Em comentário ao texto Versão brasileira de "Cinco motivos para NÃO SER maçom", Diogo perguntou:
Porque estará tão disseminada a noção de que a integração na Maçonaria confere «influência junto ao Poder Político», que serve para «subir na vida» e «usufruir de privilégios especiais»?
De tal forma que leva maçons a escrever - «CINCO MOTIVOS PARA NÃO SER MAÇOM»?
A pergunta é pertinente e é daquelas que merece resposta, não apenas em outro comentário mas em texto no espaço principal do blogue.
Comecemos por aferir da justeza dos pressupostos. É exato que está tão disseminada a noção de que a integração na Maçonaria confere «influência junto ao Poder Político» ?
Está! É inegável que está! Pelo menos na "opinião publicada". Seguramente nos azedos comentários de anti-maçons ou, mais elucidativo ainda, de adversários políticos de determinado partido político português, que, certa ou erradamente, ganhou fama de ser muito influente entre os maçons.
É óbvio, é evidente que não me agrada esta "tão disseminada" noção. Mas o facto de assim ser não faz com que ela não exista e que esteja menos "disseminada". Não o reconhecer é equivalente ao inútil ato, atribuído, quiçá injustamente, à avestruz, de esconder a cabeça na areia. E com os mesmos ineficazes resultados!
Penso que as várias centenas de textos de minha autoria que este blogue leva publicados mostra bem que essa não é a minha postura. Pode concordar-se ou discordar-se das ideias que aqui exponho. mas, com justiça, não posso ser acusado de fugir ao debate ou às questões incómodas! Vou portanto ensaiar aqui dar a minha resposta, não sem antes deixar bem claro que, na mesma, não se deve ver qualquer juízo de valor em relação a outras organizações que não aquela em que me integro, nem aos seus aderentes. Vou limitar-me a referir factos, tal como os conheço, e a extrair deles as minhas conclusões.
A Maçonaria Universal tem duas grandes variantes.
Uma delas é a Maçonaria Regular, por alguns também designada "de inspiração anglo-saxónica". Considera-se a verdadeira Maçonaria. Reclama-se de ser a seguidora direta das quatro Lojas que, em 1717, fundaram a Grande Loja de Londres, que declara a Grande Loja fundadora da moderna Maçonaria especulativa, erigida sobre as fundações da antiga Maçonaria operativa. Não abdica de dois princípios essenciais: a crença num Criador, qualquer que seja a designação que cada um lhe dê ou a religião que cada um professe, que designa por Grande Arquiteto do Universo, e a sua vocação exclusiva de se destinar ao aperfeiçoamento individual, moral e espiritual, dos seus membros. Como corolários destes dois grandes princípios, resultam a proclamação do eminente valor da Tolerância, no sentido de que se deve reconhecer ao Outro o direito às suas ideias e à expressão delas, ainda que delas profundamente se discorde, pois as ideias rebatem-se com argumentos, não com proibições ou ostracismos; a consideração de que as mudanças a que o maçom deve aspirar são as que reconhece dever haver em si próprio, não havendo lugar, enquanto maçom e enquanto Maçonaria, a intervenção na Sociedade, muito menos de caráter revolucionário, limitando-se a única intervenção do maçom na sociedade ao exemplo que der pela sua conduta, atuando o maçon e a Maçonaria sempre no estrito respeito da Legalidade vigente em cada lugar; a recusa de intervenção política, enquanto maçom ou enquanto Maçonaria, pois a luta política deve ser estranha à Fraternidade entre maçons e o respeito pelas ideias do Outro implica que cada maçon é livre de, individualmente, ter as posições que entender e, enquanto cidadão, intervir politicamente como quiser, não havendo lugar a qualquer "indicação" política ou "congregação" de vontades políticas.
Outra variante é a que costumo designar de Maçonaria Liberal, ancorada na evolução sofrida pelo Grand Orient de France, na sequência de vários fatores: rivalidade franco-britânica, evolução das condições sociais em França (Revolução Francesa), inserção dos atores políticos na Maçonaria. Esta outra variante é em quase tudo consentânea com a primeira, com duas importantes exceções: por um lado, aceita a presença de agnósticos e ateus nas suas fileiras, fundamentando tal opção no princípio da Liberdade de Consciência e na não ingerência na convicção alheia (elevando o corolário da Tolerância ao primado de princípio, gerador, por sua vez, de um outro corolário, o laicismo); o entendimento de que a missão principal da Maçonaria é a melhoria da Sociedade (e não apenas dos seus membros, individualmente considerados), cabendo à Maçonaria pugnar pela realização da trindade essencial dos princípios políticos (Liberdade-Igualdade-Fraternidade) e trabalhar pela sua aplicação na Sociedade, mesmo por meios revolucionários, se tal se justificar, designadamente por inexistência de regime político democrático.
Como é sabido, a evolução histórica em Portugal ocorreu no sentido de que, muito cedo, a Maçonaria que se implantou e, durante muitos anos, em exclusivo existiu no País, foi a desta última variante.
Não é segredo para ninguém que o Movimento Republicano foi fortemente influenciado pelos Maçons da época, podendo mesmo dizer-se, creio que consensualmente, que a Revolução Republicana de 1910 foi fortemente influenciada, para não dizer mais, pela Maçonaria da vertente liberal.
Os principais políticos da I República foram - é sabido - maçons liberais. A esta luz, percebe-se melhor que, no dealbar do salazarismo, uma das medidas tomadas tenha sido a proibição da Maçonaria. Esta, sempre na sua vertente liberal, no entanto, foi conseguindo existir clandestinamente, com ligações aos opositores do regime de Salazar e, mais tarde, de Caetano. Restaurada a Democracia e novamente legalizada a Maçonaria, liberal, esta era constituída essencialmente por velhos republicanos e políticos e outros opositores ao regime derrubado. A nova ordem política pós-25 de Abril incluiu, em lugares de destaque, maçons liberais. Que se rodearam de quadros mais jovens que, atraídos para a política, também inevitavelmente o eram para a Maçonaria liberal. A vocação de intervenção política e social da Maçonaria Liberal pôde voltar a concretizar-se, após o derrube da Ditadura.
Só há cerca de 20 anos, foi introduzida formalmente em Portugal a Maçonaria Regular. Esta não tem, enquanto tal, qualquer intervenção política. Não é, assim, um local especialmente apetecível para políticos e candidatos a políticos.
Mas mais de um século de intervenção política da Maçonaria liberal deixaram marcas. Não admira que o comum das pessoas associe uma Maçonaria, a liberal, que assumidamente considera ter um campo de intervenção útil na Política, a «influência junto ao Poder Político» - particularmente quando, historicamente, a teve! Quanto ao "subir na vida" e aos "privilégios especiais", são fatores associados, no imaginário corrente, aos políticos, seus privilégios e idiossincrasias e, inevitavelmente, foram, nesse imaginário comum, por associação também aplicados à Maçonaria com atividade política, a liberal.
A Maçonaria Regular, aquela em que me incluo e se incluem os elementos da Loja Mestre Affonso Domingues, integrante da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, contrariamente ao ramo liberal, não tem intervenção política. Postula como seu objetivo o aperfeiçoamento individual dos seus membros. Forma consciências. E cada um, segundo a sua consciência, como livre-pensador que é, intervém onde entende, como entende, se entende. Agrupando livre-pensadores, a Maçonaria Regular não tem a pretensão (logicamente votada ao fracasso...) de pretender que esses livre-pensadores pensem todos de forma igual - por isso considera não ser sua vocação a intervenção política que, para existir de forma minimamente eficaz, implica alguma concordância de pensamento.
Atento o lastro histórico que existe decorrente da antiguidade da implantação da Maçonaria liberal no nosso País, é inevitável a existência da associação entre Maçonaria (liberal) e Política. A Maçonaria Regular, tendo uma firme orientação diferente, necessita de esclarecer bem a sua posição. Não quer que ninguém se interesse pelos seus princípios induzido em erro pelos condicionalismos históricos. Daí que esclareça, cuidadosamente, a questão. Daí que escreva e publique textos como Cinco motivos para NÃO SER maçom!
Rui Bandeira
Outra variante é a que costumo designar de Maçonaria Liberal, ancorada na evolução sofrida pelo Grand Orient de France, na sequência de vários fatores: rivalidade franco-britânica, evolução das condições sociais em França (Revolução Francesa), inserção dos atores políticos na Maçonaria. Esta outra variante é em quase tudo consentânea com a primeira, com duas importantes exceções: por um lado, aceita a presença de agnósticos e ateus nas suas fileiras, fundamentando tal opção no princípio da Liberdade de Consciência e na não ingerência na convicção alheia (elevando o corolário da Tolerância ao primado de princípio, gerador, por sua vez, de um outro corolário, o laicismo); o entendimento de que a missão principal da Maçonaria é a melhoria da Sociedade (e não apenas dos seus membros, individualmente considerados), cabendo à Maçonaria pugnar pela realização da trindade essencial dos princípios políticos (Liberdade-Igualdade-Fraternidade) e trabalhar pela sua aplicação na Sociedade, mesmo por meios revolucionários, se tal se justificar, designadamente por inexistência de regime político democrático.
Como é sabido, a evolução histórica em Portugal ocorreu no sentido de que, muito cedo, a Maçonaria que se implantou e, durante muitos anos, em exclusivo existiu no País, foi a desta última variante.
Não é segredo para ninguém que o Movimento Republicano foi fortemente influenciado pelos Maçons da época, podendo mesmo dizer-se, creio que consensualmente, que a Revolução Republicana de 1910 foi fortemente influenciada, para não dizer mais, pela Maçonaria da vertente liberal.
Os principais políticos da I República foram - é sabido - maçons liberais. A esta luz, percebe-se melhor que, no dealbar do salazarismo, uma das medidas tomadas tenha sido a proibição da Maçonaria. Esta, sempre na sua vertente liberal, no entanto, foi conseguindo existir clandestinamente, com ligações aos opositores do regime de Salazar e, mais tarde, de Caetano. Restaurada a Democracia e novamente legalizada a Maçonaria, liberal, esta era constituída essencialmente por velhos republicanos e políticos e outros opositores ao regime derrubado. A nova ordem política pós-25 de Abril incluiu, em lugares de destaque, maçons liberais. Que se rodearam de quadros mais jovens que, atraídos para a política, também inevitavelmente o eram para a Maçonaria liberal. A vocação de intervenção política e social da Maçonaria Liberal pôde voltar a concretizar-se, após o derrube da Ditadura.
Só há cerca de 20 anos, foi introduzida formalmente em Portugal a Maçonaria Regular. Esta não tem, enquanto tal, qualquer intervenção política. Não é, assim, um local especialmente apetecível para políticos e candidatos a políticos.
Mas mais de um século de intervenção política da Maçonaria liberal deixaram marcas. Não admira que o comum das pessoas associe uma Maçonaria, a liberal, que assumidamente considera ter um campo de intervenção útil na Política, a «influência junto ao Poder Político» - particularmente quando, historicamente, a teve! Quanto ao "subir na vida" e aos "privilégios especiais", são fatores associados, no imaginário corrente, aos políticos, seus privilégios e idiossincrasias e, inevitavelmente, foram, nesse imaginário comum, por associação também aplicados à Maçonaria com atividade política, a liberal.
A Maçonaria Regular, aquela em que me incluo e se incluem os elementos da Loja Mestre Affonso Domingues, integrante da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, contrariamente ao ramo liberal, não tem intervenção política. Postula como seu objetivo o aperfeiçoamento individual dos seus membros. Forma consciências. E cada um, segundo a sua consciência, como livre-pensador que é, intervém onde entende, como entende, se entende. Agrupando livre-pensadores, a Maçonaria Regular não tem a pretensão (logicamente votada ao fracasso...) de pretender que esses livre-pensadores pensem todos de forma igual - por isso considera não ser sua vocação a intervenção política que, para existir de forma minimamente eficaz, implica alguma concordância de pensamento.
Atento o lastro histórico que existe decorrente da antiguidade da implantação da Maçonaria liberal no nosso País, é inevitável a existência da associação entre Maçonaria (liberal) e Política. A Maçonaria Regular, tendo uma firme orientação diferente, necessita de esclarecer bem a sua posição. Não quer que ninguém se interesse pelos seus princípios induzido em erro pelos condicionalismos históricos. Daí que esclareça, cuidadosamente, a questão. Daí que escreva e publique textos como Cinco motivos para NÃO SER maçom!
Rui Bandeira
Texto de exclarecimento exemplar.
ResponderEliminarSem querer meter a foice em ceara alheia, tenho para mim que o Diogo já à muito compreendeu toda esta situação, no entanto teima em querer meter todo e todos no mesmo saco.
Cumprimentos
JPA
Muito simpático o seu espaço. Convido a conhecer FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... em http://www.silnunesprof.blogspot.com
ResponderEliminarQue GADU o abençoe.
Paz Profunda !
Rui Bandeira, obrigado pela resposta de uma honestidade invulgar. Percebi agora que existem duas maçonarias bem distintas.
ResponderEliminarQuanto à maçonaria liberal, a que se interessa pelo poder político, é inevitável que surjam individuos que dêm prioridade ao proveito pessoal. Daí a desconfiança dos «profanos», que os segredos, os símbolos e os apertos de mão não ajudam a dissipar.
Abraço
Depois de ter lido o vosso texto, só me surge uma questão: Não será perigoso generalizar o comportamento de alguns iniciados a toda uma obediência?
ResponderEliminarSou profano e não sei muito bem do que estou a falar. Apenas estou a fazer esta pergunta com base num princípio mais ou menos universal de sendatez: Não fazer generalizações.
Wolfgang
@ Wolfgang:
ResponderEliminarO texto baseia-se numa evolução histórica e em princíos assumidos pelas duas diferentes tendências da Maçonaria, não estando, assim, em questão quaisquer atos individuais de onde resultassem generalizações que - concordo consigo - são imprudentes.
Fraterno Rui Bandeira, sou dos que leio com assiduidade o Partir Pedra. Mas vamos ser claros: a Maçonaria Portuguesa( GOL) só foi afastada pela maçonaria anglo-saxónica por não reconhecer a ditadura de Salazar. Quanto à influência política é melhor não falarmos sequer. Nâo quero falar da Moderna, não quero falar da crise do Sino nem sequer quero falar de Oeiras. Os textos que Rui Bandeira publica enquanto exclusivamente maçónicos são para mim, objecto de aprendizagem. Mas Rui Bandeira quando se envolve-- e não estou a falar de Sintra, por exemplo-- em relação do profano com o sagrado, não está a ver o espelho da iniciação. É pena.
ResponderEliminarPor último, a generalidade das notícias sobre a Maçonaria, as fotografias e tudo o mais, têm tido, tanto quanto me é dado saber, origem na Regular, onde creio que há muitos bons maçons, a começar pelo Rui Bandeira e que eu muito respeito. Desculpe este desabafo, eu que não sou dado a estas indiscrições.
Rogério Rodrigues
@ rogerio rodrigues:
ResponderEliminarNão concordo quando afirma que o GOL só foi afastado pela Maçonaria anglo-saxónica por não reconhecer a ditadura de Salazar. Além do mais, comete a injustiça de afirmar convicções antidemocráticas na Maçonaria anglossaxónica.
Integrar-se-á no GOL e defenderá com convicção a organização em que se integra. Por mim, tudo bem e creio já ter deixado neste espaço suficientemente claro que não sou dado a sectarismos.
Mas diferente disso é reconhecer que existem semelhanças e diferenças - e expô-las. Se tudo fosse igual, não fazia sentido haver duas organizações...
Reparou, espero, que procuro sempre ter o cuidado de não fazer juízos de valor que ultrapassem a minha declarada subjetividade de me sentir pessoalmente melhor na Maçonaria Regular. Mas procuro sempre deixar bem claro que a opção individual de cada um é igualmente respeitável.
Em termos de evolução histórica, penso que podemos concordar qual a origem das divergências ente a Maçonaria Regular (que designa por anglossaxónica) e Maçonaria Liberal (que porventura preferirá designar de Universal): as decisões e orientações do GOF.
Para que não haja equívocos,afirmo desde já que, na minha opinião, o fosso a partir daí cavou-se com responsabilidades de AMBOS OS LADOS. Não houve virgens ofendidas nem malfeitores maléficos...
Na minha opinião, reconhecer a origem das diferenças, declarar calma, objetiva e desapaixonadamente quais são essas diferenças, não deixando de realçar as semelhanças, é a melhor maneira de todos - estejam em que organização estiverem - se respeitarem mutuamente, principalmente na inalienável Liberdade de cada um tomar as opções que entender melhores.
Foi isso que procurei fazer neste texto - e espero ter conseguido. Não tem nada a ver, julgo, com misturas de sagrado e de profano.
Portanto, caro Rogério, não veja em mim, nem neste texto, intenções que não tenho, posturas que não são as minhas,ataques ao que quer que seja.
Já o escrevi e repito-o: na minha opinião, entre as duas organizações em causa, há mais semelhanças que diferenças. É puro realismo apontar o que é semelhante e indicar o que é diferente. Depois, cada um toma as decisões que entende. Legitimamemte. Responsavelmente. Com a mesma dignidade, vire-se para um lado ou vire-se para o outro. Por que cada um situar-se-á onde se sentir melhor. E certamente respeita quem se sentir melhor no outro lado. É só isto! Nem nada de mais, nem nada de menos.
E, no fundo, estou certo que, quer o Rogério, quer eu, se virmos um dterminado sinal, se ouvirmos um certo apelo, acorremos a ajudar - sem perguntar a que organização quem fez o sinal, quem bradou o apelo, pertence...
Por vezes faço-me a mim mesmo duas perguntas interdependentes:
ResponderEliminara) Será o GOL mais politizado e a Regular/Legal mais "sociedade civil"?
b) Constituirão estas duas formas de entender a operatividade? Ou seja, o levar ao mundo profano a luz dos pincípios maçónicos?
Ou a primeira pergunta está errada porque não existe uma noção geral e abrangente de operatividade imputável à obediência em si?
Abraços
@ Wolfgang:
ResponderEliminarNa minha opinião, o GOL é visto do exterior como mais politizado. É o máximo até onde vou, pois, não estando lá, não posso e não devo pôr-me a adivinhar o que, presentemente, por lá se passa. Há que distinguir entre a perspetiva histórica e o conhecimento do que se passa no momento presente.
A Maçonaria emana da "sociedade civil" (para usar a sua expressão) e, por isso, a GLLP/GLRP considera-se como de tal procedência.
Os princípios maçónicos são para serem cumpridos pelos maçons. Na perspetiva da GLLP/GLRP, cada maçon individualmente deve comportar-se como tal e tanto melhor se como tal for reconhecido pelos profanos.
Mas o trabalho de um maçon é o seu próprio aperfeiçoamento, não o "levar de luz" ao mundo profano. A Maçonaria não se executa em espírito missionário...
Cada maçon deve ser um homem livre numa Loja livre. As características da Obediência em que se insere devem resultar do conjunto de maçons e Lojas que a integram, em movimento "de baixo para cima" - e não o contrário.
Mas concedo que, estabelecida uma tendência de como genericamente é uma Obediência, essa Obediência agregue a si aqueles que concordam com essa tendência e quem prefere outras características procure outra Obediência que as detenha, ao menos tendencialmente - resulta assim um movimento de sentido oposto ao anterior.
Quem disse que as organizações sociais são simples?
Caro Rui Bandeira,
ResponderEliminarSem querer "impugnar" o seu texto principal no blogue, permita-lhe que cite palavras de José Manuel Anes em 2003.
"De facto, é grande a nossa implantação no território nacional - de Norte a Sul, do litoral ao interior - e, para além dessa presença influente, quer a nível local quer regional, a nossa Grande Loja tem ainda uma boa influência a nível nacional. Isto independentemente das cores políticas do Governo que estiver no Poder, pois somos constituídos por maçons de todos os horizontes políticos (desde que crentes num Princípio espiritual superior)."
Eu sei que o meu caro Rui Bandeira vai remeter explicações para o autor do texto, pois como não foi o meu caro Rui Bandeira a escrever, não pode explicar correctamente o sentido e alcance do mesmo.
Mas, ainda assim, como interpretar correctamente aquele último segmento do texto de José Manuel Anes e a utilização da palavra influente?
Note:
Isto por internet é complicado de me fazer entender. Posso garantir-lhe que não é desmentir o seu texto que pretendo...Bem ao contrário. Isto vem no seguimento daquilo que falei no "post" anterior, ou seja, da emanação de luz para o mundo profano...
Já agora, se me permite, quis com tal expressão aludir à persuasão pelo exemplo a que o maçom parece dever "obediência".
Note! está a ler palavras "profanas" em que o erro é mais que legítimo, creio...Mas, do pouco que conheço da Ordem, parece-me que o maçom prima pelo exemplo e daí eu ter falado em transporte de luz para o mundo profano, ou seja, exemplo como veiculo de luz...
Com os melhores cumprimentos,
Wolfgang
@ Wolfgang:
ResponderEliminarO José Manuel Anes é um homem que dedicou toda a sua vida profissional ao serviço público. É, pois, natural que mencione a capacidade de intervenção dos maçons na coisa pública. Mas refere-se apenas àqueles que têm essa capacidade, seja pela sua atividade profissional, seja por exercerem funções eletivas.
Não nos enganemos: os maçons regulares são cidadãos como os outros, com a mesma capacidade de intervenção social, nos respetivos campos de atuação que os demais cidadãos. E, enquanto cidadãos e homens livres, cada um intervem como entende.
Situação completamente diferente á a intervenção COORDENADA, programada, organizada. Essa a GLLP/GLRP não a tem, recusa-a e não a reputa de saudável.
E, porque na GLLP/GLRP existem elementos de todo o espetro político, quem intervem fá-lo partindo do campo político em que se insere. No limite, cinco elementos da GLLP/GLRP poderão, sobre a mesma questão política ou social, expressar cinco entendimentos diferentes, consoante o respetivo posicionamento pessoal.
Por isso enquanto organização a GLLP/GLRP não intervem politicamente, seja em que sentido for. Se o fizesse, interviria de acordo com alguns dos seus elementos, mas com o desacordo de outros...
Resumindo: influencia política só a que individualmente cada um tenha, enquanto cidadão e como os demais cidadãos. Influência moral - essa, sim, desejavelmente todos poderão e deverão exercer.
Meu fraterno confrade,
ResponderEliminarPor mão amiga e fraterna cheguei ao seu blog e ao seu post.
A minha espiritualidade dissemina-se pelo Bairro Alto, pela Rua do Grémio Lusitano.
Sou aprendiz historiador e,creio eu, que do ponto de vista historicista as suas opiniões carecem de algum fundamento.
1/ Porque designa você a sua obediência de Regular?
2/A única obediência que recebeu Carta Patente de Inglaterra foi, de facto, o GOL;
3/O Rogério Rodrigues tem razão quando diz que o GOL perde o contacto com a Obediência mãe sob o Salazarismo;
4/Muitas coisas distinguem o GOL da GLP, mas são menores;
5/Como não necessito de o recordar, a Maçonaria é Universal;
6/Há diferentes obediências, há diferentes abordagens ritualisticas;
7/ As Constituições de Andersen, com a actualidade da sua, dele, segunda versão - continuam válidas, vigorosas e perfeitas;
8/O que a sua obediência exige é uma prática Deista e exclusiva;
9/O GOL o que exige é, nem mais nem menos, o que Andersen plasmou no articulado das Constituições, que você e eu professámos, cumprimos e fazemos cumprir.
Quanto à questão da "politização" das obediências portuguesas...há-de desculpar-me, mas não me parece nada curial a discussão.
Conheço gente do Partido Socialista na GLP, como conheçço gente do CDS e/ou do PSD no GOL.
Tanto quanto me é dado conhecer, perceber, o GOL tem, talvez, uma predominância de gente ligada ao PS e a GLP uma dominante social-democrata.
Mas, na actualidade, parece-me que o "rosa" "domina" em ambas as obediências.
Não lhe parece?
Eu sou dos que cultuo a amizade com TODOS os irmãos, sem nunca lhes perguntar qual a obediência onde trabalham: todos são meus irmãos.
A questão da divisão entre as nossas "diferentes" obediências pouco me importa.
Estou bem mais preocupado e angustiado com a "impossibilidade" de junção.
Perdemos uma oportunidade histórica:Anes/Arnaut.
Receba muitos abraços fraternais,
José Albergaria
@ Aqueduto Livre:
ResponderEliminarSaudações fraternas. Para mim, é, na mesma linha de pensamento do que declara, relativamente indiferente onde se "dissemina a sua espiritualidade". Creio já ter deixado bem claro que um dos indeclináveis corolários do Proincípio da Liberdade, que a todos nós é caro, é o direito de cada um se inserir onde melhor se sente.
Claro que, estando ambos inseridos em organizações diferentes, temos diferentes pontos de vista sobre a sua valia relativa: se assim não fosse, e salvo masoquismo de alguém, estaríamos inseridos na mesma organização.
Não é, pois, para mim, nenhuma tragédia, nem especialmente relevante, que cada um defenda a "sua dama". Mau seria se assim não fosse...
Posto isto, permita-me queacentue que a Regularidade é uma característica e a autodesignação da Maçonaria também por muitos designada de anglossaxónica. Não tem nada a ver com receção de cartas-patente. Terá, isso sim, relevância para o reconhecimento, piis que a UGLE só reconhece Obediências Maçónicas Regulares.
Neste e noutros textos, procurei esclarecer que as diferenças princcipais entre a Maçonaria Regular ou Anglossaxónica e a Maçonaria Liberal ou Universal são, em síntese, duas: a exigência na crença num Criador na maçonaria Regular, não presente na Liberal; e a diferente postura em relação a intervenção política organizada, rejeitada por aquela e admitida por esta. Não coloco a questão de quem pensa melhor, quem "tem razão", pela simples razão de que essa é uma falsa questão: quem concorda com os princípios da Maçonaria Regular pensa, logicamente, que esta á a melhor forma de ver estes aspetos; quem concorda com a maçonaria Liberal, pensa que a melhor forma de os ver é o desta variante. Não discuto, pois, inutilidades. Aceito e respeito a sua maneira de pensar e de entender. Exijo, apenas, que aceite e respeite a minha. Assim, o que nos separa é reduzido a um não-conflito, integrado pela Tolerância que ambos defendemos, podendo ambos realçar o muito importante que nos une.
Por fim, nunca - mas mesmo nunca! - coloquei alguma vez em questão filiações políticas de quem quer que seja, em qualquer partido...
No mais, concordo, em geral, com as suas considerações sobre a Amizade e declaro-me indiferente à questão da divisão-unificação. As organizações evoluem como evoluem, no sentido em que eviluem, quando evoluem. Do que resultar da evolução mútua das duas organizações em que nos inserimos, se algo resultar, o futuro o dirá...
Para mim - e certamente para si - o que importa é trilhar o caminho do aperfeiçoamento, beneficiando do método maçónico e da ajuda de nossos Irmãos.
Tudo de bom para si!