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06 novembro 2017

Maçonaria e Solidariedade


É recorrente. Sempre que ocorre algum evento que cause vítimas, destruição de bens ou deixe pessoas em dificuldades e que tal evento cause comoção pública, há quem - admito que bem-intencionadamente - sugira, proponha, exija que a Grande Loja lance uma campanha pública de recolha de fundos e solidariedade. Essa não é, contudo, a melhor das ideias - e vou procurar explicar porquê.

As instituições maçónicas e os maçons devem - isso é inquestionável! - proporcionar a sua aolidariedade e prestar ajuda a quem passa momentos de aflição. Mas duvido muito que deva fazê-lo lançando campanhas públicas nesse sentido. Se uma instituição maçónica está em condições de auxiliar, deve auxiliar, seja disponibilizando meios financeiros (do respetivo Tronco da Viúva ou do seu orçamento geral), seja disponibilizando trabalho, tempo e energias dos elementos que a integram. Mas deve fazê-lo discretamente!

Deve fazê-lo discretamente, não por hábito ou mania da discrição, mas porque deve auxiliar por solidariedade, por fraternidade com o semelhante - e também não por relações públicas!

Quando há que auxiliar, quando há que organizar meios de providenciar ajuda, quando há que recolher fundos e encaminhá-los para onde façam falta, a Grande Loja (ou qualquer outra instituição maçónica) pode, deve e faz muito bem que assim proceda, mobilizar os seus obreiros para que se organizem e deem algum do seu tempo e do seu esforço para ajudar e para que destinem meios financeiros de que disponham, e que não lhes façam falta para sustentar os seus e cumprir os seus compromissos, em prol de quem está em aflição e necessita de auxílio.

Mas uma coisa é a instituição maçónica mobilizar internamente os seus elementos - e tentar ser eficaz e aumentar os meios destinados ao auxílio a prestar. Outra coisa, completamente diferente é lançar apelos públicos - aí há que distinguir quando o apelo público faz ou não sentido. O Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues, quando organiza campanhas de doação de sangue, para além da mobilização dos seus elementos, procura mobilizar obreiros de outras Lojas e - designadamente através deste blogue - motivar toda e qualquer pessoa, maçom ou não maçom, a dar sangue. Isso faz sentido - porque a necessidade de sangue disponível é permanente e a sensibilização de todos a todo o tempo justifica-se. 

Quando, há alguns anos, a Associação Mestre Affonso Domingues lançou a campanha pública de recolha de óculos para envio para Moçambique, isso fez sentido. Porque organizou forma de todos os óculos recolhidos serem medidos na graduação das suas lentes por profissionais aptos para tal, porque arranjou forma de, sem custos, enviar os óculos recolhidos para Moçambique, porque tinha contactos locais que garantiam que os óculos recolhidos e enviados eram dados a quem deles efetivamente necessitava, gratuitamente e sem condições de qualquer espécie, porque garantiu que todos os que participaram nessa ação o fizeram exclusivamente por solidariedade, pelo propósito de ajudar e sem que ninguém obtivesse qualquer vantagem patrimonial ou de outra índole com isso. Então fez sentido, já que se montara toda uma estrutura para enviar óculos para quem deles necessitava em Moçambique, procurar que, em vez de entre nós, nossas famílias, amigos e colegas de trabalho recolhermos umas dezenas de pares de óculos, divulgar a iniciativa e conseguir, como se conseguiu, recolher, medir, enviar e dar umas centenas, mais de meio milhar, de pares de óculos. Aí, o apelo público fez sentido para rentabilizar a iniciativa e procurar obter, como se conseguiu, um maioer número de óculos a enviar. 

Mas quando - como ocorreu recentemente em Portugal com dois episódios de incêndios florestais catastróficos, que causaram perdas de vidas, imensa destruição e deixaram nuita gente a necessitar de auxílio (alguns ficando apenas com a roupa que tinham no corpo) - existe comoção pública e a solidariedade de toda uma sociedade brota espontaneamente, quando instituições vocacionadas especificamente para tal abrem e publicitam contas solidárias e apelam a que o público nelas deposite a sua ajuda monetária, que falta faz que "a Maçonaria" lance uma campanha à parte, abra uma conta, peça auxílios? Porventura vai-se conseguir angariar mais meios de auxílio que não se angariariam através do vasto movimento de ajuda que se gerou? Claro que não! Nesta situação, a intromissão (é o termo!) da Maçonaria não redundaria em nenhum benefício significativo em prol de quem sofre, antes não passaria de um abstruso meio de auto-promoção, de "aparecer". Ora a Maçonaria não se destina a "aparecer". Pelo contrário, centenas de anos de existência ensinaram-nos que o Bem está muitas vezes nas pequenas coisas, nos auxílios discretos, nas ajudas fora dos holofotes.

Solidariedade, beneficência não são publicidade nem relações públicas! O maçom cumpre o seu dever de beneficência porque interioriza que essa é uma postura que moralmente deve ter. Quando dá, só ele tem que saber que deu. Por vezes nem quem recebe precisa de saber quem deu... Ajudar é motivo de satisfação pelo cumprimento da nossa obrigação de sermos bons e procurarmos ser melhores. Não é, não pode ser, NUNCA, motivo de vaidade, de exibição, de publicidade, de relações públicas!

Por isso , meus prezados Irmãos, sempre que - infelizmente - ocorrer catástrofe que cause comoção pública, insto a que nenhum de vós perca tempo nem energias a clamar por que a Grande Loja publicamente lance campanhas ou faça apelos ou comunique a sua solidariedade. Nessa ocasião, haverá muito quem lance campanhas de apoio, de solidariedade, de ajuda, de recolha de fundos. Não será então necessário que façamos mais do mesmo.Isso seria apenas e afinal tão só aparecer. A nós basta-nos e deve bastar-nos - e muito é! - tão somente Ser!

Rui Bandeira

05 dezembro 2016

"Tronco da Viúva"...

Hoje publico um texto de minha autoria e que foi publicado anteriormente aqui, cujo o tema é o "Tronco da Viúva". Termo este um pouco estranho para quem pouco ou nada sabe sobre a Maçonaria mas que não deixa de ter um cariz muito importante dentro da Ordem.
Desta forma, passo ao texto em si:

"Tronco da Viúva

 O “Tronco da Viúva” é também designado por “Tronco da Beneficência” ou “Tronco da Solidariedade”.
 Ao Tronco da Viúva são lhe atribuídas várias origens, pelo que uma das mais assumidas pela Maçonaria tem origem bíblica.
Hiram Abiff, mestre construtor do Templo de Salomão era filho de uma viúva. Mestre esse, que foi assassinado por três companheiros seus, por não querer divulgar os segredos de construção a que estava sujeito como mestre-de-obras. Esse assassinato veio mais tarde a originar uma das mais importantes lendas da Maçonaria; a qual está na base da maioria dos ritos maçónicos atuais. Advindo dessa lenda, o epíteto de “Filhos da Viúva”, com que se costumam designar os Maçons.

O facto de se designar por “tronco”, deve-se ao facto dos trabalhadores afectos à construção do Templo de Salomão, os Aprendizes e Companheiros, receberem os seus salários ao final do dia, junto às colunas do Templo. Para além de que etimologicamente, “caixa de esmolas” na língua francesa também se designar por “tronc”.
Sendo que o termo “Tronco da Viúva”, simboliza também uma (caixa de) esmola para socorro e auxílio das esposas (e filhos menores) de Irmãos falecidos.

Em Loja é o Mestre Hospitaleiro que está encarregado de fazer circular o Tronco da Viúva. Tronco esse, que em dado momento litúrgico de uma sessão maçónica, circula pelos Irmãos para que possam efetuar o seu óbolo na medida em que tal lhes seja possível.

Cabe ao Mestre Hospitaleiro e ao Mestre Tesoureiro, cuidarem para que ele se encontre numa situação-equilíbrio para que se possa prestar o auxílio necessário a quem dele reclamar. E como tal, o Tronco da Viúva não se quer nem muito cheio nem muito vazio. Se o mesmo se encontrar vazio, é porque as doações não serão significativas, correndo-se o risco, de se não se auxiliar quem dele necessitar numa situação imediata. Mas se ele se encontrar cheio, é porque quem necessitar de auxílio, não o estará a receber na devida forma.

Sendo que um dos deveres do Mestre Hospitaleiro é o de bem aconselhar o Venerável Mestre sobre os fins a darem às importâncias obtidas na circulação do Tronco da Viúva em Loja. A quem ou a quais, sejam Irmãos ou Instituições Sociais de que os necessitem.

Essa também é uma das funções sociais da Maçonaria. Ajudar outras instituições carenciadas que necessitem de auxílio; não procurando o Maçon o reconhecimento de tais atos, pois a soberba não deve existir nas suas ações. O Maçon assim faz, porque simplesmente acha de que o deve fazer, não porque procura méritos ou benefícios com isso. 
Sendo que, por não se procurar reconhecimentos ou assumir falsos méritos, é que a caridade maçónica sob a forma de tronco, é feita de forma reservada, nunca devendo um Maçon mostrar o que deposita no Tronco da Viúva. 
Quem procurar reconhecimento, deve procurar outro sítio para fazer a sua solidariedade, a sua caridade.

O Tronco em si mesmo, é uma forma de Solidariedade, ele lembra ao Maçon, que a beneficência e a solidariedade devem estar presentes ao longo da sua vida, fazendo ambos parte dos deveres do Maçon. Além de que, na circulação do Tronco da Viúva em Loja se relembrar ao Maçon que ele deve ser generoso e caritativo. Por isso, quando um Maçon faz o seu óbolo, ele deve dar um pouco de si também. Mas nunca com o pensamento de que um dia se necessitar, terá algo a que se “agarrar”. O Tronco da Viúva não serve de ”almofada” para os Maçons. Não devendo eles se aproveitarem da sua existência, para mais tarde o utilizarem sem razão aparente.

Quando um Maçon faz a sua entrega, a sua dádiva para o Tronco da Viúva, a única coisa que deve ter em mente, é o de partilhar um pouco de si mesmo e do que tem com os demais Irmãos.

Mas apesar de não ser uma obrigação principal da Maçonaria, pois a mesma não é uma IPSS, cabe ao Maçon ter um espírito solidário com quem dele necessite. Por isso mesmo, a missão do Tronco da Viúva, é a de ajudar um Irmão que necessite de auxílio.
Mas para alguém puder ser ajudado, é também necessário que o Irmão em causa reconheça a sua necessidade de auxílio. Mas, nem sempre quem precisa de ajuda, o solicita. A vergonha ou inclusive o orgulho, são em grande parte dos casos, o “travão” pessoal à procura de auxílio. Quem precisa de ajuda, deve por para “trás das costas” tais sentimentos, pois agindo assim, corre o sério risco de perder toda a ajuda que necessitar. E hoje em dia, devido à forma acelerada de como vivemos as nossas vidas, nem sempre nos é possível perceber quem necessita da nossa ajuda.

Todos nós em certas alturas da Vida, passamos por momentos em que fraquejamos ou que a nossa força mental não nos consegue ajudar a suportar o dia-a-dia.
 É principalmente nesses casos que o Maçon deve ajudar os seus Irmãos. Tentando se aperceber com a sua iluminação, quem necessita mais dele. Mas essa ajuda nem sempre deve ser (ou pode ser…) financeira mas antes moral ou espiritual, pois nem todas as carências de um Irmão são pecuniárias ou materiais. Muitas vezes apenas alguém necessita de uma palavra de inspiração, uma “palmada nas costas” ou um simples gesto de afeto e carinho. Tais gestos com certeza não podem ser depositados num saco, devem-no antes ser entregues (pessoalmente) ao Irmão necessitado. 
É amparando o seu Irmão, que o Maçon lhe demonstra a sua solidariedade e vive o espírito de fraternidade que a Maçonaria lhe oferece.

 Tal como afirmei anteriormente, a Maçonaria não é uma IPSS. Antes é uma Instituição que promove a Solidariedade, a Beneficência, a Fraternidade. E como tal, a sua principal missão é ser solidária com os seus membros/Irmãos. 
Sendo assim, não deve uma Loja virar as costas a um Irmão que esteja em apuros, devendo antes, correr em seu auxílio e o amparar na resolução dos seus problemas. E é para isso que fundamentalmente existe o Tronco da Viúva.
A única obrigação que ele tem, é a de ser bem utilizado!".
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21 março 2016

"Qualidades maçónicas"


Sempre que em maçonês se fala em "qualidades maçónicas", não se está a abordar nenhum adjetivo em concreto mas antes funções e cargos ocupados por membros dos quadros de obreiros das lojas maçónicas.

Para erigir e fazer funcionar uma Loja é necessária uma determinada quantidade Mestres, para fundar uma Loja são necessários 7 mestres e para o seu funcionamento pelo menos 5 mestres, sendo o ideal existir um mínimo de 7 mestres presentes numa sessão maçónica.
Estes mestres ocuparão cargos e funções necessárias ao normal e regular funcionamento de uma Loja. E dado que uma loja maçónica é uma estrutura similar a uma qualquer associação, necessita de ter quem a dirija e de quem se ocupe de outros cargos que são necessários existirem para que esta associação/"Loja" funcione em pleno; ou seja, de forma justa e perfeita.

Normalmente a quantidade  de cargos a serem preenchidos pelos obreiros de uma Loja (designados por Oficiais) depende quase sempre do tipo de Rito executado nas sessões dessa mesma Loja. E digo "quase sempre" porque a ocupação dos cargos de uma Loja devem ser efetuados por Mestres, mas tal nem sempre é possível por vários fatores, sejam o tamanho do "Quadro da Loja" (número de obreiros) seja pela assiduidade dos mesmos.

Existem funções que podem em caso de recurso extremo ser ocupadas e executadas por Companheiros e/ou Aprendizes. Estando vedado a estes membros qualquer cargo de "direção" de Loja ou de certa ritualidade que os impeça de tal fazer.

No caso em concreto da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, o Rito executado sempre nas suas sessões é o "Rito Escocês Antigo e Aceite", vulgo "REAA", e que conta com sete oficiais "principais"/"obrigatórios"; a saber:
  • Venerável Mestre: o Mestre que dirige a Loja.
  • 1ºVigilante: Auxilia na direção da Loja e é responsável pela formação de Companheiros e "Coluna do Sul".
  • 2ªVigilante: Auxilia na direção da Loja e é responsável pela formação dos Aprendizes e "Coluna do Norte".
  • Secretário: Ocupa-se dos habituais "trabalhos de secretaria" (correspondência, registo de presenças, elaboração de Atas...)
  • Orador: Certifica-se que os trabalhos de Loja decorrem de forma correta e regulamentar.
  • Tesoureiro: Gere as "economias & finanças" da Loja.
  • Mestre de Cerimónias: Cargo Ritual.
Os Ofícios acima designados são os que tornam uma Loja justa e perfeita e que são necessários ao normal funcionamento da Loja, mas existem outros que também têm a sua relevância na estrutura da Loja, a saber:
  • Experto: Cargo Ritual.
  • Hospitaleiro: Cargo Ritual e responsável pela gestão do Tronco da Viúva".
  • Organista: Responsável pelas sonoridades ambientes e rituais da Loja. É o chamado "DJ de serviço".
  • Guarda Interno: Certifica-se da cobertura da Loja; isto é, pela sua "segurança".
  • Arquivista: Responsável pela gestão do Arquivo da Loja.
  • Mestre Instalado: Mestres que ocuparam a direção de Loja no passado.  Pode-se considerar que são "conselheiros" do Venerável Mestre, por assim dizer.
Alguns destes últimos ofícios não são de execução obrigatória por Mestres apesar de preferencialmente serem efetuados por esses membros da Loja.
No entanto, é natural que existam outras "qualidades" na Maçonaria e que são referentes ao Grão-Mestrado (ocupadas pelo governo da Obediência Maçónica), sendo esta uma estrutura do tipo federativo, congregando o Grão-Mestre, os Grandes Oficiais e os seus respetivos Assistentes.

Contudo, algo que não pode nem deve ser confundido entre si são os "Graus" e as "Qualidades", uma vez que executar um cargo/ofício não é o mesmo que deter determinado grau.
Um "grau" é a posição/nível de conhecimento que um maçom tem e que ocupa na "hierarquia" da Maçonaria; a "qualidade" como referi anteriormente, são os cargos que se ocupam. E para ocupar determinados Ofícios é necessário ter sido atingido determinado grau, quase sempre o de Mestre Maçom ou inclusive o de "Venerável Mestre".
Já para obter um Grau, o cargo desempenhado na Loja pouco ou quase nada será relevante, pois o conhecimento ritual obtido e a boa assiduidade geralmente é que são determinantes para tal.


Espero que com esta pequena explicação, escrita de forma simples e ligeira, possa ter retirado algumas das dúvidas que alguns profanos têm acerca do funcionamento de uma Loja Maçónica no que a "qualidades" (cargos) diz respeito.

15 dezembro 2014

Solidariedade maçónica...

(imagem proveniente de Google Images)

Nos tempos que correm, quando o Homem se encontra mais preocupado com seu “umbigo”, existir alguém com a capacidade e a vontade em auxiliar quem necessita é uma das melhores atitudes que poderemos ter para com o nosso semelhante.  E quando se auxilia alguém sem se esperar qualquer tipo de retorno por esse facto, atrevo-me até a dizer que é um ato de elevada nobreza por quem assim age. Ajudar-se apenas porque se quer ajudar não está ao nível de qualquer um. 
Muitas vezes as nossas ocupações diárias, sejam profissionais ou familiares não nos permitem ter a disponibilidade temporal para o fazermos, outras vezes talvez, serão razões de ordem financeira que impossibilitam quem quer ajudar o fazer. Mas ter a vontade para tal, será sempre o “gatilho” que poderá  despoletar o ato em si. Pode não ser hoje, pode não ser já amanhã, mas um dia o será…

E se para alguns terem a vontade de ajudar passa por terem passado por situações na sua vida que se assemelham à vida de quem querem auxiliar e assim mais facilmente poderem identificar quem podem ajudar e a forma de como o poderão fazer, outros será porque sentem que para preencherem a sua vida de forma plena, necessitam de praticar a caridade e ser beneficente com quem precisa. Cada um com a sua razão, cada um com toda a razão. 
Para ajudar, não é necessário sequer existir um motivo, basta se ter vontade e capacidade para tal, que nem sequer será necessário se raciocinar muito para que se passe à ação.

E a Maçonaria, pela sua história e pela sua implementação no mundo, sempre teve a sua quota-parte no que toca a ser solidária com o seu próximo. Seja através da fundação de escolas, da doação de bolsas de estudo ou até mesmo da criação de hospitais para usufruto da população e principalmente das crianças em si (nos EUA é bastante comum tal); o facto é que a Maçonaria auxilia a população dos países onde se encontra implementada. E se algumas vezes tal auxílio não é mais visível na sociedade, é devido aos estigmas que existem ainda nos tempos em que vivemos, mas fundamentalmente, porque quem quer ajudar não necessita de o publicitar. É usual até se dizer maçónicamente que a “mão esquerda não saiba o que deu a mão direita”. 

E isso encontra-se patente em sessão de Loja, no momento da circulação do “Tronco da Viúva”, em que a mão que depõe o óbolo se encontra fechada e sem mostrar o que se encontra no seu interior. Ninguém tem nada a haver com o que se oferece nem quem o faz. Nada ou ninguém questionarão porque se o fez ou se o fez sequer.Se o fez, foi porque o poderia fazer e ficará apenas na consciência dessa pessoa o montante depositado na bolsa referente ao respetivo “Tronco da Viúva”. Se não pode participar nesse contributo, no problem, algum motivo preponderante teve para que assim o fizesse. Não cabe a um maçom fazer juízos de valor sobre a atitude do seu Irmão. 

Algumas das aplicações do referido “tronco” são o apoio a instituições de caridade e beneficência que são patrocinadas  pela Maçonaria e até mesmo algumas associações de cariz religioso que agem na sociedade em prol de quem necessita ou casos singulares que surjam e que se considerem válidos os motivos pelos quais devem ser auxiliados. -Quando se quer ajudar, os “metais” não têm “cor, cheiro, nome ou dono”, o que é preciso é que sejam bem aplicados e recebidos por quem deles necessitam-.

Numa Loja maçónica a quem compete gerir este “fundo monetário” é ao Irmão Mestre Hospitaleiro. Mas existe a possibilidade, e é comum ser habitual, se criar uma Comissão própria para ser melhor gerido ou até mais transparente este tipo de gestão (consoante a opinião dos respetivos membros da Loja).  E geralmente os membros dessa “comissão de serviço” são o respetivo  Venerável da Loja, o Irmão Tesoureiro e o Irmão Hospitaleiro. Dessa forma, estarão representados nessa comissão,  quem preside a Loja, quem administra as finanças da Loja e quem tem a função de se ocupar com a aplicação da solidariedade da Loja.

E por falar em solidariedade, hoje termina uma campanha  apoiada pela Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, a Campanha "Ver Mais" que foi publicitada AQUI e AQUI .

A quem pode dar o seu contributo nesta operação, fica o nosso MUITO OBRIGADO!

A quem não pode ou não teve a possibilidade de participar nesta campanha, certamente no futuro surgirão novas oportunidades para o fazer. Haja vontade e disponibilidade para o fazer… 

14 outubro 2014

O trabalho da Coluna da Harmonia...

(imagem proveniente de Google Images)
Durante o decorrer de uma sessão ritual maçónica existe o hábito generalizado de existir música ambiente. Música essa que deverá criar certos estados de espírito aos seus ouvintes para possibilitar uma certa harmonia entre todos os presentes na sessão.
A responsabilidade da condução musical numa loja maçónica é do Mestre da Harmonia, o qual também é designado por Coluna da Harmonia.
A seleção musical a ser utilizada deverá ser preferencialmente escrita e/ou musicada por autores maçónicos, nomeadamente Ludwig van Beethoven, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart entre outros,  mas também pode ser utilizada música de qualquer tipo de autor sem prejuízo para os anteriormente citados. O género musical a ser utilizado também dependerá daquilo a que se proponha fazer o Mestre da Harmonia em consonância direta com o programa da respetiva sessão maçónica; sendo que ao conjunto de músicas que integram o seu trabalho se designar por Prancha Musical.
E para a elaboração desta prancha geralmente são utilizadas sonoridades mais clássicas na maioria das lojas, mas na Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, os gostos são muito ecléticos pelo que é habitual, dependendo de quem ocupe a Coluna da Harmonia, se ouvir desde música clássica, passando pelo Rock ao Ambient Lounge ou ChillOut e também às sonoridades new age. Daqui se poderá depreender que tal como ao nível da utilização das novas tecnologias, também ao nível da seleção musical, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 é também uma loja que se poderá assumir como p’rá frentex
No entanto, e apesar da liberdade de escolha musical propiciada pela loja ao Mestre da Harmonia, a este apenas lhe é pedido ( aliás, exigido por assim dizer…) que com a sua música proporcione o ambiente ideal ao desenrolar dos trabalhos maçónicos a serem efetuados.
Mas apesar da vasta e ampla seleção musical que pode ser utilizada numa sessão maçónica, não pode a mesma ser usada de qualquer forma nem em qualquer tempo. Existe uma temporização adequada e um tipo de  sonoridade específica que se espera escutar  em determinados momentos da sessão maçónica, sejam eles a Abertura ou o Encerramento dos Trabalhos, seja no momento da execução da Cadeia de União ou na circulação do Tronco da Viúva; a música deverá criar uma sensação própria a cada um que a ouvir em relação ao momento maçónico em concreto. Não devendo o estado de espírito dos maçons se encontrar contrário ao disposto, senão resultaria numa possível quebra da egrégora criada pela harmonia experimentada pelo conjunto dos irmãos presentes na respetiva sessão.
E se no decorrer de uma sessão maçónica existir um momento ritual relevante para a vida de um maçom, tal como uma Iniciação ou um aumento de salário, a música a ser utilizada deverá ser alvo de uma especial atenção pelo Mestre da Harmonia para que esses momentos fiquem marcados na memória de quem por eles passa, pois mesmo aqueles que apenas assistem e não têm uma intervenção direta no cumprimento do ritual, também estes acabam por rever esta mesma situação que anteriormente vivenciaram. E isto também faz parte da formação maçónica, o rever e meditar sobre o que se já viveu e retirar de aí a devida reflexão.
Pelo que aqui expus, já deu para perceber que o trabalho efetuado pela Coluna da Harmonia não é de somenos importância, porque apesar de não ter um papel ritual importante durante a sessão, este é um dos cargos mais ativos da loja; é ele que tem o dever de criar os ambientes específicos e respetivos estados de alma e isso não é tão fácil como se poderia imaginar à primeira vista. E é mesmo um trabalho demorado que ocupa algum do tempo disponível que o Mestre da Harmonia tem na sua vida pessoal, pois ele terá de ouvir bastantes músicas para poder selecionar aquelas que considere como as mais apropriadas para serem utilizadas no decorrer de uma sessão maçónica. Se este mestre for um apaixonado pela música ou inclusivé um melómano até, a sua loja só terá a ganhar dada a riqueza dos conhecimentos que ele terá e que poderá propiciar aos seus irmãos.
Nem todos poderão gostar dos temas musicais que ouviram no decorrer da sessão, fruto das mais variadas preferências musicais de cada um, mas se a energia que brotou da sessão for a ideal, a melhor crítica que o Mestre da Harmonia poderá ouvir dos seus irmãos é que eles sairam contentes e satisfeitos da sessão e que o trabalho que ele desempenhou contribuiu para esse facto.
A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 sempre teve excelentes responsáveis por "darem música" aos seus irmãos, pelo que se espera que assim o continue a ser...


30 julho 2014

Assentando ideias...


Em comentário ao texto "Limpeza da Loja", um leitor afirmou, designadamente:

"A administração de uma qualquer empresa, ou associação, profana não diria melhor. Devemos ter cuidado com o que escrevemos em relação a II que trazemos para cá. (...)".

É-me evidente o tom crítico, em relação ao texto, do comentador - e isso não me afeta em nada ou me causa qualquer desagrado. As ideias publicadas ficam expostas ao debate e à crítica e é pelo confronto entre as nossas ideias e as críticas que lhes sejam opostas que evoluímos no nosso pensamento. Aliás, acho que, pese embora a aparente falta de fundamentação da afirmação, a mesma suscita alguma reflexão.

Se bem entendo o que o comentador quis dizer, entende ele - e eu concordo em absoluto! - que a conduta em Maçonaria deve ser algo mais e algo melhor do que a normalidade da conduta no meio que os maçons designam de "profano". Neste ponto, não creio que haja razões de discordância. Assentemos, assim , no princípio de que é exigível que a conduta ética de um maçom e em ambiente maçom deve ser mais exigente, mais escrupulosa, mais cuidada do que a média da Sociedade. O maçom só pode constituir exemplo para a Sociedade se se comportar melhor do que normalmente nesta sucede.

No entanto, uma vez que o comentador manifestamente que expressa um tom crítico em relação ao que é exposto no texto, terei que concluir que as ações por mim descritas não merecem o seu acordo. Recorde-se então, muito sumariamente, o que propugnei que periodicamente deve ser feito numa Loja maçónica: verificação da assiduidade e do cumprimento das obrigações pecuniárias dos obreiros, determinação das causas de eventuais faltas de assiduidade e ou de cumprimento das ditas obrigações e medidas corretivas a tomar.

Em relação à assiduidade, defendi que a degradação da mesma pode decorrer de várias causas, indicando exemplos e respetivas medidas aconselháveis: ausência no estrangeiro (aguardar pelo regresso; se prolongada, encarar a hipótese de transferência; em qualquer caso, é determinante a vontade do interessado); indisponibilidade por afazeres do obreiro (aguardar a ultrapassagem do problema; encarar a possibilidade de quite e adormecimento, se a impossibilidade for previsivelmente prolongada, sendo também, obviamente, essencial a vontade do interessado, pois o quite não pode ser imposto, só sendo emitido a pedido); problemas de saúde (aguardar pela sua ultrapassagem e providenciar o auxílio e assistência pertinentes e possíveis); problemas de relacionamento (intervenção para superação dos mesmos ou para corrigir as deficiências de integração); desinteresse (saída da Loja, seja mediante quite, seja mediante exclusão).

De todas estas situações, não creio que o comentador critique as intervenções propostas em relação a nenhum caso, exceto porventura a exclusão por desinteresse - única medida unilateralmente tomada pela Loja que redunda no afastamento do obreiro. Mas, se for esse o caso, não posso senão discordar do entendimento crítico: se alguém se desinteressa ao ponto de se afastar e de nem sequer ter interesse em formalizar um pedido de saída (salvaguardando a hipótese de regresso se e quando porventura tal lhe interesse), não deve a Loja exclui-lo? Deve, então, fazer o quê? Manter indefinidamente uma ligação apenas ilusória, apenas um nome num papel, apenas uma contínua ausência? Em nome de quê? Em nome de uma pretensa tolerância (ao desinteresse, ao incumprimento dos compromissos)? Em nome de um putativo princípio de que em Maçonaria não há sanções nem medidas de exclusão? Parece-me evidente que, verificado o desinteresse, verificada até a falta de consideração em responder ou ou em formalizar de jure o que de facto já se evidencia, se impõe acabar com uma ligação que é já apenas ficcionada e permitir que o oblívio apague o que foi um manifesto erro de parte a parte... 

Quanto ao incumprimento das obrigações pecuniárias, apresentei também vários exemplos de situações e de soluções propostas: dificuldades económicas em diferentes graus (plano de pagamentos; regularização da situação com recurso ao Tronco da Viúva, com reembolso se e quando regressar melhor fortuna; quite pedido pelo obreiro, com pagamento da dívida pelo Tronco da Viúva, também com reembolso se e quando regressar melhor fortuna; desinteresse e falta de vontade de cumprir (exclusão). Também não creio que, de todas as alternativas, a crítica surja senão em relação à última. Mas deve a Loja permitir que quem não cumpre, podendo fazê-lo, as suas obrigações pecuniárias, possa indefinidamente fazê-lo, sem reação ou sanção? E, ainda por cima, tendo a Loja de pagar a capitação (utilizando a parte que lhe cabe dos pagamentos dos cumpridores)? É isso justo para os que cumprem? Note-se que não está em causa a exclusão por dificuldades económicas: esses casos têm outras medidas e solidariedade da Loja. Apenas se defende a exclusão dos que PODEM pagar em tempo, mas não pagam porque NÃO QUEREM, desrespeitando todos os demais, os cumpridores e, em especial, aqueles que até fazem algum esforço para cumprir as suas obrigações...

Convém assentar bem as ideias! Ser maçom é procurar comportar-se melhor do que a normalidade, mas não é permitir que os incumpridores, os desleixados, os desinteressados usem e abusem de uma pretensa e inexistente obrigação de tolerância. A Tolerância que deve ser apanágio dos maçons não é a permissividade em relação aos infratores, aos desrespeitadores dos demais, aos incumpridores dos seus compromissos, aos faltosos à sua palavra. Isso não é Tolerância - é estupidez! Tolerância é a aceitação das diferenças e das divergências. Não é a aceitação complacente de condutas prevaricadoras (nesse sentido, ver o texto "Os limites da Tolerância").

Insisto: é tempo de assentar bem as ideias! Tal como cumprir as nossas obrigações, sancionar o incumprimento doloso das obrigações livremente assumidas é um dever maçónico. É errado apodar de "profanidade" o cumprimento desse dever! A ética maçónica é uma postura de exigência - tolerante, mas exigente! -, nunca uma mandriona complacência com os incumpridores e os incumprimentos, quando dolosos. Maçonaria não tem nada a ver com "nacional-porreirismo" ou "deixa andar" ou cumplicidade benevolente com as violações dos deveres livremente assumidos. Ou então não seria um método de aperfeiçoamento, antes de degradação!

Rui Bandeira 

23 julho 2014

Limpeza da Loja


Em todas as casas periodicamente há necessidade de se fazer uma grande limpeza.  É certo que no dia a dia se procura manter a casa apresentável, que a rotina semanal nos habitua a dedicar algum tempo a limpeza mais metódica. Mas, em regra anualmente ou bianualmente, há necessidade de se fazer uma limpeza geral e completa, tudo arejar, verificar o estado das coisas, limpar os cantos mais escondidos e inacessíveis, enfim fazer uma limpeza a fundo que reponha o espaço nas melhores condições de higiene e de condições de nele se viver.

Similarmente, também numa Loja maçónica existe a necessidade de periodicamente se fazer uma limpeza no respetivo quadro de obreiros.

Quem entra para a Maçonaria fá-lo normalmente com a melhor das intenções e com o propósito de participar. Mas, seja porque se esperava algo diverso, porque se não logrou a desejável integração ou porque as condições de vida são o que são em cada momento e, por vezes, impossibilitam a execução das melhores das intenções, alguns acabam por se desinteressar, por não comparecer, por se afastar.

Tal como, mesmo não sendo a mais agradável das tarefas, não podemos deixar de, em nossas casas, efetuar periódicas limpezas, também na Loja maçónica, mesmo sem termos qualquer gosto nisso, não se pode prescindir da tarefa de verificar o que se passa com os obreiros do Quadro e fazer as mudanças que se mostrem pertinentes, efetuar os arranjos necessários, providenciar a reciclagem do que afinal não se coaduna com o resto do conjunto.

Esse trabalho, que eufemisticamente apelidamos de "administrativo", vai sendo permanentemente controlado e assegurado pelo Secretário e pelo Tesoureiro, quando necessário com a intervenção do Orador ou do Hospitaleiro (a tarefa do "dia a dia"), pontualmente atalhando algum caso mais evidente com providência imediata e casuisticamente decidida (a "rotina semanal") e periodicamente metódica e expressamente realizado (a "limpeza a fundo").

Quando é tempo de efetuar a revisão geral das situações, dois parâmetros iniciais são verificados em relação a todos os obreiros do Quadro: a assiduidade e o cumprimento das suas obrigações pecuniárias para com a Loja. Considera-se haver normalidade com a verificação da assiduidade ao menos no nível mínimo definido pela Loja e o cumprimento, ao menos sem atraso significativo, das obrigações pecuniárias. Entende-se haver motivo para preocupação e verificação da necessidade de intervenção quando, num dos parâmetros, o nível mínimo, regulamentarmente fixado, não é cumprido. Fazem-se soar os sinais de alarme quando esses níveis mínimos de cumprimento são incumpridos em relação aos dois parâmetros.

Várias situações podem ocorrer, aconselhando diversos graus e tipos de intervenção. 

Quando se verifica que, embora mantendo o nível mínimo de cumprimento das obrigações pecuniárias, ocorre uma degradação da assiduidade, impõe-se a determinação da causa do que está a acontecer. Se o obreiro está deslocado no estrangeiro ou longe do local de funcionamento da Loja, não será uma situação preocupante, havendo apenas que determinar se se perspetiva que essa situação se mantenha por pouco ou por muito tempo e se será mais aconselhável providenciar uma transferência de Loja ou simplesmente aguardar que o impedimento cesse. Neste tipo de casos, é normalmente determinante a expressão da vontade do interessado.

Pode também verificar-se que a ausência decorre de anormal acumulação de trabalho ou afazeres do faltoso. Também nesta situação importa verificar se a circunstância é temporária ou se se perspetiva com foros de permanência. Se for meramente temporária, de expectável curta duração, pode-se perfeitamente aguardar que a situação melhore, mantendo contactos à distância ou informais. Mas se as causas do impedimento tendem a manter-se por tempo significativo, será oportuno considerar a pertinência da solicitação e emissão de atestado de quite, com adormecimento do obreiro até superação da situação, retomando este a sua atividade quando de novo estiverem reunidas as condições para o fazer.

Mas pode também ocorrer que a ausência decorra de problemas de saúde do obreiro ou de seus próximos. Aí e então o que importa, em primeiro lugar, é verificar, em conjunto com o Irmão, de que forma é possível e útil que a Loja dê uma ajuda na superação da situação ou minimização das suas consequências. É hora de entrar em cena o Hospitaleiro da Loja.

Pode também suceder que o afastamento decorra  ou de desinteligência com outro ou outros obreiros da Loja ou de dificuldade de integração do obreiro no grupo. Nessas situações, há que procurar as soluções para sanar a situação. Cabe, em primeira linha, ao Orador "passar a trolha" sobre o problema que tenha surgido, alisando as divergências e limpando os mal-entendidos, de forma a que a harmonia se restabeleça. Quanto a eventuais problemas de integração detetados, deve, sem demora, deles dar-se conhecimento aos padrinhos do obreiro que os sofre (normalmente é um elemento recentemente admitido na Loja) e a toda a Loja, para que o que estava a correr mal passe a correr bem. A integração de um obreiro na Loja é uma tarefa que se desenrola em ambos os sentidos. Ambos, o obreiro e a Loja, identificado que seja o problema, têm de cooperar para o resolver.

Finalmente, pode suceder que a ausência derive apenas de desinteresse do obreiro. É o que familiarmente designamos por "erro de casting"... Nessa situação, e porque a integração numa Loja maçónica é um ato estritamente voluntário, se se conclui que a Loja ou a Maçonaria não corresponde às expectativas do obreiro, razão geradora do seu desinteresse, só há uma forma de resolver a questão: a saída do obreiro de algo de que se desinteressou. Essa saída pode ser feita de duas maneiras: com honra e consideração mútuas, através do pedido de atestado de quite; ou, não havendo a consideração de pedir formalmente a desvinculação, mediante uma decisão de exclusão por parte da Loja.

Pode, por outro lado, suceder a verificação de falta de cumprimento das obrigações pecuniárias, designadamente falta ou atraso sensível no pagamento de quotas, por parte de obreiro que até cumpre os critérios de assiduidade. É uma situação que assume alguma gravidade para a Loja. Por um lado, porque esta tem de pagar à Grande Loja uma (importante) percentagem da quota mensal dos seus obreiros, independentemente da regularização desses pagamentos por eles - o que implica que os pagamentos das percentagens das quotas em atraso tem de ser satisfeito mediante o recurso aos fundos próprios da Loja, que são obviamente finitos. A não resolução atempada do problema cedo ou tarde conduziria a Loja à bancarrota. Por outro, porque, pura e simplesmente não é justo para os que pagam que se permita, sem medidas, que, podendo fazê-lo, outros assim não procedam.

A falta de cumprimento das obrigações pecuniárias normalmente resulta de uma de duas situações: dificuldades económica do obreiro ou  desinteresse.

No caso de dificuldade económica do obreiro, dependendo da situação concreta, do grau de gravidade, da duração previsível da situação, opta-se por várias e diferentes medidas: estabelecimento de plano de pagamentos do atrasado, durante um período mais ou menos prolongado, até recuperação da situação, sendo que, estabelecido um plano de pagamentos, durante e mediante o seu cumprimento o obreiro é considerado em dia perante a Loja; assunção pela Loja da responsabilidade pecuniária do obreiro, mediante empréstimo sem prazo e sem juros, pelo Tronco da Viúva, do montante que for preciso, pelo tempo necessário, até que a sua situação económica melhore - quando estiver em condições para tal, o obreiro diligenciará o reembolso do Tronco da Viúva, como é apanágio dos homens livres e de bons costumes; nos casos mais graves e previsivelmente de indisponibilidade prolongada, pode o obreiro pretender pedir o seu atestado de quite (o que pressupõe que esteja quite) - nesses casos, o Tronco da Viúva assume, a título de empréstimo sem prazo e sem juros, o pagamento do que está em atraso, para que o obreiro possa receber o seu quite, e, se e quando puder pagar, pagará, se e quando puder e quiser regressar, regressará.

Só nos casos em que o incumprimento das obrigações pecuniárias ocorra por desinteresse ou falta de vontade de o fazer é que a Loja decide a exclusão do obreiro, de forma a deixar de ser responsável pelo pagamento à Grande Loja da capitação a ele referente.

Por muito bem que funcionem o Secretário o Tesoureiro, o Orador e o Hospitaleiro, é conveniente que, desejavelmente uma vez por ano, no mínimo de dois em dois anos, esta tarefa de verificação geral e resolução proativa dos problemas detetados seja feita. Só assim se tratam situações que deveriam já ter sido tratadas e que, por erro, negligência ou simples inércia estão por tratar, com risco de agravamento. Só assim, por iniciativa organizada da Loja, se obtém, por vezes, a noção de que um Irmão atravessa dificuldades e não revela tal facto aos seus Irmãos, seja por que razão seja. Só assim a Loja logra obter uma imagem global do que se passa com os seus obreiros, do que está a Loja a fazer para auxiliar os que necessitam de auxílio e do que tem de modificar ou diligenciar para bem cumprir o dever de Solidariedade que une todos os maçons.

Tal como nas nossas casas, a limpeza semestral ou anual não implica só deitar coisas fora, mas também detetar o que precisa de ser reparado e providenciar pela reparação e efetuar as mudanças que sejam convenientes, também a limpeza da Loja não se limita à exclusão daqueles que é necessário excluir. Muito mais há a fazer, para além disso: reparar o que houver a reparar, providenciar o que houver a providenciar, auxiliar o que se houver de auxiliar pela forma que se puder fazê-lo.

Tal como nas nossas casas, efetuar periodicamente a limpeza da Loja é imprescindível para o bom funcionamento desta e fortalece os laços entre todos.

Rui Bandeira 

13 junho 2012

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - VII

É uma boa prática que todo novo Irmão, aquando da sua Iniciação, presenteie a Loja, isto é, todos os Irmãos presentes, e faça uma oferenda para socorro dos indigentes e Irmãos em desgraça, de acordo com o que o novo Irmão ache apropriado, mas superior e acima do mínimo que esteja estabelecido pelo Regulamento interno da Loja; tal oferenda deve ser entregue ao Mestre, Vigilante, ou Tesoureiro, para ser entregue a uma instituição, se os membros acharem apropriado escolher alguma. O candidato deve jurar solenemente que se submeterá à Constituição, Deveres e Regulamentos e todos os costumes que lhe forem comunicados, em hora e lugar convenientes.

Conforme logo no início do texto desta sétima regra se acentua, a contribuição nela referida não é obrigatória - apenas considerada uma "boa prática".

Na Maçonaria Regular dos tempos atuais, o novel maçom não é estimulado ou aconselhado a fazer uma doação particular, muito menos em valor superior ao valor mínimo constante de Regulamento, desde logo porque inexiste fixação de qualquer valor mínimo para "oferendas" - nem tal faz sentido: o que constitui obrigação não pode logicamente ser considerado oferta; e concomitantemente, o que voluntariamente se dá não constitui obrigação...

O recém-iniciado é informado que, tal como os demais, quando circular na reunião aquilo a que os maçons chamam o Tronco da Viúva, deverá no respetivo recipiente (em regra, um saco) depositar, discretamente, aquilo que entender e de que possa dispor, sem colocar em risco o cumprimento das suas obrigações civis e familiares, nem, obviamente, a satisfação das suas necessidades e as dos seus. Aliás, se necessitar retirar, em vez de colocar, tal é-lhe lícito e essa decisão, tal como a referente ao montante que em cada dia resolva colocar, depende exclusivamente do seu critério, sem ter de prestar contas ou pedir autorização a ninguém. Felizmente, o que seria certamente uma dolorosa decisão é extremamente rara... Menos rara - embora pouco frequente - é a situação em que um dos obreiros presentes numa sessão maçónica declara reclamar o produto recolhido pelo Tronco da Viúva, normalmente indicando para que auxílio concreto destina esse produto. Quando tal sucede, embora ritualmente a reclamação se faça só após a circulação do Tronco da Viúva, é habitual que seja anunciada essa intenção antes dessa circulação, para que os presentes saibam que o produto da recolha que se vai efetuar se destina a auxiliar alguém ou algo em concreto e possam, se assim o entenderem, adequar o montante do seu donativo em conformidade.

O Tronco da Viúva é administrado pelo Hospitaleiro da Loja, segundo as orientações desta e do seu Venerável Mestre.

O candidato à Iniciação, imediatamente antes do início desta deve, por outro lado, satisfazer o pagamento de uma joia de iniciação (na Loja Mestre Affonso Domingues, montante referido aqui), para custeio das despesas administrativas e com o material que lhe será entregue. O montante da joia - tal como o da quota, mensal ou anual, varia de Loja para Loja e de Obediência para Obediência. Cada Loja é soberana.

Quanto à frase final da regra, referente ao juramento solene que o candidato deve efetuar, importa esclarecer que - e disso é informado o candidato antes da sua realização - a Constituição, os Deveres, Regulamentos e costumes cuja observância se jura cumprir em nada contendem com as leis em vigor nem com os costumes e moral sociais. Os maçons integram-se na sociedade e, pela sua melhoria e pelo seu exemplo, procuram contribuir para a melhoria desta, mas atuam sempre no respeito da Legalidade vigente, pois para um maçom regular ser livre e de bons costumes implica ser um bom cidadão, cumpridor dos seus deveres e das normas em vigor.

Fonte:
 
Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 137.

Rui Bandeira

21 julho 2008

Deixar os metais à porta do Templo


Aos maçons é dito que devem deixar os metais à porta do Templo.

Esta frase não deve ser, obviamente tomada no seu sentido literal. Não faz, evidentemente, sentido impor que um obreiro se despoje de tudo o que é metálico para aceder ao Templo. Até porque a Maçonaria de hoje é herdeira especulativa das organizações de construtores em pedra, que utilizavam e utilizam ferramentas metálicas para trabalhar a pedra. Assentemos, pois, que esta frase não se aplica literalmente - excepto numa circunstância, que aqui não quero referir.

Os maçons costumam designar os meios monetários como "metais". Quererá então a mencionada frase dizer que os maçons devem entrar no seu local de reunião sem transportarem consigo dinheiro? Está mais próximo, mas ainda não é assim! Nomeadamente na Maçonaria Europeia, pelo contrário, os maçons devem ter o cuidado de levar consigo para o interior do local onde vai decorrer a sua reunião algum dinheiro, já que, a determinada altura, circulará o Tronco da Viúva, no qual cada obreiro deverá depositar algum dinheiro, segundo as suas possibilidades, destinado a Beneficência. Incidentalmente: se necessitar, quando coloca a mão no Tronco da Viúva (que, normalmente, é um saco), o obreiro pode, em vez de colocar, RETIRAR dinheiro, assim aliviando sua dificuldade, sem que, sequer, os demais tomem conhecimento de sua situação. Mas é também certo que o dinheiro, sendo, na presente organização social, um meio indispensável, é considerado como um mal necessário. Muitas acções censuráveis ocorrem pela cupidez do dinheiro. O dinheiro é, assim, considerado como algo necessário, mas impuro. Em Loja, os maçons usam luvas brancas, que não devem conspurcar com a manipulação de dinheiro. Portanto, quando depositam o seu óbolo no Tronco da Viúva, os maçons fazem-no descalçando a luva da mão que irá manipular o dinheiro. Impuro, mas necessário, o dinheiro entra no espaço da Loja.

A que metais se refere então a frase? Significa ela que os maçons não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar. O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

As preocupações do dia a dia ficam à porta do Templo. As zangas, desavenças, maus humores, rivalidades, ficam à porta do Templo.

Esta frase destina-se a marcar bem a diferença entre o espaço profano e o espaço maçónico. Neste, valoriza-se a cooperação, o trabalho, a ajuda, o progresso, a Razão, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, a Sabedoria, a Força, a Beleza, o estudo, a iluminação mútua. Tudo o resto, tudo o que prejudique o trabalho de mútuo aperfeiçoamento dos maçons, são metais, que devem ficar à porta do Templo.

Rui Bandeira

15 abril 2008

Hospitaleiro

O Hospitaleiro é o elemento da Loja que tem o ofício, a tarefa, de detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio dessas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando, através da Grande Loja e do Grande Oficial com esse específico encargo, o Grande Hospitaleiro ou Grande Esmoler, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos membros.

Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros. Solidariedade que não significa cumplicidade em acções ilícitas ou imorais, ou encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral. O maçon deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes, não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque auto-determinado e, portanto, responsável pelos seus actos, bons e maus. Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos afectam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem.

Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno daquele que, nesse momento, precisa do calor de seus Irmãos. Esse auxílio, esse conforto, essa presença, são coordenados pelo Hospitaleiro. Note-se que a palavra utilizada é "coordenados", não "efectuados" ou "realizados". O Hospitaleiro não é o Oficial que efectua as acções de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja dessas acções. O Hospitaleiro é aquele elemento a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita.

É claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efectuar a tarefa, ou a delegar a mesma em outro Irmão que seja mais conveniente que a efectue. Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria, isso já não seria auxílio, seria perturbação. O Hospitaleiro assume, assim, em primeira linha, a tarefa de se informar do estado do irmão, de o auxiliar e confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado, nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou constantemente assediado pelos contactos dos demais, prejudicando a sua recuperação e o seu descanso, maçando-o, mais do que confortando-o. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio é fundamental...

A solidariedade maçónica pode traduzir-se em actos (visitas, execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece confiança no inseguro), no simples acto de estar presente ou disponível para o que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa, mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível...) ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões...). A escolha, a combinação, o accionamento das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do que os actos generosos, mas anárquicos e descoordenados...

O Hospitaleiro deve estar atento ao surgimento de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e actuar em conformidade. Mas não é omnisciente. Portanto, qualquer maçon que detecte ou conheça uma dessas situações deve comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, actuar, coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça. Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia é que sejam "todos por um", não "cada um pelo outro, todos ao molho e fé em Deus"...

A solidariedade maçónica é assegurada, em primeira linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue com a vida. Porque cada maçon, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente!

E a solidariedade é algo que não se esgota em circuito fechado. Para o maçon, a beneficência é um simples cumprimento de um dever. As acções de solidariedade ou beneficência em relação a quem - maçon ou profano - necessita, em auxílio das organizações ou acções que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo Hospitaleiro.

O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito importante em qualquer Loja maçónica. Deve, por isso, ser desempenhado por um maçon experiente, se possível um ex-Venerável.

O símbolo do Hospitaleiro é uma bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçon dá para o Tronco da Viúva. Mão segurando o saco, no modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o Tronco da Viúva, o Hospitaleiro exibe o saco contendo esses óbolos perante a Loja, demonstrando estar á disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material. Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu adequado e útil uso.

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A propósito de solidariedade: já se decidiu se contribui, na medida do que puder e quiser, para auxiliar a Inês? Se sim, não guarde para amanhã o que pode fazer hoje. Relembre aqui como pode ajudar e... trate disso! Já! Não se deixe vencer pela inércia!

Rui Bandeira

09 abril 2008

Tronco da Viúva

No texto Pela Inês!, mencionei que várias Lojas maçónicas da GLLP/GLRP vão recorrer aos seus Troncos da Viúva para auxiliar nas despesas com a viagem e transplante da menina.

Pelo menos na Europa Continental, todas as Lojas maçónicas têm um Tronco da Viúva. O Tronco da Viúva não é mais do que um fundo de reserva de meios monetários destinado a acorrer a situações de necessidade de maçons, de viúvas e filhos menores de maçons já falecidos e, de forma geral, a acções de beneficência.

Os fundos do Tronco da Viúva são exclusivamente obtidos mediante donativos dos obreiros da Loja e seus visitantes ou mediante acções de angariação de fundos a ele destinados - leilões, iniciativas sociais, etc..

Os fundos do Tronco da Viúva, tal como os demais valores da Loja, ficam à guarda do Tesoureiro desta. Mas são separadamente contabilizados dos demais recursos da Loja e só podem ser usados para os referidos fins de auxílio ou beneficência. Os fundos do Tronco da Viúva só podem ser utilizados por decisão do Venerável Mestre ou do Hospitaleiro, Oficiais da Loja em que esta delega o encargo de bem analisar as situações que justifiquem a mobilização desses fundos. Pelo menos anualmente, o Hospitaleiro deve apresentar um sucinto relatório sobre a situação do Tronco da Viúva e a aplicação dos seus fundos.

Em algumas Lojas, pode também existir uma Comissão de Beneficência, encarregada de estudar as acções da Loja neste campo. No Regulamento Interno da Loja Mestre Affonso Domingues está prevista a existência de uma Comissão de Beneficência, constituída pelo Venerável Mestre, pelo 2.º Vigilante e pelo Hospitaleiro. Na prática, porém, a sua activação não tem sido necessária, pois a tradição da Loja de discutir abertamente em sessão de Loja todos os assuntos que a esta dizem respeito possibilita que todas as decisões importantes, neste como noutros campos, seja colectivamente apreciada perante o Venerável Mestre, em ordem a permitir-lhe a mais consensual decisão (ver o texto Decidir em Loja). No entanto, se entre sessões, o Venerável Mestre necessitar de tomar uma decisão urgente sobre assuntos de solidariedade, sabe quem deve, em primeira instância, consultar: o 2.º Vigilante e o Hospitaleiro, que consigo formam a Comissão de Beneficência. A estrutura existe, está prevista, só é accionada se e quando necessário. Felizmente não tem havido situações de urgência que impusessem uma decisão antes de debate em Loja, mas, se e quando houver, já se sabe como proceder.

A designação de Tronco da Viúva tem a ver com a lenda da construção do Templo de Salomão, que foi dirigida por um arquitecto, de nome Hiram Abiff, que, na Bíblia, é referenciado como filho de uma viúva de Tiro. Hiram Abiff é, desde tempos imemoriais, o protagonista de uma alegoria que constitui o cerne da moralidade maçónica, a tal ponto que os maçons, nele se revendo, designam-se a si próprios por Filhos da Viúva. Alegoricamente, nos tempos modernos, a Viúva será a Maçonaria, em especial na sua vertente de solidariedade e beneficência. O Tronco da Viúva é, pois, um dos alicerces da Maçonaria, o reservatório dos bens que lhe possibilitam despender fundos em acções de solidariedade e beneficência. É alimentado pelos seus filhos, os Filhos da Viúva, os maçons.

Externamente, e em cumprimento do comando da moral maçónica de que as acções de beneficência devem ser praticadas discretamente, um maçon ou uma Loja Maçónica nunca revelam ou comentam ou divulgam quanto foi dado para esta ou aquela acção, com quanto se contribuiu para aliviar a necessidade desta ou daquela pessoa. Isso é matéria que só interessa a quem disponibiliza a ajuda e a quem a recebe. A regra é simples e não tem de ser mais específica: em cada momento, deve dar-se o que se pode e seja preciso. Nem menos, nem mais.

A Loja Mestre Affonso Domingues procura manter, se possível, uma reserva mínima para poder acorrer a uma urgente necessidade de um Irmão, de uma viúva ou de um filho menor de um maçon falecido. Mas também nunca tem grande entesouramento no seu Tronco da Viúva. Não faz sentido guardar de mais, deixando necessidades que se podem aliviar sem alívio... Enfim, o Tronco da Viúva da Loja Mestre Affonso Domingues está sempre em equilíbrio instável... Nem demasiado leve (excepto quando tal for necessário), nem demasiado pesado. E é assim que o queremos!

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1. Já chegaram os primeiros donativos para a Inês! Amigo leitor, não se esqueça, colabore também no auxílio à Inês. Contribua com o que puder e quiser. No texto Pela Inês pode ver como o fazer.

2. E é favor anotar na agenda, a letras BEM GRANDES: SÁBADO DE MANHÃ: IR DAR SANGUE NA ESCOLA MELLO FALCÃO DA PONTINHA (quem está longe, pode ir dar sangue ao centro de recolha do Instituto do Sangue mais próximo; lá também aceitam...)

Rui Bandeira

08 abril 2008

Pela Inês!

A Inês sofre de uma doença genética rara, doença de Wilson, que afecta o fígado, resultando em que este órgão não elimine o excesso de cobre introduzido no organismo através dos alimentos. O cobre não eliminado acumula-se e espalha-se no organismo, originando um lento envenenamento.

A Inês suporta este calvário há doze anos. Neste momento, o cobre acumulado afecta já o cérebro desta criança, provocando-lhe várias paralisias. Após muitas consultas em hospitais de Lisboa, Coimbra e Porto, após muitas sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e terapia da fala, tudo buscando minimizar, na medida do possível, os terríveis efeitos deste implacável envenenamento, surgiu a hipótese de um transplante de fígado.

A família da Inês conseguiu a marcação deste transplante, mas em Cuba, país onde se deslocará a Inês, em princípios de Junho, para se submeter à intervenção. Como é óbvio, as despesas envolvidas têm sido e vão ser muitas e pesadas. A família da Inês tem despendido tudo o que pode no seu tratamento. Mas agora precisa de auxílio financeiro urgente. Junho é já daqui a menos de dois meses, o dinheiro não chega, mas a oportunidade não pode, nem deve, ser desperdiçada.
A RL:. Luís de Camões, sediada na localidade onde mora a Inês, entendeu associar-se a esta campanha de solidariedade. Claro que os maçons, conhecendo este caso e a situação de necessidade em que se encontra a Inês, vão cumprir o seu dever de solidariedade e auxiliar, na medida das suas possibilidades. A Respeitável Loja Luís de Camões vai recorrer ao seu Tronco da Viúva para contribuir com o que pode para as despesas do tratamento da Inês. A Loja Mestre Affonso Domingues vai recorrer ao seu Tronco da Viúva para juntar a sua disponibilidade. Outras Lojas vão recorrer aos seus respectivos Troncos da Viúva e juntar também meios para o mesmo fim. Mas, infelizmente, ainda não chega! As despesas são grandes e nem mesmo os fundos guardados para acorrer a situações de necessidade, mesmo postos em conjunto, chegam para as assegurar.

Mas a Inês não vai ficar sem o seu indispensável tratamento, sem efectuar o imprescindível transplante! Decidi, pois, procurar alargar a cadeia de solidariedade. Nós, maçons, procuramos ajudar, discretamente, quem precisa. Mas também não temos receio nem vergonha de gritar por ajuda, quando tal é necessário. Pela Inês, agora é!

Deixo, pois, aqui um apelo ao donativo de fundos para ajudar a financiar as despesas com o transplante da Inês. Nenhuma quantia é demasiado pequena. Nenhuma boa-vontade é supérflua. Muitos poucos fazem muito e hão-de fazer o necessário.

Quem quiser e puder efectuar um donativo, por favor efectue uma transferência ou um depósito na conta do Banco Best com o NIB 0065 0921 00043890008 19, com a indicação INÊS e envie uma mensagem de correio electrónico para mestreaffonsodomingues@gmail.com confirmando esse facto. Para quem, estando fora de Portugal, quiser efectuar um donativo, pode fazê-lo mediante transferência para essa conta , indicando o IBAN (International Bank Account Number) PT50006509210004389000819. O código SWIFT / BIC do Banco Best é BESZPTPL.

Os fundos recebidos serão na totalidade entregues aos pais da Inês. Mediante o envio da mensagem de correio electrónico confirmativa do donativo, os doadores possibilitarão meio de contacto através do qual receberão confirmação da boa recepção das respectivas transferências, da entrega dos donativos aos pais da Inês e, oportunamente, informação sobre a efectivação do transplante e dos resultados (todos esperamos que positivos) para a Inês.

Caro leitor: normalmente o mais difícil não é ser solidário; é vencer a inércia. Por favor, vença-a. Ajude na medida em que puder e quiser. Pela Inês!

Os nossos amigos leitores que mantêm também blogues, se quiserem também aí divulgar este apelo, também ajudarão. Todas as ajudas são bem-vindas. Pela Inês!

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Entretanto, se puder, não se esqueça também de ir dar sangue no próximo sábado!

Rui Bandeira

05 março 2008

Reintegração do Companheiro (III)


O novo Companheiro não necessita de se integrar no grupo. Essa tarefa já deverá estar assegurada e concluída. Mas deve reintegrar-se nele, à luz do seu novo estatuto, do grau a que ascendeu. Três atitudes deve ter como prioritárias: diligência, disponibilidade e independência.

Diligência para efectuar os novos trabalhos que lhe são pedidos, sem deixar de efectuar os trabalhos que aprendeu necessários enquanto Aprendiz. Diligência para conjugar o estudo do que está em cima com o do que está em baixo. Diligência para progressivamente se libertar da orientação que lhe é proporcionada e começar caminhando por seus próprios passos, seguindo seu próprio rumo, perscrutando seu próprio horizonte. Afinal de contas, um Companheiro vem de Aprendiz... e vai para Mestre!

Disponibilidade para efectuar tarefas em Loja e fora de Loja, quer rituais, quer na organização e execução de tarefas integradas nos objectivos e eventos a que o grupo se dedica. Na Loja Mestre Affonso Domingues, é comum aproveitar as oportunidades que surgem para atribuir a um ou dois Companheiros, funções rituais de menor exigência, em sessões mais calmas. Pode designar-se um Companheiro para assegurar o ofício de Guarda Interno numa sessão, ou atribuir-lhe o exercício da função de Experto em sessão em que não ocorra nenhuma Iniciação, ou ainda confiar-se-lhe um dia a tarefa de fazer circular o Saco das Propostas e o Tronco da Viúva. Tudo tarefas que os Mestres sabem serem de fácil execução... depois de se terem executado. O Companheiro de agora vai ser Mestre daqui a uns tempos. Como Mestre, vai ser designado para exercer ofícios. Deve, portanto, ser-lhe dada a possibilidade de sentir o peso dos objectos cujo uso faz parte das funções de Guarda Interno ou de Experto, de executar movimentação em Loja, de assumir, ainda que por breves momentos, responsabilidades em Loja. Não é nada do outro mundo, mas serve para desinibir, para treinar, também para incentivar. Também fora de sessão o Companheiro pode e deve mostrar a sua disponibilidade perante o grupo, colaborando nas organizações da Loja. Na Loja mestre Affonso Domingues, por rotina, quando se designa um grupo de Irmãos para organizar um qualquer evento, assegurar uma qualquer tarefa, inclui-se sempre nesse grupo, pelo menos, um Companheiro. Finalmente, disponibilidade para partilhar o que sabe e o que aprende com seus Irmãos Aprendizes, com os demais Companheiros e com os Mestres que, sendo-o, não são - nem por sombras... - omniscientes. O Companheiro trabalha no concreto, nas artes, nas ciências, em tudo o que respeita ao Homem. Muitas vezes, é um profundo conhecedor da sua área de actividade ou de estudo. O Companheiro já não é só Aprendiz, nem é ainda Mestre. Mas, estando a meio caminho, deve ter a noção de que já não se dedica apenas a receber e a estudar; também, naquilo que sabe, pode já transmitir, ajudar, dar. Enquanto Aprendiz, recebe do grupo; sendo Companheiro, continua a receber, mas também já algo pode dar.

Finalmente, pede-se ao Companheiro independência. Independência de pensamento, que deve ser crítico. Independência enquanto postura. Independência na execução das orientações recebidas. O Companheiro está numa fase de transição. Já não se limita a aprender a fazer. Já faz. Embora ainda deva executar os planos traçados pelos Mestres, a forma como procede a essa execução já deve ser dele, ao seu jeito, segundo as suas próprias capacidades e escolhas.

O grau de Companheiro é também um grau de transição. De assunção de novas responsabilidades, de utilização das capacidades adquiridas. Embora ainda sob a direcção dos Mestres, o Companheiro vai ganhando progressiva autonomia, vai alargando o seu olhar de si para o grupo e as suas necessidades e capacidades e potencialidades. E vai começando a analisar. O Companheiro está aprendendo a ser Mestre. De si próprio e em conjunção com os demais. Está em busca do objectivo de se poder legitimamente considerar um homem pleno, conhecendo todos os seus atributos e capacidades físicos, mentais, morais e espirituais.

Está, no fundo, a prosseguir normalmente o seu caminho. Aquele que todos os maçons percorrem, cada um chegando ao destino a que chegar.

Rui Bandeira