10 dezembro 2007

Geminação, almoço, leilão


O JPSetúbal já ontem, no seu texto Dia de Festa fez breves referências aos eventos relacionados com a Loja Mestre Affonso Domingues ocorridos no passado sábado. Referências feitas num registo (compreensivelmente) emocional.

Quem leu esse texto e não integra a Loja Mestre Affonso Domingues, no entanto, terá dificuldade em entender que eventos foram esses. A meu ver, e sendo este blogue "escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues", justifica-se uma referência mais informativa. Ei-la, pois.

Ocorreu, na manhã do último sábado, "em lugar a coberto da indiscrição dos profanos", a Cerimónia de Geminação entre as Lojas Mestre Affonso Domingues e Rigor, esta reunindo ao Oriente de Bragança. A decisão de geminação fora tomada no ano passado, aquando de uma visita efectuada por uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues à Loja Rigor, já registada neste blogue no texto Uma visita a Rigor.

Com esta cerimónia e a celebração do respectivo Convénio de Geminação, a Loja Mestre Affonso Domingues passa a estar geminada com duas outras Lojas: a Loja Rigor, de Bragança, Loja pertencente à mesma Obediência que a Loja Mestre Affonso Domingues, a GLLP/GLRP, e a Loja Fraternidade Atlântica, de Neuilly-Binot (perto de Paris), integrada na Grande Loge Nationale Française (GLNF ).

A geminação é um protocolo de colaboração especial entre Lojas, traduzindo um propósito de realização de visitas mútuas entre os obreiros das Lojas geminadas e de colaboração na organização de eventos, actividades e realizações comuns.

Ainda no sábado último, a Loja Mestre Affonso Domingues celebrou o seu habitual almoço festivo de Dezembro, contando com a presença dos nossos Irmãos de Bragança, na primeira execução prática do Convénio de Geminação celebrado nessa mesma manhã.

No decorrer deste almoço, foi, como é também habitual na Loja Mestre Affonso Domingues, prestada homenagem ao obreiro que exerceu as funções de Venerável Mestre no ano maçónico anterior, PauloFR, com a entrega de uma pequena recordação. Esse momento de homenagem é a única retribuição que a Loja dá a quem tem o encargo, a responsabilidade e o trabalho de a dirigir durante um ano. O objecto de recordação que lhe é ofertado e a satisfação do dever cumprido são o que cada maçon que exerceu o ofício de Venerável Mestre guarda dessa passagem pela Cadeira de Salomão. E chega! E é muito! E é tudo o que interessa!

O almoço foi abrilhantado pela actuação musical de dois Irmãos, Alexis B., que tocou balalaica e violino, e Acácio R., que tocou guitarra clássica, actuação que mereceu generalizado aplauso de grande agrado.

Como felizmente é já uma tradição do nosso grupo, estiveram presentes no almoço elementos que, no passado, integraram a Loja Mestre Affonso Domingues e que presentemente se encontram adormecidos (afastados por opção própria). O facto de circunstâncias diversas, pessoais ou da vida, levarem a que maçons, por vezes tão contristadamente, decidam suspender a sua actividade maçónica não impede que nesta ocasião especial, como noutras, tenhamos o gosto da sua presença e companhia. Uma vez dos nossos, sempre dos nossos. E a porta de regresso está sempre aberta. Nem sequer é preciso bater, basta entrar e abraçar quem estiver do lado de dentro!

Finalmente - e infelizmente já sem a presença dos Irmãos da Loja Rigor, que tiveram que regressar a meio da tarde a Bragança, que a distância é longa -, teve lugar o habitual leilão entre os presentes das ofertas que, especificamente para tal fim, todos trouxeram. O produto recolhido este ano reverteu para a aquisição de bens que sejam úteis ao CAJIL (Centro de Apoio a Jovens e Idosos do Lumiar) e à CERCIAMA (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas da Amadora). O nosso contributo é uma ínfima parte do que estas meritórias instituições merecem e necessitam. E esse apoio não tem qualquer mérito ou valor especial. É apenas o cumprimento, pela nossa parte, de uma obrigação de pessoas de bem: apoiar quem supre necessidades sociais importantes de quem mais frágil está, E só é aqui mencionado com um único propósito e uma só esperança: o propósito de chamar a atenção para o mérito destas instituições e a esperança de que quem leia este texto vença a inércia e tome a iniciativa de juntar mais um pequeno grão ao grão miúdo que nós arranjámos. Porque será assim, grão a grão, que vamos lá, que todos ajudamos com a nossa pequena parte ao muito que os responsáveis e voluntários destas instituições fazem.

Portanto, caro leitor, faça o favor de compensar a leitura deste texto com um pequeno gesto: dê o que puder ao CAJIL (Rua do Lumiar, n.º 57, Lisboa, telefone - 217 574 573) e/ou à CERCIAMA (Rua Mestre Roque Gameiro, n.º 12, Amadora, telefone 214 986 830 / 214 986 838). Vai sentir-se muito feliz com esse gesto! E, se e quando puder, não se acanhe: vá lá fazer uma visita e ver a obra que é feita! Eles ficam contentes com o seu interesse e você verificará pessoalmente como é bem aproveitado tudo o que para ali é canalizado!

Rui Bandeira

09 dezembro 2007

Dia de Festa


Como disse Fernando Pessoa e o nosso PVM tem escrito "há momentos únicos".
É de um desses momentos que Vos falo.
A todos os Obreiros da R:.L:.Mestre Affonso Domingues devo um Tiplo Abraço de Fraternidade ritual e principalmente muito profanamente... Amigo.
O dia de ontem ficará para sempre como um marco na minha história pessoal, e mais feliz ainda se um dia me puder aperceber que também para Vocês ele significou algo de bom e de bem.

Foi uma colecção de emoções, desde a apresentação formal do "regresso" do Estandarte/Guião da Loja (infelizmente o nosso original está nas mãos de alguém de que apenas sei o nome da mãezinha respectiva, sendo este um exemplar novo) até ao leilão final do dia, cujo resultado foi bem superior às expectativas e cujo destino será o Cajil e a Cerciama.

Aos nosso Irmãos da R:.L:.Rigor, que vieram de Bragança de propósito para estar connosco, agradeço os 800 Km feitos, a Alegria da presença, a ajuda à Beleza da sessão que nos proporcionaram, a Força que nos trouxeram.
A R:.L:.Mestre Affonso Domingues e a R:.L:. Rigor são Irmãs desde sempre e Irmãs-Gémeas desde ontem.
A Maçonaria ficou mais forte e as nossas obrigações aumentaram.
Quanto ao nosso ágape festivo do Solstício de Inverno... tudo está bem quando acaba daquela maneira.
Nem quero saber se os pratos servidos estavam bem ou mal, se a pingota bebida era rasca ou de luxo.
Tivemos connosco alguns dos mais históricos da Loja, mesmo alguns dos que mais longe fisicamente têm estado mas que reafirmaram de novo que uma vez da "Affonso Domingues", para sempre com a "Affonso Domingues".
Bem hajam meus Irmãos.
JPSetúbal

07 dezembro 2007

Semear a Beleza

Um homem trabalhava numa fábrica que ficava a cinquenta minutos de autocarro da sua casa.

Na paragem a seguir à sua, entrava todos os dias uma senhora idosa, que se sentava sempre junto à janela do autocarro. Abria a mala, tirava um pacotinho e passava toda a viagem atirando algo pela janela. A cena repetia-se todos os dias.

Um dia, curioso, o homem perguntou-lhe o que atirava ela pela janela.

- Atiro sementes. - Respondeu ela.

- Sementes? Sementes de quê?

- De flores. É que eu olho para fora e a berma da estrada é tão vazia... Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas ao longo de todo o caminho. Como seria bonito!

- Mas as sementes caem no asfalto, são esmagadas pelos pneus dos carros, comidas pelos pássaros. A senhora acha mesmo que vai germinar alguma semente na berma da estrada?

- Acho, meu filho! Mesmo que muitas se percam, algumas acabarão por cair na terra e, com o tempo, vão dar flor.

- Mesmo assim, vai demorar muito... E precisam de água...

- Eu faço a minha parte! A chuva ajudará. Se alguém deixa cair sementes, as flores hão-de surgir!

E a senhora idosa virou-se para a janela e recomeçou a sua tarefa. O homem, quando desceu na paragem junto ao seu emprego, pensava que a velha senhora já estava senil.

Mas, algum tempo depois, o homem, viajando no autocarro, ao olhar para fora, viu flores na berma da estrada! Muitas flores! A berma da estrada era uma paisagem colorida, perfumada, linda! Lembrou-se então da velha senhora, que não via já há algum tempo. Perguntou por ela ao motorista do autocarro, que conhecia todos os passageiros habituais.

- A velhinha das sementes? Morreu há quase um mês...

O homem voltou para o seu lugar e continuou a olhar a paisagem linda. E pensou:

- Quem diria? As flores nasceram mesmo! Mas de que adiantou o trabalho dela? Morreu sem ver esta Beleza toda!

Nesse momento, ouviu uma criança a rir. No banco da frente, uma menina apontava pela janela, entusiasmada:

- Olha, pai, que lindo! Tantas flores à beira da estrada! Como se chamam estas flores?

Então, o homem compreendeu o que a velha senhora tinha feito! Mesmo não estando já ali para ver, ela fez a sua parte, deixou a sua marca, a Beleza, para a contemplação e a felicidade das pessoas!

No dia seguinte, o homem entrou no autocarro, sentou-se junto à janela, tirou um pacotinho de sementes do bolso e fez toda a viagem atirando-as pela janela... E assim deu continuidade ao que a velha senhora fizera, semeando o amor, a amizade, o entusiasmo e a alegria!

O futuro depende das nossas acções no presente. Se semearmos boas sementes, os frutos das plantas que nascerão serão igualmente bons. Semeemos as nossas sementes!

(adaptação minha de um texto, sem indicação de autor, recebido por correio electrónico)

Rui Bandeira

06 dezembro 2007

Tempo

O que há de mais valioso no Mundo não é dinheiro. nem jóias ou diamantes. Muito menos ouro, dourado ou negro. Nem sequer as crianças - como muitas vezes dizemos. O que há de mais valioso no Mundo é o Tempo. Não se pode comprar nem vender, não se pode guardar nem acumular. Tem-se o que se tem e é esse que se pode e deve administrar o melhor possível.

O que há de mais democrático no Mundo não é o voto. Nem as eleições. Muito menos a separação de poderes. Nem sequer a limitação de mandatos. O que há de mais democrático no Mundo é o Tempo. O dia tem vinte e quatro horas, a hora tem sessenta minutos, o minuto tem sessenta segundos, quer para o multimilionário mais rico do planeta, quer para o mais miserável pária sem abrigo do mais pobre recanto deste Mundo. O rico, por mais que o deseje, não consegue que o seu dia tenha trinta horas, nem a sua hora oitenta minutos, nem o seu minuto cem segundos. O pária miserável pode não ter nada de nada, mas tem exactamente as mesmas horas no seu dia que o multimilionário, os mesmos minutos na sua hora, os mesmos segundos no seu minuto.

O que há de mais implacável no Mundo não é o Mal. Muito menos o Déspota. Nem sequer o Terrorista. O que há de mais implacável no Mundo é o Tempo. Chega, passa e vai, insensivelmente, sempre ao mesmo exacto ritmo.

O que muda é a nossa percepção do Tempo. Se estivermos confortavelmente sentados vendo um belo pôr-do-sol, ouvindo uma música do nosso agrado, bebendo uma bebida da nossa preferência, sendo acariciados pela mulher que amamos, enquanto cheiramos o seu agradável perfume, esse Tempo, por muito longo que seja, parecer-nos-á sempre breve, seguramente muito mais breve do que nos pareceria a exacta mesma quantidade de tempo em que estivéssemos a ser agredidos por um energúmeno feio e malcheiroso, que nos berrava impropérios, sentindo na boca o sabor de alguma porcaria que ele ali nos enfiara...

Cada um dispõe em cada dia do mesmo tempo que todos os demais, exactamente 86.400 segundos em cada dia, nem mais um, nem menos um. Cada um tem a responsabilidade de usar esse Tempo da melhor forma possível, distribuindo-o profícua e harmonicamente entre o cumprimento dos seus deveres, o convívio com aqueles de quem gosta, o descanso, o lazer, o alimento do seu corpo e a nutrição do seu espírito, a busca e o encontro, a reflexão e a acção. Todos temos exactamente a mesma riqueza para gastar em cada dia. Se a aproveitamos ou desperdiçamos, é connosco e seremos nós que sentiremos as consequências, boas ou más, do nosso aproveitamento ou do nosso desperdício. O que não gastarmos, o que não usarmos, não podemos guardar. Está perdido e nunca mais será recuperado...

O Tempo é uma dimensão diferente das outras. O comprimento, a largura, a altura são dimensões em relação às quais nos sentimos exteriores. E medimos o comprimento da mesa, a largura do quadro, a altura do armário. Somos exteriores a essa medida. Mesmo em relação às nossas medidas... Mas a dimensão do Tempo é diferente. Nós todos estamos DENTRO do Tempo. Por isso o não vemos. Por isso o Tempo Presente é tão fugaz que, mal o apercebemos, já é Tempo Passado. Comprimento, largura e altura são dimensões terrenas. O Tempo é dimensão divina. Por isso podemos mudar o comprimento, alterar a largura, modificar a altura do que quisermos, mas não podemos mudar, nem num centésimo de segundo, o Tempo que é. Podemos aproveitá-lo melhor, fazendo mais em menos Tempo. Não podemos mudá-lo. Podemos apenas usar em cada dia a exacta quantidade de Tempo que o Criador determinou que todos e cada um de nós dispuséssemos em cada dia.

O Tempo não pode ser comprado, nem vendido (pode-se comprar ou vender uma ocupação do tempo, o que é diferente), mas pode ser usado, aproveitado, individualmente ou em conjunto. O mesmo Tempo, aproveitado ou usado em conjunto por vários ou por muitos, multiplica-se automaticamente, potenciando a capacidade do grupo que o aproveita em conjunto. No entanto, sendo globalmente mais rentável o Tempo aproveitado em conjunto, o Tempo individual de cada um continua a ser pessoal, só seu, com um significado preciso e definido para esse preciso indivíduo. O Tempo que um músico despende a dar um concerto numa sala de espectáculos é rentabilizado pelas centenas ou milhares de pessoas que desfrutam desse espectáculo. O Tempo de um multiplica-se por muitos. Mas um concerto para mil equivale a mil concertos individuais. O músico é o mesmo. A música é individualmente, quiçá diferentemente, apreendida por cada um dos mil ouvintes. O Tempo de cada um continua a ser pessoal e único. E o mesmo se passa se, em vez de ser um a criar e mil a beneficiar, forem mil e um a criarem para esses mil e um e incontáveis milhares ou milhões mais beneficiarem.

Quando os maçons se reúnem, e repetem o ritual, tratam dos assuntos da ordem do dia, estudam, ensinam ou aprendem símbolos e seus significados, moralidades e seus motivos, condutas e suas consequências, aproveitam em conjunto o Tempo, potenciando o seu valor, cada um beneficiando individualmente, ao seu modo, do uso desse Tempo.

Os maçons aprenderam uma coisa singela: que o Tempo de cada um é potenciado pelo seu uso em conjunto, afectando e aproveitando a cada um da forma que convém a cada qual. Tempo de Estudo, Tempo de Paz, Tempo de Debate, Tempo de Repouso, sobretudo Tempo de Confiança nos seus Irmãos e Tempo de Harmonia com eles. Todos estes Tempos, e mais, valem infinitamente mais em conjunto, revertendo esse valor para cada um dos indivíduos. Por isso os maçons reservam uma parte do seu Tempo para o aproveitar em conjunto com seus Irmãos.

Assim aprendem e praticam entre si e podem e devem praticar no exterior, na sua vida de todos os dias, perante os seus parceiros de vida, de negócios, de viagem, de tudo, que a Cooperação é mais eficaz que a Competição, que a Harmonia é mais gratificante que a Cizânia, que a melhoria de Um ajuda Todos a melhorar e que a melhoria de Todos se reflecte na melhoria de cada Um. E podem e devem viver e aproveitar o seu Tempo na sua vida de todos os dias, perante todos aqueles que os rodeiam, pela mesma forma que vivem e aproveitam o seu Tempo entre seus Irmãos. E o seu exemplo frutificará onde houver condições para que frutifique, em quem estiver apto para tal. E assim o Mundo melhorará mais um pouco. E de pouco em pouco se fará muito. Em pouco Tempo, em muito Tempo, no Tempo que for...

Rui Bandeira

05 dezembro 2007

Mário Máximo: Poeta, Homem de "Culturas" e Administrador da Odivelcultur

Meus Queridos Amigos, Leitores, Co-Blogueiros e demais bichos em vias de... propagação, esta passagem é assim como que ... uma rapidinha, só para Vos pôr a par de uma obra nova de um Amigão, poeta da Nossa Terra !

Isto t'á mau e vai uma crise enorme com o tempo (embora tenhamos à disposição todo o tempo que existe !).
Sorte a Vossa que não têm que me aturar.
Agora aqui vai o que me traz.

Quinta-Feira, dia 6 de Dezembro de 2007, pelas 18.30, na Livraria Barata da Av. de Roma: lançamento do livro DIÁRIO DE UMA ILHA DISTANTE, da autoria.de Mário Máximo, poeta, homem de "culturas" e Administrador da Malaposta.A jornalista MARIA AUGUSTA SILVA fará a apresentação.

"... Diário de uma Ilha Distante é a história de um imponderável amor. Um amor que merece as estações, todas as estações, que lhe dão forma. Aliás, um amor não é mais do que a sua história. Se não houver história não há amor digno desse nome. Pela primeira vez, na minha obra, um livro de poemas é a história de um amor. Ou será a história da metáfora (da metafísica poética) de um amor ? Talvez seja apenas um amor simbólico.
... Com este Diário de uma Ilha Distante criei mais um arquétipo dentro de mim. Através da poesia posso percorrer todos os caminhos e chegar atodos os jugares. Mesmo aos lgares onde só existe o poder da metáfora !"
Mário Maximo (excerto da Nota do Autor)


CONVITE

A Editora SeteCaminhos tem o prazer de convidar V.Exa.
para a apresentação do livro
Diário de Uma Ilha Distante
de Mário Máximo.
A sessão terá lugar no dia 6 de Dezembro de 2007 pelas 18h 30m,
na Livraria Barata na Av. de Roma, nº 11-A em Lisboa.
A apresentação do livro fica a cargo da jornalista e escritora
Maria Augusta Silva.

Contamos com a sua presença.


Mário Máximo nasceu em 19 Setembro de 1956, na cidade de Lisboa. A sua vida repartiu-se por Olival Basto (até aos sete anos), Lisboa (até aos trinta e cinco) e Odivelas, onde reside há mais de uma década. Desde bastante cedo ligado às questões da literatura e da criatividade literária, deram os jornais a conhecer muitos dos seus poemas, mas também o conto e a crónica. O guionismo para televisão tem sido outra das suas ocupações. Em 1986 publicou o primeiro livro: um livro de poemas. Desde então, sucederam-se mais cinco livros de poemas e um romance. Em 1999 o Instituto das Bibliotecas e do Livro atribuiu-lhe a Bolsa de Criação Literária, pelo projecto de poesia Oração Pagã.


JPSetúbal

04 dezembro 2007

Moto contínuo

(...) oh Rui, não tem defeitos com mais necessidade de empenho e melhoramento do que a escrita?! (...)

(Simple Aureole, em comentário ao texto Reflexão.)

O maçon busca o seu aperfeiçoamento em todos os aspectos da sua vida e do seu comportamento. O seu trabalho, nesse sentido, deve ocorrer em todos os momentos, em relação a todas as actividades, relativamente a todas as suas características.

O que se faz em cada momento deve procurar-se fazer sempre bem feito, cada vez mais bem feito. A necessidade de análise do que foi feito para ver onde e como se pode fazer melhor não deve ocorrer em espírito de crítica ao passado, às opções tomadas, às acções realizadas. Deve, antes, processar-se como meio e rampa de lançamento para melhorar o que se está fazendo e o que se irá fazer.

Por isso, o maçon acaba por tender a ser um optimista. Porque não se abate com os erros passados, antes os usa como alavancas para as melhorias futuras. Se fizer bem o seu trabalho, só pode melhorar...

Nunca é só num campo, num aspecto, que o homem precisa de se aperfeiçoar. É em todos, é em tudo. Porque o homem é uma integralidade complexa, cujo comportamento, cuja acção, decorrem de mil detalhes.

Assim, à interrogação do Simple Aureole, a única resposta admissível é, sem hesitação, que sim. Mas impõe-se acrescentar que, no momento em que me dedico à escrita, é a escrita que procuro melhorar. Naquele momento, é a prioridade absoluta porque esse é o momento que é, isso é o que se faz e o que se faz deve fazer-se sempre com total dedicação, se se quiser fazer bem feito.

Quando outras coisas se fazem, outras coisas devem beneficiar da dedicação absoluta, outras coisas são objecto da procura da melhoria, do anseio da aproximação da perfeição.

Só assim o homem se pode desenvolver equilibradamente - dando o melhor de si em relação a tudo e procurando que esse melhor se aproxime cada vez mais da excelência.

E não se pense que esta postura é impossível de manter, por cansativa. Quando o homem descansa, também então deve procurar fazê-lo cada vez melhor, obter o repouso que lhe carregue as baterias para novo ciclo de trabalho. Quando se diverte, deve procurar divertir-se plenamente - ou então, não estará, pura e simplesmente, a divertir-se.

A tudo isto, em vez de aperfeiçoamento, podia muito bem chamar-se, simplesmente, viver.

Porque, bem vistas as coisas, viver é muito mais do que simplesmente existir, assistir á sucessão dos dias e das noites. Viver é crescer. Por fora, primeiro, por dentro, sempre. Viver é descobrir e praticar e aproveitar o sentido da Vida. Viver é tentar. Viver é errar e remediar o erro. Viver é melhorar.

É da natureza humana procurar ir sempre mais além. Quem disso desiste, ou está doente, ou se resignou a simplesmente vegetar, cedeu à sua animalidade e sufocou o seu espírito. Esse já não almoça, limita-se a comer a sua ração... Esse já não regressa a casa, limita-se a abrigar-se. Esse já não vive, limita-se a aguardar pela morte.

É por isso que, mesmo tendo muitas mais coisas, muitas mais características, para aperfeiçoar, também não prescindo de procurar aperfeiçoar a minha escrita - se o consigo, ou não, essa já é outra história... Entre a busca do aperfeiçoamento e o sucesso nessa demanda há muito caminho a percorrer...

E esse percurso é muito mais fácil quando nos ajudam a pensar, a questionar, a analisar, como sucedeu com o comentário do Simple Aureole. O meu muito obrigado!

Rui Bandeira

03 dezembro 2007

Perfeição e perfeccionismo

(...) perfeição é virtude, mas perfeccionismo é defeito!


(Simple Aureole, em comentário ao texto Reflexão.)


A primeira reacção a esta máxima é de concordância. Mas não nos fiquemos pelas primeiras impressões.

Todo o maçon sabe que a perfeição é apanágio apenas da Divindade, do Criador, que cada religião denomina do modo que entende e que os maçons, respeitadores de todas as religiões, chamam de Grande Arquitecto do Universo. A bem dizer, não são apenas os maçons que sabem que a perfeição é apanágio unicamente do Criador. Todos os crentes, maçons ou não, o sabem.

Assim sendo, perfeição é virtude, mas virtude que se reconhece humanamente inatingível. É um arquétipo, um modelo, que deve servir para nos indicar a direcção dos nossos esforços, o que sabemos objectivo inatingível, mas de que nos devemos procurar aproximar tanto quanto humanamente for possível.

O perfeccionismo não é mais do que o desejo, a atitude, a procura, da perfeição. Ou seja, a busca, necessariamente infrutífera, do inatingível.

Nesse sentido, não podemos dizer que perfeccionismo é defeito. Não se deve considerar defeito a busca da perfeição, ainda que se saiba que é uma tarefa que, mesmo com a melhor execução possível, está sempre votada ao fracasso. No entanto, que gloriosos fracassos a Humanidade obteve! Deleitamo-nos com os fracassos da obtenção da perfeição que Leonardo da Vinci conseguiu com a sua Gioconda e que Michelangelo atingiu com a sua escultura de David. E poderia gastar centenas de linhas com imensos outro exemplos...

O perfeccionismo de Michelangelo quando, de um único bloco de pedra, extraiu a figura de David não pode ser considerado defeito!

No entanto, a impressão corrente é, efectivamente, que a máxima acima transcrita está correcta. Tal, em meu entender, deve-se ao facto de se ter negligenciado que toda a máxima tende a ser uma simplificação e que é inevitável que as simplificações acabem por dar uma ideia errada da realidade.

Penso que agora se impõe o uso de um ou dois adjectivos. Não é o perfeccionismo que é defeito, é o perfeccionismo estéril que é defeito. E o perfeccionismo paralisante.

É defeito o perfeccionismo estéril quando se busca melhorar algo que está já tão bem que a percepção humana já não conseguirá detectar a diferença obtida com a melhoria. Seria um perfeccionismo estéril se Stradivarius procurasse fabricar os seus violinos tão bem feitos que o som que um excelente executante deles tiraria não soaria apenas límpido e belo aos ouvidos humanos, mas também nas frequências de som que o ouvido humano não pode atingir. Talvez um mecanismo de captação de som demonstre claramente que na frequência de 100 Khz ocorre distorção. Mas, como o ouvido humano apenas capta som entre 20 Hz e 20 Khz, que diferença faz? Para o humano, aqueles violinos têm um som que nos parece perfeito. Mesmo que nós, intelectualmente, saibamos que não é, para quê continuar a buscar a perfeição para além da capacidade do nosso ouvido? Esse perfeccionismo é estéril, nada se ganha com ele. Esse é defeito!

Também há um tempo de criar e um tempo de terminar e mostrar. Se um pintor continuamente busca aperfeiçoar a sua pintura e se pretender só a expor quando for perfeita, nunca a exporá. Nunca a dará por concluída, porque sempre descortinará um leve, levíssimo, quase imperceptível, defeito num pequeno traço, numa pequena aplicação de cor. Esse perfeccionismo é paralisante, porque nunca permite que alguém dê por concluída a sua tarefa, que se descortine que a melhoria que seria possível obter é já tão ínfima que não merece o esforço de a obter. Esse perfeccionismo paralisante é defeito!

Mas o perfeccionismo saudável, a simples e honesta busca da perfeição, sabendo-se que esta é inatingível, mas que cada um dela se deve aproximar tanto quanto conseguir, com utilidade e no tempo asado, esse perfeccionismo nunca é defeito. É a virtude possível, em contraponto com a Virtude impossível a nós, humanos, a Perfeição.

O óptimo é inimigo do bom. Todos o sabemos. Mas isso não quer dizer que nos contentemos com o bom, que não busquemos o melhor, no caminho para o óptimo. Ponto é que não queiramos atingir o inatingível. Se o quisermos, o preço costuma ser que não se consegue o óptimo, nem o melhor, nem o bom e possivelmente nem o sofrível...

Reconhecer a nossa limitação humana em atingir a perfeição divina, mas esforçar-se por se aproximar desta quanto for humanamente possível, viável e adequado - esse deve ser um lema de vida do maçon.

Rui Bandeira