22 janeiro 2018

A prece e a Maçonaria


 O texto Oração para qualquer crente de qualquer crença recebeu, num grupo fechado de uma rede social, o seguinte comentário:

 Esta "oração" pode ser lida (interpretada) por qualquer crente de qualquer religião, mas no seus redutos afins. Em maçonaria não! A maçonaria não é uma religião. Nos seus templos não devem (não podem) existir orações do tipo religioso. Ainda que em ritos com tendência religiosa este género de orações possam existir, isso será apenas uma particularidade (corpos rituais). Quando a maçonaria enveredar por esse caminho estará acabada (para o país ou obediência que tome esse caminho). Fernando Pessoa não era maçon, embora não fosse leigo.

Respeito em absoluto esta opinião, que exprime, de forma correta, um ponto de vista diverso do meu. Concordo, aliás, com a afirmação de que a maçonaria não é uma religião, bem como com a informação de que Fernando Pessoa não era maçom. Mas, pontuadas estas concordâncias, mister é acentuar também onde, como e porquê existem divergências de entendimento.

Desde logo, não é factualmente correto afirmar-se que, nos templos da Maçonaria "não devem (não podem) existir orações do tipo religioso". E não é factualmente correto porque nos vários rituais de diversos ritos - mesmo os que não podem ser considerados como sendo "com tendência religiosa" - estão expressamente presentes e são regular e normalmente proferidas "orações do tipo religioso". Mencionando apenas os ritos em que pessoalmente já participei, para não correr o risco de cometer alguma imprecisão, assim sucede no Rito Escocês Antigo e Aceite, em várias passagens, incluindo no Ritual de Iniciação, no Rito Adonhiramita e no Ritual de Grande Loja, este designadamente com as intervenções do Grande Capelão, na abertura e no encerramento dos trabalhos. 

As orações previstas nos rituais mencionados são - não me parece que, de boa-fé se possa afirmar o contrário - "do tipo religioso", o que basta para demonstrar o desacerto do argumento defendido no comentário. 

Diferente será se se afirmar que não deve, não pode, ter lugar na Maçonaria Azul (a Maçonaria clássica ou básca, dos três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre - já que, como acertadamente se pontua no comentário, em alguns dos Altos Graus de alguns ritos pode ser diferente) a oração, ou prece, especificamente de alguma religião em particular. Nesse caso, a minha concordância estará presente. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...

Na minha opinião, nem sequer faz sentido falar-se em Maçonaria Regular sem se ter presente o diálogo com, a invocação do Criador. A Maçonaria Regular agrupa crentes, crentes no Criador, qualquer que seja a conceção que Dele cada um tenha, crentes de que a morte não é um fim, antes uma Passagem. Assim sendo, faz todo o sentido que, em seu ambiente e em seus templos haja lugar a preces "de tipo religioso", desde que não relativas a uma qualquer religião em particular. O espaço da Maçonaria é um espaço de crentes, não um espaço de recusa de diálogo com o Criador...

Ou dito de outro modo: a Maçonaria é um espaço onde cada um se aperfeiçoa, procurando a sua superação, com vista a ser digno do seu Criador.

Não concordo que a Maçonaria seja apenas, e nada mais, um espaço de autoaperfeiçoamento. Também não perfilho a conceção que entende que a Maçonaria tem na sua essência um esoterismo que a tudo o resto apaga. A minha posição é intermédia: a Maçonaria é um espaço de autoaperfeiçoamento, como indispensável instrumento para que o que é verdadeiramente essencial no Homem, o átomo vital que cada um recebeu do Criador, possa alcançar a evolução para o plano seguinte, para cujo acesso este plano de existência nos é suposto preparar. Se alguém quiser isto designar por autoaperfeiçoamento com um objetivo de esoterismo, não me oporei...    

Mas uma coisa é certa: nada disto implica que se proscreva a prece na Maçonaria - desde que essa prece possa ser dita por todos os crentes, independentemente da sua crença!
 
Rui Bandeira      

1 comentário:

Grimmwotan disse...



Gostaria de compartilhar os links abaixo, os quais contém dados, detalhes e informações muito interessantes sobre magia e ocultismo, sob uma óptica diferenciada e útil:


1)Este texto visa introduzir e esmiuçar a natureza daquilo que a tradição nórdica chama de “...Berserk...”, a ocorrência deste tipo muito específico de transe e dos biótipos que, em geral podem desenvolver tanto esta característica, quanto seu equivalente, o “...Úlfheðinn...”, e quais podem, ou não, ser os pontos de vínculos com tradições similares, levando em consideração não apenas as citações parvas e apalermadas de supostos “...sábios...” modernos, os quais confundem tudo com permissividade para uso de “...amanita muscaria...”, indo antes disso para dentro da natureza do que, psiquicamente, fisicamente, espiritualmente e mentalmente, de fato, o “... Berserkergang...”.


https://www.academia.edu/36152212/Falemos_sobre_Bersekers_10_de_Mar%C3%A7o_de_2018

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2)Este trabalho é o resultado de uma pesquisa sólida feita em todas as vertentes do ocultismo e do tradicionalismo, engendrado com o intuito de esclarecer e orientar a todos os que estão adentrando nos caminhos que lidam com a sabedoria, cuja palavra magia é somente um de seus sinônimos, e expondo farsas, adulterações e problemas que podem ser encontrados no decurso da vida de um praticante


https://www.academia.edu/14956819/Regras_da_Magia_O_Livro_da_Ordem_e_da_Verdade

...

3) Este texto expõe considerações, conselhos e orientações formais, morais e éticas, as quais se fundem com a teoria e aplicação daquilo que é denominado como örlog, ou com o que advém do örlog, de forma a aludir ao que se passa no corpo e na alma, ou do corpo para a alma e vice-versa, de tal forma que uma estratificação tanto filosófica quanto metafísica possa expressar em termos práticos, lógicos e palpáveis os vínculos simbólicos, e inclusive somáticos, dos atos humanos como forma geradora de efeitos nas divisões da alma, e das divisões da alma sobre o corpo humano e sobre os atos humanos, passando por pontos de contato entre um e outro, e delimitando uma linguagem clara e precisa, que tanja de si o universalismo ou o sincretismo, mas que atraia para si a clareza e a possibilidade de pensar, refletir, confrontar e desenvolver mais métodos e aplicações, dentro do caminho do norte.
https://www.academia.edu/33737130/Efeitos_org%C3%A2nicos_e_morais_da_pr%C3%A1tica_do_Sei%C3%B0r_e_do_Galdr