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24 novembro 2006

100 anos de vida



Quantos da minha geração (1940 e próximos) não "descobriram" o "OH2" (agora é "H2O", mas vale o mesmo), o "CO2", a "densidade" e a "pressão", os estados da matéria e a sua constituição,.... através de Rómulo de Carvalho ?

E quantos da minha geração não cantaram, disseram ou simplesmente leram a poesia de António Gedeão ansiosa, como nós na época, pela liberdade espiritual dos homens numa terra e numa época de opressão física e de sentido único espiritual ?

Faria 100 anos hoje, 24 de Novembro, e é por esta via que Lhe deixo a certeza de que a Sua obra em prole dos portugueses já ficou na história do País que ele ajudou a construir pela forma mais díficil, mas mais firme e consistente que é possível desenvolver, ensinando a "pescar" em vez de distribuir o "peixe".

Ensinou gerações de jovens a serem homens e mulheres, cidadãos de cidadania activa, e que a vida vale a pena ser vivida em conjunto, em fraternidade com outros homens e mulheres nossos irmãos.

Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956

Em 1969 este poema extraordinário apareceu no ZIP-ZIP e com ele a descoberta de uma esperança que teimava em esconder-se.

O agradecimento também a Manuel Freire que o cantou, e continuou a cantar, como mais ninguém.

A fraternidade porque trabalhamos é o sonho que comanda a vida e que põe o mundo a pular e a avançar como bola colorida, a caminho do Amor, da Paz e da Alegria que as crianças encarnam por inteiro, para a lição que a grande maioria dos homens teima em não aprender.

Certo é, que é o sonho que comanda a vida !

Já agora e a despropósito (será ?) arrisco em ter a certeza que Rómulo de Carvalho aceitaria de bom grado ser avaliado e com alegria estaria presente em todas as aulas de substituição que fossem necessárias.

JPSetúbal