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06 novembro 2017

Maçonaria e Solidariedade


É recorrente. Sempre que ocorre algum evento que cause vítimas, destruição de bens ou deixe pessoas em dificuldades e que tal evento cause comoção pública, há quem - admito que bem-intencionadamente - sugira, proponha, exija que a Grande Loja lance uma campanha pública de recolha de fundos e solidariedade. Essa não é, contudo, a melhor das ideias - e vou procurar explicar porquê.

As instituições maçónicas e os maçons devem - isso é inquestionável! - proporcionar a sua aolidariedade e prestar ajuda a quem passa momentos de aflição. Mas duvido muito que deva fazê-lo lançando campanhas públicas nesse sentido. Se uma instituição maçónica está em condições de auxiliar, deve auxiliar, seja disponibilizando meios financeiros (do respetivo Tronco da Viúva ou do seu orçamento geral), seja disponibilizando trabalho, tempo e energias dos elementos que a integram. Mas deve fazê-lo discretamente!

Deve fazê-lo discretamente, não por hábito ou mania da discrição, mas porque deve auxiliar por solidariedade, por fraternidade com o semelhante - e também não por relações públicas!

Quando há que auxiliar, quando há que organizar meios de providenciar ajuda, quando há que recolher fundos e encaminhá-los para onde façam falta, a Grande Loja (ou qualquer outra instituição maçónica) pode, deve e faz muito bem que assim proceda, mobilizar os seus obreiros para que se organizem e deem algum do seu tempo e do seu esforço para ajudar e para que destinem meios financeiros de que disponham, e que não lhes façam falta para sustentar os seus e cumprir os seus compromissos, em prol de quem está em aflição e necessita de auxílio.

Mas uma coisa é a instituição maçónica mobilizar internamente os seus elementos - e tentar ser eficaz e aumentar os meios destinados ao auxílio a prestar. Outra coisa, completamente diferente é lançar apelos públicos - aí há que distinguir quando o apelo público faz ou não sentido. O Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues, quando organiza campanhas de doação de sangue, para além da mobilização dos seus elementos, procura mobilizar obreiros de outras Lojas e - designadamente através deste blogue - motivar toda e qualquer pessoa, maçom ou não maçom, a dar sangue. Isso faz sentido - porque a necessidade de sangue disponível é permanente e a sensibilização de todos a todo o tempo justifica-se. 

Quando, há alguns anos, a Associação Mestre Affonso Domingues lançou a campanha pública de recolha de óculos para envio para Moçambique, isso fez sentido. Porque organizou forma de todos os óculos recolhidos serem medidos na graduação das suas lentes por profissionais aptos para tal, porque arranjou forma de, sem custos, enviar os óculos recolhidos para Moçambique, porque tinha contactos locais que garantiam que os óculos recolhidos e enviados eram dados a quem deles efetivamente necessitava, gratuitamente e sem condições de qualquer espécie, porque garantiu que todos os que participaram nessa ação o fizeram exclusivamente por solidariedade, pelo propósito de ajudar e sem que ninguém obtivesse qualquer vantagem patrimonial ou de outra índole com isso. Então fez sentido, já que se montara toda uma estrutura para enviar óculos para quem deles necessitava em Moçambique, procurar que, em vez de entre nós, nossas famílias, amigos e colegas de trabalho recolhermos umas dezenas de pares de óculos, divulgar a iniciativa e conseguir, como se conseguiu, recolher, medir, enviar e dar umas centenas, mais de meio milhar, de pares de óculos. Aí, o apelo público fez sentido para rentabilizar a iniciativa e procurar obter, como se conseguiu, um maioer número de óculos a enviar. 

Mas quando - como ocorreu recentemente em Portugal com dois episódios de incêndios florestais catastróficos, que causaram perdas de vidas, imensa destruição e deixaram nuita gente a necessitar de auxílio (alguns ficando apenas com a roupa que tinham no corpo) - existe comoção pública e a solidariedade de toda uma sociedade brota espontaneamente, quando instituições vocacionadas especificamente para tal abrem e publicitam contas solidárias e apelam a que o público nelas deposite a sua ajuda monetária, que falta faz que "a Maçonaria" lance uma campanha à parte, abra uma conta, peça auxílios? Porventura vai-se conseguir angariar mais meios de auxílio que não se angariariam através do vasto movimento de ajuda que se gerou? Claro que não! Nesta situação, a intromissão (é o termo!) da Maçonaria não redundaria em nenhum benefício significativo em prol de quem sofre, antes não passaria de um abstruso meio de auto-promoção, de "aparecer". Ora a Maçonaria não se destina a "aparecer". Pelo contrário, centenas de anos de existência ensinaram-nos que o Bem está muitas vezes nas pequenas coisas, nos auxílios discretos, nas ajudas fora dos holofotes.

Solidariedade, beneficência não são publicidade nem relações públicas! O maçom cumpre o seu dever de beneficência porque interioriza que essa é uma postura que moralmente deve ter. Quando dá, só ele tem que saber que deu. Por vezes nem quem recebe precisa de saber quem deu... Ajudar é motivo de satisfação pelo cumprimento da nossa obrigação de sermos bons e procurarmos ser melhores. Não é, não pode ser, NUNCA, motivo de vaidade, de exibição, de publicidade, de relações públicas!

Por isso , meus prezados Irmãos, sempre que - infelizmente - ocorrer catástrofe que cause comoção pública, insto a que nenhum de vós perca tempo nem energias a clamar por que a Grande Loja publicamente lance campanhas ou faça apelos ou comunique a sua solidariedade. Nessa ocasião, haverá muito quem lance campanhas de apoio, de solidariedade, de ajuda, de recolha de fundos. Não será então necessário que façamos mais do mesmo.Isso seria apenas e afinal tão só aparecer. A nós basta-nos e deve bastar-nos - e muito é! - tão somente Ser!

Rui Bandeira

05 dezembro 2016

"Tronco da Viúva"...

Hoje publico um texto de minha autoria e que foi publicado anteriormente aqui, cujo o tema é o "Tronco da Viúva". Termo este um pouco estranho para quem pouco ou nada sabe sobre a Maçonaria mas que não deixa de ter um cariz muito importante dentro da Ordem.
Desta forma, passo ao texto em si:

"Tronco da Viúva

 O “Tronco da Viúva” é também designado por “Tronco da Beneficência” ou “Tronco da Solidariedade”.
 Ao Tronco da Viúva são lhe atribuídas várias origens, pelo que uma das mais assumidas pela Maçonaria tem origem bíblica.
Hiram Abiff, mestre construtor do Templo de Salomão era filho de uma viúva. Mestre esse, que foi assassinado por três companheiros seus, por não querer divulgar os segredos de construção a que estava sujeito como mestre-de-obras. Esse assassinato veio mais tarde a originar uma das mais importantes lendas da Maçonaria; a qual está na base da maioria dos ritos maçónicos atuais. Advindo dessa lenda, o epíteto de “Filhos da Viúva”, com que se costumam designar os Maçons.

O facto de se designar por “tronco”, deve-se ao facto dos trabalhadores afectos à construção do Templo de Salomão, os Aprendizes e Companheiros, receberem os seus salários ao final do dia, junto às colunas do Templo. Para além de que etimologicamente, “caixa de esmolas” na língua francesa também se designar por “tronc”.
Sendo que o termo “Tronco da Viúva”, simboliza também uma (caixa de) esmola para socorro e auxílio das esposas (e filhos menores) de Irmãos falecidos.

Em Loja é o Mestre Hospitaleiro que está encarregado de fazer circular o Tronco da Viúva. Tronco esse, que em dado momento litúrgico de uma sessão maçónica, circula pelos Irmãos para que possam efetuar o seu óbolo na medida em que tal lhes seja possível.

Cabe ao Mestre Hospitaleiro e ao Mestre Tesoureiro, cuidarem para que ele se encontre numa situação-equilíbrio para que se possa prestar o auxílio necessário a quem dele reclamar. E como tal, o Tronco da Viúva não se quer nem muito cheio nem muito vazio. Se o mesmo se encontrar vazio, é porque as doações não serão significativas, correndo-se o risco, de se não se auxiliar quem dele necessitar numa situação imediata. Mas se ele se encontrar cheio, é porque quem necessitar de auxílio, não o estará a receber na devida forma.

Sendo que um dos deveres do Mestre Hospitaleiro é o de bem aconselhar o Venerável Mestre sobre os fins a darem às importâncias obtidas na circulação do Tronco da Viúva em Loja. A quem ou a quais, sejam Irmãos ou Instituições Sociais de que os necessitem.

Essa também é uma das funções sociais da Maçonaria. Ajudar outras instituições carenciadas que necessitem de auxílio; não procurando o Maçon o reconhecimento de tais atos, pois a soberba não deve existir nas suas ações. O Maçon assim faz, porque simplesmente acha de que o deve fazer, não porque procura méritos ou benefícios com isso. 
Sendo que, por não se procurar reconhecimentos ou assumir falsos méritos, é que a caridade maçónica sob a forma de tronco, é feita de forma reservada, nunca devendo um Maçon mostrar o que deposita no Tronco da Viúva. 
Quem procurar reconhecimento, deve procurar outro sítio para fazer a sua solidariedade, a sua caridade.

O Tronco em si mesmo, é uma forma de Solidariedade, ele lembra ao Maçon, que a beneficência e a solidariedade devem estar presentes ao longo da sua vida, fazendo ambos parte dos deveres do Maçon. Além de que, na circulação do Tronco da Viúva em Loja se relembrar ao Maçon que ele deve ser generoso e caritativo. Por isso, quando um Maçon faz o seu óbolo, ele deve dar um pouco de si também. Mas nunca com o pensamento de que um dia se necessitar, terá algo a que se “agarrar”. O Tronco da Viúva não serve de ”almofada” para os Maçons. Não devendo eles se aproveitarem da sua existência, para mais tarde o utilizarem sem razão aparente.

Quando um Maçon faz a sua entrega, a sua dádiva para o Tronco da Viúva, a única coisa que deve ter em mente, é o de partilhar um pouco de si mesmo e do que tem com os demais Irmãos.

Mas apesar de não ser uma obrigação principal da Maçonaria, pois a mesma não é uma IPSS, cabe ao Maçon ter um espírito solidário com quem dele necessite. Por isso mesmo, a missão do Tronco da Viúva, é a de ajudar um Irmão que necessite de auxílio.
Mas para alguém puder ser ajudado, é também necessário que o Irmão em causa reconheça a sua necessidade de auxílio. Mas, nem sempre quem precisa de ajuda, o solicita. A vergonha ou inclusive o orgulho, são em grande parte dos casos, o “travão” pessoal à procura de auxílio. Quem precisa de ajuda, deve por para “trás das costas” tais sentimentos, pois agindo assim, corre o sério risco de perder toda a ajuda que necessitar. E hoje em dia, devido à forma acelerada de como vivemos as nossas vidas, nem sempre nos é possível perceber quem necessita da nossa ajuda.

Todos nós em certas alturas da Vida, passamos por momentos em que fraquejamos ou que a nossa força mental não nos consegue ajudar a suportar o dia-a-dia.
 É principalmente nesses casos que o Maçon deve ajudar os seus Irmãos. Tentando se aperceber com a sua iluminação, quem necessita mais dele. Mas essa ajuda nem sempre deve ser (ou pode ser…) financeira mas antes moral ou espiritual, pois nem todas as carências de um Irmão são pecuniárias ou materiais. Muitas vezes apenas alguém necessita de uma palavra de inspiração, uma “palmada nas costas” ou um simples gesto de afeto e carinho. Tais gestos com certeza não podem ser depositados num saco, devem-no antes ser entregues (pessoalmente) ao Irmão necessitado. 
É amparando o seu Irmão, que o Maçon lhe demonstra a sua solidariedade e vive o espírito de fraternidade que a Maçonaria lhe oferece.

 Tal como afirmei anteriormente, a Maçonaria não é uma IPSS. Antes é uma Instituição que promove a Solidariedade, a Beneficência, a Fraternidade. E como tal, a sua principal missão é ser solidária com os seus membros/Irmãos. 
Sendo assim, não deve uma Loja virar as costas a um Irmão que esteja em apuros, devendo antes, correr em seu auxílio e o amparar na resolução dos seus problemas. E é para isso que fundamentalmente existe o Tronco da Viúva.
A única obrigação que ele tem, é a de ser bem utilizado!".
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