegeu os seus proximos Veneravel Mestre e Tesoureiro.

Numa votação sem qualquer sobressalto, foi assegurada a continuidade da Liderança da Loja.

Para Tesoureiro foi eleito o Irmão António M., espera-o um cargo dificil e ingrato, se bem que o estado das contas se encontre bom e os sistemas de controlo a funcionar, mas que ele conseguirá cumpri-lo nao temos qualquer duvida.

Para Veneravel, e será o 19º Veneravel da Loja, foi eleito o Irmao João F., a ele a dificil tarefa de ser o primeiro Veneravel da Idade adulta da Loja.

A tomada de posse ocorrerá em Setembro e nessa altura disso daremos conhecimento aqui.

Aos Irmãos eleitos as nossas sinceras felicitações e votos de sucesso.


José Ruah

11 julho 2008

O copo de leite

O texto de hoje, como venho fazendo às sextas-feiras, é um texto que seleccionei para publicação, com o objectivo de que sirva de ponto de partida para alguma meditação, em ordem a algo aprendermos. Este texto, de autor que desconheço, chegou-me já em português, mas tenho-o como tradução de um texto original em inglês, tendo em atenção o nome de um dos intervenientes, que também mantenho. Também como uso fazer, o texto é editado, adaptado e comentado por mim

Um dia, um rapaz pobre que vendia mercadorias de porta em porta para pagar seus estudos, viu que só lhe restava uma simples moeda de dez cêntimos e tinha fome. Decidiu que pediria comida na próxima casa. Porém, os seus nervos traíram-no quando uma encantadora mulher jovem lhe abriu a porta. Em vez de comida, pediu um copo de água. Ela reparou que jovem estava esfomeado e assim deu-lhe um grande copo de leite. Ele bebeu devagar e depois perguntou à mulher:

-Quanto lhe devo?

-Não me deves nada - respondeu ela. E continuou:

- A minha mãe sempre nos ensinou a nunca aceitar pagamento por uma oferta de boa vontade.

Ele concluiu:

-Pois agradeço de todo coração.

Quando Howard Kelly, assim se chamava o rapaz, saiu daquela casa, não só se sentiu mais forte fisicamente, mas também a sua fé em Deus e nos homens ficou mais forte. Ele, que já estava resignado a render-se e deixar tudo, prosseguiu firmemente seus esforços e acabou por endireitar a sua vida e atingir os seus objectivos.

Anos depois, essa jovem mulher ficou gravemente doente. Os médicos da localidade onde vivia estavam confusos. Por mais que fizessem e tentassem, a doente não melhorava e cada dia piorava um pouco, rumo ao que parecia uma prematura, mas inevitável, morte.

Finalmente enviaram-na para a capital, onde chamaram um especialista, dos poucos no Mundo que sabia tratar essa rara enfermidade. Chamaram o Dr.Howard Kelly!

Quando escutou o nome da povoação de onde ela viera, uma estranha luz encheu os olhos do Dr. Kelly. Imediatamente, vestido com a sua bata de médico, foi ver a paciente. Reconheceu imediatamente aquela mulher. Determinou-se a fazer o melhor para salvar aquela vida. Passou a dedicar atenção especial àquela paciente. Depois de uma demorada luta pela vida da enferma, ganhou a batalha.

O internamento fora demorado. Os tratamentos caros. O Dr. Kelly pediu à administração do hospital que lhe enviasse a factura total dos gastos, para a conferir e aprovar. Conferiu-a e depois escreveu algo e mandou entregá-la no quarto da paciente.

A mulher abriu a medo o envelope que continha a factura. Sabia que levaria o resto da sua vida para pagar todos os gastos. Mas, quando finalmente abriu a factura, algo lhe chamou a atenção. Nela estava escrito o seguinte:

Totalmente pago há muitos anos com um copo de leite.

ass.: Dr.Howard Kelly.


A pequena história de hoje é sobre a gratidão, mas não só. Pensemos também que um acto de solidariedade que fazemos hoje, algo de pequena monta, que provavelmente esqueceremos rapidamente, pode fazer toda a diferença para quem dele beneficia. E - quem sabe! - pode, no futuro fazer toda a diferença para nós próprios, quando chegar a altura em que sejamos nós a precisar de ajuda... Ser solidário, fazer o bem sem olhar a quem, como diz o Povo, tem um efeito multiplicador. Quanto mais um de nós for solidário, mais influenciará outros da sua comunidade a sê-lo. E cada um que assim se comporte influenciará mais e mais pessoas. Um pequeno gesto nosso não é apenas um pequeno gesto que fazemos. É um elo na imensa cadeia de pequenos gestos solidários, que assim cresce e se fortalece e faz um Mundo melhor. E um dia nós, ou os nossos filhos, porventura beneficiaremos de que o Mundo esteja melhor.

Nenhum gesto solidário é pequeno. Todos são grandes, imensos e indispensáveis. Para o Mundo ser melhor, só é preciso que cada um faça a sua parte!

Rui Bandeira

10 julho 2008

Maçons e controvérsia sobre religião

Os princípios existem para serem seguidos sem desvios. Por isso são princípios. Os princípios enformadores da Maçonaria Regular, os Landmarks, que por vezes também designamos pela Regra dos Doze Pontos, existem e são observados desde há centenas de anos. Um desses princípios é o sexto Landmark, a que já dediquei um texto e cujo teor aqui agora reproduzo:

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

Recordei que este basilar princípio existe para ser aplicado em todas as circunstâncias há poucos dias. No último parágrafo do texto Escada em caracol escrevi, erradamente, que "(...) a escada em caracol não deve ser confundida com a escada de Jacob, símbolo eminentemente cristão, (...)". Atento, o José Ruah, corrigiu, alertando para o facto de que também na Religião Judaica se referencia e estuda o significado da Escada de Jacob. Reconheci-lhe de imediato razão: esquecera-me que o Livro do Génesis (onde consta a referência à Escada de Jacob) também integra a Torah e é, portanto, parte dos Livros Sagrados, quer do Cristianismo, quer do Judaísmo. Deveria ter utilizado o adjectivo "religioso" em vez do "cristão".

Mas o José Ruah concluiu a sua chamada de atenção com uma frase que eu, sempre atento a estas coisas, logo me apercebi que dava pano para mangas e daria para o "picar" para uma das controvérsias em que nós gostamos de nos envolver. Concluiu ele, como de costume poupando nos acentos:

"A Escada de Jacob não é um simbolo Cristão e representa segundo a interpretaçao judaica valores muito proximos dos defendidos pela Maçonaria."

Pensei em lançar-lhe o isco de que com esta declaração ele estaria a enfeudar a Maçonaria e os seus valores à Religião Judaica, manifestando-lhe a minha discordância e proclamando que a Maçonaria é independente de todas as religiões e aos crentes de todas admite no seu seio. Conhecendo como conheço o Ruah, calculei que, se ele decidisse engolir o anzol, retorquiria que era assim, mas não deixaria de enumerar e exemplificar princípios comuns à Maçonaria e ao Judaísmo. Eu responderia assinalando a similaridade dos princípios maçónicos com os de várias outras religiões, cada um seguidamente pegaria nas frases do outro que lhe desse mais jeito para argumentar em torno de sua tese, buscaria e apresentaria citações de filósofos, professores e estudiosos renomados e assim poderíamos manter uma saudável controvérsia, no decurso da qual estudaríamos e aprenderíamos um com o outro algo sobre o tema. No final, como é também costume, concluiríamos que, a bem dizer, nem sequer havia discordâncias de monta ente nós, que afinal pensávamos praticamente o mesmo, consistindo a diferença apenas em que cada um formulava idêntico pensamento de maneira diferente. Se decidíssemos entabular uma controvérsia deste tipo, ambos saberíamos, desde o início, que esta evolução era "trigo limpo, farinha Amparo", até porque ambos sabemos ler e interpretar o que está escrito e ambos sabíamos que a frase do Ruah que acima transcrevi e que me serviria de pretexto para lançar a controvérsia não enfeudava realmente os princípios da Maçonaria à Religião Judaica, pois o que nela se diz é que a interpretação judaica das escada de Jacob representa valores muito próximos dos defendidos pela Maçonaria, não se excluindo que interpretações de outras religiões igualmente não representassem valores igualmente próximos dos valores maçónicos. É claro que, para bem da controvérsia, ambos "fingiríamos" que só no fim nos apercebíamos disso e nisso concordávamos...

Estive tentado a começar o texto de "picanço". Porventura daria um debate engraçado e a propósito do qual ambos aprenderíamos alguma coisa e, connosco, quem nos lesse.

Depois pensei melhor. O sexto Landmark alertou-me. Por alguma razão a sabedoria ancestral da Maçonaria proíbe, no seio dos maçons, toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Mesmo amigável, mesmo com a melhor das intenções, a controvérsia sobre questões religiosas é sempre terreno minado e areia movediça. A convicção religiosa é de tal forma culturalmente imanente à identidade de cada um, que basta uma palavra mal percebida para acirrar ânimos e gerar mal entendidos. Temos e teremos imensas oportunidades, o Ruah e eu, de nos "picarmos" mutuamente para controvérsias, polémicas, debates, de onde resulte algo esclarecedor, para nós e para quem nos ouve ou lê. Não devemos esquecer ou torcer ou deixar de lado um dos basilares princípios da Maçonaria Regular só para satisfazer o nosso gosto de polemizar. Além do mais, seria irónico que se violasse um dos princípios basilares da Maçonaria Regular para estabelecer um debate sobre... a confluência dos princípios da Maçonaria e das religiões...

É mesmo assim, como comecei: os princípios existem para serem seguidos sem desvios!

Rui Bandeira

09 julho 2008

Com que então a fazer caixinha!

O Companheiro Maçon do Estado de São Paulo a que aludi no último texto, também escreveu na sua mensagem de correio electrónico:

Sou leitor assíduo de seu blog. Como Companheiro Maçom, às vezes sou criticado pelos Mestres de minha Loja por sugerir alguns temas que, diante de suas visões, fogem ao meu grau. Entretanto, desconhecem a fonte de minhas pesquisas: o blog do Ir.´. Rui Bandeira, de Portugal.

Vamos lá por partes: ser leitor assíduo deste blogue é algo que me agrada. Recomendo. Acho que faz bem ao espírito. E, porque diminui o stresse, também acaba por fazer bem ao corpo e à saúde. É só vantagens! Por aqui estamos de acordo!

Um pequeno desacordo existe quando o Irmão Companheiro escreve que a fonte de suas pesquisas é "o blog do Ir.'. Rui Bandeira, de Portugal. Aqui, como sou cordato, acho que o meu correspondente acerta em 50 %: o blogue é de Portugal e escrito por maçons de Portugal. Mas no mais tenho que corrigir o Irmão: o blogue não é do Irmão Rui Bandeira. É dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Rui Bandeira é apenas um deles. Faça o Irmão Companheiro o favor de dirigir seus olhos para a frase que está logo abaixo do título do blogue: Blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. É isso que ele é. Não do Rui Bandeira.

O Rui Bandeira tem sido o elemento que mais textos tem escrito, é verdade. Mas não é o único a escrever e não é, não quer ser, o dono do blogue. Pelo contrário, espera que o blogue continue quando ele já não estiver em condições de nele escrever. Se tiver continuidade, se passar de geração em geração de maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, como os princípios maçónicos passam de geração em geração de maçons desde há muitos e muitos anos, terá sido uma boa ideia iniciá-lo. E, se assim for, altura chegará em que os textos escritos por Rui Bandeira serão uma minoria esquecida no arquivo do blogue, eventualmente um ou outro lido aqui e ali, pelo acaso de aleatória busca num motor de busca, quiçá com a mesma curiosidade e bonomia com que acolhemos uma velharia testemunho de época passada...

Um blogue escrito pelo Rui Bandeira seria algo de efémero. Um blogue escrito pelos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues tem as sementes da perenidade, que é grandiosa.

É certo que nestes dois anos o mais frequente autor de textos do blogue é Rui Bandeira. Mas isso não quer dizer que o blogue seja do Rui Bandeira. Isso apenas prova que é verdade o que aqui no blogue apregoamos: a Maçonaria é um meio e um método de aperfeiçoamento. Só procura aperfeiçoar-se quem tem defeitos. E muitos dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues estão ainda bravamente lutando contra o defeito da Preguiça! Mas eu não desespero: os meus Irmãos certamente obterão êxito na sua tarefa de aperfeiçoamento e acabarão por vencer esse defeito. E então teremos muitos mais textos de muito mais gente aqui no blogue. E então ver-se-á como é redutor considerar este blogue como o blogue do Rui Bandeira. Porque então se verá como há na Loja Mestre Affonso Domingues gente com muito melhor qualidade do que o Rui Bandeira. Até lá, portanto, o Rui Bandeira vai praticando o seu defeito de estimação: a obstinação!

Há um prazo de validade para uma pessoa manter um projecto com qualidade. Espero que, antes de eu esgotar o meu prazo de validade, este blogue já esteja a ser pensado e administrado por outrem, que tomará o testemunho e o levará mais além, até o passar a outros, que o passarão a outros. e assim porventura se fará deste blogue algo com alguma valia. Se há algo que os maçons demonstraram ter entendido, é que a continuidade e a persistência ao longo do tempo geram a qualidade. Dois anos? Não é nada! Será alguma coisa se, daqui a vinte anos, eu ainda por aqui estiver e puder ler textos no A Partir Pedra. Terá realmente algum significado porventura com um interesse relevante, se, daqui a duzentos anos, os meus trinetos e tetranetos continuarem a ler - e, quem sabe, a escrever... - textos no A Partir Pedra.

Portanto, caro Irmão Companheiro do Estado de São Paulo, não diminua involuntariamente o significado deste blogue, crendo que ele é o blogue do Irmão Rui Bandeira. Espero que seja muito mais do que isso. Assim os maçons, actuais e futuros, da Loja Mestre Affonso Domingues o queiram!

Mas agradeço-lhe a gentileza!

Agora, caríssimo Irmão Companheiro, onde eu tenho de virar para um arremedo de português do Brasil e lhe dar uma baita bronca é quanto àquela parte de sua mensagem em que - lembro para você não esquecer - você escreveu que os Mestres de sua Loja
"Entretanto, desconhecem a fonte de minhas pesquisas"!!!!

Que é lá isso, meu Irmão? Valha-nos Nossa Senhora de Aparecida, que eu parece que não tou lendo bem! Então o Irmão tá fazendo caixinha? Tá guardando segredo? Tá aproveitando no bem bom o que vai lendo por aqui e guarda tudo pra você? Que é então do sentimento fraternal de partilha com seus Irmãos? O meu Irmão, se leu e gostou, se acha que é bom, tem a obrigação de partilhar com seus Irmãos! Tá guardando tudo pra você, é?

Meu Irmão Companheiro do Estado de São Paulo: sua tarefa de aperfeiçoamento é aprender e praticar a partilha do que acha bom com seus Irmãos. Prove-me que está melhorando, se aperfeiçoando. Mostre a todos seus Irmãos, Mestres, Companheiros e Aprendizes a fonte de suas pesquisas! Dê a eles o endereço do A Partir Pedra! Olha que eu vou saber, viu? Tou esperando um aumento súbito de visitas ao blog... Quando é mesmo a próxima reunião de sua Loja? Na semana seguinte eu vou tar de olho, viu?

Fazer caixinha? Onde já se viu? VirgeMaria! Vá correndo emendar seu erro. Além do mais, fica com a vantagem de os Mestres da Loja deixarem de dar bronca em você. Passam a dar em mim!!!

(Pausa para respirar, reassumir um ar formal e voltar a escrever português à moda de Portugal)

Meu Irmão Companheiro do Estado de São Paulo. Espero que não se tenha ofendido. Esta imitação de "bronca" foi brincadeira mesmo! Gostei muito e fiquei muito satisfeito quando recebi a sua mensagem e apeteceu-me brincar um pouco com ela. É assim! Só com os Irmãos é que se está à vontade para brincar, sabendo que eles se não vão zangar... Mas, agora a sério: se gosta do A Partir Pedra, não acha mesmo que deverá informar seus Irmãos da sua existência, para eles poderem também usufruir?

Entretanto, espero que o texto sobre a Escada em caracol lhe seja útil. Mande-me depois o seu trabalho. Vou gostar de ler! Um abraço e disponha sempre do

Rui Bandeira

08 julho 2008

Escada em caracol

Um Companheiro Maçon do Estado de São Paulo enviou-me uma simpática mensagem de correio electrónico, na qual vinha incluído o seguinte pedido:

Gostaria de ler algum comentário do prezado Irmão, sobre a Escada em Caracol. Pretendo apresentar um trabalho sobre a mesma em Loja, e suas idéias poderiam me auxiliar na sua execução.

A escada em caracol não é propriamente um dos símbolos que tenha chamado a minha atenção. Normalmente é referido como tendo um significado simbólico muito directo, que acaba por ser ofuscado pela primazia do estudo do Homem, das Artes e das Ciências, estádio especialmente recomendado para ser objecto dos esforços do Companheiro maçon.

Este pedido deixou-me, assim, a modos que descalço... Que escrever sobre o tema? Fiz uma busca electrónica e encontrei quatro referências que, sendo parcas, provavelmente abarcam os principais aspectos deste símbolo. Como não gosto de me enfeitar com penas alheias, não vou elaborar um texto com base no que recolhi nesta busca. Em vez disso, é porventura mais útil e seguramente mais transparente publicar aqui citações do que encontrei, obviamente referenciando a origem.

ESCADA CARACOL

Mostra a difícil trajetória do Companheiro. Com seus degraus em espiral ela representa a dificuldade em subir, aprender e auto aperfeiçoar-se, mostrando que a evolução não se desenvolve de uma forma constante e retilínea. Ela tem seus altos e baixos. Sua persistência em busca da luz, será a recompensa, pois atingirá o topo da escada.

(retirado de http://jaburucab.vilabol.uol.com.br/simbolismo.html)

A Escada que vem a continuação é uma Escada de caracol para simbolizar que a ascensão do Maçom não é nada fácil. Lembrando o Salmista, só subirá a Montanha do Senhor quem tiver as mãos limpas e o coração puro. Na página seguinte do Ritual do Comp\ vemos um detalhe da escada que mostra que a subida da escada recurvada é de três lances, respectivamente de três, cinco e sete degraus. Os três primeiros degraus correspondem ao Prumo, Nível e Esquadro e que o Comp\ já conheceu no 1er Gr\

Depois temos os degraus que lembram os cinco sentidos: ouvir, ver, apalpar, cheirar e provar. Ragon fala que as cinco viagens lembram filosoficamente os cinco sentidos, que são fiéis companheiros do homem e seus melhores conselheiros nos julgamentos que ele deve fazer; um sentido pode se enganar; os cinco sentidos, jamais; toda sensação é uma percepção que supõe a existência de uma retidão. Para Luis Umbert Santos é a primeira viagem que está consagrada aos cinco sentidos. Oscar Ortega (Chile) também coincide que a primeira viagem tem relação com o objetivo e o substancial e, por tanto, lhe é assinalado a interpretação dos 5 órgãos dos sentidos. O desenhista colocou nestes 5 degraus um corrimão sustentado por 5 colunas cada uma delas correspondente a uma ordem grega diferente, e assim temos uma coluna toscana, dórica, jónica, corinthia e uma compósita; elas representam as cinco ordens nobres da arquitetura antiga. No primeiro grau foram estudadas em detalhe o referente às colunas jónica, dórica e corínthia. A ordem compósita ou composta, como indica seu nome usa elementos dos capitéis das colunas jónica e corínthia, a coluna compósita lembra o Or\ que reúne as proposições das discussões em L\ conciliando-as e “fechando o triângulo”; a toscana, a diferença das outras quatro, é italiana, originaria da antiga Etruria, que formou na História um grande ducado anexado em 1860 ao reino da Itália; a ordem toscana é reconhecida como a mais simples e sólida das cinco ordens de Arquitetura; o dossel do trono do Ven\ M\ é sustentado por duas colunas toscanas.

O terceiro lance da escada é de sete degraus e cada um deles representa uma das sete artes e ciências do mundo antigo: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia; após completar os três lances de 3, 5 e 7 degraus é que o Comp\ chega à C\ do M\

(retirado de http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html)

Deste modo cada um de nós tenta também, fazer uma “reconstituição” material do Templo de Salomão, pois na Maçonaria, esse Templo é tão apenas e acima de tudo, um símbolo, apesar de ser um símbolo de um alcance magnífico, designadamente “o Templo ideal jamais terminado”, o templo em que cada maçon é uma das sua pedras, preparada sem machado, nem martelo, no silêncio da meditação.
Nele sobe-se aos seus andares por escadas em caracol, por “espirais”, que indicam ao Iniciado que é nele mesmo, é voltando-se sobre si mesmo, que ele poderá atingir o ponto mais alto, que constitui o seu objectivo de evolução.

(retirado de http://gremioestreladalva.blogspot.com/2006/09/o-templo-de-salomo.html)

Contudo rejeitará o mito da existência da Maçonaria ao tempo de Salomão. É lição de Jules Boucher contido na célebre A Simbólica Maçônica – segunda as regras da simbólica esotérica e tradicional (trad. de Frederico O. Pessoa de Barros, Ed. Pensamento, S. Paulo, 9ª. Ed., 1993, p.152): os maçons não tentamos reconstruir materialmente o Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada maçom é uma pedra, preparada sem machado nem martelo nos silêncio da meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro suba por uma escada em caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por materiais construtivos a pedra (estabilidade), a madeira do cedro (vitalidade) e o ouro (espiritualidade). Para o maçom, ensina Boucher, “o Templo de Salomão não é considerado nem em sua acepção religiosa judaica, mas apenas em sua significação esotérica, tão profunda e tão bela”.

(retirado de http://www.estrela.rudah.com.br/modules/news/print.php?storyid=15)

Destes textos, ressaltam, pois, as noções da dificuldade do trabalho do maçon, das etapas em que este é dividido e desenvolvido, que o que o maçon deve buscar se encontra dentro de si mesmo, da reflexão e da sua indispensabilidade no trabalho de aperfeiçoamento do maçon.

Duas breves notas: a primeira, para frisar que os diferentes lanços das escadas, com 3, 5 e 7 degraus podem ser interpretados conforme a segunda citação supra, mas também pode deles retirar-se outras interpretações, designadamente referentes ao grau de desenvolvimento do maçon em função do seu grau, do seu tempo de estudo, enfim da sua idade na Maçonaria. Como é frequente, os símbolos não são unívocos na sua interpretação. Mais do que receber e apropriar-se das interpretações feitas por outrem, por muito estudioso que seja, deve cada maçon meditar ele próprio no significado de cada símbolo e adoptar o que, segundo a sua mentalidade, o seu desenvolvimento, o seu entendimento, tiver por mais adequado. Os Mestres guiam-nos, não nos impõem caminhos!

A segunda para alertar que a escada em caracol não deve ser confundida com a escada de Jacob, símbolo eminentemente cristão, que pretende figurar a Revelação, a ligação entre os Homens e Deus, através da qual a Terra e o Céu se uniriam e por onde desceriam os dogmas divinos revelados aos homens e ascenderia o espírito humano, no seu anseio de se unir a Deus. Este é um símbolo claramente religioso. Aquele respeita ao trabalho e à acção do homem, na sua busca de aperfeiçoamento.

Rui Bandeira

07 julho 2008

Marcadores

O simple, num comentário ao texto ... e do resultado. , escreveu o seguinte:

Por falar em referência, os marcadores que aparecem no blogue, do lado direito, talvez pudessem ser mais agregados. É que são muitos, e a maioria refere-se a um reduzido número de textos.

Há 336 marcadores (!!!) dos quais 57% (192) se referem apenas a um artigo, 15% (51) a dois artigos, e 7% (24) a três artigos. Juntos representam 79% dos marcadores. No outro extremo, os marcadores com mais textos associados são "Blogue" (48) e "Maçonaria" (37), o que, convenhamos, é pouco explícito...

Ter marcadores como "Efemérides", "Simbologia", "Curiosidades", "Personalidades", "Textos de Referência", ou outros semelhantes, facilitaria imensamente quem cai aqui "de paraquedas"...


Antes do mais, caro simple, gabo-lhe a paciência de contar o número de marcadores que a nossa desleixada verborreia foi criando...

Mas tenho de aqui declarar que, embora compreendendo a sua sugestão, não estou de acordo com ela, essencialmente por duas razões:

A primeira, de índole muito prática, deriva da característica pouco comum deste blogue: um blogue colectivo. Esta opção, que é intrínseca ao que o blogue é, condiciona uma série de variáveis. Desde logo que cada autor de textos tem os seus critérios individuais, que os demais, obviamente, respeitam. Portanto, se um ou mais dos autores dos textos usa um critério de atribuição de marcadores tão pormenorizado que faz com que estes ultrapassem as três centenas, não há nada a fazer. Um dos princípios subjacentes a este blogue é que não há censura e respeita-se absolutamente o que cada um escreve e a forma como organiza o produto da sua escrita. Se um de nós discordar daquilo que outro escreva, só tem que, querendo, escrever um texto manifestando essa discordância. Nem sequer os autores de textos que têm privilégios de administrador os usam em relação aos textos dos demais. O texto de um autor só por ele ou a pedido dele é editado. Se eu vir o mais horroroso erro ortográfico num texto do blogue e se esse texto tiver sido escrito por mim, o que faço é emendar o disparate. Mas se o texto tiver sido escrito por outrem, o mais que faço é avisá-lo do erro . Emendá-lo, só se ele o pedir... Portanto, meu caro, não há nada a fazer em relação ao número de marcadores. É o que é em resultado de critérios individuais desencontrados e por todos respeitados. A Liberdade tem destas coisas...

Mas, meu caro, nem sequer me parece que haja demasiados marcadores: são 336, mas os textos, até este, são 669. Ou seja, quase em pleno uma relação de 1 para 2. Se há marcadores relativos a poucos textos, um ou dois, é porque os respectivos temas (ainda) só foram pouco pouco tratados. Não quer dizer que alguns deles não possam ter um acréscimo de textos a eles referenciado, a qualquer momento. E também acho normal que haja marcadores com muitas referências. O mais natural do Mundo é que um blogue temático dedicado à maçonaria tenha muitas referências neste marcador. E, num blogue em que os seus autores constantemente o analisam, procuram melhorar, questionam o seu conteúdo e orientação e se interrogam o que devem, a cada momento, fazer, para o melhorar, é só natural que o marcador Blogue tenha também muitas referências...

Quanto às sugestões do simple sobre o tipo de marcadores, direi que o marcador curiosidades, até agora, referencia 19 textos. E que o marcador efemérides referencia 3 textos. Não marcámos (ainda?) simbologia mas, em contrapartida, marcámos 3 textos com o marcador simbolismo. Quanto a destacar Personalidades, não é, garantidamente, o nosso estilo... E também não somos assim tão vaidosos para destacar Textos de referência...

Falta ainda a segunda razão para haver tantos marcadores. É que, caro simple, não é orientação dos escrevinhadores deste blogue facilitar a vida a quem cai aqui de pára-quedas. Das duas, uma, ou quem cai aqui de pára-quedas, gosta e busca, analisa, lê, procura e escarafuncha - e então não só não precisa de menos marcadores como, se calhar, até lhe dá jeito ter tantas e tão pormenorizadas referências - ou caiu mesmo de pára-quedas e depressa se levanta para ir para outro sítio, desinteressado deste, que não se enquadra no seu esquema mental - e então não vale a pena preocuparmo-nos com esses...

Um último ponto: também não somos inocentes... Sabemos muito bem como funcionam os apontadores na Net e que a existência de muitos marcadores, autonomamente classificáveis num apontador, aumentam a visibilidade do blogue. E que alguns marcadores muito consultados obtêm acesso ao topo das listas de referência do Google... Somos maçons, estamos atentos às coisas do espírito, mas isso não quer dizer que estejamos desatentos ao Mundo em que nos inserimos... E - já muito recentemente aqui o assinalei - nós escrevemos para ser lidos. Gostamos que leiam o que escrevemos. Não escrevemos apenas para o nosso baú e secreto gozo pessoal... É obviamente melhor ter visibilidade e ser lido do que a não ter...

Percebo a sua preocupação. Certamente ficou a perceber também o meu ponto de vista. É assim que, em maçonaria, nós gostamos de tratar todos os assuntos e debater todas as divergências, todos os distintos pontos de vista: com argumentos, com calma e no respeito da opinião alheia. E tendo sempre presente que o objectivo de qualquer discussão não é convencer o outro que está errado e que nós é que estamos certos. É dar a conhecer o nosso ponto de vista e as razões porque o temos, encontrar semelhanças, analisar divergências, construir pontes. E assim raramente acabamos uma discussão à mesma distância em que os contendores a iniciaram: por regra, estamos sempre mais próximos no fim do que estávamos no início. E sempre respeitando e compreendendo as razões do Outro e as origens e condicionalismos das divergências. Entre nós, pratica-se o que o ditado popular diz e efectivamente da discussão nasce a luz. O que nos agrada muito, já que o maçon busca precisamente isso: a Luz!

Rui Bandeira

04 julho 2008

Os três conselhos

Como venho fazendo à sexta-feira, deixo aqui mais uma historieta, de autor que desconheço, que circula no correio electrónico. Já a recebi várias vezes, pelo que presumo que seja conhecida da maior parte dos leitores. O que não é razão para deixar de a publicar aqui. Estas historietas de entrada de fim de semana destinam-se a ser pontos de partida para reflexão. O que importa é que a reflexão aconteça e cada um tire alguma lição dela e proveito da mesma, para sua melhoria pessoal, conhecesse ou não a história.

Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de favores numa quinta do interior. Um dia, cansado de tanta pobreza e falta de perspectivas, o marido disse para a sua amada esposa:


- Querida, vou emigrar, vou viajar para bem longe, encontrar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que me esperes e enquanto eu estiver fora, sejas FIEL a mim, pois eu serei fiel a ti.


Assim sendo, o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um lavrador que precisava de alguém que o ajudasse na sua propriedade.


O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, tendo sido aceite. Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceite. O pacto foi o seguinte:


- Deixe-me trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor dispensa-me das minhas obrigações
. EU NÃO QUERO RECEBER O MEU SALÁRIO. Peço que o senhor o aplique em depósitos que rendam alguma coisa até ao dia em que eu for embora. No dia em que eu sair, o senhor dá-me o dinheiro e eu sigo o meu caminho.

Tudo ficou combinado. Aquele jovem trabalhou DURANTE VINTE ANOS, sem férias e sem descanso. Depois de vinte anos chegou para o patrão e disse:


- Patrão, quero o meu dinheiro, pois vou voltar para a minha casa.
O patrão então respondeu-lhe:

- Tudo bem, afinal fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes quero fazer-te uma proposta. Eu dou-te o teu dinheiro e vais-te embora, ou DOU-TE TRÊS CONSELHOS e não te dou o dinheiro e vais-te embora. Se eu te der o dinheiro , não te dou os conselhos, se eu te der os conselhos, não te dou o dinheiro. Vai para o seu quarto, pensa e depois dá-me a resposta".

Ele pensou durante dois dias. Trabalhara duramente pelo dinheiro. Mas, ao longo daquele tempo, aprendera que o patrão era um homem prudente e, justo e sábio, que não lhe iria propor nada que o prejudicasse. Decidiu-se, procurou o patrão e disse-lhe:

- QUERO OS TRÊS CONSELHOS.


O patrão novamente frisou:


- Se te der os conselhos, não te dou o dinheiro.


E o empregado respondeu:


- Quero os conselhos.


O patrão então deu-lhe os conselhos:


1. NUNCA TOMES ATALHOS NA TUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a tua vida.


2. NUNCA SEJAS CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAU, pois a curiosidade para o mal pode ser mortal.


3. NUNCA TOMES DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois podes arrepender-te e ser tarde demais.

Depois de dar os conselhos, o patrão disse ao seu já ex-empregado:

- AQUI TENS TRÊS PÃES. Estes dois são para comeres durante a viagem e este terceiro é para comeres com a tua esposa quando chegares a casa.


O homem então, seguiu seu caminho de volta, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.


Depois do primeiro dia de viagem, encontrou um outro viajante, que o cumprimentou e lhe perguntou:


- Para onde vai?


Ele respondeu:


- Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por essa estrada.


E disse-lhe o nome da sua terra. O viajante disse-lhe então:


- Homem, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho e você chega em poucos dias.


E indicou-lho.

O homem, contente, começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho. Então voltou e seguiu o caminho normal.

Dias depois, soube que o atalho levava a uma emboscada. Quem o seguisse, em determinado ponto era assaltado, roubado e morto.


Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou pensão à beira da estrada, onde podia hospedar-se.


Pagou a diária e, depois de tomar um banho, deitou-se para dormir.

De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto só e dirigiu-se à porta para ir até o local do grito.Quando ia abrir a porta, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou- se e dormiu.

Ao amanhecer, depois de tomar o pequeno almoço, o dono da hospedaria perguntou-lhe se ele não tinha ouvido um grito e ele disse que tinha ouvido.

- E não ficou curioso?

Ele disse que não.

Então o dono da hospedaria respondeu-lhe:

- VOCÊ É O PRIMEIRO HÓSPEDE A SAIR DAQUI VIVO, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.

O homem prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a casa. Depois de muitos dias e noites de caminhada,

Já ao entardecer, viu entre as árvores o fumo que saía da chaminé da sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pôde ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha JUNTO A SI um homem a quem carinhosamente acariciava os cabelos. Quando viu aquela cena, o seu coração encheu-se de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e a matá-los sem dó nem piedade.

Respirou fundo e preparou-se para seguir o seu impulso, quando se lembrou do terceiro conselho.

Então parou, reflectiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, disse para si mesmo:

- NÃO VOU MATAR A MINHA MULHER NEM O SEU AMANTE. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes, quero dizer à minha mulher que eu cumpri a minha palavra e sempre LHE FUI FIEL.

Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a mulher abriu a porta e o reconheceu, atirou-se-lhe ao pescoço e abraçou-o afectuosamente. Ele tentou afastá-la, mas não conseguiu. Então, com as lágrimas nos olhos, disse-lhe:

- Eu fui-te fiel e tu traíste-me...

Ela, espantada, respondeu-lhe:

- Como? Eu nunca te trai, esperei durante estes vinte anos.

Ele então perguntou-lhe:

- E aquele homem que estavas acariciando ontem ao entardecer?

Ela disse-lhe então:

- AQUELE HOMEM É NOSSO FILHO. Quando te foste embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade.

Então o marido entrou, conheceu, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o pequeno almoço.

Sentaram-se para comer juntos o último pão que o patrão do homem lhe tinha dado. O regressado partiu o pão e, ao abri-lo, encontrou todo o seu dinheiro, o pagamento por seus vinte anos de dedicação.

A historieta é longa, rebuscada e nem sempre totalmente lógica. De que viveu a mulher e o filho que lhe nasceu, ao longo daqueles vinte anos, se já com o seu marido a vida era tão difícil? Porque o viajante ensina um atalho que é tão perigoso (a não ser que fizesse parte do bando de assaltantes)? Porque o dono da hospedaria não procurou tratamento para o seu louco e perigoso filho e continuava aceitando hóspedes, sabendo que iriam ser mortos? E afinal o justo e sábio patrão mentiu... Deu ao seu empregado os três conselhos e o dinheiro... Mas o que importa é que os três conselhos, esses, são válidos e devem ser por nós lembrados. Porventura nos serão úteis também a nós.

Diz o povo que quem vai por atalhos mete-se em trabalhos. Pode-se pensar que o atalho "queima etapas" e faz-nos chegar mais rápido. Nem sempre isso é verdade. E, por outro lado, alguma razão haverá para o caminho seguir a via que segue e não a do atalho...

Muitas vezes somos curiosos, queremos saber de coisas que não nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará...

Outras vezes, agimos por impulso, dominados pela ira, e fatalmente nos arrependemos depois...

Lembremo-nos, pois, sempre destes três conselhos. Talvez um dia nos felicitemos por o ter feito...

Rui Bandeira

03 julho 2008

Dialéctica

Às vezes perguntam-me como consigo arranjar tantas coisas para escrever no blogue. Normalmente, sorrio e respondo que lá se vai conseguindo qualquer coisa - o que é uma maneira de não responder... Pensando nisso, decidi que o melhor sítio para esclarecer coisas acerca deste blogue é... este blogue! Vou então procurar dar resposta a essa questão.

Em boa verdade, a pergunta não está correcta. Se pensarmos bem, eu escrevo sempre sobre a mesma meia dúzia de coisas, o mesmo punhado de ideias (aquelas poucas que consigo alinhavar...). O que consigo é escrever sobre a mesma meia dúzia de ideias... de uma imensidão de maneiras diferentes! Isto é, bem espremidinho este blogue, aqui diz-se sempre as mesmas coisas - e nem sequer são muitas. O que se vai fazendo é enroupar a mesma ideia com colecções de formas diferentes. Em resumo: não me considero um criador de ideias; apenas, e quando muito, um costureirinho de roupagens para as poucas que consegui alinhar. Presentemente, estou apresentando a colecção de Primavera - Verão de 2008...

É claro que tenho um plano geral sobre a evolução e apresentação dos textos que espero publicar. No fundo, é como se estivesse escrevendo o que eu penso que seja a Maçonaria... em fascículos, em pílulas, em bocadinhos. Porém, talvez por ser retorcido ou simplesmente por apreciar a variedade e abominar a monotonia, cada textozinho é um bocadinho do puzzle total, que apresento fora de ordem. O aspecto global está na minha cabeça. Mas não o quero, pelo menos por agora, nem pelos tempos mais próximos, mostrar a quem me lê, pela simples razão de que espero que este espaço seja apreciado como espaço de informação e de consulta por quem se interessa pelo tema da Maçonaria e que os interessados aqui voltem com alguma regularidade. Afinal de contas, não escrevo para meu deleite pessoal. Gosto que leiam aquilo que escrevo e, se possível, o apreciem. Este espaço é um blogue, não um livro. Num livro, é suposto apresentar-se a tese que se propõe ao leitor segundo uma certa ordem. Um blogue, pelo contrário, é um espaço dedicado a textos não demasiadamente grandes, tanto quanto possível apontando claramente a ideia que se tem sobre o que se está escrevendo, frequentemente actualizado com novos textos, acrescentos, comentários, respostas, etc.. É um espaço em que a dialéctica deve imperar, se for bem trabalhado por quem o edita e bem correspondido por quem o lê. E assim, nessa dialéctica, se constrói um blogue, se junta um acervo de textos e de ideias e de diferentes apresentações de ideias, que se deixa à disposição de quem o quiser ler e explorar. Aqui, já vamos em mais de dois anos de acumulação...

Pode não parecer, mas o arrevesado parágrafo anterior explica de onde vem a inspiração para os textos. Verifico que hoje estou virado para a complicação. Vou então simplificar. A inspiração para os textos que escrevo vem-me por duas vias. A primeira, como que o pano de fundo, é o projecto global que, às pinguinhas, vou escrevendo e que se resume num princípio muito simples: ao contrário do que para aí se proclama, a Maçonaria não tem nada de secreto e tem muito pouco de reservado; não existe, pelo contrário, nenhum inconveniente em divulgar, em colocar à disposição de quem nisso estiver interessado, o que é a Maçonaria, seus princípios, suas práticas, seus métodos, seus hábitos. A segunda surge através da dialéctica com quem me lê e com os demais autores de textos do blogue.

Quanto à primeira fonte de inspiração, estamos conversados. Pouco mais haverá a dizer. Ou, porventura, não me apetece agora nada mais acrescentar.

Quanto à segunda, é, na minha opinião, o que confere brilho, vivacidade, cor, ao blogue. É por aqui que chega o inesperado. É por esta via que surgem as voltas imprevistas, os temas inesperados, as discussões interessantes, os desenvolvimentos propiciados. Se quem escreve um blogue se limitasse a seguir um plano pré-traçado, mais valia, na minha opinião, estar quieto: no mínimo, estar-se-ia perante um blogue monótono e cansativo, por muito interessante ou importante que fosse a mensagem. Há que ter em conta a diferença de suportes: um blogue não é um livro e não se destina a ser lido como um livro. Num livro busca-se o desenvolvimento coerente de uma ou várias ideias; num blogue, se bem vejo, procura-se o texto curto, a informação rápida, a consulta, a sequência. Um livro pode ler-se de seguida; um blogue destina-se a ser visto um bocadinho de cada vez e, quando apetece e se pode, por vezes, alguns bocados por mais algum tempo.

É por isso que dou muita importância, quer aos textos dos outros autores do blogue (que frequentemente me sugerem ideias para outros textos), quer aos comentários e perguntas de quem me lê e se dá ao trabalho de aqui deixar a sua opinião. Muito frequentemente, também, um comentário sugere-me um ou mais textos. Por vezes, não imediatamente publicados. Mas tenho o cuidado de iniciar um novo documento, ou novos documentos, com a ou as ideias propiciadas pelos comentários, para oportunamente serem desenvolvidas, ou simplesmente referidas, seja num texto mais sério, seja num tom mais ligeiro.

Para que tenham a noção, neste momento, tenho em carteira as seguintes ideias, fora do plano de fundo do blogue: um texto que terá talvez o título de Malhetes, em desenvolvimento do tema do exercício do poder na Loja (já não me recordo se em resultado de texto do José Ruah, se de algum comentário surgido sobre outras pinceladas sobre este tema); um texto que se intitulará Deixar os metais à porta do Templo, que resulta de um comentário deixado no blogue, salvo erro do nuno_r, em cuja resposta anunciei que haveria de desenvolver este tema (posso ser atrasado, mas não sou esquecido...); um texto que terá o título Simbolismo: da Loja à vida, que é o texto que resta fazer de um conjunto que anunciei em resposta a um comentário do simple (está muito, muito atrasado, eu sei; mas não me apeteceu ainda fazê-lo; e a experiência há muito que me ensinou que, quando não me apetece escrever algo, é porque esse algo ainda não está maduro e convém deixar o subconsciente acabar de o trabalhar; mas acho que está quase...); um texto sobre Tipos de ritualistas, inspirado em conversas com o José Ruah e num fabuloso texto que ele publicou aqui no blogue (seguramente um dos melhores textos alguma vez aqui publicados); um texto de resposta a um comentário muito recente do simple sobre os marcadores do blogue; e dois textos (um curto, mais ligeirinho e brincalhão; o outro, mais sério) em resultado de uma mensagem privada que recebi de um Companheiro Maçon de São Paulo: o ligeirinho comentará, brincando, uma passagem da sua mensagem que me caiu no goto; o outro tratará o tema Escada em Caracol.

Portanto, caros leitores, este blogue não é só feito pelos autores dos textos aqui publicados; também é feito por quem comenta, seja em aberto, seja em mensagens pessoais. É desta dialéctica que se faz um blogue que se deseja com um mínimo de qualidade. Espero que se vá conseguindo este objectivo.

Rui Bandeira

02 julho 2008

... e do resultado.

Respeitando o tempo, o modo e o lugar necessários para que o objectivo pretendido seja atingido, o maçon logrará atingir o resultado que busca. Que resultado é esse? Que busca o maçon? A que se destina a Maçonaria? Ao mais egoísta e, simultaneamente, altruísta, dos objectivos: o aperfeiçoamento pessoal!

A Maçonaria não respeita a melhorar o Mundo ou o outro. Respeita a melhorar a si mesmo. Cada um, para o fazer, precisa de tempo, precisa de achar o modo a si adequado para tal, precisa de trabalhar no lugar que lhe possibilite atingir seu objectivo.

Ser melhor enquanto pessoa, ser melhor em termos éticos. Mas não só. A interacção com seus Irmãos permite que o maçon seja melhor em aspectos muito práticos, na medida em que burila as suas deficiências.

O maçon deve estudar as artes e ciências - e assim melhora a sua cultura geral e a sua capacidade de agir social e profissionalmente. O maçon aprende, por exemplo, a falar em público - terror de muita gente! - e isso vai constituir porventura importante vantagem no seu desempenho profissional.

O maçon aprende a dar valor à perfeição, a esforçar-se por dela se aproximar tanto quanto possível. E habitua-se a assim agir no seu dia a dia. Consequentemente, faz melhor, é mais cuidadoso, mais pormenorizado, mais atento. Naturalmente que melhorará o seu desempenho.

O maçon aprende a ouvir e a respeitar quem fala. A argumentar segundo a valia dos argumentos e não segundo a pessoa com quem porventura se defronte. Melhora o seu sentido de lógica. E, portanto, está mais bem armado para obter vencimento sempre que necessita de argumentar.

O maçon habitua-se a trabalhar quando é para trabalhar e a confraternizar, quando é hora de confraternizar. Sabe, assim, frutuosamente integrar-se no seu meio social.

O maçon desperta para a Emoção e integra-a com a Razão. É, assim, um homem mais completo.

O maçon habitua-se a interpretar e a lidar com o sentido da Vida e da Morte, da Criação e do Criador, do Universo e do Detalhe. Elabora assim a sua concepção do Universo, da Vida e do seu sentido e do seu próprio lugar na Vida e no Mundo. E, com isso, fica em Paz!

O maçon, com tempo, trabalho a seu modo e no lugar adequado, logra atingir algo que é muito básico e de importância conhecida desde a Antiguidade. No entanto, pelos vistos tão difícil de atingir. Logra atingir um enorme tesouro. CONHECER-SE A SI MESMO. E, ao consegui-lo, tem - então e só então! - as portas do infinito conhecimento abertas de par em par diante de si. Se, como e em que direcção as franqueia, é consigo e só consigo.

O maçon julga sê-lo quando foi iniciado. Depois de muito tempo e trabalho a seu modo, executado no lugar correcto, conclui que só muito depois começa a sê-lo. E que só continua a sê-lo se persistir no trabalho, até à hora em que que for hora de pousar suas ferramentas.

O prémio do maçon é não ter prémio. E entender que dele não precisa. Porque está - estava! - dentro de si desde o início. Ele é que não sabia!

O resultado é - finalmente! - tão só ser verdadeiramente maçon.

Tão simples como isto! E não deve ser mau, já que tantos em tantos lugares persistem fazendo o mesmo por tanto tempo...

Rui Bandeira

01 julho 2008

... do lugar ...

Já falei do tempo e do modo como se faz um maçon. É agora altura de falar do lugar.

Parecerá óbvio dizer que, para um maçon se fazer e crescer, o lugar próprio e indispensável é a Loja. Só comparecendo em Loja, só participando nas reuniões desta, o maçon reúne o acervo de informações de que necessita. Note-se que - já muitas vezes aqui o referi - o processo de construção do maçon, do seu templo interior, não é passível de ser ensinado. Tem que ser apreendido pelo próprio e assim por ele aprendido. Através do contacto com seus Irmãos; mediante a execução e progressiva familiarização com o ritual e consequente aquisição, compreensão e interiorização das lições e princípios morais que o mesmo encerra; pela observação dos variados símbolos em que o espaço da Loja é fértil e progressiva compreensão do significado de cada um, individualmente adquirida; com a interiorização de tudo o que o impressiona e consequente transformação pela integração no seu eu do resultado dela; porque o processo de formação de um maçon, mais do que uma aprendizagem clássica, é o resultado de um acumular perceptivo, tão direccionado à Emoção como à Razão.

Mas será porventura menos óbvia a afirmação que inicia o parágrafo anterior, se se atentar que logo a frase seguinte aplica dois sentidos diferentes de Loja: Loja enquanto espaço físico de reunião de maçons, como sinónimo de Templo ou, talvez melhor, do local onde fisicamente as reuniões maçónicas se efectuam; Loja enquanto conjunto de maçons agrupados na unidade básica e essencial da Maçonaria. Direccionada a nossa atenção para esta dicotomia, será possível atentar, então, na menos evidente noção de que o lugar de formação de um maçon é tanto o lugar de reunião dos maçons como o acto de estar entre e com os seus Irmãos. Não apenas por com eles estar; não só por com eles conviver; mas por ser no meio deles e com eles que obtém e afina as ferramentas que moldarão e aperfeiçoarão o seu carácter, permitindo que venha a efectivamente construir-se maçon.

Por outro lado, deve-se ter ainda presente que a Loja espaço físico simboliza todo o Universo (um dia destes desenvolverei este conceito) e a Loja grupo de maçons simboliza a Sociedade que se pretende ideal. Então trabalhar no espaço físico da Loja deve ser tido como símbolo de trabalhar no espaço de todo o Universo. Ou seja, o maçon constrói-se no espaço físico da Loja mas, na medida em que esse espaço físico da Loja simboliza todo o Universo, o maçon em construção deve apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, deve ocorrer em todo e qualquer local onde se encontre. E, na medida em que a Loja grupo de maçons simboliza a ideal Sociedade em construção, o maçon constrói-se no contacto e mergulhado no grupo de seus Irmãos mas deve também apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, é um esforço e um acto e um desígnio que constantemente deve efectuar, realizar, prosseguir, esteja junto de quem esteja, maçon ou profano.

Concluindo: o trabalho de construção de um maçon começa e decorre necessariamente em Loja e com a Loja. Mas prossegue e afirma-se, também necessariamente, no local e junto de quem a Loja, em ambas as suas noções, simboliza, isto é, em todo e qualquer lugar onde se encontre o maçon, junto de toda e qualquer pessoa com quem o maçon interaja.

Do lugar restrito e a coberto dos profanos para todos os lugares; de entre seus Irmãos, assegurando-se que o são pelos modos de reconhecimento que são próprios dos maçons, para junto de toda e qualquer pessoa, maçon ou profano, justo ou pecador. Porque o lugar onde se faz um maçon é um ponto de partida e logo um percurso. Com um único lugar de chegada, definido por uma hora, a da sua meia-noite. Nesse lugar, do recôndito ao imenso, nesse percurso, o maçon deve prosseguir sempre e incansavelmente seu trabalho de se fazer maçon - sem direito a horas extraordinárias nem a subsídio de deslocação...

Rui Bandeira