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17 abril 2017

Os senadores


Esta é uma denominação ou classificação que não existe em Maçonaria. Coloquialmente, é uma expressão que, na nossa Loja, é usada para referir os elementos mais antigos dela. Dir-se-ia que é uma expressão desnecessária, que pode muito bem referir-se o mesmo grupo simplesmente como Mestres Instalados. Mas, em bom rigor, nem todos os Mestre Instalados são senadores da Loja e pode muito bem haver senadores da Loja que não são Mestres Instalados. 

Mestres Instalados são os Mestres da Loja que exerceram o ofício de Venerável Mestre e é aquele que, no momento, tem a responsabilidade de dirigir a Loja. A designação resulta de a tomada de posse, digamos assim, do ofício de Venerável Mestre se realizar através de uma cerimónia em que o eleito para exercer a função é instalado no assento onde toma lugar o Venerável Mestre, designado por Cadeira de Salomão. Mestres Instalados são, portanto, elementos experientes da Loja, que exerceram vários ofícios da Loja antes de serem eleitos para o de Venerável Mestre e, em consequência, terem sido instalados na Cadeira de Salomão. Mas o conceito coloquial de senadores que é usado na nossa Loja é ligeiramente diferente.

Para nós, um senador da Loja é um elemento que, pela sua antiguidade e pela sua assiduidade adquiriu uma noção de como é a Loja, como ela funciona, como ela reage, das suas virtudes e dos seus defeitos, que é reconhecida pelos demais, que, por isso mesmo, dão especial atenção aos seus conselhos e propostas para resolução de qualquer problema ou definição do rumo da Loja.

Nem todos os Mestres Instalados são reconhecidos pelos demais como senadores da Loja, porque, por vicissitudes várias, reduziram ou interromperam, durante algum tempo, a sua assiduidade na Loja, com inevitável reflexo na diminuição do seu profundo conhecimento dela e da sua evolução. 

Mas também haverá senadores da Loja que vão sendo reconhecidos como tal, apesar de não terem (ainda) exercido o ofício de Venerável Mestre. São assíduos, são participativos, conhecem a Loja a fundo. Só não exerceram (ainda) o ofício de Venerável Mestre porque tal anda não se proporcionou. E repare-se que tive o cuidado de não utilizar o conceito de Mestre... É que, por exemplo, na nossa Loja existe um Aprendiz que, por vontade própria, permanece nesse grau há vários anos, não aceitando passar ao grau seguinte... Como na nossa Loja (e deve suceder em todas as Lojas) o respeito pela individualidade dos seus obreiros é total, não há nenhum problema nisso. Periodicamente, pergunta-se a esse Irmão se é tempo de seguir adiante. Ele tem vindo sempre a responder que não. Respeita-se a sua opção e decisão. Claro que, ao fim de significativo tempo, já se brinca um pouco com isso, mas não deixa de se respeitar a opção deste nosso Aprendiz. Um dia destes, ainda criamos, só para ele, a figura de Aprendiz-Mor...! E suspeito que tempo virá em que, mesmo Aprendiz - se persistir em nesse grau permanecer - outro dia destes este "Aprendiz-Mor" adquire, por direito próprio, o estatuto de senador da Loja...

Os senadores da Loja, por tão bem a conhecerem, podem fazer-lhe muito bem, mas também podem causar-lhe grave dano. 

Serão benéficos para a Loja se derem o seu conselho, formularem a sua opinião, mas resistirem à tentação de procurarem impor os seus pontos de vista. Ao contrário do que sucede na vida militar, a antiguidade não é posto. E também não constitui garantia de se estar certo, de se ter razão. E, mesmo quando está certo, o senador deve sempre ter presente que os mais novos têm direito ao erro, que porventura até necessitarão de cometer erros, de suportar as consequências deles e de os superar. Tal como sucedeu com o senador, que seguramente não foi infalível e evidentemente que cometeu a sua quota-parte de erros.

Serão perniciosos para a Loja os senadores que, por convencimento ou falta de cautela, se derem demasiada importância a si próprios, à sua experiência, ao seu conhecimento da Loja, e insistirem em tentar impor os seus pontos de vista, as suas ideias, e busquem conduzir a Loja pelos caminhos que lhes suscitem os seus amores e os seus temores. Porque isso é arrogar-se ser dono da Loja e isso a Loja não lho permite. Com ou sem experiência. Mesmo conhecendo e respeitando toda a assiduidade e dedicação.

No fundo, a questão é sempre a mesma: o principal princípio que impera na Loja é a essencial Igualdade entre todos. Podem uns iguais atentar com especial atenção em iguais mais antigos e mais experientes. Nunca - e fazem muito bem! - aceitarão anular-se ou prestar injustificada vassalagem ao senador só porque o é. Tal como um maçom só o é porque é reconhecido como tal pelos seus Irmãos, a influência do senador na Loja é apenas aquela que os seus Irmãos lhe reconheçam.

É assim que deve ser . E, senador ou não, se porventura algum dia alguém se esquecer disto, corre o risco de falar, falar, falar, convencido de que convencerá os demais a seguirem o caminho que as suas palavras iluminam e, quando se der conta, verificar que está, afinal a falar sozinho...

Rui Bandeira

10 abril 2017

O obreiro e o Grande Oficial


Sempre que um obreiro de uma Loja é eleito ou designado Grande Oficial é uma satisfação para essa sua Loja e os que a integram. Para além do mais, é um reconhecimento do valor do obreiro e esse resulta também do trabalho da Loja. Mas, assim sendo, devem ambos, obreiro e Loja, estar cientes que esta situação implica a necessidade de alguns ajustamentos, seja em termos de disponibilidade do obreiro em relação à Loja, seja sobretudo em termos de relacionamento entre o novel Grande Oficial e os demais elementos da sua Loja.

Quanto às consequências para a disponibilidade do obreiro em relação à sua Loja, dependem as mesmas do tipo de ofício  que o Grande Oficial vai desempenhar. Haverá poucos constrangimentos se se tratar de um ofício com atividade essencialmente ritual e exercida em sessões de Grande Loja. Nesse caso, o obreiro poderá manter a sua disponibilidade praticamente total para a sua Loja, pois apenas estará impedido no decurso das sessões rituais de Grande Loja e terá só que compatibilizar as suas tarefas em Loja com o estudo e preparação da sua intervenção ou atuação enquanto Grande Oficial. Já se o ofício na Grande Loja for de natureza administrativa ou implicar alguma dedicação de tempo, inevitavelmente que a participação e colaboração na Loja do Grande Oficial que assumiu esse tipo de responsabilidade se ressentirá. 

Esta necessidade de afetação de tempo ao cumprimento de ofício de Grande Oficial deve sempre estar presente no espírito do obreiro, de modo a que este salvaguarde o justo equilíbrio entre a sua disponibilidade e o cumprimento das suas obrigações e o seu desempenho, quer perante a Grande Loja, quer perante a Loja. Tocar demasiados instrumentos em simultâneo faz com que nenhum seja executado com a devida qualidade... Assim, o obreiro deve estar sempre consciente das limitações decorrentes do exercício de ofício em Grande Loja em relação à sua Loja e necessita de utilizar, mais frequentemente do que desejaria, a palavra "não". Não aceitar tarefas que, por colidirem com o ofício em Grande Loja ou com o tempo que precisa de lhe dedicar, não poderá vir a cumprir com qualidade e eficiência é imposição de bom senso. Por sua vez, a Loja e os seus responsáveis deverão ter sempre presente a limitação que impenda sobre o obreiro, resistindo à tentação de o procurar convencer a "dar um jeitinho". Quer se queira, quer não, a qualidade, o acerto ou a eficiência na execução da tarefa será sempre afetada. Ou então fica afetado o cabal desempenho ds obrigações enquanto Grande Oficial...  Pode a acumulação insensata eventualmente ser suportada, sem grande problema, durante algum tempo, com esforço acrescido do obreiro Grande Oficial. Mas, para além da injustiça que constitui a sobrecarga infligida ao obreiro, sempre se aumenta o risco de, mais tarde ou mais cedo, ele vir a falhar em algo que não falharia, não fosse essa sobrecarga.

No entanto, por muito importante que seja - e é! - a consideração da disponibilidade, a questão essencial respeita ao relacionamento entre a Loja e o seu obreiro Grande Oficial. Isto de ser Grande Oficial tem agarradas algumas implicações que propiciam desvios do correto relacionamento entre a Loja e o seu obreiro Grande Oficial. Afinal todos somos humanos e nenhum de nós é perfeito... O Grande Oficial usa um avental todo bonito, todo cheio de arrebiques e dourados (e também carote, diga-se em abono da verdade...). O Grande Oficial tem direito a tomar lugar no Oriente, ladeando o Venerável Mestre e, quando presente, o próprio Grão-Mestre. O Grande Oficial, naturalmente, é credor da cortesia de saudação específica. Tudo isso propicia a sensação de "importância", de "poder", de "autoridade", de diferença entre o Grande Oficial e os demais obreiros da Loja. Pode propiciar tudo isso, mas a Loja ou o Grande Oficial que porventura caírem numa dessas armadilhas estão a precisar de uma reciclagem sobre o seu entendimento do que é a Maçonaria e do que é ser maçom! 

A este respeito e para evitar dissabores e erros, é importante que a Loja e o Grande Oficial tenham sempre presentes dois princípios, que, sendo-o, por natureza são inegociáveis: (1) ser Oficial da Loja ou ser Grande Oficial, não é uma honra, é um serviço; (2) todos os maçons, desde o mais recente Aprendiz ao Grão-Mestre, passando por todos os obreiros que, com discrição, procuram cada dia ser um pouco melhores do que eram na véspera, são essencialmente iguais.

Ser Oficial de Loja ou ser Grande Oficial não é uma honra, não é um privilégio, não é um título. Ser Oficia de Loja ou ser Grande Oficial é, simplesmente, assegurar um ofício, uma tarefa. O Oficial de Loja não é comparável ao Capitão ou Major de uma Companhia ou Batalhão, Ser Grande Oficial não tem, em bom rigor, nada a ver com ser General de um Exército. O termo "Oficial" não tem nada a ver com nomenclatura militar. Em Maçonaria, Oficial é o que assegura um ofício, o que cumpre uma tarefa. Tão só!

Em Loja, todos, rigorosamente todos, são essencialmente iguais e como iguais são e só podem ser tratados. Eventuais deferências são devidas à função, não ao que a exerce. O Grande Oficial não tem nem mais um pingo de importância por o ser. É exatamente como era até ao momento em que começou a exercer o ofício e como será depois de o deixar de exercer. Não tem assim importância acrescida em relação aos demais obreiros. Continua a ser mais um entre todos e é assim que deve ser e que se deve sentir confortável. A sua palavra tem o mesmo peso que tinha antes de ser Grande Oficial, tem a mesma importância do que a de qualquer outro Mestre da Loja.

O obreiro pode ser Grande Oficial. Mas na sua Loja é apenas - e tanto é! - mais um igual entre iguais. Na sua Loja, o Grande Oficial pode usar um avental todo apinocado, pode sentar-se no Oriente, pode tudo isso. Mas continua a ser, a dever comportar-se e a ser tratado da única forma que faz sentido sê-lo na sua Loja: como um Irmão, mais um do grupo, mais um entre todos. E muito isso é! E sobretudo é o que interessa!

O obreiro pode ser Grande Oficial. Mas, antes de tudo, acima de tudo, mais importante do que tudo, continua a ser um obreiro da sua Loja.   

Rui Bandeira

13 março 2017

A crise da Loja

Li já há algum tempo que um maçom americano, académico, efetuou um estudo sobre a Maçonaria europeia e as suas Lojas, tendo concluído, além do mais, que as Lojas maçónicas europeias, independentemente da respetivas Obediências e ritos praticados, tinham tendência a atravessar crises significativas a intervalos entre cerca de 25 a 35 anos. Mais  concluía o dito investigador que essas crises que assolavam as Lojas europeias ou não eram superadas e a Loja abatia colunas, ou eram superadas e a Loja reforçava-se na sua solidez.

Não recordo já quem foi esse académico maçom e porventura haverá razão para esse esquecimento, pois, com todo o respeito pelo trabalho de investigação, tratamento de dados e análise que terá tido, estas suas conclusões não se me afiguram serem estrondosa novidade nem incrível descoberta, antes puro e simples senso comum. O que, no entanto, não retira valor ao trabalho efetuado, pois, pelo menos, tem a virtude de alertar para a questão. O facto de algo ser de senso comum não significa que se esteja atento a isso...

Para mim, é pura questão  de senso comum que, ocorrendo uma crise numa Loja (e já agora, em qualquer organização social humana...), das duas, uma: ou a crise não é superada e a Loja (a estrutura social) chega ao seu fim, não tendo mais condições para prosseguir a sua atividade, ou é superada e essa superação resulta num reforço da solidez da Loja (estrutura social). Já há muito que diz o Povo, na sua proverbial e secular sabedoria, que o que não mata, engorda!

Quanto ao estabelecimento da existência de crises em ciclos de 25 a 35 anos, bem vistas as coisas também não é fator de grande admiração, sendo mesmo evidente a causa de tal: a transição geracional.

Que existe uma relação de simbiose ente a Loja e os respetivos obreiros, geradora de modificações na Loja e em cada um dos obreiros, já o tinha mencionado no texto O outro termo da equação. Que as opções organizativas e de funcionamento de Loja determinam a sua evolução, também o mencionei no texto Da diferente evolução das Lojas. Resta consignar que um importante fator na evolução das Lojas é a transição de gerações.

A caraterística diferenciadora da transição geracional em relação aos outros fatores de evolução de uma Loja é que, enquanto os demais decorrem em harmoniosa, lenta e mesmo impercetível, ou quase, mudança, aquela propicia ou impõe uma potencial abrupta correção  do paradigma da Loja.

A Loja consolida-se num grupo, mais homogéneo ou heterogéneo, também em termos de idades. Cria os seus hábitos, as suas rotinas. Estabelece os seus princípios e fixa os seus objetivos. Qualquer problema é resolvido tendo em conta esses princípios, hábitos, rotinas e objetivos. O padrão é harmonioso e durável. Até ao momento em que porventura deixa de o ser... O que mudou? Em bom rigor, nada. Ou, se preferirmos, tudo! O fator de mudança, de possível estabelecimento de crise, de fixação de patamar a ser superado, de mudança a ser efetuada de forma mais abrupta do que se estava habituado é bem conhecido de todos nós. Tão bem conhecido, que até nos esquecemos dele: a passagem do tempo!

Num dado período, os problemas são resolvidos de determinada forma e tudo vai bem. Mas, 25 a 35 anos passados, de repente verifica-se que os problemas de agora são diferentes dos de antes, que a forma de lidar e trabalhar da Loja, que antes foi eficaz, que ao longo do tempo foi satisfatória, agora já não satisfaz. Porventura os problemas são os mesmos ou de idêntica natureza, mas agora apresentam-se de forma diferente ou necessitam de uma diferente rapidez na sua resolução. Ou a simples evolução do mundo e do ambiente social, e das tecnologias, e da sociedade, tornam obsoletamente ineficaz o que antes fora remédio acertado. 

Em dado  momento, com surpresa, a Loja apercebe-se que os seus hábitos, as suas rotinas, as suas formas de lidar com as situações não obtêm já os mesmos resultados positivos de anteriormente. No entanto, a evolução desde há anos e anos foi harmoniosa. Muitos dos que ajudaram a estabelecer as rotinas, os hábitos, os procedimentos, continuam a ser preciosos e respeitados elementos da Loja. Os que se lhes foram juntando integraram-se harmoniosamente e foram dando a sua contribuição para a paulatina, normal e expectável evolução da Loja. Nem sequer se pode, honestamente, dizer que se faz agora como se fazia há 25 ou 35 anos. Mudanças e evoluções naturais foram ocorrendo. Os mais novos integraram-se no que os mais antigos construíram. Os mais antigos foram evoluindo com os mais novos. Como se explica que se descubra agora um desfasamento? 

A resposta está na paulatina e imperturbável passagem do tempo e na erosão que esta causa nas pessoas e nas estruturas. Aqueles que há 25 ou 35 anos foram os pilares da Loja hoje já não o são, já deram o lugar na primeira fila a outros. Onde antes decidiam e assumiam responsabilidades, agora assistem e limitam-se a aconselhar. E, se não for assim, se o poder de decisão e de execução ainda neles reside, então o problema da Loja é bem pior! 

Agora a Loja é dirigida por outra geração de homens bons que pretendem tornar-se melhores. Utilizam as regras e os procedimentos que encontraram, que aprenderam, que, aqui e ali, foram sendo naturalmente modificadas. Mas não são as suas regras. São as que receberam. Adaptaram-se a elas. Mas, em maior ou menor medida, a evolução delas não logrou acompanhar a diferença que a sua geração faz em relação à anterior, em sintonia com a evolução da Sociedade, do mundo e da técnica. Agora são eles que dirigem, mas o volante e o assento não estão ergonomicamente adaptados a si - ainda estão feitos à imagem e semelhança da geração anterior.

O problema é que a geração anterior ainda aí anda. E é respeitável e respeitada. Afinal, tem muito mais anos disto do que a atual. E criou e manteve as regras que serviram a Loja durante muitos anos. E pensa e defende que o que antes foi bom para a Loja não há razão para não continuar a ser bom agora.

O dilema é que agora a responsabilidade é de outra geração. Que respeita e considera os mais antigos. Que compreende as regras que estabeleceram e em que se integraram. Mas que não se sente já confortável nelas. Sobretudo que vê não terem elas a mesma eficácia que tinham. Que concluiu que alguma coisa tem de mudar para que a Loja possa continuar a ser essencialmente a mesma auspiciosa realidade em que, gostosamente, entraram.

Que periodicamente esta questão se ponha na Loja não é nada de admirar. É a vida a decorrer. Simplesmente. Por muito cordata e harmoniosamente que se tenha processado a evolução, chega sempre um momento que não basta evoluir, que há um degrau a vencer, uma mudança a fazer, em que a evolução em tudo não chega, em que se tem de inventar e fazer diferente e novo. E em que convivem elementos que criaram o que há e a quem lhes custa que se mude o que com eles resultou com novos obreiros que veem que há mudanças a fazer e têm a tendência de mudar tudo, por vezes pondo desnecessariamente em causa algo que vem de trás.

A crise necessariamente que chega quando ocorre a transição geracional. Para a resolver satisfatoriamente é imperioso que uns aceitem que nem tudo o que com eles funcionou bem continua a ser suscetível de bem continuar a funcionar e que os outros interiorizem que nem tudo o que vem de trás está obsoleto e ultrapassado, que mudar não é fazer tábua rasa do que existe, antes aproveitar do que há o que é útil que continue, modificar o que convenha ser modificado e introduzir de novo o que seja útil que de novo se acrescente.

Com Sabedoria na atuação, Firmeza, que é Força, nas escolhas e Elegância, que é Beleza, no trato, a Loja consciente do desafio enfrenta-o, muda o que tem a mudar, conserva o que tem a conservar, honra os mais antigos pelo que fizeram e continua a beneficiar da sua experiência e prossegue nas novas bases que os novos tempos, os novos hábitos, as diferentes circunstâncias aconselham.

A Loja que o não souber fazer inevitavelmente que definha, declina, progressivamente vê as suas colunas minadas até ao momento em que elas abatem. A Loja que souber reconhecer a sua crise e as suas causas e lograr efetuar as mudanças necessárias, sem ser contra ninguém, mas com todos colaborando no essencial, essa, sim, fortalece-se e prossegue galhardamente... por mais 25 ou 35 anos, até se voltar a pôr em causa e se reformular de novo.

O académico Irmão americano estabeleceu isto. Mas - digam-me lá! - bem vistas as coisas é ou não questão de simples bom senso?

Rui Bandeira

06 março 2017

Da diferente evolução das Lojas


Um aspeto que é importante na vivência maçónica é a visitação, isto é, a comparência, assistência e, se o desejar, intervenção de um maçom de uma Loja em sessão de outra Loja. Ao visitar outra Loja, ainda que da mesma Obediência e cidade, embora ambas trabalhando no mesmo rito e utilizando precisamente o mesmo ritual, o maçom apercebe-se de discretas diferenças entre o que a Loja visitada faz e o que a Loja que integra pratica. Se esse maçom continuar a visitar a mesma Loja em várias sessões, aperceber-se-á inevitavelmente que existem diferenças de cultura entre ambas as Lojas, a visitada e a sua. Diferenças porventura ao nível da forma de debater as questões, ou da tomada de decisões, ou ao nível da instrução dos Aprendizes e Companheiros, ou da autonomia dos Oficiais do Quadro, ou ao nível de um sem-fim de aspetos. Reconhece a Loja que visita como uma Loja maçónica similar à sua. Verifica que, na essência, são da mesma natureza e prosseguem a mesma finalidade. Mas a forma como o fazem, como traçam e seguem os respetivos caminhos, são diferentes. Em suma, facilmente verifica em cada uma é diferente em relação à outra naquilo que comummente os maçons designam como o projeto da Loja.  

Fazer essa verificação, adquirir essa noção, é intrinsecamente bom para o maçom. Verifica assim diretamente que não há uma única maneira de fazer as coisas, que se pode agir corretamente de variadas formas, aprende que a sua Loja, por ser a sua, não é a detentora do segredo da perfeição na atuação maçónica. 

Mas afinal como se processa o mecanismo que faz com que grupos de pessoas partilhando os mesmos objetivos, prosseguindo os mesmos propósitos, utilizando o mesmo método, acabem por acumular diferenças, umas mais subtis, outras mais evidentes, ao ponto de ser possível detetar verdadeiras diferenças na cultura de cada Loja?

A resposta é simples: a causa está em nós, em cada um de nós e em todos os integrantes de cada Loja. Cada um de nós é diferente, dentro da nossa essencial igualdade. O conjunto de maçons de cada Loja necessariamente que é diferente do de outra Loja. Essas diferenças vão-se traduzir em posturas, escolhas, hábitos, relações com leves ou mais acentuadas diferenças. O conjunto de caraterísticas dos elementos de uma Loja, das respetivas interações, práticas e hábitos individuais e coletivos, formas de trabalhar, de preparar, de organizar, de executar, vai estabelecer o quadro de cultura de cada Loja.

Um hipotético exemplo: duas Lojas, da mesma Obediência, trabalhando o mesmo rito, reunindo na mesma cidade, estabeleceram duas práticas diferentes em relação a um aspeto rotineiro da Loja. Uma apenas admite a inquéritos para Iniciação e, se aprovados, a provas de Iniciação, elementos que sejam conhecidos e das relações dos obreiros da Loja; a outra admite iniciar candidatos que tenham manifestado o propósito de serem iniciados maçons em contacto com a Loja, ainda que não sendo pessoas das relações de nenhum dos obreiros dela, embota tenha estabelecido um mais completo e cauteloso processo de análise, de forma a proteger-se de mal-intencionados, arrivistas e oportunistas.

A primeira Loja ganhará em coesão o que perde em diversidade. Tendencialmente, cresce e evolui em segurança, sem grandes surpresas nem clamorosos erros de casting, mantendo um conjunto de obreiros com caraterísticas, posturas, origens e estatutos sociais semelhantes e semelhantes formas de ver a vida. Mantém-se um grupo de amigos que se alarga. Tem tendência a fechar-se na sua zona de conforto. O que fizerem fazem bem, em conjunto, mas terão pouca apetência para inovar e arriscar.

A outra, porque aceita e integra estranhos aos seus elementos, arrisca muito mais. Ganha em diversidade, mas tem que construir mais laboriosamente a coesão que conseguir criar. Está sujeita a mais erros de casting, mas aprende a lidar com eles e a superá-los sem dificuldades de maior. Progressivamente vai alargando as origens sociais e profissionais dos seus elementos. Tem uma maior diversidade de pensamentos e de posturas em relação à vida e a todos os seus aspetos, opções políticas e religiosas incluídas. Tem tendência a arriscar, a atirar-se para fora de pé. Por vezes terá agradáveis sucessos. Outras suportará falhanços. Facilmente terá dois, três ou quatro projetos em preparação ou execução, divididos por vários grupos de obreiros da Loja. Convive muito bem com a diferença. Aprende a tirar partido dela. Terá períodos muito gratificantes e períodos de desorientação, pois o seu potencial criativo está no mesmo plano que o seu potencial de desorganização. Será tudo menos aborrecida, mas pagará o preço de ser por vezes inconsequente.

Vejamos outro exemplo: uma Loja definiu uma linha de sucessão para a sua liderança e segue-a, não tendo lutas eleitorais. Outra, pelo contrário, pratica a democracia pura e dura, periodicamente se confrontando candidaturas e efetuando escolhas. 

A primeira tem a vantagem de poder programar a prazo mais dilatado. Não gasta tempo nem energias a sanar diferenças nem diferendos com origem em pugnas eleitorais. Mantém uma certa continuidade no estilo da sua liderança. A transição geracional é mais suave, mas muito mais prolongada. Quem chega tem de esperar pela sua vez. A evolução da Loja tem tendência a ser lenta, reproduzindo esta os hábitos consolidados. Ganha em estabilidade o que perde em capacidade de adaptação rápida às mudanças.

A outra está mais sujeita a conflitos, a cisões, a perdas de tempo com a gestão e ultrapassagem das sequelas dos confrontos eleitorais. Tem tendência a súbitas mudanças de estilo de liderança. Faz fáceis, rápidas e, mesmo, abruptas transições geracionais. Chama à liderança os elementos que mais se destacam. A evolução da Loja tende a ser rápida, com mudanças frequentes de hábitos, estilos e posturas. Ganha em capacidade de adaptação o que perde em estabilidade.

E muitas outras variantes existem, combinando-se e recombinando-se, de forma a gerar verdadeiras idiossincrasias típicas de cada Loja.

Cada Loja é diferente, funciona de forma diferente e evolui de forma diferente. Cada Loja comporta-se e efetivamente é uma uma família diferente das demais. Mas, tal como as famílias biológicas educam as suas crianças e jovens e fazem deles adultos válidos, tendo cada família a sua individualidade própria, com as respetivas tradições, os seus hábitos e as suas formas de lidar com as situações, assim também cada Loja ajuda à melhoria de cada um dos seus obreiros, segundo as tradições que estabeleceu, os hábitos que criou e a sua respetiva forma de trabalhar.

Rui Bandeira

20 fevereiro 2017

O outro termo da equação


A afirmação de que o que se busca na Maçonaria é o aperfeiçoamento individual através da interação com a Loja transcrita para linguagem matemática seria qualquer coisa como Maçom + Loja = Aperfeiçoamento.

O primeiro termo da equação, o Maçom, é abundantemente tratado nos escritos, nos seus mais variados aspetos. É natural: os maçons que escrevem sobre Maçonaria integram eles próprios o primeiro termo da equação, conhecem-no literalmente por dentro e por fora, é mais fácil escrever sobre o que se conhece, analisar o que o próprio sente, definir os objetivos que o próprio anseia.

Mas, para que a equação funcione, exista realmente, é indispensável a presença e o efeito do seu segundo termo: a Loja. É a Loja que é o ponto de confluência de todos os obreiros, onde todos levam as suas idiossincrasias pessoais, mas também os seus esforços, preocupações e anseios. É no confronto de tudo aquilo que se junta e partilha na Loja que cada um escolhe e retira os materiais e as ferramentas que utilizará no seu próprio desbaste. Ser maçom só faz plenamente sentido se e quando integrado em Loja. Aí, sim, o método disponível para ao aperfeiçoamento individual concretiza-se. Maçom e Loja completam-se e mutuamente se influenciam.

Há muita matéria escrita sobre o primeiro termo da equação, o maçom. Sobre o segundo termo dessa equação, a Loja, os elementos disponíveis são muito menos. Não é só por ser mais fácil escrever sobre o maçom do que sobre a Loja. É também porque, se bem virmos a coisa, a relação entre o maçom e a Loja é similar ao que, dizem os entendidos no assunto, sucede no âmbito da física quântica: o observador, pelo simples facto de observar o fenómeno, altera esse fenómeno. 

Efetivamente, o maçom integra-se numa Loja. É influenciado por ela, mas também ele próprio a influencia. O simples facto de o maçom observar, analisar, efetuar juízo crítico sobre a sua Loja, faz com que, seja a sua análise melhor ou pior, seja o resultado dela mais ou menos agradável, altere a perceção que dela tinha. E, ao tal suceder, inevitavelmente que se modifica, quiçá impercetivelmente, a sua relação com a Loja e, assim, a forma como a Loja o influencia, mas também a sua própria influência sobre a Loja. O simples facto de observar a Loja resulta na modificação da Loja observada, tal como na modificação do próprio observador. Mudanças insignificantes, impercetíveis, talvez. Mas estão lá, ficam lá, interagem com outras subtis modificações. Assim evolui o maçom. Assim evolui a Loja. Assim evoluem ambos.

Esta relação mutuamente influenciadora entre o maçom e a sua Loja deve alertar-nos para a necessidade de não nos concentrarmos apenas no primeiro termo da equação, o maçom, isto é, nós - apesar de ser esse, de sermos nós, o objetivo principal -, mas também não descurar a atenção no segundo termo da equação, a Loja.

Não nos enganemos: a Loja não são as paredes dentro das quais nos reunimos. Não são os adereços que nos rodeiam. Não é o mero ambiente que criamos. Nem o conjunto de lições que aprendemos. A Loja é, somos, o conjunto de maçons que nela se integram. A Loja não é ELA. A Loja é NÓS.  A Loja, sendo algo diverso de nós, é algo de que nós fazemos parte, que nós influenciamos e que nos influencia.

O maçom deseja aperfeiçoar-se. É meritório. Ao fazê-lo, está a cuidar de si. Mas o maçom sabe que a sua tarefa só plenamente se executa se em consonância, em interação, com sua Loja. Assim sendo, o mínimo de bom senso manda que também se preocupe com a sua Loja, com o bom estado dela. E, repito, o que aqui menos importa são as paredes, a decoração ou os artefactos. O que importa, a essência da Loja, são os seus obreiros. Um a um. Todos. O conjunto de todos. A influência de cada um sobre cada um e sobre todos e a influência de todos sobre cada um.

Observar, estudar, a dinâmica da Loja, procurar determinar o estado dela, as correções que nela porventura haja a fazer, o contributo que relevantemente a ela possamos dar, é tarefa que o maçom não deve, não pode descurar. É uma tarefa ciclópica, eu sei! Parece, muitas vezes, uma tarefa impossível, de tal forma se nos afiguram insignificantes os resultados que a nossa ação individual é suscetível de obter, também o sei. Mas a colmeia vive e cresce graças ao aparentemente insignificante resultado do trabalho de cada uma das suas abelhas...

O maçom que aprendeu a sê-lo não esquece que tem de zelar pelos dois termos da equação. Porque o resultado individual depende do coletivo. Porque o coletivo depende do individual, mas também influencia o individual. Ao zelar pelo bom estado da sua Loja, o maçom está simultaneamente a melhorar-se a si próprio. Ao melhorar-se a si próprio, está a contribuir para a melhoria da sua Loja.

Bem vistas as coisas, sim, a relação entre o maçom e a sua Loja é como a física quântica: parece muito difícil, aparenta ser muito inacessível, mostra-se muito esotérica, mas o que é preciso é afinal apenas trabalho e bom senso!

Rui Bandeira 

16 maio 2016

"A Maçonaria e as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação..."


A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues Nº5, Loja que acolhe os membros deste blogue, encontra-se inserida na denominada e reconhecida Maçonaria Regular, Maçonaria esta com um aspeto mais conservador e tradicional, uma vez que respeita e faz por respeitar os Landmarks maçónicos consagrados pela Grande Loja Unida de Inglaterra.
Mas apesar desta Maçonaria ser conservadora nos seus princípios, ela não se tornou arcaica nem deixou de evoluir com a passagem do tempo e teve de se adaptar às mudanças que foram ocorrendo com o progresso da sociedade, nomeadamente no que toca às "Novas Tecnologias".

No caso da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues Nº5, para além do blogue que está neste momento a visitar, ela tem também uma página na Internet que pode consultar aqui, para além da Obediência Maçónica em que está filiada, a Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal ter a sua página própria na "rede" que também pode ser visitada aqui.

Não somos caso único e ainda bem, pois com a proliferação de Lojas que têm presença na "rede", seja através de blogues, páginas  ou revistas/magazines,  é possível tanto a maçons como profanos, conhecer o trabalho feito por essas Lojas bem como da Maçonaria na sua generalidade.

Esta abertura ao mundo, descredibiliza à partida a suposta secreticidade da Maçonaria, imposta por algumas teorias conspiratórias que costumam usar como bandeira, o "segredo" "ou "sigilo" que a Maçonaria poderá impor aos seus membros. E mostrando o que as Lojas fazem, seja através de trabalhos escritos ou com a sua presença na Sociedade, através de ações beneméritas e filantrópicas, a Maçonaria mostra o que faz e porque o faz...
O que também possibilita aos profanos que se identificam com os princípios maçónicos solicitar a sua adesão e conhecer uma "porta" onde bater, o que levou exponencialmente ao aumento do número de adesões nas Lojas Maçónicas.

A partilha de trabalhos na "rede" permite porém, a quem se encontra longe dos grandes centros urbanos, ter uma forma de obter esses mesmos trabalhos que de outra forma lhe seriam mais difíceis de obter.
Para além do comércio eletrónico de produtos maçónicos que também se tornou um negócio promissor e a ter em conta também, aproveitando o crescente interesse que a Maçonaria despertou nos últimos anos.

Mas o menos positivo desta abertura às novas TIs, é que acaba por ser difundido muito material maçónico que ou não deve ser exposto publicamente por ser material da vida interna de cada Loja, bem como na maioria das vezes se tratar de material que nem verídico ou fidedigno será, levando ao engano alguns incautos e menos informados sobre aquilo que a Maçonaria trata. Esse de facto é para mim um dos graves problemas que afetam a Ordem Maçónica.

Às vezes aprende-se mais procurando diretamente nas "fontes" do que aceitar facilmente aquilo que se apresenta e sem qualquer trabalho. Aliás um dos "motes" da Maçonaria é trabalhar incessantemente em busca da iluminação/perfeição, pois nada se adquire ou atinge sem trabalho. 

E depois do que aflorei anteriormente, porque não efetuar uma busca num dos vários motores de busca existentes (ex:Google) sobre as várias Lojas Maçónicas que proliferam pelo globo e consultar os trabalhos efetuados pelos maçons por este mundo fora, ficando aqui esta minha sugestão. 

30 novembro 2015

Compromisso (republicação)

O texto que hoje revê a luz é da autoria do Rui Bandeira e assenta naquilo que enquanto alguns possam considerar como deveres ou obrigações conforme do seu ponto de vista e forma de estar, eu, pessoalmente, considero tal como "qualidades". Qualidades essas que acho que devem ser intrínsecas aos maçons.
Desta forma abaixo Vos deixo transcrito o referido texto e que também ele pode ser consultado na sua versão original aqui.

"Compromisso

Porque a Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entre cada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se através do que obtém do contributo do trabalho dos demais, a condição do sucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numa palavra: COMPROMISSO.

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quem não está, não participa). COMPROMISSO em relação ao cumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto ao pagamento das respetivas quotas (pois a manutenção da estrutura tem custos, que necessariamente têm de ser equitativamente suportados por todos os que a integram). COMPROMISSO em relação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dos resultados do seu esforço.

Uma Loja maçónica potencia, acrescenta, valoriza, através de todo o grupo, a valia individual de cada um. É um fermento que auxilia no crescimento da massa que cada um amassa. Mas o fermento de nada serve se não houver farinha para amassar ou se ninguém se dispuser a executar ou a cooperar na tarefa de fazer a massa...

Uma Loja maçónica vale a soma do valor de cada um dos seus obreiros, acrescentada da mais-valia resultante das sinergias, complementaridades e eficiências geradas pela cooperação no grupo. Mas de nada serve o valor que potencialmente algum elemento possa dar ao grupo. Só importa o que efetivamente dê, transmita, acrescente.

Uma Loja de eminentes pessoas que se juntem apenas dar conta das respetivas eminências mas se não deem ao trabalho de produzir, fazer, compartilhar, pode ser uma eminente Loja - mas está na iminência de ser um completo e absoluto fracasso!

Por seu turno, uma Loja que agrega homens comuns, sem particular engenho, sem especial importância, sem extraordinária inteligência, se estes dedicada e persistentemente trabalharem, partilharem, propuserem projetos, debaterem e executarem alguns, fará sucessivamente pequenas coisas, modestos empreendimentos, pequenas obras - mas o conjunto do que fará terá cada vez mais significado. Cada um sentir-se-á satisfeito com cada pequena conquista e propenso a continuar a ajudar, a colaborar, a propor, a fazer.O esforço de cada um, devidamente coordenado, propicia resultados coletivos visíveis. Essa Loja pode ser de formiguinhas - mas será uma Loja bem mais satisfatória do que a "eminente" Loja de homens eminentes que nada façam além de observarem as suas mútuas "eminências"...

O COMPROMISSO tem de ser persistente, constante. De pouco vale hoje o que se fez de bom há anos atrás. Será uma história bonita, mas é já passado. Serve como exemplo, como inspiração, mas não substitui o trabalho de hoje para lograr a realização de amanhã.

O maçom que se queixa de que a sua Loja nada faz, que as sessões "são sempre a mesma coisa", se só faz essa constatação e nada mais faz para superar aquilo de que se queixa, esse é precisamente um dos culpados da situação que acusa. É estulto queixar-se que "a Loja não tem projeto". O que há a fazer é tomar a iniciativa de fazer, ele próprio, algo que considere valha a pena ser feito - por pequeno, por modesto que seja. E, pelo exemplo e persuasão, levar outros da Loja a também tomarem a iniciativa de fazer pequenas coisas. Ao fim de algum tempo, três, cinco, dez, vinte pequenas coisas feitas já constituem algo que se veja, algo que merece alguma satisfação pelo dever cumprido...

Ou então, em vez de se aguardar, expectante mas indolentemente, que a Loja imagine, descubra, prepare, debata, organize e execute o fantástico, importantíssimo e relevantíssimo projeto que gravará a letras de ouro o nome da Loja nos anais da História Maçónica e quiçá mereça uma nota de rodapé nos manuais do ensino elementar das futuras gerações, talvez seja melhor conceber um pequeno projeto, dar vida a uma ideia cuja forma final ainda nem sequer se saberá qual vai ser, combinar com dois ou três dos seus Irmãos e começarem a executar. Não é necessário que toda a Loja formalmente adote o projeto (mas convirá que não se trate de iniciativa que mereça a discordância da Loja...). Dois ou três começam. Dois ou três ou quatro dão os primeiros passos de algo que é feito em nome da Loja, enquanto elementos da Loja. Se efetivamente a ideia tiver pernas para andar, mais cedo do que mais tarde os demais ajudarão, incentivarão, participarão. E, quando nos damos conta, o projeto é já mesmo o projeto da Loja - não dos dois, três ou quatro que o iniciaram -  e terá condições para ser prosseguido enquanto houver Loja...

Na Loja Mestre Affonso Domingues nunca nos preocupámos em fazer grandes organizações. Tudo o que na nossa Loja se foi fazendo começou da mesma maneira: dois ou três ou quatro conversam e avançam, os outros vão dar uma ajuda e, sem disso nos darmos conta, o que se faz é já de todos, é já da Loja. Foi assim que começaram as ações de doação de sangue - e há mais de dez anos que periodicamente ajudamos neste campo. Por vezes com poucas doações, outras vezes com mais gente a associar-se. Mas faz-se! Quem começou já não está na Loja há muito tempo. Os mais novos nem sequer ouviram falar dele. Mas a semente que lançou germinou e, mais de dez anos passados, uns anos mais, outros anos menos, os frutos continuam. É um contributo modesto, quase apenas umas gotas no oceano das necessidades, sabemo-lo. Mas persistirmos em dar esse contributo modesto e esperamos continuar a fazê-lo por muitos mais anos. É do conjunto de todos os modestos contributos que se satisfazem as necessidades de sangue no País.

Este blogue começou por ideia de um, concretização de outro e imediata adesão de um terceiro. Os três autores iniciais não criaram o "seu" blogue. Criaram um "blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues". Oito anos passados, outros se juntaram, mais de 1.300 textos estão à disposição de quem os quiser ler. E espero que continue mesmo quando já nenhum dos mentores iniciais nele escrever...

sítio da Loja  foi criado por iniciativa de um, com a ajuda de outro, foi remodelado e mantido por um terceiro, que conta agora com a ajuda de um quarto e os contributos de todos os obreiros da Loja. Contém já um enorme acervo de textos postos à disposição de qualquer pessoa.

A Loja não gastou um minuto sequer a discutir se criava um sítio na Internet ou se mantinha um blogue. Uns avançaram, outros ajudaram, todos contribuem quando é preciso ou têm disponibilidade. Mas a obra está feita e está à vista de todos. E não é obra do Manuel, do António ou do Joaquim. É obra dos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. 

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues têm um COMPROMISSO com a Loja. É estarem presentes. É tudo livre e lealmente debaterem, sem o mínimo problema, tolerando as posições divergentes, cada um concordando ou discordando quando assim o entender, e todos sermos um grupo unido e solidário. É cada um sentir-se à vontade para arrancar com um projeto, executar uma ideia, pedindo e obtendo, ou obtendo mesmo sem pedir, o apoio e a colaboração de outros obreiros - se valer a pena e for necessário, de toda a Loja.

O COMPROMISSO dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues não é de fazer a mais importante e merecedora de elogios obra que o espírito humano possa conceber, O seu COMPROMISSO é ajudar o seu Irmão a levar a cabo a sua ideia, é avançar com a execução das nossas ideias, sabendo que algum ou alguns dos nossos Irmãos estará ou estarão presentes com a sua ajuda.

O nosso COMPROMISSO na Loja Mestre Affonso Domingues é ir fazendo, em cada momento, o que for preciso para ajudar. Assim fazemos. Às vezes mais, às vezes menos, às vezes muito, às vezes pouco, às vezes bem, às vezes nem tanto assim. Mas, bem vistas as coisas, sempre algo se faz!

Rui Bandeira "

07 outubro 2014

Refletindo sobre a frase "Não sabemos o que se passa e precisamente é isso o que se passa" de Ortega Y Gasset...

(imagem proveniente de Google Images)
 
Nesta simples frase proferida pelo filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (09/05/1883-18/10/1955) e que se encontra na sua obra “ A Revolta das Massas” escrita em 1930, encontro um paralelismo com a postura que o mundo profano tem em relação à Maçonaria.
O atrás designado  mundo profano, a sociedade em geral, pouco conhece ou entende dos segredos e mistérios maçónicos, podendo apenas especular sobre o que farão os maçons nas suas reuniões e sessões de loja bem como qual a sua ação na sociedade civil. E, uma vez que os profanos pouco ou nada conhecem, muitos porque nem sequer se dão ao trabalho de tentar conhecer, especulam e especulam mal!
Várias vezes foi dito neste blogue, que tanto na internet como nas livrarias e bibliotecas espalhadas por esse mundo fora, existe um rol de informações fidedignas efetuadas tanto por maçons como por autores não maçónicos credíveis, tanto pela sua cultura como pela sua  idoneidade, que atestam a conduta da Maçonaria e o que ela representa nos vários países onde está inserida.
Este espaço tal como outros, é acessado por milhares de pessoas, sejam elas iniciadas ou não, que buscam conhecimento ou mera informação, outras quiçá algo mais… Algumas inclusivé, por mais que se lhes tente explicar o que é de facto a Maçonaria, para elas a sua intenção é meramente desestabilizar e nada aprender com o que lhes é transmitido, demonstrando apenas os seus preconceitos contra a Ordem Maçónica no geral, repudiando qualquer explicação que lhes seja oferecida. Há de tudo como na vida, “para todos os gostos e tamanhos”…
Todavia, tal como se pode depreender do que Ortega Y Gasset afirma,  o facto de não se ter conhecimento de algo, não significa necessáriamente que tal não exista. E se é usual os maçons  dizerem que a Maçonaria não é uma instituição secreta, é porque efetivamente todo o mundo a conhece e dela fala! Aquilo que é secreto nunca é abordado em lado algum. Quanto muito, esta Augusta Ordem terá uma postura discreta no que faz ou deixa fazer…
Mas por muito confuso que aparente a afirmação que fiz anteriormente, não cabe à Maçonaria fazer algo, caberá sim aos maçons o fazer!
Seja através de uma visão mais ortodoxa , seja por uma vivência mais liberal, o maçom tem o dever de intervir na sociedade, seja como alguém que vislumbrou  a luz ou seja como uma individualidade apenas. Uns (maçons) preferem fornecer as “ferramentas sociais e filosóficas” para uma evolução e aprimoramento da Sociedade, outros preferem serem eles mesmos, os “agentes de transformação” em prol do progresso da generalidade dos povos.
Não me compete a mim e nem me proponho a tal, decidir quem está mais certo ou menos correto na sua postura maçónica de intervenção social, acredito que há espaço para todos e isso para mim é de menor importância, porque acredito que um maçom nunca deverá baixar os braços,  pois se ele é uma centelha de luz, tem a obrigação de iluminar os demais…
E é fundamentalmente por este tipo de atitude que se encontra no ADN de um maçom que a Maçonaria não é aceite nem tolerada nos locais onde reine a anarquia ou a ditadura, seja esta ao nível governamental (países ditatoriais ou absolutistas), seja ao nível laboral (locais onde o “quero, posso e mando” são a lei patronal) ou até mesmo em lugares onde a religião assim o assuma e determine. Logo, a consequência mais direta de tais factos é a Maçonaria ser anatemizada socialmente e os seus membros,  alvos de constante estigmatização apenas por serem maçons.
Por isso deixo a seguinte reflexão:
Será que quem constantemente ataca  a Maçonaria, quem constantemente especula negativamente sobre a Ordem Maçónica na sua generalidade, saberá o que se passará no interior das lojas maçónicas?
Parece-me que não! E tal como Ortega Y Gasset bem  dizia e que eu  transponho para a Maçonaria, é isso o que precisamente se passa!

16 julho 2014

Compromisso


Porque a Maçonaria é um contínuo exercício de dar e receber entre cada maçom e os seus Irmãos, cada um aperfeiçoando-se através do que obtém do contributo do trabalho dos demais, a condição do sucesso nessa pretendida melhoria de todos pode resumir-se numa palavra: COMPROMISSO.

COMPROMISSO em relação à assiduidade de cada um (pois quem não está, não participa). COMPROMISSO em relação ao cumprimento dos deveres de cada um, designadamente quanto ao pagamento das respetivas quotas (pois a manutenção da estrutura tem custos, que necessariamente têm de ser equitativamente suportados por todos os que a integram). COMPROMISSO em relação ao trabalho, ao estudo individual, em relação à partilha dos resultados do seu esforço.

Uma Loja maçónica potencia, acrescenta, valoriza, através de todo o grupo, a valia individual de cada um. É um fermento que auxilia no crescimento da massa que cada um amassa. Mas o fermento de nada serve se não houver farinha para amassar ou se ninguém se dispuser a executar ou a cooperar na tarefa de fazer a massa...

Uma Loja maçónica vale a soma do valor de cada um dos seus obreiros, acrescentada da mais-valia resultante das sinergias, complementaridades e eficiências geradas pela cooperação no grupo. Mas de nada serve o valor que potencialmente algum elemento possa dar ao grupo. Só importa o que efetivamente dê, transmita, acrescente.

Uma Loja de eminentes pessoas que se juntem apenas dar conta das respetivas eminências mas se não deem ao trabalho de produzir, fazer, compartilhar, pode ser uma eminente Loja - mas está na iminência de ser um completo e absoluto fracasso!

Por seu turno, uma Loja que agrega homens comuns, sem particular engenho, sem especial importância, sem extraordinária inteligência, se estes dedicada e persistentemente trabalharem, partilharem, propuserem projetos, debaterem e executarem alguns, fará sucessivamente pequenas coisas, modestos empreendimentos, pequenas obras - mas o conjunto do que fará terá cada vez mais significado. Cada um sentir-se-á satisfeito com cada pequena conquista e propenso a continuar a ajudar, a colaborar, a propor, a fazer.O esforço de cada um, devidamente coordenado, propicia resultados coletivos visíveis. Essa Loja pode ser de formiguinhas - mas será uma Loja bem mais satisfatória do que a "eminente" Loja de homens eminentes que nada façam além de observarem as suas mútuas "eminências"...

O COMPROMISSO tem de ser persistente, constante. De pouco vale hoje o que se fez de bom há anos atrás. Será uma história bonita, mas é já passado. Serve como exemplo, como inspiração, mas não substitui o trabalho de hoje para lograr a realização de amanhã.

O maçom que se queixa de que a sua Loja nada faz, que as sessões "são sempre a mesma coisa", se só faz essa constatação e nada mais faz para superar aquilo de que se queixa, esse é precisamente um dos culpados da situação que acusa. É estulto queixar-se que "a Loja não tem projeto". O que há a fazer é tomar a iniciativa de fazer, ele próprio, algo que considere valha a pena ser feito - por pequeno, por modesto que seja. E, pelo exemplo e persuasão, levar outros da Loja a também tomarem a iniciativa de fazer pequenas coisas. Ao fim de algum tempo, três, cinco, dez, vinte pequenas coisas feitas já constituem algo que se veja, algo que merece alguma satisfação pelo dever cumprido...

Ou então, em vez de se aguardar, expectante mas indolentemente, que a Loja imagine, descubra, prepare, debata, organize e execute o fantástico, importantíssimo e relevantíssimo projeto que gravará a letras de ouro o nome da Loja nos anais da História Maçónica e quiçá mereça uma nota de rodapé nos manuais do ensino elementar das futuras gerações, talvez seja melhor conceber um pequeno projeto, dar vida a uma ideia cuja forma final ainda nem sequer se saberá qual vai ser, combinar com dois ou três dos seus Irmãos e começarem a executar. Não é necessário que toda a Loja formalmente adote o projeto (mas convirá que não se trate de iniciativa que mereça a discordância da Loja...). Dois ou três começam. Dois ou três ou quatro dão os primeiros passos de algo que é feito em nome da Loja, enquanto elementos da Loja. Se efetivamente a ideia tiver pernas para andar, mais cedo do que mais tarde os demais ajudarão, incentivarão, participarão. E, quando nos damos conta, o projeto é já mesmo o projeto da Loja - não dos dois, três ou quatro que o iniciaram -  e terá condições para ser prosseguido enquanto houver Loja...

Na Loja Mestre Affonso Domingues nunca nos preocupámos em fazer grandes organizações. Tudo o que na nossa Loja se foi fazendo começou da mesma maneira: dois ou três ou quatro conversam e avançam, os outros vão dar uma ajuda e, sem disso nos darmos conta, o que se faz é já de todos, é já da Loja. Foi assim que começaram as ações de doação de sangue - e há mais de dez anos que periodicamente ajudamos neste campo. Por vezes com poucas doações, outras vezes com mais gente a associar-se. Mas faz-se! Quem começou já não está na Loja há muito tempo. Os mais novos nem sequer ouviram falar dele. Mas a semente que lançou germinou e, mais de dez anos passados, uns anos mais, outros anos menos, os frutos continuam. É um contributo modesto, quase apenas umas gotas no oceano das necessidades, sabemo-lo. Mas persistirmos em dar esse contributo modesto e esperamos continuar a fazê-lo por muitos mais anos. É do conjunto de todos os modestos contributos que se satisfazem as necessidades de sangue no País.

Este blogue começou por ideia de um, concretização de outro e imediata adesão de um terceiro. Os três autores iniciais não criaram o "seu" blogue. Criaram um "blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues". Oito anos passados, outros se juntaram, mais de 1.300 textos estão à disposição de quem os quiser ler. E espero que continue mesmo quando já nenhum dos mentores iniciais nele escrever...

O sítio da Loja  foi criado por iniciativa de um, com a ajuda de outro, foi remodelado e mantido por um terceiro, que conta agora com a ajuda de um quarto e os contributos de todos os obreiros da Loja. Contém já um enorme acervo de textos postos à disposição de qualquer pessoa.

A Loja não gastou um minuto sequer a discutir se criava um sítio na Internet ou se mantinha um blogue. Uns avançaram, outros ajudaram, todos contribuem quando é preciso ou têm disponibilidade. Mas a obra está feita e está à vista de todos. E não é obra do Manuel, do António ou do Joaquim. É obra dos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. 

Os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues têm um COMPROMISSO com a Loja. É estarem presentes. É tudo livre e lealmente debaterem, sem o mínimo problema, tolerando as posições divergentes, cada um concordando ou discordando quando assim o entender, e todos sermos um grupo unido e solidário. É cada um sentir-se à vontade para arrancar com um projeto, executar uma ideia, pedindo e obtendo, ou obtendo mesmo sem pedir, o apoio e a colaboração de outros obreiros - se valer a pena e for necessário, de toda a Loja.

O COMPROMISSO dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues não é de fazer a mais importante e merecedora de elogios obra que o espírito humano possa conceber, O seu COMPROMISSO é ajudar o seu Irmão a levar a cabo a sua ideia, é avançar com a execução das nossas ideias, sabendo que algum ou alguns dos nossos Irmãos estará ou estarão presentes com a sua ajuda.

O nosso COMPROMISSO na Loja Mestre Affonso Domingues é ir fazendo, em cada momento, o que for preciso para ajudar. Assim fazemos. Às vezes mais, às vezes menos, às vezes muito, às vezes pouco, às vezes bem, às vezes nem tanto assim. Mas, bem vistas as coisas, sempre algo se faz!

Rui Bandeira