29 maio 2013

A coberto e a descoberto


No texto "O Mestre Maçom perante a Sociedade" referi que o que importa é a contribuição que os maçons dão para a Sociedade, quer a sua condição de maçom seja publicamente revelada, quer por si se mantenha prudentemente reservada. Por outro lado, também já várias vezes pontuei que a vertente do segredo maçónico que obriga todos os maçons  a não revelarem a condição de maçons dos seus Irmãos que não se assumiram publicamente como tal, para além de evidentes e pertinentes razões de segurança, prementes em diversas épocas históricas, constitui um imprescindível ato de respeito pelo critério e pelas escolhas dos seus Irmãos.

Divulgar a sua condição de maçom ou manter a mesma preservada do público conhecimento é escolha, decisão, que só a cada um compete fazer e que os demais só têm de respeitar. Cada um sabe das razões da sua decisão. Isso é para mim uma evidência. No Brasil e, de uma forma geral no continente americano, como na Grã-Bretanha, é natural a divulgação da condição de maçom. Na Europa Continental, e particularmente nas culturas de predominância católica, onde pontificou a dita Santa Inquisição e  mais eco tiveram, historicamente, as bulas papais de condenação da Maçonaria, é mais corrente que os maçons preservem publicamente a sua condição, seja por temerem represálias sociais ou profissionais sobre si ou sobre a sua família, seja por puro reflexo de preservação da sua intimidade. Compreendo e aceito - só posso fazê-lo! - a opção de cada um. 

Confesso, porém, que cada vez mais a prudência (legítima, repito) dos meus irmãos que preservam publicamente a sua condição de maçons se me afigura digna de reponderação. Sou Mestre Maçom há mais de vinte anos e há mais de vinte anos que não escondo de ninguém a minha condição de maçom, que orgulhosamente afirmo  ter a satisfação e a honra de ser reconhecido como maçom pelos meus Irmãos - e nunca notei qualquer represália ou censura ou desconsideração por essa pública afirmação. Bem sei que a minha situação profissional - exercício, em escritório próprio, da profissão de advogado - me isenta de preocupações com superiores hierárquicos ou competições na hierarquia laboral. Mas vivo e trabalho em sociedade. Os meus rendimentos dependem de ter clientes que me procurem e me solicitem que lhes preste serviços da minha profissão. Também sou tão vulnerável a preconceitos ou represálias como qualquer outro, na medida em que posso perder trabalho por preconceito de quem me sabe maçom.  Mas, repito, nunca dei conta de que tal tivesse sucedido.

Acho que é tempo de os maçons reponderarem a questão de se manterem a coberto ou se afirmarem maçons. A Inquisição e os seus atropelos à dignidade humana são, felizmente, já apenas memória histórica. Mesmo a proibição salazarenta da Maçonaria foi abolida há já perto de quarenta anos. Não é, a meu ver, argumento válido o facto de ainda haver muito preconceito contra a Maçonaria, muitas disparatadas teorias de conspiração sobre "tenebrosos desígnios" e "subreptícias conspirações" dos maçons. Porque, se é certo haver esses preconceitos e essas disparatadas posturas, não é menos certo que o facto de muitos maçons esconderem a sua condição não só não ajuda nada à extinção ou diminuição desses preconceitos e disparates, como, em alguma medida, os alimenta, pois possibilita o raciocínio de que "se eles escondem o que são é porque não são coisa boa". E é forçoso reconhecer que este argumento pode ser filho do preconceito, mas não deixa de aparentar algum sentido...

A imagem que ainda existe de que a Maçonaria encobre algo de conspirativo, de que só existe para que os maçons manobrem na sombra em proveito próprio, é alimentada por alguns que, eles sim, se aproveitam da imagem distorcida que voluntariamente dão da instituição para ganharem uns cobres com umas "reportagens" e uns livros de "desvendamento" das "ocultas ligações", das "tenebrosas maquinações" que, insinuam, certamente serão a causa de todos os males deste país. Os tais tenebrosos sujeitos que na sombra movem todos os cordelinhos para se alimentarem das dificuldades de todo um país e todo um povo, são perigosíssimos, organizadíssimos, escondidíssimos, poderosíssimos, mas não conseguiram resistir ao cuidadoso escrutínio e à formidável inteligência dos escribas que, quais super-heróis sem capa, colocam à disposição dos olhares de todos "importantes"  informações - mas um bocadinho de cada vez, para dar para vários artigos, que a imprensa está em crise e assim sempre se vendem mais uns exemplares de várias edições... E, bem coordenadas as coisas, também sempre dá para lançar uma meia-duziazinha de livros que, bem publicitados pelo meio, sempre darão para conseguir mais uns patacos...

Quem publica e alimenta esta imagem negativa da Maçonaria e dos maçons tem o direito de o fazer (chama-se a isto Liberdade de Imprensa - e qualquer maçom que se preze preza-a também, mesmo que e sobretudo quando a mesma é utilizada contra a instituição em que se insere). Cumpre-nos a nós, maçons, reconhecer que quando não nos assumimos como tal, quando nos escondemos (é o termo), estamos a alimentar as suspeitas, as desconfianças, as teorias conspirativas, a deixar o campo aberto a todas as especulações, a todas as invencionices. A má imagem da Maçonaria que  a opinião publicada instila na opinião pública também, resulta, reconheçamo-lo, da nossa postura de reserva.      

A Maçonaria é um meio e uma cultura de aperfeiçoamento do Homem - e isso não envergonha ninguém, pelo contrário. Sou maçom porque procuro, em cada dia, ser um pouco melhor do que na véspera, em todos os aspetos e todas as vertentes da minha vida. Na minha vida pessoal, na minha vida familiar, na minha integração social, na minha atividade profissional. Não tenho, pois, qualquer receio de que os demais saibam que sou maçom. Não alimento preconceitos nem disparates. Proclamo, alto e bom som, que sou maçom - e com muita honra! Porque ter sido reconhecido pelos meus Irmãos como um homem livre e de bons costumes  me honra! Porque procurar ser melhor e ajudar os meus Irmãos a ser melhores é motivo de honra! 

Ao ter, já há mais de vinte anos, assumido publicamente que sou maçom, eu sabia que me colocava sob o escrutínio de todos aqueles que, sabendo-o, lidavam, ou podiam lidar, comigo. A primeira mensagem que tacitamente deixei a todos foi, pois, que não temia esse escrutínio. Que não temia que, sabendo-me maçom, me ajuizassem como homem, como marido, como pai, como profissional. Sabendo que, se o resultado do escrutínio me fosse desfavorável, haveria o risco de se dizer: "pois, é maçom...". Mas esperando que, merecendo bom escrutínio, uns quantos acabassem por concluir que, se ser maçom é ser o que eu sou, afinal os maçons não são tão maus como alguns os pintam... E fico feliz por poder dizer que, vinte anos passados, não perdi amigos, não perdi clientes, nunca fui desconsiderado por não esconder que sou maçom!

Se nós, maçons, queremos ser úteis à Sociedade também pelo nosso exemplo, então é preciso e conveniente que a Sociedade saiba que somos maçons...

Termino como comecei: respeito intransigente e completamente o juízo de cada maçom sobre a divulgação ou não da sua condição. Mas insto a que cada um daqueles que opta pela posição prudente periodicamente reexamine se a deve manter ou alterar. Porque quantos mais manifestarem o seu orgulho na condição de maçons, sem receio do escrutínio público das suas ações, melhor publicamente se compreenderá que os maçons não são o que alguns escribas procuram vender, pelo contrário são homens bons que procuram ser melhores, que reconhecem ter virtudes e defeitos e que procuram corrigir estes e aprimorar aquelas. E quantos mais forem exemplo, mais sementes se lançam para que a Sociedade seja também melhor. 

Rui Bandeira

22 maio 2013

O Mestre Maçom perante a Sociedade


A Maçonaria Regular é uma instituição destinada ao aperfeiçoamento moral, espiritual e intelectual dos seus elementos e também para que estes, através do seu exemplo e da prática dos seus princípios, por sua vez propiciem, influenciem, a melhoria, pouco a pouco, indivíduo a indivíduo, da sociedade em que a Instituição e os seus elementos se inserem.

A Maçonaria Regular não existe divorciada, separada, afastada, da sociedade em que se insere. Pelo contrário, é uma das instituições que unem, solidificam e contribuem para o progresso dessa mesma sociedade - à sua maneira, é certo, pelo seu específico jeito, obviamente; mas a sua riqueza está precisamente na sua diferença, na sua especificidade: para ser igual às outras, bastam as outras...

O Mestre Maçom que aprendeu o que é a Maçonaria Regular tem, assim, bem presente que, se é crucial conhecer-se a si mesmo, como meio de se melhorar, não é menos indispensável  reconhecer -se como animal social, isto é, que o que é, o que melhora, o que faz, em cada momento, se repercute no meio em que se insere e o influencia. 

O Mestre Maçom deve ter, consequentemente, a vívida noção de que todo o seu esforço de melhoria, toda a sua persistência no modelar de si próprio, só adquire pleno significado, integral valia, no confronto com todos com quem interage. Um eremita pode atingir o cúmulo da perfeição, ser o vero protótipo de um Santo, estar com dois pés e meio corpo no Nirvana - se for eremita e ninguém der por ele, pela sua perfeição, santidade e êxtase, em nada influencia, a ninguém mais aproveita, todo o seu esforço e trabalho e persistência apenas se refletem na ínfima partícula da volátil poeira do leve sopro da miúda insignificância que ele, como cada um de nós, na realidade, é, ao nível da imensidão cósmica.

Qualquer significado dos nossos atos, qualquer diferença que possamos fazer, qualquer valia que a nossa existência e a forma como a vivemos tenha só existem verdadeiramente no confronto com os outros.

Assim, no confronto do Mestre Maçom com a Sociedade, entendo que a palavra-chave é "coerência".

Coerência entre a sua atuação, em todos os momentos, em todas circunstâncias, em todos os ambientes, entre os princípios e os atos. Coerência entre os seus atos em Loja e fora de Loja. Entre as suas condutas perante Irmãos e perante profanos.

Coerência enquanto maçom e enquanto cidadão, quer a sua condição de maçom seja publicamente revelada ou se mantenha por si prudentemente reservada. Porque o que importa verdadeiramente é a contribuição que os maçons dão para a melhoria da Sociedade, não os créditos que estes porventura recebam por isso. Os maçons cumprem - sempre, em todo o lado e perante qualquer pessoa - os seus deveres de cidadãos e de maçons, aplicam os seus princípios de homens livres e de bons costumes em público como em privado, com ou sem benefício próprio, tão só porque moldaram a sua natureza para assim proceder, sabem que essa é a forma devida de ser e de agir, reconhecem que só assim são reconhecidos como tal pelos seus Irmãos.

O Mestre  Maçom é, assim, persistente, dá o exemplo, está disponível e é coerente. Consigo próprio, com seus Irmãos, com sua Oficina, com todos. Tudo isso em todas essas situações. Ou não é realmente Mestre ou Maçom.

Rui Bandeira 

15 maio 2013

O Mestre Maçom perante si próprio


Todo o maçom, desde o primeiro dia que adquiriu essa condição sabe que o seu maior inimigo é aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho. Mas também sabe que a melhor maneira de acabar com o inimigo não é prendê-lo (pode sempre libertar-se...), ou matá-lo (pode dele fazer um mártir ou herói para outros, e assim afinal multiplicar os seus inimigos...). A melhor maneira de acabar com o seu inimigo é fazer dele seu aliado, seu amigo. A amizade tem mais força que a força...

Todo o maçom sabe, desde o dia em que adquiriu essa condição, que dentro de si convive o que potencialmente o destrói, o desvaloriza, o apouca - os seus vícios, os seus defeitos - e o que o engrandece - as suas virtudes e capacidades. Por isso aprende que é crucial cavar masmorras aos seus vícios e cultivar suas virtudes. Só assim aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho deixará de ser o inimigo que arrasta para as sombras da depravação para passar a ser efetivamente o aliado amigo que acompanha no caminho para a Luz.

O Mestre Maçom, quando se coloca - o que deve fazer com frequência... - perante si próprio, deve sempre recordar-se que o esforço para ser melhor pode não necessitar de ser muito grande, mas inevitavelmente tem que ser contínuo. Tal como aquele que anda de bicicleta precisa de manter o movimento para não cair, assim aquele que cessa o esforço para melhorar verá degradar-se o que atingiu.

Assim, a palavra que, no meu entendimento, se deve utilizar para ilustrar o que se impõe ao Mestre Maçom perante si próprio é "persistência".

Persistência no contínuo esforço de melhoria. Persistência em aprender e ensinar e em aprender ensinando. Persistência no Estar como meio para o Ser. Persistência em fazer, dia após dia, mês após mês, ano após ano, mais do mesmo,  como forma de descobrir, afinal, que o mesmo continuamente se reinventa e, quando damos por ela, já é outro e melhor.   

Persistência no trabalho mais importante que existe, o trabalho em si próprio, o trabalho que lhe permite reconhecer-se e ser reconhecido como aquilo de que se apelida, Maçom. 

Persistência no lapidar da única obra que, apesar de todas as obras que construa ou que crie, afinal realiza durante o tempo que passa neste plano da existência, a sua verdadeira obra-prima, a sua vida e quem a vive.

Persistência na busca da forma de melhorar o que parece bem mas pode sempre ser um pouco melhor - para descobrir que, após a melhoria, o que é melhor, pode ainda ser melhorado mais um pouco, desde que... persista no trabalho.

Persistência na lapidação da sua Pedra Bruta até conseguir dar-lhe a desejada forma de Pedra Cúbica. Persistência para polir essa Pedra Cúbica, face a face, para  bolear bem as arestas, uma a uma, para que essa Pedra Cúbica seja capaz de ser encaixada onde deve, seja sólida para bem assegurar o seu papel, se enquadre harmoniosamente entre as demais, aumentando com o seu brilho o brilho das vizinhas.

Persistência para nunca se sentir satisfeito, para ter a noção de que é sempre possível fazer e ser um pouco melhor e para efetivamente agir para assim fazer e ser - e descobrir que continuar a lapidar uma Pedra Cúbica não a faz mais pequena,  paradoxalmente engrandece-a.

Persistência em ser realmente e completamente aquilo que se reclama ser: Mestre Maçom!

Rui Bandeira

08 maio 2013

O Mestre Maçom perante a Loja


No meu entendimento, o termo que mais bem ilustra o que deve ser o Mestre Maçom perante a Loja é "disponível".

Disponível para exercer os ofícios para que seja designado.  Previamente a isso, disponível para aprender os deveres dos ofícios que deve exercer. Durante esse exercício, disponível para detetar, preparar e executar a melhor forma de exercer o seu ofício. Sempre disponível para entender que o exercício de qualquer ofício em Loja - incluindo o de Venerável Mestre; particularmente o de Venerável Mestre - não constitui o exercício de um qualquer Poder, mas tão só um serviço, o cumprimento do dever de cooperar na administração da Oficina. Disponível para, cessado o período de exercício do ofício, deixar ao seu sucessor tudo o que a ele é inerente pelo menos em tão boas condições como as que recebeu - preferentemente, em melhores condições. 

Disponível para ensinar e aprender. Disponível para preparar e apresentar pranchas na Oficina. Não será pedir muito a um Mestre Maçom que, pelo menos de dois em dois anos, tenha uma prancha traçada pronta para ser exibida perante a sua Oficina - e se todos os Mestres da Loja assim procederem, seguramente em todas as sessões de Loja haverá trabalhos apresentados. Disponível para ouvir os trabalhos dos demais e sobre eles ponderar e deles aproveitar o que lhe seja útil. Disponível para debater, trocar opiniões, não para "ganhar discussões" mas para extrair de diferentes conceções os pontos de convergência, as pontes de ligação, os denominadores comuns, os patamares que permitam as evoluções das posições expostas, os consensos atingíveis.

Disponível para as tarefas e projetos e iniciativas que a Oficina leve a cabo. Para auxiliar na execução das muitas boas ideias que surgem, independentemente de quem as tem.

Sobretudo disponível para estar presente, não só fisicamente, mas com toda a sua diligência e atenção - porque só assim será verdadeiramente útil à Loja e verdadeiramente a Loja lhe será útil a ele.

Finalmente, também disponível para, estando presente e pronto para o que preciso for, nunca impor, nem a presença nem a disponibilidade, deixando que naturalmente todos contribuam para todos. O Mestre Maçom integra, faz parte de uma Loja, não é "dono" nem "mentor", nem colonizador da sua Loja. Tão importante como estar disponível para a sua Loja é ter a noção e o equilíbrio de que os demais também estão e que uma Loja saudável recebe os contributos de todos, não só de alguns mais assertivos em fazê-lo. Há um tempo para fazer e um tempo para descansar e deixar que os demais também façam. Numa Loja equilibrada, não há "estrelas" nem "seguidores", todos são "primas donas" e todos são "carregadores do piano" - a vez de ser uma ou outra coisa chega a todos e deve ser por todos bem acolhida. O Mestre Maçom que verdadeiramente o é tem a clara noção de que a Loja deve ter todos disponíveis, mas ninguém insubstituível - o cemitério, esse sim, é que está cheio de insubstituíveis... e a vida continua...

Em suma, disponível para entender e praticar que integrar uma Loja maçónica é dar e receber. E, portanto, que se impõe estar sempre disponível para dar ao grupo a colaboração, a atividade, a solidariedade, a atenção, o tempo, o esforço, que o grupo necessita e merece que se lhe dê, mas também saber estar disponível para receber do grupo e de todos os demais que o integram a ajuda, os ensinamentos, as críticas, as opiniões, as sugestões, os contributos que o ajudarão a conseguir ser um pouco melhor. Ao contribuir para a Loja, para o grupo, está a juntar-lhe algo que fará do todo um grupo melhor. Quanto melhor for o grupo, dele mais e com mais qualidade receberá e aproveitará. E indivíduo e grupo mutuamente se vão fortalecendo, vão progredindo, vão melhorando, num virtuoso ciclo que só depende de um pouco do esforço e da contribuição de cada um.   

Dar e receber. Estar disponível para ambas as ações. É, afinal, tão simples ser maçom...

Rui Bandeira

01 maio 2013

O Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro


Qual a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro?

Na minha opinião, não é "Mestre", nem "formador", nem "ensino". É certo que os Aprendizes e Companheiros estão em período de formação, de aprendizagem e prática sobre símbolos e simbologia, valores, propósitos e objetivos. É também certo que a formação de Aprendizes e Companheiros é enquadrada e proporcionada pelos Mestres da Loja. Aliás, no Rito Escocês Antigo e Aceite - e não só - existe um Mestre da Loja com a específica responsabilidade de coordenar a formação dos Companheiros - o Primeiro Vigilante - e um outro com idêntica responsabilidade em relação aos Aprendizes - o Segundo Vigilante. Também é comum, e certo, o entendimento de que o Padrinho (isto é, o proponente da admissão do então ainda profano na Loja) tem o especial dever de acompanhar e auxiliar o Aprendiz ou o Companheiro cuja entrada na Loja patrocinou, quer na sua integração no coletivo que é a Loja, quer na sua formação.

Mas, sendo tudo isto certo, sempre entendi e defendi que, em bom rigor, a Maçonaria não se ensina, aprende-se, isto é, os Mestres proporcionam os meios, propõem os conceitos, guiam os Aprendizes e Companheiros no seu trabalho, mas o essencial está no trabalho do próprio Aprendiz ou Companheiro, no seu esforço, no seu compromisso, perante si próprio, de ser e fazer melhor, sempre melhor. O trabalho do maçom é sempre e inapelavelmente individual, embora executado no seio e com o auxílio do grupo que é a Loja. Mas o determinante é o desbaste que o cinzel, sob a pancada do malho, ambos empunhados pelo maçom, efetua na pedra que está a ser desbastada, o próprio que maneja as ferramentas de desbaste. Esse é o trabalho essencial, o que tem vero significado, o que importa. Esse é o trabalho que mais ninguém executa, nem pode executar, senão o próprio em si mesmo. Tudo o resto é acessório. E, porque assim é, não é o que se ensina, ou quem ensina, ou como ensina, que releva. O que releva é tão só o que se aprende.

No meu entendimento, a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro é "exemplo".

Precisamente porque aquele que está a aprender a aprender é influenciado, formado, preparado, mais do que pelas palavras, mais do que por lições, mais do que por explicações ou exposições, pelos atos de quem vê como mais antigo, mais experiente, mais "sabedor", mais "qualificado". Em Maçonaria não vigora, não deve vigorar, seria inaceitável que vigorasse, o dito popular "Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz". A melhor pedagogia, a mais eficaz, a que realmente vale a pena, é a do exemplo.

Não nos esqueçamos que os Aprendizes e Companheiros, sendo jovens membros da Loja, não são, porém, imaturos infantes na vida... Pelo contrário, são pessoas desenvolvidas, com as suas competências sociais inteiramente adquiridas, com vida própria, princípios e valores de base adquiridos, com família, muitas vezes (seguramente na maioria dos casos) eles próprios educando os seus filhos. Não são bonitas palavras, elegantes conceitos, que marcam, convencem, ajudam a melhorar, adultos com vida e personalidade próprias e marcadas e, evidentemente, com o espírito crítico que desenvolveram ao longo da sua vida. Os Aprendizes e Companheiros são jovens na Loja, ainda apenas sabem soletrar a simbologia que lhes é presente, mas sabem muito bem, como adultos capazes e experientes que são, distinguir entre a parra e a uva e, sobretudo, discernir quando porventura alguém que lhes pretenda dar lições, afinal tenha muita parra e pouca uva e devesse, no fim de contas dedicar-se a realmente aprender e executar as lições que debita...

Só é verdadeiramente Mestre Maçom aquele que propicia a aprendizagem, a melhoria, o crescimento, dos Aprendizes e Companheiros, pelo seu EXEMPLO.

De muito pouco valem bonitas exortações, exuberantes conceitos, profundas lições, se tudo isso não passar de meras palavras facilmente levadas pelo vento dos factos, regularmente desmentidas pelos atos praticados. Se o Mestre Maçom, apesar de pregar o trabalho, o esforço, a qualidade, se mostra desinteressado, desleixado, impreparado, dificilmente inculcará no Aprendiz ou no Companheiro as virtudes que proclama da boca para fora e trai nos seus atos.

Por isso, a postura do Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro deve atender sempre a que tem de agir como o exemplo daquilo que proclama, sem contradição, sem facilitismo. Ou muito mau Mestre será...

Afinal de contas, se acho que a Maçonaria não se ensina, aprende-se, também acho que uma das melhores formas de aprender é diligenciar ensinar. E, tendo-se sempre presente que, em Maçonaria, a melhor forma de ensino é o exemplo, facilmente se adquire a noção de que, para se poder dar o exemplo, tem-se de, constantemente, dar o melhor de si mesmo, fazer melhor, trabalhar mais esforçadamente, procurar sempre ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje.

Basta, simplesmente, fazer aquilo que se proclama. Chega, afinal, ser efetivamente maçom em todos os atos e momentos. E assim poder ser reconhecido pelos demais de que é realmente Mestre Maçom, capaz de dar o exemplo aos mais jovens de como se faz - sempre e até ao fim da vida!

Rui Bandeira