31 março 2010

O maçom e o conflito


O conflito faz parte das nossas vidas. Quer queiramos, quer não. Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis. Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: a força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a cooperação, a hierarquização, etc..

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos. Tanto como qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito. Desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a Tolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. Pelo contrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bem gerir um conflito não é procurar ganhar a todo o custo. Mais bem gerir um conflito consiste em detetar e obter a melhor solução possível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o conflito pode parecer a melhor solução no curto prazo, mas revelar-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir! Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não é apenas deixá-lo falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz. Para procurar determinar porque o diz e para que o diz. E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmente conflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma aparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, de uma ou das duas partes, de propósitos, intenções, objetivos.

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da verdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de, condescentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha. A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto filosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - por maioria de razão. Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura confituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescente superioridade. É a consequência da nossa consciência da Igualdade fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitável corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós. A Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. Não é demais repeti-lo.

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro, para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos; (2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medida é essa divergência, superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendo superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; (5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidar melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar, determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar predispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmente adquire a consciência de que existem várias, e por vezes insuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver, conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dos interesses inicialmente em confronto.

E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o que implica entender) a posição do outro.

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática do silêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do que realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver os problemas que ouça expostos.

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao Outro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através da busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. Através da gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente, mais bem sucedido.

Rui Bandeira

24 março 2010

O maçom e a Religião


A Maçonaria não é uma religião. Mas a Maçonaria Regular lida com a espiritualidade e, nesse sentido, atende inevitavelmente à conceção religiosa dos seus obreiros.

Tal como em relação à Política, é vedada, no seio da Maçonaria Regular, toda a discussão ou controvérsia religiosa. Mas, sendo uma agremiação em que apenas são admitidos crentes, obviamente que a espiritualidade, em geral, e as convicções religiosas, em particular, são objeto da atenção dos maçons.

Como procedem então os maçons para satisfazer o seu interesse na espiritualidade e nas convicções religiosas sem violar a proibição de discussão ou controvérsia religiosa?

De uma forma espantosamente simples e de uma eficácia comprovada ao longo de centenas de anos: estabeleceram o denominador comum e, para além dele, deixam ao íntimo de cada um as respetivas opções.

O maçom Regular é crente num Criador do Universo. Esse o denominador comum. Quais as características, poderes, atuações, propósitos, intervenções, etc., do Criador do Universo - isso é matéria do foro íntimo de cada um. Cada um crê no Criador tal como o concebe, tal como a religião que pratica o levou a entender, aceitando ou discordando que tenha a característica A ou B, o poder X ou Y, que atue no Universo criado, e como, ou não atue, com plano específico ou sem ele, com ou sem intervenções concretas. Isso é com cada um e ninguém tem nada com isso - portanto, não se discute.

As religiões monoteístas têm diferentes designações para o Criador: Jeovah (ou Javeh), Allah, Deus... Ao longo da história, homens mataram homens em insanas guerras, uns lutando por Deus e outros por Allah, outros ainda invocando Jeovah - todos estupidamente esquecendo, ou escondendo, ou não atendendo, que essas são todas designações que os humanos dão à mesma Entidade...

Como resolvem os maçons esta questão? Sempre com a mesma eficaz simplicidade: coletivamente, designam o Criador por uma denominação que - mais uma vez - é um denominador comum - Grande Arquiteto do Universo. E cada um, no seu íntimo, perante a sua religião, designa-o como entende.

No entanto, seria estulto não reconhecer que a religião condiciona a cultura de homens e de sociedades. A cultura judaica resulta de manifesta influência da religião judaica. O mesmo se pode referir em relação à cultura e religião islâmicas e, ressalvadas as assinaláveis diferenças internas, à cultura e religião cristãs.

Como conciliar estas diferenças? Ainda e sempre, com a eficaz simplicidade que resulta da Tolerância e da Harmonia: o meu Irmão é, enquanto individualidade, importante para mim, como eu sou para ele - não importam as diferenças culturais ou de pensamento religioso. Tal como não faria sentido distinguir entre louros e moremos, entre os que têm olhos azuis e os que os têm castanhos , entre os que são altos e os que são baixos, não faz sentido distinguir entre os que professam a religião A ou a crença B.

Pelo contrário, é muito mais frutuosa a cooperação, a entreajuda dos diferentes. O louro reage melhor ao frio, o moreno suporta melhor o sol - distribuamos tarefas aproveitando essas diferentes potencialidades. O de olho azul vê melhor com pouca luz e o de olho castanho tem olho de águia com a mais intensa luminosidade - atribuamos esforços tendo isso em conta. Os altos arrumam melhor as prateleiras e os baixos encontram melhor o que está no fundo dos armários baixos - aqueles que tratem das prateleiras, enquanto estes se ocupam dos armários...

Ainda e sempre, o que os maçons há muito aprenderam e diariamente aplicam é que a diversidade é uma riqueza, uma vantagem, não um ónus, não algo que se deva corrigir.

Portanto, não me interessa a religião específica de meu Irmão. Basta-me a nossa crença comum no Grande Arquiteto do Universo. Este plano comum é apto e suficiente à nossa vivência em comum da espiritualidade. Não perdemos tempo em discutir as diferenças, não entramos no que seria um infantil jogo de "o meu Deus é mais poderoso que o teu" (afinal, é o mesmo...), "a minha maneira de ver o meu Deus lava mais branco do que a tua" (afinal, o que realmente importa é como cada um se aperfeiçoa, melhora, se dignifica na sua passagem por esta vida e se prepara para o Mistério que está para além do Oriente). Achamos que é muito mais útil, mais eficaz, mais inteligente, retirarmos da vivência espiritual do outro as lições e as técnicas e os princípios que nos sejam úteis para melhor aperfeiçoarmos a nossa própria vivência. E, ao mesmo tempo, abrirmos ao outro a nossa própria vivência espiritual, para que o outro dela retire e aprenda e utilize o que para ele seja mais útil.

No fim de contas, se fôssemos todos iguais, se pensássemos todos da mesma maneira, se professássemos todos idênticas convicções religiosas - o que é que cada um podia aprender com os demais? Mais do mesmo?

Para o maçom, a religião, as diferentes religiões não são pomos de discórdia, de discussão, de controvérsia. São oportunidades de diálogo, de aprendizagem, de cooperação no crescimento de cada um.

E isto, meu caro leitor, os maçons praticam-no em Loja e procuram também assim o fazer fora de Loja, entre si e com todas as demais pessoas. Com a certeza que, se algum dia se conseguir que todos identicamente se comportem, o Mundo será muito melhor!

Rui Bandeira

17 março 2010

O maçom e a Política


O sexto Landmark (princípio fundamental) da Maçonaria Regular prescreve:

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

No texto que, neste blogue, dediquei ao sexto Landmark, escrevi:

Por isso, em Loja não se discute Política nem Religião. Esta, porque sendo do foro íntimo da cada um, não faz sentido discuti-la. Aquela, porque sendo susceptível de grandes paixões poderia cavar insanáveis conflitos entre Irmãos. Ademais, reconhecendo cada maçon no seu Irmão um homem livre e de bons costumes, grave atentado a essa liberdade seria não lhe reconhecer o direito à sua crença religiosa e ao seu entendimento político. Não quer isto dizer que um maçon não possa ou não deva afirmar a sua convicção religiosa ou a sua posição política. Pode este, pode aquele, pode aqueloutro, podem todos. Mas, isto feito, mais além não se vai. Cada um crê no que crê, pensa como pensa, ponto final! Não há lugar para discussões sobre se esta crença é melhor do que aquela ou se aquele entendimento político é mais ou menos adequado do que aqueloutro.

A controvérsia ou discussão política está, assim, completamente banida em Loja, na Maçonaria Regular.

Este princípio implica um corolário, a que se chega por duas vias: a Maçonaria Regular não toma posições políticas.

Não o faz, porque (1), uma vez que não existe discussão política em Loja e, dado que as deliberações dos maçons são tomadas em Loja, não há como tomar posição política que resulte de deliberação validamente tomada; e porque (2), uma vez que a tomada de uma posição política implica escolha - em favor de algo, em detrimento de algo -, a instituição maçónica não toma posição, pois, com toda a probabilidade, iria fazê-lo em concordância com alguns dos seus membros, mas, por outro lado, afirmando discordância em relação a outros. E a Maçonaria Regular não privilegia nenhum dos seus elementos, nenhuma das ideias livres de homens livres. Não se trata sequer de determinar maiorias e de agir segundo as maiorias verificadas. Em matéria de ideias, tão legítimas e respeitáveis são as ideias maioritárias como as minoritárias. Afirmar uma posição institucional em detrimento do livre entendimento de um elemento que seja seria desrespeitar esse entendimento. A instituição é de todos, o espaço onde todos cooperam para que cada um se aperfeiçoe e evolua. Não pode pois privilegiar uns - ainda que porventura a maioria - em detrimento de outros ou de apenas um que seja.

A Maçonaria Regular, enquanto instituição, não toma, pois, posições políticas. A Maçonaria Regular não é monárquica nem republicana. A Maçonaria Regular não é politicamente conservadora, nem liberal, nem social-democrata, nem progressista, não prossegue nem defende nenhum "ismo". A Maçonaria Regular integra homens bons, que procuram ser melhores, sejam monárquicos ou republicanos, conservadores ou progressistas, liberais ou sociais-democratas, seja qual for o "ismo" que prefiram.

Por seu turno, cada maçom tem as convicções políticas que entende ter, toma e divulga (ou não...) as posições políticas que lhe aprouver, declara (ou não...) as escolhas políticas que julga adequado declarar, quando se lhe afigura oportuno, nos locais em que pretenda e possa fazê-lo.

Cada maçom é, em suma, um homem livre, que assume e aceita e com naturalidade pratica que há um espaço - a Loja - em que convive e coopera com outros homens livres, que podem ter ideias diversas das suas, sem que tal cause quaisquer dificuldades de relacionamento. E assim a diversidade é, não causa de conflito, mas catalisador de riqueza e abertura de espírito, de constante e leal interação das ideias de todos com todos, cada um testando e avaliando a validade das suas, a força das suas convicções, cada um evoluindo em função da sadia análise das ideias e convicções dos outros.

Fora do espaço da Loja, cada um é livre de assumir as posições políticas que entenda, como entenda, quando entenda.

Por isso, e em suma, não há posições políticas da Maçonaria Regular, mas cada maçom regular é livre de tomar e assumir e divulgar as posições e convicções e escolhas políticas que muito bem entenda. Que serão sempre suas e só suas e só a ele vinculam.

Rui Bandeira

10 março 2010

Intolerância

Airton da Fonseca, maçom e editor do Novo Blog do Ferra Mula, escreveu, em comentário ao texto "Ansiedade":


Muito se escreve sobre a Tolerância. Gostaria muito que o Ir.'. fizesse uma peça de arquitetura sobre a Intolerância. É sabido que a Tolerância é uma virtude que deve ser praticada pelos IIr.'., mas me parece que do ponto de vista global, a intolerância é o mal do século que se findou e continua mais evidente em nossos dias.

Correspondendo ao pedido, o tema de hoje é, então, a Intolerância.

À primeira vista, intolerância é o oposto de tolerância, virtude que, como muito bem acentua Airton da Fonseca, deve ser praticada pelos maçons. Bastaria então definir esta para, por oposição, nos depararmos com aquela.

Este caminho é tentador. Recordo-me de uma frase que bastas vezes ouvi a Fernando Teixeira, Grão-Mestre Fundador: "O limite da Tolerância é a estupidez". Portanto, se a estupidez está fora da tolerância, aí temos: a Intolerância não será, então, mais do que uma estupidez!

O que apetece declarar ser uma grande verdade!

Mas, por muito tentador que seja proclamar isto, uma mais atenta meditação permite-nos apreender que, em bom rigor, o oposto da Tolerância não é a Intolerância, é o Preconceito.

O tolerante renega, rejeita o preconceito. O preconceituoso, esse, não está disponível para tolerar a diferença, o que considera erro ou o que vê como inferior.

Há mais de três anos, aqui no blogue, o José Ruah e eu mantivemos uma não totalmente desinteressante polémica sobre o conceito de Tolerância. Quem não a leu, ou dela não se recorda, poderá através do marcador "Tolerância", localizar os doze textos em que essa troca de opiniões se desenvolveu, publicados entre 16 de novembro de 2006 e 16 de janeiro de 2007.

O ponto de partida da controvérsia foi o entendimento do José Ruah de que a tolerância pressupõe uma posição de superioridade (moral, social, pessoal, conceptual, o que se quiser) do tolerante em relação ao tolerado, ao que eu contrapus o meu entendimento da igualdade essencial de planos entre ambos, no verdadeiro conceito de Tolerância.

Recordo aqui esta troca de opiniões, porque precisamente entendo que é o Preconceituoso que se pretende colocar numa posição de superioridade, não o Tolerante que nela se coloca.

Curiosamente, não me parece que essa seja, necessariamente (pode sê-la, mas não o é necessariamente) a posição do Intolerante. Este, em relação ao objeto da sua Intolerância, não se arroga necessariamente da condição de superioridade. Pode muito bem atribuir ao objeto da sua postura uma posição no mesmo plano da sua - ou pode mesmo reconhecer-lhe a prevalência - e precisamente por isso contra o objeto da sua Intolerância lutar.

Porque a Intolerância não é, nunca, conceptualmente, passiva. É sempre proativa, tendencialmente agressora, ou, pelo menos, agressivamente opositora.

A Intolerância não é, pois, a mera antinomia, oposição, à Tolerância. É bem mais do que isso, é um estado de espírito tendencialmente militante, diverso, suscetível de assumir múltiplas formas ou manifestações.

A Tolerância é sempre uma postura de ordem moral. A Intolerância não é necessariamente uma postura de que a Moral está arredada. Não se admire o leitor: não me enganei e quis mesmo escrever o que acabei de escrever! Esclarecerei porquê.

É que, ao contrário do que me parece que entende o Airton, não considero a Intolerância necessariamente um mal. Volte a leitor a não se admirar. Novamente quis escrever o que acabei de escrever. E repito: a Tolerância é sempre uma virtude, um bem; a Intolerância - ao contrário do Preconceito - nem sempre é um mal. Explico então, antes que o leitor conclua definitivamente que ensandeci de vez.

Considero-me uma pessoa tolerante. Esforço-me por sê-lo e por praticar esta virtude. Procuro banir o Preconceito da minha postura. Mas entendo - e julgo que todos também assim o entenderão - que há na Vida e no Mundo coisas e posturas e situações que não podem, não devem, ser toleradas. Em relação às quais não só podemos como devemos ser absoluta, completa e inamovivelmente INTOLERANTES.

Sou completamente INTOLERANTE em relação à pedofilia, à violação, à violência gratuita, ao abuso de poder, à opressão, aos maus-tratos dos mais fracos. Só para dar alguns exemplos e exemplos por todos pacificamente aceites.

Em termos morais, a Intolerância é, em si mesma, neutra. Não é necessariamente um mal ou um bem. Depende do seu objeto. Admito que muitas das intolerâncias com que nos deparamos são um mal. Mas são-no em função do seu objeto. A Intolerância religiosa, ou de cariz racial, ou derivada de preconceito social são obviamente más. Era certamente nisso que o Airton pensava quando escreveu o que acima se transcreveu. Mas são más EM FUNÇÃO DO SEU OBJETO, não porque intrinsecamente a intolerância seja necessariamente sempre má. Creio já ter acima elucidado convenientemente que há intolerâncias que, atento o caráter particularmente desprezível dos seus objetos, não são más - pelo contrário, são socialmente úteis e devem ser cultivadas por quem procura ser uma pessoa de bons costumes.

Portanto, e em conclusão: o oposto da Tolerância não é a Intolerância - é o Preconceito. Em termos morais, a Tolerância é boa, o Preconceito é mau, a Intolerância é neutra, sendo boa ou má consoante o objeto sobre que se manifeste.

Surpreendido?

Rui Bandeira

03 março 2010

Portugal e Áustria - ligações históricas entre os dois países, especialmente do ponto de vista maçónico

Como referi no texto publicado na semana passada, hoje procedo à publicação da prancha apresentada pelo Irmão E. C., da Loja Hippokrates, na reunião daquela Loja em que uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues efetuou uma visita àquela Loja.

Sabemos que alguns dos leitores deste blogue não dominam o inglês e preferem sempre que publiquemos aqui apenas textos em português. Mas, por vezes, justificam-se exceções - e este é um desses casos. Trata-se de um trabalho feito por um Irmão estrangeiro propositadamente para ser apresentado para o dia em que estava programada a visita à sua Loja de Irmãos portugueses da Loja Mestre Affonso Domingues. Ficámos, é óbvio, muito sensibilizados. E uma forma de manifestar o nosso agrado é publicar aqui o trabalho apresentado.


Portugal and Austria – historical links between the two countries especially in regard of Freemasonry

Portugal and Austria can be regarded as two countries in Europe which obviously differ in many aspects and in this way of course contribute to the rich diversity within the European Union. Drawing our attention to what we do have in common we can say that – nowadays – both countries are of rather similar dimensions concerning size and population: whereas within more than 92000km² of the parliamentary republic on the Iberian Peninsula more than ten million people are living, the federal republic in Central Europe is somewhat smaller, being inhabited by more than eight million inhabitants at nearly 84000km² of surface size.
Nevertheless our subject is of historical interest – which means we have to look backwards in history to examine commonness.

Alliances between Portugal and Austria

In spite of the fact that – as to the geographic distance – our two countries are far apart from each other, several situations occurred in the past at which Portugal and Austria had to deal with each other in some ways; at first it seems worthwhile to consider matrimonial alliances between the ruling houses of the Kingdom Portugal and the Austrian Empire. Such marriages were very common in Europe with its multitude of monarchies because they offered political advantages, even though the territories of the participating countries were at remote distance of each other. The Habsburg Family whose empire was in the centre of the continent was eager to build alliances with many European monarchies through marriages; in this way a dense network of familiar and political relationships developed in the whole of Europe – which means the confusion was perfect …
The probably first union of such characteristics between Portugal and Austria was concluded in the 15th century: it was the wedding of the Austrian Emperor Friedrich V (III) (1415 – 1493) with Infanta Leonor of Portugal (1436 – 1467); she then became the mother of one of the most important Austrian Emperors, Maximilian I, called “The last Knight”.
During the 16th century at least five alliances were concluded between the House of Habsburg and Portuguese Nobility; therefore it is not so easy to see through the complexities which were created in this way: these marriages mainly concern the so called “Spanish Line” of the Habsburg Family whose establisher Emperor Karl V (I) (1500 – 1558) married his first cousin, Infanta Isabella of Portugal (1503 – 1539) and who were a very happy married couple; their son Phillip II (1527 – 1598) became husband of Princess Infanta Maria Manuela of Portugal (1527 – 1545) and named as Phillip I was later the King of Portugal. Karl’s sister Infanta Eleonore of Castile (1498 – 1558) became the third wife of the Portuguese King Dom Manuel I (1469 – 1521); he was the father of Eleonore’s sister in law, the mentioned Isabella, while Eleonore at the same time was the niece of Dom Manuel’s first and second wives. Another child of Karl, Archduchess Johanna of Austria (1535 – 1573), was married to a Portuguese member of high nobility as well: Prince João Manuel of Portugal (1537 – 1554), her first cousin. A second sister of Karl, Archduchess Katharina of Austria (1507 – 1578), became the wife of King Dom João III of Portugal (1502 – 1557). At this point the confusion for the listener is too big to imagine all the relations; only an illustration could help.
The next important matrimony between Portugal and Austria was during the 18th century, when Archduchess Maria Anna of Austria (1683 – 1754) married her cousin King Dom João V of Portugal (1689 – 1750).
In the early 19th century, Archduchess Maria Leopoldine (1797 – 1826) became the wife of Dom Pedro I (1798 – 1834) who was the Emperor of Brazil and also King of Portugal for a bit more than two months. The Portuguese royal family had been living in Brazil in exile for ten years, as a result of the Napoleonic Wars. And a few generations later, the third wife of Archduke Karl Ludwig of Austria (1833 – 1896) was Portuguese as well, the Infanta Maria Theresa of Portugal (1855 – 1944) who died here in Vienna during the Second World War.


Sebastião José de Carvalho e Melo

Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras and Marquês de Pombal – the name under which he is known – was born on the 13th of May 1699 in Lisbon as son of Manuel de Carvalho e Ataíde and Teresa Luísa de Mendonça e Melo. After his studies at the famous University of Coimbra which – having been founded 1290 – is one of the oldest universities in the world, he was sent to London in 1738 as Portuguese Ambassador and after seven years went to Vienna having been entrusted by King Dom João V with the same function. It was here that Sebastião José de Carvalho e Melo got married to Leonore Ernestina Gräfin von Daun, the daughter of the Austrian Field Marshall Leopold Josef Graf von Daun in December 1745; the wedding had been made possible after the intervention of the Portuguese Queen, Maria Ana de Áustria. King Dom João V called him back to Lisbon; his son and successor Dom José I appreciated him so much that he was appointed Minister of Foreign Affaires and later even Prime Minister.
The 1st of November 1755 for sure was the most tremendous day ever for Lisbon and probably one of the most significant days in the life of Sebastião José de Carvalho e Melo: having survived luckily he immediately organized help for the people who had survived as well as the burying of the victims. Thanks to his efforts there were no epidemics in the city which in the course of the earthquake had suffered fires and a tsunami. To rebuild of a main part of the city new technologies for construction of earthquake-proof buildings were invented and tried for the first time. Dom José I – not being interested in political matters – gave him plenty of freedom for his official functions so that under this aspect Sebastião José de Carvalho e Melo can be regarded as the actual ruler of Portugal in the middle of the 18th century; the so-called Pombaline Reforms represent the enlightenment in Portugal and affected not only Lisbon’s renewal and modernization, but also the position of the Church in Portugal, especially the problems which had been caused by the Jesuits who continued to preach that the earthquake had been God’s punishment for the previous reforms. Furthermore he abolished slavery in Portugal and India, though not in Brazil, where the position of the native population was defined; he reorganized the Portuguese Army and Navy, and even regulated production and trade of Port Wine by law.
For his merits Sebastião José de Carvalho e Melo received the title of Conde de Oeiras in 1759 and was made Marquês de Pombal in 1770 though the high Portuguese Nobility refused to accept the noble titles of Marquês de Pombal; shortly after the King’s death in 1777 the succeeding sovereign withdrew all power from the Marquis who died on the 8th of May 1782 peacefully in Pombal.


Gomes Freire de Andrade

Gomes Freire de Andrade was born in Vienna on the 27th of January 1757 as son of António Ambrósio Freire de Andrade e Castro, Ambassador of Portugal to the Austrian Court and Elisabeth Countess von Schaffgotsch who was descendant from an old and distinguished family of Bohemia.
His father – who had been a great supplier of Marquês de Pombal in the arduous campaign against the Jesuits in Portugal – sent Gomes Freire de Andrade at the age of with 24 years to his actual home country, to Portugal; it is said that Gomes Freire de Andrade already by then had achieved the rank of commander in the Order of Knights of Christ – which means that he had joined the Order in Vienna. His military career began in 1782 and developed very well, taking him around quite a lot. As he received permission to serve in the army of Tsarina Catherine II in the war against Turkey he left for Russia where he gained greatest sympathy at court, especially with the Empress herself. Having been very successful in battles he was awarded in 1790 by Catherine and was promoted to the rank of a colonel which was confirmed in the Portuguese army – even though he was absent in Portugal. By the time rumours of sympathy and enthusiasm of the Tsarina towards Gomes Freire de Andrade came up, apparently confirmed by the dissensions between him and Prince Potemkin who had been her favourite. Back to Portugal his life in battle continued when in 1793 he fought with his regiment in Catalonia with the Spanish armed forces against the French Army which constantly received reinforcements and finally won in the following year. The so-called “Légion Portugaise” was integrated to the French Army under its General Junot in 1808, had garrison in Grenoble and even participated in the Russian campaign. But the task Gomes Freire de Andrade was given by Napoleon in 1813 was just to be the Governor of Dresden in this period.
After the defeat of Napoleon, Freire de Andrade again returned to Portugal in 1815, where he was made a Lieutenant-General and – became the Grand Master of Freemasonry in Portugal a year later.
As there were suspicions that Gomes Freire de Andrade had been a leader in a conspiracy against the King Dom João VI he was betrayed – according to the facts by three Portuguese masons – and arrested. It was Gomes Freire’s position as grand master of the Portuguese Freemasonry and his correspondence with masons in other countries which gave him the appearance of being an arch-conspirator. Many of the conspirators had been masons and their secret meetings seem to have been partly disguised by carrying out Masonic rituals. A day before his execution a British officer who was a freemason offered to him the opportunity to escape which he refused and so his execution took place on the 18th of October 1817 in the fortress Julião da Barra in Oeiras for the crime of treason along with eleven other people. His body was burned and the ashes were thrown into the Tejo River. This brutal act, for which the commander of the British Army in Portugal, Lord Beresford, was responsible, led to loud protests and intensified anti-British tendencies in Portugal, having the Porto Revolution and the fall of Beresford in 1820 as a consequence. Under this aspect Gomes Freire de Andrade could be regarded as the first great martyr of Portugal.

Prancha do Irmão E.·. C.·. da Loja Hippokrates, aqui publicada por

Rui Bandeira