31 julho 2009

O grande desperdício

Mais um exemplo espantoso de força moral, transformada em física.
Na Física aprende-se que existe uma energia potencial transformável em cinética sob determinadas leis, conhecidas e enunciadas.
Só que as leis da Física têm pouco a ver com o que é preciso para explicar os verdadeiros milagres de força de vontade que aqui são representados.

Vão aparecendo estes exemplos e de alguma forma vamos encontrando no nosso Portugal algumas melhorias no apoio a pessoas que de uma forma ou de outra necessitam mais dos outros.
Os exemplos que me vão entrando no correio e que depois eu vou aproveitando para trazer ao blog são lufadas de ar fresco no reconhecimento da força que cada um de nós tem por dentro.
É só querer, e ela aparece !

O lamento que resta é constatarmos que esta capacidade só aparece em casos de grandes dificuldades.
Que bom seria podermos desenvolvê-las para aplicação generalizada na transformação da Humanidade, independentemente da sua aplicação a necessidades próprias.

Pelo menos ficamos a saber aquilo que estamos a desperdiçar que é muito mais do que aquilo que estamos a aproveitar.


E por agora, grande abraço e bom fim de semana.

JPSetúbal

29 julho 2009

Entrevista esclarecedora

François Stifani
Muito Respeitável Grão-Mestre
da Grande Loge Nationale Française

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP tem uma ligação especial com a Grande Loge Nationale Française. Foi esta Grande Loja que a consagrou, então ainda com o nome de Grande Loja Regular de Portugal. Vamos, pois, estando atentos ao que se passa com os nossos Irmãos Regulares de França. E um dos sítios que regularmente consulto é o sítio da Grande Loge Nationale Française.

Deparei recentemente nesse sítio com um vídeo de uma entrevista do Muito Respeitável Grão-Mestre da GLNF, François Stifani que, apesar da sua grande extensão - 27 minutos - vale a pena ver.

Em primeiro lugar, pela naturalidade e simplicidade como o Grão-Mestre Stifani fala, com clareza, de assuntos tão diversos como o segredo maçónico, o que buscam os maçons regulares, a espiritualidade, a diferença entre a Maçonaria Regular e a Maçonaria da orientação do Grande Orient de France, a posição da Maçonaria Regular perante a religião católica e a Igreja Católica, a efetiva aplicação no seio da Maçonaria da divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, etc.. Uma verdadeira lição, em poucos minutos, do que é Maçonaria.

Trata-se de uma entrevista concedida à TV 7, uma televisão regional francesa, de Bordéus. Mas não se pode deixar de notar que, se aqueles 27 minutos são verdadeiramente esclarecedores, sobretudo para os profanos, tal se deve também ao profissionalismo e qualidade do entrevistador. Perguntou o que precisava de perguntar para esclarecer os espectadores e deixou falar o entrevistado. Conduziu a entrevista como se de uma agradável conversa se tratasse, passando de tema a tema com a propósito, sem interromper malcriadamente o seu entrevistado, sem mostrar tomar partido a favor ou contra. O resultado foi um programa interessante, bem conduzido e elucidativo. Bem poderiam alguns e algumas profissionais da nossa praça, que se julgam estrelas do jornalismo televisivo, pôr os olhos e aprender com aquele profissional francês... É que, afinal, uma entrevista televisiva não tem propriamente como objetivo - exceto, parece, para algumas cabecinhas pensadoras que para aí andam... - fazer brilhar o entrevistador, qual estrela com aspirações a supernova... Uma entrevista televisiva é informação e o seu destinatário é o público. Não se destina a fazer brilhar nem entrevistador, nem entrevistado. Destina-se a INFORMAR. E, por isso, é-se bom profissional quando se conduz a entrevista, não com o propósito de contradizer, examinar, achincalhar, provocar, interromper, o entrevistado, não com o objetivo de encher o écran, mas com o único e reto propósito de criar as condições para que o entrevistado possa esclarecer a sua posição sobre os temas propostos. E depois o público faz o seu juízo: uns concordam, outros discordam, outros ainda ficam indiferentes...

Querem saber o que é, o que faz, como se situa perante a vida e a sociedade a Maçonaria Regular?

Pois bem, desde que entendam o francês, reservem 27 minutos do vosso tempo e... sigam este atalho:

http://www.glnf.fr/video2.asp
.

Às vezes, é pela forma mais simples que melhor se esclarece e se é esclarecido!

Rui Bandeira

24 julho 2009

Quando um jovem sonha

Quando um jovem sonha...:
"o mundo pula e avança, como bola colorida... "

Foi o nosso querido professor de Física/Poeta que ensinou e uma geração aprendeu.
Só que infelizmente a velocidade do desenvolvimento da sociedade humana não acompanha a velocidade de desenvolvimento dos sonhos nem da vontade de alguns (quero acreditar que cada vez em maior número) e o resultado faz com que a distância entre o que acontece em grande parte do mundo e o que gostariamos que acontecesse em toda a humanidade é cada vez maior.

Esta pequena interpretação deste pequeno jovem (bela voz !) vale o que vale (esta expressão é das coisas mais inteligentes que os nossos políticos, dirigentes desportivos, técnicos de sondagens e mais génios disparam a torto e a direito... com o ar inteligente que convém a estas declarações. Se estivessem ao pé de mim constatariam o ar intelectual que fiz nesta fase do texto...) e como tal é necessário ouvi-la com o distanciamento que fôr possível a cada um.
Mas trago-a para aqui porque a oportunidade é bem adequada ao que vemos nos jornais diários.
É mais um pequeno desafio ao pensamento "no outro" que o fim de semana pode ajudar a concretizar.
Se isso acontecer... valeu a pena !



E, como sempre... grande abraço e bom fim de semana.

JPSetúbal

22 julho 2009

Consagração da Grande Loja de Moçambique

Quem nos últimos dias passou pelo sítio da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, verificou estar lá publicado, com inusual destaque, um texto informativo com o mesmo título do que encima este arrazoado.

O inusual destaque indicia a particular importância que a GLLP/GLRP e o seu Grão-Mestre atribuem ao evento noticiado. Mas a institucionalidade do sítio em causa, que obriga a que o que ali é publicado como notícia seja sobretudo factual e objetivo, evitando-se os comentários e opiniões, não permitiu destacar, assinalar e enquadrar alguns aspetos significativos do evento e do que ele representa.

Em primeiro lugar, importa destacar a importância em si mesma do facto. Há muito, muito tempo que inexistia atividade maçónica publicamente conhecida em território moçambicano, em especial da Maçonaria Regular.

Em segundo lugar, é asado assinalar que a consagração da Grande Loja de Moçambique, sendo um início, é também um culminar de um processo preparatório minucioso, sério, discreto e persistente. Desde há vários anos que funcionavam, primeiro uma, depois outra, logo outra, Lojas sob a égide da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, ali estabelecendo as sementes e difundindo os princípios da Regularidade Maçónica. As sementes germinaram, os princípios consolidaram-se, o interesse foi crescendo, a aprendizagem foi-se fazendo. Sempre com a discreta ajuda e enquadramento da GLLP/GLRP. Foi um trabalho realizado longe dos holofotes, de formiguinha, de paciência, de método. Levado a bom porto. A gestação da Regularidade em Moçambique terminou no tempo próprio e agora é altura de os Irmãos daquele país seguirem o seu rumo administrando-se a si próprios, sem tutelas, sem protecionismos. Chegou a altura de uma nova Potência Maçónica Regular ser proclamada. Como é apanágio da Maçonaria, a nova Grande Loja de Moçambique é reconhecida como igual por todas as demais Potências Maçónicas que intervieram na sua Consagração e, paulatinamente, vai ser rconhecida como igual por todas as demais Potências Maçónicas Regulares do Mundo.

Em terceiro lugar, deve-se enquadrar devidamente o sucedido, quer pelo lado da Potência Maçónica consagrada, quer relativamente à consagrante. Estiveram presentes e intervieram na Consagração da Grande Loja de Moçambique e na Instalação do seu primeiro Grão-Mestre, nada mais, nada menos, do que quatro Grão-Mestres: o da GLLP/GLRP, Grão-Mestre Consagrante e Grão-Mestre Instalador, o da Grande Loja da Costa do Marfim, que exerceu os ofícios de Primeiro Grande Vigilante Consagrante e Primeiro Grande Vigilante Instalador, o da Grande Loja das Maurícias, que exerceu os ofícios de Segundo Grande Vigilante Consagrante e Segundo Grande Vigilante Instalador e o da Rússia, que, simbolicamente, tomou a seu cargo a imposição do Avental de Grão-Mestre ao recém-instalado Grão-Mestre de Moçambique. Estiveram ainda representadas, ao mais alto nível, a Grande Loja Nacional Francesa, através do Grão-Mestre Provincial da Ilha da Reunião, que exerceu as funçóes de Grande Orador, o Grande Oriente do Brasil, através do seu Grande Secretário Geral das Relações Exteriores, que assegurou o ofício de Grande Hospitaleiro, a Grande Loja da África do Sul, com uma numerosa delegação presidida pelo seu Past Grande Porta Espada, que, adequadamente, exerceu o ofício de Guarda Interno, e a Grande Loja do Gabão, através do seu Assistente do Grão-Mestre e Grande Secretário, que tomou a seu cargo a imposição da Joia e do Colar de função ao recém-instalado Grão-Mestre de Moçambique. Qual cereja em cima do bolo, esteve ainda presente o Secretário da Conferência Mundial de Grandes Lojas Regulares que, significativamente, procedeu à Proclamação da Grande Loja de Moçambique e do seu Grão-Mestre.

Esta comparência e cooperação de altos representantes de várias Potências Maçónicas representa um alto significado, quer para Grande Loja de Moçambique, quer para a GLLP/GLRP. Para aquela, a garantia do fácil, tranquilo e rápido reconhecimento de todo o Mundo Maçónico Regular. Foi consagrada pela Potência Maçónica Regular de Portugal, na presença da única Potência Maçónica Regular brasileira de nível supra-estadual, o GOB. Intervieram na sua consagração representantes, ao mais alto nível, de várias e importantes Potências Maçónicas africanas. Estiveram ainda representads duas outras indubitavelmente importantes Potências Maçónicas europeias, a GLNF e a Grande Loja da Rússia. Finalmente, foi proclamada pelo Secretário da Conferência Mundial de Grandes Lojas Regulares. Se isto não é demostrativo de consenso generalizado em torno da nóvel Grande Loja, não sei o que porventura será...

Também esta larga constelação de estrelas maçónicas presentes constitui um agradável conforto para a GLLP/GLRP. A Consagração por esta da Grande Loja de Moçambique foi respaldada, apoiada consensualmente, pelas principais Potências Maçónicas mundiais, algumas estando presentes e outras, embora não o estando, por princípios de atuação internacional próprios, como a UGLE (Grande Loja Unida de Inglaterra), apoiando a dita Consagração e que a mesma tivesse lugar através da GLLP/GLRP. A direção da tarefa de implantação da Maçonaria Regular nos países de língua oficial portuguesa em que esta ainda não está oficialmente implantada foi assumida pela GLLP/GLRP, com o consenso das demais Potências Maçónicas Regulares. E a generalizada prova da confiança no trabalho efetuado por esta leva-a, e aos seus obreiros, a perseverar na qualidade futura desse seu trabalho, no cumprimento estrito dos princípios da Regularidade e na sua divulgação.

Por tudo isto, foi um Grão-Mestre muito feliz, visivelmente contente e extraordinariamente satisfeito que encontrei no seu regresso da deslocação a Moçambique!

E tudo isto - por escolha própria - entendi não ser apropriado escrever no institucional sítio ds GLLP/GLRP. Mas considero poder e dever aqui ser publicado!

Rui Bandeira

17 julho 2009

Só sei que nada sei ?

Conta-se (ou cantava-se) nos meios académicos, pelo menos de Lisboa e Coimbra, uma historinha, mais ou menos "anedotificada", mas que retratava uma situação real passada numa aula de uma das várias "Matemáticas" pelo qual passaram os que andaram pelo Técnico ou pela Faculdade de Ciências de Lisboa nos idos de 60 do século XX (t'ou mesmo velho...!).

A coisa aconteceu com um professor de Matemática, conhecido e excelente cientista (está fora de dúvida), mas um tanto bronco no que tocava a sua vaidade pessoal, e rezava da seguinte forma:

- Meus senhores, no Congresso do último fim de semana só sábios eramos 14 !

Com toda esta modéstia é de prever que outras broncas sairiam de vez em quando, e saiam mesmo. Mas foi um excelente "prof" a quem muita gente da minha geração deve muito, do muito pouco que sabe.

Isto a propósito do vídeo/musiquinha de hoje, estilo "palavras cruzadas pensantes" para o fim de semana.

É que esta coisa de ponderar sobre o que se sabe ou não sabe, muitas vezes complica-se e damos connosco a pensar se de facto sabemos alguma coisa e que coisa é essa do saber.

Assim a modos como as "certezas" ácerca das quais eu sempre gosto de reproduzir um diálogo:

- Toda a gente que tem a certeza absoluta do que diz é estúpido...
- Tens a certeza ?
- Absoluta !

À hora a que habitualmente alinhavo estes pequenos introitos aos vídeos com que vou preenchendo as 6ªs feiras já não tenho paciência para dissertar sobre a relatividade do saber e do conhecimento, tanto mais que cada vez com maior frequência as “sardinhas assadas com pimentos” que ontem eram um veneno para tudo, hoje são um bálsamo para uma quantidade de maleitas perigosíssimas… !
O que significa que quanto mais certo estou de alguma coisa, mais perto estarei de um qualquer génio-novo vir provar que o quadrado é redondo e o círculo tem, nada menos do que quatro lados em bico concavo cruzados com semi-retas elíticas…
E quando um génio-novo diz… é porque é verdade, seja lá o que fôr !
Até aparecer o próximo génio-novo.

Portanto aqui Vos deixo um muito ligeiro alerta para as vossas convicções inabaláveis, tanto mais que a fixação das ideias está cada vez mais em risco.



E como diria o Rui, "G's" há muitos (!) e todos "G's".

Como sempre, desejo-vos a todos, a todos mesmo, um bom fim de semana cheio de boas e verdadeiras certezas.
Abraços.

JPSetúbal

15 julho 2009

G de... Maçonaria

Embora a Maçonaria Continental use o símbolo do esquadro e compasso apenas com estes dois elementos, a Maçonaria anglo-saxónica, de tradição e língua inglesa, usa como símbolo notoriamente reconhecido como o da Maçonaria uma imagem similar à que encima este texto, com o esquadro, o compasso e a letra "G".

É inevitável! O neófito, o recém-iniciado, uma das primeiras perguntas que coloca é qual o significado desta letra.

Também eu, naquele tempo em que era Aprendiz, fiz essa pergunta. Mas como eu sempre gostei de "beber do fino", não fui de modas e, quando se apresentou a oportunidade, fiz a pergunta ao Grão-Mestre! Era então Grão-Mestre, Fundador, o já falecido e, independentemente de infelizes sucessos posteriores, por mim muito admirado, Fernando Teixeira. Já noutro escrito o classifiquei como um vero príncipe da Renascença. Governava a Obediência com mão ferro envolta em luva de veludo. Experiente, sabedor - muito sabedor! -, inteligente e matreiro, bonacheirão na hora do descanso e ferreamente sério na altura do trabalho, era um líder carismático. Carisma que cultivava. E parte do cultivo desse carisma fazia-o com a disponibilidade que manifestava para ensinar, esclarecer, iluminar os Aprendizes com quem gostava de confraternizar.

Portanto, para mim não foi nada de mais fazer a pergunta que - imagino-o hoje - antes de mim dezenas ou centenas de outros lhe tinham feito: o que significa o "G"?.

O Fernando sorriu, recostou-se na cadeira e, mais uma vez, deu a resposta que já dezenas ou centenas de vezes dera: havia vários significados possíveis; uns defendiam que o "G" significava Gnose; outros que aludia a Geometria ou Geómetra, e por aí fora. Matreiro que era, nunca dizia o que se esperava que também dissesse e aguardava que a "brilhante sugestão" viesse do Aprendiz: e não significaria simplesmente "God" (Deus em inglês)? Mais um sorriso confirmava que a pergunta era aguardada e lá esclarecia que a Maçonaria era Universal, inerente a todas as línguas, que não parecia muito curial que um símbolo tão universal respeitasse a uma língua, e lá repisava as teses da Gnose (que lhe era cara, estudioso como era dos Mistérios Mitraicos) e da Geometria ou Geómetra.

Pese embora a minha admiração por ele, na altura pensei cá para os meus botões, aproveitando na íntegra o silêncio do Aprendiz, que "tá bem, abelha, a Maçonaria teve origem em Inglaterra, os ingleses são aqueles tipos que têm a mentalidade de pensar que, quando existe uma tempestade no Canal ds Mancha e a navegação tem de ser ali suspensa, é o Continente Europeu que fica isolado deles, queriam lá saber da língua dos outros; o "G" era de God e não se falava mais nisso!" A solução mais simples costuma ser a correta, para quê complicar?

Os anos passaram, a Mestre cheguei e Mestre sou e, cá para mim, embora, quando perguntado, exponha a tese da Geometria ou Geómetra (a da Gnose nunca foi do meu agrado, demasiado rebuscada que a acho), sempre que do meu interlocutor lá vinha a referência ao "God" eu lá admitia como possível, se calhar provável. Não podia eu desmerecer do que intimamente eu próprio pensava...

Pois bem! Aprender até morrer! Só os burros não mudam de opinião!

Estou finalmente convencido que o "G" significa Geometria.

No texto da semana passada referi como aprendi que, nos antigos manuscritos da Maçonaria Operativa, a palavra Maçonaria era comummmente usada como sinónimo de Geometria e da Geometria aplicada à construção, a Arquitetura. Pois bem, se "Maçonaria" era sinónimo de "Geometria", a inversa também era verdadeira. Na Maçonaria Operativa, falar-se de maçonaria era falar-se de geometria, falar-se de geometria era falar-se de maçonaria. Então, nada mais simples do que criar o símbolo da Ordem com os artefatos da profissão e a letra inicial da ciência em que se baseava: o esquadro, o compasso e o "G".

Portanto, afirmo e proclamo, abjurando das minhas antigas dúvidas e reservas: o "G" do símbolo da Fraternidade simboliza a Geometria. O que é o mesmo que dizer que... simboliza a Maçonaria!

Está assim explicado o título: "G" de... Maçonaria!

(E quanto a ti, meu caro Fernando Teixeira, meu sempre lembrado Grão-Mestre Fundador, que só por isso e pelo teu carisma obnubilas divergências posteriores, bem o sinto: se lá do assento etéreo em que subiste, memória deste mundo se consente... estou a ver o teu sorriso bonacheirão, contente e vitorioso! O "rapaz" foi teimoso, demorou vinte anos a lá chegar, mas finalmente acabou de te reconhecer a razão... - Não, meu caro, quanto à Gnose, não insistas... Já era um exagero... Concordemos em discordar... - Fica prometido: no próximo ágape ritual em que eu estiver, depois dos sete brindes rituais, chegada a hora dos brindes livres, eu proporei um brinde à tua memória. Porque de ti guardo e guardarei sempre enquanto por aqui andar a memória do teu carisma, da tua inteligência, da tua sabedoria, do muito de bom que fizeste e deixaste. Do resto, da divergência final, não cura a minha memória: já não eras tu, já era a doença final que te levou daqui. É assim que se constroem e se lustram as memórias daqueles que prezamos e admiramos!)

Rui Bandeira

13 julho 2009

Continuidade - Vem aí o 20º Veneravel.

Acontece todos os anos na primeira sessão do mês de Julho a eleição do Veneravel Mestre e do Tesoureiro.

A estabilidade da Loja permite que o processo eleitoral decorra sem quaisquer problemas ou dificuldades e consequentemente se eleve o espirito de união da loja.

Para os cargos de Veneravel e Tesoureiro foram eleitos respectivamente Rui C.L. e Alberto J.G. ambos mestres.

Se Alberto é um mestre recente e assume aqui o seu primeiro cargo de Loja, já Rui é um mestre com muitos, muitos anos de maçonaria. É do tempo da fundação da Grande Loja e não fosse ter tido que se ausentar durante uns anos já teria sido seguramente Veneravel há muito mais tempo.

Junta-se assim a experiencia de um com o desafio a outro no sentido de levar a Loja Mestre Affonso Domingues para mais um ano de trabalho que se espera gratificante.

A instalação decorrerá, previsivelmente, na primeira sessão de Setembro.


José Ruah

10 julho 2009

Modernices...

Desta vez não deixo passar a 6ªfeira sem Vos deixar uma prenda.

Vou fugir de novo das coisas sizudas, mas não menos sérias, para Vos trazer o resultado de uma daquelas modernices que andam para aí, que o pessoal agora inventa e impinge à malta, a "bué da malta", que fica "fixe à brava" com estas "manifs".

É assim, o mundo não pára e as sociedades vão assim de glória em glória até à... glória final.
Isto digo eu que sou otimista.
A imagem que junto hoje, dizem, disseram já vários entendidos na matéria, que não se repetirá.

- Olha que novidade... Se se repetisse é que eu ficava "estúpido", disse o "Lecas", "os cotas já malharam... áh, com'é que podem repetir ?"

Vejam e não fiquem invejosos por não serem capazes de fazer o mesmo.
Pensem que há mais assim. Não é Vosso exclusivo.



Sabem quem eram ? Quem eram, não, quem são, porque estes "não malharam, não...!"
O enorme par, com muito mau feitio, mas com uns pés de estarrecer.

Fred Astaire e Eleanor Powell aqui ficam para recordar... os que se recordarem, claro !

Ia esquecendo um pormenor. A "voz off" é... essa mesmo, "The voice" ! (Frank Sinatra).

Abração. Bom fim de semana.

JPSetúbal

08 julho 2009

Maçonaria = Geometria = Arquitetura

Albert G. Mackey

Estou agora a ler um livro que um dos meus Irmãos me ofereceu vai já para quatro anos e que os afazeres da vida, o imenso que há para ler e prioridades de leitura de outras obras relegaram para esta ocasião. É uma obra notável de um autor notável. O autor é Albert Gallatin Mackey. O nome dirá pouco a quem não for maçon- Trata-se do autor da conhecida Enciclopédia de Maçonaria (que está a ser publicada no sítio da Loja Mestre Affonso Domingues), um médico americano de Charleston, Carolina do Sul, também erudito historiador da Maçonaria. A obra é The History of Freemasonry - Its Legendary Origins (A História da Maçonaria - as suas Origens Lendárias).

A leitura desta obra permite-me relembrar algo aprendido em outras leituras, mas sobretudo permite-me aprender algumas coisas que não sabia. É assim, o Mestre maçon, se há algo que aprende, é que tem sempre mais a aprender...

A leitura desta obra oferece-me assunto para partilhar as minhas descobertas em vários textos. Começo hoje por algo que, sendo básico (depois de se saber...), permite compreender e interpretar melhor o significado real de algumas passagens dos textos primitivos da Maçonaria, anteriores à instauração da primeira Grande Loja de Londres e às Constituições de Anderson.

Existem diversos manuscritos que vêm do tempo da Maçonaria Operativa. O mais antigo de todos é o manuscrito Halliwell, que contém o chamado Poema Regius, que se crê datar de cerca de 1390. O manuscrito Cooke calcula-se que seja de um século depois. Do século XVI, segundo se crê, encontraram-se os manuscritos Downland e Landsdowne. Do século XVII, foram descobertos e estudados os manuscritos York, n.ºs 1, 2, 5 e 6, Harleian, n.ºs 1942 e 2054, Grand Lodge, Sloane, n.ºs 3323 e 3848, Aitcheson-Haven, Edinburgh-Kilwinning e Lodge of Antiquity. Já do século XVIII, mas anteriores à criação da primeira Grande Loja de Londres, descobriram-se os manuscritos, Alnwick, York, n.º 4 e Papworth.

Estes manuscritos contêm diversas informações sobre o que era a Maçonaria Operativa, entre elas a chamada Lenda do Ofício, a Lenda da criação e evolução da Maçonaria.

Uma das coisas interessantes desses manuscritos, vinda dos mais antigos e mantida nos mais recentes (que, em grande parte, eram cópias dos anteriores) é que a palavra Maçonaria era, nesses tempos, usada como sinónimo de Geometria. Assim, quando neles se escreve que Euclides é fundador da Maçonaria, o que se está realmente a dizer é que Euclides foi o criador da ciência da Geometria.

Por sua vez, a Geometria aplicada à construção, ou seja, a Arquitetura, também era designada por Maçonaria nesses manuscritos.

Ou seja, nos tempos da Maçonaria Operativa, dos construtores em pedra, a palavra maçonaria tinha três significados: a associação de construtores em pedra, que preservava e transmitia os segredos da profissão e regulava esta; a ciência da Geometria; a arte da Arquitetura.

Estes três significados, naturalmente, interligavam-se, porquanto os segredos da construção eram noções geométricas (tirar ângulos retos, a 47.ª Proposição de Euclides, mais conhecida entre nós por Teorema de Pitágoras, etc.), aplicadas à arte da Arquitetura e sua execução prática.

Não tinha ainda deparado com esta noção de que a palavra Maçonaria, nos documentos antigos, tinha também os significados de Geometria e de Geometria aplicada à construção, isto é, Arquitetura.

E esta noção permite compreender melhor os relatos desses documentos primitivos. Lidos com esta noção, talvez alguns pontos da Lenda do Ofício não sejam tão lendários como isso e correspondam a relatos, necessariamente imprecisos, da pré-história da Maçonaria, da ciência da Geometria e da arte da Arquitetura.

Pelo menos é uma interessante tese exposta pelo insigne historiador da maçonaria que foi Albert Mackey.

Fonte: The History of Freemasonry - Its Legendary Origins, Albert Gallatin Mackey, Gramercy Books, New York.

Rui Bandeira

04 julho 2009

Porque hoje é Sábado !

Pois é, porque eu me "distraí", porque eu me "atrasei", porque eu ando metido em 24 coisas ao mesmo tempo (é..., eu reconheço, sou burro...!) deixei passar a 6ª feira.
Sei que os habituais deste espaço ficaram a esfregar as mãos de contentes. Desta vez é que o "chato" cedeu ! Ficamos com um fim de semana limpinho.
Desenganem-se.
Mas porque hoje é Sábado ponho no blogue uma lufada de ar fresquíssimo, bem disposto, capaz de Vos deixar a pensar se me vão perdoar ou não...
Já não é mau ! Fica criada a dúvida, o que já é ganho.

Meus Caros, oiçam, reoiçam, trioiçam... e depois concluam como eu:
- BRILHANTE !
Vamos aplaudir de pé, mesmo.

Além de não acreditar que não ficaram, pelo menos, com um leve sorriso, seus mal encarados.

Queridos Irmãos, Amigos, Leitores, Bisbilhoteiros e demais ocasionais, para todos bom fim de semana.
E como disse o grande Vinicius "porque hoje é Sábado", aqui fica a nossa imagenzinha semanal:


JPSetúbal

02 julho 2009

O Silêncio dos Aprendizes

O Silêncio dos Aprendizes

Ao escolher este tema presto homenagem ao silêncio dos aprendizes em loja e em particular ao seu significado e objectivos, dado considerar que ele contribuiu decisivamente para a minha aprendizagem e para a minha evolução como pessoa e, espero que, como Maçon.

Silencio

Nas conversas prévias que tive com os Irmãos Mestres J:. R:. e R:. B:., integradas no meu processo de admissão à Maçonaria, houve desde logo algo que me causou alguma apreensão – como iria eu conviver com o silêncio que se impunha aos aprendizes em Loja. Ter uma opinião para transmitir e não o poder fazer, só poderia ser uma forma sofisticada de praxe ou de tortura, para ver se eu me aguentava....

Sendo normalmente uma pessoa interventiva, o ficar calado significava para mim quase que uma prova de fraqueza ou ignorância, e isso era algo que não estava habituado. No mundo profano, nomeadamente nas esferas empresariais, é normalmente preferível dizer alguma coisa, mesmo que inútil, do que não dizer nada, já que isso parece ser apreciado.

As minhas primeiras sessões em loja foram muito conflitivas – se não podia falar e só podia ouvir, o que é que eu estava ali a fazer? Durante este período, passei por várias fases evolutivas: equacionei ir-me embora, já que não queriam ouvir o que eu tinha para dizer e eu tinha muito para dizer; ponderei os inconvenientes de desrespeitar a regra, rompendo o silêncio; efectuei comparações entre os argumentos que eram utilizados e os que eu utilizaria na mesma situação, etc.. Creio que posso afirmar que a minha permanência na Maçonaria se deve a um acto de teimosia, já que decidi não desistir e ir até ao fim.

Gradualmente, fui começando a alterar a minha atitude perante o silêncio, principalmente a partir do momento em que conclui ser inútil preocupar-me em construir uma argumentação que depois não teria continuidade. Já que não podia falar, talvez existissem outras formas de rentabilizar o tempo que ali passava e a forma mais lógica e imediata parecia ser, ouvir e assimilar o que estava a ser dito. Tal “descoberta” fez-me começar a escutar de forma consciente, o que efectivamente se dizia, o que me conduziu a uma nova descoberta acerca de mim próprio: tinha tendência para só escutar os outros em função da resposta que teria de lhes dar e não por aquilo que tinham para me dizer.

Esta constatação levou-me a começar a tentar escutar os outros de forma desinteressada e sem reservas ou intenções. Foi um processo intencional, lento, com avanços e retrocessos mas extremamente agradável - sentir que começava a descobrir os outros e ver que a atitude destes se alterava gradualmente. De forma tímida no inicio, primeiro nos círculos familiares e depois entre amigos e em ambientes profissionais, foi encorajante ouvir frases como “não sei porquê, mas agora é mais agradável conversar contigo”...

No campo estritamente profissional e nomeadamente nos processos negociais, em que cada argumento antecipado pode constituir uma vantagem para os outros, descobri também que o escutar me permitia analisar melhor a situação e sobretudo preparar melhor a argumentação necessária à consecução de estratégias ganhadoras.

E no entanto toda esta simplicidade parece ser fruto de uma sabedoria milenar que já Hiram utilizava quando formava os seus aprendizes e companheiros, para os preparar para a construção do Templo de Salomão.

Quando o recém iniciado é advertido de que não poderá falar em loja, desde a sua iniciação até à sua passagem a mestre, devendo apenas ouvir e observar, está-se simplesmente a dar continuidade a um dos mais antigos costumes das ordens iniciáticas: o silêncio.

Voltado para si mesmo, calado, numa postura de reflexão e recepção, o Aprendiz Maçon deverá evitar resvalar para uma atitude passiva ou desinteressada. Pelo contrário, todos os seus sentidos devem estar atentos para o que se passa em loja. Ver, ouvir, receber, reflectir e guardar, são as palavras chave deste processo de aprendizagem e evolução interior. Juntar e interligar todas as informações que lhe chegam ao cérebro, estranhas e diferentes das que já conhece, formulando hipóteses e conclusões que lhe permitam uma visão cada vez mais elevada das observações que faz. Esta deve ser a maior preocupação do iniciado.

O ainda candidato é exposto pela primeira vez perante a regra de silêncio quando é introduzido na Câmara de Reflexão, permanecendo sozinho e ladeado por símbolos, palavras e frases, estimulado a pensar e a penetrar no fundo do seu interior. No silêncio da meditação, vai ao encontro de si mesmo, examinando minuciosamente o que lhe vai na alma. É então confrontado com a sigla Vitriol (Visita Interiora Terrae, Retificandoque, Invenies Occultum Lapidem), que na sua tradução para português significa: "desce ao interior da terra, e perseverando na rectidão, poderás encontrar a pedra oculta".

Após toda a cerimónia de iniciação, o candidato profano transforma-se em recipiendário silencioso, o recém iniciado assume o papel do hermetista, ou do alquimista na sua busca incessante da Pedra Filosofal, que uma vez descoberta, o transformará no homem perfeito. Este é o sentido que o maçom busca quando luta para transformar a sua Pedra Bruta na Pedra Cúbica, que poderá utilizar e encaixar perfeitamente na construção do seu novo Templo interior.

O conselho "lege, lege, relege, ora, labora et invenies", que significa lê, lê, relê, ora, trabalha e encontrarás, era dado ao eleito para conhecer e assimilar os mistérios da Alquimia. Hoje, continua sendo este o conselho dado ao iniciado. O maçon afasta lentamente todas as suas paixões, os seus vícios, os seus desejos incontroláveis, para vê-los transformarem-se em virtudes, domínio de si mesmo, tolerância e prudência, alcançadas no silêncio e na introspecção. O iniciado reconhece como fundamentais, as palavras "Vigilância e Perseverança" nas metodologias do seu estágio de observação. Quem fala muito pensa pouco, ligeira e superficialmente, e a Maçonaria quer que seus membros sejam melhores pensadores do que faladores.

Todo este processo pretende, na sua essência, preparar e induzir ao Aprendiz a necessidade da reflexão como método de transformação interna. Embora indirectamente, é possível estabelecer vários paralelismos e interacções com o Catecismo do 1º grau, nomeadamente:

  • Quando o Aprendiz afirma vir “vencer as suas paixões, submeter a sua vontade e realizar novos progressos na Maçonaria”, logo seguido de “Porque um Maçon deve desafiar-se a si próprio e evitar juízos de valor antes de consultar a sabedoria dos irmãos”. O silencio proporciona-lhe um método de progressão e impõe-lhe uma prática de reflexão que o levará a ponderar os seus juízos de valor em função de conhecimentos que deve reconhecer como mais profundos.
  • Na resposta “Antes queria ter a garganta cortada do que revelar os segredos que me foram confiados”, que pressupõe não só dedicação e respeito pela Ordem, mas também a capacidade de responder ou reagir após um processo de interiorização e valoração, que a pratica do silencio poderá ajudar a tornar inconsciente e natural.
  • Na resposta “Porque todas as forças destinadas a desenvolverem-se utilmente no exterior devem primeiro concentrar-se em si mesmas”, em que claramente transparece a necessidade de um trabalho interior prévio em que o silencio pode e deve ser uma peça fundamental.

Se mais não houvesse para aprender na Maçonaria, o ter conhecido o valor do silencio e tudo aquilo que este me proporcionou, já teria valido a pena.

Partindo de um silencio imposto, cujas motivações se fundamentam na sabedoria milenar do grupo e que constitui como que um tirocínio para o recém iniciado, passa-se para uma fase de utilização em termos interiores do silencio, evoluindo finalmente para um estadio de admiração pelo silencio em que a imposição se transforma em voluntariado que assim se transforma em sabedoria, fechando o círculo e preparando o iniciado para novas fases da sua evolução e do seu crescimento interior.

A. Jorge em 27.04.6000

01 julho 2009

Os segredos de Rosslyn (III)

(... continuação)

O Segredo das Pedras

Tendo descoberto irrefutáveis evidências que um alto grau da Maçonaria era conhecido por William St Clair, começámos a olhar mais atentamente do que antes para os mínimos detalhes do intrincado interior e exterior esculpido de Rosslyn. Uma pequena, porém fantástica descoberta, era a gravação de dois homens, lado a lado. Apesar desta escultura exterior estar danificada pelas intempéries e possuir aproximadamente trinta centímetros de altura, pudemos observar muito bem a maior parte dos seus detalhes. Ela mostra um homem vendado com vestimentas medievais, ajoelhado e segurando na sua mão direita um livro com uma cruz na capa, tendo os seus pés colocados de modo a formar um esquadro. Em torno do pescoço do homem há um nó corrediço, sendo a ponta deste segurada por um segundo homem que estava veste um manto templário com a cruz distintiva mostrada no seu peito.

Quando descobrimos esta pequena gravação, procurámos Edgar Harborne, uma autoridade da Grande Loja Unida da Inglaterra. Somados, tínhamos aproximadamente setenta anos de experiência maçónica e sabíamos exactamente o que estávamos a olhar. Edgar estava empolgado e surpreso, assim como nós, pois não havia qualquer dúvida; esta era a imagem de um candidato à Maçonaria durante o processo de sua iniciação no ponto crítico de seu juramento de obrigação. A forma dos pés, o cordame, a venda, o volume da lei sagrada - esta imagem mostra um homem sendo admitido na Maçonaria cinco séculos e meio atrás! Ainda mais, esta pequena estátua era a primeira representação visual de um Templário conduzindo uma cerimonia que nós agora consideramos ser unicamente maçónica.

O facto de ela apresentar um Templário conduzindo um candidato implica que a escultura estava a demonstrar um evento histórico que datava do período templário, deste modo ela poderia estar a mostrar-nos uma cerimónia maçónica de setecentos anos de idade.

Dentro da edificação, nós analisamos cada uma das pequenas esculturas. Isto era difícil, devidoa, em algum ponto do passado recente, alguma alma caridosa ter cobrerto completamente o interior com uma massa de areia e cal numa mal sucedida tentativa de proteger o trabalho de cantaria, o que obscureceu os pequenos detalhes.

No alto de dois meio pilares construídos na parede meridional, com uma altura de aproximadamente três metros, nós descobrimos pequenas representações que eram extremamente interessantes. Uma destas com apenas alguns centímetros de altura mostra um grupo de figuras com uma pessoa transportando uma peça de tecido, que tem no centro a face de um homem barbado e com cabelos longos. A figura que transporta o tecido não tem cabeça e, uma vez que há poucos danos ao edifício, parece, como pensamos, que ela foi deliberadamente removida. Isto fez-nos olhar para outras cabeças e ficámos impressionados pela distintiva aparência de cada uma delas. As faces não são amenas ou anónimas, como normalmente se vêem em edifícios semelhantes; elas dão a impressão de que eram deliberadamente semelhantes a indivíduos conhecidos - quase como máscaras mortuárias em miniatura.

Só nos restava especular: esta pequena estatueta representa alguém segurando o Sudário de Turim?

Só existem duas explicações para tal imagem: é o Sudário de Turim que está sendo transportado ou é aquilo que conhecemos por "Veránica"?.

A lenda não-bíblica de Santa Verónica narra como uma mulher (frequentemente associada à Maria Madalena) deu o seu manto (em algumas versões o seu véu) a Jesus para enxugar a sua face quando ele estava a deixar o Templo ou no caminho do Calvário transportando a sua cruz. Quando esta tomou o manto de volta, neste havia a imagem da face miraculosamente impressa no tecido. Estudiosos modernos acreditam que o nome "Verónica" é derivado do latim vera e do grego eikon, significando "a verdadeira imagem". O nome e a ideia são um tanto suspeitos, uma vez que a Igreja Católica Romana não reconhece uma santa chamada Verónica. Apesar desta negação de beatificação, o "manto original" pode ser encontrado na Basílica de São Pedro na Cidade do Vaticano.

Isabel Piczek, uma artista que tem estudado o Sudário de Turim e que provou que este não poderia ser uma pintura, esteve numa visita não oficial para ver a Verónica na Basílica de São Pedro. Ela descreveu esta experiência ao pesquisador do Sudário, Ian Wilson:

Sobre ele estava um pedaço de tafetá colorido do tamanho de uma cabeça, do mesmo tipo do sudário, levemente acastanhado. Ele não parecia estar remendado, apenas uma mancha de cor ferrugem acastanhada. Parecia um pouco desigual, excepto por algumas descolorações trançadas... Mesmo com a melhor das imaginações, você não é capaz de deslumbrar qualquer rosto ou imagem dele, nem mesmo a mais leve sugestão disto.

Estávamos cientes que esta antes inexpressiva relíquia "sagrada", ou a ideia por trás dela, possa ser anterior ao advento do Sudário, mas não era certamente logo após as exibições públicas do Sudário de Turim em Lirey que a popularidade de uma imagem do rosto sagrado cresceu. O Padre Thurston, um historiador cristão, categoricamente estabelece que a lenda da Verónica, como apresentada na actual Estações da Via Dolorosa, não pode ser datada de antes do final do século XIV. Tal datação significaria que a lenda surgiu após a primeira exibição pública do Sudário de Turim em 1357.

A cabeça de Cristo tem sempre sido representada nos ícones como tendo longos cabelos repartidos ao meio e com uma barba espessa e quando um pedaço de tecido surgiu com tal representação poderia ter difundido a ideia de uma "Verónica".

A coluna seguinte em Rosslyn possui uma cena igualmente pequena que mostra uma pessoa sendo crucificada, mas estranhamente, uma vez mais a cabeça foi removida. Os únicos danos aparentemente deliberados que nós conhecemos na edificação são as das cabeças portando o rosto no tecido e da pessoa crucificada. É como se alguém sentisse a necessidade de ocultar a identidade por detrás destas imagens. Nós imaginamos se a pessoa que encobriu o pilar de Jachin com gesso também removeu as cabeças dessas figuras chaves?.

Se estes eram uma simples Verónica e uma representação padrão de Jesus na cruz, não haveria necessidade de desfigurar os principais rostos.

A figura crucificada não está pregada numa ideia normal da cruz cristã, onde a parte superior continuava afim da trave horizontal, mas numa cruz na forma de um Tau judaico que possuí a forma de um T. As representações cristãs medievais frequentemente mostram uma segunda trave representando a placa que com zombaria, proclamava Jesus como sendo o Rei dos Judeus - mas nunca mostra uma cruz Tau.

"Tau" é a última letra do alfabeto hebraico e, como a letra grega "Omega", representa o fim de algo, especialmente a vida. É também verdade que a maioria das crucificações romanas eram feitas em estruturas com este formato, mas nenhum construtor do século XV teria condições de saber isto. Parece que o criador desta pequena gravação ou era muito bem informado a respeito da metodologia das crucificações romanas ou estava deliberadamente utilizando a simbologia judaica para a morte. Aquando da pesquisa para o nosso livro anterior, nós tinhamos trabalhado com a ideia de que a imagem do Sudário de Turim poderia ser a do último Grão-Mestre dos Templários e, se as nossas suspeitas de que o Sudário de Turim é a imagem de Jacques de Molay estiver correcta, nós poderíamos esperar que William St Clair estivesse atento a este facto, uma vez que a sua família esteve intimamente envolvida com os Templários que tinham fugido para a Escócia após a queda da Ordem - mas por que é que ele está representado desta forma? Talvez o Sudário seja muito mais importante do que tinhamos pensado.

O corpo governante da Maçonaria Inglesa e Gaulesa, a Grande Loja Unida da Inglaterra, é enfático sobre o facto de nada ser conhecido ao certo sobre a história da organização anterior à fundação da Grande Loja de Londres em 1717. Tem sido crítico para nós sugerir que há uma história a ser descoberta para aqueles que escolheram procurar, e aqui, em Rosslyn, nós possuíamos provas positivas de que os rituais maçónicos são pelo menos duzentos e setenta e cinco anos mais antigos do que a história oficial da Maçonaria, como definida pela Grande Loja Unida da Inglaterra.

O nosso próximo passo de pesquisa era olhar atentamente para como e porque a Maçonaria Inglesa perdeu contacto com seu passado e estabelecer o que está sendo escondido, se for o caso, por trás de uma cega recusa em conhecer qualquer história anterior a 1717.

Conclusão

Parece que os Cavaleiros Templários conheciam o que estavam à procura quando iniciaram sua escavação de nove anos e o seu voto de obediência fortemente sugere que outros estavam envolvidos por detrás disto tudo.

Rosslyn é uma cópia deliberada das ruínas do Templo de Herodes com um projecto que é inspirado na visão de Ezequiel da nova "Jerusalém Celeste". As pistas para a compreensão da edificação estavam colocadas dentro do então secreto ritual do Grau do Santo Real Arco da Maçonaria. William St Clair utilizou este método para nos contar que a edificação é "o Templo de Jerusalém", "uma chave para um tesouro" e "um lugar onde algo precioso está oculto", ou "a própria coisa preciosa".

A grande parede ocidental de Rosslyn pode ser conclusivamente encarada como uma reconstrução de parte do Templo de Herodes, e o nome "Roslin" possui o surpreendente significado "o antigo conhecimento passado ao longo de gerações", quando compreendido a partir do gaélico. A razão para este nome não está clara, mas Henri St Clair de Roslin era excepcionalmente íntimo de Hugues de Payen, o líder dos primeiros Templários.

Uma gravação no exterior claramente mostra um candidato sendo iniciado na "Maçonaria" por um homem usando um traje templário, e uma inscrição dentro da edificação demonstra que os construtores estavam familiarizados com um dos altos graus da Maçonaria, trezentos anos antes da data anteriormente aceita de sua origem.

Uma gravação dentro da edificação parece mostrar o Sudário de Turim sendo transportado por alguém e uma outra que mostra a crucificação de uma pessoa sem cabeça numa cruz Tau judaica. Talvez o Sudário de Turim esteja directamente conectado à história que Rosslyn narra em pedra.

Tradução livre de Texto de Dr. Robert Lomas e Christopher Knight

Os autores:

  • Christopher Knight nasceu em 1950 e em 1971 concluiu os seus estudos formando-se em publicidade e desenho gráfico. Demonstrou um forte interesse no comportamento social e no sistema de crenças tendo por muitos anos actuado como analista de consumo envolvido no planeamento de novos produtos e nas suas estratégias de vendas. Em 1976 tornou-se Maçon e actualmente é presidente de uma agência de publicidade e marketing.
  • Dr. Robert Lomas nasceu em 1947 e graduou-se com honra em engenharia eléctrica, dedicando-se após isso a pesquisa no campo de física dos estados sólidos. Mais tarde trabalhou no sistema de direcção para os mísseis Cruise e esteve envolvido no desenvolvimento de computadores pessoais mantendo sempre o seu interesse sobre história da ciência. Actualmente lecciona no Centro de Administração da Universidade de Bradford. Em 1976 tornou-se Maçon e rapidamente se tornou um conceituado orador e palestrante sobre a história da Maçonaria nas Lojas da região de West Yorkshire.