22 novembro 2007

O reactor nuclear de Sacavém tem um novo coração








Dentro das pesquizas diárias sobre assuntos diversos surgiu-me esta notícia, publicada no "Público" e assinada por Teresa Firmino, que quis trazer para o blog por 2 razões:

- O nuclear foi questão já ventilada por cá;
- Tem relação directa com o tema "Meio ambiente", também muito tratado entre nós.

Então aqui Vos deixo este trabalho, que considero bem interessante.

Para José Marques, a luz mais bela do mundo vem do fundo de uma piscina. Não de uma piscina qualquer, mas daquela onde se encontra o núcleo do Reactor Português de Investigação, perto de Sacavém. Do núcleo – o coração do reactor – emana um azul luminoso, intenso, tranquilizador até.
Este Verão, o reactor recebeu um novo coração, com outro combustível, que entretanto voltou a brilhar.“Então José, o azul mudou?”, perguntava, a brincar, Parrish Staples, da agência nacional de segurança nuclear do Departamento de Energia dos EUA, depois de uma visita ao reactor há alguns dias. “Não, que eu tenha notado”, respondia-lhe, no mesmo tom, o director do Reactor de Investigação Português.
Mas o físico português não quis perder o momento, há cerca de duas semanas, em que o reactor com o novo combustível atingia a potência normal, que é de 1 megawatt, o equivalente a mil aquecedores a óleo domésticos de 1 quilowatt. Subiu para uma ponte móvel mesmo ao centro da piscina e pôs-se a fotografar o tal azul ou, como ele diz, “a luz mais bonita do mundo”.
Bem conhecida dos físicos nucleares, essa é a radiação de Cherenkov, um fenómeno descrito pelo físico russo Pavel Cherenkov, pelo qual ganhou o Nobel da Física de 1958. Durante a reacção em cadeia, os átomos de urânio são escaqueirados com neutrões: dessa cisão resultam outros elementos radioactivos, cuja posterior desintegração origina a emissão de electrões e positrões.
Ora, a luz azul é o efeito resultante do facto de essas partículas viajarem mais depressa do que a luz na água (a luz viaja a menos de 300 mil quilómetros por segundo na água, enquanto as partículas o fazem a essa velocidade).
Para chegar ao pé do reactor português e ver a inesquecível radiação de Cherenkov, é preciso ir ao Instituto Tecnológico e Nuclear. José Marques, de 42 anos, a trabalhar no reactor desde 1997, é o cicerone de uma pequena comitiva, para assinalar a conversão do reactor.
Entre os convidados, além de Parrish Staples, encontra-se James Matos, do Laboratório Nacional de Argonne, perto de Chicago; John Kelly, representante da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA); e Jean-Louis Falgoux, da Cerca, a empresa francesa que fabricou do combustível para o reactor português.José Marques encaminha-os até à porta metálica de um pavilhão, com um palmo de grossura, por cima da qual se lê, em letras cor-de-rosa, “reactor em operação”.
Transpõem essa porta, esperam numa salinha até outra porta igual se abrir e, depois de passarem por um corredor, surge-lhes a piscina do reactor. Ergue-se nove metros acima do solo, no centro, sem qualquer janela para o exterior.
No fundo da piscina, repousa o coração do reactor rodeado por 450 mil litros de água, que blindam a radiação.

O enriquecimento do urânio

Neste momento, o núcleo só tem urânio de baixo enriquecimento, tendo sido substituído o núcleo com urânio muito enriquecido. Na natureza, o urânio natural é quase só do isótopo (forma) 238, possuindo apenas 0,7 por cento de urânio-235, aquele que interessa para uma reacção em cadeia.
Por isso, tem de se enriquecer o urânio natural com o isótopo 235. Se for para um reactor de produção de electricidade, é enriquecido até cinco por cento. Se for para um reactor de investigação, como o português, o enriquecimento vai até quase 20 por cento. Quando se excede os 20 por cento, o urânio é considerado de alto enriquecimento.
Era o que sucedia com anterior núcleo do reactor português: comprado aos EUA em 1973, tinha urânio enriquecido a 93 por cento.“Pouco depois desse urânio ter sido comprado, na Administração Carter, os EUA decidiram limitar as vendas deste tipo de material, dado que poderia ser convertido para usos militares, para bombas”, explica José Marques. “A maior parte dos países têm vindo a converter os reactores para um enriquecimento inferior a 20 por cento, dado que esse tipo de material já não tem interesse para aplicações militares.”Agora chegou a vez do reactor português.
Começou a funcionar a 25 de Abril de 1961, quando se fez a primeira reacção nuclear controlada em Portugal.
Na altura, pensava-se que o país poderia vir a ter uma central nuclear de produção de energia eléctrica, uma ideia abandonada nos anos 70.
É a terceira vez que se compra combustível para o reactor, depois do que foi adquirido em 1961 (devolvido em 1999 aos EUA) e em 1973 (em uso até agora).O projecto para mudar o núcleo necessitou de três anos. “Tenho mais de 500 e-mails de José Marques”, lembra James Matos, para exemplificar o imenso trabalho.
O Departamento de Energia dos EUA deu o urânio já enriquecido e uma parte do dinheiro para pagar o fabrico do combustível à Cerca, a outra parte foi paga por Portugal (no total, custou 500 mil euros).
O laboratório de Argonne e a equipa do reactor nuclear português fizeram os estudos de segurança para a mudança do núcleo. E à AIEA coube a coordenação global do projecto, dando a ajuda que se necessitasse e avaliando os estudos de segurança feitos.
A 31 de Maio, o reactor era parado.
Em Junho, a AIEA enviava uma carta formal dizendo que apoiaria qualquer pedido de licenciamento que os responsáveis pelo reactor fizessem às entidades portuguesas competentes. Em Agosto, a Direcção Geral de Geologia e Energia concedia, assim, a licença de operação com o novo combustível. No início de Setembro, o novo núcleo começava a operar a baixa potência.“Herdei um sonho, que é manter o reactor a funcionar nas melhores condições e disponibilizá-lo à comunidade científica”, resume José Marques.
Para tal, terá urânio que chegue até 2016.

Como é o núcleo e o que vai fazer-se com ele

Se, pela luz azul, o coração do reactor nuclear português é fácil de localizar dentro da sua piscina, como é ele exactamente?
Do topo da piscina, um conjunto de tubos cilíndricos desce até ao reactor: são as barras de segurança, que, caso seja necessário parar a reacção em cadeia, entram pelo coração do reactor adentro e absorvem os neutrões que fazem falta para manter a reacção.
O sítio onde entram essas barras, visto de cima, parece uma grelha: na verdade, são 12 paralelepípedos na vertical, a que se chama os “elementos de combustível”.
Em cada um desses elementos, com 70 centímetros de altura, existem placas de alumínio e são elas que têm o urânio no miolo. Alguns desses elementos têm 18 placas de alumínio, enquanto outros, aqueles onde descem as barras de segurança, possuem uma dezena. O coração velho repousa num canto, no fundo da piscina, até os EUA o virem buscar. Se apagássemos todas as luzes, ainda veríamos uma luz azul ténue, durante anos.
Dentro da água, junto ao novo coração do reactor (o único na Península Ibérica dedicado à investigação científica), irão ser colocados os mais diversos objectos para serem irradiados. Já se irradiaram peças arqueológicas para ver a composição, rochas lunares, esterilizaram-se moscas dos citrinos ou testaram-se murganhos à procura de um tratamento selectivo do cancro.
O reactor serve também para investigação fundamental médica, por exemplo produzindo isótopos (formas de elementos) radioactivos. O estudo de materiais num ambiente de radiação é outra das suas utilizações, razão por que o reactor português faz parte de uma rede europeia de pequenos reactores: “Vão fazer-se estudos de materiais para a próxima geração de reactores de produção de electricidade”, explica José Marques, director do reactor português.
Outra das vertentes do reactor é a educação: “Tem sido uma ferramenta de ensino desde o início da sua operação em 1961. Todos os anos recebemos dezenas de alunos universitários, que aí realizam trabalhos experimentais que não poderiam fazer noutro sítio.
Recebemos também milhares de estudantes do ensino secundário, que têm assim o primeiro contacto com o ‘nuclear’”, acrescenta José Marques.

A 51ª conversão de um núcleo americano

Com o caso português, os EUA já mudaram o combustível a 51 reactores nucleares de investigação, desde 1978. Nesse ano, lançaram um programa para converter o urânio altamente enriquecido de reactores de investigação em urânio de baixo enriquecimento.
O motivo? Se for roubado urânio de um reactor de investigação enriquecido acima de 90 por cento com o isótopo 235, esse material pode ser utilizado para fazer bombas. O melhor, considerou-se, seria deixar de usar urânio muito enriquecido para fins civis. “A única maneira de convencer países que podem ser problemáticos a não usar esse material é dar o exemplo. É não haver excepções para ninguém”, explica o físico José Marques.
Em 2004, o programa americano ganhou impulso, em particular por causa dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, chamando-se Global Threat Reduction Iniciative.
Depois disso, os presidentes George W. Bush (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) acordaram um programa conjunto: “Tanto os americanos como os russos se comprometeram a fazer a limpeza do mundo. Foram eles que forneceram tecnologia nuclear, cada um na sua esfera de influência. Tomaram a responsabilidade de ir buscar o material que forneceram desde os anos 50, o que não é trivial”, diz José Marques.
Entre os 51 reactores de investigação de origem americana já convertidos, 14 estão nos EUA (aí, outros 28 aguardam conversão). “Ainda há cerca de outros 50 para ser convertidos que usam urânio de alto enriquecimento fornecido pelos EUA”, conta José Marques.
Quanto aos núcleos de origem russa, houve quatro conversões. Entre reactores americanos e russos, qual é a situação? “Há mais de 100 reactores a operar com urânio altamente enriquecido.
Há 20 toneladas de urânio altamente enriquecimento por aí, que dão para fazer centenas de armas nucleares”, refere John Kelly, representante da AIEA. “A conversão de núcleos é um programa de segurança.”


JPSetúbal

21 novembro 2007

Interlúdio

Contra o que é habitual, ontem não foi publicado qualquer texto no A Partir Pedra. Tal ocorreu por avaria nas comunicações na zona de onde me ligo à Rede, precisamente quando, com o texto já escrito, seleccionava uma imagem para o acompanhar. Aproximava-se a hora do jantar - que, em minha casa, é um momento sagrado de reunião e convívio familiar - e não me foi possível aguardar pelo retomar das comunicações. Portanto, ontem as circunstâncias impuseram que não pudesse ser cumprido o propósito de, fora dos períodos de férias, o blogue ter sempre publicado, pelo menos, um texto em cada dia útil.

Fiquei levemente aborrecido, mas sou um optimista. E um optimista consegue sempre descortinar algo de bom no que corre mal, consegue sempre antecipar algum sol no meio de uma tempestade.

A pausa forçada permite-me reequilibrar um pouco a minha produção de textos aqui no blogue. Como tive oportunidade de referir aqui, este ano maçónico esperava que a minha contribuição para o blogue se cifrasse em dois textos por semana. Isso não se tem revelado possível. O reforço que se anunciava não se concretizou. Até agora, pelo menos. Os afazeres e as falhas de inspiração dos outros autores habituais de textos no blogue também os têm impedido de publicar mais assiduamente. Como resultado, para garantir o cumprimento do desejado objectivo de pelo menos um texto em cada dia útil, tenho tido necessidade de publicar quatro e, por vezes, cinco textos por semana.

Não me queixo. A publicação de textos no blogue é um acto voluntário, quem corre por gosto não cansa e quem não pode, arreia. Mas esta necessidade de garantir um ritmo elevado de publicação não deixa de me preocupar, sobretudo pelos possíveis reflexos na qualidade dos textos. Não é possível haver ópera todos os dias... E quanto mais dias houver função, menor será a proporção da ópera no meio da música...

A qualidade dos textos aqui publicados é para mim importante. Para escrever qualquer coisa de qualquer maneira, mais vale estar quieto e tentar fazer algo de mais útil... Procuro, portanto, escrever de forma a expor ideias, pensamentos, conclusões, que sejam dotados de alguma Sabedoria, que tenham alguma Força para inspirar ou influenciar quem lê e que sejam textos com alguma Beleza de escrita.

Porém, para escrever algo com uma sofrível Sabedoria é preciso reflectir. E quanto mais frequentemente se tiver que publicar, menos tempo se tem para reflectir no que se escreve...

Para escrever algo com a Força suficiente para marcar quem lê o texto, tem de se escrever convictamente. E a necessidade de publicar todos os dias obriga, por vezes, a escrever sobre detalhes, ligeirezas ou curiosidades, sobre os quais dificilmente se consegue transmitir convicção... Não que não haja lugar a textos sobre detalhes, ligeirezas e curiosidades aqui no A Partir Pedra. Claro que há, até por uma questão de saudável variedade de temas e estilos. Mas gostaria de poder programar mais descansadamente a mescla do sério com o ligeiro, para poder tentar até o ligeiro dotar de alguma Força...

Para escrever textos com alguma Beleza, com alguma qualidade de escrita, necessito de muita transpiração... Não sou um artista das letras, não escrevo particularmente bem, tenho consciência que mais não sou do que um medíocre alinhavador de palavras, um sofrível escrevinhador, um razoável divulgador de pensamentos. Mas, embora com reduzido sucesso, procuro, tento, teimo, que o que escrevo tenha, aqui ou ali, algo que possa ser considerado como não feio de todo. Para tentar não me distanciar muito desse objectivo, mister é que releia, emende, corrija, melhore o que a minha pouco inspirada mente vai dolorosamente expelindo. Mas a necessidade de publicar a um ritmo diário permite-me menos tempo para que o faça... E, no entanto, para mim é importante ter possibilidade de reler e aprimorar os textos que vou escrevendo, antes de os publicar. Nunca cesso de me surpreender como a simples alteração de disposição, de humor, entre o momento em que escrevi um texto e aquele em que o revejo, me possibilita aprofundá-lo com novos detalhes, enriquecê-lo com novas cambiantes, adorná-lo com mais uma ou outra imagem.

Procuro, sempre que possível, escrever com alguma antecedência, ter de um a cinco textos aptos a serem publicados, de forma a poder revê-los, melhorá-los, afiná-los, antes da publicação de cada um e, até, poder jogar com a respectiva ordem de publicação. Mas ultimamente isso não tem sido possível: os meus próprios afazeres nem sempre me têm permitido escrever todos os dia úteis e a reserva de textos foi sendo utilizada.

Procuro, pelo menos, escrever de manhã e só publicar ao fim da tarde, para ainda ter um tempinho para o meu subconsciente me ajudar a providenciar por uma ou outra afinação. Mas dias há em que nem isso tem sido possível, em que tenho escrito e imediatamente publicado. Resultado: quando releio o que já está publicado, mais frequentemente do que eu gostaria deparo com detalhes que deviam ter sido melhorados. E isso aborrece-me. Porque quem me lê tem direito ao melhor do que sou capaz, não apenas ao que saiu...

Portanto, a avaria de ontem teve o resultado positivo de me permitir uma pequena folga, que, espero, me ajudará a poder melhorar um pouquinho a qualidade do que publico. Porque ontem não publiquei e o texto que estava prestes a ser publicado fica de reserva para um dia destes (após revisão e aperfeiçoamento...) e hoje pude, a propósito, exercitar a minha capacidade de escrever sobre nada, ganhei mais um dia para reflectir sobre algumas coisas que ainda não tinha decidido se iria escrever sobre elas aqui no blogue - e que entretanto já deu para me decidir pela afirmativa -, de forma a que valha a pena escrever sobre elas. Escrever sobre nada dá-me tempo para reflectir sobre a substância do que escreverei um dia destes. Hoje, escrevi sobre a espuma de algo sem importância, enquanto me preparo para escrever sobre o âmago de assuntos bem mais importantes.

O que uma avaria propicia e o que a capacidade optimista de retirar algo de positivo do que corre mal possibilita!

Rui Bandeira

19 novembro 2007

Balanço da memória

Desde que iniciei a série de textos que designei "Memória da Loja", já fiz referência aos mandatos de todos os 16 Veneráveis Mestres cujos mandatos se iniciaram antes da criação do A Partir Pedra. Reflecti sobre se deveria parar por aqui, dedicando este registo a esses mandatos iniciados antes de criado o blogue. Decidi, porém, prosseguir, enquanto o blogue também continuar a ser publicado. Por um lado, embora as principais iniciativas da Loja Mestre Affonso Domingues sejam aqui divulgadas, o que porventura justificaria a cessação de publicação de textos sobre os mandatos que decorrem já em curso de publicação do A Partir Pedra, o certo é que a dinâmica dos textos publicados em relação aos mandatos dos primeiros 16 Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues acabou por redundar em análises, necessariamente subjectivas, dos respectivos méritos e deméritos, êxitos e fracassos, projectos e rotinas. E isso não é suprido apenas pelas referências casuísticas e factuais às iniciativas que vão ocorrendo. Embora com o selo da minha subjectividade, procurei dar uma visão de conjunto da acção de cada um dos 16 primeiros Veneráveis Mestres. Não seria justo que omitisse essa visão em relação aos subsequentes, a pretexto de o blogue já existir e fazer avulsas referências às iniciativas em cada momento tomadas. E, aliás, mesmo em relação a estas, apenas tenho por hábito publicar o que tem repercussão externa à Loja. A vida interna da Loja apenas a nós diz respeito. Publica-se as notícias da eleição e da tomada de posse do Venerável Mestre e do Tesoureiro e pouco mais. Tudo o resto que não tenha repercussão externa é matéria interna, que não se justifica seja divulgada na contemporaneidade da sua ocorrência. Justificar-se-á a sua referência integrada na "Memória da Loja", na medida em que cada ocorrência, cada decisão, cada evento, auspicioso ou infeliz, tenha relevância para a evolução da Loja e dos seus obreiros.

Dentro deste critério, tenciono prosseguir a publicação de textos integrados na "Memória da Loja". Mas, em relação à análise do mandato de cada Venerável Mestre, entendo que devo fazê-lo quando ele for já "memória", não passado próximo. Assim, não haverá balanço do mandato do Venerável Mestre em cada momento em funções (nem podia haver, por este estar ainda a decorrer), nem do que o imediatamente o antecedeu, este porque ainda de alguma forma influencia o que está a decorrer. Com efeito, cada Venerável Mestre prossegue o trabalho do anterior, desenvolvendo-o, corrigindo-o, alterando-o ou virando-o do avesso, se assim o entender. Comentar esse mandato anterior, particularmente se expressando concordância ou discordância, seria uma forma de subrepticiamente manifestar opinião sobre o que, em cada momento, é feito. Claro que não tenho qualquer problema em dar a minha opinião sobre as decisões, acções ou omissões do Venerável Mestre em exercício. Mas fá-lo-ei perante ele, ou em privado, ou em sessão de Loja. Nunca usando este meio de comunicação, público por definição. É uma simples e mera questão de lealdade, para não dizer cortesia...

Portanto, a minha opinião, a minha memória do mandato de cada Venerável Mestre será aqui dada, a partir de agora, apenas quando o sucessor do seu sucessor for instalado na Cadeira de Salomão. Memória, não actualidade... Daqui decorre que, daqui em diante, só escreverei textos de balanço de mandatos de Venerável Mestre com uma periodicidade anual.

A opção de consignar a Memória da Loja referenciando os factos a cada mandato de Venerável Mestre não tem, reconheço, qualquer validade científica - nem busca tê-la. Este espaço não se destina a fazer História. Apenas a registar a Memória, a minha memória e a daqueles que decidam também aqui a deles divulgar, como fez os José Ruah nos três pormenorizados textos que intitulou "Um dia fui Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues". Serão textos que porventura algum dia poderão auxiliar quem porventura se abalance a registar a História da Loja Mestre Affonso Domingues. Mas, se alguém um dia o fizer, fá-lo-á com a técnica, o saber e os critérios de um historiador, certamente peneirando as imprecisões, os subjectivismos, de quem apenas regista a memória do que viveu e assistiu e opina sobre isso.

A Loja Mestre Affonso Domingues não existe sozinha. Existe integrada numa Grande Loja, compartilhando o espaço e a prática da Maçonaria segundo os princípios da Maçonaria Regular internacional com outras Lojas integradas na mesma Obediência. Essa Grande Loja designou-se primeiro por Grande Loja Regular de Portugal e depois, na sequência de dolorosos eventos que aqui já foram mencionados, por Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal (GLLP/GLRP). Essa Grande Loja foi, até agora, dirigida por cinco Grão-Mestres, com mandatos mais alargados do que os de Venerável Mestre da Loja. A "Memória da Loja" é também a memória da sua participação, da sua relação, da sua integração, na Grande Loja. Portanto, vou também dedicar uns textos aos mandatos dos Grão-Mestres. Respeitarei, pelas mesmas razões, critério idêntico ao que enunciei relativamente aos mandatos de Venerável Mestre da Loja: não publicarei textos sobre os mandatos do Grão-Mestre em exercício, nem daquele que o antecedeu. O que faz com que, por agora, apenas venha a publicar textos sobre os mandatos dos três primeiros Grão-Mestres.

Mas a dinâmica da Loja não se esgotou, não se esgota, nem certamente se esgotará no trabalho, na direcção, dos seus Veneráveis Mestres. Outros oficiais, outros obreiros, influenciaram, por vezes notoriamente, a Loja. Acho que vale a pena, à medida que me for lembrando, referenciar as influências de quem não foi Venerável Mestre ou de quem teve influência fora do exercício desse ofício. A Loja Mestre Affonso Domingues tem um rigor e qualidade de execução rituais de que muito se orgulha. Deve-os a uma sucessão de Mestres de Cerimónias de qualidade. E houve um obreiro, que nunca foi Venerável Mestre da Loja, que nos ensinou a todos como deve ser exercido o ofício de Orador. E a Coluna da Harmonia foi decisivamente influenciada na Loja por um outro obreiro, que também nunca foi Venerável Mestre da Loja e, possivelmente, nunca o será. E as circunstâncias, as razões, a ideia, a iniciativa da criação do Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues também merecem ser registadas e muito a sua criação se deve a um outro obreiro que nunca foi Venerável Mestre da Loja. Tudo isto merece ser registado e tudo isto tenciono, se o puder fazer, registar neste espaço.

"Memória da Loja" respeita, por definição, ao passado de que nos lembramos. Mas também foi, neste texto, possível perspectivar o futuro da "Memória da Loja"...

Rui Bandeira

16 novembro 2007

Dia Internacional da Tolerância

16 de Novembro foi proclamado pela UNESCO o Dia Internacional da Tolerância.

Já o ano passado aqui o assinalei, procedendo até à publicação da Declaração de Princípios sobre a Tolerância aprovada no âmbito daquele organismo da ONU.

Esta efeméride e a referência a que ela procedi foi, aliás, ponto de partida para um interessante debate entre mim e o José Ruah, que se prolongou até Janeiro deste ano. Não pretendo reiniciá-lo, nem acho que se justifique. O assunto foi por nós debatido ainda recentemente, de forma esclarecedora e que nos orgulha: pudemos mostrar, para todos verem, como os maçons podem debater opiniões diferentes de forma franca e leal, com o propósito de se esclarecerem mutuamente e de procurarem os pontos de convergência, admitindo como naturais e saudáveis as divergências que porventura existam.

Para quem não leu na altura, ou já não se recorda, aconselho que use um pouco do seu tempo do fim de semana e leia o debate (dá para perceber que a estrutura de apresentação dos textos vai do mais recente para o mais antigo, pelo que, quem quiser reconstituir o debate por ordem cronológica, deve ler os textos "de baixo para cima").

Por mim, acho que hoje assinalo o Dia Internacional da Tolerância com um brevíssimo resumo do que eu retirei desse debate.

A Tolerância pode ser por alguns entendida como a faculdade de aceitar as crenças dos outros, apesar de considerarmos ser a nossa a "certa", daí se seguindo, como bem fez notar o José Ruah que o "tolerante" se coloca numa posição de superioridade perante o "tolerado".

Isso não pode ser entendido como Tolerância. É mero complexo de superioridade, o que, na língua inglesa, se designa de "patronising".

Pelo contrário, a verdadeira Tolerância implica o reconhecimento de que o Outro está ao mesmo nível que Eu, só que é diferente. Será melhor, será pior, ou nem será melhor nem pior. Mas simplesmente diferente. E tem o direito de o ser. Como contrapartida do meu direito à minha diferença...

E, mesmo quando o que é diferente no Outro é para mim um defeito, ainda assim lho tolero, porque eu próprio não sou isento de defeitos. Na substancialidade, não existem diferenças entre nós. Porventura essa diferença existirá nos nossos erros, nos nossos defeitos. cabe-me a mim tolerar os do Outro, para que possa pretender que o Outro tolere os meus.

Esta é a Tolerância que se assinala hoje. Esta é a Tolerância que é intrínseca aos maçons.

Rui Bandeira

15 novembro 2007

Binyan Habayis

O formato blogue apareceu originariamente como um diário publicado no espaço virtual constituído por todos os computadores do Mundo que se ligam em Rede. Claro que não demorou muito para que esse conceito originário fosse desenvolvido, objecto de variações e utilizado para diferentes abordagens de diversificados assuntos.

Não demorou também muito para que surgissem os blogues de temática maçónica e para se verificar a existência de diferentes abordagens dentro dela.

Uma dessas abordagens, particularmente visível nos Estados Unidos da América, onde a Maçonaria está mais abertamente inserida na Sociedade como uma das instituições conformadoras da vida social da comunidade, é a do blogue acerca do percurso do seu autor na sua aproximação à Maçonaria, da sua entrada nela e das vicissitudes da sua vida maçónica. É, em suma, o "diário" na Rede do maçon seu autor, em curioso regresso à origem do formato, agora sectorialmente direccionado. Nos Estados Unidos existem vários blogues onde são relatados os pensamentos, sensações, sentimentos, análises, especulações e conclusões do seu autor, enquanto candidato a ser admitido na Maçonaria e, depois, sucessivamente, partilhando com os seus leitores a sua Iniciação, a sua ascensão até chegar a Mestre, a assunção de ofícios em Loja, a actividade da Loja e do autor do blogue e por aí fora. Muitas vezes vamos verificando sentimentos e percepções e dúvidas e certezas semelhantes tidas por diferentes autores, em diferentes lugares, a propósito das mesmas fases do percurso maçónico de cada um.

São blogues com algum interesse, quer por permitirem verificar a evolução do seu autor ao longo da sua vida, primeiro de candidato, depois, de maçon, quer porque nos sensibilizam para as dúvidas, buscas, perplexidades, de quem está na fase inicial do seu percurso maçónico, sendo particularmente grato verificar como os maçons mais antigos se disponibilizam para, através de intervenções nas caixas de comentários, ajudar a resolver essas dúvidas, buscas, perplexidades.

Dentro deste género de blogues, Binyan Habayis é particularmente interessante. É um blogue escrito por um judeu americano que, num dos textos, informa ser originário de uma família tradicional, mas não ortodoxa, em termos da sua religião. Um dos pontos de interesse deste blogue para nós, vivendo em cultura latina e em zona de implantação religiosa maioritariamente católica, é a forma como, natural mas profundamente, o seu autor reflecte sobre a compatibilidade e compatibilização dos princípios da sua religião e da Maçonaria, do cumprimento dos preceitos religiosos e maçónicos, das suas obrigações religiosas e dos labores de maçon. É, para mim, particularmente interessante, porque, na cultura em que nós, portugueses e brasileiros, estamos inseridos, é bem mais comum depararmos com dúvidas oriundas da hierarquia religiosa católica ou de crentes católicos sobre a compatibilidade da Maçonaria e da crença religiosa católica. É interessante porque nos permite apreender que a dialéctica entre Maçonaria e religião institucionalizada não ocorre apenas em relação à religião católica, mas também em relação a outras crenças - no caso, a religião judaica. É finalmente reconfortante confirmar que essa dialéctica existe, porque é sinal de que a Maçonaria cumpre bem a sua função de ser um espaço comum de crentes de todas as religiões, sem estar enfeudada a nenhuma.

O autor do blogue usa o pseudónimo de Isaac Davidson, mas já referiu, num dos textos, que esse pseudónimo de alguma forma espelha a sua identidade, já que o seu "nome hebreu" é Yitzchak (Isaac em hebreu) e que o nome de seu pai é David, daí que ele seja filho ("son" em inglês) de David, ou seja, Davidson. A propósito, informa também que o seu "nome em inglês" é Joshua. E porque informa Isaac Davidson / Yitzchak / Joshua tudo isto? Porque estava a considerar qual devia ser o seu "nome maçónico", isto é, qual o nome por que gostaria que os seus Irmãos o tratassem. Não é despicienda esta dúvida, já que é manifesto que, para ele, o nome enquanto elemento conformador da sua identidade é importante e, assim sendo, a escolha entre o seu nome "hebreu" ou "em inglês" é, para si, muito significativa, em termos de qual das suas facetas, de cidadão ou de homem religioso, deseja que seja dominante na sua relação com a Maçonaria e os seus Irmãos maçons. Acabou por decidir que, na Fraternidade, desejará ser conhecido por Yitzchak ou, para aqueles que tenham dificuldade em pronunciar correctamente o nome, pelo diminutivo de Yitz.

O blogue é relativamente recente ( o primeiro texto data de 6 de Junho deste ano de 2007) e é actualizado com frequência (39 textos em 5 meses, uma média próxima de oito textos por mês, ou dois por semana). Começou com o seu autor ainda apenas candidato a ser admitido maçon. presentemente, já foi iniciado. Certamente teremos oportunidade de acompanhar a sua subida a Companheiro, a sua elevação a Mestre e, enfim, o seu percurso maçónico, que se deseja longo e gratificante. É um blogue muito bem escrito (em inglês, obviamente) por alguém que manifestamente é uma pessoa escrupulosa e ponderada. Ler este blogue é uma boa maneira de, por alguma forma, entendermos o percurso de um maçon americano na Maçonaria.

Quem visitar este blogue não deixe de ler também os comentários que são deixados aos vários textos. Para além do mais, poderá, de vez em quando, ver comentários de um tal José Ruah, aliás num inglês que não envergonha ninguém...

Rui Bandeira

14 novembro 2007

As melhores sementes

Um agricultor, homem de poucos estudos, todos os anos participava na Feira de Agricultura da cidade mais próxima da sua exploração apresentando a concurso exemplares da sua colheita de milho e todos os anos ganhava o troféu do Milho do ano. O seu milho, ano após ano, era cada vez melhor.


Certa vez, após a cerimónia de recepção do prémio, foi entrevistado por um repórter do jornal local, que, tendo perguntado sobre a forma como ele costumava cultivar o seu valioso e qualificado milho, ficou muito intrigado com a revelação do agricultor de que ele partilhava boa parte das suas melhores sementes com os seus vizinhos.

- Porque é que senhor partilha com os seus vizinhos as suas melhores sementes, quando eles competem directamente consigo?

O agricultor, homem de poucos estudos, respondeu-lhe:

- Porquê? É simples: o vento apanha o pólen do milho maduro e leva-o de campo para campo. Se os meus vizinhos cultivarem milho de qualidade inferior à do meu, a polinização degradará gradualmente a qualidade do meu milho. Logo, para eu conseguir obter sempre milho da melhor qualidade, tenho que ajudar os meus vizinhos a cultivar também milho da melhor qualidade, cedendo-lhes parte das minhas melhores sementes.

O agricultor era homem de poucos estudos, mas de muita Sabedoria!

Quem quiser viver em Paz, deve procurar que seus vizinhos também vivam em Paz.

Quem quiser viver bem, deve ajudar os outros, para que também vivam bem.

Quem quiser ser feliz, deve ajudar os outros a encontrar também a felicidade, pois o bem-estar de cada um está ligado ao bem-estar de todos. Todos nós dependemos uns dos outros e, portanto, todos nós somos importantes uns para os outros, para que todos e cada um possamos viver bem.

Que cada um de nós ajude os seus próximos a cultivar cada vez mais as melhores sementes, os melhores milhos, as melhores amizades!

Que cada um, para lidar consigo mesmo, use a cabeça e, para lidar com os outros, use o coração!

(Adaptação minha de um texto de Karl Rahner)

Rui Bandeira

13 novembro 2007

O silêncio do Aprendiz

Em Loja, o Aprendiz Maçon não tem direito ao uso da palavra.

Esta frase, sendo substancialmente verdadeira, não espelha, porém, correctamente a realidade. A mesma ideia, correctamente formulada, expressa-se pela seguinte frase: em Loja, o Aprendiz Maçon beneficia do direito ao silêncio e cumpre o dever do silêncio.

O Aprendiz Maçon não usa da palavra em Loja, não porque se lhe não reconheça capacidade para tal (pelo contrário: o Aprendiz foi cooptado para integrar a Loja, pelo que se lhe reconhece valor), não porque se lhe atribua um estatuto inferior aos restantes (mais uma vez, pelo contrário: o Aprendiz tem um estatuto de plena igualdade com os restantes obreiros e é um importante pólo de atenção da Loja, que tem como uma das suas mais importantes tarefas a sua formação), mas porque o cumprimento de um período de silêncio é considerado imprescindível para o seu processo de aperfeiçoamento.

O silêncio do Aprendiz em Loja é importante por, pelo menos, três razões: a defesa do próprio Aprendiz, a focalização da sua atenção para a simbologia de que se vê rodeado e a demarcação de prioridades no seu processo de aperfeiçoamento.

Em primeiro lugar, estando o Aprendiz Maçon confinado ao silêncio, nada tem de dizer, sobre nada tem que opinar, nenhuma posição lhe é exigida. O silêncio a que é confinado funciona, desde logo, como um meio de defesa, de protecção, do mesmo.

O Aprendiz Maçon está a efectuar um processo de integração num grupo novo, com regras específicas, com uma ligação inter-pessoal forte. Desejaria, porventura, ter uma atitude proactiva de se dar a conhecer, de intervir, de mostrar o seu valor. Mas não precisa: que tem valor, já todo o grupo o sabe - por isso o aceitou no seu seio -, o conhecimento advirá, nos dois sentidos, com o tempo e a naturalidade dos contactos entre todos. O Aprendiz Maçon está num processo de mudança de paradigma quanto à forma de estar social. Os valores apreciados nos meios profanos não serão os mesmos que são preferidos entre os maçons. Na Maçonaria não se busca eficiência, produtividade, riqueza, estatuto, etc.. Na Maçonaria valoriza-se a força de carácter, o reconhecimento das próprias imperfeições, o desejo de melhorar, a ponderação, o respeito pelo outro, a tolerância, a paciência, etc.. Seria injusto para o Aprendiz maçon que, vindo das realidades do mundo profano, está ainda em processo de adaptação aos objectivos do método maçónico de aperfeiçoamento, deixá-lo expressar opiniões que, a breve trecho, mudará, exprimir conceitos que, desejavelmente, abandonará, em suma, actuar como está habituado a actuar no mundo profano, para logo verificar que errou e que o seu erro foi publicamente exposto.

Todo o processo de aprendizagem é um processo de tentativa-erro-correcção. O aperfeiçoamento pessoal é um processo também com estas características. Errar é normal. Será, porventura, até necessário. Os maçons experientes sabem-no. Mas quem está a soletrar as primeiras letras do novo alfabeto de valores só com o tempo o verificará. Não necessita de errar publicamente e, porventura, sentir-se diminuído com isso. Tempos virão em que será muito útil, para si e para os demais, que expresse a sua opinião, que colabore, que intervenha. Enquanto está na fase de aprendizagem, o que se espera dele é que aprenda, que se situe, que se concentre em si próprio, não na imagem que gostaria de transmitir para os demais.

Por outro lado, o facto de o Aprendiz maçon estar confinado ao silêncio, permite-lhe focalizar a sua atenção para tudo o que o rodeia, para tudo o que se passa, para tudo o que é dito - sem necessidade de responder! A experiência mostra-nos que, muitas vezes, não damos a atenção que deveríamos dar a situações, a acções, a declarações, porque estamos em simultâneo a pensar na resposta que vamos dar à situação, à acção, à declaração. O Aprendiz Maçon, com o seu direito ao silêncio, está eximido de responder, de opinar. Não tem assim de desviar a sua atenção para preparar a sua resposta. Pode e deve concentrar toda a sua atenção no que se passa, meditar sobre o seu significado, errar ou acertar, emendar o erro ou confirmar o acerto, em suma, ver (ver mesmo, não apenas olhar...) os símbolos, procurar compreendê-los e atribuir-lhes significados, utilizar esse conhecimento para sua própria melhoria.

O silêncio do Aprendiz permite-lhe, finalmente, pensar, depois reflectir e seguidamente meditar. E pensar, reflectir e meditar é o principal trabalho que tem a fazer. Porque só assim verá para além do óbvio, só assim despertará para o desconhecido, só assim se virará do exterior para o interior de si mesmo. E só assim poderá descobrir que tudo o que verdadeiramente importa já o tem, dentro de si. Basta que o encontre, que o utilize, que o aceite, que o desfrute!

A prioridade do maçon é ele próprio. O trabalho do maçon é melhorar, aperfeiçoar-se. Tudo o que de bom o maçon faça tem como objectivo esse aperfeiçoamento. A solidariedade é um meio de aperfeiçoamento. A fraternidade é um meio de aperfeiçoamento. O comportamento tolerante é um meio de aperfeiçoamento.

O importante está dentro de si. Tudo o que é exterior, incluindo a riqueza, posição social, reconhecimento dos demais, só tem valor na medida em que se repercuta positivamente no interior de cada um.

O Aprendiz Maçon vai, em silêncio, conhecer e aprender o significado de muitos símbolos. Vai, em silêncio, assistir a rituais e procedimentos. Vai, em silêncio, assistir a debates e verificar como se podem debater opiniões contrárias de modo civilizado, profícuo e satisfatório. Mas vai, sempre com o auxílio do silêncio, que há-de vir a compreender que não foi uma imposição, antes um benefício, sobretudo surpreender, apreender e compreender que o primeiro grande objectivo do maçon, o primeiro grande passo para se aperfeiçoar, a primeira ferramenta para descortinar o significado da Vida e da sua existência, é CONHECER-SE A SI MESMO.

E esse conhecimento de si mesmo não se obtém falando para os outros, conversando, discursando, palrando, opinando.

Esse conhecimento de si mesmo adquire-se lentamente, às vezes dolorosamente, sempre buscando persistentemente, apenas em diálogo consigo mesmo.

O silêncio do Aprendiz Maçon - quanto mais cedo este o perceba, melhor! - só existe perante os demais. Na realidade, o silêncio do Aprendiz mais não é do que um ensurdecedor diálogo consigo próprio, uma discussão que o que tem de bom trava com o que tem de mau, uma conversa com a criança que nos esquecemos de ser, com o adulto ponderado que, às vezes, deixamos para trás de nós próprios, com o experiente e sabedor ser que, de qualquer forma, o decurso do tempo mostrará que existe em nós, nós é que, muitas vezes, não damos por ele e não nos damos ao trabalho de inquirir se ele existe.

É no silêncio que o Aprendiz Maçon vai amaciando as asperezas da pedra bruta que é ele próprio. O silêncio do Aprendiz Maçon é o primeira prenda que a Loja lhe dá. Deve o Aprendiz Maçon utilizá-la como uma ferramenta. Se a utilizará bem ou mal, ele próprio - e só ele - o avaliará!

Rui Bandeira

12 novembro 2007

O décimo sexto Venerável Mestre

O décimo sexto Venerável Mestre foi Luís R. D.. Foi eleito em Julho de 2005. Como é normal na Loja Mestre Affonso Domingues, exercia o ofício de 1.º Vigilante quando foi eleito.

Luís R. D. era já, aquando da sua eleição, um Mestre Maçon com alguma antiguidade. Normalmente, teria sido chamado a dirigir a Loja mais cedo, mas as circunstâncias da vida impediram que assim tivesse ocorrido. Com efeito, na altura em que Luís R. D. normalmente iria começar a assegurar funções de Oficial do Quadro da Loja, não lhe foi possível assegurar quaisquer tarefas. Grave e prolongada doença de sua esposa obrigou-o a dar prioridade ao que era prioritário: assistir a sua companheira na vida, acompanhá-la na sua provação, proporcionar-lhe o conforto que lhe era possível proporcionar-lhe. Todo o maçon sabe, porque a todos é dito logo no dia da sua Iniciação, que os seus deveres perante a sua família preferem às suas tarefas maçónicas. Assim, durante algum tempo, prolongado, Luís R. D. mantinha com a Loja e os seus obreiros apenas contactos esporádicos. Manifestamente que não podia assumir quaisquer responsabilidades em Loja. Depois, Luís R. D. sofreu o golpe da perda de sua companheira. Apesar de saber que esse era o fim inevitável da doença que lha arrebatou, teve de suportar o desgosto dessa perda e superá-la com o luto que tão necessário é para que os vivos deixem seus entes queridos falecidos repousar em paz e possam seguir com suas vidas. Todo este processo a Loja foi acompanhando e ajudando no pouco em que podia ajudar. Até que, a pouco e pouco, as nuvens negras foram-se dissipando, o luto foi fazendo o seu papel e o Luís R. D. voltou a poder estar mais assiduamente junto de seus Irmãos. Aliás, gostamos de pensar que o convívio connosco ajudou o Luís R. D. na superação da perda sofrida.

Alguns anos se passaram, portanto, até que o Mestre Maçon Luís R. D. pudesse assumir ofícios no Quadro da Loja. Quando lhe foi possível dar o seu contributo assíduo, fez todo o percurso que, na Loja Mestre Affonso Domingues, um Mestre Maçon faz até que seus pares formalmente lhe depositam, por eleição, a sua confiança para que, da Cadeira de Salomão, dirija os destinos da Loja.

Tudo isto fez com que Luís R. D. tenha sido, já septuagenário, o elemento da Loja mais idoso a ser eleito Venerável Mestre, até hoje. Este era, aliás, o único motivo de preocupação que pairava nos espíritos dos obreiros da Loja quando, unanimemente, como sempre, elegeram Luís R. D. para exercer o ofício de Venerável Mestre. Embora fosse um "velho rijo" e - sempre! - (muito) bem disposto, todos reconheciam que a passagem do tempo começava a exigir o seu tributo, que a sua saúde e energia, embora ainda invejáveis, já não eram as mesmas de alguns anos atrás. Mas esse era um problema que, se surgisse, teria de ser resolvido pela Loja, como no passado esta tivera que resolver outros.

Surgiu!

A sessão normal de instalação do Venerável Mestre é a sessão que tem lugar no segundo sábado de Setembro. Alguns dias antes, soubemos que Luís R. D. estava doente, incapacitado de ser instalado. E, depois, que necessitaria de uma intervenção cirúrgica. E, seguidamente, que a recuperação, que se esperava breve, tinha tido uma pequena complicação. Com inquietação, fomos acompanhando este episódio de fragilidade do nosso Venerável Mestre eleito.

Entretanto, a ausência forçada do Luís R. D. foi superada com toda a naturalidade: Miguel R. continuou a exercer o ofício, assegurando a condução dos destinos da Loja até que pôde passar o seu encargo ao Venerável Mestre eleito. Sem dramas, sem problemas, com a calma que o caracteriza.

Só em Novembro de 2005 Luís R. D. pôde, finalmente, ser instalado. Embora ainda naturalmente um pouco debilitado, assumiu com determinação a sua função. Estava à porta a confraternização anual de Dezembro da Loja, momento sempre alto no ano, não só pela confraternização em si, mas porque é a altura em que a Loja agradece ao Venerável Mestre que cessou funções e organiza um leilão de objectos doados pelos obreiros para angariação de fundos destinados a serem entregues a uma associação de solidariedade social ou, de preferência, a financiarem a aquisição de algo que seja útil a uma associação de solidariedade social. Embora a Loja tivesse precavido a incapacidade de Luís R. D. e tivesse começado a preparar o evento, foi com alívio e agrado que pudemos deixar as decisões essenciais da organização do evento ao prudente arbítrio do nosso Venerável Mestre finalmente no pleno exercício de funções.

E, se Luís R. D. teve problemas de saúde para iniciar o seu mandato, logo que instalado tal não se notou. Trabalhou rijamente e assegurou modelarmente todas as organizações da Loja no decurso do seu mandato. Acabou, sem dúvida, por ser um dos mais profícuos anos de trabalho da Loja. A recolha de fundos para a associação de solidariedade social seleccionada para a receber (não interessa qual; mas é uma meritória obra de ajuda ao próximo, particularmente dos mais carentes de apoio) foi um êxito. A ajuda prestada à entidade seleccionada foi superior à que os fundos recolhidos normalmente poderiam proporcionar, graças à experiência, sageza e contactos do Luís R. D., que obteve, sobretudo, medicamentos e material de assistência na saúde em condições mais favoráveis. Fizeram-se duas acções de recolha de sangue, algumas acções culturais muito interessantes, um passeio memorável a Figueira de Castelo Rodrigo (conferir aqui e aqui), integrámos novos elementos, com êxito, completámos a formação de novos Mestres, hoje dando o seu contributo activo à Loja, enfim, o nosso mais idoso, até hoje, Venerável Mestre tudo dirigiu, tudo organizou, tudo proporcionou, com energia, com capacidade, com sabedoria.

E sempre com a sua boa disposição, com o seu sorriso alegre. Foi dos Veneráveis Mestres com mandato mais auspicioso. Foi sempre com muito gosto que todos trabalhámos sob a sua direcção.

Ah! É verdade! E foi também no decurso do seu mandato que se iniciou o A Partir Pedra! Este é um bom exemplo da forma de trabalhar do Luís R. D., que deu toda a liberdade aos obreiros para pensarem e lançarem iniciativas e as acarinhou. O A Partir Pedra foi iniciativa individual de alguns Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Mas estes nunca refeririam o nome da Loja se não tivessem tido o aval desta, através do seu Venerável Mestre. Luís R. D., com a sua experiência e largura de vistas, logo percebeu que o que se projectava podia ser uma boa resposta, ao nível de uma Loja Maçónica, à necessidade de dissipação da fama de secretismo da Maçonaria, um instrumento de comunicação do nosso século, valioso e com potencialidades. Portanto, apoiou e deu força. Se o não tivesse feito, talvez o A Partir Pedra não tivesse aparecido, ou só tivesse aparecido mais tarde, ou, talvez ainda, fosse diferente. O que de bom o A Partir Pedra porventura tenha, também é obra do Luís R. D.; aquilo que tem de mau é só culpa nossa...

Rui Bandeira

10 novembro 2007

A Terra, 4600 milhões de anos depois... (HOJE)

Meus Caros, se puderem não deixem de acompanhar esta iniciativa.
Aviso mesmo em cima da hora mas também só tive a notícia agora, e como "vem mesmo a calhar" relativamente a várias intervenções feitas aqui nestes últimos dias, entendi que pode e deve ser do interesse geral.

A Terra, 4600 milhões de anos depois...

Caro (a) amigo (a),
como utilizar os recursos da Terra? Haverá diferenças entre a qualidade do ar que respiramos em casa e na rua? Sabia que o óleo que usa para fritar batatas pode ser reutilizado para fabricar sabão?
No próximo Sábado, dia 10 de Novembro, os especialistas que o vão esclarecer sobre estes temas no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva não têm mais de dezoito anos.
Vêm de diferentes pontos do país para apresentar os seus projectos Ciência Viva perante um painel de cientistas e animar o debate com o público.
Às 16 horas, decorre a sessão oficial de lançamento do Ano Internacional do Planeta Terra (AIPT) em Portugal, com a participação do Director Executivo do AIPT junto da UNESCO-IUGS, Eduardo de Mulder, e do Presidente da Comissão Nacional da UNESCO, Fernando Andresen Guimarães.
Para além de colóquios com investigadores em que poderá ficar a saber se há petróleo em Portugal e conhecer quem nos protege dos riscos sísmicos, o programa inclui ainda exposições, stands de projectos realizados por escolas dos ensinos básico e secundário, módulos interactivos e ateliês.
Os momentos musicais do evento estarão a cargo de Pedro Abrunhosa e de Luísa Amaro, a partir das 18 horas.
O lançamento do AIPT em Portugal será um evento CarbonoZero, pelo que irão ser contabilizadas as emissões de gases com efeitos de estufa para posterior compensação em reflorestação.
Se quiser começar desde já a contribuir para um planeta verde, deixe o carro em casa e no Sábado vá a pé ou de bicicleta até ao Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva.
E se quiser pôr a sua condição física ainda mais à prova, experimente escalar a parede com dez metros de altura que nesse dia estará no exterior deste centro de ciência.
A entrada é livre e todo o evento será transmitido em directo pela Internet em http://www.cienciaviva.pt/.
A Assembleia-geral das Nações Unidas proclamou o ano de 2008 como o Ano Internacional do Planeta Terra.
Durante doze meses, o conhecimento sobre o potencial das Ciências da Terra e o seu contributo na vida dos cidadãos e na salvaguarda do nosso planeta estará por isso na ordem do dia em todo o mundo.Tudo para que possamos continuar a contar com o Planeta Terra por mais uns milhões de anos.
Programa completo em http://www.cienciaviva.pt
JPSetúbal

09 novembro 2007

O Maçon e a familia.

Ha muito muito tempo Simple perguntou-me sobre maçons e familia. Eu cá andava ocupado com essas questões - a familia - pois a pergunta é de 23/10 e o meu casamento foi a 31.


O Rui respondeu e muito bem com o exemplo da familia dele.

Aqui há uns meses o assunto ja tinha sido aflorado por mim aqui.

Não creio que se possa ser maçon, em plenitude, se a familia nao souber. Se a familia entende, aceita, rejeita, usa como arma de arremesso quando as coisas correm menos bem, se nao respeita a condição, ou se respeita, isso são outros 500.

Algumas das perguntas que faço a todos os profanos que inquiro são :

A sua familia - mulher/namorada/companheira essencialmente - está ao corrente desta sua pretensão ?

Qual foi a a respectiva reacção quando lhe contou ? ou Qunado pensa dizer-lhe e qual pensa que será a reacçao. ?

AS respostas a estas perguntas permitem-me perceber se aquele candidato está ali de corpo inteiro ou nao.

O mais frequente é que quando nao estão de corpo inteiro a Loja perder aquele maçon para a familia biologica. Não conheço , ou melhor serão poucos os que vao olhar a mulher nos Olhos e lhe vao dizer " Quero lá saber o que tu pensas, mas eu vou à sessão da Loja" ou " Sabes perfeitamente que o 2º Sabado é dia de reuniao da Loja, para que raio foste marcar bilhetes para a sessão de teatro das 18h30, nao podias ter escolhido a das 21h30 ?"


É certo que se podem ( devem mesmo) negociar compromissos.

Por exemplo :

Ele:
" eu vou a todas as sessões de Loja, mais as de grande Loja, as das Lojas sob minha jurisdição e ainda aquelas para onde for convidado, para alem das reunioes administrativas e as de revisao do regulamento, da preparaçao do Orçamento num total de cerca de uma centena e meia de sessões por ano"

Ela:
" Querido com certeza, apenas que nesta casa ha cama todos os dias as 23h. Quem está, está, quem não está ...".


Imaginem que um maçon nao conta nada à mulher e começa a sair regularmente a dias perfeitamente determinados e horas precisas para ir à sua reuniao de Loja.

A Mulher vai começar a pensar que ele anda com outra e um dia decide segui-lo.
Vê-o entrar num edificio, espera um pouco e depois toma a decisao de entrar por ali a dentro, descobrindo:

O Marido junto com uma data de homens e todos de Avental.

O Mais natural é invectivar como segue:

" Malandro a enganares-me e ainda por cima com um quantidade de Maricas todos de avental !!"

Mas o pior é no dia seguinte quando comentar com a vizinha ou com amiga ,

" veja lá o que me aconteceu Descobri o meu Manel ( malandro) nuns preparos esquisitissimos, e ainda por cima tava lá também o Silva do 5º Esq. , o Lopes sabe aquele que vive com a Alzira, mais uma data de gente, até la tava aquele que foi ministro , o dos oculos grossos ta ver .....".

Ou mais racionalmente, tentar envolver a familia num máximo de actividades, e ceder de vez
em quando , nao indo a uma ou outra sessão.


Por tudo isto acho que uma conversa previa à aceitaçao do convite, e uma manutenção da consorte devidamente informada dos compromissos, bem como uma negociação justa sao fundamentais


Por outro lado quando se assumem compromissos com a Loja, como sejam o de aceitar um cargo de oficial para o ano, este assunto deve ser posto à familia para que nesse periodo de tempo, 1 ano, se possa estar presente em todas as sessões.


Enfim, este é um dos temas mais complexos, porque cada Maçon é um caso e cada familia um caso é, pelo que se tivermos um Maçon na familia temos pelo menos dois casos.

Nada que um bom relacionamento familiar nao resolva. E se nao resolver há dois caminhos. Continuar na familia ou COntinuar na Maçonaria. ( neste ultimo caso e passe a publicidade acho que devem arregimentar logo o Rui Bandeira como vosso Advogado porque se for a vossa mulher a fazê-lo é melhor nem pensar na factura que terão que pagar .... )

José Ruah

O verdadeiro Post numero 500


É este !!!!!!.


O Rui como sabemos é advogado. Para os advogados 2+2 nao é necessariamente igual a 4 é mais quanto o cliente quiser que seja.


E o Rui queria muito o o post 500. Vai daí quando entrou ( fez login ) viu um indicador de 499 mensagens, escreveu uma e disse esta é a 500.


Pois nao. Erro dele, que se esqueceu de apagar uma mensagem de 18/10 - uma primeira versao do Décimo Terceiro Veneravel Mestre - e o rascunho ficou lá a contar.


Cá Eu que sou mais da gestão - olhei para a pagina inicial do Blog e vi 2006 - 222 mensagens

2007 - 277 mensagens ora isto somado dá 499.


Como nisto dos numeros o algodao nao engana fui perceber a razao da discrepancia. e Encontrei a que acima expliquei.


Posto isto aproveito o tema ligeiro para retomar a escrita.


O Casamento já passou, a familia da minha mulher já voltou para França, ela propria foi para Barcelona com a mãe para ver familiares doentes, e finalmente o Nico já voltou.


O Nico é o cãozito cá de casa que teve que ir passar 10 dias no Hotel de Caes, e que quando volta passa 2 ou 3 dias amuado comigo. Desta vez nao foi excepção e aí está ele no seu canto nao cumprimentando ninguem.


Bem quando lhe dá a hora de querer sair, lá para isso já sabe que existo !!!!.


Espero agora poder voltar às lides.


E Rui desculpa lá, mas o rascunho era mesmo teu.


Para amenizar aqui fica a foto do Nico
José Ruah

08 novembro 2007

A Loja Invisível


Já aqui no blogue escrevi um texto, A quarta coluna, sobre uma coluna invisível.

Hoje, vou esmerar-me e vou dar conta de uma Loja Invisível.

Não é que a tenha visto... Nem poderia...

Mas consegui ver o seu sítio na Rede.

Trata-se de uma Loja reservada a Mestres Maçons que... sejam mágicos! Bom... Mágicos é exagero. Será talvez melhor escrever ilusionistas. Mas não só... Também podem integrar-se nesta Loja - americana, obviamente! - palhaços! Isso mesmo: quem quiser ser membro desta Loja tem de preencher dois requisitos. Um é ser Mestre Maçon. O outro é ser membro de uma organização reconhecida de mágicos ou palhaços. Isto não é palhaçada nenhuma! Mas atenção que este último requisito pode ser preenchido "cum granum salis": Mestre maçon que pretenda integrar a Loja Invisível, mesmo que não seja membro de uma organização reconhecida de mágicos ou palhaços, pode ser admitido desde que prove a sua qualidade de mágico ou palhaço ou ainda desde que seja confirmado o seu interesse nas artes performativas por um um outro membro da Loja. Ou seja, afinal, sempre há um saudável resquício de alguma palhaçada nos requisitos de admissão. Suspeito que há aqui mãozinha do jeitinho português... palhaçadas à parte!

Agora a sério. Ou tão a sério quanto possível... É objectivo da Loja "promover a Associação Honorária dos Maçons Mágicos no Trabalho sob a Jurisdição do Mundo do Conhecido e do Desconhecido" - o que quer que isto queira dizer!

Mais terra a terra, destina-se esta Loja Invisível a propiciar contacto durável entre elementos com interesses semelhantes, propiciando um espaço de encontro na Fraternidade da Maçonaria e no espírito das artes performativas.

A Loja tem um encontro anual - e eu bem gostaria de ser mosca... ou mágico... ou palhaço... para poder assistir a um...

O sítio tem um espaço reservado para os membros da Loja, um espaço destinado à comercialização de artigos maçónicos e de ilusionismo, um espaço relativo a realizações já efectuadas, um outro de atalhos maçónicos e ainda um outro de informações, este ainda em construção.

Não deixa de ser curioso...

(Nota: Este é o 500.º texto publicado no A Partir Pedra. Achei que se justificava um texto ligeirinho, em jeito de comemoração...)

(ÚLTIMA HORA - Como o José Ruah explica no texto seguinte, afinal este apenas seria o 500.º texto se contássemos com um rascunho que ficou esquecido, por apagar. Como o rascunho, por natureza, não foi publicado, este afinal é o 499.º texto publicado. O seu a seu dono - que o Nico pode estar amuado com o dele, mas continua a conhecer o dono e é um pastor alemão classe armário, com uma dentadura estilo tubarão... Mas fica na mesma a nota anterior; sempre ilustra como se faz um bom truque de ilusionismo: esconde-se qualquer coisa que ilude a assistência e esta acredita - ou finge acreditar... - no que não é. Pelo menos até aparecer um qualquer José Ruah a mostrar como foi feito o truque... E ainda dizem que os maçons são discretos e sabem guardar segredos...!)

Rui Bandeira

07 novembro 2007

MAÇONARIA E AMBIENTE - Demografia: Infecção ou nem por isso?


Existe um sítio na Rede, em inglês, que mostra, de maneira particularmente impressiva, o ritmo de crescimento da população humana no Mundo e todo um conjunto de dados, quer inerentes à população (número de infectados por HIV, número de doentes com cancro, quantidade de pessoas que passam fome), quer inerentes ao estado do planeta, poluição e exploração dos seus recursos (temperatura média global, emissão de CO2, espécies extintas, área de floresta perdida e área de floresta replantada, área desertificada, petróleo extraído, petróleo derramado nos oceanos, reservas de petróleo, sua duração, resíduos nucleares). É o Relógio da Terra.


A consulta dos dados deste sítio é elucidativa. No que a este texto respeita, fiquemo-nos pelos dados demográficos: existem presentemente mais de seis mil, seiscentos e trinta milhões de seres humanos à face da Terra, dos quais mais de quarenta e cinco milhões infectados com o vírus HIV e mais de sete milhões sofrendo de cancro. Só desde o princípio do corrente ano de 2007, a população mundial foi aumentada em mais de sessenta e cinco milhões de indivíduos.

A questão demográfica pode ser vista por dois modos, o catastrofista e o optimista.

Quem segue a via de análise catastrofista, antevê para depois de amanhã o caos, o apocalipse. Para esses, a espécie humana está para o planeta como a bactéria para o corpo humano: prolifera tão desregradamente que acabará por o destruir e, com ele, destruir-se-á a si própria.

Para os optimistas não há crise: naturalmente tudo se comporá, o planeta tem capacidade para albergar mais gente do que se julga e a Natureza é mais perfeita do que a julgamos e saberá desencadear o mecanismo de contenção do crescimento da espécie quando a capacidade do planeta estiver a ser atingida.

Para os catastrofistas, a Humanidade é uma infecção que só não destruirá o planeta se este não a destruir primeiro, com um qualquer equivalente cósmico do antibiótico.

Para os optimistas, a Natureza é mãe que acomodará seus filhos até ao limite do possível e, entretanto, providenciará a estes os meios de se auto-regularem e não ultrapassarem o limite da capacidade do planeta.

Para os catastrofistas, a infecção está já actuando e o aquecimento global é o planeta em febre, primeiro sintoma de doença que, se não for rapidamente debelada, levará à morte da doença (a Humanidade) ou do doente (o planeta), com a consequente destruição também daquela.

Para os optimistas, a responsabilidade humana no aquecimento global é uma treta (conferir a posição, aliás com fundamentação que impressiona, que Rui G. Moura apresenta no seu interessante blogue Mitos Climáticos).

Que o crescimento demográfico é um problema, parece que ninguém põe isso em causa. Que não pode ou não deve ser atalhado com medidas de força ou restritivas dos direitos e da dignidade humanas é um princípio que a Maçonaria não pode deixar de proclamar. Como não deve ceder à tentação de se deixar instrumentalizar por uma das teses.

É evidente que o acelerado crescimento da Humanidade coloca problemas cada vez mais urgentes e ingentes. Mas não se deve cair nas tentações dos presságios de catástrofe mais ou menos iminente, caucionando pretensas medidas correctivas que não respeitem a dignidade da pessoa humana.

Por outro lado, não devem também os maçons enfiar a cabeça na areia e pensar e agir como se nenhum problema houvesse, infantilmente confiantes que a Mamã-Natureza resolverá por nós o problema. Porque assim proceder pode levar a que a Mãe-Natureza efectivamente resolva o problema, quiçá por modo menos agradável...

A sobrepopulação deve ser por nós entendida como um problema sério, com que se deve lidar com seriedade, mas também ponderação.

Duas pistas penso que, para já, podemos apontar.

Verifica-se que, nos países economicamente mais desenvolvidos, a taxa de natalidade decresce. Dir-se-ia que o desenvolvimento económico é um bom meio de controlo populacional. Onde não há já grande taxa de mortalidade infantil, as pessoas não sentem a necessidade de ter mais filhos, para garantir que não fiquem sem nenhum. Onde as necessidades básicas são consideradas como asseguradas, as pessoas não sentem a necessidade de ter filhos para auxiliar na obtenção do sustento da família. Devemos, creio, defender o desenvolvimento económico EQUILIBRADO E AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL também como meio de controlo do excesso de população.

Por outro lado, não devemos deixar passar em claro os receios contrários: a quebra da natalidade, dizem alguns, deve ser atalhada, porque causa envelhecimento da população, sobrecarrega os sistemas de protecção social, faz definhar as sociedades. Devemos ajudar a manter os nossos concidadãos e os nossos decisores com a cabeça fria. Primeiro, apontando que o envelhecimento da população nos países mais desenvolvidos não resulta só da quebra de natalidade, resulta também do facto de os frutos da explosão de nascimentos que ocorreu após o fim da II Guerra Mundial estarem agora no declinar da vida, conjugado com o sucesso das técnicas da medicina moderna no prolongar do tempo médio de vida. Mais vivem mais tempo e portanto daí resulta a alteração da relação entre o número de idosos e o de jovens. Aqui, estamos a ser aparentemente vítimas do nosso sucesso... Mas este é, creio, um problema que naturalmente se resolverá com o tempo: o tempo de vida, mesmo aumentado, dos frutos da explosão de nascimentos chegará ao fim e, tão naturalmente como a relação idosos-jovens se alterou, paulatinamente retomará o sentido da normalidade.

Acresce que o problema conjuntural da alteração do envelhecimento da população nos países economicamente mais desenvolvidos se resolve facilmente com uma medida que, simultaneamente, ajudará a debelar alguns dos problemas resultantes do excesso de natalidade dos países mais pobres: regular os fluxos migratórios, não "fechando portas", mas permitindo um adequado fluxo migratório, que permita manter a quantidade de força de trabalho adequada para o normal funcionamento de cada sociedade, melhorar a relação idosos-jovens e aliviar a pressão sobre os sistemas de segurança social.

É também devido ao facto de ser, ao longo do tempo, um país de imigração que os Estados Unidos são uma potência económica...

Simplesmente, tolerar o Outro, o Diferente, o Imigrante, é, por vezes, difícil. Conviver com culturas diferentes, costumes diversos, não é fácil.

É aqui que a Maçonaria deve intervir: Tolerância é algo de que sabemos muito bem o significado!

Rui Bandeira

06 novembro 2007

O décimo quinto Venerável Mestre


Miguel R. foi 1.º Vigilante do Quadro de Oficiais de Alberto R. S. e, como é usual na Loja Mestre Affonso Domingues, sucedeu-lhe na Cadeira de Salomão, em Setembro de 2004, após ter visto, em Julho anterior, confirmado o costume da Loja, através da indispensável eleição.

Miguel R. fora o responsável técnico pela criação e colocação em Rede da página na Internet da Loja Mestre Affonso Domingues e manteve-se responsável pela sua manutenção até muito recentemente. No ano em que exerceu o ofício de Venerável Mestre, poder-se-ia cognominá-lo de "Triplo Mestre", pois que, então, acumulou o seu grau de Mestre com a qualidade de Venerável Mestre da Loja e com o encargo de Webmaster (Mestre da Rede) do sítio da Loja...

Miguel R., um homem simpático e tímido, chegou ainda bastante jovem à direcção dos destinos da Loja. Jovem em idade e jovem em antiguidade. A sua indefectível assiduidade, o seu interesse, o seu equilíbrio, fizeram com que, mal tivesse sido elevado ao grau de Mestre, lhe tivessem sido atribuídas funções de responsabilidade e tivesse sido logo integrado na "linha de sucessão".

Exerceu o ofício na altura certa, beneficiando de uma conjuntura de águas mansas, que se coadunava bem com o seu perfil calmo e discreto, com o seu temperamento cordato, com a sua timidez, aresta da sua pedra que o tempo e a experiência o ajudarão a polir.

Miguel R., bom conhecer do estado administrativo da Loja, geriu-a com competência e suavidade. Foi especialmente criterioso na gestão dos tempos e momentos de progressão de Aprendizes e Companheiros e nas iniciações. Como resultado desse seu cuidado, passou ao seu sucessor uma Loja quase que milimetricamente equilibrada, com um número de Aprendizes, nem excessivo, nem pecando por defeito, com tempos de evolução diferentes, e - o que, até agora, é raro na Loja Mestre Affonso Domingues, que, no meu entender, tem como seu ponto menos forte a formação dos Companheiros (uma vez que o problema está identificado, vai seguramente ser resolvido...) - uma coluna de Companheiros bem guarnecida e composta por elementos de boa qualidade. Miguel R., muito bem, na minha opinião, resistiu à tentação, recorrente na Loja, de considerar o grau de Companheiro um mero ponto de passagem para o acesso à Mestria e preocupou-se com os Companheiros, a sua formação e o seu tempo de evolução, com isso logrando que o seu sucessor recebesse jovens Mestres especialmente aptos e tivesse, ainda, na coluna de Companheiros, gente de muita qualidade em condições de serem elevados a curto prazo.

Se bem ajuízo, esta sua capacidade de bem gerir a formação e os tempos de formação resultaram da seu próprio processo de crescimento maçónico. Miguel R., a meu ver, foi muito influenciado pelas concepções de Luís P., que assegurou a direcção da formação dos Aprendizes e, depois, dos Companheiros, em períodos que abrangeram os tempos da formação do próprio Miguel R.. Na minha opinião, Miguel R. foi o melhor produto dessa escola...

Foi-o porque, com o seu sentido de equilíbrio, sabiamente aproveitou o espírito de aperfeiçoamento que Luís P. indubitavelmente sabia transmitir, o rigor que ele imprimia, sem, no entanto, cair em excessos místicos e crísticos.

Miguel R. tem uma visão pessoal da Maçonaria muito equilibrada, assente na fraternidade e no esforço individual, no espírito de grupo e na profundidade do juízo pessoal, no trabalho eficaz e na meditação necessária. Soube sempre levar a água ao moinho da Loja com calma, persistência e discrição.

Quer pelas suas características pessoais, quer pela influência recebida na sua formação, quer pelo exemplo do seu antecessor, Miguel R. foi sempre extremamente cuidadoso em reservar pequenos espaços em todas as reuniões para apresentar, ele próprio, pequenas pranchas traçadas de Mestre, fragmentos de sabedoria que deixava à disposição dos obreiros da Loja, com a naturalidade das coisas simples.

Não sei como reagiria Miguel R. se tivesse tido que enfrentar tempos de maior turbulência. Provavelmente, enfrentá-los-ia bem, como outros, antes dele, fizeram. Mas Miguel R. aproveitou bem o período bonançoso de que dispôs para fazer bem o seu papel: organizou, formou, actuou. E, com ele, assim também fez a Loja

Na cadeia de União dos Veneráveis Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues, Miguel R. não terá sido, porventura, o seu elo mais vistoso; mas não foi, de certeza absoluta, dos seus elos menos fortes.

Do trabalho discreto que Miguel R. realizou, os frutos ver-se-ão a longo prazo. Os quadros que ele ajudou a formar estão aí, prontos para o que preciso for. Durante muitos anos a Loja beneficiará do trabalho de Miguel R. e do trabalho daqueles que Miguel R. ajudou a saberem trabalhar.

Na minha definição de êxito, o mandato de Miguel R. encaixa perfeitamente. E fico muito contente por poder aqui deixar esse reconhecimento.

Rui Bandeira

05 novembro 2007

O maçon e os filhos

O simple colocou a questão que se segue:

Contaram-me o caso de um maçon que toda a vida ocultou a sua condição à família, e de quem só durante o velório os filhos e os netos souberam, por uns senhores que nunca tinham visto mas que mostraram conhecer muito bem o falecido, que o pai de uns e avô de outros fora maçon a vida toda...
A minha questão - que não é, certamente, nem nova nem original - é esta: como consegue um maçon manter oculta dos profanos a sua condição, e ao mesmo tempo envolver a família nesses eventos, se tiver filhos ainda pequenos - e naturalmente pouco sensibilizados para a discrição? Recorre-se à grande Instituição que são as baby-sitters?!
A partir de que idade é comum revelar-se à respectiva prole a condição de maçon - especialmente quando se preveja um anátema por parte da família alargada caso tal fosse conhecido?
Ah, e não vale responder "cada pai sabe dos seus"... até aí já eu discorri. :)

Nos termos e condições que o simple coloca, a questão é irrespondível, precisamente porque a única resposta correcta é a que ele não quer que lhe seja dada: "cada pai sabe dos seus"...

Mas o desafio foi feito e, mal ou bem, merece resposta. Como todos os problemas de difícil resolução, a melhor abordagem é a sua divisão em pequenas questões, de resposta mais acessível. No final, teremos a resposta possível.

O ponto de partida é o caso - hipotético, lendário ou real - de um maçon que escondeu de sua família chegada essa condição, a ponto de seus filhos e netos só no seu velório virem a ter conhecimento dessa faceta do seu parente, através, retira-se do texto, de maçons que ao velório compareceram.

A situação de partida, nos termos em que está colocada, se bem que não impossível, afigura-se-me de difícil verificação, a não ser que se refira a um indivíduo com um núcleo familiar atípico e com um relacionamento atípico com esse núcleo familiar. Só por notável ausência de intimidade ou por presença de inesperada distância entre ascendente e descendentes se pode entender o absoluto desconhecimento, ao ponto da surpresa, de que o ascendente "fora maçon a vida toda". Porque ser maçon é ter e viver e transmitir princípios. Se um maçon não vive segundo os princípios inerentes à condição de maçon, só de nome poderá sê-lo - mas seguramente não será "maçon a vida toda", pela simples razão de que nem a vida como maçon viveu! Se um maçon não educa os seus filhos nesses princípios, ou é mau maçon ou péssimo educador! Se os filhos de um maçon não são capazes de reconhecer no comportamento de seu pai a aplicação dos princípios de um maçon, ou estavam muito distantes do seu progenitor ao ponto de não o conhecerem verdadeiramente, ou não foram educados por um verdadeiro maçon. Este deve distinguir-se perante os que o rodeiam pelo seu comportamento. E, mesmo que não diga que é maçon, se e quando os que o rodeiam vierem a saber que o é ou o foi, mau será se esse conhecimento não vier a confirmar o juízo que fazem da pessoa - seria sinal de que não fora digno de usar o avental que um dia lhe foi imposto...

A situação descrita, a não ser assim, só podia ocorrer num quadro de - para mim - impensável distância entre um homem e sua família mais chegada. Teria implicado a vivência em dois mundos estanques e absolutamente sem pontos de contacto. Isso não é vida real, é argumento de filme da guerra fria... Aliás, pelo menos um ponto de contacto entre esses dois mundos, um dos quais ignorava o outro, necessariamente tinha que haver: um amigo ou conhecido da família (a quem esta informou do óbito...) teria de ser maçon não menos discreto que o falecido, pois só assim poderia dar conhecimento aos maçons que compareceram no velório do passamento do Irmão...

E, das duas, uma: ou esse amigo ou conhecido levou a sua discrição ao ponto de não comparecer ao velório ou de aí comparecer separado dos maçons que se identificaram como tal, anónimo e secreto, ou, ao fim de tantos anos quebrou abrupta e incompreensivelmente a sua discrição...

Tal como a questão foi contada ao simple, parece-me, pois, mais um mito urbano, no caso, o mito do secretismo absoluto da Maçonaria, que só os anti-maçons alimentam. Contra este mito, em ambiente democrático, no século XXI, devemos combater, mostrando que discrição não é secretismo, esclarecendo e divulgando os nossos princípios.

Com este ponto de partida, pergunta simple como consegue um maçon manter oculta dos profanos a sua condição, e ao mesmo tempo envolver a família nesses eventos. Estando assente que "profano" é todo aquele que não é maçon e que, portanto, a família do maçon necessariamente que inclui profanos, a resposta a esta questão é simples: NÃO CONSEGUE. Ou mantém oculta da sua família a sua condição de maçon, ou não envolve a família nos eventos da Maçonaria... Ser e não ser não pode ser, já na Antiguidade dizia Sócrates, o filósofo...

Comer o bolo e continuar com o bolo não é possível, digo na actualidade eu, despretensioso escrevinhador... Com filhos pequenos ou grandes, discretos ou indiscretos, a dualidade secretismo/envolvimento simplesmente não é possível e, portanto, não é um problema.

Pergunta ainda o simple a partir de que idade é comum revelar-se à respectiva prole a condição de maçon.

A resposta depende, a meu ver, mais do pai do que dos filhos... Depende essencialmente de como o pai vive a sua condição de maçon, do seu grau de envolvimento com a Ordem, do seu relacionamento mais próximo ou mais distante com a sua prole, da sua forma de educar, do seu conceito de transmissão dos seus valores - e também das circunstâncias e das oportunidades.

Eu diria que, mais do que cada um sabe dos seus, a resposta correcta é cada um sabe de si...

Porque a resposta a essa questão só pode ser dada a cada um por si mesmo, o melhor que posso fazer é contar como é que eu fiz.

Sempre eduquei as minhas filhas segundo dois princípios: os valores passam-se primeiro pelo exemplo e só depois pela palavra; as informações devem ser dadas quando quem as recebe está preparado para as receber.

Assim sendo, sempre me comportei como eu próprio, com os meus valores, os meus amigos, os meus Irmãos. A minha filha mais nova nasceu já eu era Mestre Maçon. Desde o berço que conhece os meus Irmãos, e de entre estes, que lida mais assiduamente com aqueles com quem estabeleci mais apertados laços da amizade, que me acompanha nas viagens que a Loja organiza para serem efectuadas pelos maçons e suas famílias, que me acompanha aos jantares brancos. Em toda a sua vida viu, com naturalidade, que havia dias em que o seu pai não estava em casa, porque "ia à reunião".

E, durante vários anos, a bebé cresceu, a menininha medrou, sem se preocupar em catalogar os amigos do pai, sem estranhar almoços e jantares em grupo, mais interessada em saber que outras crianças estariam presentes.

Muitas vezes me viu sair e me perguntou "vais à reunião?" e eu confirmei que sim, sem que houvesse a necessidade de acrescentar que reunião era aquela onde eu ia. Um dia, finalmente, perguntou de que era a reunião a que eu ia. E eu respondi que era da Loja. E, não muito tempo depois, tendo percebido que a Loja de que eu falava, não era uma loja de se ir comprar coisas, um belo dia lá me perguntou de que era essa Loja. E eu respondi que era da Maçonaria. E passaram mais uns tempos até que perguntou o que é que se fazia na Maçonaria - e eu respondi e esclareci...

No fundo, educar é transmitir aos nossos filhos os nossos Valores. e isso não se faz escondendo esses valores deles, ou dando a noção de que esses Valores são para ser vividos clandestinamente. Pelo menos, quando se vive em Liberdade!

Mas também temos que ter a noção de quando é que a criança está preparada para receber e processar uma determinada informação. Não faz sentido dar uma conferência sobre "Simbolismo, Esoterismo, Moralidade e Axiologia da Visão Imanente ao Entendimento do Universo, Criação, Criador e Criaturas na Maçonaria Contemporânea" a uma criança (nem sequer a certos adultos, diga-se de passagem)... Convém antes responder ao que é perguntado, certificando-nos do que é efectivamente perguntado, não vendo nós complexos problemas em questões, por vezes muito simples e básicas, que são o objecto, naquele momento, do interesse da criança.

Rui Bandeira

02 novembro 2007

Reincidência... reincidente



Tive 2 dias muito complicados em termos de ocupação de tempo e tive que desleixar a atenção ao nosso “A-Partir-Pedra”.
Agora que recuperei o “estado do blog” li o comentário do nosso Amigo e atento Simple Aureole.
Bem, meu caro, obviamente que Lhe devo uma explicação.
Tentarei, pois…

1- Não fiz, ou pelo menos não quis fazer, qualquer comparação entre coisas que, para mim, são incomparáveis, como sejam “um Pai”, ou candidato a tal, e os monstros que referi no post.
Trata-se, meu caro Simple, de uma ilação que não tem qualquer correspondência com a minha cabeça e se o que escrevi o levou àquela conclusão, então peço-lhe desculpa pela falta de capacidade na expressão das ideias.

2- Não faço qualquer confusão entre controlo da natalidade, solidariedade e truques para obtenção de apoios sociais.

3- Os Pais têm, entre outros, o direito inalienável de decidir sobre ter ou não ter filhos, quantos e quando, competindo aos políticos de serviço a decisão sobre os apoios à natalidade que, do ponto de vista exclusivamente político, deve ser orientada no sentido de incentivar ou não o aumento da natalidade de acordo com critérios de manutenção do nível etário da população e suas consequências na economia do país.

4- Não aceito a intromissão de quaisquer normas, de carácter religioso, político, ou outro, que não sejam dependentes da vontade dos principais e mais directos interessados, que são os Pais. E estes saberão que procedimentos adoptar de acordo com as suas próprias escolhas e essas sim, poderão ser de carácter religioso ou outro qualquer.

5- Os Pais deverão saber quais as obrigações para com os seus descendentes, de carácter educativo, económico, social,… e decidir ter ou não filhos de acordo com a sua capacidade de cumprir aquelas obrigações. De resto penso ter percebido que são essas as preocupações que atrapalham o “pai preocupado” a que se refere.

6- Quanto à solidariedade também não me parece que se possa concluir, do que eu escrevi, qualquer confusão com os apoios sociais aos mais “desfavorecidos”.

7- Não, não tem nada a ver uma coisa com a outra. O que eu refiro tem a ver apenas com atitudes pessoais e não com o que quer que seja de institucional. Ser solidário tem de ser uma atitude interior em cada um de nós. Não se inventa, não se compra e não se impõe, ou se é ou não se é ! E é a esse sentimento que recorro quando insisto em que o bem estar da humanidade não é conseguido pela diminuição da natalidade, muito menos ainda se imposta justamente com esse objectivo.

8- Os apoios sociais institucionais poderão ser entendidos, também, como uma atitude solidária, mas apenas dentro do conceito do Estado Social que é tão só uma das variantes de organização social das nações. A Solidariedade a que recorro é pessoal e, existindo, não está dependente da organização do Estado. E não vejo nenhuma possibilidade de ser confundida com qualquer “direito à asneira”. Ela tomará o seu lugar com o acordo do Estado, ou sem ele. Não é o subsídio de sobrevivência (rendimento mínimo ou outra denominação qualquer) que alguns recebem e que outros dizem que não deve existir, talvez por causa do direito à asneira. Mas não é a dessa solidariedade que falo.

9- Meu Caro Simple, pelo menos uma coisa importante temos em comum. É a ideia de que o grande responsável pelos problemas com o “verde” é o homem. Pois o grande e único ! Que outro responsável poderia haver ? E é o homem porque no seu incomensurável egoísmo partiu do princípio que é dono e senhor do universo, usando-o sem critério, sem regras e sem limites, explorando sem controlo tudo o que há a explorar, desequilibrando o sistema natural e provocando as rupturas cujas consequências estão à vista e que todos estamos a sofrer.

10- E, desculpe a insistência, não é com a diminuição pura e simples dos nascimento nem com o fim da solidariedade (nem que seja apenas a institucional), que o Homem recupera as condições equilibradas do meio-ambiente.

11- É assim que penso.

12- Quando à discussão política a que se refere no “P.S.” (não confundir com Paiva Setúbal…) também só posso falar pelo que vai na minha cabeça. A discussão dos assuntos da humanidade, a procura de soluções para as dificuldades que se nos deparam, tanto pode ser feita por políticos, como por técnicos, como… por Amigos.
JPSetúbal