20 maio 2014

É hora de escrever …

Como escrever algo quando a inspiração a isso pouco ou nada ajuda?

Escolher um tema, daqueles que julgamos saber, estudá-lo um pouco mais, ou na realidade, estudá-lo pela primeira vez, desenvolvê-lo, interpretá-lo e escrever sobre ele?

Escrever sobre tudo e nada, sobre nada em particular, sobre tudo em geral?

“Bater” toda esta mistura de ingredientes e como sempre vontade de a saborear e escrever … e levado ao “forno” sair algo sobre maçonaria.

Seja assim então! É hora de escrever.

O que não falta a um maçon é inspiração para escrever, essa é uma capacidade que nos é reconhecida pelos demais, embora particularmente encontre que muitas das vezes a simpatia e a amizade fazem com que as críticas e os reparos sejam amenos.

Quais os temas, daqueles que julgamos saber e dominar de lés a lés, quando na realidade nada sabemos sobre eles? Não insinuo sobre aqueles que sabemos mais ou menos, muito menos sobre os outros em que sabemos uma ou outra coisa, pronúncio sim aqueles em que temos a profunda noção que nada sabemos, mas insistimos em dizer que sim e, na generalidade dos casos a nós próprios, sendo esse um erro que é, como muito bem sabemos e até reconhecemos, fatal (metaforicamente falando).

Esta parte de estudar, de pesquisar, de ouvir e de aprender é, a partir de determinada altura, na vida de um maçon, uma enorme e valente chatice, podendo até ser considerada como uma afronta e ou uma falta de respeito. A partir de determinada altura, tudo se sabe, tudo se domina, tudo se encara de maneira diferente, tudo tem e emana luz e, na realidade, não passa de uma ilusão individual.

Escrever é tão só, algo que considero individual e ao mesmo tempo coletivo. Quem escreve, fá-lo porque assim o entende, escreve porque tem gosto nisso. E se ao escrever for possível aprender? E evoluir?

Cá vou aprendendo as minhas “coisas”, os temas que considero importantes estudar, desenvolver e interpretar, dando-lhes depois o meu cunho, mas esses não os partilho, pois esses fazem parte do meu caminho, da minha discrição, do meu templo interior. Não tenho necessidade e nem os quero partilhar, não sendo isto defeito, mas sim feitio. 

É hora de escrever que há uns tempos que a inspiração me falta, que há (muitos) temas que não domino e que os tento aperfeiçoar um pouco mais a cada nova aurora.

Não sou, nem ambiciono ser nem mais nem menos, sou apenas aquilo que sou e sempre aquilo que quero ser.

E por fim, mas nunca por último, que tem tudo isto a ver com Maçonaria?

É aquela simples parte de escrever sobre tudo e sobre nada. Individual em prol do coletivo, estando à ordem!

Daniel Martins


16 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -2


Eis que de repente a viagem começou e eu por ela não tinha dado, ou melhor, por ela eu não queria dar.

Agora do silêncio da espera algo irrompia e de súbito uma mão para mim se estendeu.

De onde vinha e ou de quem era, isso agora não importava, o que contava era que a tal viagem para que eu me preparara agora já estava a acontecer.

A caminho, e de caminho, a uma porta, eu fui dar, e na consciência eu fui bater.

Que consciência?
A consciência de que esta viagem tinha de ser feita de uma forma leal e sentida, por isso se o sítio escuro, tinha de ser, porque haveria eu de os olhos querer usar.

Bem voltando à Porta, a que eu tinha ido dar, para a conseguir ultrapassar um segredo me foi contado.
- Não, claro que o não posso revelar. Lembrem-se, esta foi a viagem ao meu interior e só para mim ela faz sentido e significado consegue ganhar.

Depois de, no tal segredo, as respostas ter recebido, foi um tormento, ali logo concedido, mais fundo eu tinha que descer e numa gruta entrar.

Depois de muito andar, e por paredes estreitas ter passado, a um Grande Templo eu cheguei.

Assim e já dentro do Grande Templo eu me encontrar, quando de repente, para além de quem a mão me dava e os segredos me descortinava, uma voz forjada pela Sabedoria, pela Força e Beleza do conhecimento e saber, se fez ouvir, e comigo começou a falar.

- Quem tu és, porque aqui queres entrar?
- Não sabes que este é um Mundo reservado apenas a quem o merece ter.
- Porque te julgas merecedor de nele entrar?
- Não sabes, e já não ouviste contar, que quem aqui entra para trás já não pode regressar?
- Tens a consciência que com o Sagrado não se pode brincar e que se o caminho continuares a garganta te irei cortar, se daqui revelares o que vires e escutar?

- Que pavor, ou talvez não! - Na verdade era ali que eu queria estar, e para aquela viagem eu me tinha preparado, como podia sequer ficar assustado?

Em frente decidi ir e com a verdade me armar, nada tinha a temer por ali conseguir chegar, mas então com uma regra fui confrontado, para de mim mais saber, ia ter de ser julgado.

Nota: Para quem a ultima etapa desta viagem quiser conhecer, esperar pela próxima semana será o suficiente, para a derradeira etapa, e o Grande Segredo, ficar a conhecer.

Alexandre T.

14 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo do candidato José Manuel Pereira da Silva

Tendo na semana passada publicado o currículo de um dos candidatos a Grão-Mestre da GLLP/GLRP, publica-se esta semana o currículo do outro candidato.

Nas próximas semanas, publicarei sucessivamente os manifestos de ambos os candidatos e procurarei obter deles respostas a um questionário (igual para ambos), de forma a permitir que melhor se ajuíze sobre as propostas de cada um. A ordem de publicação dos currículos, manifestos e entrevistas é a da entrada na Grande Secretaria da respetiva candidatura.

José Manuel Pereira da Silva


Currículo maçónico

Co-Fundador da Maçonaria Regular em Portugal, foi iniciado no GOL em 1980, tendo participado na cisão que conduziu à criação, em 1991, da Maçonaria Regular em Portugal.

Principais cargos desempenhados ao serviço da GL:
  • 1º Grande Vigilante
  • Assistente de Grão Mestre
  • 1º Vice Grão Mestre 
  • Grão Mestre Interino
  • Past V:.M:. das R:.L:. Jean Mons e Barbosa du Bocage
  • Fundador do GPIL (Grande Priorado Independente da Lusitânia ), CBCS (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa) e Cav:. de Malta do RER
  • Grau 33 do REAA (Supremo Conselho para Portugal)
  • Grau 33 do R:. Adonhiromita (Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal)
  • Grande Oficial Instalador da Grande Loja de Marrocos
  • Representante da G:. L:. da Florida (USA).
DISTINÇÕES MAÇÓNICAS:
  • Ordem Honorífica Gomes Freire de Andrade
  • Grão Mestre de Honra
  • Grande Oficial (ad vitam)
  • Participante como palestrante e conferencista sobre temas maçónicos e simbólicos em inúmeras iniciativas da GLLP, a convite de RR:.LL:. ou de entidades profanas.
Currículo profano

Habilitações Académicas:
  • Licenciatura em Arquitectura, pela ESBAL, com classificação final de 15 val., em 18.07.1980
  • Curso de Economia e Tecnologia da Construção, com Distinção, I.S.T./FSE, 1989
  • Curso de Condicionamento de Edificios - CENFIC 1990 
  • Curso de Reabilitação de Edificios - CENFIC 1990 
  • Curso de Gestão da Qualidade - CEQUAL 1993 
  • Curso de Mestrado em Construção, do Instituto Superior Técnico, (Tecnologia e Economia da Construção e Reabilitação), 1991/1993.
  • Doutorado em Ciências da Educação – Universidade de Huelva, Espanha
Certificação Profissional:
  • Membro da Ordem dos Arquitectos Portugueses (nº 1626)
Docência:
  • Professor Efectivo da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha, 3º Grupo (Construções Civis), atual GR 530.
  • Professor equiparado a Adjunto da ESAD (Escola Superior de Arte e Design), Caldas da Rainha, em 93/94 e 94/95.
  • Monitor em vários cursos de Formação Profissional (FSE).
  • Formador certificado pelo IEFP, leccionando desde 2003 a disciplina de Tecnologia da construção dos Cursos de Formação Profissional em Mediação Imobiliária, em acções reconhecidas pelo IMOPPI, no CEFORCAL em Caldas da Rainha.
  • Formador certificado pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, no âmbito da formação de professores.

Publicado por Rui Bandeira

09 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -1

Um dia decidi!

Sim decidi tomar uma grande decisão.
Decidi fazer uma grande viagem, uma viagem para não mais voltar.

Não, não é uma daquelas em que partimos para um outro lado qualquer e por lá ficamos. Esta viagem foi uma viagem muito mais complicada, esta foi aquela viagem!

Foi a viagem ao meu interior;
Ao meu mais íntimo;
À minha razão de ser;
A viagem ao principio de tudo.

Nesta caminhada decidi encarar todos os meus medos e confrontar os meus receios. Assim e com a decisão tomada comecei a prepara as coisas para levar nesta viagem.

Identifiquei de onde eu era;
Filho de quem e de que famílias proviam as minhas origens;
As razões que me levavam a fazer esta caminhada;
O sentido de fazer a mesma;

Enfim todas aquelas coisas que normalmente levamos numa viagem, pelo menos numa viagem como esta.
Depois de tudo inventariado e Check-List realizado, estava pronto para partir.

Parti e decidi, com convicção, de que era o caminho certo, de que este era realmente o meu caminho, senão nada fazia sentido.

Nada do que até agora havia feito;
Nada por onde tinha passado e aprendido;

Passo ante passo, pé ante pé, a caminho me coloquei, naquele caminho que ao meu interior me havia de levar.

Estava escuro e frio, ou não, mas segui;
Tudo era negro, ou não, mas mantive-me firme;
Gritos e ruídos, por mim passavam, ou não, mas sem nada a temer;
Imagens por mim passaram, ou não, mas tal coisa não conseguia entender;
Uma coisa era certa a decisão tomada estava e agora o meu Eu me esperava.

Fechei todas as portas que para trás tinham ficado, do Mundo Profano agora me afastava, começava agora a abrir, ao de leve, mesmo de muito ao de leve a porta da Alma ao Sagrado.

Com a consciência de que este era o passo certo, nada mais havia a fazer, para trás ficavam as incertezas e as inseguranças, agora tudo era fácil, eu já ali estava, o que de mal poderia acontecer?

Por certo nada, claro que não, nada havia a temer, esta era a viagem que eu queria fazer.

Na verdade em todos estes passos, no quarto escuro eu continuava, sem dele sequer conseguir sair, que tinha eu de fazer para ao meu interior conseguir descer?

Decidi esperar, pois se assim tivesse que ser, tal se iria realizar, alguma ajuda, eu haveria de ter, e por certo ela ai estria a chegar.

Esperei e continuei a esperar que a tal viagem, eu pudesse iniciar.

Nota: Para quem esta viagem quiser continuar a seguir, esperar pela próxima semana será o suficiente, para mais uma etapa ficar a conhecer.

Alexandre T.

07 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo do candidato Júlio Meirinhos

Como em toda as eleições, também em Maçonaria as pessoas são importantes nas escolhas. Pessoalmente, penso que o mais importante... Projetos, ideias, propósitos são seguramente importantes, mas são as pessoas que executam ou não os projetos, que tornam ou não realidade as ideias, que cumprem ou não os propósitos.

Na GLLP/GLRP, procuramos que as nossas escolhas sejam tão informadas e esclarecidas quanto possível. Por isso, as candidaturas são instruídas com currículos dos candidatos, resumindo a sua atividade, quer maçónica, quer na sua vida profana.

Os dois candidatos a Grão-Mestre forneceram os seus currículos, maçónicos e profanos. Publica-se hoje o currículo de um dos candidatos. O currículo do outro será publicado na próxima semana.

Júlio Meirinhos 


Currículo maçónico

Iniciado na R:.L:. Porto do Graal, n.º 2 em 1992
Ininterruptamente em funções desde então
Atualmente Vice Grão-Mestre.

Funções e cargos desempenhados na Grande Loja Legal de
Portugal/GLRP:
  • Venerável Mestre da R:. L:. Luz do Norte, nº21
  • Venerável Mestre Fundador da R:. L:. Rigor, nº 57
  • Assistente de vários M:.R:. Grão‐Mestres 
  • Vice Grão‐Mestre de vários M:.R:. Grão-Mestres
  • Grande Representante da Grande Loja de Mestres Maçons de Marca de França
  • Grande Representante da Grande Loja da Holanda
  • Membro honorário de diversas Lojas Nacionais e Estrangeiras.
Condecorações:
  • Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade
  • Grã‐Cruz da Ordem General Gomes Freire de Andrade.
Funções e cargos desempenhados nas estruturas de Altos Graus:
  • Sumo‐Sacerdote do Capítulo nº 6, Mosteiro Castro de Avelãs
  • Ilustre Mestre do Conselho nº 3, S. Bartolomeu
  • Eminente Comendador da Comenda nº 3, Cristóvão Colombo
  • Presidente da Ordem da Rosa
  • Membro da Ordem dos Sumo‐Sacerdotes Ungidos e Consagrados
  • Membro da Ordem da Trolha
  • Grande Sumo‐Sacerdote do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal
  • Grão-Mestre do Grande Conselho de Mestres Reais e Escolhidos de Portugal
  • Generalíssimo da Grande Comenda de Cavaleiros Templários de Portugal
  • Grau 32º do Supremo Conselho para Portugal dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º e último grau do Rito Escocês Antigo e Aceite
  • Patriarca Inspector Geral do 33º e último grau do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal.
Currículo profano

59 Anos
Casado, 2 filhas e 2 netas
Reformado, com residência em Miranda do Douro e em Lisboa, onde tem 1 filha e 2 netas.
  • Licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra
  • Advogado
  • Presidente de Câmara durante 4 mandatos
  • Deputado em duas legislaturas
  • Coordenador da Comissão Parlamentar de Ética.
  • Membro da Comissão Parlamentar de Defesa
  • Secretário‐Geral e Notário privativo do Leal Senado de Macau
  • Juiz Presidente do Tribunal Administrativo e Contas de Macau
  • Membro fundador e dirigente do Instituto Jurídico de Macau
  • Docente da Faculdade de Direito de Macau
  • Membro da Academia da “Língua Asturiana” Oviedo‐Espanha
  • Auditor de Defesa Nacional
  • Presidente do Agrupamento de Municípios da Terra Fria Transmontana
  • Administrador da Associação de Municípios de Trás‐os‐Montes e Alto Douro
  • Coordenador do PROCOA‐ Programa de Desenvolvimento Integrado do Vale do Côa
  • Membro do Comité das Regiões em Bruxelas
  • Presidente do Conselho da Região da Comissão de Coordenação da Região Norte
  • Governador Civil de Bragança 
  • Presidente da Assembleia para a criação da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Bragança
  • Presidente de diversas associações (Associação Ibérica de Municípios Ribeirinhos do Douro, Associação Ibérica Antinuclear)
  • Dirigente e membro fundador da Associação Nacional de Municípios Portugueses
  • Presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano
  • Vice‐Presidente da ANRET (Associação Nacional das Regiões de Turismo
  • Vice‐Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Condecorações:
  • Cidadão honorário do Município de Miranda do Douro ‐ Grau Ouro.
  • Agraciado pelo Estado Português com o grau de Comendador da Ordem Nacional do Infante D. Henrique.
  • Eleito o «Melhor Autarca do ano de 1986» ‐ Prémio telex de prata‐ANOP.

Publicado por Rui Bandeira

30 abril 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: os candidatos


A eleição do Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP para o mandato que decorre entre 2014 e 2016 está marcada para o dia do solstício de verão, 21 de junho.

Findo o período de apresentação de candidaturas, apresentaram-se ao escrutínio dois valorosos obreiros, os Irmãos Júlio Meirinhos, Vice Grão-Mestre em funções, e José Manuel Pereira da Silva.  

Num processo eleitoral que decorre de forma tranquila, duas coisas se podem já tomar como certas. 

A primeira é que o próximo Grão-Mestre da GLLP/GLRP será um maçom de alto gabarito, merecedor da confiança de todos os obreiros, qualquer que seja a opção de voto que venham a manifestar. Com efeito, ambos os candidatos dão garantias de competência e capacidade e a Grande Loja ficará bem servida com qualquer deles. É sempre motivo de agrado quando a escolha que se perfila é entre dois elementos capazes, é uma escolha entre dois bons elementos. Obviamente que será necessário escolher, optar, e que, no final, um deles será eleito e o outro não. Mas o que não for eleito certamente ficará a disposição para dar a colaboração que lhe seja pedida e quiçá noutra oportunidade venha a ser escolhido para a função da direção cimeira da Grande Loja. 

A segunda é que o próximo líder máximo da Grande Loja não terá residência principal na zona de Lisboa: Júlio Meirinhos tem a sua residência principal em Bragança (embora tenha uma residência secundária em Lisboa) e Pereira da Silva nas Caldas da Rainha. É algo que, num país com a dimensão e a facilidade de comunicações do nosso, não trará qualquer inconveniente e que permite a comprovação de que são inúteis, aqui como noutras instituições, bacocos regionalismos ou ultrapassados centralismos. As funções devem ser preenchidas pelos que. em cada momento, mais bem capacitados estejam para as exercer, independentemente do ponto do país onde residam.

A Loja Mestre Affonso Domingues convidou os dois candidatos para, pessoalmente ou através de seus representantes, nos darem a satisfação da sua visita numa das próximas sessões da Loja, antes da eleição, para melhor se darem a conhecer, a eles próprios e aos respetivos projetos, para o mandato que se propõem exercer. 

A ambos os candidatos, a Loja Mestre Affonso Domingues formula votos de felicidades e manifesta a sua confiança em que ambos serão iguais a eles próprios no decorrer do período de esclarecimento que decorre até ao dia da eleição.

A  ambos os candidatos a Loja Mestre Affonso Domingues expressa o seu desejo de bem os receber, atentamente os ouvir, fraternalmente os questionar, aplicadamente garantir, como habitualmente, as condições para que todos os seus obreiros e os Irmãos que nos derem o prazer da sua visita se possam esclarecer, num ambiente de fraternidade.

Pessoalmente, ambos os candidatos sabem que por ambos nutro grande consideração e com ambos mantive, mantenho e manterei as melhores relações. Como os demais, efetuarei a minha escolha e só um deles poderá ser escolhido. Mas desde já deixo bem claro que, para mim, a escolha não é de um contra o outro, antes de um agora e porventura o outro depois.  

Ao Júlio e ao José Manuel aqui deixo, a cada um, um triplo e fraternal abraço. Estou certo que aquele que, no final do presente processo eleitoral, vencer exercerá condignamente o ofício de Grão-Mestre e o que não vencer dará a melhor colaboração fraterna ao outro e à GLLP/GLRP.

Rui Bandeira

23 abril 2014

Há quarenta anos, dia por dia...


Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem de dezoito anos que alcançara, à custa de muito trabalho, uns quantos sacrifícios e bastantes privações dos meus pais, o que era então o verdadeiro privilégio de ser estudante universitário. Estudava que me desunhava, não porque fosse especialmente dedicado, mas porque sabia que os meus pais - ele, operário eletricista, ela doméstica - não podiam sustentar vilegiaturas académicas sem aproveitamento. O curso era para se fazer o mais depressa que fosse possível, que os tostões eram parcos e contadíssimos e havia que deixar de ser fardo para a família e começar a contribuir para o seu sustento. Por outro lado, não bastava tirar o curso depressa: havia que procurar ter boas notas, única forma de diferenciação possível de quem provinha de classe modesta e não dispunha de pedigree, conhecimentos ou auxílios da elite que dominava este país. 

Há quarenta anos, dia por dia, o sentimento que perpassava por toda a sociedade, por praticamente toda a população, era de medo. Medo de ir ou de que o seu filho fosse para a guerra, medo de ser tomado por algum polícia, PIDE ou bufo (informador da polícia política) como desafeto ao regime, pois isso implicaria, no mínimo, uma condução a instalações policiais e sujeição a interrogatório "musculado" com uns valentes tabefes, eventualmente uma estada, gratuita, mas frequentemente sem direito a dormir e com direito a uma estátua (mas quem fazia de estátua e não podia dormir era o "hóspede"...) nas temidas instalações da polícia política, na Rua António Maria Cardoso, ou mesmo umas "férias" mui pouco agradáveis na estância muito pouco termal de Caxias.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, que até me considerava atento e bem informado, só sabia o que os detentores do poder político entendiam que me era permitido saber, pois a Imprensa (então não se costumava ainda dizer Comunicação Social...) estava sujeita a um férreo regime de censura, crismada com o cognome de "exame prévio", que só permitia que fosse publicado o que não lhes causasse inconveniência - e o principal "desporto" dos jornalistas da época dava pelo nome de "finta à Censura"; e que grandes craques havia nessa interessantíssima "modalidade desportiva", felizmente extinta, por desnecessidade, espero que para sempre!

Há quarenta anos, dia por dia,  a sina de qualquer jovem adulto fisicamente apto (e mesmo de alguns nem sequer tão aptos como isso...) era ir perder quatro anos da sua vida (ou perder a sua vida no horizonte de quatro anos...) numa "comissão de serviço" na Guiné, em Angola ou Moçambique, combatendo não sabia quem, porquê, para quê e até quando. A não ser que optasse por se exilar e conseguisse fazê-lo ou que fosse filho de algum dos próceres do regime, que esses tinham garantido confortável cumprimento dos seus deveres militares na "Metrópole", isento de riscos e de sacrifícios, integrantes da casta dominante que eram.

Há quarenta anos, dia por dia, não se escolhiam os líderes políticos, nem se opinava sobre as políticas a seguir. Os detentores do poder detinham-no e pronto! As funções políticas eram exercidas por escolhidos em circuito interno e à generalidade da população cabia obedecer e não refilar.

Há quarenta nos, dia por dia, não se podia sair legalmente do país sem autorização "de quem de direito", os direitos cívicos e políticos existiam no papel (num célebre art. 8.º da Constituição de 1933), mas o mesmo papel elencava tantas exceções e restrições ao exercício desses direitos que, na prática, não existiam, ou só existiam se, quando e na medida em que o poder entendesse permitir que fossem existindo.

Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem universitário vivendo num ambiente de medo, sem perspetivas, sem direitos realmente dignos desse nome, sem nada  que não fosse vegetar e esperar, esperar, esperar que um dia, talvez, algo mudasse. Era um jovem comum, um entre milhões que não tinha atividade política relevante, ao fim de dezenas de anos de condicionamento de todo um povo para que não ousasse "meter-se em política".

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, sentia-me asfixiado pela falta do ar da Liberdade.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, vivia no momento de maior negrume de uma noite que se prolongava por mais de outros quarenta anos.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, à exceção de umas centenas de heróis que estavam na ponta final da preparação do que iria finalmente mudar as coisas, não sabia ainda que o maior negrume da noite é a altura que precede imediatamente o momento do nascer da aurora - e que esse momento estava a menos de quarenta e oito horas de distância.

Hoje, relembrando como estávamos há quarenta anos, dia por dia, deixo aqui um simples, emocionado e sincero MUITO OBRIGADO àqueles heróis que, menos de quarenta e oito horas depois, me iam ensinar que também se chora de alegria - e que se chora de alegria precisamente quando essa alegria é enorme, imensa!   

Hoje relembro como era este país há quarenta anos, dia por dia, porque muitos e muitos há que, felizmente, já não viveram esses tempos. Vivemos hoje tempos de dificuldade - mas sabemos que vamos, mais tarde ou mais certo, ultrapassá-la. Expressamos hoje a nossa insatisfação - mas podemos fazê-lo. Não concordamos com muito do que aqueles que nos dirigiram nos últimos anos decidiram ou fizeram - mas podemos, individual e coletivamente, criticar, decidir e executar o que se decidir fazer para se corrigir o que de errado se fez. Duvidamos das capacidades, da competência, dos motivos de alguns dos que nos dirigiram ao longo destes quarenta anos - mas sabemos que fomos nós, coletivamente, que lhes entregámos essa liderança e sabemos que podemos escolher quem colocamos a dirigir-nos, procurando não cometer os mesmos erros de avaliação do passado.

Hoje, digo e afirmo: por muito mal que as coisas andem, por muito descontentes que estejamos, lembrem-se todos, mas principalmente aqueles que tiveram a felicidade de não ter vivido aquele tempo, que estamos muitíssimo, incomparavelmente melhor do que estávamos há quarenta anos, dia por dia. Porque ao longo destes quarenta anos, tudo o que de certo e de errado (e muito de errado houve também, sem dúvida) se fez, foi, em última análise, feito ou permitido POR NÓS TODOS, enquanto povo LIVRE. Livre mesmo cometendo erros, mesmo fazendo ou permitindo disparates, mesmo escolhendo por vezes mal os seus líderes. Mas LIVRE de aprender, de melhorar, de corrigir, de opinar, de debater, de escolher os seus caminhos.

Que cada um faça as suas escolhas. Que todos debatamos os caminhos, Que, por vezes, nos zanguemos até uns com os outros, no calor das discussões sobre as escolhas a fazer. Mas que todos sempre prezemos e defendamos o essencial (que ninguém o duvide!) que este povo há quarenta anos, dia por dia, estava a menos de quarenta e oito horas de recuperar: a LIBERDADE e a possibilidade de, exercendo-a, viver a sua vida com dignidade!

Há quarenta anos, dia por dia, não sabia ainda que estava prestes a finalmente ter direito a uma vida digna de ser vivida. Com erros e acertos. Com coisas boas e coisas más. Mas com as escolhas feitas por mim. Eu e todos os meus compatriotas. Que nunca mais neste país se perca o direito de cada um fazer as suas escolhas. Que nunca mais este Povo volte a perder a sua LIBERDADE, alfa e ómega de tudo o que coletivamente vale a pena ser vivido!

Rui Bandeira   

16 abril 2014

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - VI

Pedro Espanhol, 2009, óleo sobre tela, 90 x 120 cm
Reprodução publicada pelo autor em Masonic Art

Antes do mais, sê muito bem-vindo entre nós. Estás aqui por teus méritos e, sobretudo, por tuas potencialidades. A ti, e só a ti, deves a admissão no seio dos obreiros desta Oficina da Augusta Ordem da Maçonaria. Nós, os que vos acolhemos, limitámo-nos a reconhecer em ti a capacidade e a vontade de efetuar o longo – direi mesmo: interminável -, trabalhoso – acrescentarei: permanente – e minucioso – precisarei: rendilhado – processo de transformação de um Homem Bom num Homem Melhor.

Esta frase, que de tantas vezes dita soa já como um lugar-comum, é, acredita-me, muito mais simples de dizer do que de levar à prática. Passar de um simples e comum Homem Bom – aquilo que nós, maçons, costumamos designar por homem livre e de bons costumes – para se ser um Homem Melhor é tarefa, mais do que diária, de todos os instantes, verdadeiramente permanente, que necessita de ser executada ao longo de toda a vida – e que só faz sentido se for permanentemente executada ao longo de toda a vida.

É uma tarefa interminável, porque é de sua natureza sê-lo: o homem bom de hoje que se transforma amanhã num homem um pouco melhor, em bom rigor, ao fim do dia de amanhã não será mais do que um pouco melhor homem bom que poderá e deverá, no dia seguinte, melhorar um pouco mais. E assim sucessivamente até ao momento em que a nossa tarefa neste plano de existência terminar.

A Arte Real é um guia para esse trabalho. O método que propõe e coloca à disposição de todos os seus obreiros é o estudo, compreensão e interiorização dos significados – quantas vezes vários, ou mesmo múltiplos – dos muitos símbolos com que nos deparamos.

Admito que, hoje, aqui e agora, não tiveste ainda tempo para te aperceberes de que tudo o que nos rodeia tem carga simbólica. Como certamente ainda não assimilaste convenientemente o significado do que se passou, do que viveste, desde o instante em que entraste neste edifício até agora. Não te preocupes com isso. É normal, é natural, é previsível, é até desejável que assim seja. Tivemos o cuidado de nada de substancial te informar sobre o que irias viver neste dia. Porque é necessário sem conhecimento prévio viver, sentir, a passagem que acabaste de efetuar para depois melhor compreender o seu significado.

Não esqueças nunca: a Razão complementa, completa, domina e interpreta a Emoção. O que vale por dizer que a Emoção é forte alicerce da Razão, que o mero conhecimento racional pode ser muito e vasto, mas é fraco e pouco consistente se não estiver ancorado, se não tiver sido adquirido com a Inteligência Emocional que integra também a nossa capacidade para estarmos, orientarmo-nos e compreendermos o mundo em que vivemos. Se assim não fosse, não precisávamos de viajar – bastava ler livros e ver filmes de viagens...

A tua primeira tarefa é também um labor permanente e será, afinal, o teu último trabalho: conhecer-te a ti mesmo. Isso é essencial. Porque tu és o centro, a origem, o início e o fim do teu mundo. Portanto, o mínimo que te é exigível é que te conheças verdadeiramente a ti mesmo. Não a imagem que tens ou dás de ti, mas o que está por detrás dela, em tudo o que ali está e o que foi, que é causa do que é e base para o que será. O que tem de agradável e luminoso, mas também o que é mais sombrio e com que nos custa a deparar.

Esta a base, o ponto de partida. Já há milhares de anos estava escrito no Templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o Universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”.

Esta asserção é, desde a mais remota Antiguidade, a base de toda a busca e jornada iniciática. Não precisamos de inventar nada, não é necessário inventar o que já está inventado.

Devo-te esclarecer o significado da Arte Real. Como o poderei fazer, se há mais de vinte anos que o busco e ainda não o determinei completamente? Talvez a melhor resposta seja esta: a Arte Real é um método de busca que tem princípio em ti mesmo, como guia os símbolos, como rota a melhoria individual, como objetivo a perfeição e como meta todo o Universo e o que mais haja.

Sei bem que esta definição que acabei de te propor hoje, aqui e agora não é mais do que um conjunto de palavras que se juntam a uma enorme quantidade de informação que hoje recebeste e de sensações que experimentaste e que, portanto, agora de pouco te vale. Não te preocupes tu com isso, que eu também não estou nada preocupado. Tens à tua frente muito tempo para ordenar, para assimilar, para compreender tudo o que hoje viveste, viste e ouviste. E tudo, a seu tempo, te fará sentido. Até este arrazoado que tiveste a paciência de ouvir...

Mas isso fica para depois. Agora o tempo que chega é de celebrar, de conviver, de nos alegrarmos por estarmos juntos e sermos mais a estar juntos. Amanhã começarás o teu trabalho!

Rui Bandeira

09 abril 2014

Prancha de proficiência


Na Loja Mestre Affonso Domingues, um dos requisitos necessários para que um Aprendiz seja elevado a Companheiro ou para que um Companheiro seja Exaltado Mestre Maçom é a apresentação em Loja de uma prancha, isto é, de um trabalho elaborado pelo obreiro.

Em regra, o tema desse trabalho é escolhido por consenso entre o interessado e o Vigilante responsável pela sua Coluna e o referido Vigilante acompanha a elaboração desse trabalho, analisando a ou as versões preparatórias elaboradas e aconselhando ou sugerindo emendas, alterações ou desenvolvimentos, sempre que tal entenda necessário ou conveniente.

Todos, sendo essencialmente iguais, somos diferentes nas nossas capacidades específicas, interesses, vocações. Há quem, seja por habituação nos tempos de escola, seja por prática profissional, seja, pura e simplesmente por vocação ou aptidão própria, tenha facilidade em escrever, em organizar uma exposição sobre um tema. Há quem tenha menos habituação ou uma aptidão menos apurada ou menos treinada para tal. O auxílio, o apontar de caminhos, a indicação de imperfeições a serem corrigidas por parte de um elemento experiente pode ser necessário para alguns, conveniente para outros e irrelevante para alguns. O objetivo é que quem necessite tenha um apoio, uma orientação, para que o seu trabalho fique o melhor possível, no momento e no grau de desenvolvimento na perceção da Arte Real de cada obreiro.

Ao longo do seu tempo de trabalho no grau respetivo, o Aprendiz ou Companheiro pode preparar diversos trabalhos que, normalmente, apresenta em reuniões da respetiva Coluna. O trabalho que irá ler em Loja poderá ser um desses ou poderá ser expressamente elaborado para esse efeito. Qualquer que seja a opção, essa apresentação da prancha de proficiência do Aprendiz ou Companheiro deve decorrer de um duplo juízo sobre a sua pertinência. Duplo juízo sobre se o trabalho está concluído ou se se deve ainda melhorá-lo, que deve ser efetuado pelo autor do mesmo e pelo seu Vigilante.

Não deve haver pressa em apresentar a prancha de proficiência. Ela é o espelho da evolução do obreiro no momento em que é apresentada. Por isso deve haver um especial cuidado na sua apresentação. Por isso deve tal prancha ser considerada como concluída e pronta para ser divulgada em Loja apenas quando satisfaça, quer o seu autor, quer o Vigilante responsável pela sua integração e evolução.

A apresentação de uma prancha de proficiência em Loja é sempre aguardada com expectativa na Loja Mestre Affonso Domingues. É mais um de nós que mostra a sua evolução, os caminhos que explora, o seu processo de transformação de homem bom em homem melhor. Mas, para além de um momento de expectativa também sempre é, deve ser, mais um momento de evolução, um patamar, não só de chegada, mas sobretudo de nova partida. Por isso, a Loja e os seus Mestres que - sempre! - comentam a prancha apresentada buscam um equilíbrio entre o devido e justo reconhecimento do trabalho efetuado e a sempre presente exigência de que, por muito bom que esteja o trabalho, por muito bem que tenha evoluído o obreiro, sempre poderá e deverá ser melhor, fazer melhor, persistir na senda da busca da inatingível perfeição.

É por essa razão que a crítica às pranchas de proficiência na Loja Mestre Affonso Domingues é normalmente severa, por vezes acerba, sempre dura. Não deixando de se reconhecer os méritos, aponta-se impiedosa e cruamente o que falta ou o que deveria mais bem ser feito. Não pelo prazer de criticar ou mostrar qualquer (inexistente) pretensa superioridade. Apenas como ferramenta para que o próprio maçom, aquele que apresenta o seu trabalho à consideração dos demais, mas também cada um destes, sempre busque ser e fazer mais e melhor. É justa e agradável a noção e o reconhecimento de que um trabalho está bem feito. Mas não pode, não deve, deixar de estar sempre subjacente a noção de que qualquer trabalho, qualquer obra, por muito bem que esteja, pode sempre ser melhor.

Dar por concluída e pronta para ser apresentada em Loja uma prancha de proficiência não deve nunca significar que é trabalho insuscetível de ser melhorado. É apenas o melhor trabalho que se está em condições de fazer nesse momento. Mas o objetivo, o caminho, é sempre crescer, sempre avançar, sempre aprender, sempre afinar as nossas capacidades - e, portanto, sempre estar em condições de melhorar aquilo que um dia foi o melhor que então pudemos fazer.

É por essa razão que, na cultura que a Loja Mestre Affonso Domingues procura que os seus obreiros adquiram e aprimorem, se tem presente que o elogio, o reconhecimento é agradável e justo - mas a crítica é o impulso para poder ser melhor. Para a Loja Mestre Affonso Domingues não basta o Justo. Ambiciona-se o Perfeito!

Rui Bandeira

02 abril 2014

Harmonia


Os maçons prezam a Harmonia na Loja. 

Esta frase é consensual. Mas será que todos dão o mesmo significado à palavra Harmonia? Em que consiste realmente a Harmonia da Loja? Quando se pode dizer que uma Loja está em Harmonia? 

A Harmonia da Loja não é unanimidade. Nem sequer consenso (estes dois conceitos não são sinónimos; o consenso resulta sempre de uma concertação de posições, à partida, necessariamente com algumas diferenças; a unanimidade não resulta necessariamente desse esforço; a unanimidade pode surgir sem que se faça nada por ela; o consenso resulta sempre de  trabalho, busca). Pode - e é comum que isso suceda - haver divergências, desacordos, sem que se quebre a Harmonia da Loja. Tudo depende de como as posições diferentes são expostas, encaradas e, sobretudo, trabalhadas pelo grupo. Superar desacordos, integrar diferenças, compatibilizar divergências reforça a Harmonia da Loja. Assim sendo, há mais Harmonia numa Loja em que as divergências se expõem, se aceitam e se trabalham no sentido da superação do que noutra em que o unanimismo impere sempre. Mesmo que na primeira por vezes subsistam divergências, embora porventura atenuadas ou, pelo menos, globalmente compreendidas na sua origem e motivos. Direi mesmo que a Loja em que impere o unanimismo tende a estiolar. Porque o unanimismo não é natural em nenhuma sociedade humana. Porque a sua persistente existência revela afinal medo da assunção de diferenças. Pelo contrário, a Loja que se habitua a conviver naturalmente com as diferenças, divergências desacordos, a tolerar (é o termo!) a sua existência e a trabalhar na sua superação, na medida do possível, essa sim, trabalha em Harmonia. Porque ali se cultiva o respeito pelo pensamento do outro - sempre. Porque ali a diferença não gera confronto, luta, azedume. Conduz à cooperação ente iguais com entendimentos diferentes, no sentido de discernir semelhanças e diferenças, lobrigar o que é essencial e o que é meramente acessório na posição de cada um, verificar como é possível compatibilizar pontos de vista diferentes. E chegar à melhor solução possível para todos. Porque ali se trabalham as diferentes razões individuais na busca da Razão Coletiva. E de cada vez que se consegue fica-se mais forte. E quando não se consegue não é por isso que se fica mais fraco.

A Harmonia da Loja não é ausência de discussão. É discussão, debate, sérios, honestos, respeitadores das posições e da dignidade de cada um e de todos.

A Harmonia da Loja não é a obediência cega e acrítica a quem manda. Também não é o questionamento sistemático das decisões de quem viu confiado pelo coletivo, mais do que o poder, o encargo - por vezes, o fardo - de decidir. A Harmonia da Loja resulta do debate de tudo até se decidir com o contributo de todos e implica o respeito do decidido por todos. Não são todos obrigados a executar o decidido, pois há que respeitar os desacordos não superados. Mas todos necessariamente renunciam a obstaculizar o que se decidiu. Em termos simples, quem discorda pode não fazer. Mas não deve fazer diferente ou o contrário.

Tal como na música a Harmonia não está nem na ausência de som, nem no mesmo som, está na compatibilização de forma agradável de sons diferentes, também a Harmonia da Loja não resulta da ausência de divergências, na renúncia ou impossibilidade de discussão. Resulta da tolerância das diferenças, da cooperação na integração das divergências, da superação participada dos desacordos.

Portanto, que nunca se pense que discordar quebra a Harmonia da Loja. O que quebra a Harmonia da Loja é o impedimento da expressão das discordâncias. Porque só mediante essa expressão, só perante a aceitação do direito de discordar, só mediante a naturalidade da análise das divergências é possível construir, avançar, fortalecer a Loja.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, tudo se debate, todas as discordâncias são expressas e analisadas e trabalhadas, no processo permanente de chegar às melhores soluções possíveis. Por vezes, o debate é aceso, os confrontos são duros. Mas o que se acendem são as opiniões de Irmãos, o que se confrontam são as suas ideias. No final de cada debate, tomada a decisão, por muito que se tenha discutido, debatido, cada um fica com as suas ideias (quantas vezes modificadas, melhoradas, evoluídas, na sequência do debate e do confronto com as outras e diferentes ideias!) - mas todos ficam com a conclusão a que se chegar como sendo a melhor possível para o coletivo naquele momento e naquelas condições. E todos se juntam em descontraída conversa e agradável ágape. Todos sabendo que porventura em ocasião próxima haverá outro debate, em que não raro os que naquele dia se confrontaram com ideias diferentes se baterão juntos pela mesma posição...

Sempre assim foi nesta Loja. Foi assim que superou a sua maior crise, com insanável, na altura, desacordo de caminhos a seguir, com a maior Harmonia que alguma vez vi e que procurei descrever no texto O fim da infância.  

É assim que hoje superamos as dificuldades que surgem. Com muito debate, franco, leal, aberto, duro, sempre que necessário, esteja quem estiver connosco na ocasião. Sem vergonhas e sem cuidados com a imagem. E se alguém menos avisado alguma vez tentar aproveitar o que possa julgar ser fratura de alguma divergência, rapidamente ficará desenganado! Porque as nossas "fraturas" são muito "móveis", de consolidação extremamente rápida e de cicatrização fácil e sem deixar marcas! Afinal de contas estamos tão habituados a discutir e debater uns com os outros que estou em crer que se aborrecia de morte quem saísse daqui!!!!

Na Loja Mestre Affonso Domingues não existiu nunca unanimismo e a unanimidade só aparece por acaso. O que persistentemente se busca e frequentemente se atinge são consensos! Às vezes após discussões épicas. Sempre tolerando a existência de diferenças e divergências. Sempre sabendo que o acordo, para existir, necessita de prévio desacordo e persistente debate na sua superação. 

E isto, meus caros, isto é que é verdadeiramente uma Loja em Harmonia!

Rui Bandeira

26 março 2014

O silêncio do Mestre


Depois de O silêncio do Aprendiz (um dos textos mais lidos do blogue A  Partir Pedra) e de O silêncio do Companheiro, é tempo agora de tratar do silêncio do Mestre.

À primeira vista, poder-se-á pensar que a expressão constitui um absurdo, pois o Mestre Maçom não só não está vinculado ao dever do silêncio como, pelo contrário, tem o dever de usar da palavra, designadamente para ilustração e formação de seus Irmãos e comparticipação na gestão e decisão dos assuntos da Loja. Mas assim não é. Já no final de  O silêncio do Companheiro se referiu que O silêncio do Companheiro é a sua preparação para a sua Elevação a Mestre. Para que, quando tiver direito a usar da palavra, já saiba quando se deve calar! Para que entenda perfeitamente o valor da Palavra e a valia do Silêncio. Então estará pronto! 

Uma das lições que o Mestre Maçom deve ter já interiorizado quando acede à Mestria é precisamente o valor e a oportunidade do silêncio. Que há momentos de falar e momentos de calar. Que, por vezes, a mais sonora declaração decorre do seu silêncio.Ou simplesmente que, quando não tem nada de útil a acrescentar, o melhor a fazer é estar calado...

O Mestre Maçom tem o direito ao uso da palavra em sessão de Loja. Mas esse direito não implica que tenha o dever de falar sempre nem que utilize essa faculdade para perorar sobre tudo e um par de botas, implicitamente desvalorizando o que transmite - pois ninguém sabe de tudo e o homem sábio conhece as suas limitações. Assim, o direito ao uso da palavra implica o dever de saber administrar o seu silêncio, dele só abdicando quando entender mais útil falar do que estar calado.

Como em quase tudo na vida, cada um é como cada qual - e todos evoluem ou podem fazê-lo. Há aqueles que praticamente não precisaram de aprender essa lição: por temperamento são pessoas caladas, reflexivas, ponderadas, que raramente falam - e, quando o fazem, são, precisamente pela raridade da situação, muito atentamente ouvidos. Esses quase nunca falam a despropósito - mas algumas vezes, precisamente pelo seu particular zelo na seleção de quando, como e o que dizer, deixaram de dar contributos que teriam sido preciosos, se partilhados no momento próprio. Há outros que, pelo contrário, são de natureza interventiva, não deixam de dar a sua opinião, não temem estar em minoria, entendem que participar implica opinar, contribuir, ainda que por vezes apenas marginalmente, para as deliberações coletivas. Esses correm o risco de errar algumas vezes, de opinar sem o conhecimento ou a ponderação adequados, de darem a impressão de que, sobretudo, gostam é de ouvir a própria voz - mas são frequentemente preciosos desbloqueadores de discussões, lançam os debates sobre os temas e acabam por auxiliar o grupo, quanto mais não seja porque catalisam acordos e desacordos, concordâncias e críticas, e assim acabam por contribuir para uma sadia discussão dos temas e uma participada deliberação. E há também os que só intervêm quando têm contributo válido para dar e permanecem silenciosos quando não sabem ou, sabendo, nada de especialmente útil têm para acrescentar, ou, simplesmente, porque, no seu entender,  a minudência do assunto não lhes suscita particular interesse - esses são os mais criteriosos, normalmente os mais influentes, os que mais frequentemente contribuem substancialmente para as deliberações.

Ninguém pertence obrigatória e definitivamente a um destes grupos. O avaro de palavras, se atento estiver, irá verificar que deixou passar ocasiões em que a sua intervenção teria sido útil e gradualmente evoluirá para o último grupo descrito. Por seu turno, o tagarela opinativo sobre quase tudo, sendo crítico de si mesmo, irá ter consciência das vezes em que perdeu boas ocasiões para estar calado e, vigiando-se, gradualmente se desencantará do som da sua voz e privilegiará a transmissão do que valha a pena transmitir, progressivamente ganhando o acesso ao conjunto dos realmente influentes nas deliberações do grupo. Mas também os normalmente equilibrados têm de permanentemente se vigiar, seja para não cair na tentação da intervenção a despropósito, seja para não insistir em demasiada introspeção silenciosa. Como em quase tudo na vida, o ponto de equilíbrio é instável e delicado. A gestão da palavra e do silêncio acaba por ser, ao longo do tempo, aperfeiçoada por quase todos. E quase todos acabam por aprender a falar quando é útil que falem e a guardar silêncio no resto do tempo. 

Três momentos, a meu ver, impõem o silêncio. O primeiro é quando, pura e simplesmente, nada ou muito pouco se sabe ou se pensou sobre o assunto em debate. Esse é claramente tempo de ouvir, não de falar, de aprender, não de partilhar. O segundo, mais delicado de identificar, ocorre quando se sabe algo sobre o assunto, mas ainda não se chegou a uma conclusão precisa. Em termos mais ligeiros, já se tem algumas luzes, mas ainda restam algumas apagadas... Aí ainda não é tempo de partilhar, a não ser que se partilhem dúvidas a serem esclarecidas ou hipóteses a serem trabalhadas. Sobretudo, não é altura de alardear certezas que não se têm, transmitindo meras hipóteses como conclusões. Quem o fizer, está a induzir em erro os demais e a enganar-se a si próprio. Trabalho quase concluído é, para todos os efeitos, trabalho não acabado! É preferível acabar primeiro o trabalho, chegar às conclusões e só depois partilhar o seu pensamento. Estar quase certo é como ser quase virgem: são estados que não existem! Ou se está ou não se está. Ou se é ou não se é... O terceiro momento que impõe silêncio é, creio, o mais difícil de lobrigar, aquele que requer a vivência de êxitos e fracassos, a que não se chega só por intuição ou estudo, decorre da experiência vivida e meditada e aproveitada. Esse momento existe quando, apesar de se saber do que está em discussão, apesar de se ter ideia feita sobre o tema, se tem a consciência de que será melhor para a deliberação, para o grupo, ou simplesmente para a evolução de um Irmão, que o que se tem para dizer seja dito por outro, que intuímos estar em condições de o fazer, e de o fazer tão bem quanto nós o faríamos - e renunciarmos a dizê-lo para que o outro o faça. Quando isso verificarmos, importa ter a noção de que ser um ou outro a dizer só aparentemente tem o mesmo resultado final. Porque renunciar à nossa palavra para que outro Irmão cresça, para que seja o contributo de outro Irmão, e não o nosso, a ser trazido para o grupo pode fazer muita diferença, não só para esse Irmão, mas para todo o grupo - porque ganhou mais um a contribuir, em vez de se bastar com o contributo dos mesmos...

O Aprendiz que faz bem o seu trabalho facilmente identifica o primeiro momento em que se impõe o silêncio. O Companheiro com o seu trabalho concluído reconhece o segundo momento. Mas o terceiro momento, que não é de mera renúncia, mas de colaboração, que não é simples altruísmo, mas de noção de que o fortalecimento do grupo depende do crescimento de todos, não só dos mesmos, e que esse fortalecimento se faz em benefício de todos, esse é apanágio do Mestre que aprendeu a sê-lo!

Pode demorar anos. Porventura será necessário que demore anos. Mas quando o Mestre Maçom descobre esse terceiro momento e age em conformidade com ele, então, sim, atingiu a mestria de si mesmo, aprendeu o significado de estar em Loja - não por si, mas pelos seus Irmãos e, assim, por todos e, logo, também por si. Então deparou com outra, e mais apurada, dimensão do silêncio, o Silêncio do Mestre!

Rui Bandeira

19 março 2014

Entre Colunas


O local de reunião de uma Loja maçónica tem por entrada um espaço delimitado por duas colunas. Estas evocam as duas colunas que existiam no átrio do Templo de Salomão, descritas na Bíblia no 1.º Livro dos Reis, capítulo 7, versículos 15-22:

15 E formou duas colunas de cobre; a altura de cada coluna era de dezoito côvados, e um fio de doze côvados cercava cada uma das colunas.
16 Também fez dois capitéis de fundição de cobre para pôr sobre as cabeças das colunas; de cinco côvados era a altura de um capitel, e de cinco côvados a altura do outro capitel.
17 As redes eram de malhas, as ligas de obra de cadeia para os capitéis que estavam sobre a cabeça das colunas, sete para um capitel e sete para o outro capitel.
18 Assim fez as colunas, juntamente com duas fileiras em redor sobre uma rede, para cobrir os capitéis que estavam sobre a cabeça das romãs, assim também fez com o outro capitel.
19 E os capitéis que estavam sobre a cabeça das colunas eram de obra de lírios no pórtico, de quatro côvados.
20 Os capitéis, pois, sobre as duas colunas estavam também defronte, em cima da parte globular que estava junto à rede; e duzentas romãs, em fileiras em redor, estavam também sobre o outro capitel.
21 Depois levantou as colunas no pórtico do templo; e levantando a coluna direita, pôs-lhe o nome de Jaquim; e levantando a coluna esquerda, pôs-lhe o nome de Boaz.
22 E sobre a cabeça das colunas estava a obra de lírios; e assim se acabou a obra das colunas. 


É habitual, em muitas Lojas maçónicas, que os obreiros que apresentam perante a Loja trabalhos por si elaborados o façam colocados entre essas duas colunas. Onde assim se pratica - e assim se faz, por exemplo, na Loja Mestre Affonso Domingues -, quando é chegada a ocasião de um obreiro apresentar o seu trabalho, o Venerável Mestre solicita que se conduza esse obreiro "entre colunas" e o mesmo é conduzido precisamente para esse local. O obreiro que apresenta o seu trabalho fá-lo assim situado num extremo da sala de reuniões, de frente para o Venerável Mestre e tendo os restantes obreiros da Loja situados à sua esquerda e à sua direita, ao longo da sala, entre si e o Venerável Mestre.

Esta colocação daquele que apresenta um trabalho, profere uma palestra, tem a grande vantagem de permitir que o orador seja perfeitamente visto por todos os presentes e a todos veja perfeitamente. Mas só é adequada em salas de reuniões de tamanho não demasiado grande. Num salão de grandes dimensões, esta colocação do orador torna difícil ouvir o mesmo a quem esteja colocado no lado oposto da sala (precisamente o Venerável Mestre e aqueles que se sentam junto a ele no espaço denominado de Oriente) - a não ser que se utilize sistema de captação e amplificação de som.

Esta colocação do obreiro que apresenta um trabalho perante a Loja é utilizada com alguma frequência, mas, ao contrário do que muitos pensam, não tem qualquer significado simbólico. Ou melhor, o significado simbólico de estar "entre Colunas" não tem nada a ver com as colunas delimitadoras da entrada na Loja.

É incorreto pensar que a expressão "entre Colunas" significa precisamente o posicionamento do obreiro entre as duas colunas evocativas das do Templo de Salomão. Estar "entre Colunas" é estar entre os seus Irmãos, estar em Loja coberta (onde estão apenas maçons) e em funcionamento. Com efeito, quando uma Loja maçónica reúne, a generalidade dos seus membros senta-se em lugares colocados em duas colunas longitudinais ao longo dos lados da sala de reuniões, à direita e à esquerda do Venerável Mestre, o qual está sentado na linha imaginária central do espaço de reunião da Loja, no topo oposto à entrada desse espaço de reunião. Algumas exceções têm a ver com a colocação de alguns Oficiais em exercício de funções na Loja.

Para facilidade de orientação (e também com algum significado simbólico), os maçons designam as direções e os espaços do seu local de reunião com recurso aos quatro pontos cardeais. Assim, as colunas que delimitam o espaço de entrada no local de reunião estão colocadas no Ocidente; o Venerável Mestre senta-se no Oriente; os obreiros sentam-se em filas longitudinais entre umas e outro, denominadas respetivamente de Coluna do Norte e Coluna do Sul.

Os trabalhos de um maçom são apresentados em Loja entre Colunas, isto é, no meio dos seus Irmãos, com a Loja em funcionamento e, assim, a coberto (apenas na presença de maçons). É um espaço de acolhimento, de segurança, onde o obreiro pode exprimir livremente as suas opiniões, colocar à consideração dos seus pares o resultado do seu trabalho, sabendo que este será apreciado em função do seu mérito e não de preconceitos, amizades ou inimizades. Sempre que o seu trabalho tiver encómios, elogios, é porque o mereceu, não por hipocrisia ou polidez social; todas as críticas que receber têm como escopo a melhoria, o aperfeiçoamento, não o rebaixamento ou apoucamento do trabalho ou do seu autor. As críticas apontando falhas ou sugerindo correções ou melhorias são feitas estritamente em conformidade com o pensamento honesto de quem as formula e podem e devem ser tomadas em conta pelo autor do trabalho, em ordem a lograr melhorá-lo; as críticas positivas, os elogios que porventura se receba, são a melhor garantia de que o trabalho pode ser apresentado sem receio perante qualquer plateia, qualquer que seja o seu grau de exigência - porque passou o crivo da plateia mais exigente do mundo: a constituída pelos seus Irmãos, em apreciação honesta e sempre com base em critérios de excelência. 

Assim, em bom rigor, os trabalhos devem ser apresentados entre Colunas, isto é, com o orador situando-se no eixo central longitudinal do espaço de reunião, frente ao Venerável Mestre, mas não necessariamente ao fundo da sala, junto ao Ocidente, não necessariamente entre as colunas evocativas das do Templo de Salomão. Tal pode e deve ser feito no local entre as colunas de obreiros do Norte e do Sul mais propício e adequado para mais bem se ser visto e ouvido. Tão simples como isso.

Para um maçom, estar entre Colunas é estar num dos sítios mais confortáveis do mundo: é estar entre os seus Irmãos, num espaço e tempo onde impera a confiança, a amizade, mas também a sinceridade e a justiça na avaliação. 

Rui Bandeira

12 março 2014

O Vigésimo Terceiro Venerável Mestre


Foi eleito para o exercício do ofício de Venerável Mestre em julho de 2012. Foi instalado na Cadeira de Salomão no início do ano maçónico de 2012/2013, para exercer o ofício até à instalação do seu sucessor, prevista para ocorrer no início do ano maçónico subsequente.

Sucedeu ao Venerável Mestre que aqui referi ter sido, na Loja, "talvez o maçom que mais bem preparado foi e estava para assumir o ofício de dirigir a Loja quando tal lho foi solicitado pelo conjunto dos obreiros" e cujo "mandato começou bem, prosseguiu agradável e terminou melhor. Elevou muito a fasquia para os seus sucessores".

Rui S., o Vigésimo Terceiro Venerável Mestre, não tinha, assim, tarefa fácil - e tinha consciência disso. As suas caraterísticas pessoais eram diferentes das do seu antecessor. Onde este era organizado, Rui era espontâneo. A um cultor da organização e da programação, sucedeu um afável e gregário gestor de iniciativas que privilegiava o momento, a integração do inesperado.

Nuno L. organizara a Loja com rigor. Rui S., com a noção de que o trabalho de organização estava feito, no essencial, procurou catalisar a Loja para as organizações. Com a casa arrumada, entendeu ser o momento de a Loja organizar iniciativas abertas ao exterior. Estimulou a realização de eventos sob a égide da pessoa coletiva que confere personalidade jurídica à Loja, a Associação Mestre Affonso Domingues, seja em organização própria, seja em colaboração com terceiros.

Duas vertentes distintas marcaram essas realizações. Por um lado, atividades sociais envolvendo os obreiros da Loja e suas famílias, no reforço dos laços entre todos. Foi o caso, por exemplo, de uma visita programada e guiada a Palmela, de uma segunda - e diferente da primeira - visita guiada a locais de Lisboa com interesse maçónico e de uma visita à Loja João Gonçalves Zarco, que trabalha ao Oriente do Funchal, complementada com um programa social pensado tendo em vista também as famílias que se deslocaram acompanhando os obreiros visitantes. Por outro, o apoio a organizações e eventos de caráter cultural, de que refiro, a título exemplificativo, uma exposição de fotografia de dois obreiros da Loja e uma outra exposição organizada numa aldeia do distrito de Lisboa.

O ano de mandato do Rui S. foi, assim, um ano de sucessivos eventos e organizações. Foi um ano de fazer, de executar, de reforço de laços entre os obreiros da Loja e suas famílias. Foi, sem dúvida, um ano agradável.

Mas todo o verso tem o seu reverso e este período também teve algumas implicações ou consequências negativas. A pujança da Loja manifestava-se externamente, mas descurando-se um pouco o que se tinha por adquirido, a sua organização interna. E ocorreu algo que se revelou mais difícil de ultrapassar: a imagem de pujança que externamente a Loja transmitiu  levou naturalmente a que esta fosse solicitada a colaborar no lançamento de outros projetos, de outras Lojas, cedendo alguns dos seus obreiros. Em pouco tempo, apenas num ano, a Loja cedeu  vários obreiros seus para lançamento de outras Lojas. O próprio Rui S., no final do seu mandato, anunciou que não asseguraria a função de Ex-Venerável Mestre (o principal conselheiro do Venerável Mestre em exercício), porque iria, pelo menos por seis meses, dirigir uma nova Loja. O ano de realizações foi também o ano em que a Loja teve de abdicar de um significativo número de quadros que formara e com que contava para a direção dos seus destinos nos anos mais próximos.  Na esteira da sua tradição de organização de doações de sangue, a Loja deu boa parte do seu sangue para novos e outros projetos... A Loja ficou assim com o número de Mestres ativos consideravelmente reduzido.

Porém, ela tinha no seu seio a solução para o problema que surgira. Nuno L. deixara a Loja com um quadro de Companheiros bem guarnecido, ainda reforçado no decorrer do mandato de Rui S.. Foi apenas uma questão de apressar a ultimação da formação destes elementos e preparar o seu acesso a Mestres Maçons. No final do mandato de Rui S., a Loja estava pronta para reguarnecer o seu quadro de Mestres. O ano seguinte seria dedicado a essa tarefa e à rápida integração e preparação destes para a subsequente assunção dos destinos da Loja.

A sucessão de realizações no período de mandato de Rui S. implicou ainda um outro preço: foram mobilizados fundos da Loja e, no final do ano, feitas as contas, os fundos disponíveis tinham baixado consideravelmente. A Loja não estava em dificuldades financeiras, longe disso, mas tomou consciência de que era também necessário reequilibrar a vontade de fazer coisas, organizar, com as disponibilidades económicas reunidas e disponíveis. 

O ano de liderança do Rui S. foi um ano de agradável fruição do que se reunira, do que se obtivera. Mas foi também um ano que mostrou que era necessária a definição de justos e prudentes equilíbrios: equilíbrio entre a capacidade e "velocidade" de formação de quadros e a possibilidade de dispensar quadros formados para lançamento de outros projetos; equilíbrio entre a vontade de organizar, fazer, com a necessidade de manter organizada e equilibrada a retaguarda de funcionamento burocrático e de financiamento da Loja.

Com o Rui S., a Loja aprendeu algo que era a altura de aprender: a necessidade de equilíbrio, a conveniência de se organizar de forma a que nunca se venham a dar passos maiores do que a perna. Em linguagem de estratégia militar, aprendeu que a vanguarda não pode avançar sem a preocupação de manter garantidas as linhas de abastecimento. No caso da Loja Mestre Affonso Domingues, avançou-se, fez-se, realizou-se. Mas houve a lucidez de entender que as "linhas de abastecimento" (de quadros e de meios financeiros) estavam a ficar fracas e que era necessário reforçá-las. E, portanto, de decidir fazer uma pausa nas realizações externas para proceder aos necessários rearranjos e reforços.

Com o Rui S., a Loja tomou consciência dos seus limites. E não os ultrapassou, antes parou e providenciou as necessárias correções. Porque assim fez, ficou melhor e mais forte. Porque identificou em tempo as suas debilidades e as causas delas e se preparou para as corrigir em tempo útil. Aprendeu assim que os avanços não são sempre em linha reta e sem pausas. Há que saber consolidar para voltar a avançar. Há que reparar brechas nas fileiras antes de prosseguir. Esta lição espero que seja recordada no futuro da Loja. Porque é a diferença entre a pujança da juventude, quando se pensa que o mundo é nosso e tudo se pode fazer, e o equilíbrio da maturidade. A Loja Mestre Affonso Domingues, na sua juventude de vinte e três anos está a aprender a ser madura!

Rui Bandeira

06 março 2014




05 março 2014

Delta (II)


No texto anterior, procurei explicar e ilustrar a forma do símbolo Delta e as várias variantes que podem existir. É agora a altura de me referir ao significado desse símbolo.

O Delta, sendo um triângulo com dimensões respeitando a Proporção de Ouro ou Divina, procura ser um símbolo que espelha a Harmonia e a Beleza. O símbolo triangular (independentemente da forma) desde tempos imemoriais que é associado ao significado de Força em expansão. Muitas vezes iluminado - e com expressa chamada de atenção aos presentes para que os seus olhos se voltem para a Luz... -, o Delta é associado à verdadeira Sapiência, ou Sabedoria, à Verdadeira Luz.

Este singelo símbolo, afinal apenas três segmentos de reta que se juntam de determinada forma, apela assim ao conjunto da trilogia maçónica por excelência: Sabedoria - Força - Beleza. Desenvolvendo, temos que Sabedoria, Força e Beleza são caraterísticas necessariamente presentes na Perfeição. Com efeito, só existe Perfeição se estiverem presentes a Sabedoria, a Força e a Beleza. A falta de qualquer destas caraterísticas impede que se considere o que quer que seja como perfeito. A Perfeição é, todos o sabemos, uma caraterística que, embora desejada, embora apreciada, não é inerente ao ser humano. O ser humano pode aspirar à perfeição, pode tentar aproximar-se dela o mais possível, mas - lá está! - o máximo que consegue é aproximar-se, nunca lá chegar. A Perfeição é caraterística imanente a algo superior ao Homem, que existe noutro plano, enfim, àquilo que os vários povos e seres, cada um à sua maneira e segundo a sua cultura, referem por Divindade. Só a Divindade é Perfeita, por definição.

O Delta, evocando a Sabedoria, Força e Beleza e, por via delas, a Perfeição, simboliza, assim, a Divindade, o Poder ou Força Criadora. A conceção dessa Divindade, das suas caraterísticas, de como é designada, deixa a maçonaria à liberdade, ao juízo e à crença de cada um. Por isso, essa entidade comummente evocada por todos, mas cada um à sua maneira e segundo as suas conceções, é designado pelos maçons de Grande Arquiteto do Universo. Depois, cada um designá-Lo-á pelo que entender, seja Deus, seja Jeovah ou Javeh, seja Allah, seja Vishnu, seja Universo, seja Natureza, seja, enfim, o que cada um e a sua cultura entenderem. Isso é com cada qual.

O Grande Arquiteto do Universo NÃO É uma "divindade maçónica" nem o produto ou designação decorrente de qualquer sincretismo religioso. O Grande Arquiteto do Universo é apenas e tão só a designação encontrada como máximo denominador comum, como ponto de confluência de todas as crenças, culturas e conceções, para referir a entidade criadora, ou superior (ao plano humano e material), em que cada um creia, consoante a sua fé ou conceção. 

Porque as conceções religiosas podem ser as mais diversas, díspares, mas todas são igualmente respeitáveis, porque a crença de cada um é inerente à sua própria identidade e modo de estar na vida e no mundo, não sendo lícito respeitar mais umas do que outras, os maçons buscaram uma designação que, ligada à sua tradição da Arte da Construção, pudesse ser utilizada por todos, cada um mencionando como tal a sua particular conceção e designação da Divindade da sua crença particular.

O Grande Arquiteto do Universo não é "adorado" ou "venerado" em Loja maçónica. A adoração ou veneração da divindade do culto de cada um é matéria que só a cada um diz respeito, pela forma e nos locais que a crença de cada um determine ou aceite. O Grande Arquiteto do Universo é, por sua vez, apenas um símbolo, o símbolo comum do ponto de encontro de todas as crenças e conceções de todos os maçons, permitindo a todos e cada um manterem a sua crença e a sua individualidade independentemente das diferenças que porventura haja em relação às crenças dos demais. Assim, os maçons não "adoram" ou "veneram" o Grande Arquiteto do Universo, limitam-se a trabalhar à sua Glória, isto é, cada um procurando honrar a sua própria divindade segundo a sua individual crença ou conceção.

O Delta não é uma representação do Grande Arquiteto do Universo, pela simples razão de que o Grande Arquiteto do Universo é uma abstração criada pelos maçons para harmonizarem o respeito de todos pelas diferentes crenças e conceções de cada um. Aliás, para algumas conceções religiosas não é, sequer, aceitável, pretender representar-se a sua Divindade...

O Delta é assim um símbolo das caraterísticas comuns imanentes à Perfeição e, por consequência à conceção da divindade de cada um. O Delta não é o símbolo imediato do GADU. É, quando muito, um símbolo mediato: simboliza, evoca, lembra, as caraterísticas da Perfeição e, assim, por essa via e só por essa via, remetendo mediatamente para a divindade de cada um e, logo, para o ponto de encontro de todos, por todos designado, por conveniência comum, de Grande Arquiteto do Universo. 

Porque o Delta é assim um símbolo que lembra algo que remete para algo que significa Algo, simultaneamente diferente e comum a todos, não admira que haja variantes na sua representação. Daí os raios de Luz do Delta Radiante, ou a inserção do iod ou do tetragrama, ou ainda da autêntica apropriação maçónica de um símbolo cristão que é o "olho que tudo vê". Daí também a opção, muitas vezes também presente, da inscrição, no interior do triângulo, da letra "G", de Geometria=Maçonaria=Arquitetura (ver G...de Maçonaria e Maçonaria=Geometria=Arquitetura), como forma de unificar por mais uma abstração as diversas referências individuais.

Mas, para mim, a melhor forma de utilizar o símbolo é a mais simples, portanto a que mais permite incluir a cada um: o triângulo isósceles com o ângulo superior a 108 º e os outros dois a 36 º cada um, sem mais nada dentro e sem mais nada fora. Cada um põe, na sua mente e na sua conceção, o que entender por bem acrescentar e ninguém terá nada a ver com isso. O símbolo mais "despido", mais simples, mais singelo, tem a virtualidade de ser aquilo que deve ser: o mais abrangente possível.

Rui Bandeira