25 novembro 2009

Maçonaria e Política



Porque estará tão disseminada a noção de que a integração na Maçonaria confere «influência junto ao Poder Político», que serve para «subir na vida» e «usufruir de privilégios especiais»?

De tal forma que leva maçons a escrever - «CINCO MOTIVOS PARA NÃO SER MAÇOM»?

A pergunta é pertinente e é daquelas que merece resposta, não apenas em outro comentário mas em texto no espaço principal do blogue.

Comecemos por aferir da justeza dos pressupostos. É exato que está tão disseminada a noção de que a integração na Maçonaria confere «influência junto ao Poder Político» ?

Está! É inegável que está! Pelo menos na "opinião publicada". Seguramente nos azedos comentários de anti-maçons ou, mais elucidativo ainda, de adversários políticos de determinado partido político português, que, certa ou erradamente, ganhou fama de ser muito influente entre os maçons.

É óbvio, é evidente que não me agrada esta "tão disseminada" noção. Mas o facto de assim ser não faz com que ela não exista e que esteja menos "disseminada". Não o reconhecer é equivalente ao inútil ato, atribuído, quiçá injustamente, à avestruz, de esconder a cabeça na areia. E com os mesmos ineficazes resultados!

Penso que as várias centenas de textos de minha autoria que este blogue leva publicados mostra bem que essa não é a minha postura. Pode concordar-se ou discordar-se das ideias que aqui exponho. mas, com justiça, não posso ser acusado de fugir ao debate ou às questões incómodas! Vou portanto ensaiar aqui dar a minha resposta, não sem antes deixar bem claro que, na mesma, não se deve ver qualquer juízo de valor em relação a outras organizações que não aquela em que me integro, nem aos seus aderentes. Vou limitar-me a referir factos, tal como os conheço, e a extrair deles as minhas conclusões.

A Maçonaria Universal tem duas grandes variantes.

Uma delas é a Maçonaria Regular, por alguns também designada "de inspiração anglo-saxónica". Considera-se a verdadeira Maçonaria. Reclama-se de ser a seguidora direta das quatro Lojas que, em 1717, fundaram a Grande Loja de Londres, que declara a Grande Loja fundadora da moderna Maçonaria especulativa, erigida sobre as fundações da antiga Maçonaria operativa. Não abdica de dois princípios essenciais: a crença num Criador, qualquer que seja a designação que cada um lhe dê ou a religião que cada um professe, que designa por Grande Arquiteto do Universo, e a sua vocação exclusiva de se destinar ao aperfeiçoamento individual, moral e espiritual, dos seus membros. Como corolários destes dois grandes princípios, resultam a proclamação do eminente valor da Tolerância, no sentido de que se deve reconhecer ao Outro o direito às suas ideias e à expressão delas, ainda que delas profundamente se discorde, pois as ideias rebatem-se com argumentos, não com proibições ou ostracismos; a consideração de que as mudanças a que o maçom deve aspirar são as que reconhece dever haver em si próprio, não havendo lugar, enquanto maçom e enquanto Maçonaria, a intervenção na Sociedade, muito menos de caráter revolucionário, limitando-se a única intervenção do maçom na sociedade ao exemplo que der pela sua conduta, atuando o maçon e a Maçonaria sempre no estrito respeito da Legalidade vigente em cada lugar; a recusa de intervenção política, enquanto maçom ou enquanto Maçonaria, pois a luta política deve ser estranha à Fraternidade entre maçons e o respeito pelas ideias do Outro implica que cada maçon é livre de, individualmente, ter as posições que entender e, enquanto cidadão, intervir politicamente como quiser, não havendo lugar a qualquer "indicação" política ou "congregação" de vontades políticas.

Outra variante é a que costumo designar de Maçonaria Liberal, ancorada na evolução sofrida pelo Grand Orient de France, na sequência de vários fatores: rivalidade franco-britânica, evolução das condições sociais em França (Revolução Francesa), inserção dos atores políticos na Maçonaria. Esta outra variante é em quase tudo consentânea com a primeira, com duas importantes exceções: por um lado, aceita a presença de agnósticos e ateus nas suas fileiras, fundamentando tal opção no princípio da Liberdade de Consciência e na não ingerência na convicção alheia (elevando o corolário da Tolerância ao primado de princípio, gerador, por sua vez, de um outro corolário, o laicismo); o entendimento de que a missão principal da Maçonaria é a melhoria da Sociedade (e não apenas dos seus membros, individualmente considerados), cabendo à Maçonaria pugnar pela realização da trindade essencial dos princípios políticos (Liberdade-Igualdade-Fraternidade) e trabalhar pela sua aplicação na Sociedade, mesmo por meios revolucionários, se tal se justificar, designadamente por inexistência de regime político democrático.

Como é sabido, a evolução histórica em Portugal ocorreu no sentido de que, muito cedo, a Maçonaria que se implantou e, durante muitos anos, em exclusivo existiu no País, foi a desta última variante.

Não é segredo para ninguém que o Movimento Republicano foi fortemente influenciado pelos Maçons da época, podendo mesmo dizer-se, creio que consensualmente, que a Revolução Republicana de 1910 foi fortemente influenciada, para não dizer mais, pela Maçonaria da vertente liberal.

Os principais políticos da I República foram - é sabido - maçons liberais. A esta luz, percebe-se melhor que, no dealbar do salazarismo, uma das medidas tomadas tenha sido a proibição da Maçonaria. Esta, sempre na sua vertente liberal, no entanto, foi conseguindo existir clandestinamente, com ligações aos opositores do regime de Salazar e, mais tarde, de Caetano. Restaurada a Democracia e novamente legalizada a Maçonaria, liberal, esta era constituída essencialmente por velhos republicanos e políticos e outros opositores ao regime derrubado. A nova ordem política pós-25 de Abril incluiu, em lugares de destaque, maçons liberais. Que se rodearam de quadros mais jovens que, atraídos para a política, também inevitavelmente o eram para a Maçonaria liberal. A vocação de intervenção política e social da Maçonaria Liberal pôde voltar a concretizar-se, após o derrube da Ditadura.

Só há cerca de 20 anos, foi introduzida formalmente em Portugal a Maçonaria Regular. Esta não tem, enquanto tal, qualquer intervenção política. Não é, assim, um local especialmente apetecível para políticos e candidatos a políticos.

Mas mais de um século de intervenção política da Maçonaria liberal deixaram marcas. Não admira que o comum das pessoas associe uma Maçonaria, a liberal, que assumidamente considera ter um campo de intervenção útil na Política, a «influência junto ao Poder Político» - particularmente quando, historicamente, a teve! Quanto ao "subir na vida" e aos "privilégios especiais", são fatores associados, no imaginário corrente, aos políticos, seus privilégios e idiossincrasias e, inevitavelmente, foram, nesse imaginário comum, por associação também aplicados à Maçonaria com atividade política, a liberal.

A Maçonaria Regular, aquela em que me incluo e se incluem os elementos da Loja Mestre Affonso Domingues, integrante da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, contrariamente ao ramo liberal, não tem intervenção política. Postula como seu objetivo o aperfeiçoamento individual dos seus membros. Forma consciências. E cada um, segundo a sua consciência, como livre-pensador que é, intervém onde entende, como entende, se entende. Agrupando livre-pensadores, a Maçonaria Regular não tem a pretensão (logicamente votada ao fracasso...) de pretender que esses livre-pensadores pensem todos de forma igual - por isso considera não ser sua vocação a intervenção política que, para existir de forma minimamente eficaz, implica alguma concordância de pensamento.

Atento o lastro histórico que existe decorrente da antiguidade da implantação da Maçonaria liberal no nosso País, é inevitável a existência da associação entre Maçonaria (liberal) e Política. A Maçonaria Regular, tendo uma firme orientação diferente, necessita de esclarecer bem a sua posição. Não quer que ninguém se interesse pelos seus princípios induzido em erro pelos condicionalismos históricos. Daí que esclareça, cuidadosamente, a questão. Daí que escreva e publique textos como Cinco motivos para NÃO SER maçom!

Rui Bandeira

21 novembro 2009

O obstáculo no nosso caminho

De acordo com os meus queridos Manos entrei hoje... em tempo "extra" !

Não sei se é uma fina alusão ao futebol e ao período extra que os árbitros sempre dão após o tempo regulamentar significando que o meu "tempo de jogo já acabou", mas se é... tudo bem, eu tratarei de ir preparando o caldeirão para quando Vocês chegarem não ficarem à espera !!!

Entretanto chegou-me, sob a forma de lição (esta é uma de 5) mais um "continho" que Vos passo.















O obstáculo no nosso caminho

Em tempos antigos, um rei mandou colocar um enorme pedregulho num caminho. Depois escondeu-se e ficou a ver se alguém retirava a enorme pedra.

Alguns dos comerciantes mais ricos do Rei passaram e simplesmente se afastaram da pedra, contornando-a. Alguns culpavam em alta voz o Rei por não manter os caminhos limpos. Mas nenhum fez nada para afastar a pedra do caminho.

Apareceu então um camponês, carregando um molho de vegetais.
Ao aproximar-se do pedregulho, o camponês colocou o seu fardo no solo e tentou deslocar a pedra para a berma do caminho. Depois de muito empurrar, finalmente conseguiu.

O camponês voltou a colocar os vegetais ás costas e só depois reparou num porta-moedas no sitio onde antes estivera a enorme pedra.

O porta-moedas continha muitas moedas de ouro e uma nota a explicar que o ouro era para aquele que retirasse a pedra do caminho.

O camponês aprendeu aquilo que muitos de nós nunca compreendem!

Cada obstáculo apresenta uma oportunidade para melhorar a nossa situação.

Ora bem, para mim trata-se de uma lição bem interessante e que me deixa a pensar.


1 - Primeiro porque sendo gordo não sou propriamente um Obelix;
2 - Segundo porque nunca dei por um pedregulho destes. Uns calhauzitos de quando em vez e vá lá...
3 - Terceiro porque tenho a certeza que se encontrasse mesmo o tal pedregulho e o afastasse, acabava encontrando uma carteira de crise, ... sem chêta !

Ou então, o que não sei se seria mais inteligente, sentava-me e punha-me a lascar a pedra, ponto aqui, ponto acolá, até ela ficar ao meu jeito.
E depois, como ainda por cima sou republicano, concluiria que debaixo da pedra estava... nada.

Ou será que não é debaixo da pedra que devo procurar... ?
Pois se calhar é isso... não é debaixo da pedra não.
Talvez dentro de mim.

A ver vamos, "como diz o cego".


Tenho esperança que este tempo extra tenha a dimensão daqueles que os árbitros arranjam quando o Porto está a perder... aquilo dura até eles meterem o golito do empate !
E se fôr assim até pode ser que consiga mesmo encontrar ainda alguma coisa.

Mesmo que não seja uma carteira.

Cá vai. Vou apagar as velas.
Grande abraço e bom fim de semana.



JPSetúbal

Extra! Extra!


O JPSetúbal faz hoje

69 anos!

Como disse certa vez um Presidente da Asssembleia da República... curioso número!

Aliás, quando buscava uma imagem para ilustrar este texto, encontrei uma razoável percentagem de imagens brejeiras.

Mas este blogue é temático e.. nada recusando das coisas boas da vida, que os maçons prezam o esoterismo, mas não são monges e, portanto, não consideram esoterismo incompatível com erotismo... não é dado a brejeirices! Bem basta pisar (levemente?) o risco com as voltas que o texto deu até aqui...

Portanto, a imagem escolhida para ilustar este texto é alusiva à famosa "Route 69" americana. Pretende-se com ela simbolizar que este aniversário do JPSetúbal é essencialmente um marco na estrada da vida que ele percorre.

Completa agora o JPSetúbal o último ano da década dos "sessenta". Para o ano, entrará na década dos "setenta", desejamos todos que com a mesma boa disposição, agilidade e lucidez, física e mental , com que faz o favor de alegrar e valorizar as vidas dos seus familiares e dos seus amigos.

Um Feliz Aniversário e um aprazível novo ano de vida é o que todos desejamos ao reformado mais ocupado que conhecemos.

Três triplos abraços fraternos aqui deixam ao JPSetúbal os amigos

Rui Bandeira
José Ruah
A. Jorge

18 novembro 2009

Versão brasileira de "Cinco motivos para NÃO SER maçom"


Publicado no A Partir Pedra em 10 de abril de 2007, o texto Cinco motivos para NÃO SER maçon vem, desde então, e ano após ano, a ser o texto mais lido do blogue. Sugiro que o leitor siga agora o atalho que coloquei no seu título e o leia ou releia, para melhor apreciar o que vem aí.

E o que vem aí é uma versão criada especificamente para o Brasil e a realidade brasileira desse texto. É seu autor o Irmão N.·. A.·. S.·. (ele, se assim o entender, mais completamente se identificará; eu não o faço, pois respeito o compromisso de nunca revelar a identidade de um maçom, que não se tenha antes publicamente identificado como tal e não sei se tal sucedeu com este Irmão), Mestre Instalado da A.·. R.·. L.'. M.·. Justiça e Liberdade, nº 13, a Oriente de Aracaju - Sergipe.

O autor desta versão teve a fineza de ma enviar e deu-me autorização para aqui a publicar, o que muito lhe agradeço.

Aqui deixo, pois, a versão para o Brasil e realidade brasileira de

CINCO MOTIVOS PARA NÃO SER MAÇOM

1. INFLUÊNCIA POLÍTICA - PODER

Ao contrário do que muitos pensam, a Maçonaria Universal, pelo menos a Maçonaria Regular, não detém mais influência junto ao Poder Político, como ocorreu no passado, do que qualquer outra instituição social, a exemplo das igrejas praticantes dos mais variados credos religiosos, sindicatos classistas, movimento dos "sem terra" e outros do gênero, porque a maçonaria nada tem a ver com política partidária, nem com os políticos inescrupulosos que infestam a sociedade, nos dias de hoje. A única influência que a Maçonaria pode exercer, nesse sentido, quando age e pensa como maçonaria, é apenas a influência de ordem moral, pelo exemplo efetivo dos seus membros, através da aplicação dos seus princípios fundamentais, apregoados ao longo dos séculos. Engana-se, pois, quem pensa que, ao agregar-se à Maçonaria, através dela, pelo respeito que ela ainda inspira, terá livre acesso aos corredores do Poder.


Aliás, uma das coisas que o maçom logo observará, quando fizer uso do bom senso e da sabedoria maçônica, é que esse famigerado Poder é mais ilusório do que real, além de efêmero e corruptor dos bons costumes, com o esclarecimento adicional de que, num ambiente democrático qualquer, conscientemente, deverá ficar bem claro que o Poder só conferirá autoridade àquele que os demais indivíduos membros admitirem reconhecer e permitir. Em Loja Maçônica Regular, entretanto, o detentor do Poder e condutor das decisões, em razão da autoridade conferida pelos seus membros ativos, é o Venerável Mestre, com a observação oportuna, de que todos os Mestres que sentam na Cadeira do Rei Salomão, paradoxalmente, não possuem mais direitos do que o Aprendiz mais recente, mas têm, em contrapartida, mais responsabilidades e deveres de que todos os demais Mestres.


Ante o exposto, conclui-se, então, que quem busca o perfume do Poder, sem a busca, em primeiro plano, do fiel cumprimento dos seus deveres maçônicos, inclusive sem a consciência de quais sejam as suas responsabilidades, como "parcela ativa" da sociedade, esse certamente não encontrará apoio e guarida na maçonaria, porque na maçonaria, ao contrário do que ocorre no mundo profano, a maior autoridade tem o nome de humildade e é reconhecida como aquela que serve, que transpira fraternidade, age com honestidade e fomenta a harmonia.


2. INFLUÊNCIA ECONÔMICA - NEGÓCIOS E DINHEIRO


Quem pensar que o ingresso na Maçonaria possa representar uma "porta aberta", para se obter contato com as pessoas economicamente influentes, realizar bons negócios e, desse modo, propiciar condições para "subir na vida", pense outra vez, pense melhor até, pois se esse for mesmo o seu propósito, poupe-se ao trabalho e às despesas consequentes, porque dentro da Maçonaria jamais conseguirá fazer negócios diferentes daqueles que faria, estando fora dela. O que todos lhe pedirão, aqui na maçonaria, é que dê algo de si, continuadamente, em prol dos seus semelhantes, sem mesmo cogitar em retorno algum de ordem material e benefícios de ordem pessoal, de qualquer natureza, porque todos os negócios praticados na maçonaria, estão sempre relacionados com a elevação moral e espiritual dos seus membros, através da busca incessante pela sublimação do espírito sobre a matéria e engajamento efetivo dos seus obreiros, no projeto de se construir um mundo social melhor, mais fraterno e mais justo.


3. INFLUÊNCIA SOCIAL - HONRARIAS E RECONHECIMENTO


Na Maçonaria Regular, como se sabe, todos os seus membros ativos usam aventais, colares, jóias, emblemas e comendas diversas, mas o verdadeiro maçom considera todos esses utensílios, uns como vestimentas úteis e necessárias à prática da ritualística maçônica, outros como meros adereços pessoais, sem qualquer significação simbólica ou esotérica, com a observação oportuna, inclusive, a bem da verdade, que o único avental que todos os maçons podem usar, independentemente do seu grau e qualidade, no âmbito da maçonaria simbólica, é o avental do Aprendiz Maçom, com a sua simbologia única, cuja brancura e pureza deve ser preservada, nunca conspurcada pela prática de ações censuráveis, ilícitas ou indignas, de qualquer natureza. As diferenças entre o avental mais rico, o avental bordado e o mais colorido deles, se comparado com o avental branco utilizado pelo Aprendiz Maçom, são só os preços cobrados pelos seus fabricantes, porque todos eles são igualmente importantes e indispensáveis, de uso obrigatório, em todas as solenidades ritualísticas.


Por outro lado, um maçom regular não deve ser diferente do outro, no cumprimento dos seus deveres maçônicos, tampouco deve utilizar a autoridade de que é detentor, para usufruir de privilégios especiais, que não sejam os de reconhecimento fraterno e de respeito à autoridade conferida pelo seu cargo, sem a reprovável prática de culto à sua profissão, distinção econômica ou posição cultural, exceto nas múltiplas relações iniciadas ainda no mundo profano, porque o tratamento a ser dispensado, nessas ocasiões, será mesmo o apropriado à sua autoridade profana, mesmo quando se tratar de maçom. Ser reconhecido simplesmente como "irmão maçom", em todos os casos, enfim, é a maior honraria recebida pelo obreiro, independentemente do seu status social, profissional ou cargo maçônico que ocupe na instituição.


4. BENEFICÊNCIA - AJUDA AO PRÓXIMO

O maçom bem intencionado, que, porventura, no seio da maçonaria, insista na procura de instrumento ou maneira de como dar vida ao seu desejo impulsivo de ajudar ao próximo, através de movimentos eminentemente beneficentes, se essa for a principal razão que o move em direção da maçonaria, se é só isso que vê, esse maçom também está muito enganado, porque a beneficência maçônica deve ser vista como mera consequência de um trabalho organizado e comprometido com o bem-estar da humanidade, nunca a causa principal da sua existência, sob pena de se ver prejudicada a sua finalidade primordial. O bem intencionado, seja maçom ou não, ele pode desenvolver esse trabalho meritório junto às organizações beneficentes vocacionadas, sem nunca esmorecer, contudo, no são propósito de auxiliar sempre ao seu irmão necessitado, em tudo aquilo que for necessário e justo.


5. CURIOSIDADE - CONHECER O "SEGREDO MAÇÔNICO"


Se a curiosidade, estimado irmão, tem sido o combustível que tem alimentado o seu desejo de continuar maçom, em detrimento da busca permanente pela sua elevação moral e espiritual, através do aperfeiçoamento dos costumes e prática constante da verdadeira fraternidade, como tem ensinado a Sublime Instituição, então não se iluda mais, mude de atitude logo, porque enquanto pensar desse modo, será um obreiro fadado ao insucesso e à indiferença, essa doença insidiosa e letal, que tem atacado as nossas colunas e ceifado a muitos, sem esquecer de que, distante desse espírito maléfico de curiosidade que o envolveu, somente o trabalho, a persistência, a determinação e o querer converter-se em legítimo construtor social, aliado ao respeito pelas nossas tradições, autoridades legalmente constituídas e sistema normativo em uso, somente nessa condição, o irmão poderá incorporar o modelo de maçom vitorioso e de obreiro que sabe praticar, eficazmente, a verdadeira maçonaria.


Rui Bandeira

15 novembro 2009

O MURO




Festejou-se no dia 10, com toda a pompa e circunstância a chamada “Queda do Muro de Berlim”.
Juntaram-se Presidentes e Primeiros Ministros, fizeram-se discursos, cantou-se vitória sobre o fim da divisão física da Alemanha.
É bom que se lembre o muro de Berlim, o que ele significou enquanto existiu, todos os que morreram por se aproximarem dele na ânsia da fuga a um regime ditatorial, policial, opressor.
É bom que se faça isso.
A memória dos homens é fraca demais e a tendência para o laxismo é constante.
Por isso é bom que se provoquem estas recordações, mesmo que com a pompa e circunstância que, se calhar, seria dispensável.
Quem viveu em Portugal antes de Abril de 1974 sabe interpretar bem o que significou, para os alemães, o derrube do muro de Berlim.

A questão é:
- e será que o muro foi mesmo abaixo ?
- completamente ?

Quem vai à Alemanha e aborda o assunto com alemães (especialmente com os que viviam na parte Ocidental) apercebe-se facilmente que ainda há "muito muro para derrubar".
Não vai ser fácil, não… e já lá vão 20 anos !

Entretanto outras preocupações nos ocorrem ao assistir a estas cerimónias, preocupações que decorrem de ver que vários dos que festejam esta vitória da liberdade estão, eles mesmos, a construir os seus próprios muros de opressão (não há volta a dar, estes muros são e serão, sempre, uma opressão sobre os povos !).

Como Maçons temos a Liberdade como base.
Claro, a Fraternidade e a Igualdade também. É dos livros. Está nas regras básicas.
Quem não aceitar estes princípios não pode ser reconhecido como Maçon.
Os problemas relacionados com a estas três grandezas da natureza humana são problemas maçónicos e, pelo menos como tal, devem constituir uma preocupação de todos nós.
Daí eu vir aqui ao assunto. E venho porque me assaltaram dúvidas relativamente à validade de algumas ações e discursos que foram anunciadas.
Soube-me a muito pouco o que se disse, a quase nada o que se fez e a zero o resultado.

Não ouvi qualquer referência aos outros “muros da vergonha” que se vão construindo por toda a parte.
O Sr. Bill Clinton esteve na cerimónia.
O que disse ele acerca dos muros construídos e em construção na fronteira USA/México, nas fronteiras Israel/Cisjordânia ou Gaza ?
E os restantes Presidentes que compareceram à fotografia que palavras (e já não vou ao ponto de perguntar por ações) tiveram para condenar os muros em Espanha, em Marrocos, na Rússia, entre as Coreias, no Iraque, na Índia, na China, na Brasil entre favelas…, …, …

E muitos, muitos outros !

E mais, e mais importantes.
Os muros invisíveis ao olhar que acabam justificando os anteriores. Quais são ?

O muro da injustiça;
O muro das desigualdades;
O muro da corrupção, dos compadrios;
O muro das vaidades, da arrogância, da desresponsabilização;
O muro do analfabetismo;
O muro da miséria moral e física que anda (?) pelas esquinas, túneis e buracos das grandes cidades;
Os muros… tantos, tantos… tantos são os muros a que nenhum daqueles dirigentes se referiu.

Brindaram a um que está em vias de ir completamente abaixo (dizem que já foi) e não falam naqueles que estão, diariamente, a ser erguidos. Porquê ?

E não há muro que não seja uma prisão !

Esta é, tem que ser, uma preocupação maçónica.

Muitos mais muros da vergonha que poderíamos nomear e que nos rodeiam diariamente, sem que façamos seja o que for para os derrubar. Pelo contrário, até os acrescentamos com “tijolo” da nossa laia.
Sob que direito humano se fazem as coisas assim ?

Meus Amigos, todos estes muros são para derrubar.

Urgentemente. E nós temos responsabilidades nisso.

Não é fácil ? Pois não ! Até é mesmo muito difícil.
Mas se fosse fácil nós não faríamos cá falta nenhuma. Outros tratariam de resolver o problema.
Se cá estamos é porque há dificuldades. E na nossa tarefa de trabalhar a pedra que finalidade mais humana (mais Livre, mais Fraterna, mais Igual) do que esta de abrir horizontes, não fechá-los ?

JPSetúbal

11 novembro 2009

O Símbolo Perdido


O Símbolo Perdido, da autoria de Dan Brown e recentemente publicado, conta uma história que se desenrola em torno da Maçonaria e dos seus símbolos existentes na capital americana.


Desde o megassucesso de O Código Da Vinci que os livros deste autor americano, até aí relativamente desconhecido, são objeto de grande curiosidade por parte do público. Estou em crer que se venderam mais exemplares de livros anteriores ao Código da Vinci (Anjos e Demónios, Fortaleza Digital, A Conspiração) depois da publicação da emblemática novela de aventuras sobre os alegados segredos escondidos na Última Ceia, de Leonardo da Vinci, do que aquando da publicação original dos respetivos volumes...

Hoje por hoje, juntar uma novela de Dan Brown e a temática da Maçonaria é êxito editorial garantido. Os exemplares do livro vendem-se como pãezinhos quentes.

A historieta decorre ao estilo do escritor, em ritmo rápido, de leitura fácil e viciante. Na minha opinião, a trama de O Símbolo Perdido tem uma qualidade superior à de O Código Da Vinci. Este, aliás, pese embora o enorme sucesso que teve, em meu entender não passa de uma cópia da estrutura do anterior Anjos e Demónios. Já O Símbolo Perdido revela uma estrutura narrativa diferente, mas igualmente atrativa, embora não isenta de inconsistências (sem revelar o enredo, para quem ainda não leu, a intervenção da alta funcionária da CIA, que se revela fundamental no desenvolvimento da história, não está logicamente justificada: não se entende como teve ela acesso ao vídeo que a alerta para a "emergência de segurança nacional", que estava guardado no computador portátil do vilão e não fora ainda por este enviado para a Internet, pois o mantinha em rigoroso sigilo até ao momento que projetava ser o adequado...). Mas, inconsistências à parte, é uma história que prende o leitor e se lê com algum agrado.

Dan Brown não é maçom - ele próprio o declarou, nas entrevistas de divulgação e lançamento deste seu livro. No entanto, ressalta do seu livro que simpatiza com os princípios maçónicos e que reconhece valor à instituição. Este seu livro é simpático para a Maçonaria, dando dela uma visão completamente diferente das distorcidas e mentecaptas teorias da conspiração que por aí campeiam.

No entanto, enquanto maçom, entendo que, em relação à Arte Real, o mais importante, neste livro, não é a trama aventurosa da história, nem sequer a visão positiva da Maçonaria que o seu autor dá. Dois outros aspetos captaram a minha atenção e considero relevantes.

O primeiro é o profundo conhecimento que o profano Dan Brown revelou da Maçonaria. Com exceção de uma pequeníssima imprecisão (aliás anotada pelo revisor da edição portuguesa), o que Dan Brown descreve, refere, explica, é basicamente... certo! O que confirma uma tese que há muito venho defendendo: pese embora toda a repetida lengalenga de que a Maçonaria é uma sociedade secreta, pesem embora as numerosas variações sobre o sempre repetido tema do segredo maçónico, tudo o que respeita à Maçonaria está publicado e ao alcance de qualquer interessado em saber, em conhecer, os profundos e excelsos segredos dos maçons. É certo que, como também normalmente refiro, tudo o que está certo encontra-se rodeado de impressionante quantidade de lixo, mentiras e irrelevâncias... É certo que a grande dificuldade está em conseguir distinguir o certo e relevante da fantasia, da invenção, da picuinhice sem interesse nenhum... Mas Dan Brown, ao escrever este livro, provou que um profano estudioso, determinado e dotado de bom senso consegue aceder ao que verdadeiramente é a Maçonaria.

O segundo aspeto que captou a minha atenção é que a trepidante história... acaba para aí umas cinquenta páginas antes do fim do livro! As sortes do vilão, da "emergência de segurança nacional", dos protagonistas, ficam todas reveladas cerca de cinquenta páginas antes do fim do livro.

Pois bem: porventura alguns não concordarão, de todo, comigo (e estarão no seu pleníssimo direito, sem qualquer ponta de vestígio de desapontamento da minha parte) mas, na minha opinião, são estas cerca de cinquenta páginas depois de a aventura acabar que valem a pena! A aventura, o suspense, o ritmo cinematográfico, ficaram para trás, a nossa curiosidade ficou satisfeita e... para quem quiser ler com olhos de ler, quem quiser refletir e não apenas olhar... é nessas cerca de cinquenta páginas que está matéria que merece reflexão. Quem o fizer, quem refletir, quem aprofundar dentro do interior de seus pensamentos e meditação, algumas passagens do que naquelas cerca de cinquenta páginas "sem" ação está, chegará porventura a conclusões inesperadas - ou não... Quiçá cada um chegue a conclusões diferentes do parceiro do lado. Mas talvez deva ser assim mesmo!

Gostei, por isso, de ler O Símbolo Perdido. Não por falar de Maçonaria. Mas por se me ter revelado não ser apenas uma história de aventuras, apta a dar uma adaptação jeitosa para o cinema. Ser também um pouco de alimento para o espírito, de elemento para reflexão. E isso, na minha cartilha, é que define um bom livro!

Rui Bandeira

09 novembro 2009

Você sabia que...

Este "Você sabia que..." vem com um atraso considerável (3 dias !).
Para os que já se habituaram à minha lenga-lenga pr'ó fim de semana terão desta vez um novo paradigma (esta está tão na moda que não resisti... "um novo paradigma"... não digam que não é bonito !) que é uma lenga-lenga prá semana.

Como de costume trata-se de um vídeo/texto enviado por um amigo do tempo dos calções para o qual peço a Vossa paciência para a adaptação à realidade portuguesa.
É da autoria de um brasileiro (escrito em brasilês...) e naturalmente com números e exemplos da realidade brasileira, mas em todo o caso muito interessante.
É a chamada de atenção para uma realidade que ninguém põe em destaque, mesmo constituindo a parametrização de toda a nossa vida próxima futura.

Políticos de todos os setores, técnicos de todas as profissões, população em geral interessada ou distraída, todos... mas todos mesmo passam ao lado das questões que aqui são afloradas.
Uns por desinteresse, outros por desconhecimento puro e simples, mas outros (e não são poucos) por comodismo preferem assobiar para o ar e ir andando como se nada se estivesse a passar no mundo. Mas passa !

Digamos que preferiria oferecer-Vos um tema mais simpático para a semana de trabalho, chuva e frio que aí vem, mas "prontes", sei que é "bué da chato", mas às vezes convém ser assim, "bué da chato".

Como dizia o Zeca... "o que faz falta é avisar a malta " !
Estou a avisar !




Hoje vão votos de boa semana, se possível com pouca chuva, pouco frio e muito trabalho produtivo.

JPSetúbal

04 novembro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: conclusão


Feita a viagem pelos caminhos da Lenda do Ofício, com paragens nos vários apeadeiros que o fluir do tempo foi proporcionando, é tempo de fazer o balanço do que se aprendeu com a jornada, recolhendo esses ensinamentos para uso no prosseguimento da exploração da vereda de nossa vida.

Já em vários dos específicos comentários aos diversos trechos da Lenda chamei a atenção para uma das suas caraterísticas: o aparecimento frequente de anacronismos históricos, no entanto explicáveis por refletirem concretizações de arquétipos, personificações de factos praticados por anónimos, reflexos de evoluções coletivas.

Os anacronismos detetados constituem, evidentemente, entorses (ou quiçá mesmo valentes caneladas...) em relação à verdade histórica. É por isso que se trata da Lenda do Ofício, não da História do dito... Mas, se essas entorses existem e são visíveis, pudemos verificar que normalmente corresponderam, porém, a artifícios de narrativa condizentes com o plano de fundo da evolução histórica. Cobriu-se, várias vezes, a nudez forte da Verdade Histórica com o manto diáfano da Fantasia, embelezando, compondo, agrinaldando, imaginando o que mais seco, duro, quiçá desinteressante, ou até não perfeitamente conhecido, realmente terá ocorrido.

Enfim, a Lenda não é, seguramente História, mas reflete-a. A modos que um Romance Histórico. Todos, ao lê-lo, sabemos que não constitui a exata Verdade Histórica, mas com ela se aparenta, dela flui e com ela se relaciona. E, afinal, há horas para tudo: horas para ler e estudar a História pura e dura e horas para ler e apreciar Lendas, Narrativas e Romances, que bem sabemos não corresponderem inteiramente à verdade factual, mas que apreciamos pela acrescida graça e pelo estímulo da nossa fantasia e imaginação. Não sabemos exatamente como as coisas se passavam no lugar X, no tempo Y, com a pessoa Z, mas porventura terá sido assim, nas circunstâncias assado, com a atuação frito e os resultados cozido... Não sabemos se é exatamente correto, mas, pelo menos é mais nutritivo para a nossa Imaginação...

Outra caraterística a realçar na Lenda é a progressiva concretização e focalização que dela decorre. Adverti que, para os maçons operativos medievais, era comum utilizar-se Maçonaria como sinónimo de Geometria, pura ou aplicada em Arquitetura, por si ou concretizada em Construção.

Mas se verificarmos bem, não só o termo Maçonaria é, na Lenda, sucessivamente utilizado com esses significados, como evolui na sua utilização ao longo da mesma, das épocas mais distantes para as mais recentes e à medida que a narrativa se aproxima do lugar da sua criação, a Inglaterra.

É assim que, no início da narrativa, dedicado aos tempos antediluvianos, Maçonaria é sinónimo de Geometria, e assim continua até à narrativa de Euclides. Quando se chega à narrativa da edificação do Templo de Salomão, o termo Maçonaria começa a ser utilizado com o significado de Arquitetura e construção. E, com a entrada da narrativa pela Europa, cada vez mais o termo se refere a Construção, pura e dura e já nem sequer tanto a Arquitetura. Quando a narrativa desagua em Inglaterra, é já, claramente, este o uso do termo, detendo-se então a Lenda na descrição da criação da organização das regras da arte de construir, da organização do agrupamento profissional dos construtores "oficiais", regras e deveres que deviam cumprir.

A Lenda evoluiu da Antiguidade mais longínqua para os tempos mais recentes, com um similar movimento de evolução da utilização do termo Maçonaria do geral para o particular do ofício da construção propriamente dito.

Finalmente, ressalta de toda a narrativa o Orgulho que constituía para os construtores em pedra o estarem integrados num grupo profissional organizado, com regras, com princípios, com conhecimentos recebidos e acrescentados e aperfeiçoados desde tempos imemoriais.

A Lenda do Ofício foi a narrativa de exaltação de uma associação de profissionais e da sua atividade. Com a evolução da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, deixando as Lojas de serem locais de trabalho, ou de regulação do trabalho ou das respetivas regras, e passando a ser locais de convívio fraterno e de trabalho, já não de construção de coisas, mas de construção e aperfeiçoamento dos autores das coisas, de Homens, esse legítimo Orgulho dos maçons operativos não é esquecido.

E a Lenda do Ofício continua a ser lembrada pelos Maçons modernos, especulativos, como narrativa respeitante a um ofício que foi, mas sobretudo como símbolo da evolução humana. Na Lenda fala-se de conhecimentos para construir palácios e templos, castelos e cidades, muralhas e torres. E com ela aprendemos que também similar evolução existiu, ao longo dos tempos, na ética dos Homens, que idênticos princípios de cooperação e organização podem inspirar o trabalho de aperfeiçoamento de cada Homem, que também a construção do Templo dentro de cada um de nós se faz, embora sem pedras nem ferramentas para as aparelhar e pousar, com regras, com o cumprimento dos deveres que aprendemos e apreendemos serem imanentes aos homens justos e leais e de bons costumes.

O Ofício será porventura já de outra natureza; mas a Lenda, essa, permanece e continua a ser motivo de Orgulho para todos nós, maçons, como lembrança do que a Humanidade foi e do que cresceu, e do que evoluiu e esperança do que, melhorando cada um de nós a si próprio, a Humanidade melhorará e evoluirá.

A Cadeia de União entre os maçons é constituída pelos elos existentes em todo o globo, mas vem sendo forjada e aperfeiçoada desde tempos imemoriais - desde os tempos em que analfabetos trabalhadores construíam, por suas mãos, incríveis edifícios, que hoje nos espantam como puderam ser construídos sem os meios técnicos hoje conhecidos.

Nós, os maçons, orgulhamo-nos de descender desses construtores de antanho. De todos, desde os mais sabedores aos mais rudes e incultos.

Rui Bandeira

01 novembro 2009

A Água

Apenas os votos de bom fim de semana, sem mais.

Está tudo aí. É só ver !

JPSetúbal

28 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Athelstan


Chegamos finalmente ao epílogo da Lenda do Ofício. Esta última parte da Lenda tem um fundo histórico há muito conhecido. Registos históricos comprovam que, no tempo do rei saxão Athelstan, foram reguladas por lei as frith-gildan (free guilds em inglês moderno), ou corporações livres de artífices de diversas profissões, entre eles os construtores. Mas, sendo uma construção lendária, a base histórica entrelaça-se com alguma imprecisão, embelezamento, modificação, gerada pela transmissão oral ao longo dos tempos.

Mas, antes do mais, relembremos o último trecho da Lenda do Ofício, que alguns estudiosos maçónicos autonomizam sob a designação de Lenda de York:

Pouco tempo depois da morte de Santo Albano, houve diversas guerras no reino de Inglaterra entre diversas nações, pelo que a boa regra da Maçonaria foi destruída até ao tempo dos dias do Rei Athelstone, que foi um valoroso Rei de Inglaterra e trouxe a esta terra descanso e paz; e construiu muitas grandes obras de Abadias e Torres e muitos outros tipos de edifícios; e gostava muito dos Maçons. E ele tinha um filho chamado Edwin, que gostava dos Maçons muito mais do que o seu pai. E era um grande praticante da Geometria; e dedicou-se muito a falar e a confraternizar com Maçons e a aprender a sua ciência; e depois, pelo amor que dedicava aos Maçons e à ciência, ele foi feito Maçon e obteve do rei seu pai uma carta-patente para realizar todos os anos uma assembleia, onde lhes conviesse, no reino de Inglaterra; e para corrigirem os erros uns dos outros e os atropelos que fossem feitos dentro da ciência. E realizou ele próprio uma Assembleia em York, e estes fez maçons e deu-lhes Deveres e ensinou-lhes as regras e ordenou que esta norma seria seguida para todo o sempre, e guardou então a carta-patente para a conservar e deu ordem para que fosse renovada de rei para rei.
E quando a Assembleia estava reunida, anunciou que todos os Maçons, velhos e novos, que tivessem alguma notícia ou conhecimento dos Deveres ou das regras que foram feitos antes nesta terra, ou em qualquer outra, deveriam deles dar conhecimento. E quando assim se fez, foram encontrados alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas; e o seu propósito foi de reunir todos num único. E fez um livro deles e de como a ciência foi fundada. E ele próprio proclamou e determinou que deveria ser lido ou contado sempre que um Maçon fosse feito, para lhe dar a conhecer os seus Deveres. E desde esse dia até agora as regras dos Maçons mantiveram-se dessa forma, tanto quanto os homens as podem executar. E a partir daí diversas Assembleias tiveram lugar e ordenaram certos Deveres, segundo o melhor juízo dos Mestres e Obreiros.

Que, após o século III, época em que viveu Santo Albano, a Inglaterra foi palco de um largo e persistente período de instabilidade, guerras, invasões, sortidas e ataques, nada propício à arquitetura, atividade mais próspera em tempo de paz do que de guerra, é uma verdade histórica conhecida. Daí que, com acerto, a Lenda refira que a boa regra da maçonaria foi destruída até ao tempo do rei Athelstone.

Athelstone é uma das formas do nome do rei saxão Athelstan, o Glorioso, rei de Inglaterra entre 924 e 939. É considerado o primeiro rei inglês de facto. Estendeu os seus domínios a York e Nortúmbria, a Gales e à Cornualha. Teve várias vitórias militares, inclusivamente sobre os vikings. Não obstante, foi considerado também um hábil diplomata, preferindo, sempre que possível, as alianças à guerra, sobretudo forjadas através de casamentos de várias das suas meias-irmãs. Não se casou e não teve filhos, mas criou como seu filho Haakon, mais tarde rei da Noruega.

Foi um patrono da Arquitetura e da construção, que procurou desenvolver. Foi também um legislador. Legalizou e regulou as corporações profissionais, incluindo a dos construtores.

A referência a Athelstan na Lenda é, portanto, manifestamente tributária da verdade histórica.

Não existem registos históricos da Assembleia de York, mas a sua realização, naquele local e naquele tempo, é plausível, atenta a regulação das corporações profissionais a que este rei procedeu e o facto de efetivamente York ter sido incorporada nos seus domínios. A assembleia de York e a sua importância no estabelecimento das regras de regulação do ofício de construtor é uma forte tradição da Maçonaria Operativa, que tem certamente raiz em evento ou conjunto de eventos efetivamente ocorridos. A ocorrência de assembleia ou assembleias em York parece merecer foros de confiança. Já a época em que tal ocorreu pode ter sido a de Athelstan ou num tempo anterior.

O que nos leva à parte reconhecidamente inexata deste trecho da Lenda: o alegado filho de Athelstan, o Príncipe Edwin.

Já acima foi referido que Athelstan não teve filhos. Mackey sustenta que o Edwin referido na Lenda terá sido o rei desse nome da Nortúmbria, que teve um reinado de dezasseis anos e morreu em 632 - portanto, anterior, em cerca de 300 anos, a Athelstan. Foi o primeiro rei cristão da Nortúmbria e também considerado um patrono da arte da construção.

Mackey explica este desacerto histórico com a existência de duas variantes da Lenda, geograficamente implantadas.

Os maçons operativos do sul de Inglaterra criaram a Lenda atribuindo a Athelstan o mérito do estabelecimento da regulação da construção e, portanto, atribuiram-lhe o restabelecimento da maçonaria em Inglaterra.

A Nortúmbria fica no norte de Inglatrra. Os maçons operativos do Norte de Inglaterra teriam criado a sua própria versão da Lenda, atribuindo esse restabelecimento a Edwin da Nortúmbria - até com a "vantagem" de trezentos anos de avanço...

As duas tradições orais terão coexistido até que as voltas e reviravoltas da transmissão oral terá propiciado a fusão das duas versões, mantendo o Edwin do Norte (e atribuindo-lhe o mérito da Assembleia de York, retirado a Athelstan), mas "fazendo" de Edwin filho (historicamente inexistente) de Athelstan...

Enfim, a Realidade embelezada pela Lenda...

Fontes:

Wikipedia:

Athelstan: http://pt.wikipedia.org/wiki/Athelstane_de_Inglaterra
Edwin: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edu%C3%ADno_da_Nort%C3%BAmbria

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

25 outubro 2009

A hora mudou ! E os homens ?

Pois é, esta coisa das mudanças de hora tem uma influência danada na psique do povo, e eu sou povo sofro enormemente com estas alterações.
Por que raio se hão-de lembrar de mudar a hora para mais cedo se, pouco tempo depois a tornam a mudar para mais tarde ?
Não seria mais sensato deixar os "reloginhos" tal qual e em vez disso dar um geitinho à velocidade da terra ? (ou do Sol como preferissem...)
Parece que não é assim e esta gente prefere as soluções mais complicadas.
Hoje já tive que dar à roda de uma boa dúzia de ponteiros e vários outros ficarão para quando reparar que cheguei com uma hora de avanço à reunião.
Nessa altura ficarei admiradíssimo, procurarei uma boa razão para o atraso dos outros todos e constatarei com o ar inteligente que me caracteriza que afinal não acertei o meu relógio na altura certa.
Paciência... há coisas piores !

Bom, mas pela confusão que estas mudanças me provocam vejam bem com que atraso chego ao blog este fim de semana...

Tenho este texto comigo há muito tempo mas nunca me deu nem para o desenvolver nem para o trazer para o "grupo" dos blogueiros.
Não é novidade. Mais assim ou mais assado é um texto conhecido, mas como estamos em "fim de semana" de mudança de "paradigma" horário resolvi fazer ressaltar a capacidade de "não mudança" do Homo Sapiens Sapiens (apetece-me acrescentar Sapiens Sapiens Sapiens Sapiens...)

COMO NASCE UM PARADIGMA:
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada. Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto.
Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza que a resposta seria:
-'Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui... '

E agora um videozinho para... atrasar o relógio.


Bom fim de semana e não se esqueçam. A hora mudou... há muitos, muitos anos !

JPSetúbal

21 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Santo Albano

Santo Albano

No texto anterior, analisou-se a chegada da Maçonaria=Geometria=Arquitetura=Arte da Construção em pedra à Europa, segundo a Lenda do Ofício.

A partir do texto que hoje se destaca, a Lenda centra-se em Inglaterra, país onde foi criada.

A Inglaterra em todo este tempo manteve-se alheia, quanto a qualquer assunto de Maçonaria, até ao tempo de Santo Albano. E nos dias deste o rei de Inglaterra, que era pagão, edificou as muralhas da cidade que agora se chama Saint Alban. E Santo Albano era um valoroso cavaleiro e nobre da corte do Rei e tinha a direção dos assuntos do reino e também da edificação das muralhas da cidade; e gostava dos Maçons e acarinhava-os muito. E fixou o seu salário bem, de acordo com os padrões do reino; pois deu-lhes dois xelins e seis dinheiros por semana e três dinheiros para as suas refeições. E antes desse tempo, por toda esta terra, um Maçon recebia apenas um dinheiro por dia e a sua refeição, até que Santo Albano emendou isso e deu-lhes uma carta-patente do Rei e do seu Conselho para reunirem em conselho geral e deu-lhe o nome de Assembleia; e, a partir daí, ele próprio ajudou a fazer Maçons e deu-lhes Deveres, tal como ouvirão mais tarde.

À primeira vista, depara-se-nos mais um dos frequentes anacronismos da Lenda, na medida em que, após falar de Carlos Martel, que viveu entre 688 e 741, refere Santo Albano, que viveu no século III. Mas aqui o anacronismo pode ser apenas aparente, por duas razões. A primeira, por esse anacronismo ter existido, sim, mas em relação a Carlos Martel, declarado, na Lenda contemporâneo de um dos que participaram na edificação do Templo de Salomão, Maymus Grecus, portanto "puxado" para uma época muito anterior à da sua real existência; a segunda, porque a Lenda, nesta passagem, não afirma que a Maçonaria foi introduzida em território inglês via França e, portanto, não declara a sequencialidade das duas passagens - pode muito bem interpretar-se que a Lenda relatou a introdução da Arte Real em França como episódio demonstrativo de que a sua aparição em Inglaterra não se tratou de um facto isolado, mas, de alguma forma, apenas como episódio marginal, sendo entendível e admissível a sua colocação entre o fim da Antiguidade e o ponto de interesse fulcral da Lenda, a Maçonaria em Inglaterra. Aliás, como referirei um pouco mais adiante, a passagem da Lenda ora em análise deve levar-nos a considerar um outro tipo de influência para a introdução da Arte de Construir em Inglaterra. Portanto, na dúvida, use-se aqui o princípio basilar do Direito Penal e... "absolva-se" a Lenda da suspeita do "crime" de anacronismo, nesta passagem.

Santo Albano foi o primeiro mártir cristão britânico. Segundo Mackey, nasceu, assim reza a tradição, no século III em Hertfordshire, Inglaterra, perto da cidade de Verulanium. Então, o território inglês fora conquistado pelas legiões de Roma e estava integrado no Império Romano. Albano foi para Roma, onde serviu sete anos como soldado sob o comando do Imperador Diocleciano. Regressou a Verulanium pouco antes de ter sido desencadeada uma perseguição de cristãos. Ter-se-á apresentado às autoridades como cristão e foi preso, torturado e morto. Quatro séculos depois do seu martírio, foi erigido um mosteiro em Holmeshurst, a colina onde foi enterrado e, pouco tempo depois, na vizinhança deste mosteiro nasceu e cresceu a cidade de St. Albans, substituindo a antiga Verulanium romana.

A Lenda embeleza a vida e importância do primeiro mártir e santo britânico, de óbvia importância numa sociedade medieval em que ainda predominava o catolicismo (Henrique VIII só mais tarde viveria e iniciaria o cisma que originou a Igreja de Inglaterra). Declara-o nobre cavaleiro da corte do rei pagão de Inglaterra (seria Carausius, que se revoltou contra o Imperador Maximiliano e usurpou a soberania de Inglaterra) e teria sido sob sua direção que foram edificadas as muralhas de Verulanium, futura St. Albans - pelos vistos, havendo boas razões para tal edificação, em função da revolta de Carausius e da expectável reação imperial...

A introdução da Arte de Construir em Inglaterra é assim relacionada com a construção de equipamento militar de defesa. Os maçons - os construtores - foram, diz a Lenda, protegidos por Santo Albano e viram aumentado o seu salário, aumentada a sua importância social e estabelecida a forma de autorregulação da sua profissão.

Esta passagem da Lenda, a exemplo de outras passagens e de outros personagens e épocas e lugares, personifica em Santo Albano uma realidade histórica verificada: que a Arquitetura foi introduzida em Inglaterra pelos artífices romanos que, como era usual então, seguiam as suas legiões nos territórios por estas conquistados e ocupados. Esses artífices não só construíam nos territórios ocupados campos fortificados e fortificações como, uma vez restabelecida a paz - a Pax Romana - se dedicavam a edificar templos e edifícios privados. Ruínas e inscrições latinas ainda hoje encontradas por toda a Inglaterra testemunham esse labor dos artífices romanos e sustentam a ideia de que a Arquitetura, sinónimo na Lenda de Maçonaria, foi introduzida em Inglaterra no período da colonização romana.

Fontes:

Wikipedia:
Santo Albano: http://en.wikipedia.org/wiki/St_Alban
St. Albans: http://pt.wikipedia.org/wiki/St_Albans

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

17 outubro 2009

Direitos... adquiridos ?

Nas deambulações via Net, cruzadas com mensagens que Amigos me vão fazendo entrar na caixa do correio, vou apanhando de quando em vez com notícias referentes a acontecimentos que "já passaram", a maior parte das vezes com muita pena minha por não ter dado por eles mais cedo.

Se esse conhecimento estivesse comigo a tempo e horas poderia segui-los com maior atenção.

Assim estou pendurado no "acaso" de uma descoberta durante a navegação ou no "acaso" de um alerta chegado por mensagem amiga.

Este foi o caso.

Trago-vos uma peça já posta em blog (outro, com motivações e objetivos diferentes do nosso "A-Partir-Pedra") que fiquei a conhecer agora.

Para fim de semana parece-me interessante.

Dá que pensar e como estamos em período fresquinho pós-eleitoral, com as equipas políticas em reconstrução, pode bem ser que alguém dessas novas equipas dê por este texto e faça alguma coisa com o seu conteúdo.

Como de costume limito-me a ser o copista de serviço (apenas !).


No Sábado 19/09/2009 realizou-se no Porto uma conferência de homenagem à Professora Leonor Vasconcelos Ferreira.
Abrindo a conferência, a Profª Manuela Silva apresentou um texto notável que, pela sua extensão, não vou transcrever na íntegra.

O conceito de pobreza como violação de direitos humanos

O conceito de pobreza mais frequente nos estudos académicos ou nos relatórios institucionais continua a ser o de pobreza monetária, que consiste em considerar como pobres os indivíduos ou agregados familiares cujo rendimento ou despesa é inferior a um certo limiar.
Por outro lado, não basta dispor de certo rendimento monetário para deixar de ser pobre.

O reconhecimento desta realidade tem levado a adoptar um conceito de pobreza assente no grau efectivo de privação, em que a privação do rendimento é apenas um elemento de um indicador compósito que contemple os diferentes défices de satisfação relativamente a um conjunto de necessidades essenciais correspondentes ao estilo de vida corrente.

Deve-se a Peter Townsend, recentemente falecido, a ideia original do conceito de privação expresso nestes termos: são pobres os indivíduos, famílias e grupos de população que não dispõem de recursos suficientes para obterem os tipos de alimentação, participarem nas actividades e terem as condições de vida e conforto que são comuns, ou pelo menos largamente encorajadas e aprovadas, na sociedade a que pertencem. (Townsend, 1979)
Por outro lado, não pode considerar-se indiferente o facto de as pessoas poderem - ou não - satisfazer as suas necessidades pelos seus próprios meios.

Dispor de um subsídio de assistência social ou ter uma remuneração devida pelo seu trabalho ou por reforma, mesmo que de valores equivalentes, não é o mesmo.

A dependência em relação à assistência social configura, só por si, uma situação de pobreza.

Para dar conta de mais esta perplexidade, é particularmente relevante o contributo dado por Amartya Sen que recorre ao conceito de capacitação (entitlement) para definir a pobreza. Segundo este prestigiado economista indiano, prémio Nobel da economia, não são as características dos bens em si mesmos e a respectiva privação que definem a situação de pobreza, mas sim a ausência de capacidades próprias para levar uma vida segundo os padrões correntes na sociedade. (Sen,1983)

Este conceito tem o mérito de, além de acomodar melhor a complexidade do fenómeno da pobreza nas suas várias dimensões, veicular também a ideia de que a pobreza não se combate apenas com medidas compensatórias da escassez de rendimento monetário, ou seja por meio do recurso à subsidiação, mas sim através do reforço da dotação de recursos ao dispor das pessoas e famílias em situação de pobreza, afim de que alcancem capacidades para, por si próprias, assegurarem uma vida digna.

Daí a ênfase posta no combate à pobreza através das políticas educacionais e de qualificação profissional, promoção da saúde, inserção no sistema produtivo e no mercado de trabalho, remuneração por serviços prestados à família e à comunidade, etc...
Todos estes conceitos, que, até agora, têm servido de base aos estudos sobre a pobreza, partilham um mesmo ângulo de visão que é o de considerar a pobreza como um infortúnio de alguns dos membros da sociedade a que esta, por razões de solidariedade, deve prestar auxílio, através de políticas públicas generosas e eficientes e de organizações privadas de solidariedade social.

Está, porém, em curso um novo conceito de pobreza que poderá alterar profundamente este paradigma.
Com efeito, desde o início do Milénio, tem vindo a impor-se a ideia de que a pobreza involuntária constitui uma violação de direitos humanos fundamentais e como tal deve ser colocada na agenda política, nomeadamente da responsabilidade dos governos nacionais e das instâncias internacionais, a par de outras matérias como a segurança ou a paz.

De algum modo, já foi esta a ideia que esteve subjacente ao Pacto dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, assinado em 2001 pela generalidade dos Estados que integram a ONU.

Podemos perguntar-nos:
- Que valor acrescenta este enfoque ao conhecimento da pobreza e, sobretudo, às estratégias para sua erradicação ?

... Em primeiro lugar, este conceito traz para primeiro plano o valor da dignidade de toda a pessoa humana, fundamento dos direitos humanos universalmente reconhecidos, e afirma que a pobreza involuntária ofende esta dignidade e põe em causa o valor da vida humana.

... Em segundo lugar, porque a existência de um amplo consenso universal em torno deste princípio abre caminho a que os governos e as organizações internacionais se comprometam com a definição de estratégias de eliminação da pobreza e encontrem os adequados suportes institucionais para fazer valer estes direitos e sancionar o respectivo incumprimento.

Apesar de reunir um amplo consenso político, não tem sido fácil, porém, implementar esta ideia e encontrar os instrumentos adequados para a transpor para a agenda política e a prática dos governos.
Aproveito para lembrar que, em Portugal, por força de uma petição promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, apresentada à Assembleia da República em Outubro 2007, aquele Órgão de soberania veio a aprovar uma Resolução (n.º 31/2008) na qual se dispõe o seguinte:

- declara-se solenemente que a pobreza conduz à violação dos direitos humanos;
- recomenda-se ao Governo a definição de um limiar de pobreza em função do nível de
rendimento nacional e das condições de vida padrão na nossa sociedade;
- determina-se a avaliação regular das políticas públicas de erradicação da pobreza;
- afirma-se que o limiar de pobreza estabelecido sirva de referência obrigatória à definição e à
avaliação das políticas públicas de erradicação da pobreza.

Como se deduz do teor desta Resolução da Assembleia da República de Julho 2008, há uma intencionalidade por parte deste Órgão de soberania de dar passos neste caminho inovador de introduzir na agenda política da governação do País o conceito de pobreza como violação de direitos humanos.

(Publicada por Jorge Bateira em 23.9.09 No blogue "ladroesdebicicletas" )

Muito bem, aqui fica então para leitura atenta e meditação domingueira.
Um abraço. Bom fim de semana.


JPSetúbal

14 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: Carlos Martel

Estátua de Carlos Martel no Palácio de Versailles

Finalmente, a Lenda do Ofício chega à introdução do mesmo na Europa. Relembremos esta parte do texto:

Homens da Fraternidade curiosos viajaram por diversos países, uns para aprenderem mais da arte de construir e aparelhar, outros para ensinar aqueles que tinham poucos conhecimentos. E assim sucedeu que houve um curioso Maçon, chamado Maymus Grecus, que esteve na construção do Templo de Salomão e que veio para França e aí ensinou a ciência da Maçonaria aos homens de França. E houve um, da linhagem real de França, chamado Carlos Martel; e ele era um homem que gostava muito desta ciência e aproximou-se deste Maymus Grecus, acima referido, e aprendeu com ele a ciência e obteve através dele os Deveres e as Regras; e mais tarde, pela graça de Deus, foi escolhido para ser Rei de França. E quando ele estava nessa função, contratou Maçons e ajudou a fazer Maçons de homens que não eram nada; e pô-los a trabalhar e deu-lhes os Deveres e as Regras e bom salário, tal como tinha aprendido de outros Maçons; e confirmou-lhes uma determinação de se reunirem anualmente; e acarinhou-os muito; e assim chegou esta ciência a França.

Esta passagem confirma-nos uma já anteriormente verificada característica da Lenda: o anacronismo. Neste caso, particularmente evidente por indicar a convivência de um trabalhador que teria participado na construção do Templo de Salomão, Maymus Grecus, com Carlos Martel, coisa notável, se tivermos presente que o Templo de Salomão foi construído no século XI antes de Cristo e Carlos Martel viveu entre 688 e 741 depois de Cristo. Só dezassete séculos de diferença...

Mas, como já anteriormente tivemos oportunidade de ver, o anacronismo reincidente na Lenda funciona como elemento de ligação dos personagens da estória. No caso, avultam nesta passagem dois elementos: a crença na introdução na Europa da ciência da Geometria e da arte da construção em pedra aplicando os princípios descobertos por essa ciência através de França e a admiração que, manifestamente, existia por Carlos Martel na Idade Média.

Ao primeiro destes elementos não são, seguramente, alheios os factos de ter sido em território francês que existiu grande atividade de construção de catedrais em tempos medievais e de, manifestamente, ter existido uma categoria de trabalhadores que muito beneficiou e se desenvolveu com essa construção, que ciosamente guardaria para os seus elementos os segredos da arte de construir. Basta notar a importância que tinha, para a construção de uma catedral com dezenas de metros de comprimento, a correta e exata determinação dos ângulos retos entre a sua fachada e as paredes laterais: um ínfimo erro na determinação dese ângulo e resultaria uma catedral com as paredes laterais alargando-se ou estreitando-se, formando um grotesco paralelogramo, tanto mais visível quanto maior fosse a extensão das paredes laterais...

Não se pode asseverar que a introdução da Arte Real na Europa se fez via França. Mas num ponto a Lenda indiscutivelmente acerta com a realidade histórica: a História da Arquitetura mostra-nos que, na Alta idade Média, circulavam pela Europa grupos de construtores, buscando emprego na construção de edifícios religiosos, palácios, torres, praças-fortes, etc..

Personagem aparentemente misterioso é o mencionado Maymus Grecus. Nenhuma referência histórica existe a este nome. Mas não se afigura particularmente difícil estimar a origem deste nome, se estivermos atentos a que, numa passagem posterior da Lenda se refere que o Princípe Edwin publicou ua proclamação no sentido de que que qualquer maçon que tivesse em seu poder quaisquer textos contendo Deveres ou práticas da Arte Real deveria apresentá-los e que, em resposta, reuniram-se textos, "alguns em francês e alguns em grego e alguns em inglês e alguns em outras línguas".

Se alguma referência existia a um arquiteto grego num texto em alemão, seria algo como "ein Maurer Namens Grecus)" (um maçon=construtor de nome grego). Se tal texto fosse em francês conteria provavelmente a expressão "un maçon nommé Grecus" (um maçon chamado Grecus). É fácil entender que, na transcrição para inglês e com a corruptela propiciada pelo voar do tempo, qualquer destas referências conduzisse a que se designasse tal putativo arquiteto grego de Namus Grecus (versão do nome em vários antigos manuscritos maçónicos contendo versões da Lenda do Ofício) ou Maymus Grecus (versão do manuscrito Downland, que utilizei para traduzir e neste blogue publicar a dita Lenda).

É, pois, razoável inferir-se que, mais do que um nome, Maymus Grecus constitui a referência a um qualquer arquiteto ou artista grego, que tenha estado em Jerusalém e ou tenha aprendido os princípios da arquitetura bizantina e tenha viajado para França, no tempo de Carlos Martel. Esta inferência é confirmada pelo facto histórico de que, no século VIII (época em que viveu e reinou Carlos Martel), houve um afluxo de arquitetos e artífices gregos à Europa do Sul e Europa Ocidental, em consequência de perseguições infligidas pelos imperadores bizantinos.

O anacronismo denunciado resolve-se assim se considerarmos que a referência na Lenda é feita a um dos arquitetos gregos que, tendo contactado e aprendido os princípios da arquitetura bizantina, que na época eram aplicados em todo o Médio Oriente, chegou e trabalhou em França, aí aplicando e difundindo esses princípios. E assim se congraça a Lenda com a História...

Uma referência final a Carlos Martel. Embora usualmente referido como um importante rei merovíngio de França, não terá propriamente alguma vez usado esse título, antes os de prefeito do palácio e duque dos francos. Prefeito do palácio era o título utilizado pelo funcionário merovíngio que representava o rei franco no palácio. No século VII, na Austrásia, um dos reinos francos, os prefeitos do palácio passaram a deter de facto o poder político, em nome do rei, que se limitava a um papel cerimonial, tendo-se o cargo de prefeito tornado hereditário. O pai de Carlos Martel, Pepino de Herstal, foi prefeito do palácio da Austrásia. Após derrotar um exército da Nêustria (região que hoje corresponde ao Norte de França, onde está situada Paris) e da Borgonha, foi o primeiro prefeito a estender a sua autoridade sobre todo o domínio franco e assumiu o título de Duque (dux, chefe) dos Francos. Carlos Martel herdou os títulos e manteve e reforçou a sua autoridade sobre todos os reinos dos Francos (Austrásia, Nêustria e Borgonha).

Um ano antes da sua morte, dividiu os seus territórios por dois dos seus filhos adultos: a Carlomano (não confundir com Carlos Magno) entregou a Austrásia e a Alamânia (com a Baviera como vassala); a Pepino o Breve a Nêustria e a Borgonha (com a Aquitânia como vassala). Carlos Martel tinha deixado o trono de rei dos Francos vago desde a morte de Teodorico IV em 737. Os dois irmãos seus sucessores decidiram instalar rei dos Francos (teórico senhor de ambos os prefeitos, mas na realidade mero detentor de poder nominal, sem qualquer poder real, totalmente assumido pelos prefeitos) Childerico III, que veio a ser o último rei merovíngio. Em 747, Carlomano, um homem profundamente religioso, retirou-se para um mosteiro, renunciando ao cargo de prefeito da Austrásia, assumido também por Pepino o Breve. Este então entendeu que era tempo de fazer coincidir o título com o poder de facto e depôs o rei. Foi ele próprio coroado rei dos Francos em Soissons e inaugurou a dinastia carolíngia.

Fontes:

Wikipedia:
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o
Carlos Martel: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Martel
Prefeito do palácio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Prefeito_do_pal%C3%A1cio
Duque dos Francos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Duque_dos_francos
Carlomano: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlomano,_filho_de_Carlos_Martel
Pepino o Breve: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pepino_o_Breve

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York


Rui Bandeira

10 outubro 2009

Quem tudo quer...

É muito antiga a expressão "Quem tudo quer, tudo perde".
Nasci e cresci ouvindo esta expressão e acontece que o tempo da vida tem-se encarregado de me mostrar que de facto é assim na grande maioria dos casos.
Como sempre alguns escapam... mas na grande maioria (na grande maioria, mesmo !) das situações que conheço o resultado é mesmo o do título que escolhi.

A ponderação das possibilidades, o senso das oportunidades, o saber-se onde e quando parar são princípios básicos de equilíbrio que nem todos conseguem desenvolver.
Depois há o velho Peter, com o seu Princípio a marcar o ponto de viragem para a asneira.

Em mais um período reflexivo/eleitoral (?) escolhi um exemplo... exemplar ! para vos entreter.
E se calhar relacionado com alguns dos personagens principais deste fim de semana.



Bom fim de semana... e até pode ser que Portugal vá ao Mundial da África do Sul...

JPSetúbal

07 outubro 2009

A Lenda do Ofício - análise crítica: O Templo de Salomão


Do Egito, a Lenda salta para a Judeia e para a construção do Templo de Salomão. Recorde-se o texto da Lenda do Ofício, nesta parte:

Muito depois deste tempo, quando os filhos de Israel chegaram à Terra Prometida, que agora é chamada entre nós de Jerusalém, o rei David iniciou a construção do Templo que é chamado entre nós de Templo de Jerusalém. E o rei David apreciava os maçons e tratava-os bem e dava-lhes bom salário. E deu-lhes os Deveres pela forma que tinha aprendido no Egito, dada por Euclides, e outros deveres de conduta de que ouvirão falar mais tarde. E depois da morte do rei David, Salomão, que era filho de David, concluiu o Templo que o seu pai começara; e mandou vir maçons de diversos países e várias terras; e juntou-os, de forma a ter 40.000 trabalhadores em pedra e chamou-lhes maçons. E escolheu de entre eles 3.000 que determinou fossem Mestres e responsáveis pelo trabalho. E, para além disso, havia um rei de outra região que os homens chamavam Hiram, que era amigo de Salomão e que lhe deu madeira para a sua construção. E ele tinha um filho chamado Aynam (hoje designado por Hiram Abif) e ele era Mestre de Geometria e foi o Mestre Chefe de todos os maçons e foi o Mestre de todos os aparelhamentos e gravações das pedras e de toda a espécie de Maçonaria que dizia respeito ao Templo; e isto é testemunhado pela Bíblia, no Livro dos Reis, capítulo terceiro. E Salomão confirmou, quer os Deveres, quer as disposições que o seu pai tinha dado aos maçons. E assim foi a valiosa ciência da Maçonaria confirmada na terra de Jerusalém e em muitos outros países.

Em primeiro lugar, importa relembrar o anacronismo, já anteriormente denunciado, de na Lenda se datar a construção do Templo de Salomão de muitos anos depois do tempo de Euclides, quando é a inversa que é historicamente verdadeira.

Mas, excetuado este anacronismo, esta passagem da Lenda reproduz, com razoável exatidão, o texto bíblico constante do primeiro Livro dos Reis. Segundo este texto, o Templo de Salomão foi construído ao longo de sete anos (1 Reis 6:37, 38). Em troca de trigo, cevada, azeite e vinho, Hiram, rei de Tiro, forneceu madeira do Líbano e operários especializados em madeira e em pedra. Ao organizar o trabalho, Salomão convocou 30.000 homens de Israel, enviando-os ao Líbano em equipas de 10.000 em cada mês. Convocou 70.000 dos habitantes do país que não eram israelitas, para trabalharem como carregadores, e 80.000 como cortadores (1 Reis 5:15; 9:20, 21; 2 Crónicas 2:2). Como responsáveis pelo serviço, Salomão nomeou 550 homens e, ao que parece, 3.300 como ajudantes. (1 Reis 5:16; 9:22, 23). O templo tinha uma planta muito similar à tenda ou tabernáculo que anteriormente servia de centro da adoração ao Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos, sendo estes, no Templo, maiores do que as do tabernáculo. O Santo tinha 40 côvados (17,8 m) de comprimento, 20 côvados (8,9 m) de largura e 30 côvados (13,4 m) de altura. (1 Reis 6:2) O Santo dos Santos era um cubo de 20 côvados de lado. (1 Reis 6:20; 2 Crónicas 3:8). Os materiais aplicados foram essencialmente a pedra e a madeira. Os pisos foram revestidos a madeira de junípero ou cipreste ( conforme as traduções da Bíblia) e as paredes interiores eram de cedro entalhado com gravuras de querubins, palmeiras e flores. As paredes e o teto eram inteiramente revestidos de ouro. (1 Reis 6:15, 18, 21, 22, 29).

Para a época, era indubitavelmente um Templo imponente, embora não particularmente grande nas suas dimensões. Aliás, a sua edificação não foi especialmente demorada - apenas sete anos.

Escusado é relembrar que, na época da criação da Lenda, o texto bíblico era aceite e considerado como fonte histórica.

Mais uma vez se assume o conceito de Maçonaria como Geometria, em particular Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura. A referência na Lenda ao Templo de Salomão assume particular importância, em virtude de, pela primeira vez, se aludir expressa e especificamente à construção de um edifício de culto religioso, em ligação com a forma de organização dos construtores. A Maçonaria Operativa da Idade Média desenvolveu-se, não totalmente, mas significativamente, mediante a construção de catedrais, por essa Europa fora, pelos pedreiros livres, isto é, os profissionais da construção em pedra (canteiros, mas também escultores, cinzeladores, mestres projetistas, etc..) livres de amarras feudais, com autorização para trabalharem onde muito bem entendessem.

Neste sentido, compreende-se que os maçons operativos tenham dado lugar de destaque ao episódio da construção do Templo de Salomão, na sua Lenda do Ofício. Afinal de contas, aí remonta o primeiro registo, comummente conhecido na sua época, de construção de um edifício de culto...

Embora este episódio tenha um lugar de destaque na Lenda, sendo o último episódio dedicado à Antiguidade, dele se prosseguindo para a introdução da Maçonaria=Geometria=Arquitetura na Europa, desconhece-se ainda hoje, mesmo entre os investigadores maçónicos, a relevância que este episódio da construção do Templo de Salomão efetivamente teve, em termos simbólicos, para a Maçonaria Operativa - se é que alguma de especial teve. Sabe-se apenas que no mais antigo manuscrito maçónico conhecido, o Manuscrito Halliwell, nenhuma referência lhe é feita. Só cerca de um século depois, no Manuscrito Cooke, deparamos com a primeira, e desenvolvida, referência ao Templo de Salomão e à sua inclusão na Lenda do Ofício - situação que se repete nos manuscritos posteriores.

Na Maçonaria Especulativa, desenvolvida e sistematizada a partir dos finais do século XVII, início do século XVIII, o episódio da edificação do Templo de Salomão e a interação de vários personagens nela envolvidos tem um papel simbólico central. Mas esta importância não decorreu necessariamente de desenvolvimento de igual tendência já prosseguida pela Maçonaria Operativa.

Fontes:

Wikipedia:
Templo de Salomão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o

The History of Freemasonry, Albert G. Mackey, Gramercy Books, New York

Rui Bandeira

03 outubro 2009

Homenagem aos nossos Irmãos brasileiros

O Brasil (através da cidade do Rio de Janeiro) ganhou a realização dos Jogos Olímpicos 2016.

Por mim fiquei feliz com a decisão principalmente porque teremos uns Jogos Olímpicos falados em português e porque sendo o reconhecimento da capacidade organizativa daqueles nossos Irmãos é, por outro lado, uma ajuda ao desenvolvimento brasileiro.

Além de ser um excelente pretexto para um Carnaval extra, coisa que brasileiro que se preze não perdôa.

Pois é com o sentido de uma homenagem aos nossos Irmãos da outra banda do Atlântico que hoje dedico este espaço.

Vejam só "que coisa mais linda... lá por Ipanema"... e depois uma grande recordação dos "bons velhos tempos" !






Grande abraço a todos, bom fim de semana prolongado e... não deixem roubar a bandeira da Praça do Município... t'á bem ?

JPSetúbal