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16 maio 2008

Percurso a Venerável

Volto !!! - espero.

O Rui deixou-nos com mais um brilhate texto sobre a " linha de sucessão", no qual nos apresenta a sua visão do fenomeno da continuidade de uma Loja.
Referiu-se a uma intervençao minha, originalmente proferida em Loja em 27/7/2006 , já lá vao 2 anos, e que tenho vindo a apresentar em outras Lojas.
No meu comentário ao texto do Rui abordei rapidamente o tema na minha perspectiva. Todavia e para melhor enquadrar o que disse publico, com alguns cortes necessários, o texto apresentado em Loja.



Cargos de Oficial e Percursos de Progressão
REAA - Lojas Azuis


Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiro, destes nem todos chegarão a Mestre Maçon. Seguramente que apenas alguns dos Mestres chegarão a Venerável Mestre . E Esta deve ser uma das regras fundamentais de qualquer Loja, devendo ser comunicada aos aprendizes no seu primeiro dia.

O Cargo de Venerável não é o fim último de uma “carreira” dentro da Loja. É um cargo ao qual se deve chegar porque se crê que naquele momento aquela pessoa pode acrescentar à Loja.

Como tradicionalmente a escolha do Venerável é feita com 2 anos de antecedência, ou seja no momento da nomeação do 2º Vigilante, a Loja prepara-se com tempo.

No Nosso Rito temos os seguintes cargos a serem desempenhados em cada ano Maçónico.

Vigilantes ; Secretário ; Orador ; Tesoureiro ; Experto ; Mestre de Cerimónias ; Hospitaleiro ; Guarda Interno ; Organista

Temos assim cargos eminentemente rituais, outros administrativos, uma terceira categoria de natureza mista, e uma quarta que chamarei outros.

Sem dúvida que o Secretário e o Tesoureiro são cargos administrativos, como não há duvida que M. Cerimónias, Experto, Hospitaleiro, Guarda Interno são de cariz ritual.

Os Vigilantes embora tendo um peso ritual importante, têm também uma carga administrativa associada, e têm ainda a função de Ensino, por isso não são bem uma coisa nem outra, são corolários.

O Organista é um caso à parte, tem uma óbvia e importantíssima função ritual, e tem uma função espiritual fundamental, pois com a sua mestria pode tornar as penosas sessões mais ligeiras.

E quanto ao Orador?

Passando caso a caso

Secretario: tem como função primordial guardar a memória da Loja e tratar dos assuntos de correspondência e comunicação. É por excelência o auxiliar do VM no que ao sector administrativo diz respeito.

Tesoureiro: como o próprio nome indica é aquele que guarda e administra os bens pecuniários da Loja.

Mestre-de-cerimónias: Usando um termo futebolístico é o Patrão do Rectângulo. Age às instruções do VM, tendo no entanto autonomia para circular sem autorização para resolver problemas e orientar trabalhos.

Hospitaleiro: Tem como função principal o acompanhamento dos Irmãos nas alegrias e nas tristezas, representando para o efeito a Loja, sendo que ritualmente lhe cumpre a função de recolha dos obulos

Vigilantes: São os vértices do Triangulo simbólico que comanda a Loja. Têm a seu cargo as colunas, e a passagem do Saber.
Têm a seu cargo, conjuntamente com o VM a representação externa da Loja, sendo-lhes dados poderes para em Nome da Loja defenderem as posições da Loja nos fóruns onde têm assento.
Têm como função o auxílio ao VM na preparação das sessões, sendo ainda o primeiro filtro dos trabalhos apresentados pelos Irmãos integrantes das respectivas colunas (entenda-se Aprendizes e Companheiros)

Guarda Interno: Para alguns o símbolo da Humildade a que se submete o Mestre que já foi Venerável. Aparentemente pouco participante nas sessões, tem por missão fundamental anunciar que alguém bate à porta e de que modo o faz, tendo que saber para tal quando deve fazer esse anúncio. É o primeiro a verificar quem se apresenta, sendo que para tal o seu conhecimento dos ritos e dos graus é fundamental. O conhecimento adquirido é de grande importância.

Experto – A ele estão confiadas tarefas importantes de condução de cerimónias de Iniciação, Aumento de Salário e Exaltação. Estando ainda acometidas as tarefas de ensino no decurso destas cerimonias.
Tem em alguns casos a prerrogativa de se deslocar sem a necessidade do M. Cerimónias. Tem ainda como missão identificar irmãos de outras lojas ou obediências, prestando nisso auxílio ao Guarda Interno.

Estão assim vistas as funções em Loja quer as administrativas quer as Rituais.

E Quanto ao Orador?

O Orador não foi esquecido. Mas é na minha opinião o Caso que não se enquadra.
Não é definitivamente um cargo Administrativo, mas sanciona o trabalho administrativo.
Não é definitivamente um cargo Ritual mas sanciona múltiplos aspectos rituais.
Não é definitivamente um cargo de Gestão da Loja, mas sanciona a gestão.
É o único que pode falar depois do Venerável Mestre.
É o único que pode falar quando achar que para tal há razão, nomeadamente em questões de regularidade e cumprimento dos regulamentos.

São-lhe pedidas orações de sapiência, sobre o que se passa em Loja independentemente do grau.
É, deveria ser, aquele que verifica as pranchas de Aprendizes e Companheiros para aferir se o seu conteúdo está consentâneo com o grau em que vai ser apresentado.
Em meu entender, deveria também fazer prévia verificação das pranchas de Mestre, pois estes muitas vezes levados pela vontade de ensinar quebram barreiras.

O Orador tem que saber tudo. É uma espécie de corolário dos demais Oficiais.

Vejamos

Como pode sancionar trabalhos administrativos, rituais e de gestão se não souber como fazê-los.
Como pode ajudar à condução dos trabalhos se não tiver experiência para tal.
Como pode ser o guardião da LEI se não for um mestre experimentado.

Ao longo destes anos que por aqui ando, tenho vindo a pensar sobre o que deve ser uma Loja, e como devem circular os Irmãos nela.

Estou certo que opinião sobre este assunto há pelo menos uma por cada cabeça pensante.

O percurso até ao Veneralato, para além do desempenho dos cargos de Vigilantes, deve incluir uma vertente administrativa e uma ritual.

Tentando dar uma sequencia a este percurso o mestre deverá desempenhar, não necessariamente de forma consecutiva os seguintes cargos:

Secretário e/ou Tesoureiro
Mestre de Cerimónias
Hospitaleiro

Estará então apto a entrar na sequência Sul – Ocidente – Oriente.
Depois de ser VM não há contestação ao passar um ano enquanto PVM e outro como GI.

Quanto ao Experto e ao Orador cargos fundamentais, deveriam ser a sequência lógica após o Guarda Interno, num novo percurso de Ocidente a Oriente, para finalmente terminar nas colunas.

E se este percurso não for seguido porque pode haver indisponibilidade falta de tempo, ou compromisso, pelo menos que o Orador seja um antigo Venerável pois os anos de trabalho permitirão que seja o repositório da experiência acumulada.

Todavia é necessário entender que a conclusão a que chego não é a de que a sucessão começa no início. Isso seria por a escolha do VM a 5 ou mais anos de distância o que é muito, tanto mais que nem sempre os Irmãos podem ter o compromisso de seguir uma sequência tão grande sem falhas.

O que quero dizer é que o capital de experiência deve ser aproveitado ao máximo pois uma loja só consegue o seu equilíbrio, e mais uma vez no meu ponto de vista, se tiver sempre um apreciável número de antigos Veneráveis activos.

Este equilíbrio que um “conselho Senatorial” pode proporcionar tem que ser entendido como apenas como isso e não como um Conselho no lugar do Venerável.

No entanto nada disto tem qualquer valor ou utilidade se a Loja não cuidar da renovação, iniciando, passando a Companheiro, elevando a Mestre mas sobretudo durante este percurso apostando na formação.

Esta formação deve ser mais vasta que a simples presença em sessão, deve incluir sessões instrução formais quer dentro do templo, quer fora do templo.

Os vigilantes ao terem que fazer essas sessões instrução, terão eles próprios que se preparar e que estudar, e com isso carregarão o seu lastro para o desempenho da função de Venerável Mestre para a qual serão chamados num futuro próximo.

O sucesso do percurso está, de facto, ligado ao Homem em si, mas está muito mais ligado à capacidade da Loja de suprir quaisquer defeitos ou falhas e permitir o sucesso daqueles que por feitio ou personalidade são um pouco menos carismáticos, e também ter a capacidade de mitigar as acções daqueles que são muito carismáticos.

Disse acima que o Venerável deverá acrescentar à Loja. Acrescentar significa continuar um projecto existente e não fazer um projecto próprio. Apenas a Loja deverá ter um projecto para o qual contribuem todos incluindo o Venerável.

Não tendo por objectivo estabelecer uma tese, e daí uma doutrina, penso ter deixado aqui alguma matéria de discussão, ou pelo menos de reflexão.
José Ruah

15 maio 2008

A "linha de sucessão"

Já em vários textos que publiquei no blogue, o último dos quais o dedicado ao ofício de Experto, fiz ocasionais referências à "linha de sucessão". Convém explicar em que consiste e como funciona.

A "linha de sucessão", que eu saiba, não tem apoio formal ou regulamentar em qualquer norma de qualquer jurisdição maçónica. Não está prevista com carácter de obrigatoriedade em nenhum lado. No entanto, em muitas jurisdições maçónicas é observada a prática da "linha de sucessão" no preenchimento dos ofícios, quer de Loja, quer mesmo de Grande Loja. Consiste no estabelecimento informal de um percurso de ofícios que deve ser sucessivamente assegurado por um maçon, como que ascendendo numa hierarquia, até ascender ao ofício de maior responsabilidade numa Loja, o de Venerável Mestre, ou numa Grande Loja, o de Grão-Mestre.

Na GLLP/GLRP, não se verificou, até agora, um claro estabelecimento de uma "linha de sucessão". O ofício de Grão-Mestre é exercido por quem for eleito para o cargo. Costuma haver mais de uma candidatura sempre que há eleições. Embora se tenha verificado que existe uma natural vantagem de quem exerce o ofício de Vice-Grão-Mestre na disputa pela eleição, ela decorre da visibilidade do cargo exercido, do reconhecimento de que o braço direito do Grão-Mestre conhecerá melhor os projectos em curso e as estratégias para ultrapassar os problemas existentes, não de uma tácita assunção de um "direito" à eleição. Aliás, algumas eleições foram bem disputadas... E nenhum caminho de acesso ao Vice-Grão-Mestrado se acha, ainda que informalmente, estabelecido. Resumindo: embora não seja uma situação que se possa considerar descartada em termos de evolução futura, na GLLP/GLRP não se mostra, ao contrário do que sucede em muitas jurisdições maçónicas - designadamente Grandes Lojas norte-americanas - instituído, ainda que informalmente, um princípio de "linha de sucessão" para o acesso ao ofício de Grão-Mestre. O que é, no meu entender, muito bom e desejável que assim permaneça.

Já a nível de Loja, o meu entendimento é exactamente o oposto: considero muito vantajoso que se estabeleça e respeite uma "linha de sucessão" para o preenchimento dos ofícios mais exigentes da Loja, culminando no de Venerável Mestre. Baseio esta minha opinião nos excelentes resultados que a Loja Mestre Affonso Domingues tem obtido com a opção pelo estabelecimento desta prática, praticamente desde a sua fundação. A origem desta prática descrevi-a no texto A eleição do Terceiro Venerável Mestre. Desde então, foi sempre seguida, aumentada e aperfeiçoada, sempre sem sobressaltos, sempre de forma aberta e clara, sempre consensualmente.

Ao contrário do que sucede a nível de Grande Loja, em que os obreiros se encontram dispersos geograficamente e com limitações de contactos entre si, exceptuados os existentes entre os obreiros da mesma Loja, uma Loja maçónica tem um número limitado de membros, com um estreito contacto entre si, situação potenciadora de um amplo conhecimento das características de cada um, dos seus pontos fortes e fracos. Estabelecem-se fortes relações de amizade. Tudo o que evite disputas é bem-vindo.

A prática da "linha de sucessão" tem, assim, a grande virtualidade de tornar desnecessárias disputas eleitorais e fortalecer significativamente a coesão da Loja.

Tem, é certo, potencialmente, o perigo de formação de uma "clique" que se auto-perpetue no "poder" da Loja. Mas este perigo é muito limitado e facilmente evitado, quer porque o "poder" da Loja é ilusório e só efectivamente existente na medida em que exista consonância entre o Venerável Mestre e a Loja, quer porque, se se instituísse uma "clique" de poder numa Loja, facilmente os que estavam fora desse "círculo" poderiam resolver o problema: basta juntar sete Mestres para peticionar a constituição de uma nova Loja e deixar os sedentos do poder a ficarem a "mandar"... neles próprios... Uma Loja é um meio ao serviço dos seus obreiros. Quem o esquecer e pretender torná-la algo diverso, não demorará muito tempo a perder as suas ilusões! Infelizmente, se e quando a tentação surge, o preço que se paga, dentro de um prazo não muito longo, é o abatimento de colunas da Loja "ocupada" ou, pelo menos, uma grave crise que obrigará, na prática, à sua lenta e esforçada reconstrução.

No caso da Loja Mestre Affonso Domingues, esse perigo nem nunca esteve sequer no horizonte, até porque a "linha de sucessão" natural e consensualmente criada tem uma importante válvula de segurança...

Originalmente, na Loja Mestre Affonso Domingues, a "linha de sucessão" abrangia as três luzes da Loja. Isto é, o 1.º Vigilante substituía o Venerável Mestre e era substituído pelo 2.º Vigilante. Mais tarde - com clareza a partir do mandato do décimo quarto Venerável Mestre -, alargou-se até ao Orador e, muito rapidamente, nos mandatos seguintes, até ao Secretário e ao Tesoureiro.

No mandato do actual Venerável Mestre, este tomou a decisão, aliás na sequência de uma sugestão nesse sentido avançada pelo José Ruah e consensualmente assumida pelos demais obreiros, de substituir, na "linha de sucessão", o Orador pelo Mestre de Cerimónias.

Assim, presentemente - e, se não houver motivos para mudar, espero que por muito tempo - um obreiro, antes de ser eleito pelos Mestres da Loja para exercer o ofício de Venerável Mestre, exerce, sucessivamente, os ofícios de Tesoureiro, Secretário, Mestre de Cerimónias, 2.º Vigilante e 1.ª Vigilante.

As vantagens são evidentes: 1. não há disputas eleitorais, nem dissensões, nem zangas devido a eleições; 2. O venerável Mestre ascende ao ofício mediante um percurso que lhe permite o conhecimento e a prática de variadas e importantes responsabilidades dentro da Loja; pode dirigir a sua equipa com conhecimento de causa do que é o exercício dos vários ofícios; efectua alterações em função da sua própria experiência, não de vagas impressões; a Loja tendencialmente sabe quem a vai sucessivamente dirigir nos próximos 5 anos.

A válvula de segurança que a Loja Mestre Affonso Domingues instituiu para prevenir a tentação de abusos foi a inclusão no início da "linha de sucessão" do Tesoureiro. É que este é, além do Venerável Mestre, o único ofício cuja titularidade é preenchida por eleição. Ou seja, entra-se na "linha de sucessão" por eleição. Não por designação. Quando a Loja elege um Tesoureiro, sabe que está, não só a fazê-lo, mas a escolher o Venerável Mestre de daí a seis anos! E, se conseguimos que, até agora, só haja, em cada ano, um único candidato ao ofício de Venerável Mestre, o 1.ª Vigilante em exercício, para a eleição de Tesoureiro não é bem assim: já houve, e é bom que assim seja, mais do que uma candidatura. Assim se conquista a legitimidade.

Uma última nota: o sistema, além de informal, não é rígido. Já aqui no blogue dei conta de situações em que houve alterações na "linha de sucessão" (veja-se, por exemplo, o texto A ultrapassagem). Pontualmente outras vai havendo, em função das circunstâncias e dos inesperados percalços. Por exemplo, perdemos este ano um dos elementos que integravam a "linha de sucessão". Já temos, segundo creio, a questão resolvida a contento ou, pelo menos, da melhor forma possível.

Enfim, a "linha de sucessão" não existe regulamentarmente, é informal e consensual, mas é sobretudo um guia, um apoio, não uma imposição. Porque estabelecida fraternalmente.

Rui Bandeira

30 abril 2008

Experto

No Rito Escocês Antigo e Aceite - o rito praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues -, o Experto é um Oficial de Loja que exerce uma função puramente ritual. Nas normais sessões de trabalho, essa função é relativamente secundária, limitando-se a seguir e auxiliar o Mestre de Cerimónias na execução dos rituais de abertura e encerramento dos trabalhos. Este ofício assume, porém, particular importância e relevo quando a Loja leva a cabo uma Cerimónia de Iniciação. Quase se poderia dizer que o ofício de Experto existe para essa cerimónia, sendo tudo o resto secundário, mero apêndice do papel que exerce nos trabalhos em que um homem livre e de bons costumes abandona a vida profana e renasce maçon.

É encargo do Experto, sempre que há lugar a uma iniciação, ser o elo de ligação entre o profano que busca a luz e a Loja. É o Oficial que a Loja disponibiliza ao candidato para o acompanhar e auxiliar nas suas provas de iniciação. É o Experto que prepara o profano antes de ele enfrentar essas suas provas. É o Experto que ordena ao profano o que ele deve fazer enquanto aguarda o início delas. É o Experto que conduz e acompanha o profano perante a Loja. É o Experto que acompanha e auxilia o profano na superação das provas. É o Experto que dá e retira a luz. É o Experto que acompanha aquele que se submeteu às provas de iniciação enquanto ele se recompõe dos trabalhos realizados. É o Experto que, recomposto quem se submeteu às provas, o conduz à sua plena integração na Loja. É o Experto quem executa e demonstra a primeira instrução do novo Aprendiz. Em resumo, o Experto é a mão amiga que ampara o profano no seu trajecto para a luz, o guia que lhe indica o caminho.

A designação do ofício é uma adaptação fonética - não propriamente feliz - do termo Expert, que, quer em francês, quer em inglês, significa Especialista. O Experto é, assim, o Oficial Especialista no acompanhamento do Candidato à iniciação.

Em rituais antigos, este Oficial de Loja era designado por Irmão Terrível. Esta designação, obviamente irónica, decorria da forma brusca como se preconizava que decorresse a primeira abordagem do Irmão Terrível ao candidato. Dupla ironia, se atentarmos que o Experto só é terrível no suporte e apoio a esse mesmo candidato, que lhe cumpre auxiliar ao longo de toda a Cerimónia de Iniciação...

Na Loja Mestre Affonso Domingues, este ofício não está integrado na informal "linha de sucessão" para o ofício de Venerável Mestre e é usualmente confiado a um Mestre jovem. É um ofício que, por ser de reduzida dificuldade de execução, na maior parte das sessões, permite uma calma e progressiva integração nas responsabilidades de Oficial de Loja aos Mestres mais jovens, enquanto aguardam oportunidade para assumirem mais exigentes responsabilidades. Mas, sendo também um ofício fundamental num momento tão importante para qualquer maçon, como é a sua iniciação, confiá-lo a um jovem Mestre (note-se: jovem, em termos de antiguidade, não de idade; um septuagenário pode, neste sentido, ser um "jovem Mestre"...) é uma prova de confiança nas suas capacidades e na sua contribuição para a Loja.
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Por falar em contribuição... Estamos no último dia da campanha de solidariedade para com a Inês. A sua contribuição, não importa se pequena, será muito bem-vinda e uma demonstração da sua sensibilidade e solidariedade. Recorde aqui como a pode prestar.

Rui Bandeira

15 abril 2008

Hospitaleiro

O Hospitaleiro é o elemento da Loja que tem o ofício, a tarefa, de detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio dessas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando, através da Grande Loja e do Grande Oficial com esse específico encargo, o Grande Hospitaleiro ou Grande Esmoler, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos membros.

Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros. Solidariedade que não significa cumplicidade em acções ilícitas ou imorais, ou encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral. O maçon deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes, não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque auto-determinado e, portanto, responsável pelos seus actos, bons e maus. Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos afectam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem.

Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno daquele que, nesse momento, precisa do calor de seus Irmãos. Esse auxílio, esse conforto, essa presença, são coordenados pelo Hospitaleiro. Note-se que a palavra utilizada é "coordenados", não "efectuados" ou "realizados". O Hospitaleiro não é o Oficial que efectua as acções de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja dessas acções. O Hospitaleiro é aquele elemento a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita.

É claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efectuar a tarefa, ou a delegar a mesma em outro Irmão que seja mais conveniente que a efectue. Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria, isso já não seria auxílio, seria perturbação. O Hospitaleiro assume, assim, em primeira linha, a tarefa de se informar do estado do irmão, de o auxiliar e confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado, nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou constantemente assediado pelos contactos dos demais, prejudicando a sua recuperação e o seu descanso, maçando-o, mais do que confortando-o. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio é fundamental...

A solidariedade maçónica pode traduzir-se em actos (visitas, execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece confiança no inseguro), no simples acto de estar presente ou disponível para o que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa, mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível...) ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões...). A escolha, a combinação, o accionamento das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do que os actos generosos, mas anárquicos e descoordenados...

O Hospitaleiro deve estar atento ao surgimento de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e actuar em conformidade. Mas não é omnisciente. Portanto, qualquer maçon que detecte ou conheça uma dessas situações deve comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, actuar, coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça. Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia é que sejam "todos por um", não "cada um pelo outro, todos ao molho e fé em Deus"...

A solidariedade maçónica é assegurada, em primeira linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue com a vida. Porque cada maçon, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente!

E a solidariedade é algo que não se esgota em circuito fechado. Para o maçon, a beneficência é um simples cumprimento de um dever. As acções de solidariedade ou beneficência em relação a quem - maçon ou profano - necessita, em auxílio das organizações ou acções que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo Hospitaleiro.

O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito importante em qualquer Loja maçónica. Deve, por isso, ser desempenhado por um maçon experiente, se possível um ex-Venerável.

O símbolo do Hospitaleiro é uma bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçon dá para o Tronco da Viúva. Mão segurando o saco, no modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o Tronco da Viúva, o Hospitaleiro exibe o saco contendo esses óbolos perante a Loja, demonstrando estar á disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material. Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu adequado e útil uso.

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A propósito de solidariedade: já se decidiu se contribui, na medida do que puder e quiser, para auxiliar a Inês? Se sim, não guarde para amanhã o que pode fazer hoje. Relembre aqui como pode ajudar e... trate disso! Já! Não se deixe vencer pela inércia!

Rui Bandeira

10 julho 2007

Organista, Mestre da Musica ou da Coluna da Harmonia


Tenho vindo nas últimas sessões da minha Loja a desempenhar um cargo que me tem dado um prazer muito grande. O de Organista ou Mestre da Coluna da Harmonia.

A Musica numa sessão de loja é de grande importância, pois completa o ritual dando-lhe um sustentáculo que permite elevar a espiritualidade e a disposição dos presentes e consequentemente da sessão em si.

Engana-se o leitor se pensar que por música numa sessão de Loja é chegar ali e debitar umas músicas, de preferência do Mozart e se forem muito conhecidas melhor.

A Loja Mestre Affonso Domingues sempre primou por ter Organistas de qualidade, e não falo de mim que ainda não me considero Organista nem terei a qualidade dos titulares, e consequentemente sempre teve música de grande nível nas suas sessões. Bastará para tal dizer que foram sempre músicos e melómanos os Organistas, foram e são porque o actual titular do Cargo (já o é desde 1996) é musico tendo na sua juventude gravado Discos e tocado em grandes salas por esse mundo fora.

O nosso Irmão Organista, tem ao longo destes anos vindo a criar para cada sessão um CD com a sequência de músicas com que nos enche a sala e nos delícia. Um Acervo fantástico o que tem vindo a ser produzido, por ele, com o fim único de embelezar e transmitir solenidade às sessões de Loja.

Ora por motivos pessoais e familiares, que queremos ver resolvidos tão brevemente quanto possível, a sua assiduidade tem sido prejudicada este ano, e por isso tenho assegurado a sua substituição.

A primeira vez foi um pouco de improviso, e como fui avisado 30 minutos antes e já ia a caminho usei os CDs que tinha no carro e com um pouco de Mozart aqui, Respighi ali, mais Mozart por acolá, lá me safei.

O bichinho ficou e dei comigo a preparar no meu computador portátil uma playlist com músicas para sessão de Loja. Este exercício, era essencialmente isso um exercício, não tinha na altura nenhum fim específico pois não sabia quando teria que fazer nova substituição. Era por assim dizer um trabalho para meu divertimento pessoal.

Continuei normalmente a aumentar o directório do meu portátil com música, não porque a quisesse por em Loja, mas porque gosto de trabalhar com música. Todavia cada vez que uma peça, um andamento, uma faixa me parecia adequada marcava-a inserindo na lista de música para sessão.

E um dia lá tive que ir fazer uma substituição. Saí de casa com o portátil, um par de colunas de computador, e uma extensão eléctrica. A coisa correu bem e a partir dai passei a assegurar a música sempre que necessário.

Decidi também que sempre que possível fugiria dos autores tradicionais (Mozart, Beethoven, Bach, etc.) e utilizaria outros tipos de musica. Nesta senda já usei músicas interpretadas em ritmo reggae, de grupos como os Queen, Norah Jones, Evanescence, ou ainda música de guitarra portuguesa composta e interpretada por esse Génio que foi Carlos Paredes.

Tenho também aproveitado para testar algumas músicas da minha cultura Judaica, sempre instrumentais e em interpretações para violino, ou de conjuntos de musica Klezmer (Musica Judaica da Europa Central).

Rapidamente percebi que cada sessão é muito diferente da anterior e que, as musicas que resultaram em cheio numa podem não servir para a seguinte. E Aqui surge a necessidade absoluta de improvisar, de escolher uma alternativa que não foi pensada e que tem que substituir o alinhamento pensado com base na ordem de trabalhos previamente distribuída.

Há que conseguir gerir os imprevistos, como sejam um visitante que chega e que se anuncia já com os trabalhos a decorrer. Ou uma decisão de modificação de sequencia dos trabalhos, ou uma alteração de ultima hora ou mesmo como há uns dias atrás a tentativa de reforçar uma alocução (não conhecida) de um Irmão com uma musica apropriada.

A música no meu ponto de vista deve preencher todos os vazios. Deve ser adaptada a cada momento, Grandiosa na abertura dos trabalhos, Alegre no fecho, motivante quando se procede à recolha de fundos para beneficência, espiritual na Cadeia de União, e por aí a fora.

Pode parecer uma sobrevalorização, mas não é. O Mestre da Coluna da Harmonia tem uma importância enorme na qualidade dos trabalhos. Não pode imaginar o leitor (excepto Irmãos que me leiam) a diferença entre um bom acompanhamento musical (não na qualidade das peças musicais usadas mas na cobertura da sessão) e um mau acompanhamento, já para não falar que uma sessão sem música é uma “sessão coxa”.

Já desempenhei muitos cargos em Loja, já fui Venerável (e sobre isso falarei um dia), e sempre os desempenhei com zelo, correcção e gozo pessoal, mas nenhum me deu tanto prazer como o de organista, ainda que só o seja em substituição.

Espero que um dia possa vir a ser o Organista Titular da Loja Mestre Affonso Domingues, e mesmo esperando que esse dia seja só daqui a muitos anos porque o actual Organista é excepcional, sei que nessa altura vou avançar mais um degrau.

José Ruah
P.S. Louis Armstrong foi Maçon e Musico ( evidentemente)

25 junho 2007

Mestre de Cerimónias

No texto sobre o mandato do terceiro Venerável Mestre, fiz, a dado passo, referência ao ofício de Mestre de Cerimónias. Tendo sempre presente que este blogue se destina a ser lido por maçons e por não maçons, este é um bom pretexto para descrever mais um dos ofícios da Loja, após já ter feito referência aos de Venerável Mestre e de Vigilantes.

O ofício de Mestre de Cerimónias existe no Rito Escocês Antigo e Aceite (aquele que é praticado na Loja Mestre Affonso Domingues) e bem pode ser exercido por um mudo. Com efeito, não me recordo de existir uma única fala especificamente do Mestre de Cerimónias em qualquer das cerimónias rituais deste rito. Toda a actividade deste Oficial se faz pelo movimento e pelos gestos. No entanto, este ofício é um dos mais importantes do mencionado rito!

O Mestre de Cerimónias é o oficial de Loja que executa, dirige e conduz todas as movimentações em Loja. Sempre que um qualquer dos elementos da Loja deve circular nela, fá-lo acompanhado pelo Mestre de Cerimónias (melhor dizendo: seguindo-o). Sempre que a posição ou o estado de um dos objectos com significado ritual deve ser corrigida, quem efectua essa acção é o Mestre de Cerimónias. Cumprindo instrução nesse sentido do Venerável Mestre ou por decisão própria.

O Mestre de Cerimónias é o responsável por toda a circulação no espaço da Loja e, consequentemente, pela sua fluidez e correcção. É ele quem indica por onde se deve ir, para se fazer o quê.

O ofício de Mestre de Cerimónias é fundamental na execução do ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite, porque é ele quem marca os ritmos e, assim, quem agiliza ou soleniza cada cerimónia.

Ao contrário do que sucede, por exemplo, no Rito de York, o ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite não é executado de cor: os oficiais que o executam têm o apoio do texto relativo à cerimónia respectiva. Porém, o Mestre de Cerimónias, porque não tem falas, exerce o seu ofício sem o apoio do ritual escrito, o que o obriga ao profundo conhecimento do ritual de todas as cerimónias. Só bem conhecendo o ritual, pode ele estar preparado para executar uma determinada acção no exacto momento em que é adequado fazê-lo, por saber que, quando determinada frase é dita por alguém, se seguirá determinada acção que ele deve executar.

A experiência e o conhecimento do ritual do Mestre de Cerimónias pode fazer de uma qualquer cerimónia ritual um acto corriqueiro ou uma exaltante execução. O Mestre de Cerimónias tem que saber, que intuir, quando deve ser solene e pausado e quando deve acelerar o seu movimento - por vezes, em função da existência ou não de atraso na execução dos trabalhos...

O Mestre de Cerimónias só aprende o seu ofício de uma maneira: executando-o e corrigindo os erros e hesitações que lhe detectarem ou que ele próprio detectar. O Mestre de Cerimónias faz a função, mas também se faz na função.

O símbolo da função do Mestre de Cerimónias - símbolo que ele transporta sempre consigo! - é o bastão (ver figura), espécie de bordão ou vara de caminheiro com que ele marca o início dos seus passos e as suas mudanças de direcção e que é também utilizado, em conjunto com a espada de outro oficial, para executar uma abóbada cerimonial, designadamente sobre os mais importantes símbolos em Loja em momentos-chave da abertura e do encerramento dos trabalhos. Pode ser substituído por uma versão em tamanho reduzido, de cerca de cerca de meio metro, que, nesse caso, transportará sobre o antebraço, o que sucede normalmente em cerimónias a que se pretende conferir maior "pompa e circunstância".

Rui Bandeira

13 setembro 2006

Vigilantes


Anéis de 1.º e de 2.º Vigilante, com as iniciais das designações em língua inglesa: Senior Warden e Junior Warden)



Os membros das Lojas Maçónicas estão divididos em três categorias, Aprendiz, Companheiro e Mestre, segundo a sua antiguidade e a sua evolução na tarefa de auto-aperfeiçoamento que constitui o desiderato maçónico.
Os Vigilantes são os elementos das Lojas que têm a função de acompanhar, orientar e auxiliar, os Companheiros (1.º Vigilante) e os Aprendizes (2.º Vigilante), quer na sua integração na Loja, quer no conhecimento e compreensão dos princípios e valores maçónicos, instrumentos para o pretendido auto-aperfeiçoamento pessoal, ético e moral.
Esta tarefa é sobretudo individual, pelo que os elementos que as Lojas designam para acompanhar esses obreiros não têm como função ensinar, antes auxiliar, estar atentos às necessidades e ao desenvolvimento de cada elemento a seu cargo, em suma, estar de vigília junto dos elementos que tem a seu cargo, em ordem a poderem, sempre que e quando necessário, intervir, sugerir, esclarecer e, assim, auxiliar a desejada evolução de cada um deles. Daí a designação de Vigilantes.
Constituindo a principal tarefa de uma Loja Maçónica o auto-aperfeiçoamento, constante e contínuo dos seus membros, com o auxílio do grupo (tarefa nunca finda), obviamente que se tem especial cuidado com os elementos mais recentes, que é suposto serem os que mais necessitam desse apoio. Assim, os Vigilantes são, imediatamente após o Venerável Mestre, os elementos que exercem as funções de maior responsabilidade da Loja. Normalmente, são designados para as funções de Vigilantes maçons experientes, que exerceram já diversas funções em Loja e que, por isso, a conhecem bem. Procura-se assim auxiliar a rápida e frutífera integração dos novos elementos no grupo e nos seus Princípios, Valores e Ideais.
O 1.º Vigilante simboliza a Força (fortaleza de carácter, força moral, mas tembém a força concreta das acções, no sentido em que toda a obra, toda a construção, humana só persiste se tiver força para se manter, por si só); o 2.º Vigilante simboliza a Beleza (beleza das virtudes morais, mas também a beleza que se deve procurar imprimir em todos os nossos actos e em tudo o que construímos; "forte e feio" é, manifestamente, menos perfeito que "forte e belo").
Ao conjunto constituído pelo Venerável Mestre e pelos Vigilantes é costume dar-se a designação de "Luzes da Loja", pois que a iluminam com as três qualidades que devem nortear todos os actos e obras de um maçon: Sabedoria, Força e Beleza.
Todas as decisões relativas à Loja que necessitem de ser tomadas entre reuniões são tomadas em conjunto por estes três elementos.
Rui Bandeira

05 setembro 2006

Venerável Mestre


Este blogue, como repetidamente tenho frisado, destina-se a ser lido por maçons e por não maçons. Os maçons estão habituados a usar termos ou expressões cujo significado lhes é familiar, mas que pode ser de difícil ou impossível entendimento para quem não for maçon. Sempre que me apercebecer que pode ser esse o caso, procurarei inserir um texto que torne claro, para todos, o significado de palavra ou expressão utilizada.

No texto publicado ontem, é referido, a dado passo, o "Venerável Mestre". Será esta a primeira expressão a ser esclarecida.

Venerável Mestre é a designação dada ao membro que exerce a função de direcção dos trabalhos de uma Loja maçónica.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, o Venerável Mestre é eleito, usualmente em Julho, e toma posse após a pausa para férias, que decorre sempre durante todo o mês de Agosto. Logo, e ressalvada a ocorrência de situações que imponham uma alteração pontual (doença, por exemplo), o Venerável Mestre eleito em Julho toma posse no decorrer do mês de Setembro subsequente. Isto dá-lhe tempo para escolher e convidar os membros da Loja que, durante o seu mandato, irão exercer as várias tarefas necessárias ao funcionamento de uma Loja maçónica. Com efeito, à excepção da função de Tesoureiro - cujo titular é eleito, por regra em simultâneo com o Venerável Mestre - todas as demais funções são exercidas por elementos escolhidos pelo Veneável Mestre eleito. Pretende-se assim garantir o funcionamento de uma equipa que seja, tanto quanto possível, coesa e, portanto, eficaz no exercício das suas tarefas.

O mandato do Venerável Mestre (e também o do Tesoureiro) é de um ano, de Setembro a Setembro, podendo o Venerável Mestre ser reeleito apenas uma vez (o Tesoureiro pode ser reeleito sem qualquer limitação). Assegura-se, assim, que a Loja não fique dependente da direcção de um dos seus membros, por muito influente, eficaz ou consensual que seja.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, a prática tem sido a de o membro eleito para Venerável Mestre exercer um só mandato. Privilegia-se assim a rotatividade e a aplicação do princípio de que todo o elemento admitido na Loja tem capacidade para a dirigir, pelo que, a seu tempo, o fará.

Com a eleição de um membro para Venerável Mestre, a Loja delega-lhe o poder de direcção da mesma, quer em temos administrativos, quer em termos de direcção de reuniões, quer em termos de execução das deliberações tomadas.

A confiança que a Loja deposita no membro que elegeu para exercer a função de Venerável Mestre inclui a delegação de poder para, sempre que, sobre qualquer assunto em debate, não se verifique a existência de uma posição consensual, ser o Venerável Mestre quem assume a decisão, a qual deve, porém, ser ponderada, prudente e tendo em atenção as posições expostas. Essa decisão poderá, assim, ser a de opção por uma das posições expressas (normalmente, quando o Venerável Mestre verifica ser essa a posição largamente maioritária, ainda que não consensual), a opção por uma das posições expressas, alterada ou complementada parcialmente por contributos provenientes das outras (procurando-se atingir a melhor solução racionalmente possível) ou uma solução intermédia entre duas ou mais das posições expressas (normalmente quando se não forma uma maioria clara, procurando-se atingir uma solução em que, ainda que não totalmente, todos, ou quase, os elementos da Loja, se possam rever).

Na sequência da discussão de qualquer assunto, em que todos os Mestres maçons têm a oportunidade de se pronunciar, a decisão anunciada pelo Venerável Mestre, decorrente do seu prudente juízo sobre a vontade da Loja, assume o carácter de deliberação da Loja, que é então, sem mais discussão, aceite e executada pelos seus membros.

Durante o período do seu mandato, os poderes delegados ao membro da Loja eleito Venerável Mestre são, assim, consideráveis e devem ser exercidos com a Sabedoria e a Prudência que a tradição atribui a Salomão. Costumam, assim, os maçons dizer que o Venerável Mestre da Loja toma assento na Cadeira de Salomão.

A expressão "Venerável Mestre" decorre da adaptação da expressão inglesa "Worshipful Master". São expressões que se utilizam desde o século XVIII e que, embora nos dias de hoje, tenham uma aparência pomposa e deslocada do uso actual da língua, continuam a ser comummente utilizadas pelos maçons, sempre rigorosos na aplicação da Tradição e dos bons ensinamentos dos que nos precederam. Também noutas ocasiões, todos utilizam expressões que cairam em desuso no dia a dia: quem não dirigiu já a sua correspondência a um "Exmo. Senhor"?

Rui Bandeira