27 julho 2015

Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"? (republicação)

Tenho andado a fazer uma "reciclagem" de  alguns dos textos que eu considero oportunos para serem republicados de tempos a tempos para nova leitura ou para uma "leitura em primeira-mão".

Tais textos, por norma, já têm bastante tempo passado desde a sua publicação original, logo deste modo, alguns leitores poderão nunca os ter lido por se encontrarem no "arquivo" do Blogue, e dada a sua contemporaneidade, considero que devem novamente "vir a lume" como é usual se dizer.

Posto isto, o texto de hoje foi escrito pelo Paulo M. e pode ser consultado no seu original aqui .

"Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"? 

Os maçons tratam-se, entre si, por "irmão", tratamento que é explicitamente indicado a cada novo maçon após a sua iniciação. Imediatamente após terminada a sessão de Iniciação é normal que todos os presentes cumprimentem o novo Aprendiz com efusivos abraços, rasgados sorrisos e, entre repetidos "meu irmão", "meu querido irmão" e "bem vindo, meu irmão", recebe-se, frequentemente, mais afeto do que aquele que se recebeu na semana anterior.

O que seria um primeiro momento de descontração torna-se, frequentemente, num verdadeiro "tratamento de choque", num momento de alguma estranheza e, quiçá, algum desconforto para o novo Aprendiz. Afinal, não é comum receber-se uns calorosos e sinceros abraços de uns quantos desconhecidos, para mais quando estes nos tratam - e esperam que os tratemos - por irmão... e por tu! Sim, que outro tratamento não há entre maçons, pelo menos em privado - que as conveniências sociais podem ditar, em público, distinto tratamento.

O primeiro momento de estranheza depressa se esvai - e os encontros seguintes encarregam-se de tornar naturalíssimo tal tratamento, a ponto de se estranhar qualquer "escorregadela" que possa suceder, como tratar-se um Irmão na terceira pessoa... Aí, logo o Aprendiz é pronta e fraternalmente corrigido, e logo passa a achar naturalíssimo tratar por tu um médico octogenário, um político no ativo, ou um professor universitário. E de facto assim é: entre irmãos não há distinção de trato.

Não se pense, todavia, que todos se relacionam do mesmo modo. Afinal, não somos abelhas obreiras, e mesmo entre essas há as que alimentam a rainha ou as larvas, as que limpam a colmeia, e as que recolhem o néctar. Do mesmo modo, todos os maçons são diferentes, têm distintos interesses, e não há dois que vivam a maçonaria de forma igual. É natural que um se aproxime mais de outro, mas tenha com um terceiro um relacionamento menos intenso. Não é senão normal que, para determinados assuntos, recorra mais a um irmão, e para outros a outro - e podemos estar a falar de algo tão simples quanto pedir um esclarecimento sobre um ponto mais obscuro da simbologia, ou querer companhia ao almoço num dia em que se precise, apenas, de quem se sente ali à nossa frente, sem que se fale sequer da dor que nos moi a alma.

Mas não serão isto "amigos"? Porquê "irmãos"? Durante bastante tempo essa questão colocou-se-me sem que a soubesse responder. Sim, havia as razões históricas, das irmandades do passado, mas mesmo nessas teria que haver uma razão para tal tratamento. O que leva um punhado de homens a tratarem-se por "irmão" em vez de se assumirem como amigos? Como em tanta outra coisa, só o tempo me permitiu encontrar uma resposta que me satisfizesse. Não é, certamente, a única possível - mas é a que consegui encontrar. 

Quando nascemos, fazêmo-lo no seio de uma família que não temos a prerrogativa de escolher. Ninguém escolhe os seus pais ou irmãos de sangue; ficamos com aqueles que nos calham. O mais natural é que, em cada núcleo familiar, haja regras conducentes à sua própria preservação e à de todos os seus elementos, regras que passam, forçosamente, pela cooperação entre estes. É, igualmente, natural que esse fim utilitário, de pura sobrevivência, seja reforçado por laços afetivos que o suplantam a ponto de que o propósito inicial seja relegado para um plano inferior. É, assim, frequente que, especialmente depois de atingida a idade adulta, criemos laços de verdadeira e genuína amizade com os nossos irmãos de sangue, que complementa e de certo modo ultrapassa, em certa medida, os meros laços de parentesco.

Do mesmo modo, quando se é iniciado numa Loja - e a Iniciação é um "renascimento" simbólico - ganha-se de imediato uma série de Irmãos, como se se tivesse nascido numa família numerosa. Neste registo, os maçons têm, uns para com os outros, deveres de respeito, solidariedade e lealdade, que podem ser equiparados aos deveres que unem os membros de uma célula famíliar. Porém, do mesmo modo que nem todos os irmãos de sangue são os melhores amigos, também na Maçonaria o mesmo sucede. Não é nenhum drama; o contrário é que seria de estranhar. Diria, mesmo, que é desejável e sadio que assim suceda, pois a amizade quer-se espontânea, livre e recíproca. E, tal como sucede entre alguns irmãos de sangue, respeitam-se e cumprem com os deveres que decorrem dos laços que os unem, mas não estabelecem outros laços para além destes. Pode acontecer - e acontece. Mas a verdade é que o mais frequente é que, especialmente dentro de cada Loja, cada maçon encontre, de entre os seus irmãos, grandes amigos - e como são sólidos os laços de amizade que se estabelecem entre irmãos maçons!

Paulo M.  "

20 julho 2015

L'égalite est la base de toute liberté (republicação)

O texto que hoje é republicado é datado de 2009 e foi escrito pelo Jean-Pierre Grassi, obreiro também ele da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5.

Foi escrito em francês e irei manter a sua integralidade nesta republicação.

"Ou serait-ce le contraire?
Ou bien alors, est-ce que l’un de ces mots a-t-il un sens sans le second?
Ou bien encore, est-ce que ces mots, égalité et liberté, ne sont-ils pas dénués de sens? Du moins dans l’absolu.

Serait-ce une hérésie que de dire que Egalité et Liberté sont en soi deux mots abstraits? Voyons.

La définition de l’égalité est relativement simple, c’est l’absence complète de distinction entre les hommes sous le rapport des droits: égalité civile, sociale, politique, ... Or nous savons que cet état d’égalité n’existe pas. Qu’elle soit naturelle, acceptée ou imposée, la différence entre les hommes a toujours existée.

La liberté, par définition, est l’absence de contrainte; mais il n’existe pas de liberté absolue. Que se soit la liberté de conscience, la liberté morale, la liberté du culte, la liberté de la presse, la liberté syndicale, ... elle sera toujours limitée, ou conditionnée, par des règles établies par la communauté à laquelle on appartient.

En définitive, la liberté, telle qu’on l’entend, est de pouvoir faire tout ce qui n’est pas interdit. Et si ce n’était pas le cas, ce serait l’anarchie, la démocratie directe, comme l’exposait Platon. Cette doctrine qui libère l’individu de toute forme de contrainte. Nous revenons à l’abstraction. Alors?


Alors remontons dans le temps, plus précisément les 20, 21, 23, 24 et 26 août 1789. Que se passa-t-il alors?

Les représentants du peuple Français, constitués en Assemblée Nationale, ont résolu d’exposer, dans une déclaration solennelle, les droits naturels, inaliénables et sacrés de l’homme.

Ce fut la “Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen” dont la première phrase de l’Article premier est:

Les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droits.
En théorie, cette simple phrase constituée de dix mots résolvait un problème aussi vieux que l’homme est homme. En réalité, et justement parce que l’homme est homme, il n’a pu réaliser les idéaux contenus dans cette phrase, tout au moins jusqu’en cette veille du XXIème siècle.

Et cela malgré cette autre grande affirmation que fut la “Déclaration universelle des droits de l’homme”, adoptée et proclamée le 10 décembre 1948 par l’Assemblée Générale des Nations Unies, et dont l’article premier est:

Tous les êtres humains naissent libres et égaux en dignité et en droits. Ils sont doués de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraternité.

Remarquons au passage que, dans ce premier article, apparaît le mot “Fraternité” qui, lié à “Liberté” et “Egalité”, constitue non seulement la devise de la France mais aussi, depuis le milieu du dix-neuvième siècle, le ternaire sacré de la Maçonnerie.

Traditionnellement en France, on a toujours opposé la Liberté de 1789 et l’Egalité de 1793. L’égalité de droit a sans cesse progressé. Ce progrès continue, mais semble presque au bout, à son terme, en tout cas dans nombreux pays.

Dans le même temps où l’on est arrivé presque à la perfection de l’égalité de droit, on a vu s’aggraver les inégalités de fait.

Il y a d’abord les handicaps naturels, ils sont normaux et il ne faut pas chercher à les nier en essayant de cloner les gents intelligents! Il existe et il existera toujours des différences.

D’ailleurs, quand Plantagenêt disait que “l’égalité n’implique pas le nivellement des valeurs”, il sentait bien ce qu’il y avait d’absurde dans cette notion trop absolue d’«égalité».

Ces inégalités sont de sources diverses; l’intelligence de l’individu, son hérédité, ses conditions familiales, son aptitude à la scolarisation, sa citoyenneté, la localisation géographique de son habitat et, principalement, ses revenus!

Les inégalités sociales sont dramatiques, l’écart entre les revenus les plus élevés et les plus modestes se creuse chaque jour plus, et les inégalités deviennent de moins en moins supportables car le fatalisme n’est plus de mise, les écarts sociaux sont consciemment perçus.

Sans compter que d’autres inégalités se sont sans doute aussi aggravées, ce sont les inégalités entre peuples. Jusqu’à présent, on a largement raisonné en termes d’égalité au sein d’une nation, c’est oublier les inégalités entre les pays riches et les pays pauvres, en Europe et dans le Monde, et celles là sont gigantesques.

Il suffit de se pencher sur le phénomène européen qui prône la liberté de circulation à l’intérieur de ses frontières mais qui interdit, en même temps, son accès aux gens du Sud. Ce n’est ni l’égalité des droits, ni l’égalité des conditions.

C’est également oublier le préambule de la Déclaration universelle des droits de l’homme qui rappelle que les peuples ont proclamé leur foi dans les droits fondamentaux de l’homme, dans la dignité des valeurs de la personne humaine, dans l’égalité des droits des hommes et des femmes, et qu’ils se sont déclarés résolus à favoriser le progrès social et à instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberté plus grande.

Cette vision, lorsqu’elle est appliquée, a normalement un caractère fonda- mentalement nationaliste, même si notre Europe joue un rôle positif par sa redistribution et ses fonds de péréquation. Dans ce cas précis, l’Europe est l’image d’une nation globale, limitée à l’espace géographique de ses états membres.

Des étudiants portugais écrivaient dans une thèse sur la Révolution Française:
“Au long des 200 dernières années, l’égalité, par le biais du développement social, n’a fait que augmenter les inégalités, et la fraternité a été abandonnée en un monde qui a placé l’affirmation des Etats Nationaux au dessus de la solidarité entre les peuples.”

L’égalité est-elle la base de toute liberté? Qu’est-ce que l’on entend par «liberté»?

Ce qui consiste à faire tout ce qui ne nuit pas à autrui? L’exercice des droits naturels de chaque homme qui n’a de bornes que celles qui assurent aux autres membres de la société la jouissance de ces mêmes droits?

L’égalité des conditions est une utopie; elle n’est ni possible, ni d’ailleurs souhaitable car, paradoxalement, négatrice de la liberté.

Ce qui pourrait être même dangereux, c’est l’accent mis sur la liberté; la liberté absolue tue l’égalité de même que l’égalité absolue tue la liberté. Personne n’a encore trouvé le bon point d’équilibre sans que l’un détruise l’autre.

Les bornes de cette liberté ne peuvent être déterminées que par la loi. Et la loi, par définition, est égale pour tous.

Donc, une certaine égalité est la base d’une certaine liberté. Il n’existe pas d’absolu.

Ce qui est souhaitable, comme le réfère la “Déclaration universelle des droits de l’homme”, c’est que ce concept soit humanisé par un sentiment qui parait indissociable de son contenu: la fraternité.

Et afin qu’elle prenne tout son sens et qu’elle soit réellement applicable, et appliquée, la devise Maçonnique, “Liberté, Egalité, Fraternité”, devra être toujours associée à la solidarité, à la tolérance et à l’universalité.

Mais même en Maçonnerie l’égalité n’est pas la base de la liberté. Du moins, l’égalité n’est pas toujours synonyme de liberté.

Dans un Ordre qui prône la Tolérance, il existe des règles auxquelles les Maçons doivent se soumettre. Ce sont les Landmarks (ou Règles, ou Statuts, ou Limites) qui dictent quelle doit être l’attitude du Frère dans la Maçonnerie, et par extension, dans le monde profane.

Même si, comme le dit Jean Boucher, “En Maçonnerie, contrairement à ce qui a lieu dans la plupart des autres groupements humains, chaque Frère garde une liberté entière; il ne peut ni ne doit recevoir aucun mot d’ordre susceptible d’influencer ses actes”, le Maçon devra respecter néanmoins les règles édictées par les règlements de sa Loge et de sa Grande Loge. Il ne pourra évoquer “au dehors” ce à quoi il a participé “à l’intérieur”, sa conscience étant liée, dans ce cas, au jurement qu’il fait lors de la fermeture des travaux de sa Loge de Saint-Jean.

L’Initié, lorsqu’il est fait Maçon, cet homme «libre et de bonne renommée» s’entendra appeler “Frère” par ses nouveau correligionaires. Il pourrait imaginer que, de ce fait, il sera leur égal et qu’il jouira des mêmes libertés qu’eux. Il n’en est rien. Il lui faudra attendre d’être Maître pour pouvoir user de la parole en Loge, à l’instar de tous les Apprentis et Compagnons.

Pour conclure, rappelons que l’égalité absolue entre les hommes existe, une fois et une seule, au long de leurs existences. Le jour où le Grand Architecte de l’Univers nous appellera auprès de lui, à l’Orient Eternel, le jour où, effectivement, nous ne serons plus libre de notre choix. C’est l’heure du Jugement Final où l’homme n’est plus maître de son destin

Ce jour-là, cette égalité totale finalement obtenue sera synonyme d’absence totale de liberté, quelle qu’elle soit."

Jean-Pierre GRASSI

13 julho 2015

Sobre o nosso patrono Mestre Affonso Domingues (republicação)

A republicação de hoje versa sobre o patrono da Respeitável Loja que alberga os autores deste blogue.
E nunca é demais relembrar quem foi esta personagem histórica que emprestou o nome à nossa Loja.

O texto original foi publicado pelo J.Paiva Setúbal e encontra-se aqui.

"MESTRE AFFONSO DOMINGUES que viveu na segunda metade do Sec. XIV (morreu na Batalha em 1402) é uma personagem sobre a qual existem muitas lendas e mistérios e pouca informação confirmada.

De facto há fortes dúvidas sobre a data e local de nascimento, assim como sobre a sua própria vida há muitas incógnitas, algumas delas resultantes do texto que Alexandre Herculano dedicou ao Mosteiro da Batalha e à famosa Abóbada da Casa do Capítulo.

Historicamente parece certo que Affonso Domingues foi, realmente, o desenhador/arquitecto do projecto geral inicial do Mosteiro de Santa Maria da Vitória e que terá sido com ele a dirigir a construção que o Mosteiro foi iniciado.

Entretanto por razões de idade, de saúde (a história diz que cegou) ou outras quaisquer, na altura os responsaveis pelas obras eram colocados e substituidos de acordo com os humores e favores dos monarcas (nada como actualmente, em que já não há monarcas...), Affonso Domingues foi substituido na condução da obra por um tal David Huguet ou Ouguet, sobre o qual também há muitas dúvidas, não se sabendo se era irlandês, flamengo, catalão ou mesmo português.

De resto o Mosteiro da Batalha ( ou de Santa Maria da Vitória) teve vários outros intervenientes (Mateus Fernandes, Fernão Évora, Boitaca, ...) mas sobre o “nosso” Mestre Affonso Domingues recai de facto a autoria principal do projecto e talvez da construção.

Affonso Domingues viveu em Lisboa (não há a certeza de ali ter nascido) na freguesia da Madalena e teve alguma intervenção (mais aprendizagem do que intervenção realizadora) na obra da Sé de Lisboa, que lhe serviu de inspiração para o projecto da Batalha que mais tarde desenharia.

Quanto à afirmação “a Abóbada não caiu, a Abóbada não cairá” assim como a sua morte após 3 dias e 3 noites sem comer, sentado debaixo da Abóbada, no meio da Sala do Capítulo da Batalha, é definitivamente uma boa “estória” de Alexandre Herculano que serviu para exaltação dos valores Pátrios em pleno Sec. XIX.

De Affonso Domingues pouco mais há na história.

Em Lisboa, na freguesia de Sta.Engrácia/Monte Pedral, resta uma rua com o seu nome, essa sim “verdadeiramente importante” já que este escriba ali nasceu... e já agora na mesma linha de informação, também o Algueirão tem uma rua Mestre Afonso Domingues, umas vezes com um “f”, outras com os dois “ff” originais, umas vezes com o “Mestre” outras sem ele !

Posto isto, se a lenda é mais atraente que a realidade, pois sigamos a lenda!
Ao fim e ao cabo, onde começa uma e acaba a outra?"

JPSetúbal

06 julho 2015

Maçonaria - Uma grande Família: Princípios e Deveres


Comunicação à Assembleia de Grande Loja no Solstício de Verão
e comemoração do XXIV Aniversário da Grande Loja
Lisboa 27 de Junho de 6015

Acolhemos hoje o solstício de Verão, o dia mais longo, onde a grande vitória da luz sobre a escuridão se concretiza na sua plenitude: e assim tem que ser para todos os maçons, sempre a luz dos ancestrais princípios e valores, a triunfar sobre os medos e as trevas dos obscurantismos.

Comemoramos também hoje o vigésimo quarto aniversário da nossa Grande Loja, que vive um tempo de plena asserção institucional, forte afirmação internacional, grande crescimento em obreiros e lojas, que está a materializar antigos desideratos, tal uma sede própria que se consolida e engalana.

Ainda neste dia de hoje e sempre quero que celebremos a nossa grande e fraterna família maçónica.

Como podeis constatar meus Irmãos, nas suas mais variadas dimensões, podemos bem dizer que hoje é não só um dia grande, como também um grande DIA: três comemorações em uma: não haverá detergente que se lhe iguale em luz.

Desde há muitos séculos, agrupando indivíduos com ancestrais comuns, ou unidos por laços afetivos, que a família se afirma como a unidade básica da sociedade: e é isso que a nossa Augusta Ordem tem que ser: UMA GRANDE FAMÍLIA.

Enriquece-nos, engrandece-nos, valoriza-nos a existência de vários clãs, cada um diferenciado pelo ritual que pratica, herdado dos mesmos ancestrais ascendentes, mas todos irmanados pelo mesmo apego aos princípios e valores de liberdade, de ética, de humanidade. Enquanto agregação social, a nossa Augusta Ordem, a nossa FAMÍLIA, tem que ser capaz de assumir funções de proteção e socialização dos seus membros, abrigando e acomodando a transmissão da nossa cultura inalienável de princípios e valores, o que implica ao mesmo tempo, sermos capazes de assegurar a continuidade, e proporcionar um esquema forte de referência aos membros, dando assim resposta cabal por um lado às necessidades intrínsecas de todos os Irmãos que a incorporam, e por outro às necessidades da sociedade em que nos inserimos.

Dizendo de outra forma: na família maçónica temos direitos que se materializam sobretudo na fraternidade entre os irmãos, mas muito mais que isso, o maçom tem sobretudo obrigações e deveres para traçar caminhos para um futuro mais humano, formando líderes capazes em sólidos princípios éticos e morais. 

Porque não basta pertencer à Maçonaria para se ser Maçom: é sobretudo preciso que incorporemos os Valores que a Maçonaria professa. 

Todo o maçon se une através de juramentos a esta fantástica ordem iniciática que é a Maçonaria. 

E já Thomas More sublinhava, “quando um homem faz um juramento, tem que entregar a honra como fiador, porque outra coisa não lhe é exigida para afiançar o juramento”! Se rompemos o juramento, perdemos a honra e deixamos de ser idóneos, deixamos portanto de ser maçons: e os maçons, ou são inteiros e honrados, ou então são apenas arremedos que arrefecem à sombra de vultos que se interpõem no feixe que a luz projeta.

Hoje como sempre, a maçonaria regular que não é uma realidade estática, muito pelo contrário, deve combater a tirania e lutar pela construção de uma Sociedade mais Justa e Perfeita, pela promoção da Igualdade de Oportunidades, e este desiderato apenas é possível, se os mações forem contumácios agentes que acima de tudo defendem e constroem uma sociedade melhor: para desvarios, bastam os milhões de profanos.

Cada Maçon, todos os dias, deve ser capaz de colocar mais um grão, nem que de pó seja, sobre a grande muralha da construção de sociedades mais justas.

O grande rio da liberdade, apenas se engrandece, se continuamente vir o seu caudal engrossar, por isso todos os dias temos que ser todos nós a alimenta-lo de gotas, quem mais o poderá fazer? E não tenhamos medo, porque os trasbordos e outros riscos do exercício da nossa própria liberdade, apenas nós mesmos os podemos controlar e enfrentar.

Pertencemos a esta ordem iniciática que já conta com séculos de existência, que muita catedral já construiu, e apenas por isso, somos levados a pensar que já tudo está edificado: puro engano!

Vós que como eu, amiúde viajais de avião, aprendei com as lições que vos ensina a paisagem que de cima avistais: quando atravessamos cordilheiras montanhosas, erguem-se altaneiras e duras as rochas, imponentes gritos vindos do fundo do tempo, feridas já cicatrizadas das convulsões da Terra ainda quente, que durante milhões de anos a chuva e o vento não pararam de lamber e que as nuvens de vez em quando acariciam.

E para nós apenas estas frias e duras rochas merecem respeito, enquanto o nosso mirar despreza totalmente os pequenos líquenes que lhe colonizam a pele rugosa, as ervas e as plantas rasteiras que as entornam, porque o nosso olhar ainda não soube aprender, que apenas estes se decidiram verdadeiramente a conquista-las, contando com o tempo como aliado: as rochas vão-se desfazendo, ainda que num tempo muito longo, mas as ervas e os líquenes teimosos renascem a cada ano e o seu verde não pára de conquistar terreno, pois a sua fragilidade é o melhor disfarce para enganar uma dureza fragilidade que nós queremos ver como inexpugnável: se o nosso respeito vai todo para a imponência das rochas e das altas montanhas, e às ervinhas e líquenes apenas desprezo reservamos, isso mostra como ainda tanto temos para andar no caminho da sabedoria, do amor e da liberdade.

E assalta-nos depois a paisagem monótona da imensa e interminável planície centro-europeia, mar fundo de terra fértil, verdejante, que as ervinhas, os líquenes e outras plantinhas já conquistaram às duras e imponentes rochas.

E agarra-se agora aos nossos olhos, a miragem azul-turquesa do mar Mediterrâneo, que esconde negros e profundos rifts centrais, gargantas abertas por onde sobe a lava quente primordial vinda do manto da Terra, sempre pronta a edificar novas cadeias montanhas, feitas de rocha fria erguida: e nós temos que saber, que enquanto maçons, somos as ervas e os líquenes que já as espreitam, e que iremos fazer delas imensas planícies férteis e verdejantes que darão alimento para quem ainda passa fome, e que esse gesto será verdadeira liberdade para os que ainda não conhecem o segredo que ensina a arte de bem saber mirar e durar.

Por esta parábola meus irmãos, apenas vos quis explicar a grandeza da humildade das ervas e dos líquenes, e mostrar-vos também que o céu e o inferno têm paredes meias e que começa sempre por ser impercetível a passagem de um para outro, e que a solidariedade entre os homens é sempre o ponto mais feliz da chegada. 

Tratemos todos os humanos de igual forma, sem distinção de raça, de classe, de género, de orientação sexual, todos como iguais e irmãos; combatamos a vã e vil ambição, o orgulho, o erro o preconceito, a ignorância, a mentira, o fanatismo, os integrismos, a superstição: flagelos da Humanidade, estorvos ao verdadeiro progresso; pratiquemos a justiça, promovamos a salvaguarda dos direitos humanos; pratiquemos a tolerância relativamente à escolha religiosa, à escolha de opinião política; deploremos todos estes aspetos, mas sobretudo esforcemo-nos para reconduzir o mundo aos caminhos de uma humanidade verdadeiramente humana, Solidariedade Maçónica, pura humilde fraternal,onde a felicidade se resplandece em cada um dos rostos que perfazem a humanidade.

E são estes meus Irmãos, os grandes deveres que nos esperam todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos: tudo será humildade e tudo se fará então urgência para edificar um mundo melhor.

E neste tempo solsticial, a União da grande família dos maçons, é de rigor: façamos o mundo mais feliz, mais humano e por contágio, sejamos todos mais felizes.

E era esta a mensagem forte que hoje vos queria comunicar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, cumprindo os princípios e deveres, para consolidar a edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Júlio Meirinhos
Grão Mestre