09 agosto 2010

A Maçonaria: tecnologia avançada (III)



Uma das ordens profissionais mais poderosas na Idade Média era a dos pedreiros. Os "mestres pedreiros" eram uma mistura dos atuais arquitetos e engenheiros civis, dominando as vertentes técnica e estética; por produzirem obras duradouras e imponentes, boa parte das quais de caráter religioso, eram socialmente reconhecidos como servidores de Deus.

A construção de grandes edifícios de pedra era multi-disciplinar, e implicava conhecimentos avançados de física, mecânica e matemática para a conceção da estrutura, para além do domínio da metalurgia, escultura, pintura e química para a ornamentação, que por sua vez tinham motivos baseados no conhecimento da história, da teologia e da mitologia. Congregava, por isso, as mentes mais brilhantes da época, e eram detentores de "segredos" como o teorema de Pitágoras, ou o desenho de certos ângulos e figuras geométricas a partir de instrumentos simples como um fio e dois ou três pedaços de madeira.

Por essa razão, a par dos estatutos - que eram públicos e regulavam a relação das corporações com a sociedade envolvente – havia regulamentos que visavam a defesa dos segredos do ofício e que, por não se pretenderem revelados, eram apenas oralmente transmitidos de mestre para aprendiz ou de mestre para companheiro. Porque a maioria da população dessa época era analfabeta, essas técnicas, ao ser transmitidas, eram "embelezadas" com histórias que constituíam mnemónicas que pretendiam ajudar a que não esquecessem os passos da sua execução. Por outro lado, estas "histórias" permitiam que as técnicas fossem referidas simbolicamente entre quem as conhecesse sem revelar o seu sentido oculto.

Não esqueçamos, ainda, o contexto físico em que tudo isto se dava. Aquando da construção de um grande edifício, a primeira edificação a efetuar-se era um barraco onde os pedreiros se abrigavam, comiam, dormiam, guardavam as ferramentas e passavam os tempos livres - as "lojas". Ainda hoje este termo é usado em algumas regiões do nosso país para designar o espaço térreo sob a zona habitacional, e onde se guardam os animais e as alfaias agrícolas. Grupos de homens passavam aí juntos meses a fio, e por vezes anos; por isso era importante minimizar-se os conflitos, estabelecer uma hierarquia clara, e fomentar o espírito de grupo. Ora, nada torna um grupo mais coeso do que o estabelecimento de regras, costumes e valores partilhados. Não é difícil imaginar a formação dos aprendizes orientada não só para o aspeto prático do desempenho das funções como para o estreitamento destes laços entre os que habitavam a mesma loja.

Por outro lado, numa época em que as comunicações entre povoações mais longínquas podiam demorar semanas ou meses, era comum o estabelecimento de meios de reconhecimento; assim, quem chegasse a uma terra estranha e se dirigisse a alguém dizendo-se enviado por fulano, podia simplesmente identificar-se revelando um segredo apenas conhecido deste e do seu interlocutor. Deste modo, fazia parte dos segredos de algumas associações de artesãos os meios pelos quais se poderiam fazer reconhecer noutra terra ou perante um estranho que aparecesse.

Havia, por fim, outra razão para que algumas das técnicas não fossem reveladas. Numa época de grande superstição e ignorância, a simples aplicação de uma técnica científica podia ser - e era-o frequentemente - interpretada como bruxaria ou invocação de demónios. Não será, de facto, muito mais cómodo atribuir o sucesso alheio à ação de forças sobrenaturais do que admitir o seu mérito e, eventualmente, a sua superioridade intelectual? Para evitar "contratempos" dessa natureza é que muito do conhecimento da época, especialmente o ligado à química e à matemática, era cuidadosamente ocultado, não fosse confundido com artes de bruxaria ou adivinhação... Manter e saber guardar um segredo era, assim, mais do que o mero cumprimento de um dever ou a defesa do ganha-pão: era uma verdadeira "técnica de sobrevivência".

Paulo M.

06 agosto 2010

A Maçonaria: tecnologia avançada (II)



Durante a Idade Média eram os artesãos quem, empregando a destreza manual, a criatividade e o saber acumulado ao longo de gerações, produzia a maior parte dos bens. Por esta altura, os métodos, técnicas e saberes próprios de cada ofício - resultado de séculos de experimentação, erro e repetição (e, bastas vezes, de alguma sorte) – estavam já muito mais próximos do saber científico do que da magia, obtendo resultados consistentes quando sob condições controladas. Por isso mesmo o seu valor era imenso, pelo que constituíam segredos ciosamente guardados.

A classe dos artesãos dividia-se em dois grupos: os que tinham o seu próprio negócio - os mestres - e os que o não tinham; estes últimos subdividiam-se em assistentes pagos - ou companheiros - e aprendizes. O grupo mais influente dentre os artesãos era o dos mestres, os que detinham o seu próprio negócio e gozavam de grande prestígio nas suas comunidades.

Quem quisesse aprender um ofício tinha, primeiro, que ser aceite como aprendiz por um mestre artesão. Este iria, ao longo do tempo - frequentemente, de anos - ensinar-lhes primeiro as bases e depois, técnicas progressivamente mais elaboradas. Em troca, era frequente ficar o aprendiz obrigado a trabalhar um certo número de anos para o seu mestre. No âmbito da sua formação, os aprendizes aprendiam, assim, os “segredos do ofício”, primeiro através da observação do trabalho do mestre e depois através da prática. Esta transmissão de conhecimento queria-se fortemente restrita e regulada, pelo que não só os mestres artesãos apenas revelavam os segredos à medida da progressão dos recipiendários, como os aprendizes tinham, frequentemente, que jurar guardar os segredos que lhes eram confiados, Assim, era-lhes absolutamente proibido revelá-los quer a estranhos quer a aprendizes que ainda os não conhecessem.

No momento em que conseguisse trabalhar sem supervisão, podia o aprendiz passar a ser considerado assistente ou companheiro, altura em que passava a receber salário - pois que, até aí, era comum pouco mais receber que alimentação, guarida e a roupa de trabalho. Ao longo do tempo os assistentes continuavam a aprender com o seus mestres, sempre sob condição de segredo. Por fim, se a certa altura, o assistente conseguia angariar para si mesmo clientes que lhe permitissem autonomizar-se e estabelecer-se por conta própria, passava então a ser mestre de uma oficina. Era esta a progressão profissional nesta classe e nesta época.

Não é senão natural que, no sentido de defender os seus direitos e interesses comuns, os mestres artesãos tivessem procurado associar-se; podemos assim, sem medo de errar, presumir serem as associações de artesãos tão antigas quanto as respetivas artes. Ao longo dos séculos, cada uma dessas associações foi sendo reconhecida perante a sociedade enquanto interlocutor de toda a classe profissional que lhe dera origem. Era frequente as corporações assistirem os seus membros doentes, e tomarem a cargo as viúvas e órfãos dos artesãos menos prósperos. Davam dinheiro e comida aos pobres, e ofereciam aos hospitais a carne que sobrava dos seus banquetes. Refletindo a religiosidade omnipresente na Idade Média, as associações de artesãos operavam sob o patronato de um santo, que era considerado o especial protetor dessa arte, e em honra de quem era comum existir pelo menos uma pequena capela na zona da povoação em que os respetivos artesãos laboravam.

O auge do poderio das guildas - associações ou corporações profissionais medievais - deu-se no século XIV; nessa altura, nenhuma associação de artesãos podia existir legalmente sem a licença do rei, do príncipe, do abade ou do senhor do município onde pretendiam estabelecer-se. O reconhecimento real destas corporações de artesãos passava pela elaboração de leis especiais que lhes permitia governarem-se a si mesmos. Estas leis eram elaboradas com base no testemunho oral dos membros mais seniores de cada corporação; podia-se considerar, assim, serem leis produzidas pelas corporações, verdadeiros estatutos aprovados e aceites pelo Rei, e não uma lista de regras estabelecidas e impostas pelas autoridades. Esses estatutos quase sempre detalhavam com precisão as condições de trabalho, dias e horas de laboração, tamanho dos artigos, a qualidade da matéria-prima, e mesmo o preço de venda; tentavam, igualmente, prevenir fraudes e falsificações, pelo que os mestres eram, por exemplo, obrigados a marcar com o seu cunho pessoal os bens que produziam.

Havia, ainda, regulamentos internos, mas desses falarei no próximo post.

Referências:
http://www.medieval-spell.com/Medieval-Guilds.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Artisan

Paulo M.

04 agosto 2010

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da conspiração (IV - conclusão)

Nos três textos anteriores, expliquei detalhadamente como a pirâmide de 13 degraus e o Olho da Providência foram incluídos no Grande Selo dos EUA e, ulteriormente, na nota de um dólar americano, demonstrando que essa inclusão nada tem a ver com Maçonaria e que a simbologia ali utilizada nada teve a ver com a mesma.

Mas afinal os ditos símbolos são maçónicos ou não?

O Olho da Providência é uma ancestral representação da Divindade. Na mitologia egípcia, encontramos o "Olho de Ra", também chamado de "Olho de Hórus".

No Budismo, Buda é frequentemente referido como o "olho do Mundo".

Na iconografia cristã medieval e da Renascença, o símbolo é representado através de um olho inscrito no interior de um triângulo e é utilizado como representação da Santíssima Trindade.

Na iconografia maçónica original, este símbolo não existia. A mesma resumia-se ao compasso, ao esquadro, a outras ferramentas da Arte da Construção e a pouco mais.

Mas não olvidemos que a Maçonaria nasce cristã. Só mais tarde, em resultado de todo um percurso de prática da Tolerância evolui para a presente configuração aberta que admite todos os crentes, qualquer que seja a sua religião ou crença particular, num sincretismo que balança entre o teísmo e o deísmo (no meu entender, sendo originariamente teísta e assim se mantendo, mas evoluindo para incluir também as conceções deístas).

Originariamente os maçons eram todos cristãos. Católicos, da Igreja de Inglaterra, luteranos, ou calvinistas, mas todos cristãos. Não admira, assim, que, seja por influência cultural, seja pela crença religiosa, todos os maçons conhecessem e interiorizassem os símbolos cristãos, incluindo o Olho da Providência, símbolo da Santíssima Trindade.

A primeira aparição do Olho da Providência na iconografia maçónica surge apenas em 1797 (já depois da criação do Grande Selo dos Estados Unidos), com a publicação do Freemasons Monitor por Thomas Smith Webb. Ali foi incluída a representação do Olho Que Tudo Vê ou Olho da Providência, como forma de recordar a todos os maçons que os seus pensamentos e atos são observados por Deus, o Grande Arquiteto do Universo. E, a partir daí, foi-se expandindo, também nos meios maçónicos, a utilização do Olho da Providência, como representação e símbolo da Divindade.

Resumindo: o Olho da Providência é ancestralmente um símbolo da Divindade. Desde a Idade Média e Renascença que foi utilizado como símbolo cristão da Santíssima Trindade e nessa aceção foi incluído no Grande Selo dos Estados Unidos e, por essa via, mais tarde, na nota de um dólar americano. Só posteriormente a essa inclusão no Grande Selo é que, pela primeira vez, foi utilizado em ambiente maçónico. Hoje, é correntemente utilizado como símbolo maçónico. Mas essa utilização atual corresponde a uma apropriação pela Maçonaria do símbolo cristão pré-existente.

Quanto à pirâmide de 13 degraus, não tem qualquer significado ou simbologia maçónicos. A iconografia maçónica baseia-se nas ferramentas do ofício da construção e no Antigo Testamento. Particularmente importante nessa iconografia é o Templo de Salomão e a Lenda associada à sua construção. Nada na Maçonaria remete para a Tradição egípcia ou suméria, nem para as pirâmides egípcias (bem vistas as coisas, meros jazigos de gente rica e poderosa...) ou sumérias (tidos como artefatos destinados a favorecer a observação astronómica).

Referências a pirâmides maçónicas? Só no romance de Dan Brown, O Símbolo Perdido! Mas essa não é, de modo algum, uma referência relevante! Por três razões: 1. Trata-se, assumidamente, de uma obra de ficção; 2. Trata-se de uma obra, assumidamente, escrita por alguém que não é maçom; 3. Trata-se de um romance escrito já no século XXI, insuscetível de criar qualquer tradição, e, obviamente, impossível de ter servido de fonte a um qualquer eventual símbolo maçónico existente no século XVIII nos Estados Unidos da América!

Resumindo e concluindo: os badalados símbolos maçónicos do Grande Selo dos Estados Unidos da América e da nota de um dólar americano nem sequer são... símbolos maçónicos! O mais perto que lá se chega é da verificação que, depois da inclusão do Olho da Providência no Grande Selo dos Estados Unidos da América, a Maçonaria apropriou-se e passou a usar também o símbolo, até aí essencialmente cristão do Olho da Providência.

Factos são factos!

Não que eu acredite que os teóricos da conspiração deixem os factos abalar os seus (pobres) argumentos...

Fontes das informações contidas neste texto:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Olho_da_Provid%C3%AAncia
http://en.wikipedia.org/wiki/Eye_of_Providence
http://www.masonicinfo.com/eye.htm

Rui Bandeira

02 agosto 2010

A Maçonaria: tecnologia avançada (I)


Arthur C. Clarke, escritor, inventor e futurista, autor de "2001, odisseia no espaço", afirmou um dia que "qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia ("any sufficiently advanced technology is indistinguishable from magic"). De facto, se considerarmos que a "magia" consiste no uso de métodos sobrenaturais para manipular forças naturais, pode dizer-se que a tecnologia, por ultrapassar de longe o que podemos encontrar na natureza, pode, num certo sentido, ser considerada "sobrenatural". A tecnologia não deixa, contudo, de se basear solidamente - e unicamente, diria eu - no estudo das leis naturais.

Explicar o funcionamento de muitos dos artefactos que nos rodeiam está bem para além do conhecimento do cidadão comum. Já não falo de saber explicar como funciona, por exemplo, um telemóvel ou um televisor; mas quantos saberiam explicar como funciona um simples relógio mecânico - como um despertador de corda - ou uns binóculos? Para os explicar são necessários alguns rudimentos de ótica num caso, e de mecânica no outro. No entanto, uma vez transmitidos e apreendidos os conceitos, poder-se-ia avançar para o entendimento de engenhos mais avançados - como um motor a vapor, por exemplo. Por outro lado, se tentarmos explicar como funciona um despertador sem nos assegurarmos de que o nosso interlocutor sabe o que é uma alavanca e quais os seus princípios subjacentes, o que é por sua vez essencial ao entendimento de como funciona uma roda dentada, então estamos condenados ao fracasso. O conhecimento desta natureza deve ser tansmitido de forma sequencial, começando-se pelo simples e criando-se progressivamente alguma complexidade com base no conhecimento adquirido, de modo a garantir-se a sua interiorização.

Há casos conhecidos de exposição de alguns povos a tecnologias para as quais estes não dispunham de bases de entendimento, e do subsequente aparecimento de cultos de caráter religioso em torno das mesmas. Um dos exemplos famosos é o culto à carga, um tipo de prática religiosa que apareceu em muitas sociedades tribais tradicionais aquando do contacto e interação com culturas tecnologicamente mais avançadas. Esses cultos focam-se na obtenção de riqueza material (a "carga") da cultura avançada através de práticas e rituais mágicos e religiosos, crendo que a riqueza lhes fora facultada e destinada pelas suas divindades e antepassados. É assim que, enquanto que é para nós evidente que o lançamento de mantimentos por avião durante uma fome é um ato de solidariedade, para alguns dos que recebem essa ajuda é de magia que se trata.

O modo racional e científico de olhar o mundo está de tal modo imbuído da nossa forma de pensar eurocêntrica e ocidental que nos custa a ponderar as alternativas. Muitos dos povos do mundo ainda estão arredados dos fundamentos da forma de pensar que levou ao surgimento do pensamento e do método científicos: a experimentação e repetição, o isolamento das causas dos fenómenos, o raciocínio e a matemática enquanto ferramentas de trabalho. Em seu lugar encontramos uma profusão de conhecimentos passados de geração em geração em que se mistura informação útil sobre plantas, animais e metodologias validáveis com superstições, demonologias e pura feitiçaria. De facto, a própria matriz cultural subjacente à interiorização enquanto "fenómenos mágicos" de meros acontecimentos naturais dificulta tremendamente a tentativa de explicação da sua verdadeira natureza. Não é, assim, senão natural que manifestações de tecnologias estranhas sejam interpretadas como poderosas magias aos olhos de quem apenas encontra magia no mundo que o rodeia.

Paulo M.

30 julho 2010

Por que são secretos os rituais maçónicos



Como se disse já, a Maçonaria tem apenas três tipos de segredos: os rituais, os meios de reconhecimento e a identidade dos seus membros. Debrucemo-nos hoje sobre os rituais.

Recordo claramente o "ritual" de início de cada dia de escola: entrávamos todos em fila, ordeiramente e em silêncio, colocávamo-nos em locais pré-determinados, respondíamos à chamada, preparávamos os instrumentos de trabalho (a caneta e o caderno diário) e escrevíamos o local e a data do dia, seguidos do sumário; depois disso, cada um tinha procedimentos a seguir - se, por exemplo, pretendia falar, tinha que levantar o braço - bem como tinha variadas limitações à sua ação - não podíamos levantar-nos sem autorização, por exemplo.

Identicamente, os rituais maçónicos determinam e regulam uma série de acontecimentos que sucedem durante uma reunião (a que os maçons chamam "sessão"), no sentido de conferir alguma ordem aos trabalhos - precisamente do mesmo modo que numa sala de aula. Assim, fazem parte dos rituais procedimentos meramente administrativos como o são a chamada ou a leitura da ata da sessão anterior. Estes procedimentos nada têm de secreto, e poderia dizer-se que só não se referem por não o merecerem, de tão enfadonhos que são...

Por outro lado, os rituais também são uma espécie de "peças de teatro", no sentido em que há vários "atores" com "falas" e ações bem definidas e pré-determinadas. Estas ações são um pouco mais elaboradas do que é costume noutras circunstâncias do nosso dia-a-dia, e muito do que se diz e faz é simbólico. O simbolismo, em si, não é oculto; já o significado que lhe é atribuído em determinado contexto pode sê-lo. Há coisas que estão à vista desde o primeiro dia em que se entra num templo maçónico e que nunca são explicadas, antes sendo deixadas - como tantas outras - à interpretação e interiorização de cada um. De outras é dada uma explicação em determinado contexto, como na cerimónia de Iniciação - em que se passa de Profano a Aprendiz - na passagem de Aprendiz a Companheiro, ou na de Companheiro a Mestre. Esses "rituais secretos" nada têm de interessante para quem esteja fora do contexto. Imaginem um músico a assistir a uma secretíssima reunião de alta finança num banco; ou uma pessoa como eu, avessa a futebol, a assistir às secretíssimas reuniões do Mourinho com a sua equipa em vésperas de um grande jogo... Para essas pessoas, pouca ou nenhuma valia teria esse conhecimento.

Então porquê o secretismo? Por uma razão: porque, para aqueles a quem interessa, há um momento certo para se saber. E porque é que há esse "momento certo", e não se pode saber logo? Procurei um bom paralelismo que o explicasse, e creio que o encontrei: imaginem-se a ler um bom livro policial, daqueles bem elaborados; ou a ver um bom filme de suspense. Agora imaginem que alguém chega, e vos diz: "Ah, conheço, já vi, foi o mordomo na biblioteca com o candelabro." Pior: imaginem que vo-lo dizem mesmo antes de iniciarem o livro ou o filme. Acham que irão retirar o mesmo prazer, ler com o mesmo empenho, analisar com o mesmo estímulo? Claro que não. A experiência ficou arruinada pelo conhecimento prévio. O mesmo se passa com os rituais maçónicos. Por isso se recomenda a quem pretenda ingressar a Maçonaria que não leia, não procure, não se informe. Mas, se o fizer, apenas a si mesmo se prejudica - na mesma medida de alguém que, sorrateiramente, ludibriando-se a si mesmo, ardendo de curiosidade, fosse ler as últimas páginas do tal romance policial.

Por isso, e se não pretendem alguma vez ser admitidos na Maçonaria - ou se pretendem mas querem garantir que a experiência fique irremediavelmente arruinada - então basta procurarem que, com o auxílio do nosso "amigo" Google, terão, com alguma diligência e arte, acesso a dezenas de versões de rituais maçónicos de diversas épocas, locais e obediências.

Encontrarão também, se as procurarem, partituras de obras musicais famosas, e mesmo vídeos das mesmas. Mas - ah! - só quem já cantou num coro ou tocou numa orquestra sabe o quão diferente é estar de fora a ver, ou participar de dentro. Tentem que vos expliquem a diferença, e serão unânimes: "não dá para explicar, tens que viver a experiência para a compreenderes". Com um ritual maçónico - já o adivinharam - passa-se o mesmo. Não se explica, não se revela, não se estuda - vive-se, ou não se entende.

Paulo M.

28 julho 2010

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da conspiração (III)


Nos textos anteriores, mostrei que as imagens do verso da nota de um dólar americano são, afinal, o verso e reverso do Grande Selo dos Estados Unidos e que os símbolos ali insertos nada têm a ver com a Maçonaria e tudo têm a ver com a independência daquele país. Nada que abale as "certezas" dos teóricos da conspiração, sei-o bem. Mas o meu propósito é esclarecer as dúvidas de quem as tem, não abalar "certezas" de iluminados por "verdades ocultas"... Os teóricos da conspiração, em síntese, clamam que, na nota de dólar, e no Grande Selo dos EUA, os maléficos maçons introduziram símbolos seus (não esclarecem para quê, mas isso são detalhes...). Não se comovem com as explicações demonstrativas de que os símbolos em causa não são maçónicos, sobretudo quando formuladas por um maçom - que, obviamente, faz parte da Grande Conspiração Maçónica e está a querer ocultar, disfarçar, esta ponta levantada do véu da Grande Conspiração Maçónica...

Não basta, portanto, a demonstração que já fiz. É preciso ir mais além. E ir mais além é divulgar o processo de criação do Grande Selo dos EUA - e deixar que cada um ajuíze, em função dessa informação e dos demais elementos fornecidos, a validade da teoria da conspiração!

Logo em 4 de julho de 1776, dia da Declaração de Independência, o então designado Congresso Continental nomeou a primeira comissão para desenhar o Grande Selo ou emblema da nova nação. Acabaram por ser necessários seis anos, três comissões e os contributos de catorze homens para que o Congresso finalmente viesse a aprovar tal símbolo dos Estados Unidos. O desenho aprovado incluía elementos das propostas de cada uma das três comissões sucessivamente designadas.

Compunham a primeira comissão Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e John Adams. Dos três, só o primeiro foi maçom. E a sua proposta não foi aceite!

Franklin escolheu uma cena alegórica do Êxodo, que descreveu como "Moisés de pé à beira-mar, estendendo a sua mão sobre este e causando o afogamento do exército do Faraó". A divisa que propôs foi: "A Rebelião Contra Os Tiranos É Obediência A Deus". Jefferson sugeriu uma representação dos Filhos de Israel perdidos, guiados de dia por uma nuvem e de noite por uma coluna de fogo, para o verso do Selo; para o reverso, propôs a efígie de Hengest e Horsa, os dois irmãos que foram os lendários líderes dos primeiros colonos anglossaxões na Bretanha. Adams escolheu uma pintura chamada " Julgamento de Hércules", na qual este tem de escolher entre o florido caminho da Facilidade ou o rude carreiro do Dever e da Honra. Não sendo versados em heráldica, pediram a ajuda de um artista plástico de Filadélfia, Pierre Eugene du Simitiere (não foi maçom), que veio a elaborar uma proposta com um brasão com seis secções, simbolizando os seis países de onde eram originários os habitantes das colónias independentistas (Inglaterra, Escócia, Irlanda, França, Alemanha e Holanda), rodeado pelas iniciais dos treze estados. Suportavam o brasão uma figura feminina, a Liberdade, e um soldado americano. Sobre o brasão, o "Olho da Providência" inscrito num Triângulo Radiante e a divisa E plurubus unum.

A Comissão apresentou o seu relatório com as quatro propostas ao Congresso. Este escolheu a proposta de Pierre du Simitiere, mas pretendendo alterações. Insatisfeito, não deu a sua aprovação final, vindo a ser nomeada uma segunda comissão. Do conjunto de propostas desta primeira comissão, foram incluídos no desenho final do Grande Selo a divisa, o "Olho da Providência" e a inclusão da data 1776.

A segunda comissão nomeada foi constituída por James Lovell, John Morin Scott e William Churchill Houston. Tal como os anteriores nomeados, procuraram a ajuda de alguém mais versado em heráldica, Francis Hopkinson, que foi quem fez a maior parte do trabalho. Nenhum dos quatro foi maçom. Embora tal tenha sido alegado quanto a Hopkinson, não existe qualquer prova ou registo disso. Hopkinson, um dos signatários da Declaração de Independência, ajudara a desenhar a bandeira americana e foi autor dos Selos de vários Estados. Apresentou duas propostas, com temas de guerra e paz. A primeira continha um escudo com treze barras diagonais, alternadamente vermelhas e brancas, suportado num dos lados pela Paz, uma figura feminina com um ramo de oliveira, e no outro por um guerreiro índio, com arco e flechas. Por cima, uma constelação radiante de treze estrelas. A divisa era "Preparado Para A Guerra E Para A Paz". No verso, a Liberdade, sentada numa cadeira, segurando um ramo de oliveira, com a divisa "Perene pela virtude" e a data 1776. Na segunda proposta, o guerreiro índio foi substituído por um soldado segurando uma espada e a divisa foi encurtada para "Para A Guerra Ou Para A Paz". A Comissão escolheu a segunda proposta e apresentou-a ao Congresso. Mais uma vez, o Congresso não deu a sua aprovação, vindo a nomear uma terceira comissão. Da proposta desta segunda comissão, transitaram para o desenho final as treze listas no escudo e respetivas cores, a constelação de estrelas rodeada por nuvens, o ramo de oliveira e as flechas (da primeira proposta de Hopkinson).

A terceira Comissão nomeada foi constituída por John Rutledge, Arthur Middleton e Elias Boudinot. Rutledge veio a ser substituído por Arthur Lee, mas a nomeação deste nunca foi oficialmente formalizada. Tal como sucedera com as duas comissões anteriores, o grosso do trabalho foi delegado num especialista em heráldica, Willam Barton. Nenhum destes homens foi maçom. A proposta de Barton, que a Comissão veio a submeter ao Congresso, continha um escudo ladeado por uma jovem, representando o Génio Da República Americana Confederada" e por um soldado americano. Ao alto, uma águia. No escudo, um pilar com uma Fénix Em Chamas. As divisas eram "Em Defesa Da Liberdade" e "Só Virtude Invicta". No reverso, uma pirâmide de treze degraus encimada por um "Olho da Providência" radiante (da primeira comissão) e as divisas "Com O Favor De Deus" e "Perene". Ainda uma terceira vez, a proposta não mereceu a aprovação do Congresso. Da proposta da terceira comissão, transitou para o desenho final a pirâmide de treze degraus.

Em 13 de junho de 1782, o Congresso entregou ao seu Secretário, Charles Thomson (não foi maçom) os projetos das três comissões e encarregou-o de elaborar um novo desenho. Thomson, utilizando elementos das propostas das três comissões, elaborou o que veio a ser o projeto finalmente aprovado. De seu, as divisas Annuit Coeptis (Ele aprova o nosso empreendimento) e Novus ordo seclorum (Nova Ordem Dos Séculos). Antes da submissão final ao Congresso, solicitou a Barton que efetuasse uma revisão final, tendo este alterado o sentido das listas para vertical e a posição das asas da águia. O projeto final assim resultante foi submetido ao Congresso em 20 de junho de 1782 e nesse dia finalmente aprovado!

Como se vê, uma conceção detalhadamente analisada, feita, refeita e feita de novo, com a participação de catorze homens, dos quais apenas um maçom - e cuja proposta em nada contribuiu para o resultado final!

E é perante estes factos - comprovados, registados! - que os teóricos das conspirações brandem as suas "certezas"! Mais palavras para quê?

Fontes das informações contidas neste texto:

http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Seal_of_the_United_States#History
http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Seal_of_the_United_States#Speculation_and_conspiracy_theory

Rui Bandeira

26 julho 2010

Tudo se aprende, nada se ensina


O mundo só se nos mostra pelos nossos sentido, e a complexidade e a variabilidade da realidade ultrapassam a nossa capacidade de absorver a individualidade de cada ocorrência. Para lidar com essa complexidade generalizamos, sintetizamos e normalizamos, considerando, de acordo com a nossa vivência, serem idênticas coisas que, na verdade, são ligeiramente diferentes. Este mecanismo faculta-nos mais informação, que por sua vez nos permite entender, antecipar e reagir melhor àquilo que sucede em nosso redor. No entanto, não há duas vidas iguais; não há duas experiências do mundo iguais; não há duas realidades iguais. Por isso é que o mundo, tal como o apercebemos, é, mesmo que impercetivelmente, distinto do mundo tal como é apercebido por qualquer outra pessoa. Assim, porque cada um é fruto da visão que tem do mundo, é natural que seja única e irrepetível a matriz que estabelece a própria conceção identitária de cada um de nós.

Assim, podemos dizer que a nossa identidade passa pelas convicções que decorrem da nossa experiência ao longo da nossa passagem pelo mundo. Ora, essas nossas convicções - especialmente a política e a religiosa - são um pouco como a nudez física. Assim, há quem, (à semelhança dos nudistas - e, até, dos exibicionistas) esteja disposto a desnudar a sua intimidade do ser, do crer e do pensar, expô-la e questioná-la; e, no outro extremo, quem (à semelhança de quem nem ao médico revela a nudez) sinta como agressão o mero questionamento das suas convicções, sentindo que tal abalaria a delicada construção interna da sua relação consigo mesmo, com o mundo e com os outros.

Uma Loja Maçónica pode ser vista como um ecossistema de poucas dezenas de pessoas que se reencontram vezes e vezes a fio e que sabem que podem "baixar as defesas" e, sem receio, expor o seu ser, o seu saber e a sua experiência para benefício dos demais. Cada um apresenta, na medida que entende fazê-lo, e mediante o seu grau de conforto em revelar-se, a sua visão do mundo e a súmula que dela fez - a sua pessoal e única experiência - com o intuito de que cada um dos demais possa ver o mundo por outros olhos e retire daí os ensinamentos que entenda.

Atacar essa matriz assim exposta seria atacar a pessoa no que tem de mais íntimo, de mais pessoal, de mais sagrado. Por isto, uma das primeiras coisas que se aprende na Maçonaria é a respeitar a diferença e a diversidade, sejam estas de pontos de vista, de crenças ou de convicções. Cada um dá um pouco de si; quem quer, colhe daí o que lhe aprouver. Ninguém é obrigado a aderir a conclusões conjuntas, a versões definitivas, a consensos alargados; estes procuram-se apenas até onde é possível fazê-lo sem atropelar a convicção e a vontade de cada um.

É esta uma das formas através das quais a Maçonaria toma homens bons e os torna melhores. É assim que, em Maçonaria, tudo se aprende e nada se ensina. E é assim, e por isso, que, em Maçonaria, se aprende a calar tudo quanto possa perturbar este equilíbrio.

Paulo M.

23 julho 2010

A Guerra Civil Inglesa (ou porque não se discute política ou religião em Loja)




Entre 1500 e 1800 diferentes reis e rainhas de Inglaterra perseguiram, prenderam, mataram ou simplesmente incomodaram católicos, anglicanos, metodistas, puritanos, luteranos, presbiterianos, calvinistas, quakers, e virtualmente qualquer outra variação da Cristandade. A convicção pessoal e a fé de cada monarca tinha graves consequências, muitas vezes fatais, nos seus desafortunados súbditos que não oravam perante o mesmo altar.

A Guerra Civil Inglesa, iniciada em 1642 entre Monárquicos, partidários do rei Carlos I de Inglaterra e Parlamentaristas, liderados por Oliver Cromwell foi, na sua essência, uma luta entre a Igreja estabelecida, apoiada pela nobreza (que pretendia ver o seu poder perpetuado) e protestantes puritanos radicais, oriundos de uma classe média emergente, desejosos de se governar a si mesmos. A guerra só terminaria sete anos depois, com a condenação de Carlos I à morte e a tomada do poder por Cromwell e pelos puritanos. Não obstante Carlos I ter sido mal amado pelo seu povo e não ter propriamente deixado saudades, bastou menos de uma década de um estilo tirânico e sangrento de governação com Cromwell à cabeça para que os ingleses quisessem a sua monarquia de volta. Carlos II foi coroado em 1661 e, ao contrário do seu pai, era um homem bem mais interessado na ciência e na razão do que na perseguição religiosa. Abriu, assim, as portas para uma nova era, uma era que iria acolher favoravelmente os novos princípios da Maçonaria Especulativa.

Um dos piores aspetos desta guerra foi ser um conflito de irmão contra irmão, vizinho contra vizinho, amigo contra amigo. Esta terrível circunstância afetaria o futuro e a filosofia da Maçonaria até aos nossos dias. Foi assim que, em 1717, quando a primeira Grande Loja foi formada em Londres, foram estabelecidas regras pouco usuais. Em primeiro lugar, proibiu-se a discussão de religião: as reuniões não seriam interrompidas por argumentos entre católicos, anglicanos, puritanos e protestantes. Enquanto os membros acreditassem em Deus, a sua fé não seria questionada. Em segundo lugar, as batalhas políticas entre monárquicos e parlamentaristas - que tinham dado origem à guerra civil - não seriam toleradas: os maçons estavam determinados a sobreviver às questões que haviam devassado o seu país, e a impedir que quem quer que fosse os pudesse acusar de heresia ou de traição. Em seu lugar, as Lojas insistiam no estabelecimento de laços fraternais entre os seus membros. Ficava, de igual modo, estabelecido um valor muito querido à Maçonaria: a tolerância.

Eis as razões históricas da proibição da discussão de política ou religião em Loja. A Maçonaria Regular tem - muito tradicional e britanicamente, poderíamos dizer - tendência para ser avessa a grandes "inovações", e para se ater àquilo que o tempo confirmou como sendo adequado. Não houve, até agora, razão bastante para se reverter essas proibições - pelo que estas ainda vigoram.

Em muitas Lojas - como na Loja Mestre Affonso Domingues - essa regra não é interpretada no sentido de ser vedada a referência a qualquer tema político ou religioso, mas antes no sentido de proibir qualquer controvérsia ou discussão sectária ou confessional, ideológica ou partidária, que divida a Loja em "lados", em "partidos" e em "partes" que tenham por denominador comum a convicção, a crença ou a ideologia de cada um. Pode, assim, discutir-se se determinada medida política concreta será melhor ou pior, mas sem que nunca se questione - ou se mencione, sequer - partidos ou correntes ideológicas; assim como se pode apresentar um trabalho sobre uma determinada religião, mas sem que seja admissível que a mesma seja criticada. Outras Lojas entendem diversamente, e aplicam uma interpretação mais estrita, abstendo-se de qualquer referência a um e outro tema. Não posso fechar este assunto sem referir a Maçonaria Liberal - de inspiração francesa - em que estas restrições não existem de todo. Saliento, por fim, que estas proibições se referem apenas aos trabalhos em Loja e que, fora destes, qualquer maçon pode pronunciar-se como entenda sobre o que tenha por conveniente.

Paulo M.

22 julho 2010

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da conspiração (II)

No verso da nota de um dólar dos Estados Unidos figuram duas imagens, uma com uma pirâmide inacabada e o "olho que tudo vê" e a outra com a "águia americana". Particularmente a primeira das duas imagens é apontada pelos teóricos da conspiração como a demonstração da cabala maçónica, que logrou introduzir dois dos seus símbolos na nota de dólar - sem que se perceba bem o que é que se ganharia com isso (mas isso nunca fez hesitar um teórico da conspiração que se preze...).

Pois bem: estas duas imagens foram introduzidas, em 1935, na presidência de Franklin D. Roosevelt, pela simples, evidente e clara razão de que... são o verso e o reverso do Grande Selo dos Estados Unidos!

Ah! - gritam triunfantemente os teóricos da conspiração -, então a conspiração maçónica vem de trás e é muito mais grave. Conseguiram colocar símbolos maçónicos no símbolo por excelência da República americana!

Não é minha preocupação vir agora com os factos perturbar as teorias com que se entretêm aqueles senhores mas... os factos são os que seguidamente apresento.

O Grande Selo dos Estados Unidos é usado para autenticar documentos emitidos pelo Governo Federal dos EUA. Esta designação aplica-se não só ao artefacto físico utilizado para essa autenticação, como para designar as imagens que constam do seu verso e reverso. Foi publicamente usado pela primeira vez em 1782.

No verso, está o brasão de armas americano (a águia segurando 13 flechas - figurando os 13 Estados originais da União - e um ramo de oliveira com 13 folhas e 13 azeitonas - de novo em representação dos 13 Estados originais -, a divisa E pluribus unum (com 13 letras), que significa "De Muitos, Um" - também utilizada por um popular clube desportivo português, ó teóricos da conspiração! Aproveitai para elaborar mais uma teoriazinha... -, no peito da águia um escudo com 13 - de novo - faixas verticais e sobre a sua cabeça uma glória com 13 - sempre! - estrelas).

O reverso tem a pirâmide (de 13 degraus, de novo simbolizando os 13 Estados originais) inacabada, encimada pelo "olho que tudo vê". tendo inscrita na sua base, em carateres romanos, a data 1776 (data da Independência dos EUA) e as inscrições Annuit Coeptis (13 letras...), que significa "Ele Aprova O Nosso Empreendimento" e Novus ordo seclorum, "Nova Ordem Dos Séculos".

O simbolismo do Grande Selo dos Estados Unidos é, assim, dominado, pelo número 13 (que nenhum significado particular tem em Maçonaria), em referência, repetida, às 13 colónias que declararam a Independência. A própria pirâmide inacabada tem 13 degraus e é inacabada porque os 13 Estados originais estavam abertos a que outros se lhes juntassem.

O "olho que tudo vê", também designado por "Olho da Providência" é uma evidente representação de Deus, como sem dúvida alguma resulta da legenda que o rodeia (Ele - Deus, obviamente - aprova o nosso empreendimento - de declarar a independência).

Note-se que o "olho que tudo vê" está inserido no interior de um triângulo, representação cristã do símbolo, em alusão à Santíssima Trindade. Esta representação cristã simbolizando o Criador está presente, por exemplo, na catedral de Aachen, na Alemanha, a mais antiga catedral do norte da Europa, cuja construção se iniciou por volta de 790, no reinado de Carlos Magno, que nela está sepultado - muito antes de haver Maçonaria...

O simbolismo do verso do selo foi oficialmente apresentado por Charles Thomson perante o Congresso dos Estados Unidos, aquando da apresentação do projeto final do Grande Selo para aprovação por aquele órgão do Poder Legislativo americano (no século XVIII, note-se...), da seguinte forma (tradução livre minha):

A pirâmide significa Força e Perenidade. O Olho sobre ela e a divisa aludem aos muitos sinais da Providência em favor da causa americana. A data na parte de baixo é a da Declaração da Independência e as palavras por baixo significam o princípio da Nova Era Americana, que se iniciou naquela data.

Factos são factos. Calculo que, por muito perturbadores que sejam para as teorias dos teóricos da conspiração, não será por isso que as vão abandonar e vão deixar de insistir que os símbolos da nota de um dólar e do Grande Selo dos Estados Unidos são maçónicos, porque os maçons (melhor dizendo: os maçons de um determinado rito, nem sequer presente nos Estados Unidos), dizem eles - e, se o dizem, passa, segundo eles, a ser verdade... - também usam uma pirâmide como símbolo (e a questão de a pirâmide do selo ter 13 degraus, como os Estados originais e ser inacabada, em alusão à aceitação de mais Estados que se juntassem à União - e agora são cinquenta... - é um mero detalhe que não impede a insistência na tese da cabala maçónica...) e o "olho que tudo vê " é, só pode ser, e "toda a gente" o reconhece como símbolo maçónico, apesar de ser uma secular representação do Criador (desde o tempo dos egípcios, então sob a forma do "olho de Hórus"), especificamente cristã quando inserido num triângulo (simbolizando a Santíssima Trindade) e mostrar-se presente, por exemplo, numa antiquíssima Catedral, construída quando não havia Maçonaria.

Mas factos são factos. E, para que não restem dúvidas (senão as "certezas" dos teóricos da conspiração), ainda dedicarei um terceiro texto ao processo de criação do Grande Selo dos Estados Unidos. Assim se verá se este processo foi público e transparente ou encoberto e conspirativo, como juram os ditos teóricos...

As informações do texto de hoje foram recolhidas nos seguintes artigos da Wikipedia:

Great Seal of the United States
Annuit coeptis
Olho da Providência
Catedral de Aachen

Tudo locais de muito difícil acesso e de evidente controlo maçónico, como se vê...

Rui Bandeira

21 julho 2010

Uma história de sucesso ?


Ora bem, cá regresso eu, e cada vez que regresso trago menor dose de pachorra para as “cutuquices” ! É da idade, não liguem.
Por isso, mas muito mais por razões que alguns de vós bem conheceis (pelo menos o Rui e o Paulo M sabem o que se passa) tornei-me em faltista militante aqui neste “cantinho da escrita” que também está “prantado” à beira mar.
E se hoje regresso ao convívio destes letrados é para contar uma “história” de sucesso !!!
E esta história de sucesso é a do Bernardo.

Trata-se de um jovem porreiro, castiço na sua limitação, risonho quase sempre.
Tem uma "casa" na “net” que lhe é dedicada e que dá pelo título de “Anda Bernardo !”
(http://andabernardo.blogspot.com/) onde está todo o texto desta história de sucesso, desde o argumento aos interpretes e acabando nos SGS (Special Guest Star).

Como podem ver a lista de SGS’s está aberta, completamente aberta e o Bernardo, que é o dono da casa, honrar-se-á muito com a Vossa presença na história.
Ele gosta de Vocês, é Vosso admirador, Vocês é que não sabem… e provavelmente Ele também não ! Mas esta história que já tem o elenco dos intérpretes fechado, está muito necessitada de Convidados, são precisos muitos SGS’s, e é por isso que venho aqui contá-la.
E desta vez fico todo contente. Quem não gosta de poder contar histórias de sucesso ? Todos gostam, portanto só posso estar contente.
Agora, o que realmente é importante, é que não me façam ficar triste e que se inscrevam também na lista dos Convidados.

Vá, tem de ser já a seguir ! Vão ao “Anda Bernardo !” e inscrevam-se, não tenham vergonha de aparecer nos ecrans da vida.
No da morte irão aparecer algum dia, quer queiram quer não… Isso eu garanto.
Só espero que demorem muito ainda. Não tenham pressa disso que eu também não.
Mas no ecran da vida é a Vossa vontade que manda, e neste caso até estão convidados. Especialmente convidados !

E ficam a saber... esta é uma história de sucesso, digo eu que até nem sou aldrabão (?), porque se não fôr… é porque Vocês não quiseram que fosse !

Abrações.
JPSetúbal

19 julho 2010

A liberdade absoluta



O Diogo, leitor assíduo deste blogue - a julgar pela profusão e extensão dos comentários que cá tem deixado - gosta de "cutucar a onça". Quanto a mim, confesso-me uma "onça altamente cutucável", e gosto de (pelo menos tentar) responder a quem me questiona com sinceridade. Pois seja assim. Irei tentar responder - uma ou duas de cada vez - às questões colocadas nos comentários do último texto.

Paulo - «A Maçonaria proíbe no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa… É por isso que, em Maçonaria, se respeita em absoluto a liberdade de expressão de cada um.»
Diogo – Esta frase contém ideias incompatíveis. Não pode existir liberdade de expressão se todo o debate é proibido.

Um dos problemas das palavras é terem tantos significados - e tão diferentes. No site da Infopedia, por exemplo, podemos encontrar vários significados de "discussão", que vão de "análise e troca de ideias sobre um assunto entre duas ou mais pessoas com o objectivo de chegar a um consenso" a "troca de palavras ásperas e por vezes injuriosas, geralmente em voz alta e de modo agressivo; altercação; briga". Parece-me evidente - e de bom senso - que a proibição seja atinente ao segundo significado, e não ao primeiro. Vejamos agora "controvérsia": "discussão sobre um tema ou uma opinião, em que são debatidos argumentos opostos e geralmente acalorados; debate; polémica"; "contestação". Uma vez mais, a questão aqui é o "calor" e os seus efeitos, e não a natureza do que se diz.

É claro que nem todo o debate é proibido; desde que dentro das regras de urbanidade, com respeito pela posição do outro, e com toda a delicadeza, pode discutir-se quase tudo. A proibição - mais do que tricentenária - de debate de assuntos políticos e/ou religiosos decorre da experiência de onde tais debates costumam levar quando os envolvidos residam em campos antagónicos: a palavras acaloradas, menosprezo e desrespeito pela posição do outro (o que pode ser feito de forma muito fria e educada mas não menos ofensiva) e defesas e ataques de parte a parte. No final, o confronto de pontos de vista, longe de permitir o enriquecimento de cada um ou de possibilitar uma posição de consenso, apenas redunda em desconforto, mágoa ou - no pior cenário - mesmo de ideias ainda mais extremadas e repisadas pelo confronto.

Espero que esta rápida análise semântica tenha contribuído para esclarecer o que se pretende, de facto, evitar com esta proibição. Contudo, sei bem que o Diogo não se fica com uma resposta tão superficial. De facto, relegarmos a questão para um mero disagreement linguístico sería risível. O que está em causa é o meu emprego da palavra "absoluto". Poderia eu, para simplificar a coisa, limitar-me a escusar-me, e a retirá-la, dizendo então apenas que "em Maçonaria, se respeita a liberdade de expressão de cada um" em vez de se dizer que se respeita "em absoluto". Todavia, a questão - filosófica - é importante demais para ser deixada cair tão displicentemente - especialmente quando creio que, esta sim, traduz as ideias tão argutamente apontadas como incompatíveis .

A "liberdade absoluta" é um conceito curioso. Para ser absoluta tem que ser universal; não podemos defini-la de acordo com as nossas circunstâncias particulares, mas antes devemos considerá-la enquanto o que desejaríamos que outros (quaisquer outros) fizessem nas nossas circunstâncias. Por outro lado, as nossas decisões devem ser a síntese unificadora das diversas influências e constrangimentos; as nossas ações, se bem que livres, devem refletir os condicionamentos que decorrem da nossa vivência em comunidade. Deste modo, a ética da liberdade absoluta não é absolutamente livre. Para ser livres temos que assumir a responsabilidade de escolher no lugar de Todos, de trabalhar para a liberdade de Todos, e agir no contexto que temos com Todos os demais.

Ou seja: mesmo a liberdade absoluta tem muito pouco do "absoluto" que anteciparíamos. Mais do que um "absoluto", a vida é um permanente compromisso - e aí, na busca de posições relativamente concordantes mais do que absolutamente finais, a Maçonaria tem muito para ensinar.

Paulo M.

17 julho 2010

Os Segredos da Maçonaria, o silêncio e o saber calar-se


Por poucos que sejam, há, de facto, segredos na Maçonaria. Num tempo e numa sociedade em que a vida de cada um se encontra cada vez mais exposta, não é senão natural que a simples existência de segredos cause curiosidade e mesmo perplexidade. Contudo, a existência dos segredos tem mais do que uma justificação.

Em primeiro lugar, há as razões culturais, morais e éticas. Diz-se da Maçonaria ser "um sistema peculiar de moralidade, velado por alegorias e ilustrado por símbolos". Ora, se os sistemas de moralidade variam de sociedade para sociedade, as raízes anglo-saxónicas da Maçonaria são bem visíveis através daquilo que esta valoriza, como a delicadeza de trato associada aos gentlemen, ou essa mistura de contenção e refreamento que constitui a tão conhecida fleuma britânica. Pode, nesta perspetiva, dizer-se que o segredo, o silêncio e o "saber calar "são manifestação de três virtudes que a Maçonaria muito preza: a circunspeção, a discrição e o auto-controlo. Terá sido esta atitude, a par de um contexto histórico de guerras religiosas e de luta política de que a Maçonaria queria (e quer) manter-se afastada, que ditou o 6º Landmark, "A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros." Quantas vezes uma frágil harmonia se consegue, sabe-se lá com que custo, pela exaltação dos pontos de concórdia, e pela minimização da exposição dos pontos de dissenção... É por isso que, em Maçonaria, se respeita em absoluto a liberdade de expressão de cada um - ao mesmo tempo que se espera que cada um tenha aprendido a, no seu exercício, não ameaçar a harmonia, o equilíbrio e a fraternidade.

Em segundo lugar há razões simbólicas e metodológicas. Diz-se que, nos tempos da Maçonaria Operativa, seria através de sinais secretos, próprios de cada uma das classes de operários, que os seus membros se identificariam perante os tesoureiros para assim receberem os seus salários diferenciados. Do mesmo modo, cada grau - Aprendiz, Companheiro e Mestre - tem os seus próprios sinais de reconhecimento, os seus próprios segredos que não podem ser revelados aos de grau inferior. A natureza do que se cala é menos importante do que a aprendizagem do guardar silêncio, do calar-se e do refrear-se. Sem calar não se pode ouvir; é por isso que nas sessões é imposto absoluto silêncio aos Aprendizes e aos Companheiros. Como exercício, fora destas, são-lhes confiados os "segredos de grau", que não passam, neste sentido, de um mero exercício de contenção. Por outro lado, a separação entre os graus evidencia e promove o progresso de cada maçon, e permite que, expostos aos mesmos conceitos na mesma ordem cronológica, todos percorram caminhos relativamente semelhantes. Os símbolos marcam o caminho, e a sua interpretação ou o aprofundamento do seu estudo constituem segredos na medida em que antecipação do conhecimento dos mesmos poria em risco a sua frutuosa interiorização. O silêncio não termina, porém, com a elevação a Mestre, antes se transfigura de silêncio imposto em silêncio voluntário. De facto, um Mestre deverá ter já interiorizado o que a sabedoria do povo nos repete: que, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro.

Por fim, e em terceiro lugar, encontra-se a reserva da identidade dos irmãos, o que não deixará de fazer sentido face à incompreensão, rejeição e mesmo perseguição de que os maçons foram - e, infelizmente, são ainda em muitos lugares - alvo, pelas mais diversas razões, das políticas às religiosas. Não obstante ser cada um livre de assumir publicamente a sua condição de maçon, está-lhe absolutamente vedado revelar a de quem o não fez. Por poder causar danos reais na vida daqueles cuja identidade fosse indevidamente revelada considero ser este, de entre os vários que os maçons juram guardar, o único segredo verdadeiramente digno desse nome.

Paulo M.

14 julho 2010

A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da conspiração (I)


A propósito do simbolismo presente na nota de um dólar americano, e particularmente do "olho que tudo vê", o nosso amigo Diogo comentou:

O facto de George Washington ter sido Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado não lhe dá o direito de colocar um símbolo da Loja na nota. O símbolo era uma imagem de uma sociedade a que ele pertencia (ainda por cima secreta). Parece-me uma impertinência

E, mais adiante:

A Maçonaria Americana pode ter sido ou ser CRENTE. Mas isso não lhe dá o direito de impor os seus símbolos a uma esmagadora maioria que não é maçónica.

Quanto à afirmação de George Washington ter sido Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado (Virgínia), já tive oportunidade de a corrigir no texto Retomando o curso... Quanto à afirmação do Diogo que George Washington não tinha o direito de colocar um símbolo maçónico na nota... a resposta é: não colocou! Pela simples razão de que a nota de um dólar americano foi concebida e fabricada muitíssimo depois do tempo de vida de George Washington - que faleceu em 14 de dezembro de 1799!

A primeira nota de um dólar americano foi criada e fabricada no ano de 1862 (mais de sessenta anos depois da morte de Washington) e nem sequer tinha a configuração atual: apresentava a imagem de Salmon P. Chase, que foi Secretário de Estado do Tesouro na Administração de Abraham Lincoln.

A primeira efígie de George Washington só aparece na segunda nota de dólar, criada em 1869. Também esta versão era diferente da atualmente existente: a imagem de George Washington, ao centro, estava acompanhada, à esquerda, de uma imagem de Cristóvão Colombo avistando terra...

Em 1886, é criada a nota de um dólar "Silver Certificate", com a imagem de... Martha Washington, a mulher do primeiro Presidente norteamericano!

Em 1896, imprimiu-se a nota de dólar denominada de "série educacional", em cuja frente figuravam os retratos de George e Martha Washington, constando no verso uma imagem alegórica da História instruindo a Juventude.

Em 1899, a nota de dólar passou a apresentar as imagens de Abraham Lincoln e Ulysses S. Grant, sob uma imagem contendo o Capitólio, a águia careca (animal símbolo dos Estados Unidos) e uma bandeira americana.

Todas estas notas (e outras versões que foram emitidas, mas que aqui não refiro, por menos interessantes ou curiosas) apresentavam uma dimensão superior à nota de dólar atual.

A primeira nota de dólar com a dimensão da atual foi introduzida em 1929, com a efígie de George Washington.

Só em 1957 foi introduzida na nota de dólar a divisa IN GOD WE TRUST.

A introdução, no verso da nota de dólar da frente e verso do Grande Selo dos Estados Unidos (que tem a tal imagem com a pirâmide inacabada e o "olho que tudo vê" que alimenta as disparatadas teorias da conspiração que por aí circulam) só ocorreu em 1935, durante a Presidência de Franklin D. Roosevelt.

Portanto, nem George Washington, nem nenhum dos "Pais Fundadores" dos Estados Unidos tiveram nada a ver com a introdução dos símbolos que as teorias da conspiração acusam os maçons de subrepticiamente terem feito introduzir na nota de dólar...

As informações contidas neste texto, para além das obtidas nos locais para onde apontam os atalhos supra colocados, foram obtidas na entrada da Wikipedia em inglês United States - one dollar bill. Tão simples como isso! Desmontar as disparatadas teorias da conspiração requer apenas um pouco de informação, que nem sequer dá um grande trabalho a obter...

No próximo texto, tratarei dos símbolos incluídos no Grande Selo dos Estados Unidos (a tal pirâmide inacabada e o "olho que tudo vê"), sempre apontados como "provas" pelos inefáveis teóricos da conspiração.

Rui Bandeira

07 julho 2010

Retomando o curso...


O capítulo "comemoração dos 20 anos da Loja Mestre Affonso Domingues" está quase encerrado. O livro Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de História foi lançado (muito obrigado aos muitos amigos que estiveram presentes) e está agora em curso de comercialização normal, ao preço de capa de 14 Euros. Quem ainda não adquiriu o livro, pode fazê-lo através do sítio http://esquadroecompasso.com (acedendo ao sítio, clicar em livros; ou, em "procurar produto", colocar "Mestre Affonso Domingues" ou "20 anos de história", ou ainda simplesmente "RLMAD01"), encomendando-o, ou diretamente no "showroom" da "Esquadro e Compasso", situado na Rua do Patrocínio, n.º 19 B, Lisboa (horário de abertura: 14,30-18,30 horas, de 3.ª a sábado). Pode ainda encomendar através do endereço de correio eletrónico mestreaffonsodomingues@gmail.com.

A sessão e o jantar comemorativo do 20.º aniversário da Loja ocorrerão no próximo sábado, dia 10 de julho.

E pronto! Basta de recordar o passado! Retome-se o regular curso de viver o presente e preparar o futuro!

Este blogue vai assim retomar o seu curso normal. Nas próximas semanas, tenciono responder a algumas questões colocadas pelo Diogo, na sequência de uma sua pergunta e uma resposta minha. Para que quem nos segue possa localizar-se, transcrevo aqui as pergunta e resposta iniciais:

Pergunta: Pode-me explicar uma coisa? Porque é que o olho que tudo vê – símbolo maçónico – aparece nas notas de dólar?

Resposta: Como deverá saber, grande parte dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América foram maçons, designadamente George Washington, que foi Grão-Mestre da Grande Loja do seu Estado e cuja efígie figura na nota de 1 dólar, aquela em que, no verso, está o "olho que tudo vê". Por outro lado, o "olho que tudo vê" é também uma conhecida representação do Criador. E, se reparar, no mesmo lado da nota de dólar onde está essa imagem, está a divisa "In God we trust", divisa adotada pelos USA. Quer pelo significado simbólico religioso, quer pelo significado simbólico maçónico, os criadores da nota de dólar decidiram colocar lá o símbolo. O que demonstra ainda uma outra coisa: nos EUA, a Maçonaria Americana é CRENTE e uma interventora social conhecida e reconhecida, daí que por lá uma coisa como esta seja encarada como natural - e é-o. Essa é uma das razões porque entendo que a Maçonaria Europeia do século XXI, particularmente a Maçonaria Regular Portuguesa deve rejeitar a fama e o (mau) proveito de secretismo, divulgando o que faz, porque faz, como faz e dizendo abertamente o pouco que reserva para si, e porquê - como nós procuramos fazer aqui no A Partir Pedra.

A propósito desta resposta, uma pequena correção: não consegui confirmar que George Washington tenha sido efetivamente eleito Grão-Mestre da Grande Loja da Virgínia (a colónia e, depois, o Estado americano onde residia). Conforme verifiquei na página da História dessa Grande Loja, aquando das diligências para a sua criação, foi sugerido para seu primeiro Grão-Mestre George Washington, mas declinou o convite, em virtude das suas obrigações como Comandante na Guerra da Independência dos Estados Unidos (cfr. aqui) e o primeiro Grão-Mestre da Grande Loja da Virgínia veio a ser, em 1778, John Blair Jr..

George Washington veio, no entanto, a exercer funções de "acting Grand Master" (Grão-Mestre em exercício), isto é, a exercer ritualmente a função de Grão.Mestre em determinada cerimónia, em substituição do Grão-Mestre de ofício, designadamente na cerimónia da Colocação da Primeira Pedra do Capitólio, em 18 de setembro de 1793, cerimónia de que existe o conhecido quadro que se reproduz acima.

Rui Bandeira

30 junho 2010

19 horas: Grémio Literário; até lá: Eça




















Já na semana passada deixei o anúncio: hoje, pelas 19 horas, no Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, Lisboa, vai ter lugar o lançamento do livro Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de História. Será feita a apresentação e leitura de alguns excertos do livro, o mesmo será vendido a 12 euros o volume (a partir de amanhã, 14 euros) e haverá sessão de autógrafos. Todos, maçons ou profanos, estão convidados.

Mas reparo que ultimamente tenho enchido o espaço deste blogue com o livro. Temo que os habituais frequentadores deste espaço estejam a ficar fartos. Decidi, pois, compensá-los. A minha associação de ideias é simples: livro, Grémio Literário, literatura, Eça. Para compensar os nossos amigos de tanta referência ao nosso escrevinhamento, nada melhor do que um pouco da arte de um sublime escritor, o meu preferido, o grande José Maria Eça de Queiroz.

Apreciem então este excerto do conto Civilização (que, mais tarde Eça desenvolveria em A Cidade e as Serras):

Assim jantámos deliciosamente sob os auspícios do Zé Brás. E depois voltámos para as alegrias únicas da casa, para as janelas desvidraçadas, a contemplar silenciosamente um sumptuoso céu de verão, tão cheio de estrelas que todo ele parecia uma densa poeirada de ouro vivo, suspensa, imóvel, por cima dos montes negros. Como eu observei ao meu Jacinto, na cidade nunca se olham os astros por causa dos candeeiros - que os ofuscam: e nunca se entra por isso numa completa comunhão com o universo. O homem nas capitais pertence à sua casa, ou, se o impelem fortes tendências de sociabilidade, ao seu bairro. Tudo o isola e o separa da restante Natureza - os prédios obstrutores de seis andares, a fumaça das chaminés, o rolar moroso e grosso dos ónibus, a trama encarceradora da vida urbana... Mas que diferença, num cimo de monte, como Torges! Aí todas essas belas estrelas olham para nós de perto, rebrilhando, à maneira de olhos conscientes, umas fixamente, com sublime indiferença, outras ansiosamente, com uma luz que palpita, uma luz que chama, como se tentassem revelar os seus segredos ou compreender os nossos... E é impossível não sentir uma solidariedade perfeita entre esses imensos mundos e os nossos pobres corpos. Todos são obra da mesma vontade. Todos vivem da ação dessa vontade imanente. Todos, portanto, desde os Úranos até aos Jacintos, constituem modos diversos de um ser único, e através das suas transformações somam na mesma unidade. Não há ideia mais consoladora do que esta - que eu, e tu, e aquele monte, e o Sol que, agora, se esconde são moléculas do mesmo Todo, governadas pela mesma Lei, rolando para o mesmo Fim. Desde logo se somem as responsabilidades torturantes do individualismo. Que somos nós? Formas sem força, que uma Força impele. E há um descanso delicioso nesta certeza, mesmo fugitiva, de que se é o grão de pó irresponsável e passivo que vai levado no grande vento, ou a gota perdida na torrente! Jacinto concordava, sumido na sombra. Nem ele nem eu sabíamos os nomes desses astros admiráveis. Eu, por causa da maciça e indesbastável ignorância de bacharel, com que saí do ventre de Coimbra, minha mãe espiritual. Jacinto, porque na sua ponderosa biblioteca tinha trezentos e dezoito tratados sobre astronomia! Mas que nos importava, de resto, que aquele astro além se chamasse Sírio e aquele outro Aldebarã? Que lhes importava a eles que um de nós fosse José e o outro Jacinto? Éramos formas transitórias do mesmo ser eterno e em nós havia o mesmo Deus. E se eles também assim o compreendiam, estávamos ali, nós à janela num casarão serrano, eles no seu maravilhoso infinito, perfazendo um ato sacrossanto, um perfeito ato de Graça - que era sentir conscientemente a nossa unidade, e realizar, durante um instante, na consciência, a nossa divinização.

Que maravilha! Há tempos, num diálogo com um nosso leitor e comentador assíduo, perguntava-me ele como concebia eu Deus e eu manifestei-lhe a minha impotência para o fazer. Pois bem, o grande Eça fê-lo com esta beleza toda!

Rui Bandeira

27 junho 2010

Eleição do Grão Mestre

Decorreu hoje (26 de Junho) a contagem de votos para a eleição do próximo Grão Mestre da GLLP, que será o 6º desde 1990 e consequentemente desde o inicio da maçonaria regular actual.

Foi eleito para o cargo o Muito Respeitavel Irmão José Moreno, que recolheu a maioria dos votos expressos.

O Irmão José Moreno é obreiro efectivo da Loja Mestre Affonso Domingues. Isso deixa-nos muito orgulhosos pois, apesar de nao ser o primeiro GM que militou pela nossa Loja é o primeiro que é eleito sendo membro da Nossa Loja e nela tendo sido iniciado e permanecido desde 1992.

Queremos desejar-lhe um mandato Justo e Perfeito.

Irmão José Moreno, ou melhor MRI Irmao, contas sempre com o nosso apoio.


José Ruah

23 junho 2010

30 de junho, 19 horas


Estão enviados todos os livros que, via correio eletrónico, nos foram encomendados e pagos. Atingimos o objetivo de, antes do lançamento do livro, ter vendidos pelo menos dez por cento dos exemplares da edição.

De hoje a uma semana - 30 de junho, 19 horas - tem então lugar, no Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, em Lisboa, a sessão oficial de lançamento do livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história". Em colaboração com a instituição anfitriã, serão servidos um pequeno beberete e alguns aperitivos. A apresentação do livro será feita por três dos seus coautores. Seguir-se-á uma sessão de autógrafos, através da qual os interessados poderão ter os seus exemplares autografados pelo Venerável Mestre em exercício - o vigésimo Venerável Mestre - da Loja Mestre Affonso Domingues.

30 de junho, 19 horas é a derradeira oportunidade de adquirir o livro em preço de lançamento - 12 Euros. A partir daí, o livro é vendido pelo seu preço de capa de 14 Euros.

O livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história" não interessa somente a maçons. Foi pensado, estruturado, organizado e escrito tendo em vista não apenas os maçons mas também - quiçá principalmente - os que não o são.

A Loja Mestre Affonso Domingues acredita que a melhor forma de destruir o mito de a Maçonaria Regular ser uma "sociedade secreta" é... agir de forma aberta. A melhor forma de quem não é maçom não se enredar nas malhas deste mito é dispor de informação fidedigna e clara sobre o que é a Maçonaria, uma Loja maçónica, o que são e o que fazem os maçons.

É isso que procuramos possibilitar com este livro. Quem o ler ficará com uma ideia razoavelmente clara do que foi e é a Loja Mestre Affonso Domingues, dos seus sucessos e insucessos ao longo de vinte anos, das alegrias e tristezas, dos bons e dos maus momentos. Lerá as homenagens e evocaões que fazemos daqueles que um dia foram dos nossos e já partiram na derradeira viagem. Lerá trabalhos que foram expressamente feitos para serem apresentados em Loja e que o foram. Enfim, ficará a saber - por si, pelo que lerá, pelo juízo que pessoalmente fará - o que fazem os maçons. E verá que, afinal, são homens comuns, que fazem coisas comuns e têm a comum ambição de se tornarem cada dia melhores. Tão só - e, sendo pouco, tanto é!

30 de junho, 19 horas, sabemos que muitos maçons estarão no lançamento do livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história". Teremos muito prazer, todo o agrado, muita felicidade, se também tivermos connosco muitos não-maçons. E em com eles trocarmos dois dedos de conversa. Abertamente!

Rui Bandeira

16 junho 2010

Esclarecimento


Publicado o texto de homenagem e evocação António Cunha Coutinho, maçom absoluto, recebi um telefonema de um familiar, que me manifestou o seu apreço pelo mesmo. Posteriormente, recebi um segundo contacto, agora de uma familiar, se bem percebi a sua viúva, que me solicitou que retirasse o texto de publicação.

Meditei sobre o pedido e resolvi que não o faria, pelas razões que abaixo exponho. Mas o respeito pela memória do António Cunha Coutinho e pelos seus familiares determinam que acrescente e publique aqui algumas informações que a senhora entende relevantes. Tão relevantes que, no seu entender, justificariam a retirada do texto de homenagem.

Não retiro o texto, desde logo pela inutilidade do ato, para os objetivos pretendidos pela mencionada familiar. As pessoas poderão não ter a noção da mudança de paradigma, mas, uma vez publicado um texto na Internet, é impossível apagá-lo de todo. No mesmo dia em que o texto foi publicado, foi automaticamente enviado por e-mail para os atuais 238 subscritores desse serviço, foi disponibilizado via Blogger, para os atuais 130 seguidores desse serviço, foi enviado para os atuais 17 seguidores no Facebook. Só no próprio dia 9 de junho, o texto foi acedido por 250 outros leitores deste blogue. E, só nos três dias subsequentes, por mais 564. Algumas destas pessoas têm ligados programas que publicam automaticamente os textos deste blogue nas suas páginas de Facebook. Qualquer destas 1199 pessoas pode ter guardado o texto no seu computador. Seguramente, algumas fizeram-no. Qualquer das pessoas que guardaram o texto pode publicá-lo, difundi-lo. enviá-lo por correio eletrónico, hoje, amanhã, para a semana, daqui por um ou dez anos. Apagar um texto que se publicou na Internet é uma ilusão: o texto "apagado" está. automática ou manualmente guardado num desconhecido número de computadores e bases de dados, apto a ressurgir, ser publicado, disponibilizado, a qualquer momento - independentemente da vontade de quem originalmente o publicou e porventura posteriormente o tivesse "apagado".

Mas também não retiro o texto, porque entendo não ter o dever de o fazer e não ter a vontade de assim proceder. Reli-o cuidadosamente. Em nada afeta a honra e a memória do António Cunha Coutinho. Pelo contrário, é uma homenagem. Mais: uma homenagem feita por quem assumidamente em muito divergia do pensamento, das ideias, das opções do António. O que não impediu de o admirar e de manifestar essa admiração pelo seu caráter. Retirar o texto era retirar a homenagem, trair a admiração e a amizade.

A familiar, se bem percebi viúva, do António baseou o seu pedido em duas informações que me transmitiu: que o António Cunha Coutinho veio a retirar-se da Maçonaria e que, no final da sua vida, expressou claramente a sua profissão de fé católica, tendo-se confessado pouco tempos antes de morrer.

Aqui ficam as informações adicionais e o esclarecimento.

Mas isso não invalida o que publiquei. Todo o maçom pode afastar-se (nós chamamos a isso "adormecer") quando o entender, pelas razões que entender. No caso do António, e estando ciente das convulsões que, no final do século passado, assolaram a Maçonaria Regular, percebo perfeitamente essa sua decisão. Por vezes, o único compromisso possível entre a lealdade pessoal e a manutenção de uma coluna vertebral direita e digna - como sempre o António, concordasse-se ou discordasse-se dele, teve - é o afastamento. E a Maçonaria Regular não só não é incompatível com a fé religiosa, como incentiva os seus membros a praticarem e aprofundarem a sua crença religiosa.

Creio que no espírito da minha interlocutora estará, porventura, o entendimento diverso, isto é, que é incompatível para um católico a integração na Maçonaria. Que considerará tal integração, mesmo, desonrosa. Que revelá-la atenta contra a memória do António.

Obviamente que respeito - só posso respeitar! - o entendimento da senhora. Mas o mesmo respeito obriga-me a consignar que, se for esse o seu entendimento, dele discordo. Muito mais do que alguma vez discordei do António...

Ser maçom não só não é desonroso, como muitos dos maiores vultos da História Universal - e da nossa História - foram maçons. O António bastas vezes me enumerou alguns.

O António esteve na Maçonaria como homem digno e honrado que era. Com o propósito de se aperfeiçoar e de ajudar outros a serem também melhores. O António deixou de estar na Maçonaria quando o entendeu, pelas razões que entendeu, com a mesma dignidade e honradez que sempre o caraterizaram.

Esconder que o António foi maçom é que seria trair a sua memória. Honrá-la é recusar esconder essa sua opção. O António nunca o teria feito: tinha a coluna vertebral bem direita para alguma vez o fazer!

Para quem entender que integrar a Maçonaria é um pecado, fica esclarecido que, se o António pecou, abandonou o pecado! E ser justo não é não pecar, é não persistir no pecado.

Por mim, que persisto e insisto em afirmar a minha admiração pela firmeza de caráter do António, aqui fica então o esclarecimento: o António desvinculou-se da Maçonaria antes de morrer e morreu como, na minha opinião, sempre viveu: como um bom católico!

À senhora que me contactou, não dando cumprimento à sua solicitação, aqui fica a minha explicação e o esclarecimento que julgo devido. Em nome daquilo que, cada um a seu modo, ambos prezamos: a memória do homem bom que foi o António.

Rui Bandeira

09 junho 2010

António Cunha Coutinho, maçom absoluto

Há poucos dias, o José Ruah telefonou-me e perguntou de chofre: "Ouve lá.,ainda podes meter mais um texto no livro? É que acabei de saber que o António Cunha Coutinho já faleceu...".

Já não podia. Tinha acabado de rever as provas e de ter dado à gráfica a ordem de impressão. Para além de que as 152 páginas estão já bem preenchidas e com letra pequenina. Mas isso era o menos, retirava um qualquer texto meu e utilizava o espaço para um texto evocativo do António Cunha Coutinho. Mas o que tem de ser tem muita força. É premonitória a passagem da introdução aos textos "In memoriam" em que adverti que a evocação dos Irmãos que já partiram para o Oriente Eterno podia não estar completa, pois podíamos de algum não ter sabido do seu falecimento. Foi mais cedo que mais tarde que se comprovou isso... Pois bem, se não pode já entrar no livro,opta-se pela segunda melhor solução possível: aqui fica a evocação do António Cunha Coutinho.

Na época em que o conheci, andava eu por volta da idade de Cristo, foi talvez o maçom que mais me exasperou! Era um homem tronituantemente conservador, que não perdia uma ocasião, asada ou nem tanto, para alardear o seu conservadorismo. Conservadorismo é uma maneira de dizer... Na época, eu via o António Cunha Coutinho como um ultraconservador, ultramontano e tudo o mais que eu me pudesse lembrar com a palavra ultra...

Para mim, que atingira o que veio a ser a maioridade quando ocorrera a Revolução dos Cravos e vivera aqueles tempos de mudança e de esperança, as ideias do António Cunha Coutinho, em relação às questões políticas, sociais, de costumes, etc., não podiam ser mais contrárias às minhas. O que nunca impediu - acentue-se bem! - prolongadas, amenas e agradáveis cavaqueiras de Irmãos, que conviviam sem problema com as mútuas diferenças.

Certo dia, na sequência de uma das costumadas diatribes que o António se comprazia em debitar, atirei-lhe, provocador: "Ó António, estou a ver que para ti até o Salazar foi um perigoso esquerdista...". O António suspendeu o discurso, esboçou um sorriso malandro, piscou o olho e, baixando a voz, sussurrou-me, cúmplice: "Ora estás a ver como percebeste?". E eu fiquei desarmado!

Com o passar do tempo e a convivência, percebi mais e melhor. Classificar o António Cunha Coutinho de conservador, ultramontano, ou qualquer outro epíteto do género era incorreto e redutor. O António Cunha Coutinho era, tinha orgulho de ser, e mostrava-o a quem quisesse e soubesse ver, bem mais do que isso: era a representação do pensamento do português do antigamente, do Antigo Regime, da velha tradição lusitana! E, quando falo do Antigo Regime, não falo do tempo da Outra Senhora, nem da monarquia. O pensamento do António recuava bem mais atrás, ao tempo do senhor D. Miguel, rei absoluto de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África e resto do Mundo! O António era conservador, mas não era só conservador. Era também monárquico, mas não era só monárquico. Era, com todas as letras, miguelista!

Esclareça-se: estamos a falar no plano dos arquétipos, que duvido bem que quem vivia no século XX ainda conseguisse ser um vero miguelista, absolutamente servidor de absoluto rei. Mas o António mostrava orgulhosamente a sua costela miguelista, obviamente monárquica, mas sobretudo tradicional, da tradição rural da linhagem portuguesa, do Portugal de antanho que, para o bem ou para o mal, faz parte das nossas raízes.

Com o tempo, aprendi que as diatribes políticas e sociais do António eram sobretudo um meio de provocar, de expressar de forma propositadamente chocante, que havia e há na nossa lusitana alma caraterísticas que podem não estar na moda, mas que bem andamos em não desprezar: a honra, a fidelidade à palavra dada, a tenacidade, a capacidade de lutar, contra tudo e contra todos, por aquilo em que se acredita, se necessário quebrando, mas nunca torcendo.

Este era o verdadeiro António Cunha Coutinho, o que se escondia por detrás das suas provocações e diatribes. O conservador e ultramontano era o personagem que ciosamente escondia os Valores que só aos mais atentos deixava entrever!

Longas horas de mútuas e bem-dispostas provocações com bonomia passámos e vivemos! E por entre as nossas discordâncias, mais tarde ou mais cedo, lá passava a mensagem do apreço à honra, da verticalidade, dos Valores que o homem que se quer de bem deve, sempre, incansavelmente, cultivar e proclamar - nem que seja de forma provocatória!

Do António Cunha Coutinho todos, os mais novos, nos exasperámos com o acessório e todos, dos mais novos aos mais velhos, nos ilustrámos com o essencial - os Valores que não são de direita, nem de esquerda, nem do passado, nem do futuro, que são de sempre e dos homens de bem.

Naquela época, há cerca de vinte anos, eu já via o António Cunha Coutinho como um velho rijo. Curiosamente, cerca de vinte anos passados, nunca me passou pela cabeça que já não estivesse entre nós. Talvez porque afinal os valores profundos que provocatoriamente transmitia são intemporais.

António Cunha Coutinho era absoluto em tudo: nas ideias políticas, nas diatribes, nos valores. Foi, em absoluto, um maçom digno e um homem de bem. Assim o declaro, proclamo e recordo. Absolutamente!

Rui Bandeira

02 junho 2010

Eu serei, apenas, mais um! A partir pedra ao Vosso lado… a bem da Ordem.

Um obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues, o atual Vice-Grão-Mestre, Muito Respeitável Irmão José Moreno, apresentou a sua candidatura ao ofício de Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP. Se for eleito, não será o primeiro maçom constante dos quadros da Loja Mestre Affonso Domingues que exercerá esse ofício: os três primeiros Grão-Mestres da GLLP/GLRP foram obreiros fundadores desta Loja!

José Moreno tem a experiência necessária e adequada para bem vir exercer o ofício a que se candidata, como facilmente se pode verificar pelo seu currículo:

Natural de Bragança, 23 de Setembro de 1953
Advogado e Gestor
Integrou diversos Gabinetes Governamentais
Membro de Órgãos Sociais de Empresas, Instituições e Associações de
caráter social e cultural
Iniciado na Maçonaria em 1992, na R.·. L .·. Mestre Affonso Domingues,
onde ainda hoje é membro efetivo
Desempenhou o cargo de Venerável Mestre nas R .·. L .·. Luz do Norte,
Anderson, Bispo Alves Martins, Mestre Affonso Domingues e Mercúrio
Peticionário de 15 R .·. L .·.
Membro honorário de diversas Lojas Nacionais e Estrangeiras
Cargos Desempenhados na Grande Loja:
• Assistente do Grande Superintendente do Templo
• Grande Superintendente do Templo
• Grande Inspetor
• Grande Porta Gládio (o primeiro eleito)
• Vice-Grão Mestre
Altos Graus Nacionais e Estrangeiros
• Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite;
• Past Excelentíssimo Grande Sumo-Sacerdote do Arco Real;
• Past Grão-Mestre Críptico do Grande Conselho Mestres Reais e
Escolhidos de Portugal
• Past Eminentíssimo Grande Comendador da Grande Comenda de
Cavaleiros Templários de Portugal;
• Membro da Ordem dos Sumo-Sacerdotes Ungidos e Consagrados;
• Membro da Ordem da Trolha;
• Membro da Cruz Vermelha de Constantino;
• Membro da Societas Rosicruciana In Lusitania;
• Membro do Shrine; e
• Grande Oficial Efectivo e Honorário em diversas Estruturas de Altos
Graus Estrangeiros.
• Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade

O seu programa de candidatura, com o título 7 COMPROMISSOS PARA CONSOLIDAR O NOSSO TRABALHO MAÇÓNICO , apresenta as ideias e projetos do candidato em sete linhas de força:

1 - Regularidade e Harmonia Maçónica
2 - Consolidação, Crescimento e Recrutamento
3 - Melhorar a Articulação, Apoiar as Lojas
4 – Instalações
5 - Manter a Estratégia nas Relações Internacionais e Institucionais
6 - Criação de uma Academia de Formação
7- Comunicar mais, Conhecermo-nos melhor

O manifesto termina da seguinte forma:

Eu serei, apenas, mais um!
A partir pedra ao Vosso lado… a bem da Ordem.

A Partir Pedra ao nosso lado! Gosto!!!

Rui Bandeira