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28 maio 2009

Maçonaria Entreaberta - III

Maçonaria Entreaberta - 3ª e ultima parte


Caso não se atinja essa dimensão, estarão sempre os maçons dominados pelas suas paixões visando objectivos materiais sem projecção espiritual... serão perfeccionistas do ritual, serão grandes doadores para obras de caridade, serão impecáveis nos seus atavios, medalhas, cordões e condecorações, mas pouco terão contribuído para o verdadeiro despertar das suas consciências, ou das dos outros. Pouco poderão contribuir, se a tão pouco se limitarem, a favorecer que a sociedade venha a ser de facto melhor.
Para se chegar a um tal nível, é necessário que tenhamos a visão das três idades que todos atravessamos: a do Pai ou da dependência, a do Eu, ou egocêntrica, e a do Nós ou da solidariedade.
Isto é, o ser humano quando nasce, e quantas vezes até morrer, nunca passa da fase inicial de dependência ou subordinação, primeiro dos pais ou do pai, depois dos professores ou tutores, depois dos amigos, dos patrões, dos leaders, enfim de quem não o permite ser livre por si próprio.
Outros há, que ultrapassam esta fase, entram na do Eu, egocêntrica e competitiva, normalmente com aspectos estimulantes de realização pessoal e profissional em função de metas materiais, atingindo quantas vezes os chamados padrões de sucesso e de convergência europeus, de felicidade e qualidade de vida, mas quantas vezes espezinhando os que encontram no seu caminho.
Não são todos, aqueles que conseguem ascender à terceira fase, a do Nós. A da solidariedade, que pressupõe responsabilidade social, sublimação de interesses materiais, conciliação entre objectivos individuais legítimos, e objectivos de interesse colectivo. Na fase do Nós, a espiritualidade é consequente, é actuante, e não apenas um rictus exterior para salvar aparências, ou apaziguar temores do desconhecido.
O momento da iniciação deveria ser, para aqueles que ainda não atingiram o terceiro degrau das suas vidas, o primeiro degrau de subida a esse nível de consciência, o verdadeiro primeiro dia do resto da suas vidas... A iniciação deveria ser sempre uma porta, um porta mais larga, com mais luz para o Nós, para consciência dos valores universais e espirituais milenários, que a Maçonaria regular representa.
A partir daqui, abre-se ao maçon regular, um caminho... ele aprenderá a comunicar pela palavra, e desde logo pelo juramento; ele aprofundará a capacidade de comunicar pelo gesto, e desde logo pelo colocar-se à ordem de aprendiz; enfim ele conseguirá com a ajuda dos seus irmãos aprender a comunicar pela mente, desde logo, pela primeira vez que se encontre numa cadeia de união.
Assim, ascenderá triplamente, oralmente, gestualmente e mentalmente, a uma nova forma de conhecimento, de si próprio, e dos outros, que como ele iniciados, passará a reconhecer e a tratar por Irmãos.
Se aqueles, que estiveram com a Grande Loja Regular até aos infaustos acontecimentos de 7 de Dezembro e depois a decidiram abandonar, tivessem mais cultura maçónica, se estivessem todos na fase do Nós, se tivessem ultrapassado as fases do Pai, e do egocentrismo do Eu, se já soubessem comunicar não só pela palavra, pelo gesto, mas também pela mente, não teriam afrontado a Maçonaria como o fizeram.
Não teriam eles sido, sim como foram, as vítimas da sua insaciável sanha anti espiritual, porque deixaram prevalecer as suas mesquinhas motivações profanas de interesses de poder material, sobre a responsabilidade do dever maçónico, que não compreenderam, que renegaram e que abandonaram.
Durante a crise aliás, verificou-se a simpatia senão mesmo a adesão aos valores da maçonaria universal pela reacção positiva de vários sectores da sociedade civil, e por uma opinião pública mais conhecedora dos fenómenos iniciáticos. Cedo se compreendeu, pela exposição à comunicação social, que o conflito tinha por génese a purificação da Maçonaria regular, de desvios que a viciavam, contrariando a sua abertura legítima ao mundo profano.
Os ex-maçons, que pelo uso da força e da mentira, violaram a lei civil e a tradição maçónica cometeram em auto-autópsia, um autêntico suicídio maçónico.
Ficou pois, finalmente claro depois da crise da maçonaria regular, quem ficou do lado da legalidade, da moralidade, da regularidade. Enfim, quem é Maçon...
Hoje, sem qualquer dúvida, a nível nacional ou internacional, a Maçonaria regular e universal está representada em Portugal pela Grande Loja Regular de Portugal, designação da assembleia geral da associação cultural sem fins lucrativos, constituída notarialmente segundo a lei portuguesa, sob a denominação de Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.
A Grande Loja, que prosseguiu sem soluções de descontinuidade a sua actividade, congrega múltiplas lojas em todo o País, e mantém relações fraternas com a larga maioria das obediências maçónicas estrangeiras que integram a maçonaria universal, e continua a sua actividade ritual e espiritual, como é dos landmarks, no respeito das leis democráticas portuguesas, das suas autoridades legítimas, da moral social, e da Tradição ancestral maçónica universal.
A Maçonaria regular tem em Portugal, como tem em todo o mundo, um amplo horizonte de serviços a prestar à sociedade em que se insere, e à Humanidade em geral, pois os maçons, na vida profana, e pelo seu exemplo, devem constituir valores seguros de referência.
Devem os maçons envolver-se individualmente, que não em nome da Maçonaria, em projectos sociais, culturais, científicos, económicos e de solidariedade que sob o ângulo da responsabilidade e exigências de profissionalismo e justiça social contribuam para o avanço espiritual da sociedade.
A Sociedade, a Humanidade, só progride se conseguirem condições generalizadas de Paz, de Harmonia, de Fraternidade, de Solidariedade e de Tolerância entre aqueles que partilhem destes valores. As sociedades e a Humanidade serão tanto mais justas quanto menos excluídos sociais houver... só que a exclusão e a marginalidade social não afecta só os pobres de bens materiais, afecta, e de que maneira, os pobres de espírito.
Cabe em geral aos homens de boa vontade, e em especial aos maçons regulares, entre outros iniciados, tudo fazerem para que o advento do III milénio represente um efectivo progresso para a condição humana, para que cada vez haja menos excluídos de um processo de espiritualidade ascendente à compreensão do nosso destino críptico.
Apela-se pois a todos os que lerem estas linhas, Homens de Boa Vontade, e Meus Irmãos:
Confiemos no Grande Arquitecto do Universo, prossigamos a obra infindável do despertar das consciências, sejamos todos melhores num mundo que só assim melhorará, pela generalização da prática dos valores espirituais universais. A porta da Maçonaria fica pois, mais uma vez, entreaberta.....a todos Nós....em particular, aos que têm os pés na terra, a cabeça no céu, e o coração com o dos outros...
Luis Nandim de Carvalho - 1997
Editado por
José Ruah

27 maio 2009

Maçonaria Entreaberta - II

Maçonaria Entreaberta - 2ª parte

Cabe recordar o conceito de seita como foi definido recentemente pelo Parlamento francês , e que identifica "grupos que visam, mediante manobras de desestabilização psicológica, obter a adesão incondicional dos adeptos, a diminuição do seu espírito crítico, a ruptura com as referências comummente aceites (éticas, cientificas, cívicas, educacionais)...estes grupos utilizam coberturas filosóficas, religiosas ou terapêuticas para dissimular os objectivos de poder, submissão e exploração dos adeptos".

Neste conceito de seitas, aparecem como elementos caracterizadores e indiciadores da existência da marginalidade do grupo, os atentados ou ameaças à integridade física... o discurso com características anti-sociais... perturbações da ordem pública... tentativas de infiltração dos poderes públicos... etc.
Nada disto tem a ver com maçonaria, nem com religião. Exemplos de seita antimaçónica temos historicamente em Itália a loja P2 (propaganda due). Desde logo antimaçónica, porque secreta, porque não realizando iniciações, por ausência completa de observância dos landmarks, por não reunir regularmente, não cumprir com constituições ou regulamentos maçónicos, por ter objectivos materialistas e ilegais.
Os maçons regulares devem reunir-se em lojas regulares, exclusivamente masculinas, que estão congregadas institucionalmente em Grandes Lojas, ou mesmo Grandes Orientes que globalmente trabalham à glória do Grande Arquitecto do Universo. Não é possível entender-se na Maçonaria Universal a existência de Lojas regulares que o não sejam pela legitimação da transmissão da regularidade, e acrescente-se, pela manutenção, dos "standards" dessa regularidade, fixados nos "landmarks".
Para os regulares também não é pois possível a existência de lojas regulares autónomas - estas serão lojas selvagens, não reconhecidas pela comunidade maçónica universal. Mas também não é possível, existirem dentro da mesma Grande Loja ou Grande Oriente, se pretender obter o reconhecimento internacional, lojas a funcionarem regularmente de acordo com a Tradição, e lojas irregulares a funcionarem liberalmente, isto é sem aceitação unânime do landmark da crença no Grande Arquitecto do Universo.
Neste quadro o que é possível então?
Os maçons regulares consideram que a Maçonaria, como substantivo, só pode ter uma acepção que é a do sentido de uma organização masculina, iniciática deísta e simbólica. Não se reclamam do exclusivismo esotérico nem do exclusivismo iniciático que reconhecem poder existir em outras organizações. De facto, o termo maçonaria como adjectivo, tem sido usado para qualificar outras organizações de base humanista e que pretendem por uma via iniciática substituída (não a sagrada), desenvolver igualmente a filosofia de fraternidade, igualdade e liberdade, valores cívicos essenciais ao pleno desenvolvimento dos valores espirituais da Maçonaria, como é o caso, entre outros dos Rosa Cruzes.
Deste modo, não é possível a cooperação ritual, em loja, ou mesmo em Grande Loja, entre maçons regulares e irregulares, ou entre maçons regulares e quaisquer outro grupo de iniciados, não maçons, ou mesmo mulheres que se reclamem da Maçonaria.
Mas não deixa de ser possível a colaboração em iniciativas de carácter profano em que maçons regulares, e outros homens e mulheres de bem, pretendam desenvolver iniciativas que visem proporcionar à sociedade uma divulgação de valores que sejam universais, como a Paz, a Harmonia, a Solidariedade, a Fraternidade e a Tolerância. De facto algo de essencial aproxima todos os que se reclamam da Maçonaria: as preocupações humanistas, e o envolvimento em acções humanitárias. Uns os regulares, porque crentes em Deus, Grande Arquitecto do Universo são espiritualmente humanistas, outros porque irregulares, e laicos, cientes na natureza do Homem, são igualmente humanistas. Por via espiritual ou existencialista, aceitam todos o Humanismo.
A cooperação dos maçons com outras entidades, parte porém de pressupostos mínimos que são essenciais, e até tão naturais em consciências civicamente bem formadas que quase seria desnecessário referi-lo. De facto, não há nenhum projecto no mundo cívico ou profano, que possa envolver maçons, se não for compaginável com o respeito pela legalidade e liberdade democráticas. Nem se concebe que pudesse ser de outro modo.
Por isso, um dos pontos porventura mais salientes da crise que alguns dos ex-maçons regulares em Portugal ocasionaram publicamente, em finais de 1996, e que se auto excluíram da maçonaria regular, a partir do dia 7 de Dezembro, com a usurpação das instalações de Cascais da obediência iniciática - Grande Loja Regular de Portugal - e depois, pela tentativa de domínio dos altos graus maçónicos, é o da sua ausência de cultura democrática, moral e maçónica.
As autoridades maçónicas internacionais ou estrangeiras depositárias das tradições iniciáticas da maçonaria regular já tomaram aliás, posição iniludível. Seja ao nível das Grandes Lojas, seja ao nível dos sistemas dos Altos Graus, em especial do Arco Real, dos Grandes Priorados, e dos Supremos Conselhos do grau 33º : - Em Portugal, só existe uma Grande Loja Regular legítima, e que se insere na associação sem fins lucrativos denominada Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.
A própria opinião pública, que condenou aqueles actos, surpreendeu-se, e com razão, com o facto de tal ter podido ocorrer desencadeado por quem se dizia maçon, e sempre publicamente se tinha apresentado como tal!
Quer com isso dizer-se, que muitos dos que se lançaram na aventura anti-maçónica da "casa do sino", como ficou a ser conhecida a instalação administrativa da Grande Loja Regular de Portugal, em Cascais, se esqueceram, ou nunca tinham interiorizado os ensinamentos que deveriam ter recebido na sua iniciação, e posteriormente com o simbolismo das demais subidas de grau, ou, ainda mais grave, na ascensão nos altos graus, ditos de perfeição. Ou seja, aqueles ex-maçons, ou pior, anti-maçons, que são hoje, violaram a importância dos seus juramentos, e com isso tornaram-se perjuros; renegaram a sua condição de maçons, e auto-excluíram-se da maçonaria regular e universal.
Uns intencionalmente, e perseguindo projectos de poder pessoal só possíveis pela pérfida violação da lei civil, da moral social e da tradição maçónica; outros, que os acompanharam, fizeram-no, uns, por ingenuidade ou falta de preparação maçónica, outros ainda porque não eram livres, e dependentes de salários, de relações familiares, e de empregos, não puderam libertar-se do jugo dos seus amos e senhores, ou, na melhor das hipóteses de relações de amizade possessivas.
Esqueceram-se, que mais valia ter a garganta cortada, no simbolismo expressivo de um dos juramentos maçónicos, do que faltar aos sãos propósitos de escolher os caminhos da virtude, de praticar o bem, assim, resvalaram nos caminhos do vício, ou seja decidiram praticar o mal.
Esqueceram-se, que no próprio catecismo de muitos ritos maçónicos, se exemplifica, para além do simbolismo: - mais grave ainda do que ter a garganta cortada, é ficar a ser considerado como perjuro, e passar a ser conhecido entre os maçons de todo o mundo, como homem indigno, sem palavra e sem honra...
Mas para tanto é preciso que se tenha honra. Que se seja livre, e de bons costumes...
Ora a questão essencial da cultura maçónica, começa por se colocar desde logo no momento da iniciação: - Só homens livres e de bons costumes podem ser iniciados, e desde que sejam crentes, em Deus, Grande Arquitecto do Universo. Não se trata de frases feitas para recitar como ladainhas, mas antes de conceitos que só fazem verdadeiro sentido se interiorizados, apreendidos, e assim sentidos na profundidade de um compromisso solene e sagrado, porque sob a sua honra, e sobre o livro sagrado.
O que quer dizer livre? De maior idade? Auto-suficiente economicamente? Não dependente de vícios que condicionem ou até anulem a nossa vontade? E de bons costumes? Que quer dizer? Que não se achem condenados pela sociedade civil, quer dizer apenas uma conformidade formal com a moral social dominante e vigente? Ou, antes terá o significado de bons costumes no sentido do respeito dos elementares deveres contidos na declaração universal dos direitos do homem?
Estas questões cruciais deveriam ser sopesadas aquando cada um que deseje ingressar na Maçonaria, se decide preencher o formulário de pedido de admissão. Por isso mesmo, há que favorecer a uma maior abertura ao mundo profano, e divulgação contida, daquilo que se pode entreabrir da Maçonaria... para que se saiba ao que se vai, pelo menos quanto a requisitos mínimos. E para que a sociedade não tenha, por receio ao secretismo do desconhecido, o impulso de o combater e de condenar.
Aliás, o verdadeiro segredo maçónico consiste na percepção interior da consciência do processo iniciático. É por isso e por natureza intransmissível, por qualquer outro que não seja o próprio, e mesmo assim, se encontrar palavras com que se possa exprimir de forma inteligível para quem não tiver sido, por sua vez, também iniciado.
Não há revelação de segredo maçónico por divulgação de quaisquer fotografias, frases, e até mesmo gestos que carecem de significado para quem não foi iniciado. Se de outro modo houvesse entendimento possível, todos os segredos da maçonaria estariam já revelados nos mais de 90.000 livros recenseados, que foram publicados sobre o tema, dos vários filmes e vídeos editados pelas Grandes Lojas Regulares, incluindo a Grande Loja Unida de Inglaterra, e das milhares de páginas que se encontram na Internet, quer assumidas oficialmente por várias obediências maçónicas, quer pelas páginas pessoais de vários internautas maçons. Não sejamos hipócritas... Hoje, a Maçonaria não se pode contentar em promover a iniciação daqueles que lhe batem à porta fascinados pelo sobrenatural do secretismo do mistério, pela enganosa ambição de negociatas mirabolantes só reservadas aos eleitos das suas imaginações, pelo pseudo poder oculto do domínio de coisas e de outros. Não e não.
A Maçonaria deve sim, ser uma resposta e uma via iniciática e redentora para aqueles que procuram um auxilio solidário no despertar e formar da suas consciências. Dos que pretendem ascender a um saber milenário e iniciático, que acreditam e querem continuar a acreditar no Criador, na Paz, na Harmonia, na Solidariedade, na Fraternidade e na Tolerância de todos os homens.
A Maçonaria deve ser uma escola de escol, de virtudes, uma oportunidade de auto aperfeiçoamento fraterno e universalista, para quem a procura, um caminho consequente de sublimação e de superação de limitações. Para tanto, é preciso maturidade de idade e de consciência, é preciso que se tenha uma percepção espiritualista da condição humana derivada da crença no Grande Arquitecto do Universo, é preciso enfim, ter-se já uma consciência suficientemente evoluída que permita a cada um dos maçons contribuir para que o profano iniciado se integre perfeitamente no caminho maçónico, que consiga sublimar os seus objectivos meramente materialistas, para se colocar numa posição ou patamar de espiritualidade actuante.
Fim da 2ª parte
Editado por
José Ruah

26 maio 2009

Maçonaria Entreaberta - I

Iniciamos hoje a publicação de primeira de 3 partes de um texto que cremos ter qualidade para estar neste espaço. Este texto que nos chegou por via indirecta, mas que imediatamente foi reconhecido como tendo sido escrito por Luis Nandim de Carvalho, 2º Grão Mestre da GLLP/GLRP, em 1997 época conturbada para a Maçonaria Regular Portuguesa. Solicitada a devida autorização para publicação, que nos foi concedida, ficou ao critério do editor, e dada a grande dimensao do mesmo, a respectiva separação em 3 partes a serem publicadas em dias consecutivos.
Relembramos que este texto data de 1997 e é um artigo de opinião pessoal .
Maçonaria Entreaberta
Quando um maçon usa ritualmente da palavra, em Loja, em sessão ritual, fá-lo a Bem da Ordem. Isto é, o maçon nunca se exprime por uma motivação pessoal e egoística, antes deve sempre preocupar-se e identificar-se com a organização iniciática que é a Maçonaria, assumindo pois uma postura altruísta e filantrópica.

Por natureza, o maçon é pois solidário na sua espiritualidade, o que resulta da sublimação da sua dimensão meramente terrena e materialista.
É esta atitude que alguns cínicos chamaram já de "insanidade maçónica", conceito anti-maçónico, porque anti-institucional, e que pretende ridicularizar os valores maçónicos, considerando-os só próprios de insanos.

Também na vida profana, isto é no seu quotidiano cívico, o maçon deve actuar de acordo com as suas responsabilidades próprias, isto é a bem da Ordem, o que significa nada fazer que ponha em causa a sua respeitabilidade e dignidade de instituição milenária, por via da contenção e da discrição. E por outro lado, pela via activa, tudo deve fazer para que os ideais universais dos valores da Paz, da Harmonia, solidariedade, fraternidade e tolerância, sejam efectivamente difundidos, aceites e praticados pelo maior número de pessoas, sejam ou não crentes no Grande Arquitecto do Universo.

Quer isto dizer, que não se pode ser maçon sem se respeitar a ordem democrática e da moral vigente, que aliás devem estar em consonância nas sociedades civilizadas contemporâneas. Um maçon que não se identifique nesses termos com a sociedade em que se integra, dificilmente poderá ser manter a sua condição de Maçon, porquanto nenhum legítimo dever profano deve estar em contradição com o juramento maçónico.
O maçon contemporâneo deve pois actuar de acordo com uma cultura maçónica espiritualista consequente, isto é, que compatibilize os valores humanistas universais, com os valores espirituais universais. Numa síntese, o maçon deve ter os pés na terra, a cabeça no céu, e o coração com o do dos outros... O que significa que o maçon deve sempre procurar superar as suas limitações, auto aperfeiçoar-se na busca de ser melhor do que é, especialmente em relação aos outros, qual bom samaritano. Correlativamente, cabe à Maçonaria proporcionar-lhe as condições objectivas para que tal lhe seja possível.

Esta postura é a exigida aos maçons regulares, também ditos tradicionais ou de via sagrada, aqueles que trabalham nas suas Lojas sob invocação de Deus, Grande Arquitecto do Universo, sobre o livro sagrado, o esquadro e o compasso.

Quanto aos outros, ditos maçons irregulares, ou liberais, ou de via substituída, que se reúnem segundo a aparência dos mesmos ritos, decorações e ideais, já dispensam a via espiritual, e trabalham sobre a Constituição de Andersen, a do País da sua nacionalidade, enfim sobre a própria declaração Universal dos Direitos do Homem, e sem necessariamente invocarem Deus, o Grande Arquitecto do Universo. Isto é: uns, os regulares, partem de um pressuposto que é o da crença no Criador, os outros partem do postulado da liberdade de crença ou não no Criador, uns e outros, sem se remeterem a uma posição contemplativa, buscam o seu próprio aperfeiçoamento, "não faças aos outros aquilo que não gostavas que te fizessem", mas com efeitos diversos ao nível de intervenção na sociedade.

De facto, enquanto os regulares se situam no plano do sagrado, os outros colocam-se no campo do laicicismo, e consequentemente envolvem-se mais directamente na vida profana que procuram aperfeiçoar, senão mesmo transformar.

Para um maçon "regular" a sociedade só será mais perfeita se isso decorrer do processo de aperfeiçoamento individual, de cada um, enquanto para um maçon "irregular", o essencial é ser ele o agente da transformação da sociedade. Isto é, passa o maçon em vez de ser o destinatário das suas reflexões e consciência, para procurar o auto aperfeiçoamento, a considerar-se o agente de transformação e da perfeição da sociedade.

Bem se compreende que esta atitude possa gerar desde logo, a quebra de harmonia entre os maçons. Ultrapassada a intimidade de cada um, em que só cada qual é juiz de si próprio, e de acordo com os parâmetros da sua autodefinição, sendo portanto responsável pela sua própria consciência, os maçons irregulares confrontam-se exteriormente sobre as várias actividades que poderão contribuir para transformação e aperfeiçoamento da sociedade...e estas serão tantas quantas as percepções do que é a perfeição da sociedade.
Uma outra questão que pode lançar alguma confusão quanto ao termo maçon, para além da referida distinção entre maçons regulares e irregulares, na terminologia mais amplamente consagrada, é a possibilidade de existirem maçons que trabalham regularmente mas em situação institucional de irregularidade, e a de maçons institucionalmente irregulares, mas que trabalhem regularmente nos seus templos e Lojas.
De facto, para se ser maçon não basta uma auto proclamação. É necessário que "os seus irmãos o reconheçam como tal", isto é, é essencial que se tenha sido iniciado, por outros maçons, cumprido com as suas obrigações de maçon, esotéricas, simbólicas e incluindo as materiais, e que se integre numa Loja, integrada regulamentarmente numa Grande Loja ou num Grande Oriente, devidamente consagrados, consoante as terminologias tradicionais. Ora, desde logo se pode vislumbrar a possibilidade de maçons integrados numa Grande Loja ou um Grande Oriente irregular (nomeadamente por não ter sido regularmente constituído, respeitar globalmente a crença em Deus, Grande Arquitecto do Universo, nem obedecer a outros landmarks), praticarem numa determinada Loja uma actividade em tudo igual aos que actuam numa Loja regular, integrada numa Grande Loja ou Grande Oriente Regular.

Todavia tal não basta, e uma prática maçónica, só se pode admitir como regular, se reconhecida como tal, por quem de direito, ou seja, por uma Grande Loja, ou Grande Oriente regularmente constituído e em regularidade de funcionamento.

Aos que se consideram maçons regulares, para que efectivamente o sejam, é necessário serem reconhecidos como tal, é indispensável que tal estatuto lhes seja reconhecido. De facto o reconhecimento é essencial para atestar um dos requisitos fundamentais e integradores da regularidade, que é o da legitimidade da transmissão da própria regularidade. Só assim se constitui legitimamente a regularidade.

Um pouco à semelhança do próprio processo de reconhecimento da independência dos Estados, em que não basta a proclamação unilateral de independência, é crucial que a comunidade internacional a reconheça, e depois, para se ser verdadeiramente membro de pleno direito da comunidade internacional, ou de comunidades regionais (como os Estados membros da União Europeia), é ainda necessário o respeito da legalidade universal, que tem como referência a declaração universal dos direitos do homem.

Um maçon que respeite as regras da regularidade, tem pois de respeitar as suas regras essenciais: Os landmarks, as constituições, os regulamentos, a regularidade da transmissão maçónica, enfim o próprio cumprimento das leis civis. Um maçon que portanto seja irregular quanto à sua filiação numa Grande Loja ou Grande Oriente irregular, não pode ser considerado regular pela comunidade maçónica regular... não pode pois aceder a sessões rituais regulares. Só o poderá fazer se, e quando por um processo dito de regularização, deixar a sua obediência irregular e for recebido como regular por uma obediência maçónica com estas características.
E quanto ao inverso? Um maçon iniciado regularmente, a trabalhar regularmente, integrado numa Grande Loja ou num Grande Oriente que perdeu o seu reconhecimento como regular pela comunidade maçónica universal? A resposta é simples... passa a ser incluído na irregularidade. Este só tem também uma solução à sua disposição, se não quiser permanecer na irregularidade e afastado do convívio maçónico regular universal: é ingressar numa obediência maçónica reconhecida como regular.

Caso ainda diverso e que não merece comentário, é o dos profanos e/ou, ex-maçons que se integram na anti-maçonaria, quer contra a maçonaria regular, quer contra a maçonaria irregular, desrespeitando a leis civis, e quanto aos primeiros os seus valores espirituais, e quanto aos segundos o seus valores humanísticos. Os anti-maçons estão fora da maçonaria.
Não se trata de um jogo de palavras. É essencial e constitutivo da regularidade maçónica o seu reconhecimento. Não pode haver maçonaria regular ao arrepio dos landmarks, com violação da constituição de uma obediência, dos seus regulamentos, com violação das leis civis, com a prática de crimes assim considerados pela sociedade profana democrática. A comunidade maçónica internacional condena e denuncia estas situações, que merecem denúncia pública de todos os maçons e homens de boa vontade.

Resta acrescentar, que não existe possibilidade de um movimento que se pretenda espiritualista, esotérico, simbólico, iniciático e universalista se desenvolver contra as próprias leis democráticas de um Estado de Direito, que se integre na comunidade internacional democrática.
A Maçonaria laica, humanista mas materialista, profana porque não sagrada, resvala com grande facilidade em dois dos mais temíveis desvios que podem fazer perigar a excelência da ideia e filosofia maçónicas: a politização e o negocismo.

De facto, grande é a tentação da opção pela via política directa, como suporte e instrumento directo da acção maçónica, para se implantar na sociedade ideias e ideais de liberdade, justiça social, igualdade, solidariedade... só que ao fazê-lo, faz-se perigar inexoravelmente a paz, a harmonia, a tolerância... a via maçónica torna-se pois irregular, na medida em que as lojas deixam logo de ser os locais de serena elevação espiritual, para passarem ao lado do esoterismo iniciático e simbólico que as caracterizam na sua pureza, para se assumiram como mais um local a profanar pelo imediatismo da gestão política dos interesses materiais.
Além da politização, o outro risco é o negocismo, a pretexto da solidariedade a estabelecer com os irmãos mais necessitados, ou para viabilizar ideais de solidariedade para com terceiros, ou mesmo para fortalecer financeiramente a instituição maçónica. O afastamento das preocupações de elevação espiritual cedo cedem passo ao "primum vivere, deinde philosophare..." Daqui à tentação do materialismo do "vale tudo" é um pequeno passo.
Dir-se-á que a maçonaria regular sofre também destas duas tentações. Decerto que sim, mas em menor grau, porque de tal modo infringiria um dos seus landmarks e consequentemente, arriscaria a perder a sua própria natureza. A maçonaria regular, que não pode por definição ser política, sofre antes, e mais gravemente de um potencial risco de desvio, que é o de se transformar em seita, pelo sectarismo messiânico, ou pseudo-esotérico de que os seus adeptos possam ser levados a reclamarem-se como iluminados.

De facto alguns, seduzidos pela aparência temporal do poder espiritual, enveredam por caminhos insondáveis de mistério, lado a lado com fórmulas de cultos iluminados de ilusionismo, cartomancia, bruxaria, satanismo, e seus similares de magia negra. Estão a um passo de enveredarem por seitas, naturalmente anti-maçónicas.

Fim da 1ª Parte


Editado por
José Ruah

10 agosto 2008

Desfazendo uma Confusão

Um Leitor que com imaginação conseguiu um perfil de blogger chamado Anónimo, deixou-nos alguns comentários no post aqui sobre a questão da fé e da regularidade.

Começou por nos perguntar se a condição para ingressar na GLLP/GLRP era acreditar em Cristo.

Foi-lhe respondido que a questão era mais vasta, e que a única condição era acreditar na existência de um Grande Arquitecto do Universo, não tendo a questão a ver com religião mas sim com fé.


Volta o nosso leitor à carga, com as seguintes questões:

“Estou confuso, afinal o que vos diferencia da GLNP?”

E num comentário logo imediato:

“Acabei de ver uma reportagem da TVI sobre maçonaria.Se há pouco estava confuso, agora estou completamente perdido.Qual a diferencia entre GLLP, GLRP e GLNP?De todas as obediências em Portugal só consigo distinguir a particularidade do GOL que aceita mulheres e ateus sem qualquer reconhecimento por parte da regularidade inglesa, mas quanto as outras acima referidas, como distingui-las ??”


Está confuso sim senhor!

Vamos tentar resolver a confusão.

1 – Nem tudo o que se vê na televisão é de boa qualidade ou verdadeiro. Há sempre uma parte sensacionalista, uma parte invenção, uma parte show off e uma parte verdadeira e real.
Se a reportagem que viu é uma que passou originalmente há cerca de 1 ano e que refere a existência do GOL, GLLP, GLNP e GLTP então é a mesma que conheço. E será sobre esta que assento a minha opinião.

2 – Decifrando as Siglas e as datas de constituição e origens:

GOL – Grande Oriente Lusitano – fundado em 1802
Primeira Obediência em Portugal, tendo sido reconhecida pela Grande Loja Unida de Inglaterra, num primeiro tempo e perdido essa regularidade quando adoptou os princípios que regiam o Grande Oriente de França, nomeadamente a não necessidade de acreditar num Grande Arquitecto do Universo, abrindo assim a ateus e agnósticos.
É uma obediência Masculina, só admitindo homens, tendo no entanto convénios de reconhecimento com Obediências Femininas, e consequentemente direitos de visitação.

GLLP – também denominada GLLP/GLRP – Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal – fundada em 1991
Originalmente constituída apenas como GLRP, aparece pela vontade de maçons que militavam no GOL e que com a ajuda da GLNF – Grande Loja Nacional Francesa – constituem uma Grande Loja aceite e reconhecida pela Regularidade.
Em 1996 por força do que ficou conhecido pelo Golpe do Sino, dá-se uma cisão na GLRP e por uma questão legal e administrativa, a Denominação passa para GLLP.
Esta é a única Obediência Maçónica em Portugal a ser reconhecida pela Maçonaria Regular Internacional.

Mais informações em:
Regularidade Maçónica
O Nome da Grande Loja

GLNP – Grande Loja Nacional Portuguesa – fundada cerca de 1997 em Bragança
Aparece fruto da instabilidade gerada pelo Golpe do Sino, e é essencialmente radicada no Nordeste Transmontano, onde aliás tem a sua sede.
Sendo um fruto da linha regular original, adoptou os mesmos princípios, mas não obteve reconhecimento internacional por parte da Regularidade


GLTP – Grande Loja Tradicional de Portugal – Fundada em 2005 e constituída enquanto jurisdição. Os seus fundadores são oriundos da GLLP, da qual saíram após sérias divergências.
Aceita a feminilidade, e é portanto Mista.


3 – A sua primeira confusão:

A obrigatoriedade de uma religião especifica para pertencer à GLLP. Como expliquei na minha resposta, isso não existe. Existindo sim a obrigatoriedade de acreditar num Grande Arquitecto do Universo.

4 – A sua segunda confusão:

O GOL é uma obediência masculina e não aceita mulheres nos seus quadros nem nas suas Lojas. Os Maçons do GOL são considerados Maçons pelos movimentos regulares, embora não sejam reconhecidos enquanto regulares.

5 – A sua maior confusão:

É natural que as duas organizações – GLNP e GLTP – anunciem princípios parecidos aos da GLLP, pois dela derivam e saíram os seus membros constituintes. Todavia e do ponto de vista da GLLP estas associações não são consideradas sequer maçónicas, ou seja nem sequer gozam do mesmo estatuto do GOL. Mas como se pode depreender pelo acima escrito há diferenças substanciais entre os vários caminhos.

É evidente que cada pessoa tem o direito de seguir a via que melhor lhe convém e que não posso, não devo, nem quero estar a fazer juízos de valor.


É certo que este tema é passível de grandes discussões filosóficas, mas usando o principio KISS – Keep it Short & Simple – tudo assenta nos Landmarks e no cumprimento dos mesmos, e no reconhecimento por parte do Movimento Regular internacional que inclui a United Grand Lodge of England, as Grandes Lojas Americanas, a Grande Loja Nacional Francesa e mais uma infindável lista de Grandes Lojas e Grandes Orientes.

Quanto aos Landmarks poderá ler mais em :Landmarks


E com isto espero ter contribuído para a sua confusão !


José Ruah
Com a prestimosa colaboração dos autores dos posts referenciados.
Nota: todas as opiniões expressas são do autor.

12 junho 2008

Futebol, Maçonaria e mais...

Não, não venho deixar nenhum texto sobre o Euro-2008 nem sobre a vitória da Selecção Portuguesa sobre a da República Checa. Isso já foi glosado em vários tons pela imprensa, pela rádio, pela televisão e pelas conversas de emprego, amigos e de café. Hoje, o tema de partida para o texto é o futebol, mas é outro e de outras paragens.

Li no jornal electrónico Midiamax - o Jornal Eletrônico do Mato Grosso do Sul uma notícia na secção de Esportes, da autoria do jornalista Jorge Franco, com um título que logo me chamou a atenção: Capital terá Copa Maçônica de Futebol Society.
Os detalhes primeiro. Que é isso de "Futebol Society"? A Wikipedia elucida-nos, nesta entrada: Futebol Society é uma variação do futebol. Jogado em campos menores, e usualmente com grama sintética (ou outros materiais artificiais). Disputado por 7 atletas de cada lado, tem regras próprias, criadas por um brasileiro, Milton Mattani. Difundido em todo o mundo, principalmente na América do Sul. Hoje, no Brasil, é a modalidade mais praticada com cerca de 12 milhões de praticantes.

Resolvido o pormenor, vamos então à notícia:

Promovido pela Prefeitura de Campo Grande, numa realização da Funesp (Fundação Municipal de Esporte), começa no dia 5 de julho, a primeira edição da Copa Maçônica de Futebol Society, competição que conta com a parceria das potências maçônicas GOMS, GOB-MS e Grande Loja Maçônica, além da Federação de Futebol Society de Mato Grosso do Sul.

A competição reunirá maçons ativos das três potências de Mato Grosso do Sul, que poderão inscrever quantas equipes pretenderem. Cada equipe será composta por 15 atletas com idade superior a 40 anos, podendo cada uma inscrever ainda até dois atletas com idade inferior a 40 anos. Um destes jogadores será, obrigatoriamente, o goleiro.

Também será permitida a fusão de duas ou mais lojas de uma mesma potência para a composição das equipes.

As inscrições poderão ser feitas na Funesp, até o dia 1º de julho, sendo que cada equipe pagará a quantia de 15 cobertores, que serão doados para a campanha do agasalho promovida pela primeira dama de Campo Grande, Maria Antonieta Trad.

O congresso técnico, que definirá a tabela de jogos e a composição dos grupos ocorrerá às 16 horas do dia 5 de julho, na praça esportiva do Belmar Fidalgo, com a presença do prefeito Nelsinho Trad (PMDB) e dos Grão-Mestres Herbet Xavier (Grande Oriente de Mato Grosso do Sul), Juares Vasconcelos (Grande Loja) e Gercírio Domingos Mendes (Grande Oriente do Brasil).

Para o presidente da Funesp, Carlos Alberto de Assis, esta competição visa promover a integração e a confraternização entre os maçons. "É uma forma de prestigiarmos e ao mesmo tempo agradecer a estas pessoas, que tanto fazem pelo bem estar de nossa sociedade, bem como prestamos a colaboração com a campanha do agasalho".

Brasileiro é mesmo assim: futebol, mesmo de sete, tem lugar de destaque. Mas o que me chamou a atenção na notícia foi algo diverso: a naturalidade da confraternização entre maçons de Obediências distintas. Aqui não há querelas sobre regularidade ou reconhecimento. Cada um joga no seu time e, golo daqui, defesa dacolá, todos confraternizam.

É um bom exemplo a seguir deste lado do Atlântico. É bom que todos vamos entendendo e praticando que, estando cada um integrado na sua Obediência, que tem características, aqui mais, ali menos, diferentes das outras, não tem que, não deve, ignorar ou verberar quem escolheu integrar-se noutra. Se esta é Regular, aquela Liberal, uma reconhecida internacionalmente por uns, outra por outros, e uma terceira por nenhuns, são outras questões, que nada têm a ver com o desejável amistoso trato que deve existir entre quem busca o aperfeiçoamento e a Luz - onde quer que o faça. Se um maçon vir um certo sinal pedindo ajuda, o que faz é prestar socorro, dar auxilio, providenciar alívio; não vai perguntar a quem necessita de auxílio em que Obediência está inserido. Quando é hora de prestar homenagem fúnebre a um maçon que passou ao Oriente Eterno, não importa nem em que Obediência ele se encontrava, nem se quem está ao meu lado na Cadeia de União é Regular, Liberal, Reconhecido ou não. Homens livres e de bons costumes prestam homenagem a um outro, que pousou já as suas ferramentas. É tudo! E é assim que deve ser!

Obviamente que as determinações de cada Obediência devem ser respeitadas. No meu caso, como Maçon Regular, não visito Loja que não seja Regular e não admito visitantes que não sejam maçons Regulares na minha Loja. São essas as regras que vigoram e que me comprometi a cumprir, ponto final. Mas essas regras não me impedem de, fora de Loja, confraternizar, colaborar, debater, organizar, enfim, relacionar-me com outros homens livres e de bons costumes que optaram por se inserir e trabalhar em outras Obediências. Nem, já agora, embora a minha Obediência seja exclusivamente masculina - e eu concordo com isso, e já expliquei aqui porquê -, tenho qualquer impedimento em estabelecer idêntico relacionamento com senhoras que, integradas em sua organização própria, comungam também dos ideais e objectivos maçónicos. Em resumo, homens e mulheres de boa vontade, comungando dos ideais maçónicos, têm um vasto campo de cooperação, que podem e devem aproveitar e utilizar, independentemente de cada um se inserir na sua específica Obediência e cumprir as regras que nelas vigoram.

Por isso, não se praticando por estas bandas o Futebol Society, mas praticando-se o Futsal, bem gostaria de ver organizado um campeonato de Futsal, com equipas formadas por obreiros da GLLP/GLRP, do GOL, da GLRP, da GLTP e do que mais por aí houver! Pontapé na canela aqui, golo acolá, defesa mais adiante, também assim se aprende a distinguir entre o essencial e o acessório...

Mas, atenção!, não pode ser já! É que o craque da Loja Mestre Affonso Domingues, o José Ruah, lesionou-se recentemente num renhido jogo e está fora de combate por uns tempos - e nós precisamos do nosso craque!

Rui Bandeira

12 fevereiro 2008

Do UM


Há dias, numa troca de correspondência electrónica, o meu interlocutor interrogava-se e interrogava-me sobre os eventuais limites ou requisitos mínimos que a Maçonaria Regular colocasse na, para ela indispensável, crença num Ser Supremo. E, indo mais longe, interrogava-se e interrogava-me sobre diversas características ou concepções da Divindade que vira na Wikipédia e se seria admitida uma concepção fluida que considerasse o Universo, ou a Energia, como Deus. No fundo, fazia, de forma mais rebuscada a pergunta que toda a Humanidade faz ao longo dos tempos: Quem ou o que é Deus, qualquer que seja o nome que se lhe dá, Ser Supremo, Criador, Grande Arquitecto do Universo, etc.?

Enviei-lhe a minha resposta. Relendo-a, achei que valeria talvez a pena deixá-la também aqui.

Não há autoridade que fixe "requisitos mínimos" para o Ser Supremo, obviamente. Até porque, a haver, teria que ser mais "suprema" que o "Supremo"... As características do Criador são as que Ele tem e que nós não sabemos quais são. Esse é parte do Mistério da Vida e da Criação...

Todas as características que viu na Wikipédia são elocubrações humanas, cada uma tão válida ou tão errada quanto a anterior.

A concepção do Criador que cada um tem é tão válida como a do parceiro do lado.
Em termos de Maçonaria, no meu entender, o que divide a corrente Regular da Liberal é a aceitação desta de ateus.

E essa diferença torna-se crucial na medida em que dela depende a razão por que se trabalha e se busca o aperfeiçoamento.

Se se é crente, então procura-se seguir o Caminho Ético determinado ou que decorre do Plano e do Objectivo da Criação. Porventura como condição necessária para uma repurificação que permita a reunificação estrutural com o Princípio Criador - o que equivalerá à Vida Eterna, ao Paraíso, enfim, às várias formas de "recompensa" que as várias religiões apresentam.

O Maçon Regular procura aperfeiçoar-se para se transcender, para se aproximar do nível superiormente ético da Divindade. Busca a superação do humano na direcção do divino. E "assim se vai da lei da morte libertando", assim não teme a Morte, etapa da Vida como o Nascimento, o Crescimento, a Maturidade. Assim crê que a Morte não é o Fim e que depois algo há. Porventura não sabe o quê, mas sente, intui, acredita que quanto mais eticamente se tiver purificado e aperfeiçoado, mais bem preparado estará, chegada a altura, para cumprir mais essa outra etapa do Ciclo da Vida e da Criação.

O ateu, porque não crê na Divindade, acredita que a Morte é o Fim e que a Vida não tem outro sentido do que passar por aqui enquanto aqui se está. Então o seu sentido ético só existe na medida em que tem utilidade ao passar e estar por aqui. É um sentido ético utilitário.

Daí o eu entender que a Maçonaria Regular e a Liberal seguem o mesmo Caminho, mas a Maçonaria Regular vai mais além do que a Liberal.

Agora, não tenho eu, nem nenhum maçon, o direito de "determinar" como é a Divindade, quais as suas características, etc. Pela simples razão de que não Sei, só Creio. E não há razão para a minha Crença ser melhor do que a de qualquer outro. Daí que o que importa é que haja Crença, que se acredite na Vida para além da Morte e que se busque o significado da Criação e da Vida, procurando transcendermo-nos das nossas humanas limitações. Um pouco que seja.

A Maçonaria Regular é um espaço aberto a todos os crentes, independentemente da sua crença. A Maçonaria Liberal é um espaço apenas ético. A Maçonaria Regular é isso e algo mais.

Se se acredita que o Universo é Deus, então, como fazemos parte do Universo, nós somos parte de Deus. Resta saber que parte... Trabalhemos então para não ser meros detritos orgânicos da Divindade, radicais livres a esmaecerem a Sua pele e procuremos antes ser moléculas úteis...

Rui Bandeira

27 novembro 2007

A Maçonaria Americana e os novos tempos

A Maçonaria nos Estados Unidos da América teve uma evolução diferente da Maçonaria Europeia. Para além das especificidades e idiossincrasias do grande País da América do Norte serem claramente diferentes da mentalidade europeia (esta conformada por uma história milenar, algo que os americanos, com paciência, também virão a ter: basta-lhes aguardar uns oitocentos anos...), a Maçonaria Americana não se desenvolveu confrontada, como sucedeu com a Maçonaria Europeia, com a existência, muito precocemente criada (no primeiro século da institucionalização da Maçonaria Especulativa), de dois ramos diferentes: a Maçonaria Regular, centrada no estilo britânico da Grande Loja Unida de Inglaterra, e a Maçonaria Liberal, oriunda das concepções que vieram a prevalecer no Grande Oriente de França e, a partir deste, para diversas Obediências Maçónicas Liberais, com significativa existência em diversos países europeus e na América do Sul.

Com efeito, não tendo vivido de perto as incidências do grande conflito ocorrido nos finais do século XVIII e primeira metade do século XIX entre a tradicional, monárquica, mas constitucional, potência marítima europeia - a Inglaterra - e a potência continental, que se tornou revolucionária, instável, oscilando entre a República, o Império e a Monarquia Constitucional - a França -, os Estados Unidos da América desenvolveram a maçonaria segundo os princípios da Regularidade, directamente herdados da sua Potência Colonizadora, sem presença importante da maçonaria de pendor Liberal.

Enquanto na Europa a Maçonaria Liberal se expandiu ao ritmo do avanço dos exércitos napoleónicos e das ideias saídas da Revolução Francesa, sob a trilogia Liberdade-Igualdade-Fraternidade e a Maçonaria Regular seguiu os caminhos mais institucionais da ligação às monarquias constitucionais, sob a trilogia Sabedoria-Força-Beleza, o espírito prático dos americanos (Nação construída desde o berço da sua Declaração de Independência sobre os pilares da Liberdade-Igualdade-Fraternidade, princípios fundamentais da sua identidade colectiva, que a sua Maçonaria não precisou de reivindicar), pouco virado para as abstracções da Sabedoria-Força-Beleza, erigiu como lema da sua Maçonaria Regular o lema Fraternidade-Auxílio-Verdade (Brotherly Love- Relief-Truth).

A Maçonaria Regular americana desenvolveu-se, assim, sem concorrência de outras orientações, privilegiando a Fraternidade entre os seus membros e a Solidariedade.

Mas as últimas décadas têm revelado problemas. Registou-se, entre os anos 60 e 80 do século passado um acentuado declínio de interesse pela Maçonaria, expresso numa significativa diminuição da entrada de novos elementos. Toda uma geração se desinteressou da Maçonaria! A partir da década de 90 do século XX, a situação começou a alterar-se, o declínio cessou. Um pequeno aumento de novas adesões é registado. A geração do século XXI redescobriu o interesse na Maçonaria! Mas isso veio pôr novos problemas. A diferença de idades entre os "velhos" e os "novos" é importante. A diferença de experiências (os "novos" não viveram a II Guerra Mundial, nem a da Coreia e têm uma vaga ideia da aventura militar no Vietname...; os "velhos" mostram-se avessos a qualquer mudança, ao que quer que altere, por pouco que seja, o que sempre fizeram) e de mentalidades (os "velhos" defendendo com unhas e dentes a concepção da Maçonaria como clube social e fraternal, dedicado à filantropia; os "novos" sedentos de estudo e análise, de obtenção de conhecimentos, de debate e aprofundamento e entendimento das lições dos rituais e dos autores maçónicos, aspirando a um trabalho mais ao jeito da Maçonaria Europeia) cavou um fosso entre estas duas gerações que nem sempre está a ser fácil de ser ultrapassado.

Os conflitos vão surgindo, as incompreensões aparecem. Para quem está de fora, é visível que as tensões se acumulam e que alguma mudança vai ter que haver, de forma a que um novo e saudável equilíbrio, minimamente confortável para ambos os lados, "velhos" e "novos", se alcance. Os mais ponderados, de uma e de outra geração, vão aconselhando calma e paciência e apontando, por um lado, que os "novos" têm muito a ganhar se atenderem à experiência dos mais antigos, ainda que isso implique retardar um pouco os passos da mudança por que anseiam (afinal de contas, os mais velhos já não conseguem andar com a vivacidade da juventude...) e, por outro, que os mais "velhos" têm de conseguir adaptar-se às mudanças e à evolução dos tempos, que o imobilismo não é solução e que o mais assisado será deixar a nova geração conduzir a Maçonaria para os carris do século XXI, ainda que isso lhes cause alguma desorientação e dificuldade na assimilação de novas referências. Os mais ponderados, em suma, assumem que nem o imobilismo nem a mudança brusca são desejáveis.

Esta evolução é, obviamente, um processo lento, doloroso, algo conflituante, por vezes. Mas tem de ocorrer. Quanto mais cada geração conseguir dialogar com a outra, procurar entender os seus anseios e receios e buscar harmonizá-los com os seus próprios receios e anseios, mais fácil a jornada se tornará, menos perigos haverá, menos derivas ocorrerão.

Para já, a Maçonaria Liberal está aproveitando a brecha e acabou de ser anunciada a criação do Grande Oriente dos Estados Unidos da América, em articulação com a "Maçonaria Moderna" (ou Liberal) de França e do resto da Europa e do Mundo ("traduzindo": do Grande Oriente de França e das Potências Maçónicas da Maçonaria Liberal agrupadas na CLIPSAS.

Não me incomoda nada. Há lugar para todos e a Maçonaria Liberal, sendo um ramo diferente da Maçonaria Regular com ela partilha o essencial dos princípios. Em democracias estabilizadas, as diferenças são mais de postura do que de fundo e resumem-se a questões que não devem fazer com que cada uma das tendências incompatibilize ou menorize a outra (aceitação ou não de ateus na Obediência, diferentes modos de intervenção na sociedade, diferentes posturas quanto às organizações mistas e femininas que se reclamam dos princípios maçónicos, e pouco mais, se é que algo mais...). Na Europa, é pacífica a implantação dos dois ramos da Maçonaria e é até existente, nalguns lados, ou encarada, noutros, a colaboração em assuntos profanos ou para o mundo profano, das Obediências de uma e de outra tendência. Cada uma das tendências procura contribuir para melhorar os seus membros e a Humanidade, à sua maneira. Talvez até se revele bom que a Maçonaria Liberal também se implante nos EUA. Talvez cada uma das tendências funcione como catalisador para o crescimento e melhoria da Maçonaria e, por conseguinte, também da outra Obediência. Mas que a Maçonaria Liberal soube aproveitar o momento para "meter uma lança... na América", lá isso é verdade! E só há que registá-lo...

Quanto à Maçonaria Regular americana, se é que de fora algum conselho é admissível, esta evolução será talvez um bom pretexto para reflectir que o imobilismo geralmente só impede mudanças harmoniosas, gerando mudanças tempestuosas e causando efeitos inesperados. Talvez esta brecha explorada pela Maçonaria Liberal na fortaleza Regular que era a Maçonaria Americana seja um exemplo disso mesmo... E, quanto aos mais "novos", talvez devam também ter em atenção que, se é necessário lavá-lo, convém não deitar fora o bebé com a água do banho... Ou, neste caso, será bom não deitar fora os "velhos" juntamente com a água corrente no desaguar da Maçonaria no século XXI...

Entendam-se! Afinal de contas, são Irmãos! Enquanto estão tão entretidos a brigar pelo tabuleiro do jogo, os "primos" já vos entraram em casa e também querem ficar com algumas das peças...

Rui Bandeira

09 maio 2007

O nome da Grande Loja

O texto de JPSetúbal Noticiário da capoeira foi objecto de um comentário algo ácido de memorias, questionando a legitimidade do uso da sigla GLRP pela Grande Loja onde se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, a Loja em que se enquadram os maçons que escrevem este blogue.

memorias é, manifestamente, um elemento ligado à estrutura que se designa de Grande Loja Regular de Portugal e que, segundo se deduz do que escreveu, reivindica o direito ao uso exclusivo da sigla GLRP.

Não vou aqui criticar nem desmerecer daqueles que, honestamente, então tomaram opção diversa da minha. Nem na altura da cisão havida na Maçonaria Regular Portuguesa dei para esse peditório, não o vou fazer agora.

Entendo que cada pessoa tem o direito de exprimir as suas posições, as suas opiniões e, por isso, de forma alguma critico memorias por ter expressado a sua naquele comentário. E distingo a forma do fundo. Aquela não me agradou: achei-a, como em outros comentários que entretanto li de memorias, desnecessariamente azeda e agressiva, nada ilustrativa de como um maçon deve argumentar. Este, merece a explanação do meu ponto de vista sobre o assunto. Esclarecido isto, vamos então ao assunto.

A Maçonaria Regular Portuguesa nasceu do anseio de um grupo de maçons, então integrando a única estrutura do tipo maçónico existente em Portugal, o Grande Oriente Lusitano, de assumirem o estrito cumprimento dos princípios da Maçonaria Regular e de virem a obter o reconhecimento da Comunidade Maçónica Regular Internacional como tal. Foram então esses maçons liderados por aquele que veio a ser o primeiro Grão-Mestre da Maçonaria Regular, Fernando Teixeira.

Sendo princípio inalienável da Regularidade que a constituição de uma potência Maçónica Regular deriva da transmissão dessa qualidade por uma Potência Regular pré-existente, esses maçons constituíram as suas Lojas (entre as quais a Loja Mestre Affonso Domingues) sob os auspícios da Grande Loge Nationale Française (GLNF), única Potência Maçónica Regular existente em França, agrupando essas Lojas num Distrito daquela Grande Loja.

A Maçonaria que se reclama da regularidade tem como um dos seus princípios enformadores o respeito das leis do Estado em que funciona. A legislação em vigor no Estado Português dispõe que, para uma comunidade de interesses ter relevância jurídica, deve estar constituída em associação (ou, eventualmente, fundação).

Em cumprimento da legislação do Estado Português, esses maçons refundadores da Regularidade em Portugal constituíram uma associação civil de direito privado denominada Grande Loja Regular de Portugal.

A seu tempo, a Grande Loge Nationale Française acedeu ao desejo dos maçons regulares portugueses de autonomizar o seu Distrito em Portugal e consagrá-lo como Grande Loja com autoridade exclusiva sobre a Maçonaria Regular em Portugal, com a designação, similar à da associação profana já existente, de Grande Loja Regular de Portugal.

Esta nova Potência Mónica Regular foi reconhecida como tal pela generalidade das suas congéneres de todo o Mundo, designadamente pela UGLE (United Grand Lodge of England) e pelas potências maçónicas americanas (para além, obviamente, da sua Grande Loja Mãe, a GLNF), reunindo assim o consenso do reconhecimento como Potência Maçónica Regular por todas as Potências Maçónicas Regulares chaves do globo (Grã-Bretanha, Estados Unidos e França).

Assim, e sendo Grão-Mestre Fernando Teixeira e Vice-Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho, ficou institucionalizada a Maçonaria Regular em Portugal com uma associação de direito civil e uma Obediência Maçónica internacionalmente reconhecida, ambas utilizando o nome de Grande Loja Regular de Portugal e a sigla GLRP.

Ocorreram então, em finais de 1996, os acontecimentos que vieram a ficar conhecidos pela cisão da Casa do Sino. Para melhor entendimento das suas consequências quanto ao nome da potência Maçónica Regular Portuguesa, importa ter presente alguns detalhes.

Os calendários eleitorais civil e maçónico não são coincidentes. Normalmente, as eleições nas associações civis ocorrem no primeiro trimestre de cada ano. Na Obediência Maçónica Regular, a eleição do Grão-Mestre sucessor ocorreu no final do segundo trimestre de 1996 e a sua posse no trimestre imediato. Por outro lado, a Casa do Sino, em Cascais, então a sede da Maçonaria Regular Portuguesa, fora arrendada em nome pessoal pelo então Grão-Mestre Fernando Teixeira.

No final do ano de 1996, alguns elementos da GLRP, discordando do Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho, e beneficiando do beneplácito do anterior Grão-Mestre, Fernando Teixeira, ocuparam a Casa do Sino e declararam que consideravam destituído o Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho.

A maioria dos maçons e das Lojas, concordantes ou não com o estilo de Luís Nandin de Carvalho, tendo ou não votado nele na eleição para Grão-Mestre, não acompanhou este pronunciamento, considerando-o violador das regras da Maçonaria Regular (eu permito-me acrescentar: das regras da maçonaria, seja ela Regular ou Liberal...), e, concordando ou discordando de Luís Nandin de Carvalho, tendo ou não votado nele, manifestou o reconhecimento pela sua autoridade de Grão-Mestre da Maçonaria Regular Portuguesa, legítima e regularmente eleito e instalado, e submeteu-se à sua autoridade, rejeitando o pronunciamento.

Os ocupantes e quem os apoiou declararam vago o cargo de Grão-Mestre e vieram a eleger, entre si, outrem a quem passaram a declarar ser o seu Grão-Mestre.

Estava consumada a cisão!

Colocou-se, porém, um problema jurídico: apesar de a maioria dos maçons regulares e das Lojas Regulares se ter mantido sob a autoridade do Grão-Mestre eleito e instalado, devido à falta de sincronismo dos calendários eleitorais civil e maçónico, os dirigentes em funções da associação civil denominada Grande Loja Regular de Portugal eram elementos que tinham apoiado a ocupação da Casa do Sino e se tinham pronunciado pela destituição do Grão-Mestre a que a maioria (concordando ou não com o seu estilo, tendo ou não votado nele) de maçons e de Lojas Regulares manteve a sua lealdade.

Para a maioria dos maçons que se mantiveram fiéis ao Grão-Mestre eleito e instalado, havia duas hipóteses: entabular um longo, desgastante e desprestigiante litígio nos tribunais do Estado sobre quem tinha direito de gerir a associação civil denominada Grande Loja Regular de Portugal ou, pura e simplesmente, não entrar em disputas estéreis e constituir uma outra associação civil que desse o enquadramento institucional civil e legal à Obediência Maçónica Regular que fora posto em crise pelo pronunciamento dos que optaram por rejeitar a autoridade maçónica Regular do Grão-Mestre eleito e instalado.

Optaram por não entrar em dolorosos, desgastantes e inúteis confrontos e criaram a associação civil denominada Grande Loja Legal de Portugal. Esta associação civil passou a enquadrar legalmente a Obediência Maçónica internacionalmente reconhecida, até aí, como Grande Loja Regular de Portugal.

Quer em virtude dessa continuidade, quer pelo peso sentimental do nome que também eles tinham ajudado e habituado a respeitar e a reconhecer, decidiram que a sua designação, enquanto Obediência Maçónica e estritamente nesse âmbito, passaria a ser Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, utilizando comummente a sigla GLLP/GLRP.

É esta a Potência Maçónica Regular que manteve o reconhecimento internacional como tal, seja da UGLE, seja da GLNF, seja das Potências Maçónicas Americanas, seja da generalidade das Potências Maçónicas Regulares de todo o Mundo

Resumindo: existe (creio que existe, admito que existe) a associação civil Grande Loja Regular de Portugal, controlada pelos que, em 1996, se subtraíram à autoridade maçónica do Grão-Mestre então eleito e empossado; existe a associação civil Grande Loja Legal de Portugal, que enquadra a Potência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal em Portugal. Esta, para evitar confusões, passou a usar a denominação Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Nunca, em termos civis ou profanos, desde a cisão de 1996, a entidade que enquadra legalmente a Potência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal em Portugal usou ou usa outra denominação que não a de Grande Loja Legal de Portugal. Consequentemente, nunca usurpou ou usurpa o nome de outra associação.

Em termos estritamente maçónicos, por definição subtraídos e independentes dos poderes do Estado, a Obediência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal passou a designar-se Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, abreviadamente GLLP/GLRP, constituindo o último conjunto de quatro letras a homenagem e a ligação à sua designação original, que teve de alterar em virtude de eventos dolorosos protagonizados por elementos que tomaram opções diversas dos que se mantiveram fiéis ao que entenderam ser o espírito e a prática da Regularidade Maçónica.

A Loja Mestre Affonso Domingues e os seus obreiros orgulhosamente enquadram-se na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP e aí seguem o seu caminho na busca do seu aperfeiçoamento.

À Loja Mestre Affonso Domingues e aos seus obreiros nenhuma mossa faz, nenhum incómodo traz, que outros, que fizeram opções diferentes das deles, usem, na organização em que se agrupam, o nome que entenderem. Essa é uma contenda que não temos, que não nos interessa, que não nos motiva e que não nos afecta! O que importa não é a designação que se usa, o que interessa é o trabalho que se faz, o projecto que se segue, o caminho que se trilha!

Desejamos sinceramente que ninguém busque criar conflitos, ou levantar contendas, ou simplesmente expressar azedume a propósito de nomes ou designações. Para esse peditório, repito, não demos, não damos e nunca daremos!

E, se alguém tiver dúvidas, pergunte a quem foi da Loja Mestre Affonso Domingues e teve a opção diferente da maioria da Loja o que, então, todos nós, combinámos! E ficará a saber que, para todos, a maioria que ficou e aqueles que se foram, quem foi da Loja Mestre Affonso Domingues é sempre da Loja Mestre Affonso Domingues, esteja onde esteja, esteja com quem esteja, pense como pensar, opte como optar! Foi, é e será sempre um dos nossos! Que fique esclarecido e que ninguém tenha disso dúvidas!

Portanto, não vale a pena quem quer que seja procurar vir a este blogue relançar pretensas rivalidades. Da nossa parte, não terá quem as sustente. O que nós desejamos é, tão simplesmente, que cada um siga o seu caminho e que seja feliz nele. O que pedimos é, tão só, que não nos venham importunar no nosso caminho. E, se algum dia, os nossos caminhos se voltarem a cruzar e a unir, tanto melhor. A isso eu chamo, também, ser maçon!

Rui Bandeira

08 fevereiro 2007

Regularidade em Maçonaria

Há dias lancei um repto e um comentador solicitou mais informações sobre um tema determinado, ou melhor sobre uma questão associada a um tema.

De então para cá foram já publicados vários textos sobre este assunto e vários comentários feitos. De qualquer forma e com algum atraso aqui vai.

O tema : Regularidade
a questão :

"Caro josesr, o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proíbam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de Coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.
comentário assinado por Escriba "

O leitor pergunta essencialmente sobre questões de politica relacional e institucional maçónicas, do que sobre a regularidade.

No Inicio não havia regularidade ou irregularidade, havia Maçonaria. Com os ideais de 1789, inicia-se um movimento maçónico em França que abdica da imprescindibilidade de crença num ente superior - Grande Arquitecto.

Os movimentos maçónicos entretanto constituídos por esse Mundo fora regiam-se todos pelos mesmos princípios, pelo que o aparecimento desta nova corrente, que aos olhos do Maçonaria de então cometera uma irregularidade, provocou a necessidade de decidir o alinhamento. Ou seja manter como estava ou aderir à nova forma.
Aparecem as cisões, porque dentro de cada obediência havia pessoas que queriam uma coisa e outras, outra.

Aparece então o movimento irregular, sendo que o seu nome deriva apenas da Irregularidade original.

Por oposição as Obediências que se mantêm fiéis aos princípios iniciais passam a ser denominadas Regulares.

Estão então criados dois movimentos alimentados por fundos comuns, mas com filosofias distintas.

É normal, creio eu, que os movimentos privilegiem as relações com os da “sua cor”. E tão normal é que ganhou corpo uma nova figura, a do reconhecimento.

O reconhecimento não é mais que ser aceite pelos seus pares como um igual, dentro da linha filosófica seguida, seja ela Regular ou Irregular.

Segundo a minha opinião criaram-se, emergiram melhor dito, 2 pólos centralizadores do reconhecimento, a Grande Loja Unida de Inglaterra (regular) e o Grande Oriente de França (irregular).

Com o andar do tempo, e o aparecimento da Maçonaria Americana, USA, apareceu um terceiro pólo de reconhecimento. A Maçonaria Americana sendo regular, articula as suas políticas de reconhecimento com a Inglaterra, sendo que todavia pode reconhecer Potencias que a Inglaterra ainda não tenha reconhecido (geralmente a Inglaterra é a ultima a reconhecer).

Feita esta pequena introdução, importa aqui clarificar o que são relacionamentos institucionais.

Poderão haver dois tipos de relacionamento institucional. Os de ordem politica e os de ordem filosófica/ritual

Os de ordem politica (chamemos-lhe assim), a ocorrer, ocorrerão normalmente entre as mais altas esferas das instituições, de forma mais ou menos explícita. Este tipo de contactos não tendo qualquer repercussão para a vida interna da organização, pode fazer muito sentido na preservação da imagem pública da Maçonaria, pois quem ataca não faz distinção entre correntes filosóficas.

Os de ordem ritual. Ora penso que é mais sobre estes que o leitor está interessado.

OS rituais seguidos pelas obediências, independentemente dos ritos, estão de acordo com a linha filosófica que optaram. Regular ou Irregular conforme seja requisito a crença num Ente Superior – Grande Arquitecto ou não seja requisito.

Mas interliguemos aqui a Maçonaria com a história das religiões. Considerando um Cisma o advento da Irregularidade, poderemos compara-lo com os variados cismas que foram existindo ao longo dos séculos.

Comecemos pelo primeiro, o advento do Cristianismo. O aparecimento do Cristianismo rompe com a religião Judaica. E apesar dos fundamentos serem muito similares, um Judeu não pode pregar numa Igreja nem um Padre pode fazer as vezes de um Rabino.

Alguns anos mais tarde aparecem as Igrejas Anglicana e Protestante. Mais recentemente temos as confissões Evangélicas. Todas estas são Cristãs, seguem um principio de base similar, mas são todas diferentes.

Os Oficiantes de cada uma apenas Oficiam na respectiva Igreja/confissão.

As hierarquias de cada uma são definidas por métodos próprios, e cada qual tem a liberdade de interpretar os mesmos livros de forma distinta, pregando coisas diferentes. Sendo mais ou menos tolerantes.

As concelebrações são coisas muito raras e apenas em ocasiões especificas, sendo que na verdade não são concelebraçoes, mas sim celebrações paralelas justapostas no tempo e espaço.

Ora a Maçonaria não é diferente.

Todavia a pergunta é, porque razão não se juntam ritualmente, ou melhor porque razão é proibido que isso aconteça.

A resposta é minha, e confesso que não fui ler nada sobre este tema, e como tal obriga-me a mim. Pode até ser um erro colossal, mas é a minha e penso que tem lógica.

Saber a razão inicial da proibição parece-me tarefa ciclópica, e só possível se pudéssemos viajar no tempo e ir ouvir o que foi dito pelos dignitários que a decretaram. Entre o que é dito publicamente e a verdadeira razão pode ir uma diferença substancial.

É certo que o objectivo era marcar a diferença. Mas a diferença primordial se bem que importante era ténue. Os espíritos da altura, época de revoluções e de descobertas de princípios que para nós hoje são dados adquiridos, eram talvez menos contemporizadores.

A forma tradicional de evitar, foi sempre a proibição. E ainda hoje voltando atrás as religiões o fazem de forma discreta mas fazem ao exigirem processos de conversão (mais ou menos complicados) para celebrarem casamentos de acordo com a “verdadeira fé”.

Ora em períodos conturbados, as indicações dadas pelas “chefias” devem ser claras.
“Não é permitido” é substancialmente mais claro do que , “ poderão eventualmente estar presentes desde que salvaguardados …… “ sem contar que desta forma ao proibir se preservava o poder de Reconhecer.

A não miscigenação preservaria os valores impolutos, e permitiria claramente considerar os grupos como dissidentes.

Ora hoje quase 3 séculos depois, a proibição passou a questão filosófica e cimentou a diferença.

Hoje não creio que seja possível, sem grandes modificações, que a junção das correntes acontecer. Todavia no futuro quem sabe.

Todavia e como Rui Bandeira mencionou, há algumas coisas a serem tidas em conta. Do ponto de vista da Regularidade é aceite como Maçonaria embora diferente a praticada pelos movimentos Irregulares, no caso português o GOL.

E na prática, há uma circunstância em que Maçons Regulares e Irregulares se reúnem ritualmente e é aceite (na generalidade) pelas estruturas. Esta circunstancia é infelizmente a Cadeia de União Fúnebre quando efectuada publicamente.

E por aqui me fico por enquanto. Sei que não disse nada de muito diferente do que o Rui Bandeira já escreveu, mas talvez a abordagem seja algo distinta.
JoseSR

05 fevereiro 2007

A Regularidade Maçónica

No seu texto Breve análise do Blogue, JoséSR sugeriu aos visitantes do mesmo que, no espaço para comentários, indicassem assuntos que gostassem de ver aqui tratados. Escriba não se fez rogado e escreveu: Gostaria de por aqui ver abordada e participada pelos internautas, a questão da regularidade. É com enorme tristeza e pesar que constato o que no nosso país se passa neste dominio. Instado a esclarecer a razão da tristeza, acrescentou: o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proibam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.

A prioridade no desenvolvimento cabia ao JoséSR, já que o assunto fora suscitado em comentário a um texto seu. Porém, o JoséSR não terá tido ainda disponibilidade para o fazer. Como não é conveniente deixar passar mais tempo sem desenvolver o assunto proposto, sob pena de o Escriba ficar defraudado na sua expectativa, avanço já eu.

Uma advertência, porém, não quero deixar de formular, talvez desnecessariamente: todas as opiniões que neste blogue deixo consignadas vinculam-me apenas a mim, maçon livre de uma Loja livre, e a mais ninguém, pois sou porta-voz apenas de mim mesmo.

Escriba levantou, não uma, mas três questões diferentes: a Regularidade, o Reconhecimento e o Relacionamento das e entre as Obediências Maçónicas. Interligar-se-ão, influenciar-se-ão, sem dúvida. Mas são questões diferentes e assim devem ser tratadas. Hoje, tratarei apenas da primeira.

Denomina-se de Maçonaria Regular a Maçonaria que segue os princípios da Maçonaria Inglesa, especificamente da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE). Tais princípios estão definidos nos doze Landmarks já neste blogue apresentados e comentados. Deles se retira estarmos perante uma Maçonaria deísta (é elemento essencial a crença num Ente Criador), independente de e aceitando todas as religiões, com o objectivo do aperfeiçoamento moral e espiritual dos seus membros através do método maçónico e da interacção individual com o grupo em que se está inserido e só mediatamente influenciando a Sociedade, através do exemplo dos maçons, isto é, sem intervenção política directa e organizada. Em Portugal, esta tendência está corporizada na Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal (GLLP / GLRP). Outras organizações de menor expressão, originadas de cisões desta Obediência se reclamam do mesmo ideário.

À falta de melhor designação, designa-se por Maçonaria Liberal (evito aqui o adjectivo de Irregular, que pode ser interpretado como tendo uma carga negativa) a tendência que prossegue o ideário desenvolvido pelo Grand Orient de France desde a época da Revolução Francesa, assente sobretudo na trilogia de princípios Liberdade-Igualdade-Fraternidade, na promoção da Democracia e das Ideias Democráticas. Esta tendência não considera essencial a crença num Criador, admitindo agnósticos e ateus. Busca o aperfeiçoamento da Sociedade através da acção dos seus membros, que devem, para tal, aperfeiçoar-se moralmente. Não rejeita, antes favorece, a intervenção política. Em Portugal, esta opção é a seguida pelo Grande Oriente Lusitano (GOL).

Estas duas correntes são realidades e organizações diferentes e com diferentes propósitos. É certo que em muito os respectivos caminhos são comuns (o método de evolução, o tipo de organização, as raízes simbólicas, a proactividade pelo aperfeiçoamento). Mas também de forma não despicienda tais caminhos divergem: enquanto uma baseia todo o seu ideário na crença num Criador, como base e enquadramento para o aperfeiçoamento dos seus membros, objectivo essencial buscado (sendo tudo o resto, incluindo a evolução da Sociedade uma consequência mediata), a outra prescinde dessa crença (mas não a hostiliza, aceitando sem problema crentes e, tal como a Maçonaria Regular, integrando a tolerância perante as várias opções religiosas no seu ideário) e prossegue o aperfeiçoamento dos seus membros como meio para atingir o objectivo essencial, a transformação da Sociedade, a sua evolução e aperfeiçoamento, de acordo com a matriz democrática.

Ambas as tendências são igualmente respeitáveis. Têm - repito - muito em comum, quer na forma, quer na substância. Têm, no entanto, princípios essenciais diferentes e objectivos diversos. São, pois, realidades diversas, embora em muito semelhantes. Percorrem e partilham o mesmo caminho, ao longo de grande parte da jornada. Mas querem chegar a pontos diferentes. Ambas são romeiras. Só varia o destino de romagem.

No meu ponto de vista, não é melhor nem pior uma do que outra. São, simplesmente, diferentes. Ambos os caminhos são louváveis. Um convirá mais a uns; o outro a outros.

Não há, assim, uma mera questão administrativa a dividir Irmãos. Reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra.

Eu insiro-me na Maçonaria Regular, prossigo e aceito os seus princípios. É este o meu caminho, o que se adequa a mim. à minha mentalidade, à minha maneira de ser, de pensar, de reagir. Outros inserem-se noutra tendência maçónica. O seu caminho é igualmente meritório e, porventura, para a mentalidade, a maneira de ser, de pensar e de reagir de quem o trilha, será mais profícuo.

Se os maçons, de qualquer tendência, souberem assumir a sua própria individualidade e as dos demais, se aplicarem a si próprios e aos demais maçons, qualquer que seja a sua tendência, os princípios que professam, ser maçon Regular ou Liberal não será nunca um factor de divisão, antes e tão só o que é: um adjectivo caracterizador da forma que escolheu para procurar ser melhor e ajudar a Sociedade a ser melhor.

Rui Bandeira