05 setembro 2012

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XIX

Se o Grão-Mestre abusar de seu poder e se mostrar indigno da obediência das Lojas, o caso deve ser tratado da maneira que vier a ser definida em nova regra; já que até ao momento esta antiga Fraternidade não teve necessidade de tal, já que os Grão-Mestres se têm comportado de acordo com esse honroso cargo.

Esta é uma regra deliciosa! Em bom rigor, é uma regra a dizer que não há regra e que, se for preciso, cria-se então a regra! Note-se bem: nunca um Grão-Mestre abusou do seu poder e se mostrou indigno da obediência das Lojas; por isso, não há regra para tratar dessa eventualidade; porém, se um dia algum Grão-Mestre abusar do seu poder e se mostrar indigno da Obediência das Lojas, então, nessa altura, decidir-se-á como tratar do assunto e criar-se-á a regra que se entender adequada.

Esta disposição soa estranha a quem está habituado a um sistema jurídico composto por leis, por normas, previamente fixadas, que abstratamente regulam as situações possíveis, resolvendo-se os casos concretos em função da previsão das normas existentes e aplicáveis - os países de tradição jurídica europeia continental e latino-americana.

Mas os ingleses criaram e habituaram-se a viver num sistema de regras, num sistema jurídico, conhecido como common law, em que é importante o sistema de precedente, isto é, cada problema concreto, na falta de uma regra que diretamente regule a situação, é resolvido em função de decisões concretas que anteriormente tenham sido tomadas para resolvercasos similares.

O sistema de common law tem muito menos leis e normas e regulamentos do que os sistemas jurícos do tipo continental. Em contrapartida, necessita de registar cuidadosamente todas as decisões regulatórias de conflitos que sejam tomadas, para possibilitar a busca de precedentes aplicáveis a um dado conflito específico, a uma qualquer situação concreta. É, se quisermos, um sistema que faz um grande apelo à faculdade do bom senso.

Tendo em atenção esta particular forma de regulação da vida em sociedade, já se nos afigura consideravelmente menos estranha, e, de alguma forma, até lógica, esta regra: se nunca aconteceu nesta antiga Fraternidade que um Grão-Mestre abusasse do seu poder, então nunca foi preciso decidir o que fazer nesse caso; por outro lado, não faz muito sentido estar a decidir agora o que fazer numa eventualidade que, pelo exemplo vindo de muito tempo atrás, possivelmente nunca acontecerá. Mas, se acontecer, então - e só então - decide-se o que fazer... Para quê, realmente, estar a antecipar dores futuras que até podem nunca vir a ser sofridas? Se e quando houver essa dor, então trata-se dela...

Esta é, realmente, uma regra deliciosa, não pela sua aparente falta de objeto, mas pela singular demonstração de puro e simples bom senso, que os maçons do século XVIII deixaram à disposição dos vindouros!

E efetivamente, em Inglaterra, quase trezentos anos decorridos sobre esta regra, nunca foi, afinal, preciso criar regra sobre o que fazer na eventualidade de o Grão-Mestre abusar dos seus poderes: tal como antes, continua a nunca ter sucedido essa eventualidade! Realmente eram dores que não valia a pena que fossem sofridas há trezentos anos...

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 141.

Rui Bandeira

10 comentários:

Ricardoense disse...

Venho deste modo apresentar-lhe o meu novo projecto. Trata-se de um novo blog que pretende fazer uma análise clara e concisa sobre a actualidade nacional e internacional.
Este projecto surgiu no seguimento do término da minha licenciatura na Faculdade de Economia do Porto (FEP). Sempre me interessei bastante pelas questões macroeconómicas, mas entendi que só após a minha licenciatura estaria preparado para abordar estas questões com o rigor que se lhe exige. Gosto de fazer análises credíveis e baseadas sempre em estatísticas credíveis, como irá reparar ao visitar o blog.

PS: o link do blog é http://ecoseconomia.blogspot.pt/
Aguardo novidades, esperando o seu contributo para este projecto
Com os melhores cumprimentos,
Ricardo Gonçalves

Diogo disse...

Retirado daqui: http://extrafisico.blogspot.pt/

Há poucos dias, uma grande celeuma se levantou após a publicação de um post no blog Casa das Aranhasacerca da Maçonaria. Celeuma essa extrapolada, devido ao facto, que num dos primeiros comentários alguém publicou a lista dos membros do GOL - Grande Oriente Lusitano - de A a M. De referir que o post em causa - muito interessante - já se alonga em mais de mil e tal comentários, maior parte deles, injúrias e ofensas, dentre virgens ofendidas e do melhor e/ou pior vernáculo luso sem correcção ortográfica.
Com grande espanto meu, no meio das centenas, encontro um comentário, mais do que certeiro, mais do que sintético e assertivo, resume de uma penada o país em que vivemos, pós 25 de Abril de 1974. Assinado por um Virgílio Lopes, ele escreve e muito bem;

Apelo a que, serenamente, se foquem no problema REAL.

A História de Portugal e do Mundo está cheia de maçons ilustres, grandes humanistas, defensores da liberdade, da democracia e de uma maior justiça social. ISSO É UMA VERDADE INDESMENTÍVEL !

O problema REAL (e apenas estou interessado em falar no meu País) é que após o 25 de Abril nasceu uma NOVA “maçonaria” que não é mais do que uma MÁFIA representativa do pior que há nos partidos chamados do “arco do poder” e designadamente do CENTRÃO ou Bloco Central de Interesses.

A esmagadora maioria dos NOVOS “maçons”, verdadeira MÁFIA, listados ou não, são gente militante ou afecta ao PS e ao PSD. Sem prejuízo dos muitos socialistas e sociais-democratas convictos e sérios que pertencem a esses dois partidos.

Mas falta falar do OPUS DEI. Outro POLVO secreto infestado de comparsas, sobretudo “beatos falsos”, daqueloutros da NOVA “maçonaria”. Convictos, haverá lá uns tantos, poucos, de que é exemplo mais mediático o Dr. Mota Amaral.

Por tudo isto, repito, foquemo-nos no problema EFECTIVO, REAL – a maioria esmagadora destes novos “pedreiros livres” e “beatos falsos” são, na realidade, a COSA NOSTRA PORTUGUESA.
Uma corja de “criminosos de colarinho branco e botões de punho” que andam há anos a SACAR e a VENDER A PATACO a riqueza do País.

E como é que nos vamos ver livres deles, infiltrados que estão, “como piolho por costura”, em todos os ÓRGÃOS DE SOBERANIA do Estado Português?

Eles dominam tudo:

Presidência da República

Assembleia da República

Governo e Ministérios

Tribunais Superiores e todos os restantes

Polícias e Forças de Segurança

Aparelho económico

O PAÍS !!!!

Eu diria todo o mundo ocidental vestido no politicamente correcto, ou seja, a hipocrisia geral sustentada na iliteracia global das sociedades, grosso modo, nos campos; políticos, económico/financeiros, culturais e sociais.

De referir que independentemente das missões filantrópicas e religiosas, da Maçonaria e da Opus Dei, não se pode esquecer o facto real, de que são espaços propícios para facilitar canais de ligações entre políticos, actores da alta economia e finança, bem como altos funcionários nas áreas da justiça.

E quando assim é ...

Nuno Raimundo disse...

Caro Diogo:
"Eles dominam tudo:

Presidência da República

Assembleia da República

Governo e Ministérios

Tribunais Superiores e todos os restantes

Polícias e Forças de Segurança

Aparelho económico

O PAÍS !!!!"

De facto, todas essas organizações têm "perigosos" maçons, como também "perigosos" lampiões, lagartos,... enfim uma multutude de gente.
Condenar-se a floresta pelos arbustos, é algo que não é digno da sua inteligência. Pois o facto de ter publicado tal comentário, demosntra que concorda com ele e não o fez apenas para informar os membros e leitores do blogue.

Existe gente boa e gente com menores intenções em toda a parte, o que é relevante é o que a boa parte, vulgo a sua maioria faz!

abraço

Diogo disse...

Concordo consigo, Nuno,

Mas ambos sabemos que há maçons e «maçons» e que há lojas e «lojas». E que o «segredo maçónico» não é entendido por muita gente que vê nisso apenas uma forma de tráfico de influências, sobretudo a altos níveis. Há maçons que pensam o mesmo e eu também. Não obsta que eu não considere a maior parte dos maçons (de algumas lojas) excelentes pessoas sem quaisquer interesses ocultos.

Um abraço.

Nuno Raimundo disse...

Caro Diogo, concordo na íntegra com o que disse.
abraço

JPA disse...

Diogo;

Fico feliz que esteja iluminado.
Não aprovo que tenham mostrado a lista. É muito mau, se as pessoas preferem o anonimato, devia-se respeitar esse direito.
Ao ter conhecimento da lista por lojas, e depois de as analisar fiquei triste ao notar que parte delas é composta por indivíduos ligados a maquinas partidárias de um só partido e na maioria empregados públicos.
É vergonhoso.

Cumprimentos
JPA

Streetwarrior disse...

Mas a grande duvida que eu gostava de ver esclarecida e nunca vi ou percebi de surreal que é...

Já percebemos,que a culpa não é da Maçonaria mas sim dos maçons!
Já percebemos que não há razão em dizer que os Maçons tomaram de assalto o pais, porque isso está errado...pois eles também são benfiquistas, lá haverá homosexuais e tal não se pode categorizar.

Mas, quando 1 benfiquista, envergonha ou delapida o erário benfiquista e ou publico envolvendo o nome do benfica, são os próprios que tratam de separar a maçâ podre, levando-a á justiça para não dar o mau nome á instituição.
Ora, quem melhor para saber quem é quem dentro da maçonaria senão os maçons?
Porque razão, os Maçons bons, não purgam da instituição os "maus maçons" e não os levam á justiça mostrando aí sim, um enorme patriotismo e um elevado sentido civico como muitos apregoam?

È que embora possam ser expulsos...muitos só o são, quando a coisa já não dá mais para sustentar...e (isto serei eu a especular aqui) provavelmente, são mais os que ainda estão por expulsar e levar á própria justiça, do que aqueles que já não constam da própria associação.
Pois eles andam ai....e o povo já sabe que são Maçons!

Portanto, gostava que me explicassem, sendo muitos maçons, advogados, juizes, procuradores...individuos com altas resposabilidades institucionais ao nivel da Justiça dentro da Nação, o que precisam para levar esta gentalha á justiça?
Ou será que o "Segredo Maçónico" os " Votos de Fidelidade" são mais importantes que a constituição Portuguesa?



Onde fica o Patriotismo aqui?

Nuno

Streetwarrior disse...

Bom...em todo o caso, não foi por isto que eu cá tinha vindo.
A minha visita ao A Partir Pedra era sobretudo para vos mostrar este Video

http://www.youtube.com/watch?v=f_OawJA68jI

Eu sei que melhor que ninguém, vocês perceberão o simbolismo patente neste video.
Tal como tinha referido numa troca de comentários num Post atrás, a humanidade como sociedade está a passar por uma mudança de paradigma de pensamento...e de postura.
Uns, querem manter-nos como Ovelhas, escravos , robots outros, onde eu me incluo sem qualquer problema em assumir, pretendem acabar com algumas práticas nocivas que têm vindo a ser propagandeadas como "normais " e imutáveis.
Acredito que chegamos a um Cruzamento onde teremos que decidir, qual o mundo onde queremos viver e deixar para as gerações futuras e para isso, temos que escolher qual o lado da barricada onde queremos estar.
Ou do lado daqueles que pretendem um mundo melhor ou do lado daqueles que pretendem manter Status quos, acreditando que existem seres humanos de primeira categoria e outros de segunda que servem para os servir.

A Justiça tarda mas não falta e a luz vem a caminho!

Joaquim Almeida Santos disse...

Saúdo_os com Abraço,
Como refere um Ilustre Maçon "Tal como Médicos não são a Medicina... Maçons não são a Maçonaria..."
Almeida Santos

Joaquim Almeida Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.