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14 julho 2008

A Continuidade - Vem aí o 19º Venerável

Este Sábado dia 12 a Loja Mestre Affonso Domingues, elegeu os seus proximos Veneravel Mestre e Tesoureiro.

Numa votação sem qualquer sobressalto, foi assegurada a continuidade da Liderança da Loja.

Para Tesoureiro foi eleito o Irmão António M., espera-o um cargo dificil e ingrato, se bem que o estado das contas se encontre bom e os sistemas de controlo a funcionar, mas que ele conseguirá cumpri-lo nao temos qualquer duvida.

Para Veneravel, e será o 19º Veneravel da Loja, foi eleito o Irmao João F., a ele a dificil tarefa de ser o primeiro Veneravel da Idade adulta da Loja.

A tomada de posse ocorrerá em Setembro e nessa altura disso daremos conhecimento aqui.

Aos Irmãos eleitos as nossas sinceras felicitações e votos de sucesso.


José Ruah

27 maio 2008

A sementeira deste ano


Na Loja Mestre Affonso Domingues, temos por hábito, sempre que os trabalhos decorrem nos segundo ou terceiro grau e, portanto, os Irmãos de grau inferior têm de se ausentar da sala onde decorre a reunião, aproveitar esse tempo para providenciar a esses Irmãos uma sessão de instrução. A instrução dos Aprendizes é da responsabilidade do 2.º Vigilante e a dos Companheiros da do 1.º Vigilante. Mas obviamente que, nestas circunstâncias, estando em simultâneo uma reunião da Loja a decorrer, quer um, quer outro, têm de assegurar o exercício das respectivas funções, pelo que o Venerável Mestre designa um Mestre da Loja para sair da sala juntamente com os Aprendizes e assegurar essa sessão de instrução e, se for caso disso, um outro para acompanhar e instruir os Companheiros.

Numa das últimas sessões, estava agendada a passagem dos trabalhos ao grau de Companheiro, para que um Irmão dessa Oficina apresentasse a sua prancha de proficiência.

Eu já conhecia essa prancha, pois o Venerável Mestre tinha-me facultado antes da sessão a sua leitura, para que eu pudesse dar-lhe um parecer sobre determinada questão que a mesma levantava. Voluntariei-me, assim, para assegurar a sessão de instrução aos Aprendizes presentes.

Estavam presentes três Aprendizes, dois dos quais tinham sido iniciados na sessão anterior e o outro não muito mais antigo. De um dos recém-iniciados fui um dos padrinhos, isto é, um dos que avalizaram a sua candidatura e, assim, deve considerar-se directamente responsável pela sua boa integração no grupo.

A meia hora, quarenta minutos durante a qual a Loja trabalhou no grau de Companheiro e, noutra sala, nos dedicámos, eu e os três Aprendizes, à instrução do grau, passou sem darmos por isso! Rapidamente o diálogo se estabeleceu, as ideias fluíram, as análises surgiram, o trabalho rendeu! Deu para ver que estava perante um grupo de Aprendizes de alta qualidade e capacidade.

Penso que não me engano e a Loja tem este ano uma sementeira que vai dar uma colheita vintage”...

E eu, todo babado, apetece-me logo vir aqui anunciá-lo!

Rui Bandeira

19 maio 2008

Da linha e do percurso

No texto A "linha de sucessão", referi que presentemente a prática na Loja Mestre Affonso Domingues tende a estabelecer que o exercício do ofício de Venerável Mestre seja precedido do exercício sequencial de cinco outros ofícios: Tesoureiro, Secretário, Mestre de Cerimónias, 2.º Vigilante e 1.º Vigilante.

No texto Percurso a Venerável, o José Ruah explanou um entendimento ligeiramente diferente: o percurso para o exercício do ofício de Venerável Mestre resume-se à execução sucessiva, no biénio anterior, dos ofícios de 2.º e 1.º Vigilante. No seu entendimento, o acesso ao exercício do ofício de 2.º Vigilante deve ser precedido do prévio exercício, não necessariamente sequencial ou consecutivo, dos ofícios de Secretário e/ou Tesoureiro, Mestre de Cerimónias e Hospitaleiro.

A diferença de entendimento não é grande. Resume-se a três pontos: 1. Enquanto a prática actual da Loja prevê o exercício sucessivo dos ofícios de Tesoureiro e Secretário, o José Ruah admite isso mas também que só apenas um desses ofícios seja exercido; 2. O José Ruah entende dever também previamente ser exercido o ofício de Hospitaleiro, o que não é prática da Loja; 3. O José Ruah entende que a "linha de sucessão" se resume aos ofícios 2.º Vigilante-1.º Vigilante-Venerável Mestre e que o acesso ao ofício de entrada nesta "linha de sucessão, o de 2.ª Vigilante, deve ser precedido de um percurso de obtenção de qualificações, não necessariamente consecutivo nem segundo uma específica ordem, enquanto que a prática actual da Loja é estender a "linha" (ou o percurso) a seis ofícios sequencialmente exercidos: Tesoureiro-Secretário-Mestre de Cerimónias-2.º Vigilante-1.º Vigilante-Venerável Mestre.

Estas diferenças são menos importantes e marcadas do que a sua enunciação pode fazer crer. Acho mesmo que se resumirão apenas a uma: a inclusão ou não no percurso do ofício de Hospitaleiro - e isto se o pensamento do José Ruah quanto a este ponto não evoluiu desde 2006, como admito que tenha sucedido.

Quando o José Ruah admite que possa ser pré-requisito para a entrada na "linha curta de sucessão" o exercício de apenas um ou dos dois ofícios de Tesoureiro e Secretário, estará certamente a pensar nas situações em que Lojas se organizam tendo como princípio a maior estabilidade possível no exercício de um ou de outro deste ofícios. Efectivamente, casos há em que Lojas procuram manter o mesmo obreiro no exercício do ofício de Tesoureiro ou de Secretário tanto tempo quanto for possível e os titulares do mesmo a tal estejam dispostos, procurando obter com isso evidentes ganhos de eficiência administrativa. Nesses casos, obviamente que não será exigível o exercício do ofício prolongadamente assegurado pelo mesmo obreiro como pré-requisito para entrar na "linha de sucessão curta". Porém, não é essa a opção que tem sido seguida na Loja Mestre Affonso Domingues, pelo que é possível exigir-se o exercício destes dois ofícios para se aceder aos ofícios que constituem as Luzes da Loja (os Vigilantes e o Venerável Mestre).

Quanto à questão do Hospitaleiro, admito que porventura haja uma evolução do pensamento do José Ruah, em função das conclusões a que chegámos na Loja: por um lado, a essencialidade e importância deste ofício; por outro a conveniência de ser exercido por um obreiro experiente; logo, preferencialmente dever esse ofício ser exercido por um antigo Venerável.

Quanto à dicotomia "linha de sucessão longa" / "linha de sucessão curta" e sequencialidade e consecutividade ou não do exercício dos ofícios que antecedem o ofício de 2.º Vigilante, a diferença é mais aparente do que real, numa Loja estabilizada. Falar-se em "linha de sucessão longa" ou "linha de sucessão curta" antecedida do exercício pré-qualificativo de dois ou três ofícios, na prática é a mesma coisa. A diferença é pura e simplesmente semântica. Por outro lado, uma vez que cada ofício é exercido por um ano, na prática segue-se inevitavelmente uma progressão. Se se entender ser pré-requisito para se ser 2.º Vigilante que o obreiro tenha antes exercido, por exemplo, os ofícios de Secretário, Tesoureiro e Mestre de Cerimónias, ou se define uma ordem que é seguida ou uma altura chegará em que alguém não tem o pré-requisito integral.

A posição que o José Ruah apresenta tem o mérito de ser mais cautelosa e de ser um bom guia para resolver imponderáveis. Não concordo que seja errado ou um mal pretender-se ter a antecipação de um horizonte de cinco anos quanto a quem, nesse período, sucessivamente exercerá o ofício de Venerável Mestre. Mas reconheço que, quanto mais longo for o percurso, maiores serão as probabilidades e maior será a frequência de haver imponderáveis, doenças, impossibilidades profissionais, etc., que impeçam um obreiro de prosseguir esse percurso, obrigando a Loja a soluções alternativas. Dever-se-á então procurar assegurar, na medida do possível, a "linha de sucessão curta", tal como indicada pelo José Ruah.

Resumindo: a prática actual da Loja Mestre Affonso Domingues é a que eu enunciei; enquanto este entendimento se mantiver, esperavelmente será seguida; sempre que houver (e seguramente que haverá, provavelmente com alguma frequência) percalços ou abandonos ou impossibilidades, o tornear do problema segundo a "linha de sucessão curta" enunciada pelo José Ruah é, no meu entender, uma boa solução. E, quando também com o recurso a ela não for possível solucionar o caso concreto, o bom senso indicar-nos-á o melhor caminho...

Rui Bandeira

16 maio 2008

Percurso a Venerável

Volto !!! - espero.

O Rui deixou-nos com mais um brilhate texto sobre a " linha de sucessão", no qual nos apresenta a sua visão do fenomeno da continuidade de uma Loja.
Referiu-se a uma intervençao minha, originalmente proferida em Loja em 27/7/2006 , já lá vao 2 anos, e que tenho vindo a apresentar em outras Lojas.
No meu comentário ao texto do Rui abordei rapidamente o tema na minha perspectiva. Todavia e para melhor enquadrar o que disse publico, com alguns cortes necessários, o texto apresentado em Loja.



Cargos de Oficial e Percursos de Progressão
REAA - Lojas Azuis


Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiro, destes nem todos chegarão a Mestre Maçon. Seguramente que apenas alguns dos Mestres chegarão a Venerável Mestre . E Esta deve ser uma das regras fundamentais de qualquer Loja, devendo ser comunicada aos aprendizes no seu primeiro dia.

O Cargo de Venerável não é o fim último de uma “carreira” dentro da Loja. É um cargo ao qual se deve chegar porque se crê que naquele momento aquela pessoa pode acrescentar à Loja.

Como tradicionalmente a escolha do Venerável é feita com 2 anos de antecedência, ou seja no momento da nomeação do 2º Vigilante, a Loja prepara-se com tempo.

No Nosso Rito temos os seguintes cargos a serem desempenhados em cada ano Maçónico.

Vigilantes ; Secretário ; Orador ; Tesoureiro ; Experto ; Mestre de Cerimónias ; Hospitaleiro ; Guarda Interno ; Organista

Temos assim cargos eminentemente rituais, outros administrativos, uma terceira categoria de natureza mista, e uma quarta que chamarei outros.

Sem dúvida que o Secretário e o Tesoureiro são cargos administrativos, como não há duvida que M. Cerimónias, Experto, Hospitaleiro, Guarda Interno são de cariz ritual.

Os Vigilantes embora tendo um peso ritual importante, têm também uma carga administrativa associada, e têm ainda a função de Ensino, por isso não são bem uma coisa nem outra, são corolários.

O Organista é um caso à parte, tem uma óbvia e importantíssima função ritual, e tem uma função espiritual fundamental, pois com a sua mestria pode tornar as penosas sessões mais ligeiras.

E quanto ao Orador?

Passando caso a caso

Secretario: tem como função primordial guardar a memória da Loja e tratar dos assuntos de correspondência e comunicação. É por excelência o auxiliar do VM no que ao sector administrativo diz respeito.

Tesoureiro: como o próprio nome indica é aquele que guarda e administra os bens pecuniários da Loja.

Mestre-de-cerimónias: Usando um termo futebolístico é o Patrão do Rectângulo. Age às instruções do VM, tendo no entanto autonomia para circular sem autorização para resolver problemas e orientar trabalhos.

Hospitaleiro: Tem como função principal o acompanhamento dos Irmãos nas alegrias e nas tristezas, representando para o efeito a Loja, sendo que ritualmente lhe cumpre a função de recolha dos obulos

Vigilantes: São os vértices do Triangulo simbólico que comanda a Loja. Têm a seu cargo as colunas, e a passagem do Saber.
Têm a seu cargo, conjuntamente com o VM a representação externa da Loja, sendo-lhes dados poderes para em Nome da Loja defenderem as posições da Loja nos fóruns onde têm assento.
Têm como função o auxílio ao VM na preparação das sessões, sendo ainda o primeiro filtro dos trabalhos apresentados pelos Irmãos integrantes das respectivas colunas (entenda-se Aprendizes e Companheiros)

Guarda Interno: Para alguns o símbolo da Humildade a que se submete o Mestre que já foi Venerável. Aparentemente pouco participante nas sessões, tem por missão fundamental anunciar que alguém bate à porta e de que modo o faz, tendo que saber para tal quando deve fazer esse anúncio. É o primeiro a verificar quem se apresenta, sendo que para tal o seu conhecimento dos ritos e dos graus é fundamental. O conhecimento adquirido é de grande importância.

Experto – A ele estão confiadas tarefas importantes de condução de cerimónias de Iniciação, Aumento de Salário e Exaltação. Estando ainda acometidas as tarefas de ensino no decurso destas cerimonias.
Tem em alguns casos a prerrogativa de se deslocar sem a necessidade do M. Cerimónias. Tem ainda como missão identificar irmãos de outras lojas ou obediências, prestando nisso auxílio ao Guarda Interno.

Estão assim vistas as funções em Loja quer as administrativas quer as Rituais.

E Quanto ao Orador?

O Orador não foi esquecido. Mas é na minha opinião o Caso que não se enquadra.
Não é definitivamente um cargo Administrativo, mas sanciona o trabalho administrativo.
Não é definitivamente um cargo Ritual mas sanciona múltiplos aspectos rituais.
Não é definitivamente um cargo de Gestão da Loja, mas sanciona a gestão.
É o único que pode falar depois do Venerável Mestre.
É o único que pode falar quando achar que para tal há razão, nomeadamente em questões de regularidade e cumprimento dos regulamentos.

São-lhe pedidas orações de sapiência, sobre o que se passa em Loja independentemente do grau.
É, deveria ser, aquele que verifica as pranchas de Aprendizes e Companheiros para aferir se o seu conteúdo está consentâneo com o grau em que vai ser apresentado.
Em meu entender, deveria também fazer prévia verificação das pranchas de Mestre, pois estes muitas vezes levados pela vontade de ensinar quebram barreiras.

O Orador tem que saber tudo. É uma espécie de corolário dos demais Oficiais.

Vejamos

Como pode sancionar trabalhos administrativos, rituais e de gestão se não souber como fazê-los.
Como pode ajudar à condução dos trabalhos se não tiver experiência para tal.
Como pode ser o guardião da LEI se não for um mestre experimentado.

Ao longo destes anos que por aqui ando, tenho vindo a pensar sobre o que deve ser uma Loja, e como devem circular os Irmãos nela.

Estou certo que opinião sobre este assunto há pelo menos uma por cada cabeça pensante.

O percurso até ao Veneralato, para além do desempenho dos cargos de Vigilantes, deve incluir uma vertente administrativa e uma ritual.

Tentando dar uma sequencia a este percurso o mestre deverá desempenhar, não necessariamente de forma consecutiva os seguintes cargos:

Secretário e/ou Tesoureiro
Mestre de Cerimónias
Hospitaleiro

Estará então apto a entrar na sequência Sul – Ocidente – Oriente.
Depois de ser VM não há contestação ao passar um ano enquanto PVM e outro como GI.

Quanto ao Experto e ao Orador cargos fundamentais, deveriam ser a sequência lógica após o Guarda Interno, num novo percurso de Ocidente a Oriente, para finalmente terminar nas colunas.

E se este percurso não for seguido porque pode haver indisponibilidade falta de tempo, ou compromisso, pelo menos que o Orador seja um antigo Venerável pois os anos de trabalho permitirão que seja o repositório da experiência acumulada.

Todavia é necessário entender que a conclusão a que chego não é a de que a sucessão começa no início. Isso seria por a escolha do VM a 5 ou mais anos de distância o que é muito, tanto mais que nem sempre os Irmãos podem ter o compromisso de seguir uma sequência tão grande sem falhas.

O que quero dizer é que o capital de experiência deve ser aproveitado ao máximo pois uma loja só consegue o seu equilíbrio, e mais uma vez no meu ponto de vista, se tiver sempre um apreciável número de antigos Veneráveis activos.

Este equilíbrio que um “conselho Senatorial” pode proporcionar tem que ser entendido como apenas como isso e não como um Conselho no lugar do Venerável.

No entanto nada disto tem qualquer valor ou utilidade se a Loja não cuidar da renovação, iniciando, passando a Companheiro, elevando a Mestre mas sobretudo durante este percurso apostando na formação.

Esta formação deve ser mais vasta que a simples presença em sessão, deve incluir sessões instrução formais quer dentro do templo, quer fora do templo.

Os vigilantes ao terem que fazer essas sessões instrução, terão eles próprios que se preparar e que estudar, e com isso carregarão o seu lastro para o desempenho da função de Venerável Mestre para a qual serão chamados num futuro próximo.

O sucesso do percurso está, de facto, ligado ao Homem em si, mas está muito mais ligado à capacidade da Loja de suprir quaisquer defeitos ou falhas e permitir o sucesso daqueles que por feitio ou personalidade são um pouco menos carismáticos, e também ter a capacidade de mitigar as acções daqueles que são muito carismáticos.

Disse acima que o Venerável deverá acrescentar à Loja. Acrescentar significa continuar um projecto existente e não fazer um projecto próprio. Apenas a Loja deverá ter um projecto para o qual contribuem todos incluindo o Venerável.

Não tendo por objectivo estabelecer uma tese, e daí uma doutrina, penso ter deixado aqui alguma matéria de discussão, ou pelo menos de reflexão.
José Ruah

15 maio 2008

A "linha de sucessão"

Já em vários textos que publiquei no blogue, o último dos quais o dedicado ao ofício de Experto, fiz ocasionais referências à "linha de sucessão". Convém explicar em que consiste e como funciona.

A "linha de sucessão", que eu saiba, não tem apoio formal ou regulamentar em qualquer norma de qualquer jurisdição maçónica. Não está prevista com carácter de obrigatoriedade em nenhum lado. No entanto, em muitas jurisdições maçónicas é observada a prática da "linha de sucessão" no preenchimento dos ofícios, quer de Loja, quer mesmo de Grande Loja. Consiste no estabelecimento informal de um percurso de ofícios que deve ser sucessivamente assegurado por um maçon, como que ascendendo numa hierarquia, até ascender ao ofício de maior responsabilidade numa Loja, o de Venerável Mestre, ou numa Grande Loja, o de Grão-Mestre.

Na GLLP/GLRP, não se verificou, até agora, um claro estabelecimento de uma "linha de sucessão". O ofício de Grão-Mestre é exercido por quem for eleito para o cargo. Costuma haver mais de uma candidatura sempre que há eleições. Embora se tenha verificado que existe uma natural vantagem de quem exerce o ofício de Vice-Grão-Mestre na disputa pela eleição, ela decorre da visibilidade do cargo exercido, do reconhecimento de que o braço direito do Grão-Mestre conhecerá melhor os projectos em curso e as estratégias para ultrapassar os problemas existentes, não de uma tácita assunção de um "direito" à eleição. Aliás, algumas eleições foram bem disputadas... E nenhum caminho de acesso ao Vice-Grão-Mestrado se acha, ainda que informalmente, estabelecido. Resumindo: embora não seja uma situação que se possa considerar descartada em termos de evolução futura, na GLLP/GLRP não se mostra, ao contrário do que sucede em muitas jurisdições maçónicas - designadamente Grandes Lojas norte-americanas - instituído, ainda que informalmente, um princípio de "linha de sucessão" para o acesso ao ofício de Grão-Mestre. O que é, no meu entender, muito bom e desejável que assim permaneça.

Já a nível de Loja, o meu entendimento é exactamente o oposto: considero muito vantajoso que se estabeleça e respeite uma "linha de sucessão" para o preenchimento dos ofícios mais exigentes da Loja, culminando no de Venerável Mestre. Baseio esta minha opinião nos excelentes resultados que a Loja Mestre Affonso Domingues tem obtido com a opção pelo estabelecimento desta prática, praticamente desde a sua fundação. A origem desta prática descrevi-a no texto A eleição do Terceiro Venerável Mestre. Desde então, foi sempre seguida, aumentada e aperfeiçoada, sempre sem sobressaltos, sempre de forma aberta e clara, sempre consensualmente.

Ao contrário do que sucede a nível de Grande Loja, em que os obreiros se encontram dispersos geograficamente e com limitações de contactos entre si, exceptuados os existentes entre os obreiros da mesma Loja, uma Loja maçónica tem um número limitado de membros, com um estreito contacto entre si, situação potenciadora de um amplo conhecimento das características de cada um, dos seus pontos fortes e fracos. Estabelecem-se fortes relações de amizade. Tudo o que evite disputas é bem-vindo.

A prática da "linha de sucessão" tem, assim, a grande virtualidade de tornar desnecessárias disputas eleitorais e fortalecer significativamente a coesão da Loja.

Tem, é certo, potencialmente, o perigo de formação de uma "clique" que se auto-perpetue no "poder" da Loja. Mas este perigo é muito limitado e facilmente evitado, quer porque o "poder" da Loja é ilusório e só efectivamente existente na medida em que exista consonância entre o Venerável Mestre e a Loja, quer porque, se se instituísse uma "clique" de poder numa Loja, facilmente os que estavam fora desse "círculo" poderiam resolver o problema: basta juntar sete Mestres para peticionar a constituição de uma nova Loja e deixar os sedentos do poder a ficarem a "mandar"... neles próprios... Uma Loja é um meio ao serviço dos seus obreiros. Quem o esquecer e pretender torná-la algo diverso, não demorará muito tempo a perder as suas ilusões! Infelizmente, se e quando a tentação surge, o preço que se paga, dentro de um prazo não muito longo, é o abatimento de colunas da Loja "ocupada" ou, pelo menos, uma grave crise que obrigará, na prática, à sua lenta e esforçada reconstrução.

No caso da Loja Mestre Affonso Domingues, esse perigo nem nunca esteve sequer no horizonte, até porque a "linha de sucessão" natural e consensualmente criada tem uma importante válvula de segurança...

Originalmente, na Loja Mestre Affonso Domingues, a "linha de sucessão" abrangia as três luzes da Loja. Isto é, o 1.º Vigilante substituía o Venerável Mestre e era substituído pelo 2.º Vigilante. Mais tarde - com clareza a partir do mandato do décimo quarto Venerável Mestre -, alargou-se até ao Orador e, muito rapidamente, nos mandatos seguintes, até ao Secretário e ao Tesoureiro.

No mandato do actual Venerável Mestre, este tomou a decisão, aliás na sequência de uma sugestão nesse sentido avançada pelo José Ruah e consensualmente assumida pelos demais obreiros, de substituir, na "linha de sucessão", o Orador pelo Mestre de Cerimónias.

Assim, presentemente - e, se não houver motivos para mudar, espero que por muito tempo - um obreiro, antes de ser eleito pelos Mestres da Loja para exercer o ofício de Venerável Mestre, exerce, sucessivamente, os ofícios de Tesoureiro, Secretário, Mestre de Cerimónias, 2.º Vigilante e 1.ª Vigilante.

As vantagens são evidentes: 1. não há disputas eleitorais, nem dissensões, nem zangas devido a eleições; 2. O venerável Mestre ascende ao ofício mediante um percurso que lhe permite o conhecimento e a prática de variadas e importantes responsabilidades dentro da Loja; pode dirigir a sua equipa com conhecimento de causa do que é o exercício dos vários ofícios; efectua alterações em função da sua própria experiência, não de vagas impressões; a Loja tendencialmente sabe quem a vai sucessivamente dirigir nos próximos 5 anos.

A válvula de segurança que a Loja Mestre Affonso Domingues instituiu para prevenir a tentação de abusos foi a inclusão no início da "linha de sucessão" do Tesoureiro. É que este é, além do Venerável Mestre, o único ofício cuja titularidade é preenchida por eleição. Ou seja, entra-se na "linha de sucessão" por eleição. Não por designação. Quando a Loja elege um Tesoureiro, sabe que está, não só a fazê-lo, mas a escolher o Venerável Mestre de daí a seis anos! E, se conseguimos que, até agora, só haja, em cada ano, um único candidato ao ofício de Venerável Mestre, o 1.ª Vigilante em exercício, para a eleição de Tesoureiro não é bem assim: já houve, e é bom que assim seja, mais do que uma candidatura. Assim se conquista a legitimidade.

Uma última nota: o sistema, além de informal, não é rígido. Já aqui no blogue dei conta de situações em que houve alterações na "linha de sucessão" (veja-se, por exemplo, o texto A ultrapassagem). Pontualmente outras vai havendo, em função das circunstâncias e dos inesperados percalços. Por exemplo, perdemos este ano um dos elementos que integravam a "linha de sucessão". Já temos, segundo creio, a questão resolvida a contento ou, pelo menos, da melhor forma possível.

Enfim, a "linha de sucessão" não existe regulamentarmente, é informal e consensual, mas é sobretudo um guia, um apoio, não uma imposição. Porque estabelecida fraternalmente.

Rui Bandeira

01 abril 2008

Registo

No passado sábado, dia 30 de Março, teve lugar a Assembleia de Grande Loja da GLLP/GLRP do equinócio da Primavera. Como habitualmente, esta Assembleia de Grande Loja foi dedicada essencialmente a trabalhos administrativos. Estando prevista uma revisão do Regulamento Geral e do Estatuto da Associação GLLP, a Assembleia foi precedida, na manhã desse dia, por uma reunião entre a Comissão encarregada da elaboração das respectivas propostas e os representantes das Lojas, destinada a debater as propostas apresentadas e a analisar as posições transmitidas pelas Lojas. Essa reunião foi bastante profícua, tendo permitido limar algumas arestas, aperfeiçoar as propostas de alteração e expurgá-las de soluções menos adequadas, tendo-se atingido soluções consensuais que permitiram, em Assembleia, a rápida aprovação das praticamente consensuais emendas.

Ao princípio da tarde, teve lugar o também habitual Conselho de Veneráveis Mestres, reunião de todos os Veneráveis Mestres de todas as Lojas da GLLP/GLRP com a equipa do Grão-Mestrado, destinada à análise da actuação das Lojas, informação, coordenação e planificação dos trabalhos para os próximos meses. Esta reunião, que ocorre, normalmente, com uma periodicidade trimestral, é sempre um excelente meio de contacto entre os responsáveis máximos em exercício nas Lojas e de estabelecimento de plataformas e projectos de colaboração.

Ainda antes da Assembleia de Grande Loja, reuniu a Assembleia da Associação GLLP, a associação de direito civil que corporiza a personalidade jurídica da Obediência, que tratou dos indispensáveis assuntos inerentes à vida de uma associação de direito privado: debate e votação das contas do ano transacto, debate e votação do orçamento e eleições dos titulares dos órgãos sociais. Enfim, profanidades, mas profanidades necessárias...

A Assembleia de Grande Loja procedeu então à formal aprovação das alterações ao Regulamento Geral, contas e Orçamento. Burocracias, mas não só, já que estes instrumentos são essenciais à normal vida da Obediência e neles se espelham escolhas importantes sobre os caminhos que a mesma trilhará no futuro próximo.

Mas tudo isto não é o verdadeiro objectivo deste texto. Esse apresenta-se em quatro parágrafos, já de seguida.

É normal que em todas as Assembleias de Grande Loja exista um período de intervenções "a bem da Ordem", isto é, um período destinado a intervenções sem sujeição a ordem de trabalhos definida. Tradicionalmente, esse período era aproveitado pelas Lojas para a apresentação de cumprimentos ao Grão-Mestre, aos Grandes Oficiais e às demais Lojas, em intervenções protocolares espelhando o sentimento de fraternidade que a todos une. No princípio e durante algum tempo, era um intervalo agradável nos trabalhos. Mas o número de Lojas foi crescendo. O que inicialmente era uma dúzia de breves apresentações de cumprimentos, que não consumiam mais de um quarto de hora, passou a ser um penoso e longo exercício de repetitivas intervenções de dezenas de Lojas. Havia que atalhar. A Maçonaria preza as suas tradições - e a afirmação e reafirmação dos sentimentos fraternais é indubitavelmente uma delas -, mas deve evoluir e promover mudanças sempre que necessário. E, em regra, as melhores soluções acabam por ser simples, ovos de Colombo à vista de toda a gente, mas ignorados até que alguém se lembra de para elas chamar a atenção.

Desde o início do mandato do actual Grão-Mestre que se optou por uma solução que, mantendo a afirmação da fraternidade, obviou à perda de tempo e à penosidade de sucessivas intervenções parecidas de dezenas de Lojas: em cada Assembleia de Grande Loja intervém, para a tradicional apresentação de cumprimentos e manifestação de regozijo pela presença e convívio de todos, apenas UMA loja, que assegura a dita intervenção em nomes de todas as Lojas presentes. A escolha da Loja que intervém é simples e feita de forma transparente: por ordem do respectivo número no cadastro da Grande Loja.

O ano passado houve quatro sessões da Assembleia de Grande Loja. A deste fim de semana foi a quinta sessão, desde que se inaugurou, com proveito, este sistema. A Loja Mestre Affonso Domingues é a Loja n.º 5 no cadastro da GLLP/GLRP. Logo, nesta Assembleia de Grande Loja, a intervenção para a protocolar apresentação de cumprimentos foi da responsabilidade da Loja Mestre Affonso Domingues e assegurada pelo seu actual Venerável Mestre, JPSetúbal.

Não se trata de nada particularmente especial. Mas não quis deixar de aqui registar este acto. Até porque, se a GLLP/GLRP mantiver, como todos esperamos, a sua saudável evolução e o seu paulatino crescimento, em número de obreiros e de Lojas, o mais certo é que idêntica situação não volte a ser assegurada pela Loja Mestre Affonso Domingues (basta que a média de criação anual de novas Lojas não seja inferior ao número de Assembleias de Grande Loja) ou, pelo menos, só volte a ser assegurada por ela daqui a muitos e muitos anos. E isso merece registo!

Rui Bandeira

18 fevereiro 2008

Decidir em Loja


O processo de tomada de decisão em Loja não tem necessariamente os mesmos trâmites e parâmetros da vida de relação em sociedade.

Claro que, quando a decisão a tomar se prende com uma eleição, as regras são as mesmas de uma sociedade democrática: um homem, um voto, voto secreto e é eleito quem tem mais votos. Mas, por exemplo, a admissão de um novo membro, também objecto de uma votação por voto secreto, não está sujeita à regra da maioria, antes de uma tendencial unanimidade. E digo tendencial, porque, em algumas Lojas, a existência de um ou dois votos contrários deve ser justificada, para se atribuir validade impeditiva da admissão do elemento sob escrutínio.

Mas a grande maioria das decisões não se toma por voto secreto, antes na sequência de debates abertos, em que cada um manifesta livremente a sua opinião. Procura-se, se possível, atingir um consenso. Mas, se não for possível, não é propriamente uma decisão por maioria que indica o caminho a tomar. Isto causará porventura perplexidade, nos dias de hoje, habituados como estamos a que a maioria decida e ponto final.

No entanto, o facto de uma maioria se inclinar para uma determinada opção não quer dizer necessariamente que essa posição é a correcta. Nada nos assegura que não ocorre simplesmente uma situação em que se formou uma maioria de errados! Uma coisa é a maioria, a legitimidade conferida pela maioria, outra é o acerto. Na sociedade, confiamos, em regra, que a maioria erre menos vezes que a minoria. Mas, ao menos, quando o erro acontece, aceitamos as consequências desse erro, procurando consolar-nos com o pensamento de que, se se errou, ao menos foi a maioria que errou. Esquecemo-nos, ou fazemos por esquecer, que a tomada de decisão por maioria é vulnerável à demagogia, à ignorância, ao facilitismo.

Não querem estas palavras dizer que a Maçonaria recusa ou não defende os princípios democráticos. O passado da Maçonaria é bem demonstrativo de que esta preserva e luta por eles. Simplesmente, como um dia disse Winston Churchill, "a Democracia é o pior de todos os sistemas... excepto todos os outros!!!". A Democracia não é perfeita mas, para uma sociedade ou grandes grupos, não há melhor sistema de decisão.

A Maçonaria, porém, funciona normalmente em grupos de dimensão reduzida ou média, em que todos os elementos se conhecem uns aos outros. Consegue assim manter uma dimensão personalizada de contactos entre os seus membros, que permite combinar as regras democráticas com regras tradicionais, que eu me atrevo a classificar de regras de bom-senso. É através desta amálgama que se procura chegar às melhores decisões possíveis, sem deixar de ter consciência de que é completamente impossível excluir de todo a possibilidade de erro.

Para melhor se compreender como funciona o processo decisório em Maçonaria, deve ter-se presente que a Maçonaria Especulativa tem as suas raízes na Maçonaria Operativa dos construtores em pedra e respectivas Lojas de regulação do exercício da profissão e que a Maçonaria procura preservar, tanto quanto possível, a tradição que cada um recebeu dos seus antecessores.

Na Maçonaria Operativa, a Loja não era um espaço democrático. A Loja era dirigida pelo Mestre, que dirigia o trabalho, admitia e dirigia a aprendizagem dos Aprendizes e supervisionava o trabalho dos oficiais construtores (Companheiros). Em Loja, executava-se o que o Mestre dizia. Ponto final.

Este elemento de autoridade benigna, obviamente temperado pelas regras da democracia, permanece importante no processo de decisão em Loja.

Como se articulam então estes dois elementos aparentemente contraditórios? Conferindo-se legitimidade democrática a quem dirige a Loja!

Temos então que o processo de decisão em Loja resulta de se conferir poder autocrático a quem se elege democraticamente para tal, por um período determinado.

Traduzindo: o Venerável Mestre é democraticamente eleito, por voto secreto, para cumprir um mandato de duração determinada; durante esse período, a Loja e todos os seus elementos delegam o direito de decidir sobre quaisquer assuntos que respeitem à Loja no Venerável Mestre em funções.

Daqui resulta que o objectivo de um debate em Loja não é vencer a discussão ou arregimentar maioria. O objectivo que cada um prossegue num debate em Loja é contribuir com a sua informação, com a sua análise, com a sua opinião, para fornecer o máximo de elementos relevantes possível para permitir ao Venerável Mestre tomar a melhor decisão possível, decisão esta que é assumida como a decisão da Loja.

Assim, cada debate consiste em uma intervenção, no máximo duas, por cada Mestre que deseje intervir sobre o assunto. Cada um deve procurar dar a sua opinião tão fundamentadamente quanto possível. No final, um oficial da Loja, o Orador, extrai as conclusões do debate, isto é, resume as posições expostas, os argumentos apresentados, podendo ou não opinar sobre se existiu consenso ou sobre a decisão que aconselha seja tomada. Finalmente, o Venerável Mestre decide e a sua decisão vincula a Loja.

Nenhum maçon é obrigado a executar a decisão, mas nenhum maçon a pode violar. Isto é, pode omitir o seu cumprimento (primado da liberdade individual), mas não pode ir CONTRA o decidido.

Com este método de decisão, procura-se limitar o erro com apelo ao bom-senso, sem esquecer a democracia.

Esta está presente na escolha democrática daquele a quem é delegado o poder de decidir. Aquele decorre de o Venerável Mestre ouvir antes de decidir, ser aconselhado sobre a decisão a tomar antes de o fazer e, finalmente, saber que, se pode exigir que ninguém a desrespeite, só a valia e o acerto desta lhe garantem a execução dela (porque voluntária).

De tudo isto resulta, obviamente, por um lado que a margem de decisão do Venerável Mestre é mais reduzida do que aparenta. Não vale a pena o Venerável Mestre decidir branco se a generalidade dos obreiros opinou preto: ninguém executará o que não concorda. Havendo divisão de opiniões, ou é possível retirar das posições expostas o denominador comum exequível e então deverá ser esse o caminho por que se opta (pois é aquele que mais elementos executarão, senão total, ao menos parcialmente), ou não é, e então o Venerável Mestre optará segundo o seu prudente arbítrio. E considera-se que é a melhor forma, porque não há vencedores nem vencidos. Há a decisão tomada, o melhor possível, por alguém a quem se confiou a missão de tomar decisões, sempre que necessário. E, por essa legitimidade, será executada, porventura até por aqueles que dela discordem...

Não será um método de decisão perfeito. Mas seguramente procura evitar o erro e promover a harmonia e não nos temos dado mal com ele...

Rui Bandeira

07 fevereiro 2008

Porque se vai à Loja


A pergunta sobre as razões porque os maçons vão à Loja, gastando tempo que, não fora essa utilização, dedicariam à sua família, ao lazer ou a outras actividades a que se dediquem, tem tantas respostas quantos os maçons. Em boa verdade, cada um tem as suas razões para ir à Loja.

Uns vão em busca do conhecimento, dos ensinamentos que a Maçonaria proporciona.

Outros buscam o convívio, rever os seus Irmãos, com eles estar e partilhar um ágape, em amena cavaqueira.

Outros ainda procuram na Loja a estrutura que corresponde aos seus anseios de serem úteis à Sociedade e aos seus semelhantes, utilizando a Loja como meio de enquadramento da sua vontade de devolver à Sociedade um pouco do que esta lhes proporciona.

Também há os que vão à Loja simplesmente cumprir o seu dever de maçons, assegurar o cumprimento das obrigações que assumiram, efectuar as tarefas cuja execução assumiram.

Há também aqueles que, na Loja, no seu espaço, nos seus símbolos, no seu ritual, encontram espaços e tempos de comunhão com o Divino, com o Transcendente.

E existem também aqueles que anseiam por uns momentos de simples e pacata Paz, que procuram a companhia de seus Irmãos e a sua estada no espaço do Templo com confiança, encontrando um oásis de segurança e comunhão, que os compensam das agruras, dos desafios, da tensão da sua vida do dia a dia.

E outros buscarão coisas e estados e espaços diferentes.

O que a Loja tem afinal, de extraordinário é uma infinita capacidade de proporcionar a cada um o porto de abrigo, o espaço de segurança, o caminho de busca, o tempo de convívio, a estrutura de actividade ou contemplação ou investigação ou busca que cada um necessita.

O que, no fundo, a Loja é, é um espaço de suprema Liberdade e Tolerância, em que cada um pode realizar-se e deixar os outros realizar-se, cada um à sua maneira e segundo as suas características e necessidades. É um espaço de cooperação, em que cada um contribui para a realização e melhoria dos outros, beneficiando ele próprio do contributo dos demais. É um ponto de encontro, simultaneamente ponto de partida e encruzilhada de variegados interesses individuais, que constituem um rico interesse colectivo. É a bissectriz do individual e do colectivo, de tal forma equilibrada que permite que ambos cresçam e cooperem e mutuamente se alimentem. É, em suma, a Utopia possível, a concretização do inconcretizável, equilíbrio instavelmente estável de múltiplos interesses e egoísmos, numa matriz que a todos enquadra satisfatoriamente. É um delicado bordado de mil linhas e infinitas cores, executado por inúmeras mãos, extraordinariamente resultando numa harmoniosa composição. É tudo isto e ainda mais o que cada um quiser, desde que respeite os interesses e anseios dos demais e do conjunto por todos constituído.

Esta singular plasticidade da Loja faz dela um duradouro cimento que une homens de diferentes temperamentos, de diversas gerações, de divergentes culturas, de separadas religiões, de conflituantes convicções, gerando laços de solidariedade e confiança que imutavelmente duram há centenas de anos.

É por isso que sempre se marca bem, sempre da mesma forma, sempre com o mesmo ritual, a abertura dos trabalhos, delimitando invisível mas sensivelmente o espaço e o tempo e a cumplicidade da Loja e dos seus elementos em relação a tudo e a todos que lhes é exterior. É por isso que, findos os trabalhos, de novo, sempre e da mesma forma, se executa um ritual de encerramento, que marca o fechar e preservar desse espaço e tempo e cumplicidade próprios e exclusivos, preparando cada um para voltar a actuar no mundo exterior, só que mais forte, mais sabedor, mais capaz de ver beleza onde o olhar comum nada de especial vê.

A Loja é um espaço onde cada um dá o que pode e vai buscar o que necessita.

É por isso que cada um sabe porque vai à Loja e, afinal, existem tantas razões para um maçon ir à Loja como maçons existem à face da Terra.

Rui Bandeira

30 janeiro 2008

Como se faz em Loja

Na minha opinião, o traço distintivo da Maçonaria, o que lhe confere uma identidade única enquanto fraternidade, é a forma como se processa a interacção entre os seus membros e como decorrem as reuniões de Loja.

Já no texto O que se faz em Loja dei conta que todas as reuniões se iniciam com a execução de um ritual de abertura. Tal marca a fronteira, a passagem do bulício da vida quotidiana para a concentração dos trabalhos em Loja. Todos e cada um dos obreiros, com a sua participação no ritual, interiorizam que se vai passar a estar num ambiente diferente, que, por um lado, impõe o cumprimento de regras específicas e, por outro, permite uma postura menos defensiva por todos.

Concentração, colaboração, tolerância, respeito pelo outro e opiniões alheias, ordem, são posturas tão indispensáveis, tão presentes, que rapidamente por todos são interiorizadas e praticadas. Esta postura não prejudica a afirmação das opiniões de cada um nem a expressão de eventuais discordâncias. Nem sequer anula a possível existência de conflitos. Mas permite que cada um expresse em paz e sossego as suas opiniões, dê o seu contributo, concorde ou discorde. Permite que os conflitos se resolvam ou sejam tratados com elevação. Permite e propicia que se discutam ideias, opiniões, não pessoas e características pessoais. Permite que o que cada um afirma seja analisado, discutido, julgado, pelo seu valor, pela sua pertinência, não por ter sido dito por quem o disse, por se gostar ou não gostar de quem o disse. E permite discordar, veementemente se necessário, do que outrem afirmou, sem que tal discordância, veemente embora, seja tomada como ataque pessoal.

Em Loja, a comunicação entre obreiros segue regras simples, rígidas, claras e precisas. Rapidamente aquele que acabou de chegar ao grupo as identifica. E o estrito cumprimento dessas regras conduz à redução de atritos, à boa ordem dos trabalhos, à eficácia, à colaboração. Permite que das ideias de cada um se aproveite o melhor e que a deliberação global seja, portanto, melhor, mais esclarecida, mais aceite, do que as ideias individualmente expressas. Propicia consensos. E, quando estes não são possíveis, permite que todos entendam porque se optou pela solução escolhida, em função de que argumentos se decide o que se decide.

Essas regras não são muitas, são até talvez intuitivas, mas a sua prossecução facilita em muito o processo de discussão e de tomada de decisão, gera a confiança mútua e, por via desta, cria laços de cumplicidade e solidariedade incomuns. Seguir estas regras não deveria ser exclusivo da Maçonaria, porventura não o será. Mas não as vejo comummente seguidas em mais nenhum lado. E eu gostaria, todos os maçons gostariam, que fossem naturalmente prosseguidas em tantos lados, em tantas organizações, quanto possível. Seguramente que a nossa Sociedade melhoraria um pouco...

A primeira das regras é que, salvo movimentações especificamente determinadas pelo ritual, uma vez que cada um tomou o seu lugar, ninguém se movimenta pela sala sem para tal estar autorizado pelo Venerável Mestre e sem ser acompanhado, melhor dito, conduzido por um Oficial da Loja que assume essa como uma das suas missões específicas - o Mestre de Cerimónias. Assim, não há ajuntamentos, não se criam grupos em função de posições em discussão. Cada um tem o seu lugar e permanece no seu lugar. Por si só, esta simples regra induz uma noção de ordem, de sossego, de calma, que obviamente muito ajuda à eficácia dos trabalhos e à prevenção de conflitos.

A segunda das regras é que cada um só intervém apenas e só quando a palavra lhe é concedida. Não se interrompe ninguém! O único elemento que pode interromper qualquer obreiro que esteja no uso da palavra (até o Venerável Mestre!) é o Orador, oficial da Loja cuja função é zelar pela regularidade dos trabalhos, pela preservação do ritual, pelo cumprimento das regras. Só ele pode interromper, assinalando uma falha, uma falta ou um desvio. E a sua intervenção não tem discussão. É acatada e nada mais! Se o não for, ao faltoso é, pura e simplesmente, retirada a palavra! Quando um obreiro pretende usar da palavra, assinala essa intenção com um específico gesto do braço. O Vigilante da coluna respectiva, quando o obreiro que estiver no uso da palavra tiver terminado, informará que existem na sua coluna obreiros que pretendem usar da palavra e esta ser-lhes-á concedida, por ordem de solicitação, sempre mediante prévia anuência do Venerável Mestre. Com o cumprimento desta regra, não há atropelos, não há interrupções, cada um pode, livre e calmamente, exprimir o seu pensamento. Poderá a outro obreiro parecer que quem usa a palavra está a dizer o maior disparate do Mundo. Mas tal não legitima que ele seja interrompido, que não possa expor até ao fim a sua ideia. Depois, poderá quem discorda manifestar-se e justificar porque considera a ideia exposta o maior disparate do Mundo...

A terceira regra é que cada obreiro se dirige ao Venerável Mestre e, através deste, à assembleia, nunca a um outro obreiro em particular. Não há discussões privadas, não há duelos individuais. Há apenas e tão só a exposição e defesa de ideias perante todos. É impressionante como o cumprimento desta regra agiliza a discussão séria de qualquer assunto!

A quarta regra é que se discutem ideias, não pessoas. O obreiro com que eu mais antipatizo pode ter a mais brilhante das ideias. O obreiro que me é mais próximo pode ter uma ideia péssima. Concordar com a primeira não me obriga, por si só, a passar a simpatizar com o seu autor. E discordar de uma ideia só porque não gosto do seu autor, é pura e simplesmente estúpido! E uma relação de especial amizade com alguém não me obriga a concordar com uma sua ideia que seja errada e não me desobriga de assinalar o erro. Pensar, debater e agir racionalmente, esse o objectivo.

A quinta regra é que, em relação a cada assunto, cada obreiro intervém apenas uma vez. Excepcionalmente, se a complexidade do assunto ou o rumo do debate o aconselhar, o Venerável Mestre pode autorizar uma segunda ronda de intervenções. Mas chega e é só. Consegue-se assim debater um tema e chegar a uma conclusão num tempo razoável. Cada um expõe as suas ideias, estão expostas. Só raramente surgirá a necessidade de quem já falou clarificar, aprofundar, o seu pensamento (ou,em função do debate, expressar a modificação da sua posição). Não é útil o repisar de posições, a insistência no que já se disse. Todos ouviram à primeira...

A sexta regra é conhecida: não se discute em Loja política ou religião. Mesmo com toda a tolerância, com todos os cuidados, é melhor prevenir que remediar... E, afinal, a religião de cada um é com cada qual e cada um tem direito a ter as suas opções políticas sem que ninguém tenha nada com isso...

O simples cumprimento destas intuitivas regras (porque será que é tão raro que assim se veja?) permite chegar, em prazos razoáveis, às melhores soluções ou conclusões possíveis, sem ferir pessoas ou os seus sentimentos, propiciando consensos.

E destas discussões efectivamente nasce a luz! E assim, com os sérios contributos de todos, se reforçam os laços de amizade e de fraternidade. E assim cada vez é mais fácil discutir, sem traumas, sem desconfianças, temas cada vez mais sensíveis ou complexos. E assim obtemos os nossos consensos com alegria e assentamos nas nossas discordâncias sem azedume. Porque, sempre!, cada um de nós, acima de tudo, respeita as opiniões alheias e vê as próprias respeitadas, tolera os erros ou as diferenças alheias, como vê os seus próprios erros e idiossincrasias tolerados.

Como se faz em Loja? Com ordem, com regras, com respeito, com tolerância. Em suma, com Harmonia!

Rui Bandeira

29 janeiro 2008

O que se faz em Loja

Talvez a pergunta que mais vezes não maçons fazem a maçons seja: "afinal o que é que os maçons fazem nas reuniões?". Subjacente a esta pergunta está, muitas vezes, o pressuposto de que os maçons certamente levam a cabo secretas, mirabolantes e tortuosas actividades. Como todos os pressupostos infundamentados, que assim mais não são do que preconceitos, este não se aproxima, sequer minimamente, da realidade, que é muito mais simples e prosaica.

Há duas partes das reuniões de uma Loja Maçónica que são sempre fixas e iguais: a abertura e o encerramento, que se processam executando os respectivos rituais. São sempre as mesmas palavras, gestos e actos, que se repetem, reunião a reunião.

Com o ritual de abertura, efectua-se a transição entre a vida exterior, os afazeres pessoais e profissionais de cada um, e o labor de um grupo restrito, focado e fraternal. Assim se processa a concentração de todos e de cada um no trabalho que se vai realizar. Assim se cria a atmosfera de concentração, confiança e harmonia que deve envolver os trabalhos que se vão efectuar na reunião.

Com o ritual de encerramento, efectua-se a transição entre os trabalhos realizados e o prosseguimento da vida em sociedade. Assim se efectua o processo de retorno à vida do dia a dia. Assim se relembra que se vai sair de um círculo restrito, onde impera a confiança e a harmonia, rumo ao cadinho social onde todos nos inserimos, com todos os seus desafios, conflitos e necessidade de se estar com as defesas em guarda.

Entre os dois rituais, de abertura e encerramento, processa-se a verdadeira reunião, que pode, basicamente, ter como objecto trabalho ritual (iniciação de profano, passagem ou elevação de maçons a graus mais adiantados), trabalho de formação (apresentação e discussão de pranchas), trabalho administrativo (organização interna da Loja, arquivos, quotas, etc.) ou trabalho organizativo (de projectos ou actividades em curso ou a levar a cabo).

O trabalho ritual efectua-se executando, em palavras, gestos e actos, o ritual da cerimónia que se realiza. Cada um dos Oficiais de Loja tem uma função determinada, que executa. Quem não tem intervenção na execução do ritual, seja em que qualidade for, assiste.

O trabalho de formação consiste na apresentação e discussão dos variados trabalhos que os maçons efectuam. Em regra, textos, mas podendo ser trabalhos de outra natureza: música, pintura ou escultura, construção de artefactos, trabalhos fotográficos ou audiovisuais, enfim, tudo o que um maçon se tenha sentido com capacidade para criar e que possa contribuir para o seu aperfeiçoamento e o de seus Irmãos. Com este tipo de trabalho, busca-se atingir o objectivo primeiro dos maçons: melhorar, aperfeiçoar-se, crescer intelectual, moral e espiritualmente.

O trabalho administrativo é o mal necessário, a execução das tarefas que bem gostaríamos de não precisar fazer, mas que têm que ser feitas: determinar e debater todos os aspectos organizativos da Loja; tomar conhecimento da correspondência e providenciar quanto a ela; tomar conhecimento de comunicações de outras Lojas e da Grande Loja e determinar as providências a tomar; providenciar quanto ao arquivo, ao quadro de obreiros, à vida financeira e económica da Loja. Embora haja Oficiais cuja função é assegurar a execução diária das tarefas desta natureza (o Secretário, o Tesoureiro, o Arquivista), vai havendo necessidade de algumas decisões serem tomadas pela Loja ou de a Loja ser informada das decisões tomadas pelos Oficiais e dos procedimentos e escolhas por estes efectuados.

Finalmente, o trabalho organizativo é aquele cujos resultados podem ser apreendidos exteriormente à Loja. Por vezes, apenas nas famílias e amigos dos obreiros da loja, por vezes em círculos mais amplos ou na sociedade em geral. Ao longo do ano, as Lojas organizam diversos eventos, desde reuniões, passeios ou visitas, a organização de colóquios, conferências ou debates, desde efectivação de campanhas de recolha de fundos para solidariedade a campanhas de efectivação directa de actos de solidariedade. No caso da Loja Mestre Affonso Domingues, esta tem efectuado, com regularidade, acções de doação de sangue, por vezes isoladamente, por vezes em colaboração com um grupo de escoteiros, organiza anualmente um leilão para recolha de fundos, procede à entrega de bens, adquiridos com os fundos obtidos, que a associação ou associações de solidariedade em cada momento apoiadas(s) indiquem como sendo os que maior utilidade no momento lhe(s) trazem, efectua contactos e visitas a outras Lojas e organiza a recepção a outras Lojas (particularmente em relação às duas Lojas com que está geminada, a Fraternidade Atlântica, da GLNF, e a Rigor, da GLLP/GLRP, organiza e efectua viagens e visitas a monumentos, museus e outros locais de interesse histórico, monumental, artístico ou cultural (nos últimos anos, e a título de exemplo, o Mosteiro da Batalha, o Convento de Cristo, a Zona Histórica de Santarém, Castelo Rodrigo, a Sinagoga de Lisboa), entre outras actividades e iniciativas, muitas vezes com início no voluntarismo de algum Irmão, que os demais acompanham, auxiliam ou em que colaboram.

Como se vê, o que se faz em Loja é muito mais prosaico do que concebe a imaginação, por vezes demasiado fértil, de quem está de fora. No fundo, em Loja faz-se o que se faz em qualquer outra agremiação: trata-se da organização interna, da prossecução dos objectivos próprios e cuida-se dos eventos que se leva a cabo.

O principal objectivo da Maçonaria é o aperfeiçoamento individual dos seus membros, fazer de homens bons homens melhores e, pelo reflexo desses aperfeiçoamentos individuais, contribuir para a melhoria da Sociedade. Cada reunião é mais um passo nessa caminhada, uma gota de suor nesse esforço, um tijolo nessa construção.

Desapontadoramente simples e normal, talvez. Talvez dessa simplicidade e normalidade decorra a dúvida de que efectivamente seja SÓ assim. Percebo e compreendo o cepticismo que, afinal, radica num tácito elogio à Maçonaria. Esse cepticismo decorre da perplexidade: "Mas afinal se é só isso que se faz nas reuniões de Loja, o que torna a Maçonaria tão especial, qual o cimento que liga os seus membros, o que os faz retirar tempo às suas famílias, aos seus negócios, aos seus afazeres e ócios, para irem fazer só isso?"

A resposta não está tanto no que se faz , mas em COMO se faz e PORQUE se faz. Mas essas são já matérias para os próximos dois textos...

Rui Bandeira

22 novembro 2007

Da Loja - prefácio

Doric Room - Templo da Grande Loja de Nova York -


Há já algum tempo que ando com vontade de iniciar uma serie de textos sobre Lojas. Falar sobre aspectos relativos à gestão das mesmas, sobre o nascimento, o apogeu, o declínio, o ressurgimento e mesmo a morte das Lojas.

Não sei ainda quantos textos serão nem qual a periodicidade, nem sequer a sequência que lhes vou dar. Considerem este texto como uma introdução ao tema.

Acredito, como sempre acreditei, em Lojas fortes unidas e com uma dimensão de várias dezenas de obreiros e ao longo do tempo tenho vindo a pensar que uma Loja precisa mais do que trabalhos rituais e pranchas simbólicas.

É para mim fundamental, não só perceber porque começam as Lojas, com que objectivos e finalidades, mas também porque razão acabam, ou passam por períodos de menor vitalidade.
Uma Maçonaria forte e interventiva só é possível com Lojas a trabalharem correctamente e com projectos de união interna.

Há para mim algumas noções que não estando em livros devem ser apreendidas pelas Lojas e pelos Maçons que as compõem, e creio que começar com essas noções será uma boa forma de iniciar esta sequência de textos.

Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiro, destes nem todos chegarão a Mestre Maçon. Seguramente que apenas alguns dos Mestres chegarão a Venerável Mestre .

O Cargo de Venerável não é o fim último de uma “carreira” dentro da Loja. É um cargo ao qual se deve chegar porque se crê que naquele momento aquela pessoa pode acrescentar à Loja.

Acrescentar significa continuar um projecto existente e não fazer um projecto próprio. Apenas a Loja deverá ter um projecto para o qual contribuem todos incluindo o Venerável.

O sucesso do percurso está, de facto, ligado ao Homem em si, mas está muito mais ligado à capacidade da Loja de suprir quaisquer defeitos ou falhas e permitir o sucesso daqueles que por feitio ou personalidade são um pouco menos carismáticos, e também ter a capacidade de mitigar as acções daqueles que são muito carismáticos.

Deve ser feito o aproveitamento máximo do Capital de Experiência, mas não se deve exaurir a fonte.

Lançado que está o tema, resta começar a trabalhar nele. Todavia as perguntas e os comentários serão sempre bem vindos e ajudarão seguramente a melhorar esta sequência de textos.



José Ruah

01 outubro 2007

Maçonaria em Loja

A organização da Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.
E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.
Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura se levanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todos os outros, interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.
Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente a nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.
Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.
Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura.
Apenas isso.
Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.
É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contactaram porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados.

O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.
Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade.
É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria !

Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente.
A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.
Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor.
Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora.
De facto não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade !
O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…).
Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjectivos do que isso.
Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçónica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva.
São a arrogância, a vaidade e a ambição.
Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objectivos finais do nosso trabalho.
Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque.

Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templuum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”.

Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.
Cultivemos e levemos connosco a capacidade de compreender as diferenças.
Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.
O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença.
E para isso a abertura de espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência.
J.P. Setúbal