11 novembro 2009

O Símbolo Perdido


O Símbolo Perdido, da autoria de Dan Brown e recentemente publicado, conta uma história que se desenrola em torno da Maçonaria e dos seus símbolos existentes na capital americana.


Desde o megassucesso de O Código Da Vinci que os livros deste autor americano, até aí relativamente desconhecido, são objeto de grande curiosidade por parte do público. Estou em crer que se venderam mais exemplares de livros anteriores ao Código da Vinci (Anjos e Demónios, Fortaleza Digital, A Conspiração) depois da publicação da emblemática novela de aventuras sobre os alegados segredos escondidos na Última Ceia, de Leonardo da Vinci, do que aquando da publicação original dos respetivos volumes...

Hoje por hoje, juntar uma novela de Dan Brown e a temática da Maçonaria é êxito editorial garantido. Os exemplares do livro vendem-se como pãezinhos quentes.

A historieta decorre ao estilo do escritor, em ritmo rápido, de leitura fácil e viciante. Na minha opinião, a trama de O Símbolo Perdido tem uma qualidade superior à de O Código Da Vinci. Este, aliás, pese embora o enorme sucesso que teve, em meu entender não passa de uma cópia da estrutura do anterior Anjos e Demónios. Já O Símbolo Perdido revela uma estrutura narrativa diferente, mas igualmente atrativa, embora não isenta de inconsistências (sem revelar o enredo, para quem ainda não leu, a intervenção da alta funcionária da CIA, que se revela fundamental no desenvolvimento da história, não está logicamente justificada: não se entende como teve ela acesso ao vídeo que a alerta para a "emergência de segurança nacional", que estava guardado no computador portátil do vilão e não fora ainda por este enviado para a Internet, pois o mantinha em rigoroso sigilo até ao momento que projetava ser o adequado...). Mas, inconsistências à parte, é uma história que prende o leitor e se lê com algum agrado.

Dan Brown não é maçom - ele próprio o declarou, nas entrevistas de divulgação e lançamento deste seu livro. No entanto, ressalta do seu livro que simpatiza com os princípios maçónicos e que reconhece valor à instituição. Este seu livro é simpático para a Maçonaria, dando dela uma visão completamente diferente das distorcidas e mentecaptas teorias da conspiração que por aí campeiam.

No entanto, enquanto maçom, entendo que, em relação à Arte Real, o mais importante, neste livro, não é a trama aventurosa da história, nem sequer a visão positiva da Maçonaria que o seu autor dá. Dois outros aspetos captaram a minha atenção e considero relevantes.

O primeiro é o profundo conhecimento que o profano Dan Brown revelou da Maçonaria. Com exceção de uma pequeníssima imprecisão (aliás anotada pelo revisor da edição portuguesa), o que Dan Brown descreve, refere, explica, é basicamente... certo! O que confirma uma tese que há muito venho defendendo: pese embora toda a repetida lengalenga de que a Maçonaria é uma sociedade secreta, pesem embora as numerosas variações sobre o sempre repetido tema do segredo maçónico, tudo o que respeita à Maçonaria está publicado e ao alcance de qualquer interessado em saber, em conhecer, os profundos e excelsos segredos dos maçons. É certo que, como também normalmente refiro, tudo o que está certo encontra-se rodeado de impressionante quantidade de lixo, mentiras e irrelevâncias... É certo que a grande dificuldade está em conseguir distinguir o certo e relevante da fantasia, da invenção, da picuinhice sem interesse nenhum... Mas Dan Brown, ao escrever este livro, provou que um profano estudioso, determinado e dotado de bom senso consegue aceder ao que verdadeiramente é a Maçonaria.

O segundo aspeto que captou a minha atenção é que a trepidante história... acaba para aí umas cinquenta páginas antes do fim do livro! As sortes do vilão, da "emergência de segurança nacional", dos protagonistas, ficam todas reveladas cerca de cinquenta páginas antes do fim do livro.

Pois bem: porventura alguns não concordarão, de todo, comigo (e estarão no seu pleníssimo direito, sem qualquer ponta de vestígio de desapontamento da minha parte) mas, na minha opinião, são estas cerca de cinquenta páginas depois de a aventura acabar que valem a pena! A aventura, o suspense, o ritmo cinematográfico, ficaram para trás, a nossa curiosidade ficou satisfeita e... para quem quiser ler com olhos de ler, quem quiser refletir e não apenas olhar... é nessas cerca de cinquenta páginas que está matéria que merece reflexão. Quem o fizer, quem refletir, quem aprofundar dentro do interior de seus pensamentos e meditação, algumas passagens do que naquelas cerca de cinquenta páginas "sem" ação está, chegará porventura a conclusões inesperadas - ou não... Quiçá cada um chegue a conclusões diferentes do parceiro do lado. Mas talvez deva ser assim mesmo!

Gostei, por isso, de ler O Símbolo Perdido. Não por falar de Maçonaria. Mas por se me ter revelado não ser apenas uma história de aventuras, apta a dar uma adaptação jeitosa para o cinema. Ser também um pouco de alimento para o espírito, de elemento para reflexão. E isso, na minha cartilha, é que define um bom livro!

Rui Bandeira

13 comentários:

Nuno Raimundo disse...

Boas Rui...
Estou neste momento a ler o livro ainda nos seus capitulos iniciais (cap.4), mas pelo que já li até este momento, Dan Brown está a "promover"n a Maçonaria e não a difamá-la como outras publicações de outros autores o fazem.
Concordo com o que o Rui diz em relação ao que se um profano for estudioso e persisitente na sua busca e análise sobre a Ordem, a apreenderá com certeza. Apenas lhe faltará a experiência "vivida" e algumas coisas mais; mas o essencial "apanhará"...

Quanto a D.Brown ser ou não maçon, é dúbio na minha opinião.
Pode não o ser e está no seu direito, como sê-lo e não se quere assumir como tal. Mas penso que neste ponto estaria ele a incorrer na "quebra de promessa" ao revelar parte dos rituais ( pelo menos aquilo que conheço e que já reparei no livro até agora).

Trata-se de feteivamente um livro a ser lido sob dois pontos de vista, o dos "iniciados" e o dos profanos.
Iniciados, pq não lhes trará nada de novo que já não conheçam e que apenas pode confirmar o que sabem.
Profano, porque sem dúvida trata-se de uma boa narrativa...

abr...prof... ( e boas leituras ;) )

Alexandre disse...

Ainda não li o livro.
Considero porém que ainda aprendo mais neste blogue.
Como sou uma pedra bruta ainda sem forma mas, ciente que a aprendizagem é feita por actos e não por fantasias, vou desvalorizar o livro e continuar a ler este blogue entre outros.
Não quero apesar disso retirar qualquer valor a Dan Brown.

efelima disse...

Sou leitor recém-chegado a este blogue e revejo-me na posição do Alexandre. Cada leitura que tenho vinda a fazer neste blogue, sinto que saio enriquecido. Há um pequeno senão... custa-me aceitar a modernice da escrita em conformidade com o (des)acordo ortográfico. Acho que não havia necessidade. Até breve!

Azul Diamante azul disse...

Estava convencida que o Código Da Vinci tinha sido o primeiro livro de D.Brown, já confirmei de que realmente Anjos e Demónios foi editado em 2000 por outra editora.
Sempre a aprender até morrer.
Ainda não comecei a ler o Símbolo perdido. Também gosto dos livros de William M. Valtos
Tudo de bom

Rui Bandeira disse...

@ efelima:

Respeito - obviamente! - a sua opinião quanto ao que designa de (des)acordo ortográfico.

A opção de escrever segundo as regras do Acordo Ortográfico tem mais de um ano e explica-se assim:

1) O Acordo Ortográfico entrou em vigor em Portugal há pouco mais de um ano.

2) Dese a sua entrada em vigor, existe um período de 6 anos de adaptação, durante o qual legalmente é considerado correto escrever-se segundo as regras antigas ou pelas regras do AcordoOrtográfico.

3) Período de adaptação é para isso mesmo: adaptação! Adaptação de quem escreve, adaptação de quem lê.

4) Com todo o respeito pela opinião contrária, parece-me pouco inteligente não aproveitar TODO o período de adaptação para me... adaptar e deixar andar até à última hora e depois... ter de fazer em poucos dias, semanas, ou meses, a mudança mental necessária para escrever corretamente (sem erros em relação à ÚNICA ortografia que, daqui a menos de 5 anos está em vigor).

5) Recinheço que esta postura parece ser muito minoritária... Curiosamente, que eu tenha dado conta, o único órgão de informação escrita que escrevejá segundo as regras doAcordo Ortográfico é um jornal desportivo (Record)! Mas, afinal de contas, ser português também é um pouco isto, reconheço...

6) A minha mudança de escrita para as regras do novo Acoedo Ortográfico não foi feita a seco: estudei-as e publiquei-as, comentadas, aqui no blogue, entre 1 de setembro e 24 de novembro de 2008. Setiver paciência, vontade e tempo para tal, pode ler estes textos, localizando-os através do marcador "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990", neste blogue.

Um abraço!

Lindemann disse...

Não conhecia este título ainda e já está anotada a sugestão. Queria aproveitar, já que estamos falando em sugestão de leitura relacionada a Maçonaria, de um escritor brasileiro Z. Rodrix. "Johaben - Diário de um construtor do templo" que é o primeiro da trilogia do templo, é um ótimo livro que nas suas entrelinhas,há muito ensinamento. No link http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=16517 está a sinopse do livro. Uma excelente pedida pra quem se interessa por Maçonaria.
Abraços Josiel

Nuno Raimundo disse...

Boas...
Acabei de ler o livro e revelou-se tal como eu esperava uma boa narrativa.

Achei alguma graça ao nome escolhido para certos "intervenientes" do livro e às informações reveladas pelo autor do livro em relação à Ordem.
Mas nada que uma busca mais detalhada sobre a Ordem não revele...
:)
abr...prof...

Diogo disse...

«se um profano for estudioso e persisitente na sua busca e análise sobre a Ordem, a apreenderá com certeza. Apenas lhe faltará a experiência "vivida" e algumas coisas mais; mas o essencial "apanhará"...»


Continuo sem perceber tanto segredo sobre práticas de evolução espiritual. Não faz sentido.

Nuno Raimundo disse...

Caro Diogo...
Tenho para mim que o "segredo" é o de que não há segredo e que tudo está á nossa volta e à vista de todos.
Quanto muito não o saberemos interpretar ou a sua interpretação é débil.

Da mesma forma que várias religiões fazem "segredo" das suas práticas e que apenas os seus religiosos e sacerdotes as conhecem através da iniciação, porque não a Maçonaria fazer"segredo" das suas!?
O problema está é no que nós chamamos por "ritual" e "iniciação".
A Igreja Católica tem vários rituais e ninguém os condema, A muçulmana outros tantos que ninguém condena e por aí fora...
Tudo numa forma de re-ligação com o divino/espiritual.
Porque não há-de ter a Maçonaria a sua propria maneira de ver o Mundo e a Espiritualidade?!

Cada um sabe o que é melhor para si e é livre de optar pelo que quer... E pelas buscas/estudos que fará para o obter.

Quem não gosta, tb não detrata. é esse o espirito da Tolerância.
Quanto muito escolhe outra coisa.
:)
abr...prof...

Lindemann disse...

Boas palavras do Nuno. Na verdade se alguém é contra a Maçonaria "até de baixo d`água", como diz o ditado, não sei o motivo pelo qual visita sempre este site. Eu vejo este espaço para o aprendizado de quem busca por curiosidade ou, como no meu caso, por afinidade. E não simplismente para ver o "circo pegar fogo" nas discussões.
Abraços e um ótimo final de semana!
Josiel Lindemann

Diogo disse...

Nuno Raimundo: «Da mesma forma que várias religiões fazem "segredo" das suas práticas e que apenas os seus religiosos e sacerdotes as conhecem através da iniciação»

«A Igreja Católica tem vários rituais e ninguém os condena, A muçulmana outros tantos que ninguém condena e por aí fora...»


Que rituais secretos têm as outras religiões? Eu posso assistir, sem qualquer problema, a uma sessão de culto numa igreja cristã, numa sinagoga, numa mesquita ou num templo budista. Mas seria impedido de assistir a uma sessão maçónica.

É o segredo, meu caro, que é ininteligível a mim e a muitos outros. Era fácil acabarem com o clima de suspeição: tornem o acesso aos vossos rituais livre a toda a gente. Se alguém não se comportasse condignamente seria convidado a sair, como fazem nos outros templos.

Nuno Raimundo disse...

Boas Diogo...
Quanto aos meus rituais posso lhe dizer que são obvios, é o café da manhã,trabalhar, estar com a familia e amigos e agradecer ao meu "Deus" o dia que me deu. Mas eles são "profanos".

Quanto aos dos maçons qq boa livraria, na seção Esoterismo os terá.
É só o Diogo fazer como eu e comprar os necessários ou tentar obte-los pela internet.
Ainda há bem pouco tempo em terras lusas foram editados uns quantos a abordarem tais rituais e de forma bastante completa...
é só se aconselhar com os livreiros.
Mas sem trabalho tb não lhes acederá, naturalmente. :)

Quanto a rituais secretos na maioria das religiões, eles existem e são mais do que está à vista.
Alguém já assitiu ao que se passsa no interior de um conclave papal?
Alguém consegue estudar a Cabala sem a devida "ajuda"?
Inclusivé a maioria dos muçulmanos não consegue copreender os sufis?
E quem consegue aceder aos rituais e textos do Pequeno e do Grande Diamante?
e por aí fora no que toca a re-ligiões...

No fundo somente muito poucos lhes conseguem "tocar" e falei de "fraternidades" com mais elementos que a propria Maçonaria.
Não esquecer que a propria I.C.A.R é ela mesma uma fraternidade de Irmãos em Cristo e filhos de um Deus-Pai.
:)

Por isso caro amigo, não vale a pena bater na mesma "tecla".
Tal como a máxima maçónica o diz, "Quem procura, Encontra"; é fácil,só seguir á letra tal máxima.



abr...prof...

Paulo M. disse...

Caro Diogo:

Deixe-me contar-lhe um conto de que lembro da minha infância.

Uma certa rapariga casou com um homem muito rico, mas era muito má dona de casa, pelo que a casa não andava em ordem. Pediu ajuda a alguém (não me recordo de quem), que lhe deu um pequeno baú fechado à chave - que guardou - com a recomendação de que, durante um mês, o levasse, 3 vezes por dia, a cada uma das divisões da casa. Ela assim fez. Ao fim desse mês a casa parecia outra. O baú foi, por fim, aberto, e revelava-se então no papel que continha que, ao percorrer a casa, ela se aperceberia do que estava a ser mal feito, além de que o pessoal da casa passaria a ter em conta as frequentes visitas e a fazer, por isso, o trabalho que lhe competia.

Tenho para mim que o "segredo maçónico" é como o baú fechado da história: um acessório de trabalho que permite que quem o carregue se aperceba de coisas que, de outro modo, não veria. Não é um fim em si mesmo, e revelá-lo de antemão implicaria, de imediato e quase inevitavelmente, o fracasso do seu sucesso. Alguns, ao fim de muitos anos, continuam a descobrir coisas no fundo do baú - que, de resto, é o fundo de cada um de nós.

Mas este é só o meu ponto de vista, e é essa a beleza da coisa: cada um vê no baú aquilo que quiser ver, desde que o carregue e cumpra as regras do jogo...

Um abraço,
Simple