Atalhos

10 julho 2012

Uma (nova) idade das trevas?




É conhecida a expressão "Idade das Trevas" como referência à Baixa Idade Média (séc. XI a séc. XV). Neste período de generalizado analfabetismo, o estudo era privilégio de uns quantos, e o conhecimento transmitido quase sempre em contexto monástico - e objeto de rigorosa filtragem de conteúdos que pudessem contrariar statu quoos dogmas vigentes. Não obstante, a produção intelectual e científica não cessou, e os avanços então decorridos vieram a constituir a base da Ciência Moderna.

O Iluminismo, movimento que surgiu no século XVIII de entre a elite dos intelectuais europeus da época, procurou promover a razão, o intercâmbio intelectual a ciência, opondo-se ferozmente à superstição, à intolerância e aos abusos por parte do poder vigente. Kant definiu assim o Iluminismo: "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".

O fogo iluminista varreu a Europa e propagou-se à América. Muitos países, porém, viriam a manter-se arredados dos seus princípios até aos dias de hoje. "É uma questão de tempo", poderíamos dizer, "até que os povos atinjam a maturidade necessária; quando isso suceder, reclamarão para si também o que outros conquistaram já." Infelizmente, a história recente vem apontar-nos uma alternativa bem menos risonha.

Nos Estados Unidos da América - um dos países que nasceu, precisamente, do Iluminismo, e fundado nos seus princípios - há, hoje em dia, uma considerável fatia da população anti-intelectual que, evidentemente, renega e rejeita esses mesmos princípios. Ainda muito recentemente foi notícia o facto de o Partido Republicano, no Texas, ter publicado a sua "plataforma de princípios", dos quais consta este:
"Knowledge-Based Education – We oppose the teaching of Higher Order Thinking Skills (HOTS) (values clarification), critical thinking skills and similar programs that are simply a relabeling of Outcome-Based Education (OBE) (mastery learning) which focus on behavior modification and have the purpose of challenging the student’s fixed beliefs and undermining parental authority."

Numa tradução livre: "Educação baseada no Conhecimento - Somos contra o ensino de «Competências Elevadas de Raciocínio», proficiência de pensamento crítico e programas semelhantes, que não passam de novos nomes para «Educação Baseada em Resultados» que se focam na modificação do comportamento e têm o propósito de desafiar as crenças do aluno e minar a autoridade dos pais." Vejamos agora o que isto quer dizer.

De acordo com a taxonomia de Bloom, há seis níveis de objetivos educacionais: o conhecimento, a compreensão, a aplicação, a análise, a síntese e a avaliação. As "Competências Elevadas de Raciocínio" são, então, a análise, a síntese e a avaliação. Estes três níveis de proficiência são os mais importantes para o pensamento crítico.

A "Educação Baseada em Resultados" passa pela definição de aptidões que os alunos devem adquirir e pelas quais são avaliados, por oposição à educação tradicional mais centrada na memorização e aquisição de conhecimento. Os alunos são, assim, avaliados de acordo com a capacidade de executar determinadas tarefas mensuráveis - como, por exemplo, a capacidade de correr 50 metros em menos de um minuto - e não pelos inputs recebidos - como o número de aulas assistidas, ou os livros lidos.

As "crenças" de que se fala (fixed beliefs") são aquelas que definem o indivíduo e estabelecem a sua identidade; constituem a imagem que temos de nós mesmos, dos outros e das circunstâncias da vida e que de tão repetidas ao longo do tempo se tornaram arraigadas e difíceis de alterar.

Os maçons são cidadãos, e a maçonaria pretende promover o melhoramento da sociedade através do aperfeiçoamento de cada um. Lá porque numa loja maçónica não se discute política, não quer dizer - pelo contrário! - que os maçons - individualmente! - não tomem este ou aquele partido quanto a esta ou àquela questão. Quanto a esta questão concreta, fico horrorizado só de imaginar um maçon a subscrevê-la, tão contrária que é à própria essência da maçonaria. Mas se tal maçon existe, respeitaria a sua posição sem a discutir; pois se é certo que quem não aprende com os erros da História está condenado a repeti-los, não menos certo é que o direito ao erro está na essência da liberdade humana.

7 comentários:

  1. Paulo M.

    A isto chama-se "ensinar".

    Obrigado

    A3raços
    JPA

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  2. Para bem da humanidade que se os espiritos tacanhos se iluminem.Amen

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  3. Muito bem Paulo.
    Então a pergunta que impera será...a quem interessa, que as novas gerações não devam questionar as antigas crenças nas quais assenta todo o Status Quo ?

    É notório que no mundo, existe um determinado numero de pessoas que sabe como manipular a consciência coletiva e como esta se manifesta e é do seu interesse manter os povos, num estado vibratório de medo, o que por sua vez, resulta em ignorância, pois é assim que se têm mantido no poder durante séculos.
    Com as novas fontes tecnológicas de informação, está-se-lhes a escapar o tapete debaixo dos pés...e como tal, vêm-se na obrigação de criar legislação e formas de censura, onde utilizam como desculpas, a protecção dos nossos interesses e a inalteração das nossas crenças etc.
    No fundo, tudo o que fazem é nada mais do que tentar continuar a ilusão do "feiticeiro de OZ" tentando jogar o seu joguinho habitual, alimentando-se e aproveitando-se da energia negativa que fomentam.
    Felizmente uma nova Era de conhecimento e evolução humana, surge na Zona de Horus e todas estas entidades maléficas conhecidas mitologicamente por " humanos animalescos ou bestas humanas" estão de partida e experienciaremos uma nova Era de paz.
    Assim quero acreditar e acreditar é...
    Isto se não nos amedrontar-mos.

    Nuno

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  4. Guerreiro, estás na fase em que deves ler "Vítor Manuel Adrião"

    A3raços
    JPA

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  5. Olá JPA, tudo bem.

    Eu conheço o trabalho do professor Vitor A., inclusive, irei começar agora a gravar videos com a ajuda do seu produtor/editor para que fiquem com melhor aspecto.

    No entanto, apesqar de eu considerar importante o seu trabalho, não partilho muito das suas ideias e visões.
    Concerteza que será por atraso cultural meu mas as suas visões de demónios seres subterraneos de Agartha não me seduz, no entanto, não afirmo que sejam mentiras ou delirios.
    Ele com todo o seu conhecimento, terá concerteza a "sua verdade".

    Gosto mais do trabalho de Santos Bonacci e de Mark Passio.

    Dê uma vista de olhos nisto quando tiver tempo ou veja aos poucos, pois é grande, ultrapassando qualquer julgamento ideologico que possa avançar á partida e diga o que acha.

    Mark Passio
    http://www.youtube.com/watch?v=_bCEDWzT8TU


    Obrigado JPA

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  6. Olá Guerreiro;

    Eu disse que estava na hora de leres.
    Deves ler e ver o mais que poderes.
    O que achares é para ti, quer do VMA, quer de outro qualquer.
    A minha opinião referente a ele, é minha. Mas que devo ler, ai isso devo.

    Continua, a verdade aparece.

    Abraço
    JPA

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  7. JPA, obrigado pelas suas palavras.
    Atenção, eu gosto muito do Prof Vitor, só não partilho ( por enquanto ) de algumas de suas visões, talvez num futuro próximo quando perceber melhor o que ele pretende indicar ocultamente.

    Mas, relacionado com o meu primeiro comentário e retirado do seu Blog, aqui fica esta passagem de um texto seu....ou esta obra prima.

    "" Nos dias de hoje, com a queda acelerada e consequente desaparecimento dum Ciclo “apodrecido e gasto” pelo dealbar doutro mais promissivo e feliz para o Mundo, o de Aquarius, que agora (2012) já entrou no seu Ciclo zodiacal e só falta entrar no Ciclo consciencial de um e todos, assiste-se, impávido ou aterrado, à agitação frenética dos humanos frutos amargos e até venenosos do Passado, debatendo-se pela sua sobrevivência à extinção total que já lhes está ditada pela Lei Maior, quando esta Julgou a Humanidade no ano de 1956 (21 de Março). ""

    Lindo...a luz está a caminho.

    Nuno

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