03 outubro 2007

A integração do Aprendiz (I)

Terminada a Cerimónia de Iniciação, começa de imediato o importante capítulo da integração do novo Aprendiz. Em bom rigor, essa integração tem já início no decorrer da própria Cerimónia de Iniciação. Mas disso, quase de certeza, não tem o novo Aprendiz consciência. Porventura, de tal se aperceberá (muito) mais tarde, quando, já completamente integrado, rememorar sua vida maçónica.

A Maçonaria organiza-se essencialmente em Lojas, grupos de maçons com ampla autonomia - mas estrita convergência de princípios -, que cooperam no aperfeiçoamento individual de cada um. A integração de um nóvel Aprendiz na Maçonaria corresponde, assim, à integração na Loja que o acolhe, no grupo de que passa a ser mais um participante.

Essa integração ocorre mediante um processo com dois sentidos: depende do esforço e da actuação da Loja perante o novo Aprendiz, mas também só é bem sucedida através da conduta e do posicionamento deste em relação à Loja.

Ao integrar um novo elemento, desconhecedor de muitas das idiossincrasias da realidade a que se juntou, a Loja, enquanto grupo, e cada um dos seus obreiros, individualmente, devem ter presente que essa transição é um processo de delicado equilíbrio: o novo elemento tem a categoria de Aprendiz, em sinal de que muito tem de aprender, no confronto e com o apoio dos mais antigos, mas deve ser, só pode ser, é, tratado num plano de estrita Igualdade com os demais membros da Loja; o novo Irmão é recebido com toda a afabilidade e familiaridade, mas deve ser, só pode ser, é, tratado com pleno e integral respeito da sua personalidade, da sua privacidade; o novo Aprendiz passa a dispor de um método de formação, de uma panóplia de conhecimentos, de um conjunto de ensinamentos e valores que lhe são relembrados, mas deve ser, só pode ser, é, respeitado na sua individualidade, nas suas escolhas, no seu pensamento, tudo se lhe facultando, nada se lhe impondo.

A integração de um novo elemento numa Loja não ocorre através do ensino àquele do que esta é; processa-se através da aprendizagem por ele dessa realidade. A Maçonaria não se ensina - aprende-se! Em Maçonaria, nada se impõe, tudo, desde que conforme aos seus princípios essenciais, se aceita. Em Maçonaria, não há interpretações ou pensamentos certos ou errados, e muito menos únicos. Em Maçonaria o pensamento individual, a crença de cada um, são integralmente respeitados e a diversidade é encarada como uma riqueza para o conjunto. A integração de um novo maçon na Loja, consequentemente, é um processo que deve ser, só pode ser, é, efectuado no pleno respeito da individualidade, da personalidade, das características, do novo elemento. Individualidade, personalidade e características que, juntando-se às que já existem no grupo, o enriquecem, o fortalecem, o diversificam, enfim, o melhoram.

Os maçons gostam de dizer que a Maçonaria pega em homens bons e fá-los melhores. Mas a inversa também é verdadeira: a integração bem feita, no respeito da individualidade do novo elemento, no grupo, na Loja, faz com que esse homem bom torne a Maçonaria melhor! Qualquer dessas melhorias ocorre naturalmente: não é a Loja que melhora o novo maçon - é este que se aperfeiçoa, no confronto com seus pares, com os princípios morais com que mais assiduamente se depara; a Loja, por seu turno, enriquece-se, melhora, cresce, qualifica-se, em função das melhorias, dos aperfeiçoamentos, de todos os seus elementos, recentes e mais antigos, quaisquer que sejam os seus graus e qualidades. Gera-se assim um círculo virtuoso em que o indivíduo beneficia do grupo para se aperfeiçoar e aperfeiçoa o grupo em virtude da sua própria melhoria.

A integração de um novo Aprendiz não é, assim, um mero processo de enquadramento. É uma verdadeira essencialidade da Loja. A integração do novo Aprendiz é o fermento que faz crescer a valia do grupo, é o cimento que liga a Loja, é o mastique que confere flexibilidade ao conjunto.

Uma Loja demasiado tempo sem Aprendizes é uma Loja estéril, um grupo sem perspectivas de futuro risonho. Será porventura constituída por muito Sabedores Mestres, por Fortes temperamentos, mas faltar-lhe-á a Beleza do acompanhamento dos esforços de quem ainda só sabe soletrar a Maçonaria, o estímulo dos seus progressos, a lembrança de que o esforço de aprendizagem, de aperfeiçoamento, não acaba com a ascensão à Mestria, não cessa com a experiência, não acaba com a antiguidade.

A integração bem feita de um novo Aprendiz não é, pois, apenas importante para este: é intrinsecamente uma necessidade vital da Loja. É por isso que nenhuma Loja maçónica se pode dar ao luxo de não providenciar pela correcta integração dos seus Aprendizes, não pode cometer o desperdício de os abandonar à sua sorte e aos acasos do seu desacompanhamento. E, se porventura, se der a esse luxo, se cometer esse desperdício, virá a pagar bem caro esse desmazelo!

Uma Loja maçónica não vive só para os seus Aprendizes, mas vive também, e muito, para eles. Porque o esforço de acompanhamento destes cimenta a unidade do grupo; porque a formação destes melhora a do grupo; no fundo, porque não são só os Aprendizes que aprendem com a sua Loja - esta também aprende, e muito, com aqueles.

Rui Bandeira

02 outubro 2007

O undécimo Venerável Mestre

Um ano depois do que o deveria ter sido, João D. P. foi eleito Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues. Foi o seu undécimo Venerável Mestre, exercendo a função de Setembro de 2000 a Setembro de 2001.

No ano anterior, cumprira o segundo ano consecutivo na função de 1.º Vigilante, o oficial da Loja que tem a seu cargo o acompanhamento e a formação dos Companheiros, além de, juntamente com o 2.º Vigilante, auxiliar o Venerável Mestre na administração da Loja. Exerceu essas funções com competência, destreza e grande lealdade. Foi uma ajuda sempre disponível, uma colaboração sempre de confiança. Assegurou, por delegação minha, quase todo o trabalho de ligação com a Grande Loja, inclusivamente a representação da Loja em três das quatro sessões anuais da Grande Loja. E só não assegurou essa representação na quarta, porque entendi dever eu assumi-la pessoalmente, porquanto ali se iam discutir assuntos do foro da minha especialidade profissional. A opção de delegar essa representação no João D. P. foi por mim tomada, por um lado, em resultado da minha pouca disponibilidade de tempo para actuar ao nível de Grande Loja e, por outro, pela vantagem que eu implicitamente via na existência de uma certa visibilidade da mesma pessoa a esse nível durante um período de tempo alargado.

O mandato de João D. P. como Venerável Mestre da Loja constituiu como que uma bissectriz dos dois mandatos anteriores. Prosseguiu a política de debate interno das questões de interesse para a Loja, embora talvez com menos enfoque do que aquele que eu imprimira. Também porque a necessidade de reabituar a Loja ao debate diminuíra. Deu mais atenção aos aspectos de formação e de análise simbólica do que aquela que eu lhes dera, sem, contudo, se centrar nesses aspectos com a quase exclusividade por que optara Luís P..

Ou seja, com João D. P. a Loja, recentrada no seu rumo, prosseguiu o seu caminho de forma equilibrada em todas as suas vertentes. A produção de pranchas por Aprendizes e Companheiros - essencial para que estes possam progredir até ao 3.º grau - prosseguiu nos níveis habituais, com o cuidado acompanhamento dos Vigilantes. Mas João D. P. insistiu particularmente no retomar de algo que as circunstâncias tinham feito rarear nos últimos tempos: a produção e apresentação de Pranchas Traçadas pelos Mestres da Loja. Começou por dar ele o exemplo. E foi paulatinamente insistindo na necessidade de os demais Mestres também o fazerem. Como sempre nestas coisas, demorou algum tempo e os frutos apareceram já depois do mandato de João D. P. Mas as sementes foram por ele lançadas. Hoje, em todos os anos maçónicos o Venerável Mestre tem de reservar parte de algumas reuniões para a apresentação de pranchas traçadas por Mestres. E o gosto do debate continuou a ser tão acarinhado na Loja que, apesar de toda a gente repetir que "prancha de Mestre não se comenta"... todos as comentam! Talvez com menos severidade e espírito de crítica do que se comentam as pranchas de Aprendiz (em especial) e as de Companheiro, mas há que compreender que também na Maçonaria "a antiguidade é um posto" e se respeitam os mais antigos... Além de que "praxar" os mais novos com ferozes críticas às suas pranchas, como é tradição na Loja Mestre Affonso Domingues, é uma saudável forma de incutir o gosto pela melhoria, pela competência, pela busca da melhor perfeição possível. Mas as críticas são também sempre matizadas pelos justos elogios, pois o trabalho sério deve sempre ser reconhecido...

As actividades viradas para a ajuda permaneceram e foram reforçadas. No mandato do João D. P. começou a estabelecer-se o princípio de que deveria haver mais do que uma doação de sangue por ano.

A actividade da Loja na Grande Loja foi objecto de atenção particular e a influência da Loja e dos seus obreiros no governo da Obediência, sempre em leal colaboração com o Grão-Mestre, foi reforçada pelo trabalho efectuado.

Em suma, com João D. P. a Loja atingiu a sua maturidade. A forma como trabalha não sofreu grandes alterações desde então - nem precisa! Equilibrada a Loja no seu interior, começou esta a voltar-se para o exterior, nas suas duas vertentes: na Obediência e perante a Sociedade.

Foi essa estabilidade interna, a fixação do modelo de funcionamento interno da Loja que, a meu ver, constituiu o legado do mandato do João D. P.. Daí para a frente, só foram efectuados pequenos e pontuais ajustamentos no modelo de funcionamento interno. Os Veneráveis Mestres a partir daí puderam dirigir as suas atenções para outros aspectos.

Rui Bandeira

01 outubro 2007

Maçonaria em Loja

A organização da Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.
E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.
Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura se levanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todos os outros, interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.
Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente a nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.
Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.
Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura.
Apenas isso.
Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.
É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contactaram porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados.

O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.
Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade.
É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria !

Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente.
A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.
Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor.
Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora.
De facto não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade !
O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…).
Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjectivos do que isso.
Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçónica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva.
São a arrogância, a vaidade e a ambição.
Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objectivos finais do nosso trabalho.
Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque.

Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templuum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”.

Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.
Cultivemos e levemos connosco a capacidade de compreender as diferenças.
Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.
O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença.
E para isso a abertura de espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência.
J.P. Setúbal

28 setembro 2007

Presença do Conde Lippe em Portugal

A - Introdução

Iniciam-se estas reflexões por um ligeiro esboço da situação político/militar em Portugal antes da Guerra dos 7 anos. Procura-se seguidamente apresentar um breve perfil do Marechal-General Conde de Lippe, quer como militar, quer como homem, fazendo referência daquilo que se julgou ser o mais importante legado ao nosso país; e conclui-se focando o Conde de Lippe como Maçon.

D. José I era o rei de Portugal e tinha como Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem concedeu o título de Conde de Oeiras em 1759, e mais tarde, em 1769, o título de Marquês de Pombal.

Sem ameaças exteriores e com a necessidade interna de diminuir o poder do exército, o governo de D. José I, descurou completamente o aparelho militar. O Marquês de Pombal, por desafecto às instituições militares, ou porque de todo o absorvia o delírio de aniquilar a companhia de Jesus e a Nobreza, recordo que só os nobres tinham acesso aos postos mais elevados da hierarquia militar, tornou-se tão sensível a degradação do exército e a sua penúria, que teve dificuldade em reunir tropas que policiassem Lisboa após o terramoto de 1755. Portugal estava em paz há 48 anos, desde a guerra de sucessão de Espanha (1701-1714). Os militares desabituaram-se de suportar as armas, os generais de suportar a disciplina e o poder político de suportar o exército, na prática, não existiam Forças Armadas. Em 1756, deflagrou, para a época, uma autêntica guerra mundial – a guerra dos 7 anos – entre a França e a Inglaterra. Portugal manteve-se neutral, solução aparentemente lógica, mas a verdadeira razão desta postura, era e tem-no sido frequentemente, por não termos Forças Armadas que nos permitissem batermo-nos com as potências beligerantes, ou melhor, a ausência de Forças Armadas. Contudo, um encontro naval entre as esquadras Inglesas e Francesas em águas territoriais Portuguesas, com a subsequente derrota Francesa e a perseguição aos navios Franceses até junto dos Fortes da cidade de Lagos. Este episódio serviu de motivo para reclamações da França e uma posterior invasão do território nacional por forças espanholas, em 1762, que se tinha mantido também neutral. Mas, após a subida ao trono de Carlos III em 1759, anti-britânico, facilitou uma aliança entre a Espanha e a França, denominada na época “Pacto de família” assinado em 15 de Agosto de 1761, pois os Bourbon reinavam em França, Espanha, Nápoles e Parma. De salientar que D. José I recusou-se a aderir ao pacto, em virtude da velha aliança Luso-Britânica.

Toda a política externa de Portugal andava à volta da antiga aliança com a Inglaterra, mais por interesse de manter as suas ex-colónias, nunca se virando para a Europa, fronteira terrestre. País ribeirinho e projectado pelo mar nos outros continentes, encontrou-se sempre numa situação incómoda de ser fronteira, zona de interesse, campo de manobra, margem de discussão e apetites, das grandes potências europeias, entre os poderes marítimo e continental – a dialéctica entre o mar e a terra. Porque a geografia é tirânica e persistente, não era a 1ª vez que enfrentávamos este dilema, nem seria a última – com Napoleão de 1801 a 1814, a situação ainda foi mais dramática pela intensidade da luta. Situação que ainda hoje persiste, embora atenuada pela perda do Ultramar.

O Conde de Oeiras solicitou ajuda para a defesa do território pela invasão das tropas Espanholas à Inglaterra. O pedido era explícito na necessidade de nomear um “Mestre-de-Campo-General” que conseguisse organizar o exército, e o envio de uma vasta quantidade de equipamento e tropa. O Rei de Inglaterra, Jorge II, escolheu Guilherme Schaumburg-Lippe, conde reinante do pequeno condado Schaumburg-Lippe desde os seus 24 anos de idade. O Conde de Lippe, embora fosse Alemão de nascimento, possuía uma elevada reputação militar e gozava de grande estima, até porque era membro da família real Inglesa.

B – O conde Lippe como militar:

O conde Lippe chegou a Portugal em 02.07.1762 regressando ao seu condado em Setembro de 1764 e fazendo uma visita a Portugal no período 1767-68, fez-se acompanhar por vários oficiais alemães, entre os quais, o príncipe Carlos Luiz Frederico, Duque de Mecklamburg, marechal de campo do exército Inglês e irmão da rainha Inglesa. O Conde de Lippe verá consagrado o tratamento por Alteza Sereníssima, ocupará o lugar cimeiro da hierarquia e debate os problemas directamente com o Conde de Oeiras. A sua autoridade encontra-se plenamente consolidada após o episódio, real ou inventado, do atentado contra o Rei D. José I, e a espectacular eliminação física de um conjunto de elementos da primeira nobreza, considerados como “conspiradores”.

O Conde de Lippe assentou praça nas guardas inglesas, posteriormente passou à marinha e esteve na companhia contra os turcos em 1745. Em 1748, sucedeu ao seu pai no governo do seu condado. No começo da guerra dos 7 anos (1756) ligou o exército que organizara, segundo as regras prussianas, às tropas de Hanôver. Teve o cargo de grão mestre de artilharia, tomando parte em várias batalhas. Para um militar experiente no campo de batalha e que acompanhava a evolução dos exércitos mais modernos da época, quando chegou a Portugal, verificando o estado do nosso exército e para fazer face à invasão das tropas Espanholas, concentrou o seu primeiro esforço em disciplinar o exército. Fê-lo, quer no campo da moral, tentando acabar com uma das maiores fontes de deserção das praças e do descontentamento dos oficiais – o pagamento do pré atempadamente. No campo material, procurou fardar e equipar o pessoal o melhor que pôde.

Em 1762, inicia-se a invasão espanhola e as primeiras 5 praças, caíram sem que tivesse sido dado um tiro. O Conde de Lippe, avaliando um fraco valor militar das suas tropas, procurou apenas obstar a que o exército espanhol não entrasse muito em território nacional, mas o suficiente para ter que se dispersar e limitou-se a uma guerra de posição, concebendo a sua estratégia:

- Conseguiu mobilizar a população para o conceito do “direito de defesa” em que atacava as rectaguardas e flancos e essencialmente as colunas de reabastecimento. Tipo guerra de guerrilha.

- Constitui um exército de 15.000 homens em igual proporção de portugueses e ingleses dispersando-os em 5 destacamentos que os colocou em expectativa, de modo a poder lançá-los, com oportunidade, nos pontos ameaçados, para ofensivas rápidas, mas determinadas.

- Guarneceu as praças com as tropas menos preparadas

Madrid, apercebendo-se da estratégia montada, obrigou à suspensão da ofensiva, querendo substituir o Comandante da Forças – Marquês de Sarria - pelo Conde de Aranda, oficial mais experiente em campanha.

Esta quebra de ímpeto, permitiu ao Conde Lippe, rearticular os seus destacamentos, manobrando-os em reacção ao inimigo. Entretanto, a paz de Fontainebleau pôs termo à guerra dos sete anos e fazia suspender as operações entre Portugal e Espanha. O tratado de paz definitivo que assegurou a restituição recíproca de prisioneiros e a devolução das praças ainda ocupadas (Chaves e Almada) só foi assinado em 10 de Fevereiro de 1763, sendo publicado em Lisboa no dia 25 de Março. Desde o início da campanha e durante ela, teve contra si, a má vontade dos vedores (entidades que tinham por missão o pagamento dos salários e aquisição dos géneros e artigos militares) como também da maioria dos generais e oficiais superiores, fidalgos aparentados entre si. O Conde era militar das luzes desejoso de aprender, intelectual e militar ímpar, ao contrário da grande maioria dos oficiais portugueses de perfil tradicional.

Ao perfil do Conde de Lippe, permito-me sublinhar ou acrescentar alguns traços, que parece justo serem realçados:

  1. Grande capacidade de comando. Se comandar é o correcto exercício da autoridade sobre as forças militares e a autoridade é a capacidade de ser obedecido, ele conseguiu, com a prudência e o tacto que a difícil situação recomendava, mas com um elevado sentido de responsabilidade e perseverança, tornando-se efectivamente no Comandante do Exército Português.

  2. Sentimento de honra. Servindo um rei estrangeiro em terra alheia, desinteressado dos bens materiais e repouso que a condição lhe merecia. A transformação que exerce no espírito do soldado Português, aliás, como ele descreve nas suas memórias “Admirável perseverança do soldado português”, que suportou as maiores privações, e que, não obstante o pronto estrago do calçado, marchava alegremente por aqueles caminhos de agudos rochedos, deixando por toda a parte vestígios dos seus pés ensanguentados.

  3. Elevada capacidade de organização. Sendo já evidente na campanha de 1762, ficou sobejamente comprovada pela sua acção posterior, pelo cuidado posto na reorganização do exército.

C – O Conde Lippe como homem:

Vejamos em breves traços o seu perfil e personalidade. O conde chegou a Lisboa em 2 de Julho de 1762, com 38 anos, de nome completo Frederico Guilherme Ernesto, filho do conde Alberto Wolgang, estudou em Leida e Montpelier. Era versado em matemática, ciências militares, artilharia, história, filosofia e ainda ciências políticas a até medicina. Dominava várias línguas e foi grande amador musical, exímio executante de cravo e violino. Além da vastíssima cultura intelectual, era dotado de forte constituição física, sóbrio na alimentação e pouco dormia. Era forte na esgrima, cavalgando admiravelmente e muito ágil no salto em altura. Magro, nervoso e robusto, de testa larga, olhos rasgados e proeminentes. Inteligente e benévolo, era sóbrio na palavra, mas esta corria-lhe sempre lúcida e afável. Trajava, sempre fato azul singelo, sempre abotoado, não se distinguindo senão pela cruz da Águia Negra bordada, que usava sempre na sobrecasaca. Andava sempre de chapéu armado e de botas altas.

Não resisto a transcrever, como o seu secretário e intérprete, Manuel Arriaga Brun da Silveira, o descreve: “ O que desculpa e disfarça tudo, é o Sr. Marechal, menos o que respeita ao serviço de El-Rei, em que então não se pode conter. Não vi homem mais desprezador dos trabalhos, das fadigas, do fausto; reparte o tempo no conhecimento do país e na expedição das ordens e exposições. É inimigo da lisonja, do cortejo, do cortejo, do aplauso; o que quer é ver o soldado, o oficial no seu posto; dá com uma cega generosidade e mostra não saber o que é uma moeda de 6.400; é calado, amigo do silêncio e da ordem”.

D – Transformação do exército – Legado

Terminada a campanha de 1762, o conde de Oeiras não quis descurar o problema militar e, protelando a partida do Conde de Lippe, desejoso de regressar a casa, aproveitou a sua permanência para dotar o exército de uma nova organização e de regulamentação adequada a consolidar a disciplina das tropas e promover a sua instrução

O Conde de Lippe, pela sua experiência concluiu, que só poderia ter êxito se se verificasse:

- Total envolvimento do poder político nessa transformação. Este tem de compreender a necessidade da mudança, disponibilizar recursos e acima de tudo acompanhar o processo de mudança, já antevia a necessidade de subordinação das Forças Armadas ao poder político.

- A transformação das forças armadas tem de ser sentida e levada a cabo por toda a hierarquia da organização nomeadamente na sua estrutura superior, principalmente a capacidade de liderar a motivar toda a cadeia de comando.

- Em resumo, para se efectuar a mudança militar, são essenciais três fontes: normas culturais, a política e a estratégia, e novas tecnologias.

Elaborou os regulamentos sobre:

- Pessoal: Regionalização do recrutamento

- Justiça: A manutenção da disciplina nas fileiras constitui uma das suas principais preocupações, tendo sido introduzido pela 1ª vez o conceito de foro militar.

- Liderança: O Conde acaba definitivamente com as promoções por favor adoptando critérios de competência e mérito. Passa a ser-se nobre por ser oficial e deixa de haver oficiais só por serem nobres.

- Ensino: Cria o real colégio dos nobres, assim como bibliotecas em todas as unidades militares. Segundo afirmava – a leitura serve para se formar o espírito militar e prover-se de ideias: por ela se enriquece com as luzes e com a experiência dos outros.

- Treino: Determina a execução de manobras militares, periódicas, com o objectivo do ensino e prática das evoluções e implementação de novas tácticas. Faz com que o poder político, representado pelo rei e pelo primeiro-ministro, estejam presentes.

- Tecnologia: Restaura várias fortalezas e a construção do Forte da Graça em Elvas completou o sistema defensivo.

Posteriormente e com a partida definitiva do Conde de Lippe, o governo do Marquês de Pombal desinteressou-se pela sua obra, quase em absoluto. Segundo alguns autores, a inexistência de um exército forte, disciplinado e bem comandado deriva de uma deliberada intenção do Conde de Oeiras de não criar algo que pudesse constituir um entrave à forma como exercia o poder.

Em conclusão, o legado do Conde de Lippe, não são apenas livros e documentos que podemos ler em transcrições, ou que dormem tranquilamente na poeira dos arquivos. O seu legado é o exemplo do profissionalismo, a transcendência da missão de defesa, a actualidade de muitas das suas preocupações. É enfim, a necessidade de o reler, para quem tem, por dever conseguir a nossa defesa sem termos que chamar, outra vez, um Conde de Lippe.

E – O Conde de Lippe como maçon:

Como já referi, o Conde de Lippe residiu em Portugal de 2 de Julho de 1762 a 20 de Setembro de 1764, e, posteriormente, de 16 de Setembro de 1767 a 1 de Março de 1768. Era maçon de rito alemão da estrita observância. Através do seu perfil, já pudemos observar, que nele imperavam os valores sagrados de uma espiritualidade humanista e de uma ética radicada no respeito pelo semelhante e pela sociedade. Observava com rigor a fraternidade assente na igualdade de oportunidades e na correcção das desigualdades, no respeito por todos. Praticava a tolerância, a paz e compreensão, única forma de tornar profícua a busca da luz.

Rodeou-se de oficiais também maçons, que trouxe consigo para Portugal. O seu papel na Maçonaria foi relevante desde 1762, quando os seus oficiais, conquistaram adeptos em franjas do tecido social, principalmente no exército, mas também na nobreza, diplomacia, mercearia e cultura. Fundaram-se várias lojas: em Lisboa, Valença, Funchal, Coimbra, Almada, Elvas, Olivença, Estremoz e outras, onde quer que existissem guarnições militares importantes. E quando não houve oportunidade, ou iniciativa, para a instalação de oficinas, houve “irmãos“, dispersos por todo o país que difundiram os ideais maçónicos, contribuindo para o seu melhor conhecimento por parte dos Portugueses. A tradição da profunda influência do Conde de Lippe na Maçonaria Portuguesa mantinha-se ainda bem viva em meados do século XIX, conforme declarações de “irmãos” bem informados, como Silva Carvalho em 1846, ou Miguel António Dias em 1853.

A sua intervenção teve ainda mais relevo, até porque na época, a Maçonaria encontrava-se adormecida, pelas seguintes razões:

Em 28 de Abril de 1738, o Papa Clemente XII, a coberto da bula In Eminenti Apostolatus Speculu, formulou a primeira das muitas condenações da Igreja Católica contra a Maçonaria. Condenava e proibia os conventículos, local de reunião dos Pedreiros-livres, proibia aos católicos que neles entrassem, ou de qualquer forma, que os propagassem, ocultassem e auxiliassem, sob pena de excomunhão, e ainda ordenava aos bispos e aos inquisidores que inquirissem os transgressores e contra eles procedessem, castigando-os.

O inquisidor-mor Português, cardeal D. Nuno da Cunha, lembrando a existência de lojas maçónicas em Portugal e a consequente necessidade de fazer publicar a bula em Lisboa quanto antes.

O Edital da Inquisição, datado de Lisboa a 28 de Setembro de 1738, após sumariar a bula papal, admoestava e exortava todos os católicos portugueses e residentes em Portugal, a que lhe dessem cumprimento, e mandava, sob pena de excomunhão, que todos, quer eclesiásticos quer seculares, denunciassem ao Santo Ofício, as lojas ou assembleias maçónicas que conhecessem, dentro do prazo de 30 dias. Para que não se pudesse alegar desconhecimento, o edital era enviado aos abades, priores, reitores do reino e conquistas, para que o lessem e publicassem nas igrejas e fizessem afixar às respectivas portas.

Assim, a intervenção violenta do poder inquisitorial travou durante algum tempo a expansão da Maçonaria.

Com a morte de D. João V, a 30 de Julho de 1950 e a subida ao trono de D. José, o poder caiu gradualmente nas mãos de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal.

Acontece que o novo ministro nunca permitiu que a inquisição perseguisse os maçons.

A razão mais plausível, é que Carvalho e Melo pode ter sido iniciado Maçon em Londres, entre 1738 e 1744, ou, com menos probabilidade em Viena, entre 1745 e 1749, tal como foi aceite sócio da prestigiada Royal Society. Em Viena, conviveu com Maçons conhecidos e ilustres, p. ex. Manuel Teles da Silva, duque e príncipe de Silva Tarouca, e dá-se como certo que tivesse visitado a loja “Aux Trois Canons”.

Verificou-se uma tolerância plena para com maçons confessos, guindando-os aos mais altos cargos e favorecendo-os com a sua protecção declarada.

O quarto de século que grosso modo, correspondem à governação de Sebastião José Carvalho e Melo – Marquês de Pombal, além de ser rico em iniciações, quer de cidadãos nacionais que residiam no território, como tivemos oportunidade de verificar, também aqueles quer que residissem no estrangeiro ou de passagem, pertencentes às mais variadas profissões, verificam-se uma riqueza de simbologia maçónica, nomeadamente em construções, fotografias e estátuas.

BIBLIOGRAFIA:

1 – História da Maçonaria em Portugal de Oliveira Marques
2 – Maçonaria Regular de José Manuel Anes
3 – General Barrento – O exército português antes e depois do Conde de Lippe
4 – Um olhar actual sobre a transformação do Conde de Lippe de Miguel Freire
5 – Nova história militar de Portugal.


A. M. L.

27 setembro 2007

O décimo Venerável Mestre

Uma das vantagens do sistema de sucessão no exercício do ofício de Venerável Mestre informalmente instituído na Loja Mestre Affonso Domingues (e também em muitas outras Lojas, das mais diversas Obediências, ritos e latitudes) é que possibilita ao 1.º Vigilante um ano completo para analisar a Loja, verificar os seus pontos fortes e fracos, meditar sobre qual a melhor forma de dar o seu contributo aquando do exercício do seu mandato como Venerável Mestre - em suma, concede ao 1.º Vigilante um ano inteiro para preparar o seu projecto para o ano seguinte.

Dadas as circunstâncias em que eu fui designado/nomeado/empurrado/nomeado voluntário para ser 1.º Vigilante, eu utilizei esse período de reflexão para meditar sobre a melhor forma de evitar que situações semelhantes ocorressem num futuro próximo.

Foi neste estado de espírito que o mandato do décimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, Rui Bandeira, eu próprio, foi iniciado.

Tinha de confiar no instinto. E o instinto acenava-me que as circunstâncias que me tinham tornado Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues um ano antes do normal reflectiam uma debilidade, um ponto fraco da Loja a que havia que começar a dar remédio: a Loja seguia disciplinada e confiantemente, mas também, de alguma forma algo acriticamente, o seu líder, o Venerável Mestre em funções. Toda a evolução que, ao longo de quase uma década a fizera crescer e trabalhar e unir-se também tinha levado a essa consequência, para mim nefasta: a Loja era disciplinada e unida (muito unida!), mas em torno do seu líder, não em torno do grupo. A sucessão de eventos ocorrida, a frequente necessidade de actuar com espírito de corpo e em uníssono, habituara a Loja a reagir à voz de comando do líder em funções e a executar as suas determinações. Isso era bom, na medida em que a Loja era disciplinada, eficaz e unida. Mas não bastava e era, sobretudo, perigoso. A quase pavloniana execução das determinações do líder do momento tornara a Loja uma Loja do Venerável, quando, ao invés, o Venerável é que é da Loja!

Havia que, sem perder o que era vantajoso - disciplina, espírito de corpo, eficácia, união - começar a criar as condições que impedissem que um qualquer Venerável, por erro ou desvario, um dia conduzisse ordenada e disciplinadamente a Loja para o abismo, se fosse esse o resultado das suas escolhas acriticamente seguidas!

A reflexão que pude efectuar, entre a minha eleição, em Julho de 1999, e a minha instalação, em Setembro seguinte, conduziu-me a esta conclusão, muito em resultado de algo que bastante me impressionou: todos sabiam que, normalmente, seria João D.P. que deveria ter sido nomeado 1.º Vigilante e vir a suceder a Luís P., não eu; no entanto, anunciado por Luís P. que o seu 1.º Vigilante afinal seria eu, ninguém questionou, ninguém, pelo menos publicamente, levantou dúvidas ou perguntou a razão da quebra do hábito, todos disciplinadamente aceitaram a indicação do Venerável Mestre e eu fui instalado com a habitual placidez! No entanto, o normal teria sido que, ao menos, tivesse sido questionada a razão da quebra da regra informal que, desde o início, era seguida na Loja! E mesmo que alguns manifestassem o seu desagrado!

Decidi, pois, aproveitar a imensa confiança que a Loja depositava no seu Venerável Mestre para a tornar mais crítica, para a habituar a decidir - e não a apenas seguir a decisão daqueles a quem ia confiando o exercício da função de Venerável Mestre. Para tal, havia que voltar a habituar a Loja a debater, a discutir, a pesar em conjunto razões e argumentos e, finalmente, a decidir, ela própria, o grupo. Só assim seria possível que, a seu tempo, o Venerável Mestre regressasse aos limites da sua função: dirigir a Loja, em consonância com o caminho escolhido por esta - não determinar à Loja o caminho que ela devia seguir.

As ordens de trabalhos de todas as reuniões do meu mandato passaram a incluir sempre, pelo menos, um tema, um assunto, para discutir e decidir. Ao princípio foi difícil! Recordo-me que, nas duas primeiras reuniões, quando eu coloquei o assunto do dia à discussão, ocorreu uma pausa de embaraçado silêncio, ninguém tomando a iniciativa... Nesse início, um pouco penoso, foram o João D. P., o meu ultrapassado 1.º Vigilante, e o José Ruah quem iam salvando a situação. A pouco e pouco, porém, a Loja foi recuperando o hábito de discutir, de pesar prós e contras, em suma, de decidir. No final do meu mandato, as reuniões já eram muito mais participadas e a Loja começava a deixar de ser uma Loja que se limitava a seguir o seu Venerável Mestre e recuperava o seu antigo dinamismo, enquanto grupo.

Recebi uma Loja de Venerável e entreguei ao meu sucessor uma Loja com Venerável. Esse foi o contributo que dei à Loja Mestre Affonso Domingues no ano em que fui seu Venerável Mestre.

Fi-lo com a colaboração de um Quadro de Oficiais que, além do ex-Venerável Luís P., era constituído pelos seguintes elementos, que foram imprescindíveis e essenciais para o normal desenrolar do mandato:

1.º Vigilante - João D. P.
2.º Vigilante - José M.
Secretário - José Ruah
Tesoureiro - Alberto R. S.
Orador - Luís R. D.
Mestre de Cerimónias - Rui D. R.
Experto - Ruy F.
Hospitaleiro - Vítor E. C.
Guarda Interno - Jean- Pierre G.
Organista - Alexis B.
Editor - António P.

A todos um muito obrigado!

Rui Bandeira

26 setembro 2007

Aquém e além do símbolo

É inaugurada na próxima sexta-feira, dia 28 de Setembro, pelas 16,30 horas, a exposição de pintura e escultura de Júlio Pêgo intitulada "Aquém e Além do Símbolo". Esta exposição estará patente na zona de exposições temporárias, sita na ala Norte do Claustro da Hospedaria, e ainda no no Claustro da Micha, no Convento de Cristo, em Tomar. O seu núcleo de pintura manter-se-á à disposição do público até ao dia 28 de Outubro. O núcleo de escultura, por sua vez, permanecerá exposto até 29 de Dezembro.

Esta exposição integra-se no programa nacional das Jornadas Europeias do Património 2007 e tem entrada livre nos dias 28, 29 e 30 de Setembro, bem como em todos os domingos e feriados até às 14 horas, destinando-se aos visitantes do Convento de Cristo.

A exposição é constituída pela mostra de 11 esculturas em ferro galvanizado e aço inoxidável e 21 pinturas, tendo como temáticas a época dos Templários e a expansão portuguesa e é uma organização do artista e do Convento de Cristo.

Mais informações podem ser obtidas e inscrições para visitas à exposição podem ser efectuadas através do número de telefone do Convento de Cristo, 249 313 481, ou solicitadas através dos endereços de correio electrónico cartaxe@gmail.com ou convento.cristo@ippar.pt .

Segundo informação na página na Rede do IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico - (antigo IPPAR), "as Jornadas Europeias do Património são uma iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, com o objectivo da sensibilização dos povos europeus para a importância da salvaguarda do Património. Neste sentido, cada País elabora anualmente um programa de actividades a nível nacional, a realizar em Setembro, acessível ao público gratuitamente.

O tema escolhido pelo IGESPAR para as Jornadas Europeias do Património de 2007 - "PATRIMÓNIO em DIÁLOGO", parte da ideia-base de que todas as comunidades possuem os seus monumentos de referência, mas que é importante ter em consideração que tais realizações não estão isoladas do tecido cultural que as envolve e que as justifica."

O programa completo das Jornadas Europeias do Património de 2007 em Portugal inclui dezenas de actividades por todo o País e pode ser consultado, em ficheiro.pdf, aqui.

Ir a Tomar ver esta exposição é um bom passeio! E também não é má ideia espreitar o programa completo das Jornadas Europeias do Património 2007 em Portugal e ver que iniciativa há na sua localidade ou perto de si. Há de tudo, desde exposições a espectáculos e a passeios.

Rui Bandeira

25 setembro 2007

Dignidade desportiva

São 16 horas de 25/09/2007.
Refiro o momento exacto em que passo estas ideias ao papel (ao ecran…) porque é importante que se relacione com o tempo ainda anterior ao espectáculo desportivo do Portugal-Roménia em râguebi.
Temos, aqui, feito referência aos êxitos de Vanessa Fernandes e Nelson Évora nos campeonatos do mundo de Atletismo, tal como se referiu a participação da Selecção Nacional de Basquetebol, modesta mas a melhor possível face aos meios disponíveis, tal como têm que ser referidas as 7 (SETE) medalhas que os nossos judocas trouxeram de Birmingham e Tallin.
E os heróis do Desporto para Pessoas Diferentes ?
Quantas medalhas, quanta honra, quanta dignidade…
E agora no topo do podium, para nós, a Selecção Nacional de Râguebi.
Verdadeiramente amadores batendo-se de igual para igual (mesmo quando perderam por 101-13 com a Nova Zelândia) com profissionais de um desporto de força, sem dúvida, mas de enorme exigência técnica, também.
E bateram-se de igual para igual porque, quem assistiu aos jogos já disputados, constatou que em muitos momentos dos jogos os nossos foram melhores, mesmo perdendo sempre, viu-se que foram melhores.
Não se trata da apologia das vitórias morais.
Trata-se da verificação de que a Selecção Portuguesa de Râguebi é, de facto, um David a ousar desafiar um Golias, sem medo e com a força anímica dos heróis, quiçá, daqueles ao longo dos quase 900 anos de história justificaram que, como diz o nosso Templuum Petrus, ser português é “muito mais do que em solo pátrio ter nascido. Ser Português é um estado de alma, de espírito, é no fundo vestir a camisola incondicionalmente”.

É neste aspecto que estou 900 por cento de acordo com Templuum Petrus.
Infelizmente só nesse, porque os exemplos dados não têm nada a ver nem com o estado de alma, nem de espírito nem com a camisola incondicional.
Os exemplos do nosso querido Amigo Templuum Petrus confundem, a nosso ver, estado de alma com estado de conta bancária, espírito com Lamborguini, e Ser Português com “o não interessar ser brasileiro”(Deco, Liedson, …).

Adoro o Brasil e os brasileiros, cá e lá !
Quando por lá (Brasil) passei encontrei a minha casa, também.
Mas Scolari na Selecção Nacional de Futebol ainda não justificou os muitos milhares de euros (só Gilberto Madail sabe quantos) que lhe são pagos mensalmente.
Mas a imagem da Fénix é gira. Eu achei piada.
Em Futebol (exceptuando o jogo com a Inglaterra no Europeu) só ganhou o absolutamente indispensável para ir andando, sem brilho, sem classe.
E no entanto o treinador/seleccionador tem tido à disposição alguns dos melhores jogadores do mundo, não um ou dois, vários dos melhores jogadores do mundo, tal como o próprio mundo do futebol os classifica.
Figo, Rui Costa, Cristiano Ronaldo, Deco, Ricardo Quaresma, Ricardo Carvalho, … constituem quase uma equipa completa de melhores jogadores do mundo, dizem.

Em 1964 havia só um (Eusébio) e Portugal conseguiu muito melhor, foi 3º num Campeonato do Mundo.
E por acaso também com um brasileiro à frente, só que esse brasileiro (Otto Glória) antes de ser Seleccionador Nacional fez por merecer a escolha, organizando todo o futebol nacional, dando-lhe estrutura, incutindo profissionalismo a todos os niveis, ensinando o que é jogar futebol e conquistando internamente títulos atrás de títulos, mostrando que era o melhor.
Foi escolhido para Seleccionador Nacional apenas porque era o melhor na altura.

No Europeu (e era só europeu) não conseguimos mais do que o 4º lugar.
Jogadores melhores do mundo são mais que muitos.
Já só faltava mesmo uma cena de pugilato, que o próprio boxeur só reconheceu quando a televisão lhe retirou qualquer possibilidade de fuga.
Não foi uma retratação honrosa como se quer fazer passar (especialmente essa outra Fénix extraordinária que é “presidente” da Federação), foi uma confissão de pobreza de espírito quando a única atitude digna teria sido a demissão.

Honra, dignidade, “vestir a camisola incondicionalmente” sim senhor !
Estou à espera das 19h para ver “OS LOBOS”.
Qualquer que seja o resultado !!!

No futebol, não !
JPSetúbal

24 setembro 2007

A Iniciação (II)

Os ritos de passagem são frequentemente integrados por referências ou representações à vida anterior dos que se submetem ao rito (de onde vens), por uma ou mais provas que devem ser superadas (o que és) e por referências ou representações daquilo a que se acede (para onde vais), designadamente aos deveres ou obrigações inerentes à nova situação que é atingida.

O rito de passagem que é a Cerimónia de Iniciação maçónica não foge a este estereótipo. Tem, porém, a característica de, após uma fase inicial, destinada à preparação psicológica e interior do candidato, tudo isso ocorrer em simultâneo.

Durante praticamente todo o decurso da Cerimónia de Iniciação, processam-se, em simultâneo, simbólicas referências à vida passada do profano em geral (e, portanto, também do candidato), ocorre a prestação de provas pelo candidato, por cuja submissão e consequente superação, também simbolicamente, se processa a transformação da realidade anterior para a realidade futura e apresentam-se ao candidato os princípios morais que devem por este ser seguidos como elementos veramente identificadores e conformadores da sua nova condição, a de maçon.

Durante todo este processo, o candidato é o centro da Loja - e, na medida em que esta simboliza também o Mundo, o candidato é o centro do Mundo. Tudo começa e acaba nele. Tudo a ele se refere. Tudo se destina a ser percepcionado, apreendido, sentido, em suma, vivido, por ele.

Porque assim é, tudo é organizado para que o máximo de atenção do candidato esteja concentrado no que se passa. Quando é que a nossa capacidade de atenção está no seu nível máximo? Quando estamos perante o desconhecido. Daí a importância de que o candidato ignore o que se vai passar.

Mas o objectivo principal da Cerimónia de Iniciação é TRANSFORMAR um profano num maçon. Importa, então, que esta efectue essa transformação. Para que tal ocorra, há que causar uma impressão no candidato, que seja o agente dessa transformação. Isso não ocorre com a mera leitura de um texto ou a simples exposição de normas de conduta, ou sequer com a prestação de provas que, na realidade, são tão acessíveis que não há memória de terem sido falhadas. Isso ocorre com a integração de tudo isto num conjunto e numa ambiência que, vividos em directo, sem avisos prévios, sem se saber o que virá a seguir, efectivamente marquem o candidato. O que se procura é que quem se submeter a uma cerimónia de iniciação maçónica nunca a esqueça, em dias de sua vida!

Para tal, o candidato é o centro de interesse de toda a actuação de toda a Loja durante todo o tempo em que decorre a sua iniciação, em toda a sua integralidade. Procura-se atingir, tocar, todos e cada um dos cinco sentidos do candidato. É importante, assim, tudo o que o candidato vê (e o que não vê...), tudo o que ouve e entende (e tudo o que, ouvindo, não entende, no momento...), tudo o que cheira, tudo o que saboreia, tudo o que sente (e tudo o que se passa sem que ele directamente sinta...).

A Cerimónia de Iniciação maçónica é uma cerimónia complexa para quem a executa e para quem a ela é submetido. Para quem a executa, porque, para ser feita de forma a que a mesma atinja os seus objectivos, se impõe concentração, coordenação e cooperação de todos os presentes, pois todos, realmente todos, os membros de uma Loja presentes participam na Cerimónia de Iniciação e contribuem para a criação do clima que permitirá o desabrochar de um maçon no interior de quem a essa cerimónia é submetido. Para este, porque, impreparado, despojado e indefeso, enfrenta um aluvião de sensações que - sabemo-lo! - lhe será impossível devidamente processar no momento. Mas é por isso mesmo que a Cerimónia de Iniciação é marcante!

Uma Cerimónia de Iniciação bem executada, bem vivida, será fonte de ensinamento e reflexão ao longo de toda a vida. Não será imediatamente compreendida na sua integralidade. Mas isso não importa. O que importa é que marque quem a ela se submeteu. Marcará no momento em que é vivida. Marcará de novo quando, pela primeira vez, o então já maçon assistir à iniciação de outrem. Voltará a marcar sempre que assistir a uma iniciação, sempre que executar uma função numa iniciação, sempre que dirigir uma iniciação.

E, se a sua Iniciação for proveitosa, se o maçon souber dela tirar toda sua lição e a aplicar ao longo do resto de sua vida, desejavelmente quando chegar o momento da sua Suprema Iniciação, do Derradeiro Ritual de Passagem, da sua Passagem ao Oriente Eterno, recordar-se-á do dia em que esteve, impreparado, despojado e indefeso, perante o Desconhecido e passou adiante e... não temerá!

Rui Bandeira

22 setembro 2007

Scolari

“Exalta-te e serás humilhado, Humilha-te e serás exaltado”

Ora eu aqui de novo, aproveitando a inter-actividade aqui do sítio, proponho-me discorrer, profanamente, embora com certa intenção não profana, apelando a valores que se ensinam quando ainda só sabemos soletrar.
De caminho dou nota do comentário feito por uma cunhada a propósito do meu artigo “Grandes Portugueses II”, a quem agradeço as palavras que me dirigiu e me alertaram para a necessidade de esclarecer, aquilo que não soube transmitir.
Quando referia que as figuras históricas presentes na “final” do concurso televisivo eram iniciados, obviamente não me referia à Maçonaria Especulativa, aquela onde hoje somos humildes obreiros, mas também aludi à distinção que Fernando Pessoa fazia entre Ordem Maçónica e Maçonaria (especulativa). A primeira refere-se a um sistema tributário de valores esotéricos e profanos que não carecem de uma iniciação formal e ritualística, ancestral, e nessa medida, ser adequado admitir que um iniciado, numa ordem esotérica poder ser aceite como Maçon. Era o caso de todos os nomes referidos naquele artigo, porque todos iniciados.
Bom mas o tema de hoje está na berra. De uma forma vernácula nunca o ditado “passar de bestial a besta” vem tão a propósito, como o caso do momento do Scolari.
Para começo de conversa devo dizer que quando a Federação Portuguesa de Futebol contratou o Scolari eu não aceitava muito bem a necessidade de ir buscar um estrangeiro quando existiam tantos treinadores Portugueses de elevado calibri. Recordava-me de um que me fez chorar lágrimas de orgulho e alegria – o Carlos Queiroz – campeão do mundo de sub-21 duas vezes, lembrava-me do Manuel Fernandes que é só treinador com mais títulos internacionais, etc.
O Scolari vem do Estado Brasileiro do Rio Grande do Sul, onde tenho amizades pessoais com políticos de relevo, e genericamente tenho gratas recordações das duas vezes que o visitem, ali tendo aprendido muitas coisas no domínio da administração municipal e marketing politico. Portanto tenho sempre um especial carinho pelo Rio Grande do Sul. Mas nem isso aplacava a minha resistência ao facto de uma selecção nacional dever ter na sua liderança um Português.
Porém, já há muito que aprendi, a custo, porque me custa constatá-lo, que ser Português é muito mais do que aqui em solo pátrio ter nascido. Ser Português é um estado de alma, de espírito, é no fundo vestir a camisola incondicionalmente.
A nossa história está recheada de episódios com portugueses que renegando o seu sangue, optaram pela trincheira castelhana. Até o nosso Nobel parece ter optado por essa via.
Nutro um especial desprezo por todos os Portugueses que se colocam nessa posição. Assim como nutro um especial apreço por quem aqui não tendo nascido, se sentem portugueses e agem com tal. Esses têm nas veias o ser Português. Foi esse o caso do Scolari. Foi isso que me levou a mudar de ideias.
Este homem chega a Portugal, e qual Fénix, renascida das cinzas, levanta o moral dos Portugueses, inflama o espírito da portugalidade, torna-se num ser Bestial, e nós todos com ele.
Um acto irreflectido, censurável, vergonhoso, e, aparentemente, sem desculpa foi praticado por este ser Bestial. Exige-se a um ser Bestial que não se sinta ofendido de, em castelhano alguém, lhe diz “hijo de putana”, e outras do género. Reage como qualquer um com sangue a correr nas veias reagiria. Já lá dizem na terra dos meus Pais (transmontanos) que quem não se sente não é filho de boa gente.
A retratação no dia seguinte na “grande entrevista” parece-me sincera. O homem que antes se exaltara foi humilhado, pela opinião pública imediata. Mas agora humilha-se pelo que será exaltado. Ao cabo e ao resto é um exemplo de quem errando, emenda o caminho.
Afinal melhor do que quem nunca errou, é aquele que tendo errado se emendou. O primeiro provavelmente não terá sido tentado por factores desviantes. O segundo tendo sido tentado ultrapassa a tentação. Combate os seus vicíos e exalta as suas virtudes. Isto é evoluiu. Sendo bom e de bons costumes e tornou-se melhor.
Scolari sendo bestial, comete um erro, mas arrependeu-se. Aprendamos algo com isto.
O Grande artífice do Universo (como Camões Lhe chamava) pega-nos ao colo quando erramos, quando precisamos, quando fraquejamos.
Afinal é nessa altura que precisamos de ser acarinhados. Quanto ao Scolari, o homem errou, retratou-se. Façamos como qualquer centurião de uma legião romana faria perante um ataque, porque agora surgem de todos os lados, e gritemos “formação em diamante” (esta era a voz de comando para formar uma espécie de concha defensiva com os longos escudos dos soldados que os protegia das setas inimigas, e de qualquer artefacto móvel que se lhes dirigissem de qualquer direcção.
Quando se trava uma “guerra” (em sentido figurado) – qualificação para o Europeu – nunca se deve mudar o General, sob pena de, ao fazê-lo se perder todas as batalhas seguintes (e são 4). Isso seria uma estupidez.

Bem hajam

Templuum Petrus

21 setembro 2007

Sobre Esoterismos

Falei num post prévio da linha esotérica, e o nosso leitor Simple que lê todas as letrinhas que escrevemos neste blog não deixou passar essa referencia em branco e questionou sobre.

O esoterismo está em minha opinião no feitio de cada um.

Eu sou cartesiano, racionalista, e sigo linhas de pensamento lógicas sendo também um pouco Maniqueísta. É a minha formação, é a minha forma de ser na sociedade civil, sou assim em casa com a família.

De vez em quando, se a situação o exige visto a minha capa de politico e passo a admitir alguns tons de cinzento e situações menos lógicas.

Acredito que a Maçonaria tem origens definidas e que com os landmarks, os regulamentos, os rituais, a prática se pode muito bem responder a toda e qualquer questão que se levante.

Mas hoje estou aqui para falar de Esoterismo. Sendo este um tema de grande importância na Maçonaria, decidi contudo fazer uma abordagem ligeira, ou talvez não.

Creio que o esoterismo se pode dividir em categorias (cá está a minha faceta lógica) e a melhor maneira que encontrei de as explicar foi com a apresentação de exemplos. Uns são totalmente inventados para este efeito, outros são reais. Temos então as seguintes categorias (classificação é minha e inventada agora mas se estivesse em publico diria “ segundo uma antiga tradição … [juntando em voz baixa e para o lado “que acabo de inventar” ] ) de esoterismo:


Esohisterismo
Enoterismo
Esoterismo Complexo
Esoterismo Simples
Esoterismo Super Simples


EsoHisterismo

1) A Razão pela qual numa loja existe o pavimento mosaico advém do cosmos e da superposiçao da Lua em Marte, com uma incidência de Vénus as 10h34min do dia 23 de Março do ano de 1658, como é evidente para qualquer mortal.

2) Mozart foi iniciado em 14 de Dezembro de 1784.
José Ruah (eu próprio) foi Iniciado em 14 de Dezembro de 1991

Se repararmos nos anos e aplicarmos a regra dos 9 fora, temos que:
1784 = 2
1991 = 2

Mozart tinha 28 anos quando foi iniciado
José Ruah 27

Pela mesma regra

28 = 1
27 = 0
(o que é uma absoluta verdade)

Mozart demorou exactamente 1 mês a chegar a Mestre.
José Ruah demorou exactamente 9 meses a chegar a Mestre.

Novamente
1= 1
9 = 0

Mozart foi organista da sua Loja
José Ruah é organista suplente da sua Loja

Mozart compunha magistralmente e tocava ainda melhor ( tal qual indicam os 1 acima)
José Ruah também (campainhas de portas e Cds conforme querem dizer os 0 acima)

Mozart morre exactamente 200 anos e 9 dias antes da iniciação de José Ruah. Como 0 9 equivale a Zero podemos dizer que a Iniciação de José Ruah aparece na celebração dos 200 anos do falecimento de Mozart.

Logo e tendo em conta esta demosntração, José Ruah é seguramente uma nova forma de Mozart.


Enoterismo

É uma corrente intermitente, com uma correlação positiva aos Ágapes, ou mais propriamente ao fim dos mesmos.
Revela-se na verborreia e na capacidade inventiva que proporciona o ENO (ou produto similar – do grego e significa vinho) propelido pelos canhões bem carregados que são presença imprescindível nos ágapes.

De entre estes posso destacar o J e o B que têm um valor esotérico importante e um potencial enotérico de aproximadamente 40º/vol.

Poderia aqui citar umas quantas destas “ pérolas” mas os leitores poderão imaginá-las.


Esoterismo Complexo

1) Visão Crística / Messiânica transpondo rituais religiosos para cima dos rituais Maçónicos, e pensando que com isso vão conseguir definir novos arquétipos e encontrar o Santo Graal.

2) Tentativa de basear a Maçonaria na Cabala, usando para tal aquilo que se convencionou ser a Cabala Cristã, que é uma adaptação da Cabala Judaica (a original).
A estes eu costumo fazer apenas uma só pergunta: “ O meu irmão é então um entendido em Hebraico antigo e Aramaico? “, a resposta é invariavelmente não.
Temos que perceber o que é a Cabala, e saber que ela só pode ser interpretada na sua língua original pois assenta na construção frásica de uma língua e numa tradução numérica de um alfabeto específico.
Atente-se que nas línguas latinas o alfabeto contem vogais e consoantes e começa por A, B, C, …

Em hebraico o alfabeto só tem consoantes, tem várias letras com o mesmo som mas com valores gramaticais e numéricos diferentes e começa por Alef, Bet, Guimel (A, B, G) tal como o grego (alfa, beta, gama).

Traduzindo para números

Alef = A = 1
Bet = B = 2
Guimel = G = 3

Mas a letra G no alfabeto latino é a 7ª letra e A é uma vogal e Alef uma Consoante.

É fácil de depreender que quaisquer traduções e adaptações têm muito do dedo de quem traduziu, suprindo a impossibilidade de tradução de um sem número de conceitos. E estas traduções feitas por gente do Clero em épocas remotas, tinham por objectivo demonstrar determinadas verdades que careciam de demonstração.


Esoterismo Simples

1) Os que tendo lido os escritos de Jean Baptiste Willermoz, e René Guenon, partem do princípio que a Maçonaria começou e acabou nos dizeres destes, seguramente sabedores e cultos, escritores.

2) Os que por serem profundamente, e convictamente espirituais, se preparam para o ritual e quase entram numa fase de pré transe ou tentam uma espécie de elevação da alma durante as sessões.


Esoterismo Super Simples

Os que genuinamente fazem pesquisa nas mais variadas fontes e que produzem conhecimento sobre prováveis origens das coisas e que permitem aos demais poderem enriquecer-se com este conhecimento.
Não podemos esquecer que mesmo os mais racionais como eu também acreditam/aceitam algumas coisas como sejam, a origem esotérica da Maçonaria associada à construção de Templo de Jerusalém sob a égide do Rei Salomão e a “expertise” do Mestre Hiram entre outras.


Ora com estas linhas/classificações todas é fácil de perceber que numa Grande Loja temos gente para todos os gostos, e por isso temos Lojas para vários gostos.

Eu seria muito infeliz numa Loja puramente esotérica onde se discute a génese da vírgula na 3ª página do ritual linha 23. Tentando-se saber se advém de uma conjuntura cósmica, ou de uma interpretação cabalística. Para mim vem seguramente de uma necessidade gramatical ou de um erro de redacção do autor.

Outros seriam muito infelizes em lojas onde se discutam coisas práticas como o que vamos fazer para interagir com a sociedade de que forma e com que dinheiro. Porque estes assuntos têm pouco a ver com a noção transcendental de Willermoz, e seguramente não contribuem para a elevação do espírito.

Na generalidade gostamos todos da vertente enotérica, uns porque a praticam outros porque se riem até não poder mais com o que ouvem.

Tentando concluir.

Numa Grande Loja existem (coexistem) irmãos com inúmeras tendências esotéricas. Naturalmente acontece a agregação dos Irmãos da mesma tendência, normalmente as mais extremas) formando assim uma Loja com um determinado perfil.

No entanto a generalidade das Lojas têm um pouco de tudo, pois dessa forma consegue-se um contrapeso que permite um equilíbrio ideal ao desenvolvimento.

É contudo necessário perceber que estamos a falar de pessoas, e por muito que se queira (até eu que quero fazer passar-me por 100% racionalista) cada uma delas tem um pouco de cada coisa.

Diz o povo que “ De Sábios e Loucos todos temos um pouco”, e na Maçonaria isto também é verdade.

No entanto a experiência diz-me que só existe o caminho para o Esoterismo. Ou seja os racionais podem ficar um pouco esotéricos, os esotéricos super simples só evoluem para simples e daí para complexos. Não há na história nenhum que tenha feito o caminho ao contrário ou seja de Esotérico para Racional.

Devo portanto concluir que o estádio de elevação espiritual atingido pelo esoterismo deve ser muito bom, porque os que vão não voltam mais, eu cá como ainda não fui não posso dizer muito mais sobre o assunto.

Como podem já ver só esta conclusão em si tem valor esotérico, concluo portanto que já devo começar a ficar “contaminado”.

Provavelmente este não é o texto mais explicativo sobre o esoterismo, mas foi o que saiu.

Ainda me diverti a calcular a comparação com o Mozart, e posso desde já garantir que os factos são todos verdadeiros, quer a data de iniciação, quer o tempo entre graus, quer a idade, quer os 200 anos e 9 dias.

Dizem os mais esotéricos que não há coincidências. Dizem os deterministas e logo mais racionais que tudo está determinado.

Não restam então quaisquer dúvidas que os extremos se tocam e que na verdade entre os mais racionais e os mais esotéricos não há grandes diferenças.

Como diria Fernando Pessa – “ E esta hein !!!”


José Ruah

20 setembro 2007

A Iniciação (I)

Quando um profano pede para ser admitido maçon e a Loja que recebeu esse pedido acede a ele, a entrada do novo elemento para a Maçonaria e para a Loja processa-se mediante uma cerimónia, designada de Iniciação.

Um dos compromissos que os maçons assumem é o de não divulgar a profanos como se processa a cerimónia de Iniciação. Não por gosto do secretismo. Não porque algo de ilícito, ou perigoso, ou atentatório da dignidade, exista nessa cerimónia. Simplesmente porque o desconhecimento sobre como se processa e o que se passa nessa cerimónia é absolutamente essencial para que esta atinja os objectivos que com ela se procura prosseguir.

Dir-se-ia, assim sendo, que, nesse caso, não poderia ou deveria eu aqui escrever sobre a Iniciação. Tudo depende do que se escreve e como se escreve. Obviamente que não vou descrever a cerimónia, dizer o que nela se passa, como se processa. Assumi o compromisso de tal não fazer publicamente ou em privado perante profanos. E concordo e entendo as razões que subjazem a esse compromisso. Mas, sendo política e objectivo deste blogue desmistificar o pretenso secretismo da maçonaria e divulgar os princípios e objectivos desta, não seria entendível que aqui se não fizesse referência a um dos mais importantes actos e cerimónias da vida de qualquer maçon, a uma cerimónia que o terá indelevelmente marcado quando por ela passou e que continua e continuará a a influenciá-lo positivamente sempre que participa na iniciação de um novo maçon. Seria como descrever o futebol sem falar do golo, como discretear sobre Leonardo da Vinci sem mencionar a Mona Lisa!

Mesmo sem divulgar o que não deve ser divulgado, entendo que algo de interessante pode e deve ser dito sobre a Iniciação, permitindo que a generalidade dos interessados - ou até simples curiosos - entendam que objectivos se procuram prosseguir com essa Cerimónia e, mesmo, a razão da necessidade de detalhes sobre ela não serem conhecidos por quem por ela não passou.

A Cerimónia de Iniciação mais não é do que, no fundo, um rito de passagem! Desde a mais remota Antiguidade e em diversas Civilizações que a Humanidade executa ritos de passagem - o mais frequente deles porventura o que assinala a passagem da infância para a idade adulta.

A Cerimónia de Iniciação é, assim, e antes do mais, um rito de passagem da vida profana para a vida maçónica. Mas não é um mero marco dessa passagem, desse início. O traço distintivo da Cerimónia de Iniciação em relação à generalidade dos ritos de passagem é o de que aquela, mais do que assinalar, festejar, marcar a passagem da vida profana para a vida maçónica, tem um papel efectivamente constituinte dessa transição.

Não se pode ser maçon sem VIVER a cerimónia de iniciação. Pode-se tê-la estudado, lido sobre ela, até porventura lido o respectivo guião. Nada disso faz diferença: para que a nossa mente e o nosso espírito apreendam em toda a sua complexidade e riqueza o que é ser maçon, é essencial VIVER a Iniciação. Porque a transformação ética e espiritual que o método maçónico propicia depende, não apenas do Intelecto, mas da integralidade do Homem. O que vale por dizer que não basta conhecer intelectualmente os princípios, os ensinamentos, os propósitos, a moral. É necessário SENTIR esses princípios, esses ensinamentos, esses propósitos, essa moral.

E a impressão que a Cerimónia de Iniciação deixará naquele que a ela é submetido será tanto mais forte quanto menos ele souber do que se vai passar. Quanto mais souber (ou julgar que sabe...) sobre o que vai ocorrer, mais distraído estará, aguardando o que espera, ou julga, que vai acontecer, ou interrogando-se porque não aconteceu o que sabe (ou pensa que sabe...) que vai acontecer. E quanto mais concentrado no que sabe (ou imagina que sabe...) estiver, menos atenção dedica àquilo que efectivamente se passa, de menos detalhes se aperceberá, mais sensações perderá.

A todos aqueles que desejem vir a ser iniciados maçons, deixo aqui, portanto, um sincero conselho: informem-se o mais que puderem sobre a maçonaria, mas não busquem informar-se sobre a Cerimónia de Iniciação. Quanto mais dela souberem, menos esta vos marcará. Quanto mais dela conhecerem, menos a VIVERÃO. A maçonaria preza e incentiva o Conhecimento. Mas uma das coisas que se aprende na Maçonaria é que o verdadeiro Conhecimento adquire-se ordenadamente, quando se está preparado para adquirir cada pedaço dele.

Rui Bandeira

19 setembro 2007

The Burning Taper


The Burning Taper (O Círio Ardente) é um interessante blogue norte-americano de temática maçónica. Há meses que andava para aqui o divulgar, mas, por uma ou por outra razão, tal referência foi sendo adiada - até hoje!


The Burning Taper é escrito por um maçon, residente numa povoação do Estado sulista da Geórgia, que usa o pseudónimo de Widow's Son (Filho da Viúva - a expressão que os maçons utilizam para se designar a si próprios).

A leitura deste blogue permite que nos apercebamos de quão diferente é a maçonaria americana da maçonaria europeia. Diga-se desde já que este é um blogue contra a corrente, escrito por alguém que assumidamente está preocupado com o estado actual da Ordem Maçónica nos Estados Unidos, inserindo-se numa tendência de maçons que, insatisfeitos com o trabalho interno das Lojas, reduzidas quase a clubes sociais e filantrópicos, defendem que a crise por que passa a maçonaria americana (em contínua perda de efectivas, desde há várias décadas) só pode ser superada com o investimento na formação maçónica, com o estudo, debate e efectiva prática dos princípios maçónicos, com o trabalho ritual, com o retorno à prevalência das Lojas Azuis (as Lojas que constituem o essencial da Maçonaria, com os três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre) em detrimento dos Altos Graus (nos Estados Unidos, essencialmente o York Rite e o Scottish Rite - Rito Escocês Antigo e Aceite, dos 4.º ao 33.º graus) e de outros Corpos Adjacentes (os Shrines). Em suma, e ressalvadas as devidas distâncias, poder-se-á dizer que as posições defendidas por Widow's Son e toda uma corrente, por enquanto ainda minoritária, de maçons se aproximam da prática da maçonaria europeia.

Pelo que se pode ver em The Burnig Taper, Widow's Son é um maçon que cultiva a polémica - mas respeita as opiniões alheias -, fomenta a discussão - mas pretende-a esclarecedora - e defende com intransigência - mas com espírito democrático - as suas concepções.

O autor do blogue preocupa-se, manifestamente, com a influência do fundamentalismo religioso - em especial do fundamentalismo dito cristão - na sociedade americana, que entende pôr em perigo os valores essenciais em que esta se baseia. Não hesita em denunciar esse fundamentalismo. Entende que o modelo quase exclusivamente filantrópico e social que considera ser seguido pela corrente maioritária da maçonaria americana está esgotado. Aponta e divulga os exemplos das práticas que considera mais adequadas.

O blogue destaca um aviso, o de que tem tendências heréticas. É evidente a ironia, mas também a assunção do inconformismo do seu autor.

Muito interessante é o detalhe de Widow's Son ter criado uma base de dados de citações maçónicas e, mediante uma aplicação criada para o efeito (que se propõe disponibilizar a outros Irmãos que desejem utilizá-la nos seus sítios ou blogues), possibilitar que, em cada vez que se acede ao blogue, se leia uma diferente citação maçónica.

Este blogue teve assumidamente a sua origem num conflito em que o seu autor esteve envolvido na sua Loja. Para se compreender muito do pensamento e da postura de Widow's Son convém ler-se atentamente o conjunto de textos que descrevem a origem e o desenvolvimento desse conflito. Esses textos estão referenciados na coluna da direita do blogue, sob o título The Burning Taper backstory (Os antecedentes de O Círio Ardente).

Aqueles que o autor considera serem os melhores textos publicados no blogue (e seguramente alguns daqueles em que a polémica está presente) estão referenciados, também no lado direito do blogue, sob o título Worth reading again (Vale a pena ler outra vez). São doze textos que nos dão a panorâmica das preocupações e das posições de Widow's Son.

Este blogue é frequentemente actualizado - por vezes com vários textos por dia. Vale também a pena ler os comentários, não só porque ali intervêem alguns dos autores de outros blogues maçónicos de qualidade, mas porque não é raro que as polémicas que se estabelecem na caixa de comentários seja mais interessante e esclarecedora do que os textos que lhes serviram de pretexto - e que, por vezes, se tem a sensação que foram publicados precisamente buscando a polémica, o confronto de ideias, as posições extremadas.

Para quem domina o inglês e quer ir acompanhando o estado da maçonaria americana, suas virtudes e defeitos, pujanças e problemas, inacção e evolução, ler regularmente o The Burning Taper é francamente aconselhável.

Rui Bandeira

18 setembro 2007

Entre o Nono e o Décimo Veneravel

Sabia, mais ou menos, o que o Rui iria escrever sobre esta época da Loja. Tive tempo para pensar sobre se escreveria ou nao sobre este periodo.

Só hoje decidi. Ao ler o post do Rui A Ultrapassagem . Comecei por escrever na zona de comentários mas decidi passar para aqui.
Ao contrario do que se possa pensar , e na minha opinião estes foram os anos mais dificieis da Affonso Domingues.
O perigo vinha de dentro e como todos sabemos as guerras internas sao muito mais violentas que as externas.
Diz o povo
" Eu contra o meu Irmão, eu e o meu Irmão contra o nosso primo, Eu o meu irmao e o nosso primo contra o vizinho, eu,meu irmao, nosso primo e o vizinho contra o vizinho da rua de baixo, etc."
Anos antes a guerra nao era nossa, era imposta, nestes anos a desavença era interna.
Por isso aqui vai.
Creio que deve aqui ser dito que Luís D.P. era adepto de uma via esotérica que privilegiava a permanência pelo máximo período de tempo possível em cada lugar.

Começou por recusar ser 1º Vigilante quando convidado pelo Vítor. Recusou ser 1º Vigilante quando convidado por mim, escolhendo em ambas as alturas ser 2º Vigilante.

Não teve a possibilidade de repetir a dose em 1º Vigilante por força das circunstancias ( bem até que foi duas vezes pois o Jean P.G teve mandato e meio com duas eleições.)

Tentou ser Venerável dois anos consecutivos, mas aí a coisa foi mais difícil.

A Generalidade da Loja não foi nisso, e sobretudo ele Luís sabia bem que eu não iria nisso. Foi público e muito notório que fui um dos maiores críticos ao tipo de gestão do Luís, e as nossas discordâncias eram constantes e audíveis.

Reconheço que o meu mau feitio imperou, quem me conhece sabe que gosto das coisas feitas à minha maneira, mas que não sou Ditatorial (excepto em caso de força maior).

Esses anos da Loja vivi-os com algum distanciamento pois tinha acabado de mudar de emprego tendo na altura assumido funções num hospital, e tinha mudado de casa mas por força das obras fui obrigado a viver em Colares durante um ano, pelo que me sobrou muito pouco tempo para a Loja.

Não guardo grande saudade do Veneralato do Luís, e não fiquei admirado com a manipulação feita. Esse era o estilo. Sempre com um discurso de decisão democrática, sempre com uma decisão autocrática e muitas vezes não orientada ao que seriam os melhores interesses da Loja.

Por isso especulo aqui o seguinte:

Luís sabia que se tentasse ser reeleito teria uma oposição feroz, e que provavelmente não o seria uma vez que a reeleição obriga a um resultado de pelo menos 2/3 dos votos favoráveis.. Ficando numa situação insustentável.

Terá pensado que seria estrategicamente melhor afastar-se e não promover aquele "que ele pensava ser o seu Delfim" , criando assim um hiato de 1 ano antes de poder tentar retomar o poder.

Luís sabia que Rui Bandeira me conteria, porque somos amigos e porque eu nunca iria tornar difícil o Veneralato do Rui.

Comigo fora das contas ele tinha um ano de descanso e poderia preparar o futuro.

Só que feriu o "seu Delfim" e não contou, nem poderia contar, com as eleições para Grão Mestre que ocorreram durante o mandato do João D.P. .

Não contou com mais algumas coisas. Tomou-se “amores” por Ruy F. e por Gustavo P. , e sem querer ser muito mau, creio que incumbiu o primeiro de travar uma guerrilha comigo. A coisa correu mal.

Luís esqueceu-se de uma coisa fundamental, eu tinha sido o Venerável da Guerra e travar uma “guerrinha” com Ruy F. foi fácil, tendo acabado Ruy por sair da Loja

Gustavo P. acabou mal, praticamente expulso da Loja, e mais tarde expulso da Maçonaria.

E no que respeita à eleição para Grão Mestre, Luís encontrou-se frente a frente com João D.P., Luís era um dos 3 subscritores de uma candidatura e João um dos subscritores da candidatura oponente.

Eu era o “juiz”. Por assim dizer. Desempenhava funções de Grande Orador da Grande Loja e era o responsável pelo escrutínio.

Temos então que a estratégia de Luís fracassou.

Ao provocar a ultrapassagem perdeu aquele que ele achava ser o seu Delfim.

Ao mandar outros batalhar comigo, perdeu os seus aliados.

Acertou na premissa que Rui Bandeira me conteria. Mas o Veneralato só durou um ano e no ano seguinte, estando eu nas colunas e ele como guarda interno ficámos empatados na prioridade do uso da palavra e eu não me tinha esquecido.

Não podia prever a evolução da Grande Loja e com isso teve que defrontar João .D.P. , se é certo que ganhou a eleição o candidato de Luís e que com isso ele ficou como Grande Orador, também é certo que passado pouco tempo o Grão Mestre o destitui sem apelo nem agravo por incumprimento de funções. Ou seja aquele que poderia ter sido o seu trunfo ele também não o aproveitou.

Falhou também a sua tentativa de ser o único responsável pela instrução dos aprendizes. Essa função estava acometida aos Vigilantes e estes desempenharam-na.


Era uma estratégia que teoricamente ( leia-se esotericamente) estava bem montada, mas que esbarrou numa série de problemas reais e em tipos com mau feitio, que tendo dado tudo o que tinham para conter as agressões externas não iam nunca dar de barato a destruição interna.


Terminando a especulação, que como qualquer especulação apenas reflecte o que eu penso, retomo a realidade

Hoje Luís não aparece nas sessões há uns 4 anos. Soube que está tentar regularizar a sua situação de quotas para poder sair com alguma dignidade.

Como pessoa Luís estava sempre pronto a ajudar. Como Venerável Mestre foi na minha opinião um desastre.

Ainda hoje a Loja não tem um membro que seja da linha esotérica como o eram Luís e Ruy F.

Não sei porquê, ou se calhar até sei.
José Ruah

17 setembro 2007

A ultrapassagem

No texto O nono Venerável Mestre, referi que Luís P. exerceu a função com alguns laivos de autoritarismo. Convém esclarecer que tal sucedeu não porque Luís P. fosse especialmente autoritário, mas porque a sua concepção da maçonaria e da Loja era de que esta era dirigida pelas três Luzes (O Venerável Mestre e os dois Vigilantes), sob o comando do Venerável Mestre.

Luís P. exerceu as funções de 1.º Vigilante no Veneralato do oitavo Venerável Mestre, Jean-Pierre G. O 2.º Vigilante da Loja, nesse Veneralato, foi João D. P.. Com a eleição de Luís P. para Venerável Mestre, a prática usualmente seguida na Loja implicava que o novo Venerável indicasse para exercer o ofício de 1.º Vigilante o Mestre que exercera as funções de 2.º Vigilante no ano anterior. Essa prática só muito raramente foi quebrada e, por regra, por indisponibilidade do Mestre que devia passar de 2.º a 1.º Vigilante. Foi, aliás, o caso de Luís P. que, mostrando-se especialmente interessado na formação dos Aprendizes, exerceu, a seu pedido, as funções de 2.º Vigilante dois anos seguidos, com isso, por opção própria, atrasando em um ano, quer o exercício do ofício de 1.º Vigilante, quer, depois, o de Venerável Mestre.

À época, existia a tendência - que entretanto a Loja veio a abandonar, optando por outro critério - de que o Mestre que exercia num ano o ofício de Orador viesse a ser designado 2.º Vigilante no ano seguinte. No mandato do Jean-Pierre G., quem exerceu o ofício de Orador fui eu.

Não estranhámos, assim quando, após a sua eleição, Luís P. nos convocou, a João D. P. e a mim, para uma reunião em sua casa. Deveria constituir a formalização dos convites para o exercício dos ofícios de 1.º e 2.º Vigilantes. Porém, esta particular reunião, tendo efectivamente esse objectivo revelou-se diferente do que esperávamos! Como normalmente sucedia, jantámos, conversando sobre tudo um pouco. Mas, quando passámos ao escritório do Luís P., contra o que era habitual ele não estava acompanhado do seu habitual bloco de notas, onde, por regra, tinha apontados os assuntos que pretendia tratar. Passou, sem mais delongas, ao objecto da reunião. E João D. P. e eu não podíamos ter ficado mais espantados. Luís P., directamente, sem rodeios, declarou-nos que tinha ponderado muito bem no assunto e que tinha decidido (!) que o 1.º Vigilante não seria João D. P., mas Rui Bandeira, mantendo-se João D. P. como 2.º Vigilante!

Olhei para o João D. P.. Estava tão espantado como eu! E certamente magoado, até porque Luís P. fora o seu padrinho, isto é, o maçon que assinara em primeiro lugar o seu pedido de admissão na Loja!

De imediato, declarei que isso estava fora de questão, que não aceitaria ultrapassar o João D. P. e que nem sequer via qualquer razão válida para que ele fosse excluído do exercício do ofício de 1.º Vigilante.

Luís P., não gostou! Mas, como era seu timbre, não elevou a voz, não manifestou desagrado, iniciou uma longa dissertação pela qual procurava demonstrar que João D. P. ainda não estava preparado para vir, no ano subsequente, a dirigir a Loja e que era meu dever avançar em sua substituição. Confesso que muita pouca atenção dei a essa dissertação. Olhava atentamente o João D. P. e procurava descortinar o que lhe ia na alma. Julgo ter visto sucessivamente decepção, tristeza, desapontamento e, subitamente, resolução.

Preparava-me para responder ao longo responso do Luís P. encerrando a conversa com a minha recusa de exercer um ofício que a prática da Loja apontava para que fosse exercido pelo João D. P., quando este, com um gesto, me fez sinal que pretendia ele falar primeiro.

Com toda a calma, João D. P. disse apenas três breves frases: estava desapontado pela posição de Luís P.; não queria ser factor de conflito, qualquer que ele fosse; nas circunstâncias, achava melhor que fosse eu o 1.º Vigilante seguinte e não se importava de me seguir, em vez de me preceder, no exercício dessa função!

Fiquei desarmado! Olhei para o João D. P. e li no seu olhar uma triste, mas determinada, resolução. Ao trocarmos olhares, encolheu leve e discretamente os ombros, como quem diz "não vale a pena", e acenou-me ligeiramente com a cabeça, em sinal de incentivo. Olhei para Luís P. e vi-o já recostado, com um ligeiro sorriso de quem sentira que atingira o objectivo. Eu pensava em ainda protestar, em manter a minha recusa, mas vi que era inútil: daí para a frente, teria dois a convencerem-me; recusar seria abrir uma brecha, uma fonte de conflito e de incerteza, cujas consequências me sentia incapaz de prever. Perguntei a João D. P. se era esse mesmo o seu propósito. Reafirmou que, em face das circunstâncias criadas, achava que era a melhor solução, que não tinha o menor problema em ser meu 2.º Vigilante e que acreditava que faríamos um bom trabalho juntos. Cedi. Aceitei.

A reunião terminou pouco depois. João D. P. e eu saímos juntos de casa de Luís P. Perguntei a João D. P. porque abdicara, porque aceitara ser ultrapassado por mim, pois bem vira que eu o apoiaria. Respondeu-me que era a melhor solução, que não acreditava que a Loja resistisse sem graves mazelas a um desacordo expresso entre o Venerável eleito e os seus dois naturais Vigilantes, que, a não ser assim, não saberíamos que consequências poderia ter uma fonte de perturbação inesperada, que podia abrir um processo que podia ser atribulado e conflituoso, pois não acreditava que Luís P. desistisse do seu propósito de evitar que ele fosse Venerável Mestre no ano seguinteao seu mandato.

Até hoje, só posso explicar a decisão de Luís P. de afastar da sua sucessão aquele que precisamente todos consideravam o seu delfim, o obreiro com quem tinha mais afinidades, por uma questão pessoal porventura havida com João D. P. ou com a mulher deste.

Esta decisão de Luís P., que João D. P. e eu acabámos por acatar, revelou-se, porém, um catalisador de mudança relativamente à forma de gerir a Loja. No texto sobre o Décimo Venerável Mestre direi porquê.

Rui Bandeira